Revista Por Exemplo #4

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VOCÊ AJUDA:

R$ 2,50

100% DO PREÇO DA REVISTA, APÓS OS IMPOSTOS, É DOADO PARA PROJETOS QUE MELHORAM A EDUCAÇÃO NO BRASIL.

PROJETOS EM TODO O BRASIL

04 MAR / ABR 2012

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DIRETORA EDITORIAL Roberta Faria DIRETOR EXECUTIVO Rodrigo Pipponzi DIRETORA DE CRIAÇÃO Claudia Inoue

EDITORA-CHEFE Roberta Faria EDITOR Dilson Branco REPÓRTERES Karina Sérgio Gomes, Jaqueline Li, Jéssica Martineli ESTAGIÁRIA DE TEXTO Rafaela Carvalho DIRETORA DE ARTE Claudia Inoue EDITOR DE ARTE Fabio Otubo DESIGNER Luana Almeida COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO E IMAGEM Mica Toméo ESTAGIÁRIO DE FOTOGRAFIA Thiago Giacobelli APOIO NA REDAÇÃO Amanda Miyuki, Eduardo Bessa, Jaqueline Moribe, Juliane Albuquerque, Mariana Bolzani, Olivia Ferraz, Rita Loiola, Romy Aikawa e Sheila Machado COLABORADORES Alex Xavier (edição de texto), Mariana Harder (produção), Felipe Gressler (tratamento de imagem), Ana Faustino e Júlio Yamamoto (revisão) ATENDIMENTO AO LEITOR Elaine Duarte RECURSOS HUMANOS Carolina Franco CAPTAÇÃO DE PATROCÍNIO Amanda Rahra (amanda@revistaporexemplo.com.br) FALE COM A GENTE: contato@revistaporexemplo.com.br | (11) 3024-2444 Rua Andrade Fernandes, 303, loft 3, São Paulo/SP - CEP 05449-050 www.revistaporexemplo.com.br DISTRIBUIÇÃO: Rede Extra

IMPRESSÃO: Gráfica Plural

POR EXEMPLO - TODO MUNDO PODE APRENDER. TODO MUNDO PODE ENSINAR é impressa em papel LWC 70g

A revista POR EXEMPLO - TODO MUNDO PODE APRENDER. TODO MUNDO PODE ENSINAR, edição 04, ano 1, é publicada pela Editora MOL Ltda. A revista é vendida nas lojas da Rede Extra nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo, Sergipe, Tocantins e no Distrito Federal. O valor pago pelo preço de capa é, descontados os devidos impostos, 100% doado a organizações não governamentais que realizam projetos em prol da educação de qualidade no Brasil. REALIZAÇÃO:

APOIO:

PATROCÍNIO:

12 18 FAÇA O QUE EU FAÇO

EM SEU LUGAR

O que você aprendeu de mais importante na vida até hoje?

Por um dia, Luiz substituiu a esposa na cozinha. Veja o que ele aprendeu

16 É QUE SE APRENDE

FOTO DE CAPA: Ceres Maldonado, Matias e Romeu foram fotografados por Guilherme Gomes Tratamento de imagem Felipe Gressler AGRADECIMENTOS: Contas abertas EE Professor Ennio Voss Em seu lugar família Harder Quem você pensa que é Teatro Municipal de São Paulo (www.teatromunicipal.sp.gov.br) É gostoso e faz bem Banco de Alimentos (www.bancodealimentos.org.br) Agradeço Jaó Clube ( www.jao.com.br) Extra Hipermercados 0800 115060

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Histórias de quem tentou abraçar o mundo, não deu conta, mas aprendeu valiosas lições

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EU CONTRA O MUNDO Cinco histórias de quem venceu o medo. Como Márcia, que enfrentou a polícia para honrar o filho assassinado

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QUEM VOCÊ PENSA QUE É? Robson perdeu a família e as economias e virou morador de rua. Hoje, o que você acha que ele faz perambulando por São Paulo?

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COMO ENSINO Veja como três famílias fazem para ensinar aos filhos a importância de agir com honestidade

É GOSTOSO E FAZ BEM Suco, pão de queijo e geleia: três receitas sustentáveis e nutritivas para você fazer um lanchinho delicioso

30 38 44 PROBLEMA MEU Conheça gente comum que fiscaliza o governo para que o dinheiro público não entre pelo cano

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NÓS PODEMOS

O TEMPO DE CADA UM

Menos sujeira, mais beleza: confira as histórias de três grupos de vizinhos que se uniram para melhorar a paisagem do local em que vivem

Duas mulheres e dois homens com exatamente a mesma idade mostram que a vida pode, sim, recomeçar depois dos 40

46 APRENDA E ENSINE Perguntas que você pode fazer para si mesmo – e que vão levá-lo a importantes reflexões sobre seu jeito de levar a vida

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SEMPRE É TEMPO Verônica trocou a tentação do chocolate por um novo esporte

48 AGRADEÇO O ensino na escola vai além do que está nos livros. O que você aprendeu de mais importante com um professor?

Você é um exemplo? Tem uma história para contar? Escreva para a gente. Se for selecionado, você pode aparecer na revista – até mesmo na capa! Veja nossos contatos na página 7.

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CARTA AO LEITOR XXXXXXXXXXXXXX

Não há mal que sempre dure QUAL É A LIÇÃO mais importante que você já aprendeu? A resposta muda para cada pessoa – e sempre vem com uma história. E olha que, não é raro, essa história é triste. De algum momento ruim, de uma hora de desamparo, de um problema que parecia sem solução: é justamente na dificuldade que se entende a tal lição. Será que isso quer dizer que a gente precisa sofrer para aprender? Bem, na verdade, acreditamos que não: é também em muitas experiências felizes, como ao lado da nossa família, que aprendemos lições preciosas para toda a vida. Mas os desafios também podem guardar grandes ensinamentos. Não porque sofrer faz bem. É simplesmente porque,

diante da pressão, somos capazes de coisas que nem imaginávamos. Porque, quando a vida que a gente conhecia parece desmoronar, o que é realmente importante fica bem mais claro. Porque, bem, às vezes, é justamente a falta que faz a gente valorizar o que perdeu, é o “não” que faz a gente insistir no “sim”. E, nessas e noutras, acabamos transformando o que era dor em luz para ver outros caminhos. Essa é a história de muitas pessoas nesta edição: gente que superou seus medos, que teve humildade de examinar os erros, que transformou dificuldades em força para fazer o impossível. São pessoas como nós, aqui na redação, e como você, que está lendo a revista.

NOSSOS COLABORADORES NESTA EDIÇÃO: À ESQ., A DESIGNER LUANA E O EDITOR ALEX. ACIMA, THIAGO E MARIANA, DA PRODUÇÃO. NO TOPO, BASTIDORES DA FOTO DA PÁGINA 16

Elas nos provam que, como diz o ditado, não há mal que sempre dure – nem bem que nunca acabe. Mas em todo momento, feliz ou difícil, podemos aprender algo sobre nós mesmos, sobre as pessoas que nos rodeiam, sobre o mundo em que vivemos. E, assim, sair dessas experiências mais fortes e corajosos, seguros de que somos capazes de superar tudo. Esperamos que essas histórias, buscadas pelo Brasil inteiro por nossa brava equipe de reportagem e mostradas com muito talento pela nossa equipe de arte e produção de fotos, também inspirem você a ver quais lições se escondem nos seus problemas. Porque, afinal, nada ensina tanto a gente quanto a vida. Equipe da POR EXEMPLO

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POR EXEMPLO

SABER A SUA OPINIÃO NÃO SÓ NOS AJUDA A FAZER UMA REVISTA MELHOR, COMO TAMBÉM NOS ENCHE DE MOTIVAÇÃO PARA CONTINUARMOS NOSSO TRABALHO.

Gostei da seção “Eu contra o mundo”, que traz pessoas comuns que são exemplos de superação e de força d e vontade. Jaciel José de Oliveira, por e-mail.

OBRIGADO A TODOS QUE TÊM ESCRITO PARA A GENTE! Parabéns pela excelente revista. É de leitura simples, leve e fácil, e por isso acessível a todo tipo de público, inclusive pelo preço baixo. É uma garantia de leitura gostosa e engrandecedora! Katia Regina Mattos, por e-mail. A revista é cheia de matérias positivas, educativas e inspiradoras. Mostra que ninguém está longe de realizar grandes feitos na própria vida e na dos outros! Glauco Fattore, de Araraquara (SP), por e-mail.

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Comprei por causa do preço, mas quando comecei a ler fiquei vidrada. Estou indicando para todos os meus amigos! Jaqueline Santana, por e-mail. Mostrei a uma tia que é professora do curso elementar em um vilarejo no interior do Espírito Santo e ela ficou encantada! Excelente iniciativa. Fiquei fã. Parabéns. Heron Xavier, no Facebook. Gostei tanto que lancei o título da revista como tema

para os projetos pedagógicos da escola que dirijo. Andrea Godoy, de São Gonçalo (RJ), no Facebook. As histórias nos fazem refletir que o mundo pode ser melhor, e que tudo pode começar dentro de cada um, com atitudes positivas. Lais Carneiro, no Facebook. Obrigada pelos exemplos de pessoas reais fazendo coisas boas! Raquel Martins, de Barretos (SP), por carta.

Gostei demais da revista. Sugiro uma matéria sobre plantar árvores em espaços urbanos. Eu cultivei algumas sementes de mexerica e de outras frutas, mas estou com dificuldade de passá-las para um lugar em que possam crescer e frutificar. Elizabeth Bento, por e-mail. Olá, Elizabeth! Confira a matéria na página 38! Você lê as matérias e pensa: “Ainda existem pessoas preocupadas em fazer a diferença, e

eu também posso!”. Parabéns! Tatyana França, no Facebook. Recebi o exemplar nº 1 de uma amiga outro dia. Ao ler o editorial, senti como se tivesse achado os membros de uma tribo perdida, à qual eu pertenço, mas que pensava estar em extinção. Chorei de emoção. Podem contar não só com mais um leitor, como também com minha energia e meu exemplo. Saulo Tadeu, 51 anos, de Teresópolis (RJ), por e-mail.

FALE COM A GENTE! O que você achou da revista? Conte para nós! Divida conosco os seus exemplos também MANDE UM E-MAIL: contato@ revistaporexemplo. com.br LIGUE PARA A REDAÇÃO: (11) 3024-2444 VISITE O SITE: www. revistaporexemplo. com.br FAÇA PARTE DA NOSSA REDE: No Orkut Comunidade Revista POR EXEMPLO No Facebook Fan Page Revista POR EXEMPLO No Twitter @por_exemplo OU ESCREVA UMA CARTA PARA: Revista POR EXEMPLO Rua Andrade Fernandes, 303, sala 3 São Paulo - SP CEP 05449-050

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CONTAS ABERTAS

Aula sobre dar aula CONHEÇA O PROJETO QUE VOCÊ APOIA AO COMPRAR A POR EXEMPLO E QUE ESTÁ ENSINANDO PROFESSORES A MELHORAR O DESEMPENHO EM CLASSE

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AJUDAR PROFESSORES a dar aulas mais interessantes e eficientes. Esse é o objetivo da iniciativa da ONG Parceiros da Educação que vai receber 20% dos recursos arrecadados com a venda da POR EXEMPLO. Chamado Gestão em Sala de Aula, o projeto difunde uma série de técnicas para que seja estabelecido um vínculo mais lúdico e próximo dos alunos. “O conteúdo ensinado pelo programa é relacionado aos quatro pilares que fundamentam uma boa aula: tempo, espaço, relacionamento e conhecimento”, explica a coordenadora pedagógica da ONG, Mônica Guerra. No pilar tempo, são ensinadas estratégias para uma participação mais dinâmica dos estudantes na aula. No quesito espaço, uma das técnicas sugere que o professor organize as informações no quadro-negro como se fosse a folha de caderno do aluno. Dessa maneira, ele mostra à classe a melhor forma de anotar os tópicos, para que depois sejam estudados. O tema relacionamento trata das maneiras de valorizar

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POR EXEMPLO

TELMA FREIRE, DE SÃO PAULO, É UMA DAS PROFESSORAS JÁ CAPACITADAS PELO PROGRAMA

a postura correta dos estudantes – por exemplo, sabendo a melhor forma de elogiá-los. O quarto pilar, conhecimento, propõe maneiras criativas de introduzir os conteúdos curriculares. Uma das técnicas desse último pilar consiste em usar música ou vídeo a fim de atrair a atenção dos estudantes. Telma Aszalos Freire, de 56 anos, professora de matemática do estado de São Paulo há quase uma década, já está pondo essa estratégia em prática. Ela usou os versos de Tom Jobim e Marino Pinto na canção Aula de Matemática com seus alunos do 8º ano. O verso “quando dois meios se encontram desaparece a fração” a ajudou a despertar nos alunos a curiosidade sobre a soma de números racionais. “Eles se mostraram muito mais dispostos a participar”, relata a professora. Telma faz parte do grupo de mais de 90 professores de cinco escolas paulistanas treinados no ano passado pelo projeto. Foram realizados três encontros, conduzidos por formadores contratados pela Parceiros da Educação. No decorrer de 2012, o programa deve ser expandido para outras 20 escolas, beneficiando mais 350 professores e atingindo 8 mil alunos da rede pública do estado de São Paulo. Num segundo momento, a ONG espera ampliar o acervo de técnicas e publicar um manual de orientação com todas as estratégias ministradas. A escolha do projeto Gestão em Sala de Aula foi feita em conjunto com o Instituto Grupo Pão de Açúcar, apoiador da POR EXEMPLO. Dos recursos arrecadados com a venda da revista, outros 20% são destinados ao Todos pela Educação – em breve, você vai conhecer qual iniciativa específica do movimento vai ser beneficiada. Os demais 60% serão encaminhados a projetos que apoiam a educação em todo o país, que serão selecionados por meio de um edital. Confira mais informações nas próximas edições!

