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SPIN AROUND THE SUN

Por Fernando de Freitas

GLASS CAVES LANÇA EP PODEROSO

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Àexceção de Elvis Presley, cujo sucesso foi imediato ao entrar para o meio musical, os grandes talentos da música pop foram lapidados pela experiência de palco enquanto passavam maus bocados. Os Beatles passaram dois anos fazendo pequenos shows Reino Unido afora, apertados no banco de trás de uma van, sem contar com o período em Hamburgo em que tocavam em bordeis e dormiam nos fundos de um cinema pornô. Bruce Springsteen sobreviveu dez anos sem possuir nada além de sua guitarra, dormindo de favor em uma loja de pranchas de surf em Jersey ou onde lhe emprestassem um sofá, antes de gravar seu primeiro álbum. Os Stones dividiam um apartamento sujo, o Greatful Dead, uma casa em San Francisco, Kurt Cobain dormia em seu carro. A banda Glass Caves passou anos fazendo shows de rua “passando o chapéu”.

A banda, até pouco tempo atrás, se orgulhava de dizer que já havia apertado as mãos de todos os seus fãs. Claro que, com a expansão de seu sucesso além das fronteiras do Reino Unido (e com a pandemia), esse cenário não é mais o mesmo. Mas a conexão entre eles e o público está patente no seu EP A Spin Around the Sun. Gravado com maestria pela Scruff of the Neck, a energia dos músicos que precisam roubar a atenção dos transeuntes aprisionados em suas preocupações particulares está expressa faixa a faixa.

Não é sobre agradar. Muito menos fazer o que se espera. Músicos de rua que se preocupam apenas em agradar dificilmente deixam de ser músicos de rua. É sobre surpreender e contagiar. A música de Glass Caves faz parte daquele seleto grupo de músicas que têm a potencialidade de ativar nossas memorias emocionais, ainda que a canção nem existisse quando precisamos dela no passado, mas que fará parte da trilha sonora de nossas vidas.

Eye to Eye e Chasing a Feelling são hits imediatos. Impossível não cantarolar essa última impossível junto e acompanhar seu ritmo. São canções que, ao ouvirmos, podemos dançar sozinhos na sala esperando em o dia que ela vai tocar em uma pista de dança. É o rock’n’roll em sua essência espiritual, sem as afetações do estrelato, em que aquele cara sobre o palco poderia estar no público e vice-versa. Um dia Lennon cantou: “a working class hero is something to be” e Glass Caves segue essa tradição.

Completam o EP as canções Float into Space, Who Are You e Left or Right. Cada qual com sua própria textura, sempre com a sessão rítmica poderosa, acelerando ou desacelerando. Mesmo a soturna Left or Right tem o mesmo efeito de captura. O ano de 2020, foi o momento em que o resto do mundo conheceu os músicos que estavam nas ruas do norte da Inglaterra. Se tudo der certo, será em 2021 que o Glass Caves conhecerá o mundo pessoalmente.

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