DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA MEDICINA... Texto de Lúcia Heitor
C
ada vez mais argumentos para filmes e livros utilizam a Inteligência Artificial como um vilão abstrato e intocável. Estes cenários futurísticos (e por vezes apocalípticos) escondem o verdadeiro objetivo dos modelos de Inteligência Artificial: melhorar a vida humana (1). Está nas mãos da humanidade desenvolver e utilizar esta tecnologia para fins positivos. Na área da Medicina, a Inteligência Artificial apresenta-se como uma solução ao grande problema que constitui o aumento exponencial de informação e dados clínicos (2), tal como também tem o poder de voltar a humanizar a profissão (1,3). Outras vantagens incluem melhores cuidados de saúde, maior segurança para o doente, redução dos custos e desenvolvimento acelerado de conhecimento médico (2). Apesar das vantagens óbvias, a Inteligência Artificial ainda tem falhas e barreiras a ultrapassar até que seja possível a sua implementação em larga escala. Os algoritmos usados são pouco transparentes no que toca ao processamento dos dados e obtenção do resultado final, altamente dependentes de dados de qualidade e pouco eficientes no tratamento de grandes conjuntos de dados (2). Aos profissionais de saúde é-lhes exigido que aprendam a trabalhar com esta tecnologia (2), que se adaptem a esta mudança extrema e ainda que enfrentem a possibilidade de redução da necessidade dos seus serviços (1). Independentemente de toda a inércia que atrasa a aplicação da Inteligência Artificial nos sistemas de saúde, nada vai impedir que seja o futuro da Medicina. As suas presentes falhas serão corrigidas, estando a ser desenvolvida a automatização dos seus processos para
14
que prescindam da intervenção humana (2), tal como aumento da transparência dos seus processos através da resposta a dúvidas do doente (4). Atualmente, a Inteligência Artificial é utilizada em sistemas de auxílio e alerta da terapêutica farmacológica, assim como próteses biónicas e cirurgia robótica (3). No futuro pretendese implementar algoritmos inteligentes ao nível do diagnóstico, prognóstico, gestão dos doentes (2) e, talvez até, no tratamento (1). O cancro da mama é uma das patologias na qual há uma maior intervenção da Inteligência Artificial (1). Já existem algoritmos que auxiliam na deteção destes carcinomas através da análise de mamogramas (1,3). O mesmo começa a ocorrer na área da Anatomia Patológica digital em que estes modelos permitem melhorar a precisão do diagnóstico e definir melhor o prognóstico (1). Outras aplicações investigadas envolvem a localização da lesão para auxílio em cirurgia, apoio na decisão de tratamento por incorporação de todos os dados de exames obtidos, deteção de indivíduos em maior risco, entre várias outras aplicações (1). Outros exemplos, fora da área de Oncologia, de desenvolvimento de algoritmos de apoio incluem algoritmos para o diagnóstico precoce de doentes esquizofrénicos a partir de dados de EEG (5), identificar doentes em sépsis para efetuar um tratamento mais eficaz (6) e auxílio na identificação de sons pulmonares (7). A utilização da Inteligência Artificial é o futuro da Medicina, tanto para o bem como para o mal. O importante é refletir acerca dos riscos éticos, legais e sociais, de forma a definir os seus limites e potencialidades (1). Os médicos devem preparar esta introdução da forma mais harmoniosa possível para que