EM 2012, O PROGRAMA VAI BENEFICIAR:

8000 ALUNOS

COMO FUNCIONA A POR EXEMPLO? CONFIRA QUEM SÃO OS PARCEIROS ENVOLVIDOS NO PROJETO E VEJA A IMPORTÂNCIA DA SUA PARTICIPAÇÃO

1 GRANDES EMPRESAS

PATROCINAM

O PROJETO:

© FOTO MARIANA HARDER

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Ainda há cotas disponíveis! Escreva para patrocinio@ revistaporexemplo. com.br e informe-se

2 COM ESSES RECURSOS,

A REVISTA É PRODUZIDA

PELA

A Editora MOL acredita que a gente só vai fazer a diferença no mundo se realizar as coisas de um modo diferente

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A POR EXEMPLO É VENDIDA COM EXCLUSIVIDADE PELO CORREALIZADOR

DO PROJETO, COM O APOIO DO

São 470 pontos de venda, entre hipermercados, supermercados e drogarias, em 16 estados de todas as regiões do país, mais o Distrito Federal

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O DINHEIRO

É DOADO A DUAS INSTITUIÇÕES:

350 PROFESSORES 20 ESCOLAS

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E PARA OUTROS PROJETOS

O valor que você paga pela revista, descontados os impostos, é 100% doado para projetos que melhoram a educação no país

EM TODO O PAÍS

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Conhecer para melhorar TODOS PELA EDUCAÇÃO LANÇA PANORAMA SOBRE O ENSINO NO PAÍS

“EM 2006, a educação estava em sétimo lugar na lista de prioridades dos brasileiros. Hoje, já se encontra na segunda posição”, afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação. O dado é comemorado pelo movimento, pois um dos eixos de sua atuação é justamente colocar a educação em pauta no país – e assim gerar uma mobilização social que traga as soluções. Em fevereiro, mais uma importante ação nesse sentido foi realizada: o lançamento do relatório anual De Olho nas Metas. Em sua quarta edição, o estudo apresenta dados sobre atendimento, alfabetização, aprendizado, conclusão dos estudos e financiamento educacional. Assim, oferece um panorama

METAS FUNDAMENTAIS CONFIRA AS CINCO METAS QUE O TODOS PELA EDUCAÇÃO DESEJA CUMPRIR ATÉ 2022

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atualizado da situação do ensino brasileiro, que serve para acompanhar o cumprimento das cinco metas estabelecidas pelo Todos pela Educação (veja abaixo). Uma das novidades desta edição são os resultados da Prova ABC, realizada pelo movimento com 6 mil alunos de escolas públicas e privadas das capitais do país. O teste revelou que 56% dos estudantes atingiram o conhecimento esperado em leitura, 53% em escrita e 42% em matemática. O relatório também mostra dados bastante chocantes. Por exemplo: 3,8 milhões de crianças e jovens ainda estão fora da escola. Porém, o acesso ao ensino aumentou mais de 9% na última década.

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No evento de lançamento, os dados foram analisados por professores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Juiz de Fora e por consultores da Cesgranrio. Eles apontaram caminhos para melhorar os indicadores, como corrigir as diferenças do ensino entre as regiões do país; investir mais no ensino infantil, para que as metas do ensino fundamental e médio possam ser cumpridas; e, acima de tudo, direcionar mais recursos para a educação como um todo. Na internet, você pode acessar o relatório na íntegra: bit.ly/vZjEHa. Para saber mais sobre o movimento Todos pela Educação, acesse www.todospelaeducacao.org.br.

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© FOTOS DIVULGAÇÃO/ ALEXANDRE ONDIR

PRISCILA CRUZ, DO TODOS PELA EDUCAÇÃO, E O PÚBLICO QUE PARTICIPOU DO EVENTO DE LANÇAMENTO DO RELATÓRIO

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TODA CRIANÇA TODA CRIANÇA TODO ALUNO COM TODO JOVEM COM 5% OU MAIS DO

E JOVEM DE PLENAMENTE APRENDIZADO ENSINO MÉDIO 4 A 17 ANOS ALFABETIZADA ADEQUADO CONCLUÍDO

PIB INVESTIDO

NA ESCOLA ATÉ OS 8 ANOS À SUA SÉRIE ATÉ OS 19 ANOS

E BEM GERIDO

NA EDUCAÇÃO,

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12 FAÇA O QUE EU FAÇO

O que você aprendeu de mais importante? CADA INSTANTE DO DIA E CADA PESSOA COM QUEM CRUZAMOS PODEM NOS TRAZER UM NOVO CONHECIMENTO – E, DESSA FORMA, MUDAR NOSSA VIDA. CONFIRA AS DESCOBERTAS QUE TRANSFORMARAM A HISTÓRIA DAS PESSOAS A SEGUIR TEXTO CAMILLA DEMARIO, HELSON FRANÇA, MARINA GADELHA, PRISCILLA DANTAS E TISSIANE VICENTIN

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“Trabalho desde os 12 anos e aprendi que o melhor é acordar bem cedo, já com um sorriso no rosto. O bom humor é o que nos move!” KLEBER DOS SANTOS, 34 anos, mestre de obras de São Paulo

RIR É BOM PARA O CORAÇÃO,

OS PULMÕES,

A DIGESTÃO E O SISTEMA IMUNOLÓGICO 5

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© FOTOS 1 MARCOS LOPES 2 ALEXANDRE SEVERO 3 TIAGO LIMA 4 ANNA LUIZA FISCHER 5 MARIANA HARDER

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POR EXEMPLO

“Em alguns momentos da vida, fui bem individualista. Mas, depois de casar e ter filhos, aprendi a dialogar melhor, a me relacionar com diferentes tipos de pessoas. Na minha parentela – que é grande –, virei uma espécie de conselheira, o que me deixa muito feliz.” ZENAIDE BARROS, 66 anos, auditora fiscal do Recife

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LIVROS LIVRES Já ouviu falar em bookcrossing? É um movimento que estimula as pessoas a deixar livros em lugares públicos, para que sejam achados, lidos e passados adiante. Acesse www.bookcrossing. com.br para saber mais e participar. 4

LIÇÕES DE FAMÍLIA Uma boa dica para refletir sobre os aprendizados que passam entre as gerações é o livro infantojuvenil Dez Bons Conselhos de Meu Pai (editora Objetiva), de João Ubaldo Ribeiro. O famoso escritor conta importantes lições que recebeu na infância, como não ser amargo nem medroso.

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“Aprendi que o fundamental é manter a família sempre unida. Tenho oito filhos, e eles são o mais importante para mim.” SILVANA PEDROSO XAVIER, 45 anos, aposentada, com a filha JULIANA DE LIMA, 10 anos, de São Paulo

TODOS JUNTOS A bordo de uma Kombi, uma família cheia de diferenças redescobre a graça de conviver. Esse é o enredo do emocionante e divertido filme Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris (Estados Unidos, 2006). Boa dica para valorizar a companhia de quem a gente mais ama.

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“Acho importante nunca parar de estudar, aprender coisas novas. E meus melhores amigos nessas horas são os livros. Busco ler de 35 a 40 por ano.” LUIZ HENRIQUE DA ROSA MACHADO, 42 anos, militar do Rio de Janeiro

“Perdi meu filho para as drogas faz oito anos e aprendi a olhar para o próximo. Como voluntária, trabalho com menores de rua. Algumas situações da vida acontecem para que a gente tome uma nova direção.” SIMONE HINSCHING, 41 anos, esteticista de São Paulo

AJUDE TAMBÉM A Simone colabora com o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), programa que oferece proteção básica a pessoas carentes. Contribua doando alimentos. Descubra a unidade mais perto da sua casa: bit.ly/9amjli 5

“Eu vendia salgados nas ruas, mas achava que faria mais sucesso se oferecesse acarajé. Um dia, um colega de profissão, o Zeca, me ensinou a receita. Acho que aprendi bem. Até hoje, nenhum cliente reclamou!” MARIA DO CARMO, 44 anos, vendedora de Ubaitaba (BA)

RECEITA DE ACARAJÉ Ingredientes para a massa: - 1 kg de feijão-fradinho - 3 cebolas picadas - azeite de dendê para fritar - sal a gosto Para o recheio: • 2 colheres (sopa) de dendê • 2 dentes de alho amassados • 500g de camarão seco picado • 1 cebola grande picada • 2 tomates picados • sal, cheiro-verde, coentro e pimenta a gosto Deixe o feijão de molho por um dia. Tire a pele e bata-o no liquidificador com cebola e sal. Com essa massa, faça bolinhas e frite no azeite de dendê. Para o recheio, doure o alho no azeite, misture os demais ingredientes e cozinhe em fogo baixo até obter um molho grosso. Recheie as bolinhas e bom apetite!

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“O mundo de hoje está obcecado por próteses e cirurgias para moldar o corpo. Mas eu prefiro não me violentar para me enquadrar no estilo de vida dos outros. Aprendi a cuidar de mim estando próxima da família e me alimentando bem, sem neuroses.” JULIANA REIS, 43 anos, personal trainner do Recife

5 DICAS PARA COMER BEM • Coma menos, mais vezes por dia: faça pequenas refeições a cada 3 horas. • Para os lanches entre as refeições, frutas secas são uma opção saudável • Beba de oito a dez copos de água por dia • Cozinhe legumes no vapor, para preservar os nutrientes • Prefira alimentos integrais, ricos em fibras 5 2

“Gosto muito de falar. Mas meus pais sempre me ensinaram a ouvir e respeitar a opinião dos outros. Desde que passei a trabalhar numa livraria, entendi na prática essa lição – pois é ao escutar as pessoas que posso ajudá-las, indicando os livros que mais combinam com suas expectativas.” ÉRIKA LUCIALDO FÁCCIO, 29 anos, contadora de Cuiabá 1

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SATISFAÇÃO NO TRABALHO EVITA FADIGA , PROBLEMAS DIGESTIVOS

E DORES

MUSCULARES1 FONTES: 1 CADERNOS DE PSICOLOGIA SOCIAL DO TRABALHO (2003) DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) 2 ALIMENTE-SE BEM – SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA – DEPARTAMENTO REGIONAL SÃO PAULO

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“O importante é trabalhar no ramo de que a gente gosta. A vitória vem com o tempo. Vendo flores há 30 anos, sempre com a mesma satisfação em atender bem os clientes.” RONALDO JOSÉ ALVES, 58 anos, florista do Rio de Janeiro

OUVIR PARA SALVAR Se você gosta de escutar os outros, talvez possa ser um bom voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV). Esta ONG oferece apoio por telefone e internet a qualquer pessoa que queira desabafar de forma anônima. Para mais informações, acesse: www.cvv.org.br

