R$ 2,50
06 jul / ago 2012
100% do preço da revista, após os impostos, é doado para projetos que melhoram a educação no Brasil.
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projetos em todo o brasil
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Operador de Caixa: Temas trabalhados: desenvolvimento pessoal, relações interpessoais, atitude empreendedora, o trabalho e a importância do operador de caixa, postura, limpeza e organização do check out, entre outros.
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diretora editorial Roberta Faria diretor executivo Rodrigo Pipponzi Diretora de criação Claudia Inoue
editora-chefe Roberta Faria Editor Dilson Branco Repórteres Jaqueline Li e Jéssica Martineli EstagiáriA de texto Rafaela Carvalho Diretora de arte Claudia Inoue Editor de arte Fabio Otubo Coordenação de Produção e imagem Mica Toméo Estagiário de fotografia Bruno Claro apoio na redação Amanda Miyuki, Eduardo Bessa, Juliane Albuquerque, Mariana Bolzani, Olivia Ferraz, Rita Loiola, Romy Aikawa e Sheila Machado colaboradores Leandro Quintanilha (edição de texto), Luana Almeida (design), Mariana Harder (produção), Felipe Gressler (tratamento de imagem), Ana Faustino e Júlio Yamamoto (revisão) atendimento ao leitor Meline Silva recursos humanos Diego Nascimento captação de patrocínio patrocinio@revistaporexemplo.com.br Fale com a gente: contato@revistaporexemplo.com.br | (11) 3024-2444 Rua Andrade Fernandes, 303, loft 3, São Paulo/SP - CEP 05449-050 www.revistaporexemplo.com.br Distribuição: Rede Extra
impressão: Gráfica Plural
POR EXEMPLO - TODO MUNDO PODE APRENDER. TODO MUNDO PODE ENSINAR é impressa em papel LWC 70g A revista POR EXEMPLO - TODO MUNDO PODE APRENDER. TODO MUNDO PODE ENSINAR, edição 06, ano 1, é publicada pela Editora MOL Ltda. A revista é vendida nas lojas da rede Extra nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo, Sergipe, Tocantins e no Distrito Federal. O valor pago pelo preço de capa é, descontados os devidos impostos, 100% doado a organizações não governamentais que realizam projetos em prol da educação de qualidade no Brasil. realização:
apoio:
patrocínio:
Foto de capa: Luciane Pereira, Jorge Leão Filho, Rodrigo e Leonardo foram fotografados por Marcelo Curia Cabelo e Make Kaue Uminsk Tratamento de imagem Felipe Gressler agradecimentos: Quem Você Pensa que é Galeria Luciana Brito (www.lucianabrito.com.br) errata: Diferentemente do que foi informado na edição anterior (05), os créditos referentes à foto da página 16 são: produção – Mariana Harder e Mica Toméo; make – Samantha Pottmaier.
12 18 faça o que eu faço
Em seu lugar
Qual é sua melhor qualidade? Confira respostas de várias partes do Brasil
Alessandro mostra como é ser voluntário da ONG Amigos do Bem
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é que se aprende Conheça as lições aprendidas por quem exagerou no perfeccionismo
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eu contra o mundo
Ex-interno da Febem, Roberto virou pedagogo e adotou 13 meninos que, como ele, eram considerados casos perdidos
20 30
quem você pensa que é?
problema meu
A carreira de Mônica Nador passou por uma grande mudança na última década. O que você acha que ela fez – e o que a periferia de São Paulo tem a ver com isso?
Um professor de atletismo está mudando a realidade de uma comunidade no interior da Bahia. Leia essa e outras histórias que mostram o incrível poder transformador do esporte
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como ensino A difícil tarefa de dividir: veja como três famílias treinam essa habilidade com seus filhos
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é gostoso e faz bem
Aprenda a fazer focaccia, batata recheada e panqueca doce – e conheça o projeto que ensina portadores de síndrome de Down a cozinhar
38 44 nós podemos
o tempo de cada um
Conheça grupos de vizinhos que se uniram para criar os próprios canais de comunicação: uma rádio, um jornal e uma TV pela internet
Quatro adolescentes com exatamente 15 anos contam como enfrentam essa época de grandes transformações
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aprenda e ensine
Em grupo tudo fica melhor: veja sete maneiras de juntar a turma e aprender coisas novas de um jeito divertido e até mesmo mais barato
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agradeço
A intimidade é pedagógica: qual foi a lição mais importante que você aprendeu com seu grande amor?
Você é um exemplo? Tem uma história para contar? Escreva para a gente. Se for selecionado, você pode aparecer na revista – até mesmo na capa! Veja nossos contatos na página 7.
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CARTA AO LEITOR xxxxxxxxxxxxxx
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1- o piquenique da família da página 34 realmente aconteceu! o clique é de daniela toviansky. 2- renato pizzutto fotografa a fofura do capoeirista mirim gabriel (pág. 37). 3- leandro quintanilha, que colaborou com a edição de textos. 4- lila batista registra o professor cris e seu aluno lucas (pág. 13 da edição infantil)
A quarta operação na escola, das quatro operações fundamentais da matemática, a última que a gente aprende é a divisão. Faz todo o sentido que seja assim. Afinal, só depois de dominar a adição, a subtração e a multiplicação é que estamos prontos para resolver nossa primeira fração. Na vida, é bem parecido. Somar é algo que fazemos naturalmente, desde que vemos nossa mãe, nosso pai e descobrimos que, juntos, somos uma família. Subtração também é um destino fácil: basta um brinquedo cair atrás do sofá, que já entendemos como é contar menos um. Multiplicação é o que sonhamos a todo instante – se temos um amigo, queremos logo 1 milhão. Mas, na hora da divisão, nem sempre é tão simples. Decerto porque, muitas vezes, ela implica ceder. Se algo pode ser só nosso, por que repartir? Qual é a vantagem? Esta edição da POR EXEMPLO traz várias respostas a essa pergunta. A seção “Como Ensino” (pág. 34) vai direto ao assunto. Lá, há três famílias que descobriram jeitos eficientes de ensinar aos filhos como compartilhar, e nisso viram uma chave para viver em maior harmonia.
