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RETROFIT. Vida e arte no Cidade Matarazzo
RECICLANDO A CIDADE E A HISTÓRIA
ARTE SOB MEDIDA PERMANECE EM DESTAQUE ENTRE AS ENTREGAS DE VALOR QUE PROMETEM FOMENTAR A EXCLUSIVIDADE DE UM DOS MAIORES PROJETOS DE RETROFIT DA AMÉRICA LATINA
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POR THABATA MARTIN
Trago notícias da cidade mais próspera e plural do Brasil. Até o final de 2021, São Paulo deverá voltar às manchetes nacionais e internacionais com o maior projeto de reciclagem urbana de sua história, o Cidade Matarazzo, realização do empresário francês Alexandre Allard, responsável pelo desenvolvimento de grandes projetos no mercado imobiliário, experiente na revitalização de edifícios históricos, renascimento de marcas de luxo e investimento em grandes parcerias culturais.
Há sete anos, seu projeto de empreendimento multiuso sem precedentes, com três icônicas construções tombadas pelo Patrimônio Histórico (Hospital Matarazzo, Maternidade Condessa Filomena Matarazzo e Capela Santa Luzia) ganhou a atenção da mídia em publicações especializadas em arquitetura, design e cidades pela sua proposta de valor à memória do local, assim como pela burocracia de tamanho desafio junto aos órgãos competentes para ocupar esses espaços, mesmo que suas fachadas e estruturas sejam integralmente preservadas. No entanto, o destaque foi a grande Invasão Criativa que Allard propôs em resposta ao prefeito da época (Fernando Haddad) sobre o desejo de abrir as portas do Hospital Matarazzo à sociedade, onde nasceram mais de 500 mil paulistanos – após duas décadas fechado – antes de o empresário dar sequência ao projeto maximalista, com assinatura de Jean Nouvel (PritzKer Prize), um dos cinco maiores arquitetos do mundo.
Coube ao curador Marc Pottier, com coordenação geral de Katia D´Avillez, uma entrega fora da curva, a apresentação, em quatro meses, de uma versão urbana do Instituto Inhotim (MG), maior museu a céu aberto do mundo, a 100 metros da Avenida Paulista. O evento de forte expressão cultural explodiu nas páginas sociais mais concorridas da metrópole artsy, que reuniu um público eclético e interessante, em torno de cerca de 100 site-specifics, produzidos por artistas brasileiros e estrangeiros.
O assunto chegou até Curitiba pelo olhar original do artista visual paranaense Marcelo Conrado, coordenador
da Clínica de Direito e Arte da Universidade Federal do Paraná, que prestigiou, em 2014, a exposição Made By...Feito por Brasileiros, ideia que reuniu um público de 120 mil pessoas, durante seis semanas, em torno das obras que despertaram poder magnético na equação local x projeto. “Foi uma experiência transcendental, de renascimento, como se aquela experiência nas ruínas do hospital marcasse um novo ciclo de vida para São Paulo”, divide Conrado. Foi por meio do Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas que chegamos até Pottier, convidado para dar uma palestra para a UFPR em maio deste ano.
“Nosso ponto de partida para criação da Invasão Cultural foi celebrar a criatividade brasileira. A chave era celebrar o Brasil de norte a sul, que proporciona uma mistura cultural forte. Os artistas estrangeiros que entraram no elenco já conheciam ou tiveram alguma experiência relacionada ao país. Queríamos trazer vida ao antigo hospital. O endereço, apesar de envelhecido, mantinha a atmosfera chique natural com traços de um palácio italiano, com proporções de uma beleza sem igual, com um pé direito maravilhoso. Queríamos guardar aquele espírito e criar contrapontos às ruínas. A arte vinha com a missão de limpar o local para o novo momento que estava sendo criado pelo Grupo Allard. Neste sentido, nada como lembrar a nuvem de chuva de Arthur Lescher”, lembra o curador francês.
O projeto desafiador, que transformou as ruínas de um hospital em uma das mais badaladas intervenções de arte para o Brasil, foi comandado pela produtora cultural
Marc Pottier e Katia D’Avillez foram os responsáveis pelo evento artístico no antigo Hospital Matarazzo
Katia D´Avillez, que orquestrou todas as partes envolvidas na missão especial e tinha, na época, realizações do calibre de SP-Arte e Design São Paulo em seu portfólio. “Meu trabalho harmoniza emoção e realização. Precisei adequar o budget à perfeição do que cada artista projetou, mesmo quando os pregos de uma determinada instalação deveriam chegar de outros países, apenas para exemplificar. Muitos duvidaram que o projeto fosse ter a magnitude proposta em paralelo com o acontecimento de uma Bienal, mas conseguimos fazer uma abertura apoteótica da exposição com 28 atrações. Ninguém nunca vai poder dizer que viu tudo. Cada um saiu com um recorte do evento”, revela.
Segundo Katia, quem comprar a proposta do hotel de luxo, da área comercial, do espaço cultural e do maior parque privado da cidade da Cidade Matarazzo, levará a experiência da arte para suas histórias. “A arte agrega valor ao mercado imobiliário e demais estruturas urbanas num patamar internacional. Trata-se de um movimento muito positivo de arte compartilhada, especialmente pelos site-specifics, que representam uma linguagem contemporânea bastante apreciada na atualidade”, explica Katia.
NOVO SÍMBOLO DE SÃO PAULO
O projeto que demorou cerca de 10 anos para sua primeira entrega e representa a maior renovação de prédios históricos da história do Brasil (30 mil m²), também terá impacto positivo na natureza. De acordo com Allard, o complexo contará com o Hotel Rosewood – no lugar onde funcionava a maternidade - e a torre Mata Atlântica, concebida por Nouvel, com um total de 150 quartos e 122 suítes particulares com serviço do hotel e interiores assinado por Philippe Starck, que teve como desafio usar somente materiais e fornecedores brasileiros. “Trata-se de um projeto 100% sustentável, com reuso de água da chuva, 15 megawatts de produção solar e 10 mil árvores no meio do coração de São Paulo - seis vezes mais árvores que na Avenida Paulista inteira”, conta em um minidocumentário produzido por publicação especializada para divulgação da iniciativa. O complexo ainda abrigará um espaço comercial que reunirá marcas estrangeiras inéditas, pontos de gastronomia, a Casa Bradesco da Criatividade e casas de artesãos instaladas no jardim, com curadoria de artesanato proveniente dos quatro cantos do país. Mais de 2,5 bilhões já foram investidos nesse projeto revolucionário.
HAUTE COUTURE
A parceria com Pottier segue o fluxo das realizações de Allard na Cidade Matarazzo. “Fui novamente convidado para trazer obras site-specifics para as áreas comuns do Hotel Rosewood São Paulo. Estrou trabalhando com 99% de artistas brasileiros para abordar essa cultura tão vasta”, acrescenta. Nomes como Juraci Dórea, para abordar a cultura do Cordel, e a Tribo HUNI KUIN, para falar das canções sagradas dos indígenas, estão confirmados para contar a história do Brasil de norte a sul. Os temas serão destacados desde o porte-cochère, lobby, elevadores e piscina, entre outros. “O público internacional terá oportunidade de conhecer tudo sobre a cultura brasileira, que estudo desde 1992. Demos carta branca para os artistas criarem e teremos belas obras para serem apreciadas em desenhos, afrescos, azulejos, entre outros. É o que chamamos de Haute Couture na França. Não serão quadros que poderão ser acessados comercialmente e levados para casa, mas um diálogo muito mais interessante e exclusivo para quem tiver o privilégio de circular por ali”, enaltece o curador francês.