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POR EXEMPLO

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XÔ, DEPRESSÃO! “Quando perdi minha filha, meu mundo caiu. Mas aprendi a deixar a vida seguir seu curso. Ontem mesmo, comecei a fazer natação. Faço tudo sozinha, sei me virar bem. A melhor coisa é a liberdade!” GIUSEPPA GERMINO, 85 anos, aposentada de São Paulo

Veja alimentos que ajudam a combater essa doença. Mas sempre consulte um médico! • Cereais estimulam a produção de serotonina, o hormônio do bom humor. • Leite e iogurte têm cálcio, que diminui o nervosismo. • Castanha-do-pará e nozes são fontes de selênio, que combate o estresse. 5

“Minha maior vitória na vida foi vencer a depressão. Fiquei 15 anos vivendo esse pesadelo e, há cinco, estou livre. Livros especializados no tema – e os discos do Raul Seixas! – me ajudaram bastante. Com a cura veio o aprendizado de valorizar as pequenas coisas da vida” JOSÉ FLÁVIO BARBOSA, 42 anos, técnico de eletrodomésticos de Alvinópolis (MG)

A NATAÇÃO É U M ÓT I M O ESPORTE PARA TODAS AS IDADES “Aprendi com minha mãe a ser honesto, acima de tudo. Quando um passageiro esquece algo no meu carro, faço o possível para devolver. Para mim, o verdadeiro valor daquele objeto é o ato de retorná-lo ao seu dono. Se todos agissem assim, acredito que o mundo seria um pouco melhor.” TADEU NOBORU SAITO, 47 anos, taxista de São Paulo

AMOR E SABOR Que tal fazer biscoitos e doá-los para um orfanato? Confira a receita2 a seguir! Ingredientes: • casca de 2 goiabas em tirinhas

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• 3 xícaras (chá) de farinha de trigo • 1 xícara (chá) de açúcar • 3 colheres (sopa) de margarina

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ÉTICA CASEIRA Como ensinar os filhos a serem honestos? Esse é o tema da matéria na página 34 desta edição. Confira!

“A maior lição que recebi da vida é que faz muito bem ajudar os outros. Sempre que posso, doo roupas a quem precisa, ou até mesmo os doces que fabrico para vender.” JOSÉ MAURO FARIAS GALVÃO, 29 anos, vendedor de Cuiabá

Misture a farinha, o açúcar e a margarina até formar uma massa. Acrescente as cascas. Molde em forma de biscoitos e asse até dourar. Veja uma lista de locais que você pode ajudar: bit.ly/yaDqQR

© FOTOS 1 MARCOS LOPES 2 ALEXANDRE SEVERO 3 TIAGO LIMA 4 CARINA BARROS 5 MICA TOMÉO 6 MÁRCIA DIAS 7 ANNA LUIZA FISCHER

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16 É QUE SE APRENDE

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POR EXEMPLO

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Não dei conta POR INEXPERIÊNCIA, IMPACIÊNCIA OU IMPRUDÊNCIA, ÀS VEZES ACABAMOS DANDO UM PASSO MAIOR DO QUE AS PERNAS. AÍ O DESAFIO É ENFRENTAR AS CONSEQUÊNCIAS, IMPREVISTAS, E DESCOBRIR, NA PRÁTICA, A MEDIDA DAS NOSSAS AÇÕES. CONFIRA HISTÓRIAS DE QUEM NÃO CONSEGUIU ABRAÇAR O MUNDO, MAS APRENDEU ATÉ ONDE SEUS BRAÇOS ALCANÇAM TEXTO PATRÍCIA PEREIRA FOTO ANDREA MARQUES

Com 18 anos, eu pesava 110 quilos. Resolvi tomar remédios para emagrecer, mesmo sabendo que fazem mal. Perdi muito peso, mas sentia enjoo e tinha alucinações. Acabei engordando ainda mais. Só dez anos depois consegui emagrecer de verdade, com uma dieta controlada por especialistas. Não existe mágica, é preciso comer menos e se exercitar. MARIA CLÁUDIA BARCELOS, 36 anos, Niterói (RJ)

Aos 12 anos, chorei de vergonha ao ouvir uma freira da escola dizer no alto-falante que minha mensalidade estava atrasada. Era um engano e ela se desculpou. Mas decidi me vingar. Ao vê-la abaixada para arrumar um armário, pisei em seu véu. Quando ela se levantou, foi aquela gargalhada: ela era careca. A vingança acabou tendo um preço alto demais: O que você fui convidada a me retirar da já aprendeu escola e não pude me formar com um erro? Conte para a gente! com a minha turma – coisa Veja nossos contatos que eu sonhava em fazer. na página 7. MARIA DAS GRAÇAS TOUSSAINT, 63 anos, Belo Horizonte

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Vi o mar pela primeira vez aos 15 anos, numa viagem para Vitória. Queria voltar bem bronzeada. Passei Coca-Cola no corpo todo e tostei na areia. Tive queimaduras graves. Fiquei trancada no quarto, sem roupa, por mais de uma semana, passando remédio. Foi necessário passar por tudo isso para eu aprender que não se pode abusar do sol. LUCIMAR SILVA DE CASTRO, 48 anos, Volta Redonda (RJ) Eu me preparava para ser piloto das Forças Armadas. Com 19 anos, em um de meus primeiros voos-solo, vi a região onde minha namorada morava e resolvi dar um rasante sobre a casa dela só para impressioná-la. Um oficial viu a manobra e fui afastado. Nunca mais pude pilotar. Na época não gostei, mas hoje sei que fui imprudente. Quatro amigos meus daquele tempo morreram em acidentes aéreos. LUIZ FERNANDO SCHNEIDER, 91 anos, Rio de Janeiro Há alguns anos, após um tempo sem me exercitar, decidi começar a correr. Uns amigos atletas me aconselharam a

fazer fortalecimento muscular prévio e procurar auxílio. Impaciente, não segui as dicas. O resultado foi uma lesão nos joelhos que, até hoje, me incomoda e me impede de maiores ousadias esportivas. LAÉCIO RODRIGUES, 35 anos, Fortaleza A reforma do meu consultório odontológico deveria levar dois meses. Quando o prazo chegou ao fim, foi prolongado por mais 45 dias. Eu não tinha mais dinheiro. Tive de financiar. Só assim aprendi a nunca começar uma obra sem uma folga no orçamento. LUÍS ANTÔNIO FERRARI, 42 anos, Bueno Brandão (MG) Quando vi que passei em uma prova para trabalhar em Joinville (SC), eu e meu marido encaixotamos a casa toda em poucos dias. Já procurávamos apartamento quando soube que ainda levaria um tempo para começar no emprego. Meu marido já havia até se demitido! Mas arranjei outra oportunidade e vivemos dois bons anos na cidade. ALINE SANTI, 30 anos, São Paulo

© PRODUÇÃO ALEXANDRE SCHNABL MAKE NANI GAMA

Eu e minha mulher resolvemos criar nosso próprio jornal em 2005. Sabíamos muito de redação, fotografia e diagramação, mas pouco de gráfica, gerenciamento, distribuição e publicidade. Em seis meses, acumulamos uma grande dívida. Aprendi a valorizar o trabalho de cada um e a buscar um profissional quando preciso de algo que não sei fazer. MARCOS VINÍCIUS FARIA, 41 anos, Rio de Janeiro

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18 EM SEU LUGAR

“Chef” de família LUIZ, DE 73 ANOS, TOPOU O DESAFIO: NUM ALMOÇO DE DOMINGO, ASSUMIU AS TAREFAS QUE NORMALMENTE CABEM À SUA MULHER. VEJA COMO ELE SE SAIU TEXTO IRENE DONATTI FOTOS PATRICIA STAVIS

QUAL MEMBRO DA FAMÍLIA cozinha, lava, passa e cuida das crianças? Se você automaticamente pensou numa mãe ou esposa, pode até ser considerado antiquado, mas o fato é que sua resposta está estatisticamente correta. Por mais que os homens estejam aumentando sua participação nas tarefas do lar, ainda são as mulheres que dedicam a maior parte do dia a esses afazeres. Dados do IBGE de 2009 mostram que os serviços de casa consomem, em média, duas vezes mais horas das chefes de família do que dos homens. Essa cultura surge na infância. Ainda segundo o IBGE, as garotas de 9 a 11 anos gastam mais de 20 horas da semana

ajudando nas tarefas domésticas – mais que o dobro do tempo dedicado pelos meninos da mesma faixa etária. Araci Harder, de Sorocaba (SP), conhece bem essa realidade. Aos 64 anos, ela admite que não ensinou nenhum dos quatro filhos homens a auxiliar em casa. “Agora que estão casados é que eles ajudam a esposa. Mas no meu tempo era diferente. Meu marido, mesmo, não faz nada até hoje”, diz. Não fazia! Depois de 48 anos de união, convidamos Luiz Harder a assumir as tarefas num tradicional almoço de domingo da família, em que a casa se enche de filhos, noras e netos. Confira como foi e veja o que eles aprenderam com a experiência.

FORA DA ROTINA O desafio proposto a Luiz foi preparar o almoço de domingo, desde a compra dos ingredientes até a hora de lavar a louça. Como ele não tem experiência na cozinha, recebeu a ajuda dos filhos. Araci e suas noras, que costumam auxiliá-la nos fins de semana, tiraram uma folga. Neste dia, em vez de servir, elas é que ficaram só na mordomia.

A MÃO NA MASSA 2 COM

1 ENTRE AS PRATELEIRAS

A lista é simples: apenas os ingredientes para a galinhada. Mas Luiz se perde entre os corredores. “A Araci faz as compras do mês em 30 minutos”, diz, ao perceber que vai precisar do dobro do tempo. O carrinho às vezes é deixado trancando o trânsito, mas Luiz mostra segurança ao escolher os vegetais. Já na hora da carne, conta com a ajuda dos filhos.

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Orientado por Douglas, o filho mais velho, Luiz pica cebola, pimentão e alho. Rafael, o caçula, diz que os pedaços estão grandes demais e sugere o uso do ralador. Luiz aceita e pega um banquinho antes de continuar o trabalho. “De que lado rala?”, pergunta.

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POR EXEMPLO

3 FAMÍLIA REUNIDA À MESA

Luiz faz questão de servir Araci. Com carinho, ele paparica a mulher – hoje, na cabeceira da mesa. “A comida está uma delícia! Agora só vou pedir, não vou fazer mais nada!”, brinca Araci. Mesmo com tanto mimo, é difícil para ela relaxar: acostumada a controlar o serviço, fica o tempo inteiro de olho no marido. “Nunca entreguei o fogão a ninguém!”, diz.

LUIZ, ENSABOA 4 ENSABOA, Ricardo, um dos filhos, se prontifica a lavar a louça, e Luiz vai junto fazer sua parte. Sem jeito, parece acariciar os utensílios com a esponja. “De vez em quando, arrumo a cozinha quando a Araci sai”, conta. “Ele faz um charme: passa uma xícara embaixo da água, mas nem sabão usa!”, diz na sequência a mulher.

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5 PURA DIVERSÃO

A parte final da experiência é a mais divertida: brincar com os netos. Primeiro, eles colhem cereja e manga no pé. Depois, jogam uma partida de futebol. Nesse momento, a dor nas costas de que Luiz havia se queixado enquanto cortava as cebolas simplesmente desaparece. Apaixonado por futebol, ele joga com amigos três vezes por semana.

6 LIÇÕES COM AMOR

Após esse domingo diferente, o casal reflete sobre o que viveu. Araci percebe que, ao se afastar um pouco da cozinha, ganha mais tempo para curtir os netos. E Luiz mostra empenho em ser mais participativo no dia a dia do lar: “Depois desta, estou disposto a pôr mais a mão na massa”, diz.

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20 QUEM VOCÊ PENSA QUE É?

