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Aparência Médica: Liberdade de
APARÊNCIA MÉDICA
LIBERDADE DE EXPRESSÃo PERMITIDA OU LIMITADA?
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Texto de Maria Beatriz Carvalho
“Quando um médico entra em contato com um doente, convém estar atento ao modo como se comporta; deverá estar bemvestido, ter uma fisionomia tranquila, dar toda a atenção ao paciente, não perder a paciência e ficar calmo em presença de dificuldades. É um ponto importante para o médico ter uma aparência agradável, porque aquele que não cuida do próprio corpo não está em condições de se preocupar com os outros.” Hipócrates (460-377 aC)
Apesar dos avanços tecnológicos e das mudanças que a prática médica tem sofrido, a visão de Hipócrates, “pai da Medicina”, quanto à forma como os médicos se apresentam permanece ainda atual, uma vez que a aparência individual foi desde sempre e continua a ser um fator importante nas relações, nomeadamente na médico-paciente. De facto, a maneira como nos apresentamos é, por si só, uma forma de comunicação e constituirá a impressão inicial num primeiro contacto com o paciente.
Vários estudos, nomeadamente o de Yonekura et al (1), indicam que, quando inquiridos individualmente com um questionário no qual têm de revelar as suas preferências quanto à aparência do profissional através de fotografias do mesmo médico em diferentes trajes, os pacientes preferem a aparência mais convencional na qual os médicos se apresentam com bata branca e roupa formal.
Já o estudo de Westerfield et al (2) demonstrou que, quando avaliados em fotografias, médicos com tatuagens não eram considerados mais confiantes, confiáveis, atenciosos, cooperativos, profissionais, eficientes ou acessíveis que os seus homólogos não tatuados. Além disso, mulheres tatuadas eram vistas como menos profissionais que homens tatuados.
Profissionalismo implica o cumprimento do trabalho com seriedade, rigor e competência. Não vejo de que forma é que o simples facto de um médico ter uma tatuagem ou piercing visível ou o cabelo pintado com uma cor incomum vá influenciar o seu desempenho na prática médica. Assim, esta talvez seja mais uma questão de preconceito e de ideias pré-concebidas que rotulam as pessoas por características e, baseando-se apenas nisso, as colocam todas na mesma caixa, ignorando a enorme diversidade que caracteriza a existência humana.
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A cor do cabelo impactará o tratamento do paciente? Uma tatuagem num local visível influencia a prática médica?
Cohen et al (3) realizaram um estudo no departamento de emergência de um hospital nos Estados Unidos da América, publicado em 2018, que pretendia perceber se os pacientes percecionavam diferenças na competência, profissionalismo, cuidado, acessibilidade e confiabilidade quando atendidos por médicos com tatuagens e piercings expostos. Os resultados demonstraram que os pacientes não percecionavam diferença nestes parâmetros em médicos com estas características quando comparados com médicos de “aparência convencional”. Concluíram também que os pacientes assinalaram a opção que correspondia à melhor performance médica em mais de 75% das vezes, independentemente da aparência do médico, revelando que o que de facto importa é a forma como são tratados e não a aparência de quem trata.
Assim, podemos concluir que hoje em dia, com o evoluir da sociedade, cada vez menos a aparência é um fator preponderante e cada vez mais são importantes outros aspetos como o cuidado, a comunicação e a empatia na relação médico-paciente. Portanto, acredito que cada vez menos um cabelo com uma cor não natural ou uma tatuagem ou um piercing visível sejam motivos para, por si só, desacreditar o profissionalismo de alguém. Contudo, por enquanto, penso que é ainda fundamental continuarmos a refletir sobre a questão “Aparência médica: Liberdade de expressão permitida ou limitada?” e perceber até que ponto se justifica restringir estas formas de expressão no contexto médico na sociedade atual.
1. Leiko C, Certain L, Ka S, Karen K, Augusto G, Alcântara S, et al. Artigo original Impressões de pacientes, médicos e estudantes de Medicina quanto a aparência dos médicos ଝ. Rev Assoc Med Bras [Internet]. 2013;59(5):452–9. 2. Westerfield H V, Stafford AB, Speroni KG, Daniel MG. Patients ’ Perceptions of Patient Care Providers With Tattoos and / or Body Piercings. 2012;42(3):160–4. 3. Cohen M, Jeanmonod D, Stankewicz H, Habeeb K, Berrios M, Jeanmonod R. An observational study of patients ’ attitudes to tattoos and piercings on their physicians : the ART study. 2018;1–6.