XVIII Edição Diagnóstico | Especial BeInMed

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Edição

Magnetic Solid Nanoparticles and Their Counterparts: Recent Advances towards Cancer Theranostics

Prof.ª Drª. Fátima Baltazar

Treating

Cancer With Eletrical Fields

Dr. Nichal Gentilal

Effects of Paliative Care in the incial Phase of Cancer Treatment

Drª. Samantha Winemaker

Edição Especial XVIII fevereiro 2023
Revista MedUBI
Especial
BeInMed

Coordenadora Geral

Marta Soares

Coordenadora Científica

Daniela Nóbrega

Co-coordenadora Científica

Inês Silva

Coordenadora Cultural

Catarina Gomes Gonçalves

Co-coordenadora Cultural

Catarina Barros

Coordenadora de Parcerias e Patrocínios

Isabel Praça

Coordenador de Imagem e Comunicação

Hugo Gouveia

Co-coordenador de Imagem e Comunicação

Rafael Pereira

Colaboradores

Alice Pereira

Amélia Ponciano

Catarina Naia

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Gabriela Quaresma

Projeto Morada

Avenida Infante D. Henrique

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Telefone

(+351) 275 329 098

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DIAGNÓSTICO . FEVEREIRO 2023 2
4 Magnetic Solid Nanoparticles and Their Counterparts: Recent Advances towards Cancer Theranostics Prof.ª Drª. Fátima Baltazar Effects of Paliative Care in the incial Phase of Cancer Treatment Drª. Samantha Winemaker 7 11 Treating Cancer With Eletrical Fields Dr. Nichal Gentilal DIAGNÓSTICO . FEVEREIRO 2023 3

Plenária

Magnetic Solid Nanoparticles and Their Counterparts:

Recent Advances towards Cancer

Theranostics

Licenciou-se em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (1992), doutorou-se em Inglaterra pela Universidade de Hull, Reino Unido (1994-1998). É presentemente Professora Associada de Farmacologia na Escola de Medicina da Universidade do Minho e Investigadora Principal no ICVS (Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde), no qual coordenadora a equipa de investigação “Cancer Biomarkers and Therapeutics”. É membro do board da ISCaM (International Society for Cancer Metabolism).

Prof.ª Drª. Fátima Baltazar

O que despertou o seu interesse pela área da investigação?

Desde jovem que a área da saúde me despertou interesse. Licenciei-me em Ciências Farmacêuticas, e de seguida comecei a trabalhar numa farmácia comunitária. Apesar se gostar da área, a rotina do dia a dia na farmácia não me atraiu e senti-me pouco estimulada intelectualmente.

Ao fim de dois anos e meio decidi então aceitar o desafio de fazer um doutoramento em Inglaterra. Foi uma experiência bastante enriquecedora em muitas vertentes e, acima de tudo, senti-me muito mais realizada profissionalmente.

Senti que a investigação me estimulava por ser um desafio constante e cada pequena descoberta tinha para mim um sabor especial. Tive depois a sorte que poder enveredar por uma atividade profissional que inclui uma componente importante de investigação.

Sentiu alguma diferença entre o método de estudo/investigação/ científico adotado em relativamente ao que se usa em Portugal?

Depois de terminar o doutoramento voltei para Portugal para fazer um pós-doutoramento. Pude então comparar as duas realidades, mas, em termos de abordagem científica, não notei diferença.

No entanto, a realidade na investigação estava a mudar. Enquanto durante o doutoramento me pude “dar ao luxo” de me concentrar na construção de novo conhecimento, sem pressa de publicar, quando regressei, comecei a sentir a pressão de produzir artigos científicos, para me con-

seguir afirmar como cientista. Uma crítica que tenho relativamente à realidade atual é que, com a urgência de publicar, a maioria dos artigos científicos pouco acrescenta ao conhecimento.

Sinto que no passado, os cientistas conseguiam dedicar mais tempo a pensar na ciência e iam construindo conhecimento que quando publicado fazia diferença.

Quais considera os principais desafios na atualidade e no futuro na sua área de investigação?

Desde há cerca de 18 anos que me dedico à investigação no cancro.

Nesta área, os desafios são vários, entre eles a competição e o financiamento. Esta é uma área muito competitiva, com muitos grupos no mundo a trabalhar nos mesmos objetivos e com mais recursos, sendo difícil conseguir fazer a diferença.