ROBSON MENDONÇA, DE 60 ANOS, PERDEU A FAMÍLIA E AS ECONOMIAS E VIROU MORADOR DE RUA. HOJE, O QUE VOCÊ ACHA QUE ELE FAZ PERAMBULANDO PELO CENTRO DE SÃO PAULO? A) PEDE ESMOLA B) VIVE DE BICOS C) EMPRESTA LIVROS

Espalhando *ADULTA.indb 20

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um vício *ADULTA.indb 21

TEXTO DANIELA ALMEIDA FOTOS GUILHERME GOMES

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22 O SONHO DO agropecuarista Robson Mendonça era sair do interior do Rio Grande do Sul e abrir um restaurante em São Paulo. Em 1997, foi na frente para arrumar uma casa e começar o negócio. Quando se estabelecesse, levaria a família. Ao chegar, porém, sofreu um sequestro no qual perdeu os documentos e as economias. Virou morador de rua. Um ano depois, viu o nome da mulher e do filho em um jornal. Os dois haviam morrido em um acidente de estrada. O refúgio para a tragédia foi a leitura. “O livro nos leva a viajar sem sair de onde estamos”, filosofa. Robson lia em bibliotecas públicas. Mas não podia pegar nenhum exemplar emprestado, por não ter comprovante de residência. Um dia, encontrou largado na calçada o romance A Revolução dos Bichos, de George Orwell, um clássico sobre a opressão social. O texto o atingiu como um soco no estômago, e foi o gás que precisava para se fortalecer. Robson foi trabalhar com material reciclado e conseguiu sair das ruas em 2003. Então começou a pensar em uma forma de levar a leitura a quem ainda precisava superar a falta de um teto. Foi aí que idealizou a “bicicloteca”: uma bicicleta que carregasse livros para serem emprestados livremente – em especial a quem nem sequer tem um documento para apresentar. Procurou ajuda com políticos, entidades e empresas. Só em 2010, com o apoio da ONG Mobilidade Verde, conseguiu construir a primeira bicicloteca. Em junho de 2011, a invenção foi roubada. “Mas acabou sendo algo benéfico”, diz. O caso chamou a atenção de novos parceiros, como a editora Melhoramentos e o grupo Pão de Açúcar. Robson ganhou três unidades e fez do projeto sua principal atividade. Hoje, as biciclotecas são equipadas até com internet sem fio. Circulam de segunda a sexta pelo centro de São Paulo. Por dia, são emprestados até 150 livros. Cerca de 99% retornam. Com o sucesso, em breve, serão 13 unidades, para atender a mais pessoas. “Outro dia, vi um morador de rua dizer: ‘em vez de beber, vou pegar um livro, pois isso vai me ajudar mais a arranjar um emprego’”, conta Robson, orgulhoso de espalhar um vício do bem.

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MORADORES DE RUA NÃO PODEM LOCAR LIVROS EM BIBLIOTECAS. ROBSON SENTIU ISSO NA PELE E INVENTOU A BICICLOTECA PARA RESOLVER O PROBLEMA

R$ 11 é o preço médio do livro

A Campanha de Livros do Extra já doou

2 milhões

no Brasil:

de obras a escolas e

11 almoços populares

bibliotecas

o mesmo que

desde 2000

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POR EXEMPLO

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POR UMA VIDA MENOS DURA NA ENTREVISTA ABAIXO, ROBSON FALA SOBRE O DRAMA DE MORAR NA RUA E PEDE SUA AJUDA PARA COMBATER ESSE PROBLEMA FAÇA VOCÊ TAMBÉM! Doe livros. Confira uma lista de instituições em vários estados do país que aceitam doações de obras usadas neste site: www.livralivro.com. br/entities Ajude quem ajuda. Colabore com projetos que dão apoio aos moradores de rua, como estes: www. ocas.org.br, www. anjosdanoite.org.br, www.mudar.org.br

5% das cidades

brasileiras têm abrigos para

moradores

de rua *ADULTA.indb 23

QUAL É A PIOR COISA DE SER UM MORADOR DE RUA? Não contar com o amparo do Estado, que não tem política pública para essa população. Em São Paulo, a Lei nº 12316/1997 diz que o município tem de garantir a essas pessoas o direito de tomar banho, ter documentos, fazer curso profissionalizante, morar em um hotel social ou em moradia provisória. Ela existe há 15 anos e nunca foi implementada de fato. PARA O MORADOR DE RUA, QUAL É A IMPORTÂNCIA DE RECEBER ATENÇÃO? Isso faz com que ele se sinta gente. Era isso que acontecia comigo quando alguém vinha conversar. Uma das iniciativas do projeto é um concurso de poesia para moradores de rua. Precisa ver como eles se sentem valorizados ao ler uma poema que fizeram. QUAL O CASO MAIS EMOCIONANTE QUE VOCÊ VIVEU NO PROJETO? Foi o de um rapaz que conseguiu, por meio da ajuda de uma empresa, fazer o curso de direito, mas não tinha como comprar os livros da faculdade. Ele trabalhava entregando panfletos e morava em albergue. Quando lhe entregamos os livros, ele chorou muito. COMO AS PESSOAS PODEM AJUDAR O PROJETO BICICLOTECA? Por meio do site www. bicicloteca.com.br. Lá, há uma lista dos lugares onde os livros podem ser doados. Também aceitamos doação de roupas, livros, fraldas e alimentos para os moradores de rua. Toda ajuda é bem-vinda!

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24 EU CONTRA O MUNDO

Encarando

o perigo SENTIR MEDO É NATURAL. ENFRENTÁ-LO, TAMBÉM. BASTA ENCONTRARMOS O GRANDE MOTIVO QUE NOS GUIARÁ PELO CAMINHO DA SUPERAÇÃO. E QUE NOS PERMITIRÁ REALIZAR OS MAIORES FEITOS TEXTO JAQUELINE LI E JÉSSICA MARTINELI

HÁ QUEM ESTUFE O PEITO E DIGA: “Eu não tenho medo de nada!”. Essa pessoa pode pensar que está dando uma indiscutível demonstração de superioridade. Mas a história da evolução da nossa espécie diz exatamente o contrário. “O medo nos serve decisivamente para a sobrevivência”, afirma o psicólogo Julio Peres, autor do livro Trauma e Superação (editora Roca). Medo é natural. Como a alegria, a tristeza, a raiva e a aversão, é uma das emoções básicas dos seres humanos. Funciona como um sensor que detecta o perigo e nos protege de tragédias. Por isso vem acompanhando nossa espécie desde o seu princípio. Imagine se nossos ancestrais fossem, sem exceção, valentões destemidos – provavelmente morreriam todos, ao enfrentar animais e intempéries dos quais seria mais prudente fugir. E a história da humanidade teria sido bem mais curta. O problema do medo é quando existe em excesso, quando nos paralisa a ponto de nos impedir de viver. Aí, é preciso buscar ajuda médica. Mas, em geral, sabemos a hora certa de enfrentar nossos temores. Para tanto, precisamos de uma razão que compense. “Com um grande motivo, o indivíduo potencializa sua coragem e consegue enfrentar o medo”, explica Julio. Essa motivação é totalmente pessoal. Pode ser o instinto de sobrevivência, um amor incondicional, a busca por um sonho, o senso de justiça, a vontade de ser alguém melhor... Decidir enfrentar o que nos assusta exige grande esforço, mas cria uma oportunidade à altura do risco: fazer algo grandioso, que pode mudar nossa vida e a de outras pessoas. Foi dessa forma que agiram os personagens a seguir. E, assim, se transformaram em exemplos de coragem que podem inspirar todos nós.

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MÁRCIA ENFRENTOU A POLÍCIA PARA RECUPERAR A HONRA DO FILHO HANRY, MORTO AOS 16 ANOS

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POR EXEMPLO

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MÃE CORAGEM

VENÇA TAMBÉM Qualquer um pode enviar ao Ministério Público uma denúncia noticiando irregularidades ou ameaças aos direitos humanos. E, se você precisar de uma orientação jurídica, para entrar com uma ação ou se defender, por exemplo, é a Defensoria Pública de seu estado que você deve procurar.

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Márcia acordou e estranhou a ausência do filho em casa. Era novembro de 2002, e ela saiu perguntando à vizinhança, no Morro do Gambá, se alguém sabia do paradeiro de Hanry, de 16 anos. A busca acabou no Instituto Médico Legal, onde o corpo do garoto foi reconhecido. O registro da morte na delegacia apontava que o menino estava armado e com várias trouxinhas de maconha, e que morrera trocando tiros com a polícia. Márcia ficou dois meses em choque, sem acreditar na versão oficial. Foi então que, inspirada por séries de detetives na TV, a dona de casa resolveu desafiar a polícia e investigar o caso por si mesma. Começou a estudar direito, armou-se de uma máquina fotográfica e um gravador e reuniu provas que contam outra história: Hanry foi assassinado, e a arma e a droga foram plantadas no seu corpo. Dois policiais foram condenados, por fraude e homicídio. Eles recorreram em liberdade e aguardam novo julgamento. A experiência levou Márcia a se tornar conselheira da Comissão dos Direitos Humanos do governo do Rio, onde luta para evitar novas injustiças.

© FOTO ANNA FISCHER

MÁRCIA JACINTHO, 50 ANOS, RIO DE JANEIRO

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O MARIDO DE MARIA DA PENHA TENTOU MATÁ-LA DUAS VEZES. ELA O MANDOU PARA A CADEIA E BATIZOU A LEI BRASILEIRA CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

FORÇA DE LEI MARIA DA PENHA FERNANDES, 67 ANOS, FORTALEZA

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voltou para casa. Mas logo foi vítima de novo atentado: o marido criou uma armadilha no chuveiro elétrico, para matá-la eletrocutada. Ela escapou novamente, e dessa vez o casamento acabou. Marco Antonio foi julgado e condenado em 1991 e 1996, mas recorreu e não foi preso. Com a ajuda de um deputado e do governo cearense, Maria levou o caso

à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que condenou o Brasil pela demora na punição do agressor. Só assim, quase 20 anos depois, Marco Antonio finalmente foi preso. O caso levou à criação, em 2006, da Lei nº 11340, contra a violência doméstica – conhecida como Lei Maria da Penha.

VENÇA TAMBÉM Mulheres vítimas de violência devem denunciar na delegacia mais próxima. Mais informações sobre esse tipo de problema podem ser obtidas pelo telefone 180. O serviço é gratuito e funciona 24 horas por dia, em todo o país.

© FOTOS ANNA FISCHER

Maria acordou com um forte estampido em 29 de maio de 1983. Era um tiro dado em suas costas por seu marido, Marco Antonio Viveros. A agressão a deixou paraplégica e exigiu algumas cirurgias, somando quatro meses de recuperação. Marco Antonio alegou que o disparo havia ocorrido durante um assalto frustrado. Maria

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PASSADO A LIMPO CHINAIDER PINHEIRO, 37 ANOS, RIO DE JANEIRO

© FOTOS ANNA FISCHER

VENÇA TAMBÉM

CHINAIDER ENFRENTOU SEU PASSADO PARA AJUDAR EX-PRESIDIÁRIOS, COMO ELE, A TAMBÉM TER UMA NOVA CHANCE

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Um importante projeto de apoio a presidiários em todo o país é a Pastoral Carcerária. O movimento acompanha denúncias de violação de direitos humanos, dá apoio jurídico às famílias e orienta egressos na reintegração à sociedade. Saiba mais no site www. carceraria.org.br

Ameaçado por duas facções criminosas rivais ao mesmo tempo. Era assim que Chinaider se sentiu ao sair da prisão, em 2008. Foram 11 anos na cadeia, pagando por comandar o tráfico de drogas em Vigário Geral e outras seis favelas cariocas. No último mês da pena, ele foi convidado a trabalhar no AfroReggae, grupo que luta pela inclusão social em comunidades carentes do Grande Rio. Aceitou. Mas, fora do crime, sentiu-se visado tanto pela facção de que fazia parte, que poderia vê-lo como um traidor, como pelo novo grupo que havia tomado Vigário Geral, rival da sua antiga quadrilha. Morando numa casa alugada na Zona Norte e trabalhando no centro, durante um ano evitou voltar à favela em que se criou. Mas, para cumprir sua função no AfroReggae, precisou vencer esse temor – Chinaider é supervisor de um projeto que ajuda ex-presidiários a conseguir emprego e precisa levar empresários para conhecer o programa, nas sedes que o AfroReggae mantém em Vigário Geral e em outras comunidades. Hoje, em vez de medo, ele sente orgulho de dar a outros a mesma oportunidade que mudou sua vida.