Já na página 30, a generosidade aparece em três histórias incríveis de pessoas que se dedicam voluntariamente a mudar a vida de gente que, até então, nem conheciam. Fazem isso por meio do esporte. Tem até um projeto que ensina boxe, de graça, a mulheres da terceira idade! Na seção “Nós Podemos” (pág. 38), o tema aparece em forma de espírito comunitário: vizinhos que criaram canais de comunicação para refletir a própria realidade. Também não faltam relatos de quem compartilha seu saber para construir uma sociedade melhor. Como os personagens da matéria da página 24, que, após alçar voos altos, retornaram às suas origens para fazer o bem. No fundo, essas histórias mostram que dividir pode ser fácil. Basta pensar nos frutos que essa atitude proporciona. E a verdade é que, lá na infância, já sabíamos disso. Você viu o brinquedo de parquinho que aparece em nossa capa? Lembra como ele ficava muito mais divertido quando era compartilhado por toda a turma? Esperamos que esta edição lhe traga boas reflexões, para você dividir com quem vive ao seu redor. Boa leitura! Equipe da POR EXEMPLO
por Exemplo
Fale com a gente!
esta é a única página da por exemplo que não é escrita por nossa equipe. e justamente ela é a que nos dá
O que você achou da revista? Conte para nós! Divida conosco os seus exemplos também
mais orgulho. Já estamos mal acostumados com as mensagens carinhosas! obrigado, queridos leitores! Saí do trabalho cansado e fui ao mercado. Chovia muito e o trânsito estava parado. Estacionei longe e, só quando saí do carro, percebi que estava sem o guarda-chuva. Cheguei ensopado. Na fila do caixa, emburrado, olhei a revista POR EXEMPLO. Fiquei maravilhado com o conteúdo. Acabei me sentindo muito melhor e virei fã! Estavam faltando revistas com conteúdo de verdade no mercado brasileiro! Brian Haupert, no Facebook.
Eu e meu marido fomos ao hipermercado Extra, a operadora de caixa nos ofereceu a revista e, como gostamos de ajudar as pessoas, compramos. A publicação é uma maravilha. Ainda estou lendo, com calma, e refletindo muito. Aline Gomes, no Facebook. Achei maravilhosa a ideia de falar sobre pessoas comuns. Além de trazer assuntos interessantes, a revista é bem colorida, cheia de
fotos lindas. É a primeira vez que faço esse tipo de contato com uma publicação. Vejo seriedade no trabalho de vocês – até porque são divulgados pelo Extra, uma empresa séria, onde faço minhas compras. Vania Monteiro, por e-mail. Nesta semana encontrei nas minhas coisas a primeira edição da POR EXEMPLO. Ela ficou guardada por meses, sinal de que gostei muito! Daiana Santos, por e-mail.
Adoro ler! Quando vi a POR EXEMPLO, fiquei curiosa, comprei e descobri uma bela fonte de informação e encorajamento. As histórias compartilhadas me fizeram ver que a vida pode ser muito melhor se tivermos força de vontade e alegria! Simone Moraes, no Facebook. Confesso que me apaixonei na primeira vez em que li a revista. Fico ansiosa pela próxima edição. Nunca vi uma publicação tão gostosa e benfeita.
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A sensação de ler a POR EXEMPLO é igual à de comer chocolate – com a vantagem que não engorda! Obrigado por realizarem este maravilhoso e belíssimo trabalho! Priscila Christine, por e-mail. Conheci a revista recentemente e gostei muito. Claudio Amorim, por e-mail. A revista é maravilhosa, só trata de assuntos que interessam à família brasileira. Odayr Bonsi, por e-mail.
