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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA MEDICINA...

Texto de Lúcia Heitor

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Cada vez mais argumentos para filmes e livros utilizam a Inteligência Artificial como um vilão abstrato e intocável. Estes cenários futurísticos (e por vezes apocalípticos) escondem o verdadeiro objetivo dos modelos de Inteligência Artificial: melhorar a vida humana (1). Está nas mãos da humanidade desenvolver e utilizar esta tecnologia para fins positivos.

Na área da Medicina, a Inteligência Artificial apresenta-se como uma solução ao grande problema que constitui o aumento exponencial de informação e dados clínicos (2), tal como também tem o poder de voltar a humanizar a profissão (1,3). Outras vantagens incluem melhores cuidados de saúde, maior segurança para o doente, redução dos custos e desenvolvimento acelerado de conhecimento médico (2).

Apesar das vantagens óbvias, a Inteligência Artificial ainda tem falhas e barreiras a ultrapassar até que seja possível a sua implementação em larga escala. Os algoritmos usados são pouco transparentes no que toca ao processamento dos dados e obtenção do resultado final, altamente dependentes de dados de qualidade e pouco eficientes no tratamento de grandes conjuntos de dados (2). Aos profissionais de saúde é-lhes exigido que aprendam a trabalhar com esta tecnologia (2), que se adaptem a esta mudança extrema e ainda que enfrentem a possibilidade de redução da necessidade dos seus serviços (1).

Independentemente de toda a inércia que atrasa a aplicação da Inteligência Artificial nos sistemas de saúde, nada vai impedir que seja o futuro da Medicina. As suas presentes falhas serão corrigidas, estando a ser desenvolvida a automatização dos seus processos para que prescindam da intervenção humana (2), tal como aumento da transparência dos seus processos através da resposta a dúvidas do doente (4).

Atualmente, a Inteligência Artificial é utilizada em sistemas de auxílio e alerta da terapêutica farmacológica, assim como próteses biónicas e cirurgia robótica (3). No futuro pretendese implementar algoritmos inteligentes ao nível do diagnóstico, prognóstico, gestão dos doentes (2) e, talvez até, no tratamento (1).

O cancro da mama é uma das patologias na qual há uma maior intervenção da Inteligência Artificial (1). Já existem algoritmos que auxiliam na deteção destes carcinomas através da análise de mamogramas (1,3). O mesmo começa a ocorrer na área da Anatomia Patológica digital em que estes modelos permitem melhorar a precisão do diagnóstico e definir melhor o prognóstico (1). Outras aplicações investigadas envolvem a localização da lesão para auxílio em cirurgia, apoio na decisão de tratamento por incorporação de todos os dados de exames obtidos, deteção de indivíduos em maior risco, entre várias outras aplicações (1).

Outros exemplos, fora da área de Oncologia, de desenvolvimento de algoritmos de apoio incluem algoritmos para o diagnóstico precoce de doentes esquizofrénicos a partir de dados de EEG (5), identificar doentes em sépsis para efetuar um tratamento mais eficaz (6) e auxílio na identificação de sons pulmonares (7).

A utilização da Inteligência Artificial é o futuro da Medicina, tanto para o bem como para o mal. O importante é refletir acerca dos riscos éticos, legais e sociais, de forma a definir os seus limites e potencialidades (1). Os médicos devem preparar esta introdução da forma mais harmoniosa possível para que

esta não afete os seus doentes. É uma grande oportunidade para os médicos voltarem a cultivar a sua humanidade para com os doentes (1), e apostar nas competências que tornam a interação médico-doente insubstituível. Este é o futuro que a Inteligência Artificial oferece à Medicina.

“A utilização da Inteligência Artificial é o futuro da Medicina, tanto para o bem como para o mal. O importante é refletir acerca dos riscos éticos, legais e sociais, de forma a definir os seus limites e potencialidades”

Referências Bibliográficas:

1.. Cardoso MJ, Houssami N, Pozzi G, Séroussi B. Artificial Intelligence (AI) in Breast Cancer Care - Leveraging multidisciplinary skills to improve care. Artif Intell Med [Internet]. 2020 Dec;102000. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/ S0933365720312653 2. Waring J, Lindvall C, Umeton R. Automated machine learning: Review of the state-of-the-art and opportunities for healthcare. Artif Intell Med [Internet]. 2020 Apr;104:101822. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365719310437 3. Amisha, Malik P, Pathania M, Rathaur V. Overview of artificial intelligence in medicine. J Fam Med Prim Care [Internet]. 2019;8(7):2328. Available from: http://www.jfmpc.com/text.asp?2019/8/7/2328/263820 4. Ploug T, Holm S. The four dimensions of contestable AI diagnostics - A patient-centric approach to explainable AI. Artif Intell Med [Internet]. 2020 Jul;107:101901. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365720301330 5. Jahmunah V, Lih Oh S, Rajinikanth V, Ciaccio EJ, Hao Cheong K, Arunkumar N, et al. Automated detection of schizophrenia using nonlinear signal processing methods. Artif Intell Med [Internet]. 2019 Sep;100:101698. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365719303628 6. Lauritsen SM, Kalør ME, Kongsgaard EL, Lauritsen KM, Jørgensen MJ, Lange J, et al. Early detection of sepsis utilizing deep learning on electronic health record event sequences. Artif Intell Med [Internet]. 2020 Apr;104:101820. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365719303173 7. Bardou D, Zhang K, Ahmad SM. Lung sounds classification using convolutional neural networks. Artif Intell Med [Internet]. 2018 Jun;88:58–69. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/ S0933365717302051

... QUE RESERVA O FUTURO?

Texto de Sara Gomes

Penso que é indiscutível que a inteligência artificial (IA) veio revolucionar o nosso mundo, a todos os níveis, do qual a Medicina não se exclui.

É uma evolução tecnológica capaz de feitos que nos deixam de boca aberta? Sim. É aquilo que o mundo, os médicos e os pacientes precisam? Talvez. Deixarei o leitor decidir por si.

Verdade seja dita, é um assunto demasiado complexo e a linha entre os benefícios e os malefícios é demasiado ténue. Já não é uma dúvida se a IA vai, ou não, ser cada vez mais complexa e cada vez mais próxima da inteligência humana. Já é e, cada vez mais será, parte do nosso dia a dia. As derradeiras questões são: saberemos lidar com isso? Saberemos manter o equilíbrio entre a máquina e a pessoa?

Mesmo fora do ambiente entre pares, toda a gente sabe que em Medicina é preciso uma coisa: saber, saber, saber. Um médico precisa de saber identificar sinais e sintomas, saber relacioná-los com possíveis diagnósticos e saber também como tratar o doente, consoante o diagnóstico mais provável. É um acumular de conhecimento que, com a prática, se vai tornando mais fácil. Mesmo assim, são várias as vezes, em que há algo que escapa entre as mãos.

Visto desta forma, a IA é uma ferramenta maravilhosa, que vem ajudar o médico a que não lhe escape nada sobre aqueles sintomas. É uma companheira, uma “segunda cabeça” pensante. Penso que seja pouco discutível os benefícios que isto traz para o médico. São demasiados.

Por outro lado… esta companheira tem um pequeno problema, que se pode tornar grande se o médico não estiver atento ao doente que tem à sua frente. Ela funciona por algoritmos e, por isso, não consegue ver aquele pequeno pormenor que só o olho da experiência vê. Se um doente vai à consulta com dor abdominal, a nossa companheira não vai reparar naquele sinal na pele que tem um aspeto diferente do suposto…

Para além disso, é importante refletirmos na relação médico-doente. Não é só o saber, saber, saber que importa. É também o mostrar empatia, compaixão e humanidade. Isso é o que os doentes mais levam de nós. Quantas não são as vezes que se ouve o “nunca me vou esquecer como aquele doutor me tratou bem e foi atencioso?”. Nestas situações, a nossa companheira pode atuar de duas formas: ocupando a nossa mente e fazendonos focar nela em vez do doente ou, por outro lado, exponenciar a relação médico-doente, ao dar mais tempo ao médico para ouvir quem tem à frente, pois tem uma boa ajudante em quem confia. De quem depende isto? Principalmente, do médico e das prioridades que este define para si.

Concluo assim, que a Inteligência Artificial é como um pau de dois bicos. Capaz de trazer excelentes benefícios, mas a Medicina não deve ser tão centrada nela ao ponto de pôr de lado o que faz de um médico, ser médico, no qual incluo a capacidade de ver o doente como um todo e não centrado na queixa. Para além disso, os médicos não se podem esquecer: o que mais importa, é a pessoa que está à nossa frente. Isso inclui, para além das queixas, os seus sentimentos, medos e a necessidade de sentirem que estão a ser ouvidos e o que o médico lhes está a dar a sua atenção.

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