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MARIA PERDEU O MARIDO E SABE QUE TAMBÉM PODE SER ASSASSINADA A QUALQUER INSTANTE. MESMO ASSIM, MANTÉM SUA LUTA POR JUSTIÇA 1

MARCADA DE MORTE Maria é ameaçada de morte há 11 anos. Anda sempre escoltada por um policial. Assim tem sido desde que seu marido foi assassinado com três tiros em frente de casa, em novembro de 2000. José da Costa era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará e incomodava gente poderosa ao denunciar grileiros e madeireiros ilegais. Viúva,

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Maria já teria muito trabalho para criar sozinha os quatro filhos. Mas decidiu ir além: lutar pela condenação dos assassinos e dar sequência ao trabalho do marido no sindicato. E essa é sua briga até hoje. O pistoleiro chegou a ser preso, mas escapou e está foragido. O fazendeiro acusado de encomendar o crime ainda não foi julgado. Como coordenadora regional da Federação dos

Trabalhadores na Agricultura do Pará, Maria segue denunciando os crimes rurais na região. Por isso, seu nome aparece na relação de ameaçados de morte por conflitos agrários no Brasil, divulgada pela Comissão Pastoral da Terra. “Dá medo”, ela confessa. “Mas o objetivo que me faz continuar é não deixar que a história do meu marido morra.”

VENÇA TAMBÉM Ameaça de morte é crime previsto no Código Penal. Nesses casos, o importante é denunciar o abuso a uma autoridade policial. Se for o caso, a pessoa pode ser protegida pelo Sistema Nacional de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, presente em 17 estados do país.

© FOTO 1 WAISHINGTON OLIVEIRA/ TUERÊ FOTOS 2 FERNANDA PRETO

MARIA JOEL DA COSTA, 48 ANOS, RONDON DO PARÁ (PA)

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INSTINTO DE PAI HÉLIO JANNY TEIXEIRA, 62 ANOS, SÃO PAULO As férias de julho de 1996 da família Teixeira seriam especiais. O professor Hélio e sua esposa, Maria Odeth, de 50 anos, se programaram para levar os três filhos aos Estados Unidos. O que eles não imaginavam é que um singelo passeio de bicicleta no parque se tornaria uma assustadora prova de coragem. Atrapalhado com o freio, acionado no pedal, o filho Alexandre, então com 7 anos, caiu em um dos canais que margeiam a pista. “Ele nem se assustou, a água era rasa”, conta o pai. Mas, então, apareceu um jacaré e abocanhou o menino. “Só a largura da mandíbula dele era maior que o tronco do Alexandre”, lembra Hélio. O pai correu até o animal e segurou sua boca. “Nessa hora você não tem medo.” O jacaré acabou largando a criança, resgatada pela mãe. Maria Odeth foi mordida e arrastada por alguns metros, mas se soltou. Ela sofreu um esmagamento na mão, que demorou três meses para sarar. Alexandre passou dois dias na UTI. Hoje, está prestes a se formar na faculdade de engenharia. E lembra do heroísmo dos pais sempre que é chamado pelo apelido que ganhou na adolescência: Jaca.

VENÇA TAMBÉM Ao avistar um animal selvagem perto de casa, ligue para os bombeiros (193) ou avise a polícia ambiental (www. pmambientalbrasil. org.br). Caso haja intoxicação por animal venenoso, ligue para 0800-7226001 e descubra o Centro de Informação e Assistência Toxicológica mais próximo de você.

HÉLIO E SUA ESPOSA ENFRENTARAM UM JACARÉ PARA SALVAR O FILHO: “NESSA HORA NÃO SE SENTE MEDO DE NADA”

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30 PROBLEMA MEU

De olho nos vazamentos

1,5 trilhão de reais é arrecadado a cada ano em impostos no Brasil

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HÁ 23 ANOS, uma tragédia familiar começaria a mudar o destino político da cidade de Januária (MG). O pai do jornalista Fábio Oliva sofreu um AVC e precisou ser levado para Montes Claros, a 170 quilômetros de distância. No caminho, a ambulância ficou sem combustível. Também não havia enfermeiro. Apenas um faxineiro do hospital, que se descuidou do balão de oxigênio, deixando o ar acabar na estrada. “Perdi meu pai por negligência, consequência da má administração dos recursos e da corrupção”, revolta-se Fábio, hoje com 48 anos. Por si só, a indignação não mudou nada. Mais de uma década depois, em 2003, Fábio comprovou que o descaso se mantinha: um sobrinho seu passou mal e foi encaminhado à cidade vizinha porque no posto de saúde

local não havia sequer luvas descartáveis. Aí o jornalista decidiu que não dava mais para esperar. Era preciso fazer alguma coisa. Com o irmão, acessou os dados públicos que mostram os gastos da prefeitura e descobriu a compra superfaturada de medicamentos, comprovada por documentos fornecidos por um membro do Conselho Municipal de Saúde. O mesmo ocorria nas escolas: “Em uma cidade com 6 mil alunos, como puderam comprar 2 mil apagadores de quadros-negros?”, reclama. A investigação deu origem à Associação Amigos de Januária (Asajan), que, desde 2004, fiscaliza os gastos públicos da cidade. Organizações da sociedade civil, como a Asajan, não têm poder para derrubar governantes. Mas sua atuação pode agilizar

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POR EXEMPLO

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3,2 bilhões de reais foram desviados dos cofres públicos em 2011

NÃO ADIANTA APENAS RECLAMAR QUE SEUS IMPOSTOS DESCERAM PELO RALO. CIDADÃOS E ORGANIZAÇÕES CIVIS DEVEM FISCALIZAR OS GASTOS PÚBLICOS PARA EVITAR QUE NOSSO DINHEIRO SE PERCA PELO CAMINHO TEXTO DANIELE MARTINS ILUSTRAÇÕES SURYARA BERNARDI

muito as ações dos órgãos oficiais. A apuração de denúncias e a reunião de provas facilitam as investigações tanto do Ministério Público quanto da Polícia Federal. “É importante fazer isso rápido para não deixar os crimes prescreverem”, afirma Fábio. E ele tem conhecimento de causa: a Asajan já colaborou nos processos de cassação de nada menos que sete prefeitos. Um deles havia desviado mais de 10 milhões de reais. Acabou preso, com a esposa e o primeiro-secretário.

DEPENDE DE TODOS No ranking dos países menos corruptos, o Brasil ocupa apenas o 73º lugar. A lista é feita pela Transparência Internacional, organização não governamental que produz um relatório anual dos índices de percep-

ção de corrupção no mundo. As áreas de saúde e educação são bastante suscetíveis à roubalheira porque, normalmente, são as que recebem mais recursos. Construção, transporte e energia são setores que também movimentam muito dinheiro. Em tempos de preparação para a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada do Rio, em 2016, a preocupação cresce. Um grupo que está de olho nesses gastos é o Instituto Ethos, entidade que defende a bandeira da responsabilidade social. Para monitorar os orçamentos públicos relacionados a esses grandes eventos, o instituto lançou a campanha Jogos Limpos. Felipe Saboya, coordenador do projeto, acredita que a fiscalização deve ir além das empresas, sindicatos e universidades. Segundo ele, organizações civis A CORRUPÇÃO CRIA BURACOS NO SISTEMA, IMPEDINDO QUE A VERBA DO ESTADO TENHA A DESTINAÇÃO CERTA

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precisam estar atentas para mapear os riscos de corrupção e acompanhar a prestação de contas. “Todos os órgãos públicos devem responder às demandas por informação dos cidadãos brasileiros, assim como são públicos os contratos de licitações”, esclarece.

EXEMPLO DO INTERIOR A Asajan foi criada com o apoio e a orientação da Associação dos Moradores de Ribeirão Bonito (Amarribo), organização que trabalha contra a corrupção desde 1999. Cidade paulista com apenas 14 mil habitantes, Ribeirão Bonito é reconhecida internacionalmente. Tudo começou quando o engenheiro mecânico Guilherme von Haehling, de 62 anos, teve a ideia de recuperar um ponto turístico da região, o Morro Bom Jesus. Com um grupo de amigos, buscou a prefeitura para falar do projeto e descobriu as primeiras irregularidades. Após uma denúncia de que o dinheiro de merenda escolar era desviado, Guilherme e sua turma contrataram peritos e reuniram parte da população no ginásio de esportes para expor o problema. Isso levou à queda do prefeito e de cinco vereadores, e eles ganharam espaço na mídia nacional. “Nada pode ser feito sem o apoio popular”, ensina o engenheiro, diretor

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executivo da associação. Ele diz que as autoridades só tomam providência sob pressão. “Na noite em que cassamos o prefeito, conseguimos reunir 2 mil pessoas em frente à Câmara, quase 15% da população.” A repercussão do caso foi tão grande que pessoas de várias cidades ligavam pedindo orientações sobre como fiscalizar o dinheiro público. Atualmente, 211 entidades civis fazem parte da rede. Hoje, a Amarribo mantém um amplo diálogo com o Estado. “Temos boa convivência com o poder público e recebemos mensalmente a relação de todos os pagamentos feitos pelo município”, garante Guilherme. A associação é ligada à Transparência Internacional e, em novembro, vai organizar no Brasil a 15ª Conferência Internacional Anticorrupção. Tais exemplos mostram que a fiscalização dos gastos públicos exige dedicação contínua. Mas, às vezes, uma assinatura basta. Foi assim, no ano passado, em Foz do Iguaçu (PR). Contra a proposta de aumento no número de vereadores, 21 mil pessoas apoiaram o abaixo-assinado que barrou a mudança. “A participação da população ainda é tímida”, reconhece Gilder Neres, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil na cidade, que liderou a campanha. “Mas foi um bom começo.”

2.770 km de estradas poderiam ser construídos. É o suficiente para ligar São Paulo a João Pessoa, na Paraíba

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240 mil

professores poderiam ser contratados com o dinheiro público desviado em 2011. O déficit atual é de cerca de 300 mil profissionais

33 NÃO ENTRE PELO CANO! VEJA DICAS PARA ACOMPANHAR MAIS DE PERTO A FORMA COMO OS RECURSOS PÚBLICOS SÃO GASTOS

CONHEÇA AS REGRAS. A Constituição federal diz: “Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral”. Veja o texto da lei em bit.ly/tELzcq

40 mil ambulâncias equipadas poderiam ser compradas: cada cidade do Brasil receberia 7 veículos

INFORME-SE na Câmara dos Vereadores de sua cidade se seu município realiza o Orçamento Participativo, mecanismo que permite ao cidadão opinar sobre o destino da verba pública municipal DENUNCIE na imprensa indícios de corrupção. Outros canais são o Observatório da Corrupção, da OAB (www. observatorio.oab.org.br), e a Controladoria Geral do seu estado ou a da União (www.cgu.gov.br/ Denuncias) ACOMPANHE sites que ajudam a participar da vida política do país: www.jogoslimpos.org.br – monitora os gastos com a Copa e a Olimpíada. www.eulembro.com.br – rede social que acompanha o desempenho dos políticos eleitos. www.impostometro.com. br – mostra em tempo real o valor pago em impostos pelos brasileiros

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34 COMO ENSINO

Lição de ouro SEJA SINCERO: ENSINAR OS FILHOS A AGIR HONESTAMENTE NEM SEMPRE É FÁCIL. CONHEÇA TRÊS FAMÍLIAS QUE, COM SEUS EXEMPLOS, PODEM AJUDAR VOCÊ NESSE IMPORTANTE DESAFIO TEXTO JAQUELINE LI E JÉSSICA MARTINELI

UMA DAS TEORIAS sobre a origem da palavra honestidade remete ao termo em sânscrito honnu, que significa ouro. A relação não só evidencia o valor dessa virtude, como também ajuda a explicar o seu significado. O ouro é valioso porque não se altera, não se degrada – mantém-se sempre brilhante. Portanto, chamar alguém de honesto significa reconhecer sua integridade. Uma sociedade que não valoriza a honestidade não consegue se manter. Essa qualidade é fundamental para aproximar as pessoas e permitir que elas construam coisas juntas. “Uma relação só se estabelece se há confiança, e esta só pode ser conquistada quando há honestidade entre os indivíduos”, explica Alipio Casali, filósofo e professor de história da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

VEM DO BERÇO Assim como acontece com outras virtudes básicas para o convívio, o hábito de falar a verdade também é aprendido em casa. Pois é na família, seja qual for seu modelo, que se constroem as primeiras relações de confiança. “Uma criança criada em um grupo que tenha noção de respeito e honorabilidade naturalmente vai absorver esses conceitos”, explica Alipio. Essa transmissão de valores começa já nos primeiros anos de vida dos pequenos. “Os fundamentos morais precisam ser ensinados desde cedo”, afirma a mestre em educação Tania Zagury, filósofa e autora de livros como Educar sem Culpa: A Gênese da Ética (editora Record). Mas a especialista lembra que é preciso acompanhar a idade da criança e respeitar sua evolução. Até os 9 anos, por exemplo, os filhos podem dar trabalho ao fazer perguntas que exigem respostas complexas – às vezes até desconhecidas pelos pais. “Como o navio flutua?”, “Por que a água congela?”, “Quem pôs o Sol no céu?”... Para