Mande um e-mail: contato@ revistaporexemplo. com.br ligue para a redação: (11) 3024-2444 Visite o site: www. revistaporexemplo. com.br Faça parte da nossa rede: No Orkut Comunidade Revista POR EXEMPLO No Facebook Fan Page Revista POR EXEMPLO No Twitter @por_exemplo Ou escreva uma carta para: Revista Por Exemplo Rua Andrade Fernandes, 303, sala 3 São Paulo - SP CEP 05449-050
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contas abertas
as roupas doadas pelos clientes ajudam 600 entidades no entorno das lojas
Aquecendo corações A Campanha do Agasalho Das redes Extra, Pão de Açúcar e Assaí comemora mais de 2 milhões de peças doadas
A cena se repete todos os anos, ainda antes da chegada do inverno: as grandes caixas que receberão casacos, blusas de frio, calças e outras peças de roupas começam a ser distribuídas Brasil afora. O destino delas é cada uma das mais de 480 lojas das redes Extra, Pão de Açúcar e Assaí que participam da Campanha do Agasalho promovida pelo Instituto Grupo Pão de Açúcar (IGPA). A iniciativa é realizada desde 2000. Nesses 12 anos, mais de 2 milhões de peças já foram arrecadadas. É o suficiente para vestir um grupo de pessoas do tamanho da população de Sergipe. “No decorrer dos anos, a campanha teve um bom crescimento. Hoje, o cliente que contribui participa sempre”, afirma Daryalva de Bacellar, diretora do IGPA. Para que tudo dê certo, e cada agasalho possa espantar o frio de quem mais precisa, um trabalho bem planejado é realizado com o apoio das diretorias de operações das três redes. Durante todo o ano, as lojas recebem o contato das instituições interessadas em ser parceiras. O IGPA cadastra cada uma e verifica sua história e o trabalho desenvolvido. São priorizadas entidades
por Exemplo
localizadas no entorno das filiais. “Além de facilitar a logística, isso permite uma aproximação das lojas com as comunidades”, explica Daryalva. Hoje, são cerca de 600 instituições participantes. Durante a campanha, assim que uma caixa fica cheia, o gerente avisa a instituição beneficiada, para que retire as doações. As peças são contadas para que se tenha controle do que foi arrecadado. “Nós fazemos a triagem das roupas e, se preciso, realizamos consertos, como costurar zíper e pregar botão”, explica Donizete de Lima, voluntário da Obra Social e Assistencial Magnificat. A entidade atende cerca de 60 famílias carentes de dois bairros de São José dos Campos, no interior de São Paulo. É o terceiro ano consecutivo que o projeto é beneficiado pela campanha. “Se não contássemos com apoios como esse, não conseguiríamos manter a qualidade do nosso trabalho. Antes, nós doávamos até roupas rasgadas, pois eram a única opção”, afirma o voluntário. Outra instituição parceira é a Associação Beneficente de Ajuda ao Próximo (Abap), também de São José dos Campos. As doações contribuem com o trabalho desenvolvido com cerca de 150 famílias carentes, além de moradores de rua que procuram por um lugar para tomar banho, trocar de roupa e fazer uma refeição. “Hoje, o terceiro setor precisa buscar o máximo de parcerias para conseguir manter a sustentabilidade”, afirma Sérgio Luiz Ivo, secretário executivo da Abap. “É um jogo do bem. Bom para quem é ajudado, para as entidades e também para as empresas e seus clientes, que se envolvem com uma boa causa”, conclui.
como funciona a por exemplo? confira quem são os parceiros envolvidos no projeto e veja a importância da sua participação
Grandes empresas
patrocinam
o projeto:
2 Com esses recursos,
a revista
É produzida
pela
© foto mariana harder
• Caso você tenha roupas para doar, mas a campanha já tenha chegado ao fim, pergunte ao gerente da sua loja preferida qual entidade costuma ser beneficiada e faça a entrega diretamente no local. • Se a entidade que você costuma ajudar ainda não participa da campanha, peça ao responsável que procure a loja mais próxima e solicite o cadastro.
Ainda há cotas disponíveis! Escreva para patrocinio@ revistaporexemplo. com.br e informe-se
A Editora MOL acredita que a gente só vai fazer a diferença no mundo se realizar as coisas de um modo diferente
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a por exemplo é vendida com
exclusividade do projeto, com o apoio do
Não importa se é inverno ou verão: você pode colaborar com a Campanha do Agasalho durante todo o ano!
• Se você faz parte de uma entidade beneficente e quer se tornar parceiro da campanha, vá até uma loja do Extra, Pão de Açúcar ou Assaí e peça ao gerente orientações sobre como se cadastrar.
Veja a prestação de contas em www.revista porexemplo. com.br
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pelo correalizador
Como eu participo?
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São 470 pontos de venda, entre hipermercados, supermercados e drogarias, em 16 estados de todas as regiões do país, mais o Distrito Federal
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o dinheiro
é doado
a duas instituições:
e para outros projetos
em todo o país
O valor que você paga pela revista, descontados os impostos, é 100% doado para projetos que melhoram a educação no país
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A educação agradece! conheça quem você ajuda ao comprar a POR EXEMPLO todos pela educação
parceiros da educação
(www.todospelaeducacao.org.br)
(www.parceirosdaeducacao.org.br)
Luta por mais acesso à escola e pela melhoria do ensino Articulou a aprovação da emenda constitucional que ampliou a faixa etária com vaga garantida na escola de 7 a 14 anos para 4 a 17 anos
Monitora indicadores, realiza campanhas de mobilização, leva o tema da educação à mídia e articula a iniciativa privada, a sociedade civil e o poder público
Ajuda a criar e manter parcerias entre empresas e escolas
Trabalha pela educação em âmbito nacional
desde 2005, nos estados de SP, RJ, GO, RS e CE
150 escolas
beneficiadas
Hoje, mantém 80 parcerias, todas no estado de SP, beneficiando mais de 100 mil alunos
92%
das escolas parceiras de 1ª a 5ª série bateram a média do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
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A advogada Carolina Fernandes, de 31 anos, trabalha no Todos pela Educação desde 2006, quando o movimento foi criado. Coordenadora de eventos e campanhas, hoje ela tem como uma de suas principais atribuições o projeto No Ar. Todo mês, mais de 5 mil radialistas espalhados pelo país recebem um kit com material de áudio, textos e notícias sobre educação básica no Brasil. Carolina enxerga afinidades entre o projeto e a POR EXEMPLO: “Os dois visam a democratizar a informação e a colocar em pauta temas sociais importantes”. Lutar por uma educação de qualidade, para ela, é ajudar a formar cidadãos de fato.
