PALAVRA DE DIRETOR Espaço destinado aos diretores da GESTÃO 2020/2022 da ABCZ. A cada edição, artigos, opiniões e informações sobre a Associação e seus produtos pela visão da diretoria. GABRIEL GARCIA CID Diretor Técnico da ABCZ
PMGZ: bússola ou leme?
N
a época dos grandes navegadores e descobridores, nenhum deles se lançava ao mar sem ter como orientação a ferramenta da bússola. Passados mais de 500 anos desde que esta ferramenta foi utilizada para descobrir as Américas, quero fazer uma analogia que se aplica muito bem às ferramentas que utilizamos hoje para seleção de gado. Naquela época, o navegador se orientava pela bússola, sabendo onde desejava chegar. Ao ler e interpretar a ferramenta, o navegador era quem tomava a decisão com suas mãos no leme do navio, modificando ou não o curso da sua viagem. Os navios nunca se guiavam automaticamente pelas bússolas. Além da orientação desta ferramenta imprescindível, o navegador ainda tinha outras variáveis para considerar em suas decisões: distância até o destino, tamanho ideal do seu barco de acordo com o caminho que precisaria percorrer, condições climáticas, etc. Enfim, passados estes 500 anos, hoje para a navegação temos o GPS no lugar das bússolas. Mas continua com a mesma função: ferramenta. Assim do mesmo modo como hoje temos programas de avaliação para nos orientar na seleção dos nossos rebanhos. No lugar do GPS, temos o PMGZ. E como mapa do caminho percorrido até aqui, as várias gerações conhecidas de animais através dos registros genealógicos. A velocidade e quantidade de informações que temos à nossa disposição cresceram muito. Anos atrás não falávamos em DEPs e até bem pouco tempo em Genômica. São tantas as informações que recebemos, que, às vezes, podemos estar nos esquecendo do que elas realmente são: apenas informações para nos auxiliar. Apenas isso. O olho do criador sempre continuará decidindo o tipo de gado da sua preferência, e, com a experiência vivida, qual se adapta melhor à sua região,
62
jan - fev - mar • 2021
condição de criação e até mesmo modelo de comercialização de sua produção. Apesar das ferramentas nos darem os números frios das mensurações, a paixão do criador pelo seu gado continua sendo o verdadeiro motivo da arte de criar. Aprendi a frase de que o criador de gado puro tem que ter mais raça que seu próprio gado. E ouvi uma vez frase do grande selecionador Torres Homem Rodrigues da Cunha de que “tempos de dificuldades são bons para selecionar os criadores’’. E cada criador, dentro de uma mesma raça, tem gostos e condições diferentes. A diversidade de seleções, mesmo que eu particularmente não concorde com algumas, com certeza pode ser benéfica, pois em algum momento o trabalho de um selecionador pode ser útil a outros. Vemos hoje trabalhos interessantes em busca de precocidade sexual, marmoreio, eficiência alimentar, rendimento de carcaça, entre outros, que podem sim ser úteis para quem estiver procurando melhorar estas características em seu próprio rebanho. E uma realidade nunca mudará: todo rebanho produz animais superiores, regulares e inferiores. Independente da média de avaliação genética do rebanho ser alta ou não. Nem todo animal tem que ser multiplicado. As avaliações genéticas esperadas não são a garantia total da qualidade do fenótipo do animal. Tem que selecionar, pois genética nunca será matemática pura. Os melhores criadores são aqueles que identificam e multiplicam os seus animais superiores. Os melhores criatórios são aqueles que têm mais porcentagem destes animais em seu rebanho. Em genética, 1 + 1 nem sempre é 2. Mas podemos afirmar, com certeza, que o criador que busca o sucesso tem que ter o leme do seu rebanho em suas mãos e os seus olhos no modelo de gado que busca. E quanto mais informação para auxiliá-lo, melhor.