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complicar, nessa idade a criança não lida muito bem com hipóteses nem com raciocínios abstratos. Só aos 10 anos ela tem capacidade de ir além dos conceitos concretos. Então, como dar uma explicação correta e satisfatória? “Simplificar ou dar um tom lírico a um ponto de vista científico não são soluções desonestas”, diz Tania. (Veja mais sobre esta questão na página 36.) Além das perguntas cabeludas, inúmeros momentos do dia a dia são oportunidades de passar às crianças a importância de manter uma postura ética. As brincadeiras e os jogos

CERES INCENTIVA MATIAS E ROMEU A ASSUMIREM SEUS ERROS EM VEZ DE TROCAR ACUSAÇÕES

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POR EXEMPLO

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FAÇA VOCÊ TAMBÉM Às vezes, a criança não sabe que agiu de forma desonesta. Nesse caso, na primeira vez em que ela cometer o erro, o melhor é apenas orientá-la e explicar por que seu comportamento é inadequado. Deixe para aplicar um castigo apenas se ela repetir a travessura.

são um bom exemplo. Alguns adultos permitem que os pequenos burlem as regras para saírem vencedores. Ou jogam mal de propósito, para deixar que a criança ganhe. Se os filhos se acostumam com esses exemplos, vão pensar que não é preciso ser honesto para se dar bem. E não vão descobrir que só há graça em ser campeão em reais condições de igualdade. Conforme as crianças crescem, vão surgindo novas situações em que é preciso reafirmar o ensino da sinceridade. Na adolescência, conversar abertamente sobre temas difíceis, como sexo

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ou drogas, pode contribuir para que o filho não procure por informações fora de casa, correndo o risco de aprender algo que fuja às orientações da família (veja mais na página 37). São muitas as lições a serem compartilhadas. E esse desafio existe em todo lar. Conheça a seguir as histórias de três famílias diferentes entre si em muitos aspectos, mas semelhantes numa determinação: cumprir a valiosa tarefa de ensinar aos filhos, diariamente, a importância de serem honestos. Aprenda com elas como você pode fazer o mesmo na sua casa.

“Não fui eu que fiz, foi ele!” Quando a travessura passa dos limites, é comum que essa frase seja ouvida em dueto na casa dos irmãos Matias, de 6 anos, e Romeu, de 4, em São Paulo. Nessas horas, a mãe, Ceres Maldonado, sabe que será preciso insistir em dois ensinamentos que faz questão de passar aos filhos: devemos assumir nossas responsabilidades e não ficar dedurando os outros. A solução é ameaçar os dois de castigo, até que o verdadeiro culpado se manifeste. “Acho superimportante essa questão de assumir nossas responsabilidades. Influencia a formação do caráter”, diz a relaçõespúblicas, de 30 anos. Ceres faz questão de manter uma relação transparente com os meninos e pede o mesmo comportamento em troca. Quando isso acontece e eles decidem ser francos, ela alivia na sanção. Foi assim, por exemplo, quando a mãe descobriu que as correspondências recebidas pela vila onde a família mora, em São Paulo, tinham ido parar embaixo da cama de um dos garotos. Com medo de perder longas horas de brincadeira, o culpado acabou se identificando. “Quero que eles aprendam esses valores em casa para que depois assumam seus erros na escola e, mais tarde, no trabalho e por toda a vida.”

© FOTO GUILHERME GOMES

MEA-CULPA

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A CURIOSA CLARICE FAZ COM QUE A JORNALISTA DANI SE DESDOBRE PARA ENCONTRAR RESPOSTAS SINCERAS

NA MEDIDA

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A saída é uma verdade simplificada: “Foi o Sol, porque é quando ele nasce que as cores aparecem”, disse Dani, satisfazendo a curiosidade da menina. “A medida está no tanto que ela deseja saber. Encaro como um respeito à memória e às verdades dela, ao seu desenvolvimento. Informação demais pode confundir”, afirma. Numa das poucas vezes em que relaxou na sua

diretriz, percebeu a importância de respeitá-la sempre: um amigo faleceu e, na falta de uma ideia melhor para explicar a morte, ela disse à filha que ele havia virado uma estrela. Mas, dias depois, a menina conheceu uma pessoa chamada Estrela. Aí, Dani teve de se virar para desfazer a curiosa confusão. “Não existe o que não possa ser dito. O importante é como você vai dizê-lo.”

FAÇA VOCÊ TAMBÉM Apesar de a pergunta ser complexa, a criança procura uma resposta simples. Se ela perguntar por que a maçã caiu da árvore, uma frase como “porque estava madura”, além de correta, pode ser mais satisfatória que falar sobre a lei da gravidade.

© FOTO 1 LUIZ MARQUES 2 TIAGO CALAZANS

Ser sincera sempre. Essa é a estratégia da jornalista Dani Franco, de 32 anos, de Belém, para passar o valor da honestidade à filha Clarice, de 3 anos. O problema é quando a menina lança perguntas como: “Quem pintou o céu de azul?”. A mãe prefere não apelar para explicações fantasiosas, mas também sabe que uma resposta com densidade científica pouco interessará à pequena.

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37 NA PRÁTICA SAIBA COMO AGIR EM OUTRAS SITUAÇÕES EM QUE A HONESTIDADE SE PÕE À PROVA

DÊ O EXEMPLO

NÃO SE PROJETE

HOLOFOTE DO BEM

A VIDA ENSINA

Seu filho toma como certo aquilo que você faz. E nem sempre consegue entender sutis exceções. Se você falar a uma amiga que o vestido dela é lindo e, em casa, confessar que achou feio, seu discurso sobre a importância de ser sincero irá por água abaixo.

Alguns pais esperam dos filhos um talento que a criança não tem. E isso pode estimular a mentira. Se um pai quer que o filho seja um craque do futebol, mas o menino não corresponde, a criança pode ser levada a mentir sobre seu desempenho.

A mentira pode ser um meio de chamar atenção. Nesse caso, fazer um carnaval ao descobrir uma desonestidade do filho vira um tiro no pé. O melhor é ser enérgico nos elogios, nas ocasiões em que a criança falar a verdade – mesmo que seja ao reconhecer um erro.

Algumas coisas seu filho vai aprender sozinho. Se, por exemplo, ele disser a alguém que odeia essa pessoa, vai perceber pela reação de quem estiver presente quanto essa frase pode magoar. Numa próxima vez, talvez repense o peso de suas palavras.

JOGO ABERTO

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FAÇA VOCÊ TAMBÉM Um dos maiores desafios dos pais de adolescentes é saber o limite entre orientação e liberdade. Querer participar das descobertas dos filhos é legítimo e estreita laços, mas cuidado para não desrespeitar a privacidade deles.

ROMERO E SUAS DUAS EXESPOSAS SÃO SINCEROS COM OS FILHOS PARA QUE ELES TAMBÉM SEJAM – MESMO EM TEMAS TABUS

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O professor Romero Lima, de 52 anos, é pai de Mariana, de 27, filha de Cléa Soares. Também é pai de André, 12, e João, 8, filhos da segunda esposa, Lucinha Guerra, de 42. O casal já não vive junto, mas compartilha a guarda dos garotos, no Recife. Todos mantêm uma relação harmônica, baseada na honestidade. As separações, por exemplo, sempre foram bem explicadas, permitindo que as ex-esposas sejam amigas entre si. Romero acredita que ser claro sobre os mais variados temas dá liberdade para que André e João sejam seus grandes amigos. A mesma postura é adotada pela mãe. “Um dia, João veio me contar que uma menina lhe deu um beijo”, conta Lucinha, que faz questão de conversar sobre temas tabus, para ter certeza de que os filhos serão bem orientados. Essa mesma educação já foi testada e aprovada com a filha mais velha: “Meus pais são as primeiras pessoas para quem eu conto minhas novidades”, diz Mariana, que hoje mora em São Paulo.

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38 NÓS PODEMOS

Cidade feita

a mão CONHEÇA AS HISTÓRIAS DE TRÊS GRUPOS DE VIZINHOS QUE NÃO ESPERARAM PELO GOVERNO: ARREGAÇARAM AS MANGAS E, POR SI PRÓPRIOS, TRANSFORMARAM A PAISAGEM DO LOCAL EM QUE VIVEM TEXTO PAULA DESGUALDO ILUSTRAÇÃO FABIANO SILVA FOTOS MICA TOMÉO

EM CAMPO MOURÃO, NO PARANÁ, VIZINHOS SE JUNTARAM PARA DEIXAR AS RUAS DO BAIRRO LIVRES DO LIXO

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POR EXEMPLO

DE BALDIO A RENOVADO Se existe um terreno baldio sujo na sua cidade, comunique a prefeitura. Se for um lote privado, o proprietário será notificado e deverá deixar a área limpa e com a calçada bem conservada. Se for um espaço público, você e seus vizinhos podem propor uma parceria à prefeitura, para transformá-lo em praça, campinho de futebol, horta coletiva...

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DENTRO DE CASA, a gente varre o piso, se esforça para manter a pia em ordem, escolhe uma flor bonita para enfeitar o ambiente e não deixa o vaso entupido por muito tempo. Já da porta para fora, a situação muitas vezes muda de figura: é mais fácil encontrar quem reclame de ruas sujas e malcuidadas do que alguém que ponha a mão na massa para deixar os espaços públicos mais funcionais, agradáveis e bonitos. Fazer parte desse segundo time dá mais trabalho, é claro. Mas a recompensa vale a pena – e pode ser admirada e vivenciada por todos. É assim que pensam os moradores do bairro Jardim Modelo, em Campo Mourão (PR). Lá, o esforço coletivo tem sido o segredo para deixar as ruas com menos lixo e mais opções de lazer. “Não é porque pago impostos que vou ficar esperando o governo tomar providências”, afirma o funcionário público Rivaldo Santos, de 55 anos. Ex-presidente da associação de moradores da região, Rivaldo tem organizado, há anos, mutirões para limpar o bairro. Por volta de 2008, ele conseguiu que a prefeitura disponibilizasse caçambas em pontos estratégicos, para que

SEM TROPEÇOS As calçadas devem ter superfície regular, contínua, firme e antiderrapante. É obrigação do proprietário manter seu bom estado e a acessibilidade – a negligência dá multa, que varia para cada cidade. A prefeitura deve dar suporte e orientar: árvores, por exemplo, nunca podem ser cortadas sem a autorização de um técnico

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40 os moradores pudessem dar fim adequado a grandes volumes de lixo. Rivaldo teve a ideia, levou a sugestão a uma vereadora e a proposta virou projeto, aprovado pela administração municipal: o Limpa Quintal. Depois de um tempo, a iniciativa foi interrompida. Rivaldo não sabe a razão. Mas ele não desanimou: continuou convocando os vizinhos para varrer bocas de lobo e recolher entulho. O trabalho é realizado até hoje, de tempos em tempos, sempre que a sujeira começa a incomodar. Em 2010, o esforço dos moradores do Jardim Modelo ganhou um importante apoio: o bairro foi escolhido pela Câmara de Vereadores para fazer parte das Redes de Desenvolvimento Local, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). O projeto orienta a comunidade a definir e pôr em prática as mudanças que sonha ver no local

em que vive. “Nosso trabalho é identificar as pessoas com interesse em participar e ajudá-las a firmar parcerias que vão viabilizar as transformações”, diz Vanessa Santos, articuladora do programa no Jardim Modelo. De dois anos para cá, foram criad0s uma academia para a terceira idade, um coral, uma escola de futebol para crianças e oficinas de corte e costura. Tudo obra dos moradores. O pessoal se animou tanto que o bairro foi o único a fazer duas vezes o evento de comemoração de conquistas proposto pelo programa. “Tem muita gente ali disposta a trabalhar pelo desenvolvimento local”, elogia Vanessa.