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Isabella Zeuli, de 10 anos (à direita na foto), e Isabele Blesa, de 9, completam neste ano o primeiro ciclo do ensino fundamental na E.E. Clorinda Giangiacomo, em São Paulo, e já sofrem com a despedida. A lista de motivos aumentou desde que a Parceiros da Educação chegou lá, em 2011. “A biblioteca agora tem mais livros, sala de leitura e de vídeo”, diz Isabele. “E fazemos mais atividades com a ajuda de filmes”, completa a amiga. Além disso, os professores recebem aulas de reforço para ensinar melhor. Matemática é uma das prioridades. “Agora parece que aprendemos não só a fazer contas, mas a entender a matemática inteira”, concordam as meninas.
Confira dados preocupantes que você ajuda a transformar ao apoiar o projeto POR EXEMPLO
8,5% das crianças 1/3 dos alunos 31% dos adultos e jovens entre
que deveriam estar
fora da escola
estão no fundamental
4 e 17 anos estão
no ensino médio ainda
Fontes: Anuário Brasileiro da Educação Básica 2012 (Todos pela Educação)
entre 35 e 49 anos são analfabetos
funcionais
© fotos 1 bruno claro 2 mariana harder
Difícil realidade
12 faça o que eu faço
A melhor qualidade Entre as suas boas características, qual é a que faz mais diferença na sua vida e na das pessoas que convivem com você? Confira depoimentos de todo o Brasil! texto Adriana Caitano, Carla
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Castellotti, Dilson Branco e Rafaela Carvalho
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Filhos espertos
“Sou carinhosa! Beijo e abraço meus pais e eles ficam muito felizes!” Julia Marianny Pascoal, 6 anos, estudante de Maceió (à esq.)
Confira três dicas para estimular a inteligência dos seus pequenos. 1. Até os 2 anos, brincadeiras com peças que se encaixam ajudam a desenvolver os sentidos e a coordenação. 2. A partir dos 4 anos, aprender música melhora o vocabulário e a rapidez de raciocínio. 3. Não deixe que cursos extracurriculares atrapalhem a escola ou sobrecarreguem a agenda da criança. 1
“Ah, acho que sou inteligente. Quando a tia na escola pergunta e eu respondo certo, meus amiguinhos ficam maravilhados.” Vithoria Camilly Pascoal, 9 anos, estudante de Maceió. 3
© fotos 1 felipe brasil 2 bruno figueiredo 3 bruno claro 4 filipe acácio 5 tiago lima
por Exemplo
“Minha melhor qualidade é o pensamento positivo. Assim, é mais fácil resolver os problemas. É graças a essa atitude que eu, um dependente químico, consigo me manter limpo há três anos.” Guilherme Henrique Almeida, 38 anos, empresário de Belo Horizonte
“Minha comunidade é unida e sabe trabalhar em equipe. Os mais velhos e as mulheres confeccionam o artesanato, e nós, jovens, viajamos para vender. A generosidade é passada de uma geração para outra em nossa aldeia.” Aptxyenã Pataxó, 19 anos, vendedor de Porto Seguro (BA)
De volta para casa Retornar às raízes, ao lugar de onde viemos, pode ser o caminho para ajudar muitas pessoas e encontrar nossa realização. Veja cinco histórias assim na seção Eu Contra o Mundo, na página 24.
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Otimistas
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têm menos doenças do coração e do pulmão1 “Acordo antes de o sol nascer e vou para a faculdade. Depois, para o trabalho. Chego em casa já de madrugada e acabo dormindo pouco. Mas vale a pena: quero me formar em direito e ser juíza para construir um país melhor. Tenho muita força de vontade para chegar lá!” Fabiane Corvelo, 23 anos, estudante de Campo Limpo Paulista (SP)
Quanto tempo na cama? Para descobrir o número ideal de horas de sono que seu corpo exige, faça o seguinte: durante uma semana, vá deitar-se oito horas antes do horário de acordar. A cada nova semana, acrescente ou diminua quinze minutos na hora de dormir. Quando acordar na hora certa, sem o despertador, e se sentir desperto o dia inteiro, terá descoberto o intervalo mais adequado2.
Ao ar livre
“Adoro frequentar parques e praças. Ando de skate, converso com os amigos, faço piqueniques. Assim evito domingos chatos passados em frente à TV.” Tiago Lopes Mendes, 26 anos, fotógrafo de Fortaleza
O que você acha de comemorar seu próximo aniversário com um piquenique? Chame os amigos para ir a uma praça e peça para que cada um colabore com bebidas e comidas. É uma ideia barata e original que vai fazer todo mundo se divertir.
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“Tento ser solidária. Eu e meu filho costumamos arrecadar alimentos e distribuir numa favela. Acredito naquela máxima segundo a qual é preciso fazer o bem, sem olhar a quem.” Ivanilda Maria da Silva, 55 anos, artesã de Maceió
“Sou pontual. No trabalho, faço questão de chegar antes dos meus funcionários. Posso até ser meio chato com isso, mas é que realmente considero um costume importante.” Deyvisson Tenório, 26 anos, empresário de Maceió
Doe seu tempo
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Você nunca fez trabalho voluntário? Nosso entrevistado da seção Em Seu Lugar também nunca tinha passado por essa experiência. Confira lá na página 18 como ele se saiu.
