DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021
APARÊNCIA MÉDICA LIBERDADE DE EXPRESSÃo PERMITIDA OU LIMITADA? Texto de Maria Beatriz Carvalho “Quando um médico entra em contato com um doente, convém estar atento ao modo como se comporta; deverá estar bemvestido, ter uma fisionomia tranquila, dar toda a atenção ao paciente, não perder a paciência e ficar calmo em presença de dificuldades. É um ponto importante para o médico ter uma aparência agradável, porque aquele que não cuida do próprio corpo não está em condições de se preocupar com os outros.” Hipócrates (460-377 aC)
A
pesar dos avanços tecnológicos e das mudanças que a prática médica tem sofrido, a visão de Hipócrates, “pai da Medicina”, quanto à forma como os médicos se apresentam permanece ainda atual, uma vez que a aparência individual foi desde sempre e continua a ser um fator importante nas relações, nomeadamente na médico-paciente. De facto, a maneira como nos apresentamos é, por si só, uma forma de comunicação e constituirá a impressão inicial num primeiro contacto com o paciente. Vários estudos, nomeadamente o de Yonekura et al (1), indicam que, quando inquiridos individualmente com um questionário no qual têm de revelar as suas preferências quanto à aparência do profissional através de fotografias do mesmo médico em diferentes trajes, os pacientes preferem a aparência mais convencional na qual os médicos se apresentam com bata branca e roupa formal. 28
Já o estudo de Westerfield et al (2) demonstrou que, quando avaliados em fotografias, médicos com tatuagens não eram considerados mais confiantes, confiáveis, atenciosos, cooperativos, profissionais, eficientes ou acessíveis que os seus homólogos não tatuados. Além disso, mulheres tatuadas eram vistas como menos profissionais que homens tatuados. Profissionalismo implica o cumprimento do trabalho com seriedade, rigor e competência. Não vejo de que forma é que o simples facto de um médico ter uma tatuagem ou piercing visível ou o cabelo pintado com uma cor incomum vá influenciar o seu desempenho na prática médica. Assim, esta talvez seja mais uma questão de preconceito e de ideias pré-concebidas que rotulam as pessoas por características e, baseando-se apenas nisso, as colocam todas na mesma caixa, ignorando a enorme diversidade que caracteriza a existência humana.