Para além disso, o financiamento para a investigação em Portugal é escasso. Fazemse “omeletes com muito poucos ovos”... Temos de otimizar ao máximo os nossos recursos, e recorrer a colaborações para conseguir atingir os nossos objetivos.

Nos últimos anos, o investimento nacional tem-se centrado mais nos recursos humanos, contribuindo, e bem, para uma maior estabilidade dos investigadores, mas esta área, como outras que têm uma componente laboratorial forte, necessita de financiamento substancial para bens e serviços, sob pena de não se conseguir fazer investigação de qualidade.

Na minha perspetiva, não está a ser feito o investimento suficiente nos investi-

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gadores e nas Universidades para apoiar a produção de novo conhecimento.

Tendo em conta que o cancro é uma das doenças mais prevalentes a nível mundial, de que forma considera que a sua pesquisa poderá influenciar a sobrevida dos doentes no futuro?

A células malignas alteram o seu metabolismo para aumentar a sua sobrevivência e agressividade. Nesse sentido, o meu grupo de investigação tem-se dedicado a explorar proteínas envolvidas no metabolismo tumoral como biomarcadores e alvos terapêuticos.Os resultados têm contribuído para reconhecer o potencial destas moléculas no prognóstico dos doentes, assim como identificação de novas estratégias terapêuticas que poderão vir a fazer diferença na vida dos doentes. Uma família de moléculas que estudamos são os transportadores de monocarboxilatos ou MCTs.

Quando começamos os nossos estudos, pouco ou nada se sabia sobre o papel destas moléculas no cancro e hoje em dia já há ensaios clínicos com inibidores das mesmas a serem testados em doentes. Deste modo, sinto que de alguma forma

estamos a contribuir para o tratamento dos doentes com cancro, aumentando a sua sobrevivência e, acima de tudo, a sua qualidade de vida.

Das pesquisas em que esteve envolvida nos últimos anos, qual revelou resultados mais promissores?

A investigação que mais me tem motivado nos últimos anos, e que tem potencial de vir a ter uso clínico, resultou de uma parceria com o departamento de Química da minha Universidade. Identificamos uma molécula muito promissora para tratar doentes com cancro, com alta eficácia e bastante segura.

Para além disso, tem um modo de ação inovador, o que é uma grande mais valia, pois constitui uma nova arma para lutar contra esta devastadora doença. Temos resultados bastante encorajadores em modelos animais e este trabalho tem uma patente internacional associada, que está a ser avaliada em vários países.

Abrimos recentemente uma empresa, a “Karion therapeutics”, que tem como objetivo terminar os estudos necessários para levar esta molécula à clínica e oferecer assim uma nova opção terapêutica aos doentes com cancro.

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Effects of Paliative Care in the incial Phase of Cancer Treatment

Dr. Samantha Winemaker is an Associate Clinical Professor, Department of Family Medicine, in the Division of Palliative Care at McMaster University in Ontario, Canada. She teaches palliative care to health care professionals. She won the Ontario College of Family Physicians Award of Excellence in 2010, the Elizabeth J. Latimer Prize in Palliative Care in 2018, and the Dr. S. Lawrence Librach Award for Palliative Medicine in the Community in 2019.

Plenária
Drª. Samantha Winemaker

What initially sparked an interest in palliative care, and after how many years of being in the field. How is it different from your inicial perception?

When I completed medical school, I trained to be a family doctor. During the training, I did a rotation in palliative care and never turned back. Palliative Care has all of the elements that I was looking for in a career; complexity, challenge, person/ family centered, interesting pharmacology, ethical decision making, team based care and a breadth of illnesses.

I enjoy the challenge of being tender at the bedside and yet fierce when advocating at a systems level. I have been practicing full time palliative care since I graduated 19 years ago. I have mostly worked providing care in people’s homes.

ing most of my time on symptom management. I was surprised that most of my time is actually spent on helping people understand their illness (the past, present and future) and helping them to navigate the health care system. I work almost like a medical interpreter.

When treating a patient with a terminal illness, what is your approach regarding sensitive information and how does it impact those last few days?