“Sou muito tranquila no trânsito. Não buzino sem necessidade, não corto a frente de ninguém, não xingo nem me preocupo se me ultrapassam. Se por descuido cometo um erro, peço desculpa e evito brigas.” Luana Lustosa, 25 anos, contadora de Taguatinga (DF)
Dicas de direção segura
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“Adoro cultivar plantas em casa. Tenho cebolinha, salsinha, alface, acerola, jabuticaba... É bom que não tem agrotóxico!” Waldireno Cardoso, 40 anos, feirante de Ribeirão das Neves (MG)
A l i m e n to s o r g â n i c o s são mais nutritivos, saborosos e sustentáveis
1. Aumente seu ângulo de visão posicionando os retrovisores da forma mais aberta possível. 2. Calibre os pneus conforme o manual. Muito cheios, eles diminuem a aderência; baixos, aumentam o consumo de combustível. 3. Mantenha os faróis ligados, seja de dia ou de noite, na cidade ou na estrada, para garantir sua visibilidade. 5 © fotos 1 felipe brasil 2 bruno figueiredo 3 bruno claro 4 filipe acácio 5 cristiano mariz Fontes: 1 Universidade Harvard e Instituto Delfland de Saúde Mental; 2 livro O Poder do Sono, de James Maas
por Exemplo
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3 dicas de pontualidade 1. Tenha uma agenda e não marque mais compromissos do que o seu dia comporta. 2. Defina e cumpra os horários para realizar cada tarefa – especialmente as do começo do dia, que podem acabar atrasando as demais. 3. Superestime o tempo gasto em situações que não dependem só de você, como o trânsito.
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“Tricoto muito bem. Aprendi ainda pequena e nunca furei a mão! Sempre que um bebê de uma família conhecida vai nascer, me pedem para costurar uma roupinha. E tenho o maior prazer!” Edenice Molina, 70 anos, aposentada de Barueri (SP)
Lições coletivas Atividades manuais, como o tricô, e diversas outras habilidades são mais divertidas de aprender quando o fazemos em grupo. Leia mais sobre isso na matéria da página 46.
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T r i c o ta r
desenvolve o
raciocínio
lógico
U ma rot i na at iva
aumenta a qualidade de vida
na t ercei r a i dad e
“Minha maior qualidade é a disposição. Mesmo aposentado, gosto de continuar trabalhando. Ao dirigir pela cidade, ouço boas histórias e me mantenho ocupado e útil. Acredito que isso seja bom até para meu casamento, pois evita o tédio.” Vincenzo Rossi, 77 anos, taxista de São Paulo
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“Meus pais me ensinaram a respeitar e ajudar os mais velhos. Na semana passada, por exemplo, auxiliei uma senhora que não conseguia atravessar a rua. Pode parecer simples, mas eu acho que faz a diferença.” José Ricardo dos Santos, 33 anos, auxiliar de escritório de Fortaleza
Ideias gentis Já ouviu falar da Corrente do Bem? É um movimento que estimula a prática de boas ações em diversos países. O site brasileiro traz atitudes que você pode tomar para ser gentil em casa, no trânsito, no trabalho... Veja: www. acorrentedobem.org
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16 É QUE SE APRENDE
por Exemplo
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Menos é mais O propósito é tão nobre que parece justificar qualquer meio: queremos fazer o melhor possível. Mas aí nos
O que você já aprendeu com um erro? Conte para a gente! Veja nossos contatos na página 7.
perdemos em excessos e acabamos comprometendo todo o resultado. Só então vemos que, muitas vezes, o bom é mais eficiente que o ótimo. Veja as lições aprendidas por quem exagerou no perfeccionismo texto Carla Castellotti e Rafaela Carvalho foto bruno figueiredo
Há alguns anos, quando saí de férias, decidi arrumar um armário de casa. Achei que em dois dias daria conta. Tirei tudo o que havia dentro (fotos, recordações, livros...) e comecei a organizar com todo o cuidado. Quando vi, o mês inteiro já havia passado e era hora de voltar ao trabalho. Nataly Santos, 27 anos, Ribeirão Preto (SP) Fiz uma comemoração de aniversário para meu marido no ano passado. Decidi eu mesma preparar as comidas e montar o bolo. Quando a festa começou, ainda faltavam uns retoques finais. Todo mundo foi chegando, e eu na cozinha. A festa rolando, e eu servindo. Acabei não me divertindo. Na próxima, vou dividir tarefas para aproveitar melhor. Marcela Alexandre, 26 anos, Maceió Sou músico e, certa vez, participei de um projeto em grupo. Estipulei várias regras: hora de chegada e saída, proibição de bebida antes dos shows, maneiras de se portar no palco... Pouco a pouco, todos os membros
foram desistindo. E eu aprendi que, num trabalho coletivo, é preciso levar em conta o ponto de vista de todos. Marcelo Franco, 37 anos, Belo Horizonte Meu problema é que gosto de ter tudo arrumado em casa. Cadeiras, quadros, enfeites... tudo tem de estar bem alinhado. Às vezes, antes mesmo de dar boa-noite, já vou arrumando os papéis na mesa de entrada. Para controlar esse impulso, me forço a trocar a disposição dos móveis de vez em quando. Eduardo Castellotti, 60 anos, Rio Largo (AL) Eu sempre esperei que minhas namoradas fossem perfeitas. Quando algo não saía como eu imaginava, já via motivo para terminar a relação. Hoje, aprendi a conviver com as diferenças: sou casado há cinco anos. Hamilton da Silva, 35 anos, Maceió Quando eu era mais nova, gostava de passar barro branco na casa de pau-a-pique em que minha família morava,
