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Social Media e
SOCIAL MEDIA E MEDICINA
Texto de Francisca Silva
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Com a crescente disseminação de criadores de conteúdo para as redes sociais, temos assistido à ascensão de médicas/influencers nestas plataformas. Quer seja para disseminar informação em saúde, quer para partilhar “trivialidades” da vida pessoal, Nádia Sepúlveda, com quem estivemos à conversa, conta-nos como é aliar estas duas realidades.
O seu percurso nas redes já se estende há anos, precisamente desde 2009 aquando da criação do blog My Fashion Insider, alguma vez pensou em deixar o blog ou, atualmente, o Instagram pelo impacto que isso poderia ter na sua carreira como médica?
Nunca. Sempre fui muito resolvida nesse aspecto e “ser só médica” nunca fez parte dos meus planos. É muito importante para mim cultivar os meus hobbies e gostos pessoais além da Medicina, e penso que cada vez consigo conciliar melhor os dois lados.
Através da partilha de alguns hábitos diários, interesses, cuidados de pele, ou mesmo do processo de desenvolvimento de um armário cápsula, sempre demarcou a importância que outras áreas (lúdicas) como a dança, a leitura e a moda têm para si, além da Medicina. Sente que, com o passar do tempo, tem diminuído o preconceito da sociedade para com esta versatilidade de publicações vindas de médicos?
Sim, sem dúvida. Sinto que, com o cair do véu paternalista da Medicina, cada vez é mais perceptível para a sociedade que somos humanos como todos os outros, multifacetados...e que somos tão melhores médicos quanto mais humanidade cultivarmos...e isso passa por ter interesses pessoais variados!
Transmite informação sobre saúde, admiravelmente, de forma “prática, simples e descontraída” citando a introdução do seu podcast “Momento Médico”. Essa transição da Medicina para fora do consultório foi natural para si? O que a motivou a fazê-lo?
Sim, aconteceu de forma muito orgânica! Uma vez que não era segredo nenhum que era médica, começaram a surgir cada vez mais questões relacionadas com a saúde, especialmente no âmbito da Saúde da Mulher, pelo que foi perfeitamente natural que a Medicina começasse a fazer parte das minhas partilhas nas redes sociais, primeiro apenas no Instagram, e depois estendendo-se também para o YouTube e o Podcast.
Ao capacitar a sociedade, os resultados em saúde serão melhores e as pessoas poderão optar pela terapêutica de forma mais consciente, retirando o paternalismo a que em tempos se assistia. Pensa que este avanço é positivo ou pode ter o efeito oposto?
Quanto maior a literacia em saúde, melhor é a saúde. Isso está comprovado. Quando a autonomia do doente é respeitada, e acompanhada de informação adequada, temos melhores resultados em saúde, a vários níveis: melhor compreensão das doenças, melhores escolhas em termos de estilo de vida, maior facilidade em navegar nas instituições de saúde, maior cumprimento terapêutico... Temos de compreender que na Medicina atual o nosso papel é mais do que oferecer o peixe numa bandeja... é ensinar a pescar.
É cada vez mais urgente desmistificar e combater temas como a gordofobia, a discriminação racial, de género, ou relativa à orientação sexual, por parte dos profissionais de saúde. Acha que, ao partilhar testemunhos e elucidar a população sobre estas temáticas, é possível reduzir estas situações ou levar à denúncia das mesmas?
Acredito que sim. Muitas pessoas que sofrem de preconceito podem muitas vezes ficar caladas, sentir que são as únicas a quem tal aconteceu. Perceber que é algo sistémico, enraizado, dá mais força às vítimas para perceber que não é algo isolado, que está efetivamente errado e deve ser combatido. Relativamente aos profissionais de saúde, muitas vezes só quando confrontados com o outro lado da narrativa é que conseguimos perceber onde errámos. Por vezes a discriminação é algo tão subtil que nem nos apercebemos se não nos for dito abertamente “o discurso x ou o tom y magoa o doente”. Estamos sempre a aprender.
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