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Distúrbios Alimentares na Época Natalícia
Recentemente tem-se testemunhado um crescimento exponencial do número de patologias associadas a comportamentos alimentares de risco que acarretam consequências físicas e psicológicas. Embora não estejam completamente identificadas as causas que despoletam a anorexia, a bulimia, a ortorexia (todas de caráter nervoso) e a compulsão alimentar [1] , sabemos que estas adquirem etiologia multifatorial, de natureza genética, psicológica, biológica e ambiental, como por exemplo a exposição aos media e o ambiente social e familiar. [2],[3]
Segundo diversos estudos, a prevalência pontual destas perturbações que afetam especialmente jovens, com maior incidência no sexo feminino, é de 2,2% (0,2–13,1%) na Europa [4] e, em Portugal, verificaram-se cerca de 4500 hospitalizações no SNS entre 2000 e 2014. [5]
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Inúmeras investigações têm sido dirigidas neste campo e, recentemente, descreveram-se alterações neurobiológicas específicas [6] inerentes a estes distúrbios.
Concretamente, constataram-se correlações genéticas entre estes e doenças do foro psiquiátrico e descobriram-se alterações fisiológicas em moduladores centrais e periféricos - leptina, grelina, brain-derived neurotrophic factor e endocanabinoides - que, para além de intervirem na regulação do apetite e na homeostasia energética, também influenciam a parte cognitiva e emocional e a ideia de “recompensa” na alimentação, contribuindo para o desenvolvimento e manutenção deste estado patológico.
No que concerne à época festiva, impõe-se abordar o grande impacto psicológico que esta tem em pessoas que sofrem destes distúrbios e, de certa forma, tentar quebrar o estigma social associado a este tipo de patologia e minimizar o caráter negativo dos eventos sociais, fazendo com que esta quadra seja tranquila e de confraternização. Em particular, o Natal é uma altura de convívio e descontração para quem o celebra, no qual a comida revela um papel central que fomenta a socialização, já que durante grande parte do tempo se está à volta da mesa – comportamento que se revela intemporal, uma vez que ao longo da história, sempre o observamos assim, como parte da cultura de um povo.
Neste sentido, e dado o destaque da comida na época natalícia, a forma mais eficaz de ajudar alguém em situação de transtorno alimentar pode passar por “desviar o foco” da comida e englobar o indivíduo noutras atividades e momentos de convívio, como por exemplo montar a árvore de natal e as decorações, fazer pequenas caminhadas, ver filmes e fazer jogos em família, entre outras. Além disso, uma estratégia útil é limitar o número de pessoas (algo que este ano será muito provavelmente uma imposição, dado o panorama epidemiológico atual) e aconselhar os familiares a evitar conversas que fragilizem a pessoa em questão, para que esta se sinta mais confortável perante o medo e a ansiedade que esta fase provoca.
Inevitavelmente, para a generalidade da população, este é um período de exageros em que tendemos a comer mais e os alimentos que comemos são “menos saudáveis” e, nos dias que se seguem, somos massivamente bombardeados com artigos, publicações e planos para “recuperação pós-natal” dos supostos excessos cometidos, que nada contribuem para a nossa saúde e bem-estar como tanto apregoam. Portanto, a solução foca-se na consciencialização destes excessos que ocorrem esporadicamente e, por isso, não há motivo para que se seja extremamente restritivo.
Um apelo final à consideração e empatia que caracterizam a quadra Natalícia, incluindo e respeitando as pessoas que a vivenciam de forma diferente, para que todos desfrutem do Natal plenamente.
Francisca Silva
Ferramentas úteis sobre o tema
Podcast
Em Banho Maria E11
Testemunho em vídeo
https://youtu.be/SYrFM-TErwY
Artigos
https://www.elysiumhealthcare.co.uk/eating-disorders-christmas/ https://www.newbridge-health.org.uk/ https://www.england.nhs.uk/2019/12/ new-advice-released-to-support-those-with- -eating-disorders-at-christmas/
REFERÊNCIAS
[1] TREASURE J, DUARTE TA, SCHMIDT U. EATING DISORDERS. LANCET. 2020 MAR 14;395(10227):899-911. DOI: 10.1016/S0140-6736(20)30059-3. PMID: 32171414. [2] ERRIU M, CIMINO S, CERNIGLIA L. THE ROLE OF FAMILY RELATIONSHIPS IN EATING DISORDERS IN ADOLESCENTS: A NARRATIVE REVIEW. BEHAV SCI (BASEL). 2020 APR 2;10(4):71. DOI: 10.3390/BS10040071. PMID: 32252365; PMCID: PMC7226005. [3] LE GRANGE D, LOCK J, LOEB K, NICHOLLS D. ACADEMY FOR EATING DISORDERS POSITION PAPER: THE ROLE OF THE FAMILY IN EATING DISORDERS. INT J EAT DISORD. 2010 JAN;43(1):1-5. DOI: 10.1002/EAT.20751. PMID: 19728372. [4] MARIE GALMICHE, PIERRE DÉCHELOTTE, GRÉGORY LAMBERT, MARIE PIERRE TAVOLACCI, PREVALENCE OF EATING DISORDERS OVER THE 2000–2018 PERIOD: A SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW, THE AMERICAN JOURNAL OF CLINICAL NUTRITION, VOLUME 109, ISSUE 5, MAY 2019, PAGES 1402–1413, HTTPS://DOI.ORG/10.1093/AJCN/NQY342 [5] CRUZ, AM, GONÇALVES‐PINHO, M, SANTOS, JV, COUTINHO, F, BRANDÃO, I, FREITAS, A. EATING DISORDERS—RELATED HOSPITALIZA- TIONS IN PORTUGAL: A NATIONWIDE STUDY FROM 2000 TO 2014. INT J EAT DISORD. 2018; 51: 1201– 1206. HTTPS://DOI.ORG/10.1002/EAT.22955 [6] FRANK GKW, SHOTT ME, DEGUZMAN MC. THE NEUROBIOLOGY OF EATING DISORDERS. CHILD ADOLESC PSYCHIATR CLIN N AM. 2019 OCT;28(4):629-640. DOI: 10.1016/J.CHC.2019.05.007. EPUB 2019 JUL 4. PMID: 31443880; PMCID: PMC6709695.