para deixá-la bem bonita. Um dia, decidi caprichar no topo da parede, apesar de só ter uma escada baixinha. Acabei levando um tombão. Quis fazer tudo de forma perfeita e sozinha – me dei mal. Maria Lucia de Oliveira, 47 anos, Diadema (SP) Sou muito exigente comigo mesmo no trabalho. Recusei uma ótima proposta de emprego por achar que eu não teria competência. Acabei passando a vaga para um amigo. Só depois percebi que eu tinha plenas condições de desempenhar a função. Hoje, tento me arriscar mais. Edmilson Barbosa Filho, 27 anos, Arapiraca (AL) Num trabalho de biologia em grupo, decidi fazer tudo sozinha, porque achei que só assim ficaria como eu queria. Estressada com o prazo, joguei na cara dos colegas que ninguém me ajudava. E eles retrucaram que eu havia escolhido trabalhar assim. Ficou a lição: perfeccionista, talvez; centralizadora, jamais. Ana Carolina Marques, 19 anos, São Paulo
© produção lou fernandes Make Izabella Theodoro
Em uma prova na faculdade de direito, eu precisava redigir uma petição. Analisei o tema proposto, escrevi um rascunho, li, reli... Quando fui passar a limpo, faltava pouco tempo. Decidi transcrever só as ideias principais. Fiquei frustrada por não ter entregado um texto com a qualidade que eu havia projetado. Mas aprendi que o essencial, muitas vezes, é o que basta: afinal, acabei passando na prova. Rogeria Souwer, 52 anos, Sabará (MG)
18 EM SEU LUGAR
É bom ser do bem Ao convidar os clientes do mercado a comprar doações, Alessandro ouviu até desaforos. Mas também muitos “sim”. Como o do maranhense Raimundo Neto: “Os irmãos nordestinos precisam de ajuda”. Momentos como esse mostraram a Alessandro que voluntariado é troca: “A gratidão compensa o cansaço”, diz.
Posso ajudar?
Alessandro descobriu a satisfação
de doar seu tempo a quem precisa. Veja como foi a experiência dele como voluntário da ONG Amigos do Bem texto Irene Donatti fotos Fernando Siqueira
Treinar a generosidade, fazer diferença na vida de alguém, melhorar o mundo. Esses são os principais valores que motivam o trabalho voluntário no Brasil, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope no fim do ano passado. Um em cada quatro brasileiros já prestou esse tipo de serviço. E quem pensa que é preciso ter dinheiro e tempo de sobra se engana: a maioria dos voluntários é composta de gente da classe C, que trabalha fora, em tempo integral. “Essa atitude tem o poder de desenvolver o que há de melhor dentro de nós”, diz Alcione de Albanesi, presidente da ONG Amigos do Bem. Desde 1993, a entidade age em favor do desenvolvimento do sertão nordestino. Uma das iniciativas é arrecadar doações em supermercados da Grande São Paulo, enviadas mensalmente para as regiões beneficiadas. Acompanhamos a primeira vez de um dos 5 mil voluntários que fazem essa ação acontecer: o gestor de informática Alessandro Ometo, de 32 anos. Veja como ele se saiu e o que aprendeu.
por Exemplo
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Ato de entrega
Antes de começar a trabalhar, Alessandro passou por um treinamento para lidar com a desconfiança dos clientes e explicar a destinação dos alimentos. Conforme repetia o discurso, se sentia mais à vontade na função. Assim, pouco a pouco, ele colaborou com a arrecadação de quase 7 toneladas feita no dia.
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4 Linha de produção
Quatro dias após participar da arrecadação no hipermercado, Alessandro foi à central da ONG ajudar na montagem das cestas básicas. A logística é complexa: todos os meses, 185 toneladas de alimentos deixam o estoque com destino ao sertão nordestino.
que comida 5 mais
2 Trabalho pesado
Os alimentos são separados por tipo (arroz, feijão, farinha de trigo etc.) e colocados em sacos lacrados, levados à central da Amigos do Bem. Uma etapa que exige organização e muita força – não só de vontade.
ofertando 3 informação Depois de ajudar a encher os caminhões, Alessandro recebeu uma tarefa aparentemente mais fácil: entregar panfletos a quem entrava no hipermercado, explicando o trabalho da ONG. Mas foi difícil lidar com a falta de atenção dos mais apressados.
Um pouco sem jeito, Alessandro dobra roupas que também serão doadas. Se necessário, as peças passam por reparos. A Amigos do Bem também leva ao sertão itens como colchões, medicamentos e cadeiras de roda.
6 Ponto final
Todo mês, um grupo leva as doações pessoalmente aos sertanejos. Cada um paga sua passagem, e há fila para participar. Alessandro não vê a hora de chegar a vez dele. Você também ficou empolgado com o trabalho da ONG? Saiba mais e veja como ajudar em amigosdobem.org.
20 quem você pensa que é?