I always start with asking patients and families if I have permission to speak openly about their situation. Most of the time, they say ‘yes’. I then ask them if I can speak ‘straight up or do they need some sugar’. Again, most times they want communication ‘straight up’. I have come to understand that people are craving and

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wanting open, honest, truthful information for better or worse. The medical culture is one that embodies ‘toxic positivity’ and too often this hopeful vibe prevents communication about the reality of the person’s situation.

People assume that honest information will make a patient depressed and hopeless. This is actually not my experience. It more depends on how you share sad news. If it is done gently but truthfully, people appreciate the honesty and then plan accordingly. Too many people tell me ‘I wish someone had told me that sooner’.

The big lesson here is not to force people to know everything about their illness but to INVITE them to know more. And if they want to know, tell them in a way that balances hope and reality. When patient’s and families have factual information they can then decide what they want to do, how they want to spend their time. It gives them back the power to make informed decisions right up til the end.

As a physician, what does it mean to have a good communication and how can it empower patients and their families. What kind of differences does it make on your daily practice?

I alluded to this above. Good communica tion means that we explore the communi cation needs and style of the patients and families. People are all very unique and we need to respect their readiness for in fomation and they way they want it com municated. Good communication is an art that takes practice. It requires the doctor to be brave to share sad news and to re main engaged in communication even

when it is difficult. Good communication requires good self awareness when we are starting to let our own perceptions, assumptions and biases interfere with open and realistic sharing of information. The main way to empower patients is to help them find their voice.

Invite them to share what is on their mind and to find their voice. They need to know it is their right to factual realistic informaiton about their illness, where they are at in the illness journey and what to expect in the future. It is their right to information about how the illness unfolds over time, their prognosis, what supports are available to them and them and the role that the family will take on as the illness changes.

There is so much information that can help patients and families have better illness understanding but often the physician just waits for questions and if they don’t come, it is falsley assumed that there aren’t any. It seems easier to avoid difficult conversations but this only makes things more complicated later in the illness.

In your opinion, what measures should be improved in the field of medicine in order to give more comfort to terminal patients?

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What have you learned, as a human, from taking care of patients in their last days?

I have learned as a palliative care physician that dying is not just a few days. It is a chapter of life that is ignorned and feared. Dying is a phase not a moment in time.

It happens over the last year of life and has very distinct features. I am saddened that our society fears dying so much that we don’t talk and prepare for it like a normal phase of human life. This causes so much suffering. I have witnessed unbelievable bravery and strength that comes in many flavours. I am inspired and touched by people’s kindness, love and committment to eachother.

1. Palliative medicine is not just reserved as a speciality. It is a skill that all health care providers should know how to deliver.

2. Palliative medicine is not only for people in the last days of life. It is a type of care that should be part of the care right from the start of a serious life-limiting illness.

3. Palliative medicine is for all progressive life-limiting illnesses and not just for cancer.

4. Palliative medicine is not depressing, does not cause sadness or hoplessness.

5. Palliative medicine is about balancing truth and hope. It isn’t just about symptom management.

6. Palliative medicine is still active care. It doesn’t mean ‘giving up’.

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Treating Cancer With Eletrical Fields

Dr. Nichal Gentilal

Possui um mestrado Integrado em Engenharia Biomédica e Biofísica na FCUL, completo em Outubro de 2018 e um doutoramento em Engenharia Biomédica e Biofísica, iniciado em Março de 2019 e concluído em Julho de 2022, também na FCUL. Bolsa financiada pela Novocure (Israel). Desde Setembro de 2022, trabalha como Drug Product Development Scientist na Hovione. Basicamente, integrando projetos de investigação e desenvolvimento de medicamentos para inalação.

Plenária

Enquanto aluno do secundário, quais foram as expetativas que o levaram a seguir uma carreira de engenheiro biomédico e biofísico? Como se relacionam com a sua visão atual? Posto isto, no que tange esta engenharia, quais são as grandes mal interpretações, ou até mesmo, disparidades, que são frequentemente cometidas?

Na altura em que comecei a ver cursos estava bastante confuso sobre o que escolher, principalmente por falta de conhecimento acerca do que cada possibilidade me podia oferecer. Eu sabia que queria continuar na área das ciências, que era o ramo que tinha seguido no secundário, mas não tinha sequer definido se seria engenharia ou não.