FAXINA COM VALOR CULTURAL A mesma disposição é vista entre os atletas que integram a União Ciclística Desportiva de Minas Gerais. Uma ou duas

vezes ao ano, eles montam nas suas bicicletas e carregam tinta, rolos e pincéis fornecidos pela prefeitura para limpar as pichações da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. “É uma atitude de respeito ao lugar que usamos para treinar semanalmente”, acredita o infectologista Carlos Stalin, 53 anos, presidente da entidade. O local abriga importantes referências arquitetônicas da cidade, como o Museu de Arte da Pampulha, a Casa do Baile e a Igrejinha – o que atrai não só moradores e turistas interessados em um belo passeio, como também vândalos sem nenhum respeito pelo bem público. “Alguns monumentos ficavam tão sujos que mal podiam ser vistos”, lembra Carlos. O trabalho de redução da poluição visual na cidade começou em 2009, quando a prefeitura lançou o Movimento Respeito

MUROS LIMPOS No Brasil, pichação é vandalismo e crime ambiental. Pode levar à detenção de 3 meses a 1 ano. Qualquer cidadão pode fazer uma denúncia, à prefeitura ou à Polícia Civil. Para limpar a sujeira, é preciso autorização: do dono, em caso de propriedade privada, ou da administração municipal, quando se tratar do patrimônio público

PARA RECICLAR Verifique na prefeitura se há coleta de lixo reciclável na sua rua. Se houver, cabe a você e seus vizinhos se organizarem para separar vidro, papel e metal dos resíduos orgânicos. Se não houver, você pode encaminhar seu lixo limpo a pontos de coleta, como as lojas do Extra: bit.ly/pWf3Rl. Veja também outros locais de recebimento: bit.ly/z1s5cX

EM PARCERIA COM A PREFEITURA, CICLISTAS DE BELO HORIZONTE ESTÃO LIMPANDO PICHAÇÕES NA REGIÃO EM QUE COSTUMAM PEDALAR

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por BH. “Para combater as pichações, existe uma parceria muito positiva entre o setor privado, os órgãos públicos e a sociedade”, diz Rosane Corgosinho, analista de políticas públicas da Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Patrimonial. Para Carlos e seus amigos, as ações de despiche sob duas rodas são tanto uma maneira de cuidar do corpo quanto uma forma de contribuir com a comunidade. “A apropriação por parte de quem usa o espaço é a melhor forma de construir cidades mais saudáveis e seguras”, afirma o arquiteto Rodrigo Alonso, de 36 anos, um dos fundadores do Instituto Elos, que defende a transformação dos espaços públicos pelos próprios moradores. “Como cidadão, eu posso votar certo. Mas essa não é a única maneira de agir. Também posso limpar a frente da minha casa e melhorar a

minha vida hoje, agora”, enfatiza o especialista, destacando a importância de ações como as das turmas de Carlos e Rivaldo.

A PRAÇA É NOSSA O analista de sistemas Nelson Dias, de 48 anos, também não é do tipo que fica esperando as coisas acontecerem. Morador do bairro Beira Rio, em Guaratinguetá (SP), ele mobilizou 15 pessoas para trazer vida nova à pracinha da região. De tão degradado, o local não tinha mais condições de uso. “Pedimos um esclarecimento à prefeitura, mas nos disseram simplesmente que os recursos eram escassos”, conta. Em vez de lamentar, ele bateu na porta dos principais interessados: os vizinhos. Juntos, arrecadaram 20 reais de cada um, compraram materiais e contrataram alguém para pintar as calçadas e restaurar

os bancos de madeira. Então, pediram à Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente auxílio para plantar árvores: receberam 20 mudas e se revezaram para regá-las duas vezes ao dia durante a época mais seca. A bióloga Luana Fornitani, coordenadora do Programa de Arborização Urbana (Proarb), da prefeitura, orientou o plantio. “A praça ficou linda”, comemora. Ela considera fundamental que a comunidade se envolva e assuma a responsabilidade para que a adoção de áreas verdes como a praça do Beira Rio seja um sucesso. O cuidado continua – com pequenas doações em dinheiro dos próprios moradores, eles mantêm os bancos, as árvores e a calçada em ordem. Tanta atenção trouxe novos frequentadores, na maioria famílias que vão caminhar e se divertir. Afinal, quem não quer passear em um lugar bonito?

MAIS VERDE Cada vez mais municípios oferecem programas de incentivo para que os cidadãos plantem árvores. Informe-se na sua cidade. A administração municipal pode oferecer ajuda técnica para que você escolha as espécies mais adequadas ao local onde mora, e para evitar deslizes – como cultivar uma árvore que possa causar danos à rede de energia elétrica

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42 É GOSTOSO E FAZ BEM

Lanchinho

consciente

CONHEÇA UM PROJETO QUE LEVA A COMIDA DE ONDE ELA SOBRA PARA ONDE ELA FALTA E APRENDA TRÊS RECEITAS NUTRITIVAS QUE EVITAM O DESPERDÍCIO – E QUE SEU FILHO VAI ADORAR! TEXTO SOLANGE MEDEIROS

DE UM LADO, alimentos sendo jogados fora. De outro, gente passando fome. Foi ao perceber que esses dois problemas poderiam ser resolvidos com uma mesma solução que a economista Luciana Quintão criou o Banco de Alimentos, em 1998. A organização não governamental arrecada, em mais de 100 estabelecimentos de São Paulo, sobras de produção e comercialização, ainda em bom estado, que iriam para o lixo. E com elas abastece diariamente 51 instituições, que atendem crianças, idosos e portadores de doenças graves, como aids e câncer. Até hoje, foram recolhidas mais de 4 mil toneladas de alimentos, revertidas em quase 44 milhões de refeições. A iniciativa tem ajudado a minimizar um quadro triste: estima-se que, no Brasil, mais de 26 milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçadas todos os anos. Um luxo contraditório, já que 34% da população come menos do que o recomendado. Além de doar os ingredientes, o Banco de Alimentos ensina as entidades beneficiadas a cozinhá-los sem desperdício, aproveitando partes como talos e cascas. Para divulgar essas técnicas ao público em geral, a ONG lançou, recentemente, o livro Gourmet & Sustentável. Confira a seguir três receitas da publicação, que, juntas, formam um delicioso lanchinho para toda a sua família.

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COM O BANCO DE ALIMENTOS, LUCIANA QUINTÃO AJUDOU A SERVIR QUASE 44 MILHÕES DE REFEIÇÕES USANDO SOBRAS

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POR EXEMPLO

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GELEIA DE CASCA DE MELÃO RENDIMENTO 15 porções INGREDIENTES: • casca de meio melão • quanto baste de açúcar • quanto baste de água

PREPARO: Lave bem a casca do melão (se possível, higienize em solução de hipoclorito de sódio, seguindo as instruções do rótulo). Pique-a em cubos e coloque-os numa panela com água suficiente para cobrir. Cozinhe até que estejam se desmanchando. Passe numa peneira e bata no liquidificador com um pouco de água até que pareça um purê. Pese a massa e acrescente a ela metade dessa

PÃO DE QUEIJO COM TALOS DE RÚCULA RENDIMENTO 30 porções

medida em açúcar (cerca de 3/4 de xícara). Leve ao fogo novamente até 3

obter uma consistência gelatinosa.

INGREDIENTES: • 300 g de polvilho azedo • 500 g de polvilho doce • 2 colheres (chá) de sal • 3 colheres (sopa) de óleo • 1 xícara (chá) de talos de rúcula

COQUETEL DE CASCA DE MANGA COM GENGIBRE

• 2 ovos

RENDIMENTO 12 porções

© FOTO S 1 CAMILA REZENDE/DIVULGAÇÃO 2 DUDU TRESCA/DIVULGAÇÃO 2 ROGÉRIO ALBUQUERQUE/DIVULGAÇÃO 3 RENATO PIZZUTTO

• 5/6 de xícara (chá) de leite

• 2 xícaras (chá) de queijo meia cura

INGREDIENTES:

• 1 xícara (chá) de queijo parmesão

• 2 mangas com casca

PREPARO:

• 1,5 l de água gelada

Numa tigela, misture os polvilhos

• açúcar a gosto

e o sal. Em uma panela, ferva o óleo

• 5 limões

e o leite. Em seguida, misture tudo

• quanto baste

na tigela, até formar uma massa.

de gengibre

Espere esfriar, adicione os ovos e mexa bem. Pique os talos

PREPARO:

e queijos e acrescente-os à massa.

Lave bem a manga e o gengibre.

Faça bolinhas de 40 gramas cada

Corte-os grosseiramente e leve-os

uma e coloque-as numa assadeira.

ao liquidificador, com a água.

Leve ao forno preaquecido a 1800 C e asse por cerca de 18 minutos.

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Acrescente o açúcar e o suco dos 2

limões e misture novamente.

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44 O TEMPO DE CADA UM

RONALD ESQUERDO, O BAUXITA DE BELO HORIZONTE NASCIDO EM 29/4/1969 “Sou torcedor do Cruzeiro e vocalista de uma banda conhecida na cidade. Certo dia, eu participei de um debate esportivo na TV. Era só brincadeira, mas fui convidado a fazer um programa de rádio, que mistura humor e esporte. Na nova profissão, aproveito para defender a paz entre as torcidas – afinal, eu mesmo tenho uma filhinha de 2 anos com uma torcedora do Atlético Mineiro.”

CONHEÇA PESSOAS QUE, NA CASA DOS 40, DECIDIRAM BUSCAR NOVOS DESAFIOS TEXTO MARIA FERNANDA MENEZES 1

“A VIDA COMEÇA AOS 40” já é um ditado batido. Porém, cada vez mais, ele se mostra uma opção verdadeira. Para as mulheres, por exemplo, antigamente, chegar a essa idade solteira e sem filhos era praticamente uma sentença para o resto da vida. Mas, na última década, o número de quarentonas que engravidaram pela primeira vez cresceu 27% no Brasil, segundo o IBGE. Na mesma faixa etária, os casamentos mais do que triplicaram. Na carreira, a chegada aos 40 também pode inspirar mudanças. Segundo o consultor de RH Carlos Damberg, autor do livro A Oportunidade dos 40 (editora Hagnos), pessoas nessa fase da vida sentem necessidade de transformações profissionais, mesmo as bem-sucedidas na sua área, por já estarem há alguns anos na mesma rotina. “É preciso identificar outra atividade que possa lhe dar satisfação e ter maturidade para assumir que você é mais do que uma máquina de fazer dinheiro”, diz o especialista. A seguir, quatro pessoas com exatamente 42 anos comprovam, cada uma do seu jeito, que dá, sim, para começar uma vida melhor depois dos 40.

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ANA AMÉLIA MASCARENHAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP) NASCIDA EM 13/11/1970 “Eu tinha uma sólida carreira em uma multinacional. Mas fiquei grávida e quis cuidar eu mesma dos meus filhos. Tive três. Após quase uma década parada, quis voltar ao mercado. No ano passado, fui contratada como secretária executiva de um programa no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Estou feliz por ter conseguido uma nova oportunidade!”

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POR EXEMPLO

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SE VOCÊ TEM 42... PAULA SOTTO MAYOR DO RIO DE JANEIRO NASCIDA EM 28/2/1970 “Eu era redatora publicitária. Em 2001, tirei férias na Espanha e decidi me mudar para lá, onde trabalhei em agências na minha área. Após quase uma década, retornei ao Rio, mas não encontrei o que queria. Agora estou em São Paulo, onde desejo trabalhar em projetos de sustentabilidade. Por enquanto, não tenho planos de ter filhos, mas, um dia, talvez adote um. Idade não é limite.”

...brincava na rua na infância, ao contrário das crianças que hoje moram em grandes cidades. No livro Brincadeiras de Ontem (eBooksBrasil), o autor Carlos Alberto Almeida Marques relembra boa parte desses antigos passatempos

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© FOTOS 1 PEDRO SILVEIRA 2 DAIGO OLIVA 3 ANDRÉ TOMINO

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FABIO CARDIA DE SÃO PAULO NASCIDO EM 10/5/1970 Fui professor universitário, na área de propaganda e marketing, por 16 anos. No ano passado, infeliz, larguei o emprego. Abri minha própria empresa de publicidade e, à noite, retomei uma paixão da juventude: a música. Vou tirar minhas composições da gaveta e lançá-las em um site, e pretendo fazer trilhas para cinema. Além disso, comecei a namorar e planejo me casar no fim do ano.