Mônica Nador, de 56 anos, é artista plástica em São Paulo. Na última década, sua carreira teve uma guinada. O que você acha que ela fez? A) Inaugurou a própria galeria em Nova York B) Foi tema de um documentário premiado em Berlim C) Mudou-se para o Jardim Miriam, na periferia paulistana
Por uma vida mais
colorida texto Karina Sérgio Gomes fotos Lucas Lima
22 Mônica já estava na faculdade quando entrou em uma favela pela primeira vez. Os professores de arquitetura levaram os alunos a um bairro pobre de São José dos Campos (SP) para lhes dar um choque de realidade. A garota acabaria se formando em artes visuais, anos depois. Mas a experiência influenciaria para sempre sua carreira. No ano em que recebeu o diploma, 1983, Mônica fez sua primeira exposição. Anos depois, suas pinturas ganharam grandes galerias no Brasil, nos Estados Unidos e na França. O circuito internacional de arte estava lhe abrindo as portas. Mas aí ela percebeu que a vida que sonhava estava do outro lado das paredes dos museus. Em 1999, ao participar de um projeto social do governo federal, Mônica viajou a Beruri, no Amazonas. Andando pelas ruas de terra, teve a ideia de usar uma casa como tela. Só não esperava que a moradora ficasse tão contrariada: “Assim que você for embora, vou pintar tudo de novo!”. Naquele dia, Mônica entendeu que não bastava levar sua arte às comunidades desassistidas. Era preciso envolver as pessoas na criação. No mesmo ano, ela começou a pintar paredes em São José dos Campos. E ensinou suas técnicas aos moradores, para que eles mesmos colorissem as casas. Estava bom, mas podia ficar melhor. “Eu sonhava em me fixar em um lugar e contaminar as pessoas”, conta. Em 2003, Mônica convenceu o Centro Cultural Banco do Brasil a financiar a construção de um espaço na periferia de São Paulo, no Jardim Míriam. Assim, a artista fundou o Jardim Míriam Arte Clube (Jamac), e foi viver lá. Mônica mora até hoje num quarto pequeno dos fundos. No resto da construção de 200 metros quadrados, acontecem oficinas gratuitas de pintura e vídeo. Criados coletivamente, os trabalhos estampam muros da região e são levados a galerias de bairros nobres. A instituição também recebe historiadores, filósofos e outros teóricos para palestras abertas ao público. Recentemente, o Jamac foi reconhecido pelo governo federal como um Ponto de Cultura e passou a receber verba pública. “Quem administra os recursos é a meninada”, diz Mônica. “O clube é construído pela comunidade, do jeito que ela quer.”
94%
dos brasileiros
nunca
entraram
em um museu*
por Exemplo
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arte para todos mônica mudou-se para a periferia de são paulo e ensina sua arte aos moradores de lá
faÇa você também! Que tal conhecer o Museu Van Gogh, na Holanda, sem sair de casa? No Google Art Project, você visita virtualmente essa e outras instituições de arte de todo o mundo na tela do computador: www. googleartproject.com
A maioria dos museus de arte tem entrada gratuita ou preços acessíveis. Alguns não cobram o ingresso em certos dias da semana. Pesquise os que existem na sua região.
40% dos museus
do Brasil
concentram-se
na Região sudeste*
*fontes: IBGE e Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
Mônica leva cores para despertar o potencial de uma comunidade na periferia de São Paulo. Saiba mais sobre seu trabalho no jamac Como a arte pode mudar uma comunidade? Em primeiro lugar, não podemos chegar querendo mudar tudo. Não acho que a arte tenha esse poder. Ela é um grande instrumento da construção da identidade e da autonomia. Também tem a função terapêutica de ajudar as pessoas a se expressar. a arte muda a maneira de as pessoas verem o mundo? Sim, de alguns. No ano passado, fizemos uma instalação no Pavilhão das Culturas Brasileiras. A Cris, uma das meninas que participaram, disse que nunca havia se imaginado pintando em uma instituição. Mas estava ali. É lindo ver a maneira como ela percebe o mundo hoje. Qual foi a experiência mais marcante pela qual você passou no projeto? Há muitas. Um dia, eu vi, na lista de reivindicações da comunidade, entre itens como saúde e educação, a palavra cultura. Entendi que parte da lição estava cumprida. O que você ainda sonha fazer? O local onde estamos é alugado e eu quero comprar o imóvel, mas falta dinheiro. O que há no Jardim Míriam que você não encontraria no circuito tradicional das artes? As pessoas. Eu não as encontraria em nenhum outro lugar. Elas têm uma energia incrível para lutar pelo que acreditam.
24 eu contra o mundo
O vento traz
de volta Depois de sair de casa e ganhar
o mundo, retornar às origens pode parecer um passo para trás. Para alguns, porém, é uma jornada heroica de generosidade e realização pessoal texto alex xavier
Em algum momento de nossa vida, somos chamados a cortar o cordão umbilical. Saímos da casa dos pais, escolhemos uma carreira, criamos a própria família, mudamos de cidade... “As pessoas costumam se afastar para se consolidar como um ser humano diferenciado”, explica a psicóloga Lilian Wurzba. Mas as estradas que encontramos nesta jornada pessoal nem sempre levam para longe. Elas também podem apontar para nossas origens, indicando um retorno. Essa retomada das raízes faz parte da mitologia universal. Desde os protagonistas dos clássicos gregos até os personagens dos quadrinhos, como o Superman, são inúmeros os heróis que voltam ao lar depois de suas demonstrações de bravura. “O lugar de origem define a natureza da pessoa, formalizando um compromisso com seu berço”, afirma a pesquisadora em mídia e estudos do imaginário Malena Contrera. “O verdadeiro feito heroico não serve a uma causa própria, mas tem a função de levar à comunidade as melhorias obtidas com estas conquistas.” É este impulso que tem movido as cinco pessoas que você vai conhecer nesta reportagem. Foi ao olhar para o passado que elas enxergaram a chance de construir o futuro com que sonham. Como consequência, elas têm ajudado muita gente – e descobriram um caminho para a realização pessoal.
por Exemplo
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História de cinema
vença também
Ex-interno da Febem, visto como caso perdido, Roberto hoje é pedagogo e pai adotivo de 13 garotos
Milhares de crianças abandonadas pelos pais esperam por uma nova família. Se você quer adotar, procure o Juizado da Infância e da Juventude mais perto de sua casa e cadastrese como pretendente. O processo é lento e envolve entrevistas. Não é preciso ser casado: solteiros também são aptos.