Sinceramente durante vários anos, mesmo após ter entrado na faculdade, me questionei se teria sido mesmo a opção certa. Por outro lado, na altura de escolher um curso há sempre a questão de ter a média para entrar, e de certa forma isso também definia indiretamente aquilo que podia escolher. Isto tudo para dizer não sou daquelas pessoas que desde pequeno que sei exatamente aquilo que quer fazer para o resto da vida. Quando chegou a altura de escolher, optei por um mestrado integrado em engenharia biomédica e biofísica na FCUL, por ser perto de casa, por ter média, e por se enquadrar nos gostos que tinha na altura.

Nesta altura, e tendo em conta que todo o meu percurso académico me levou a um sítio em que gosto imenso do que estou a fazer e me sinto realizado, consigo ver que foi a melhor opção que podia ter to-

mado. No entanto, também tenho noção que este é um curso ainda meio desconhecido em Portugal, onde poucas pessoas fora da área sabem quais são as saídas profissionais, especialmente se pretendem continuar no país.

Pelo nome do curso, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas provavelmente é que é algo que irá permitir à pessoa formada trabalhar num hospital, ou numa outra profissão que esteja intimamente ligada à saúde. Infelizmente, isto não é completamente verdade. A maioria das pessoas que conheço que tiraram este curso e que continuaram em Portugal ou foram trabalhar para consultoras e ficaram a programar ou seguiram para doutoramento.

No entanto, existem também (poucos) casos de pessoas que ficaram ligadas à saúde, seja através de startups ou em ambiente hospitalar a trabalhar por exemplo na manutenção de equipamentos médicos. Em Portugal, é muito comum um engenheiro biomédico ser posto num patamar onde o que é lido com mais ênfase é a parte do “engenheiro” e não a do “biomédico”.

Consequentemente, quem tira este curso normalmente desempenha as mesmas funções (especialmente em consultoras) que uma pessoa que tirou engenharia informática, engenharia química, ou qualquer outra engenharia.

Uma das suas áreas de pesquisa são os TT Fields (Tumor Treating Fields). Em que consistem? Qual é a sua importância na prática clínica e, consequentemente, vida dos pacientes?

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Os TTFields foram o tema principal de estudo da minha tese de mestrado e de doutoramento. Basicamente, coloca-se uma touca com eletrodos na cabeça do paciente, injeta-se corrente elétrica e através desta gera-se um campo elétrico.

Se este campo elétrico tiver uma certa frequência e uma certa intensidade, consegue interferir com o processo mitótico das células tumorais e assim ser usado para tratamento de cancro. Esta é a ideia principal por detrás dos TTFields, que já foram aprovados pela FDA para o tratamento de glioblastoma multiforme nos EUA, sendo que também já estão a ser usados em alguns países da Europa e da Ásia para o mesmo propósito.

É importante esclarecer que quando se diz que esta é uma técnica de tratamento de cancro, a palavra tratamento deve vir entre várias aspas. Como se sabe, o glioblastoma multiforme é o tumor mais agressivo que aparece no cérebro e a esperança média de vida de um paciente com esta condição é muito reduzida.

O que os estudos clínicos mostraram foi que quando esta técnica é usada, o paciente consegue ter uma qualidade de vida superior e um ligeiro aumento da esperança média de vida comparativamente a quando não se opta por esta técnica.

E aqui entra um dos maiores contras dos TTFields: o tempo que a terapia tem de ser administrada. Idealmente, os campos elétricos são aplicados de forma constante durante todo o dia, o que faz com o que o paciente tenha de andar com um gerador de corrente elétrica consigo para todo o lado, que tenha que dormir com o aparelho a funcionar, e que tenha certos aspetos da vida mais limitados.

O preço da técnica também é outra das barreiras que limitam muito um maior uso desta terapia. As estimativas apontam que o custo seja de cerca de 21000 dólares por mês, o que é insuportável para a pessoa comum, especialmente se não tiver um seguro de saúde que cubra boa parte destas despesas.

Atualmente, o seu foco de investigação são os medicamentos de inalação. Na sua perspetiva, qual é o ponto científico ou técnico mais desafiante nesta área?