...aos 10 anos, conheceu o primeiro videogame vendido no Brasil, o Telejogo – que se resumia a movimentar barras e um quadrado. Confira a evolução dos jogos eletrônicos neste infográfico do Discovery Channel: bit.ly/zQ8Nrh

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presidente

...na adolescência, acompanhou a luta pelo fim da ditadura no Brasil. Veja a capa de um jornal de 1984, noticiando o famoso protesto realizado em São Paulo, com cerca de 300 mil pessoas clamando por eleições diretas para presidente: bit.ly/wUbHpQ

...assistiu pela TV (ou foi ver com os próprios olhos, ainda adolescente) ao primeiro Rock in Rio, em 1985, quando grandes bandas tocaram no país pela primeira vez. Relembre um dos momentos mais marcantes, o show do Queen: bit.ly/nAUbnI

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46 APRENDA E ENSINE

Pergunte

a você

FALAR SOZINHO É LOUCURA? NEM SEMPRE: QUESTIONAR-SE PODE SER A AÇÃO MAIS SENSATA EM VÁRIOS MOMENTOS. VEJA OITO PERGUNTAS QUE PODEM LEVAR VOCÊ A PROFUNDAS REFLEXÕES

TEXTO DILSON BRANCO E ALEX XAVIER ILUSTRAÇÃO FIDO NESTI

É isso que eu gosto de fazer? Por medo de se propor essa pergunta, muita gente insiste numa profissão que não satisfaz. Afinal, é preciso muita humildade e força de vontade para recomeçar. Pense no que você gosta de fazer e verá um possível caminho para uma vida com mais significado.

Devo mesmo me preocupar? Gastar muita energia com problemas pequenos é um tiro no pé. Estressados, não enxergamos soluções simples. Quanto mais empecilhos arranjamos, maior fica o obstáculo. E também a tentação de empurrá-lo com a barriga.

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POR EXEMPLO

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O que eu quero deixar para o mundo? Como você quer ser lembrado depois que morrer? Quais são as consequências das suas atitudes para a sociedade? Passar adiante bons exemplos, conselhos e informações é uma forma de perpetuar o que temos de melhor.

Tenho medo de quê? Será que você está deixando de fazer algo por medo? Que risco você não quer correr? Por quê? Será mesmo que não vale a pena enfrentá-lo? Admitir nossos medos é o primeiro passo para avaliar se é ou não uma boa ideia tentar superá-los.

O que o meu corpo está me dizendo? Quando jovens, a maioria de nós acha que tem uma reserva extra de saúde. Com o passar do anos, aprendemos a ler as mensagens que nosso corpo nos envia. Um incômodo pode ser um alerta de que deveríamos nos cuidar mais. Melhor não ignorar esses sinais.

Vale a pena? Visualize, por alguns instantes, as recompensas que está garimpando. E também os sacrifícios feitos na busca por esse objetivo. Tenha em mente os motivos pelos quais você decidiu levar a vida de um jeito e não de outro. As pessoas mudam. E suas prioridades também.

E depois? Às vezes, queremos tanto algo que nem paramos para pensar no que vai acontecer depois que obtivermos êxito. Pense adiante. A aventura não acaba quando chegamos no alto da montanha. Ainda é preciso descer para conquistá-la de verdade.

E se fosse eu? Julgar as atitudes dos outros é fácil e todos fazem. Mas já imaginou o que você teria feito se estivesse no lugar da pessoa que critica? Uma perspectiva diferente vai ajudá-lo a enxergar o cenário todo. O que não queremos para nós, não desejamos para os outros.

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48 AGRADEÇO

Da aula para a vida A ESCOLA ENSINA ALÉM DE FÓRMULAS MATEMÁTICAS E REGRAS GRAMATICAIS. O QUE VOCÊ APRENDEU DE MAIS VALIOSO COM UM PROFESSOR? TEXTO ALEX XAVIER, PATRÍCIA PEREIRA E RAFAELA CARVALHO FOTO PABLO DE REGINO

NA SALA DE AULA, não aprendemos apenas o que está nos livros didáticos. Entre um longo ditado e uma provinha surpresa, pode haver uma lição oculta que servirá para o resto da vida . Ou a inspiração que o aluno precisava para dar um grande passo. Pelo menos, para aqueles que estiverem dispostos a escutar. É como no clássico do cinema dos anos 80, Karate Kid: o senhor Miyagi não está apenas ensinando o jovem Daniel a dar uns sopapos nos adversários. O que ele quer é que o garoto aprenda a ser mais responsável. Também na vida real, nem sempre o pupilo compreende na hora a importância dos valores passados pelo mestre. Mas, em algum momento, ele se lembrará de uma frase emblemática, um gesto carinhoso ou mesmo uma bronca que fará todo sentido e o ajudará a crescer. Alguns professores são motivadores. Outros, ombros amigos. E até aqueles mais difíceis de agradar talvez estejam apenas torcendo para que seus alunos nunca deixem de explorar seu potencial. Nos depoimentos a seguir, conheça as histórias de pessoas de diversos cantos do país que aprenderam na sala de aula muito mais do que estava no currículo obrigatório.

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OS INCENTIVOS DO TÉCNICO DE VÔLEI DESPERTARAM A AUTOESTIMA DE ESTEVÃO – QUE HOJE PASSA ESSA LIÇÃO A SEUS ALUNOS

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POR EXEMPLO

Quando eu jogava vôlei na adolescência, ficava constrangido por não ter materiais esportivos caros como os dos meus colegas. Mas, na abertura de um torneio importante, o técnico me convidou para fazer o juramento do atleta. Isso me levou a acreditar que era possível ocupar um lugar de destaque. Hoje, sou professor de sociologia e promovo ações dessa natureza com meus alunos. ESTEVÃO ARANTES, 33 anos, Goiânia Eu sofria preconceito por ser

gay. E ainda era gordinho. Queria desistir da escola. Até que a professora de matemática disse para eu não ligar para as provocações, pois sofria e descontava na comida. Tivemos muitas conversas. Um dia, em um programa de televisão, assumi minha sexualidade em rede nacional, e todos mudaram a forma de me tratar. TIAGO CAPALBO, 28 anos, São Paulo Um professor de matemática com fama de carrasco disse que daria um ponto para quem resolvesse uma questão no quadro. Não sei de onde eu tirei coragem, mas fui lá, tremendo. Acertei e virei atração no colégio. A experiência me ensinou que devemos enfrentar as dificuldades para sabermos se somos capazes. VALERIA SILVEIRA, 45 anos, Niterói (RJ) Maria Osvalda, minha professora de natação aos 9 anos, parecia um sargento. “Anda, seu mole!”, gritava. Um dia, quase me afoguei. Fiquei assustado, mas consegui me salvar sozinho. Ela ainda

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disse: “Bebeu muita água? Isso é para você aprender a se virar!”. Anos depois, na praia, eu me vi numa situação parecida. Acho que só me salvei porque aprendi a lição da Maria Osvalda. BRUNO LOPES, 31 anos, Goiânia No curso de fonoaudiologia, o professor perguntou: “Como se sentiria um paciente se o médico se emocionasse com o seu sofrimento?”. A classe disse que isso não poderia ocorrer. Por instinto, falei: “Acho que ele iria gostar”. O professor concordou. Aprendi a não ter medo de dar minha opinião e a olhar o paciente sempre de frente, não de cima. FERNANDA CARLA HOMEM, 45 anos, Petrópolis (RJ) Ao entrar para a polícia, passei por duas semanas de treinamento, sem voltar para casa. A distância me fez repensar a escolha. Mas, no fim, um tenente disse: “A saudade é o preço que se paga por viver momentos inesquecíveis”. Entendi que esse é um sentimento bom, e que, onde eu estiver, minha família e meus amigos sempre estarão me esperando. OSWALDO DE ANDRADE FILHO, 24 anos, São Paulo Aos 16 anos, fiz aula particular de matemática com um professor bastante rigoroso. Graças a ele, entendi melhor os números, resolvendo um exercício por vez. Aprendi a ter disciplina e descobri que gostava muito de fazer cálculos. Tanto que acabei cursando contabilidade. ANTONIO MACHADO, 59 anos, Rio de Janeiro

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Aos 58 anos, tentei tirar carteira de habilitação. Errei a baliza, não passei e quase desisti. Porém, meu instrutor falou que eu já havia conquistado coisas muito maiores e que era capaz de alcançar mais esse objetivo. Ao ver que alguém acreditava em mim, refiz a prova e passei. GILBEIR FERRAZ, 73 anos, Eunápolis (BA) Em uma aula de filosofia, o professor explicou o mito da caverna: pessoas amarradas em uma gruta, vendo apenas sombras do que se passava do lado de fora, achando que aquilo era a realidade. Quando um saiu, viu o mundo, mas os outros não acreditaram. Entendi que não precisamos temer o desconhecido. MÔNICA ROSAS, 41 anos, Rio de Janeiro “Existe muito mais cultura no macarrão da sua avó do que nas suas apostilas de cursinho.” Com essa frase, um professor me mostrou que o conhecimento, por si só, não nos torna mais inteligentes. É preciso aperfeiçoar o que aprendemos – como nossas avós fazem com o macarrão. RAMON SCHADECK, 18 anos, Curitiba No primário, minha professora dava poesias para que as crianças as lessem em público. Eu quis recitar em um evento, mas não fui escolhida. Quase no dia, uma menina desistiu e a professora me confiou um poema. Fui a mais aplaudida. Aprendi que devemos aproveitar as oportunidades e fazer o nosso melhor. MARIA LÚCIA OLIVEIRA, 47 anos, Diadema (SP)

A quem você gostaria de agradecer por ter-lhe ensinado algo importante? Conte para a gente! Veja nossos contatos na página 7.

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50 SEMPRE É TEMPO

É dada a largada!

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CORRA PARA VIVER E APRENDER COISAS NOVAS! QUAL FOI A ÚLTIMA VEZ EM QUE VOCÊ FEZ ALGO PELA PRIMEIRA VEZ? TEXTO CAMILLA DEMARIO, HELSON FRANÇA E VALÉRIA MENDONÇA FOTO RODRIGO BUENO

Eu estava aborrecida, pensando em chegar em casa e comer uma bela barra de chocolate. No meio do caminho, mudei de ideia: resolvi correr na praia. Me fez tão bem que decidi me inscrever numa corrida que aconteceria na cidade. Treinei diariamente e, pela primeira vez na vida, participei e completei uma prova desse tipo. Agora quero seguir praticando! VERÔNICA AREAS, 32 anos, Niterói (RJ)

Desde que minha mãe faleceu, há pouco tempo, me vi obrigado a cozinhar. O problema é que, para fazer feijão, uma das minhas comidas preferidas, eu teria de enfrentar a panela de pressão, um eterno mistério para mim. Pedi conselhos a minha avó, procurei receitas para principiantes e vi vídeos na internet. Meu primeiro feijão não ficou o melhor do mundo, mas já serviu para matar a saudade. FLÁVIO CARNEIRO, 22 anos, São Bernardo do Campo (SP)

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Eu sempre quis ser doadora de sangue. Mas, como nunca pesei mais do que 50 quilos, conforme é exigido, fui barrada todas as vezes em que tentei. No ano passado, porém, eu tive minha primeira filha e, depois da amamentação, estava mais encorpada. Animada como uma criança em dia de excursão, corri para realizar meu sonho. Foi uma experiência maravilhosa: rápida e feliz. Recomendo a todos! MÁRCIA BANDEIRA, 34 anos, São Caetano do Sul (SP)

Num período do ano passado em que fez muito frio aqui na cidade, eu fiquei preocupada com minha cadela, que dorme do lado de fora de casa. Para não deixá-la tremendo, decidi fazer uma roupinha. Eu já havia costurado algumas peças, como roupas para bebês. Mas, para cachorro, foi a primeira vez. E não é que o resultado ficou bom? Uma bela balançada de rabo me serviu como agradecimento! KAREN FARIA, 25 anos, Cuiabá

Uma coisa bem divertida que eu fiz pela primeira vez recentemente foi cantar em um karaokê. Minha filha comemorou os 18 anos dela num bar desse tipo, e eu não deixei de participar. Algumas amigas minhas também foram e, muito animadas, me convenceram a cantar uma música com elas. Escolhemos Sandra Rosa Madalena, do Sidney Magal. Todos nos aplaudiram e fui até elogiada! ANGELINA GASPAR, 45 anos, Salvador

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