Na realidade, essa é apenas uma parte do que eu faço na Hovione. A minha posição lá é a de drug product development scientist e as minhas responsabilidades podem ser divididas em duas grandes áreas sendo uma delas a de investigação, tal como mencionaram.

No entanto, aquilo que mais gosto de fazer é sem dúvida a de trabalhar em projetos com clientes. Basicamente, a Hovione é contratada por outras empresas, muitas vezes farmacêuticas, que pedem para se desenvolver um produto com determinadas características. O meu papel é a de estudar e definir condições de processo que levam ao melhor desenvolvimento possível deste produto.

Isto envolve um contacto com vários departamentos da empresa, mas também um contacto muito próximo com os clientes e a um desafio constante de tentar arranjar uma solução para problemas inesperados.

Durante a sua carreira, decerto que já se encontrou em situações para as quais atualmente a investigação

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e o conhecimento científico são insatisfatórios. A seu ver, quais são as temáticas que urgem atenção e mobilização de recursos?

Isto é um dos temas mais sensíveis para quem faz investigação e especialmente para quem fez/quer fazer um doutoramento em Portugal. Quem realmente gosta e quer continuar a carreira de investigação em meio académico é muitas vezes sujeito a ter de se candidatar a uma vaga de professor universitário, o que só por si já é um grande desafio devido ao número muito limitado de vagas que existem.

Por outro lado, a alternativa é concorrer a bolsas de pos-doc, que na prática são contratos de investigação com uma duração média de 3 ou 4 anos. Claramente, esta opção não é viável a longo prazo para a maioria das pessoas devido à instabilidade e incerteza associadas.

No entanto, a falta de uma carreira profissional dedicada apenas à investigação é só um dos fatores que me fez desmotivar ao longo do meu percurso académico. O outro, e talvez o mais comum de quem trabalha no mundo cientifico, é todo o processo envolvido na publicação dos resultados que se obtêm.

Na prática, um investigador é avaliado pelo número de citações que os seus papers têm, mas todo o processo de publicação de um bom artigo científico é muito demorado e exigente. Quem publica, não recebe nada por isso para além de um possível reconhecimento científico que pode demorar anos a ser obtido.

Eu percebo e aceito a premissa dos autores não receberem dinheiro, porque a

ciência, especialmente em meio académico, não deve ser vista como um negócio.

No entanto, não concordo com o facto das editoras e dos jornais científicos pedirem valores absurdos para os leitores interessados terem acesso a estes papers, numa altura em que os custos de publicação são cada vez mais reduzidos e mais digitalizados.

Mesmo o processo de revisão de artigos é feito de forma gratuita por especialistas na área que abdicam do seu tempo livre para que a ciência avance.

Por último, enquanto investigador, quais são as recomendações que tem para os leitores desta revista, futuros médicos, na sua prática clínica?

Um médico tipicamente tem um dia-a-dia em que está a acontecer muita coisa ao mesmo tempo, tem um número exagerado de pacientes para atender o que exige uma ginástica mental absurda e ainda por cima não é recompensado devidamente por todo o esforço que coloca no trabalho.

Tendo isto em conta, é normal que ao final do dia, um médico não queira ir ler papers científicos para se pôr a par do tratamento inovador que apresentou resultados promissores a semana passada. No entanto, acho que é importante manter sempre um espírito crítico relativamente às coisas.

Só porque algo sempre foi feito de uma certa maneira, não quer dizer que seja a melhor solução nem que se aplique a todos os casos. Como se sabe, um médico muitas vezes é visto como alguém que tem que ter a resposta na ponta da língua,

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mas às vezes é necessário parar um pouco e pensar sobre o que está a acontecer à nossa volta.

Queria também aproveitar esta ocasião para deixar uma mensagem que acho que é importante as pessoas não esquecerem, especialmente pessoas que têm de lidar no seu dia-a-dia com doentes e em ambientes em que está muita coisa a acontecer ao mesmo tempo: ninguém consegue dar 100% de si o tempo inteiro e não sofrer com isso.

Para os médicos, e na realidade qualquer pessoa, exercerem a sua profissão da melhor forma possível precisam de desanuviar, o que muitas vezes permite pôr as situações em perspetiva e encontrar soluções para os problemas.

Isto permite também que a pessoa mantenha a motivação porque tem outras coisas em que se agarrar quando algo no trabalho não corre bem.

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