Aos 6 anos, Roberto foi internado na Febem. Pela própria mãe. Na época, a instituição era uma promessa de educação de qualidade para famílias pobres. O sistema, porém, tinha suas falhas, e deixava de lado os considerados desajustados. Roberto fugiu – e foi capturado – mais de 130 vezes. Visto como caso perdido, chamou a atenção da educadora francesa Margherit Duvas, que estava de passagem pelo Brasil. Ela o alfabetizou, o adotou e o levou à Europa. “Quando fiz 20 anos, ela me incentivou a voltar ao Brasil para acertar as contas com meu passado”, diz Roberto. Ele reencontrou e perdoou a mãe, formou-se pedagogo e prestou concurso para trabalhar na Febem. Adotou 13 garotos considerados irrecuperáveis e mantém outros 12 sob sua tutela. Roberto sustenta a casa da grande família fazendo palestras pelo país, com base em sua incrível história de vida – que, em 2009, inspirou o filme O Contador de Histórias, de Luís Villaça. “Nossos sonhos nos levam para onde queremos”, diz Roberto. No caso dele, o destino foi um retorno às origens, multiplicando a boa ação que um dia o salvou.
© foto bruno figueiredo
ROBERTO CARLOS RAMOS, 46 ANOS, BELO HORIZONTE
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wagner (de pé) em uma propriedade ajudada pelo projeto que ele criou, levando ao campo o saber da universidade 1
Sertão produtivo WAGNER GOMES, 30 ANOS, APUIARÉS (CE) Há 20 anos, a Universidade Federal do Ceará mantém um programa que incentiva jovens de áreas rurais do estado a completar seus estudos na capital. Wagner, filho de lavradores nascido em Apuiarés, a cerca de 90 quilômetros de Fortaleza, aproveitou a oportunidade e formou-se economista. Então, teve um estalo:
“Faltava pensar como o conhecimento adquirido por esses jovens poderia ajudar a comunidade de onde saíram”, diz ele, que, em 2007, criou a Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel). Com o apoio do Banco do Nordeste e outros financiadores, o projeto emprega recém-formados em propriedades rurais do sertão, levando seus conhecimentos
para melhorar a produtividade de plantações e rebanhos. Agrônomos, por exemplo, ajudam com técnicas de irrigação; administradores e economistas, na gestão da safra. São 600 pessoas em seis municípios. Em projeto, há uma fazenda-escola para produtores. “O sentimento é de gratidão às nossas raízes”, afirma Wagner.
vença também Já pensou em voltar à escola ou à faculdade em que você se formou? Algumas instituições promovem palestras de ex-alunos para inspirar os estudantes. Se sua ex-escola não realiza um projeto assim, entre em contato e sugira!
Jovem banqueira ALESSANDRA FRANÇA, 26 ANOS, SOROCABA (SP) Alessandra estudou em uma boa escola particular e fez faculdade de marketing. Filha de um caminhoneiro e de uma costureira, ela não teria acesso a essa formação sem a ajuda da ONG Projeto Pérola, que investe na capacitação de jovens. Graças a esse apoio, ela poderia seguir carreira executiva em grandes empresas de São Paulo. Mas decidiu voltar o olhar para onde tinha começado. “Eu sabia que nossa juventude tinha muitos sonhos, mas não os recursos para realizá-los.” A inspiração veio do livro O Banqueiro dos Pobres, em que o bengali Muhammad Yunus, Nobel da Paz em 2006, conta sua revolucionária experiência de oferecer crédito a famílias carentes. Em 2009, Alessandra criou o Banco Pérola, que financia jovens que dificilmente teriam empréstimo de instituições financeiras convencionais, permitindo que tirem suas ideias do papel. Mais de 150 negócios já surgiram, como salões de beleza e lanchonetes. A iniciativa é financiada por doações de empresários, recursos estatais e organizações que estimulam projetos sociais. E a inadimplência, segundo Alessandra, beira o zero.
© fotos 1 caio paiva 2 Alline Tosha e Vitor Salgado
vença também
Alessandra teve sua chance e agora dá a vez a jovens que sonham empreender em sorocaba
O Banco Pérola só financia quem mora em Sorocaba (SP). Mas há projetos semelhantes em diversas partes do país. Confira uma lista de instituições habilitadas pelo Ministério do Trabalho a oferecer microcrédito: http://bit.ly/JeMt1n 2
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Experiência compartilhada SILVIO GOMES BATISTA, 30 ANOS, SÃO PAULO Durante metade dos seus 30 anos, Silvio acumulou experiência no setor de supermercados. Começou como empacotador do Pão de Açúcar do Jardim Icaraí, perto da sua casa. Logo, passaria para o escritório do grupo e daria início a uma bem-sucedida carreira, que o levaria a deixar a região. Mesmo assim, toda semana ele voltava lá, para matar a saudade. “Sempre soube que ia melhorar de vida, mas sem esquecer de onde vim.” Paralelamente, ele seguiu estudando: formou-se em publicidade, fez especialização, aprendeu inglês na Austrália. No fim do ano passado, com novo cargo executivo em um portal de compras coletivas, achou que era hora de fazer mais por sua comunidade. Convidado por uma amiga, tornou-se vice-presidente da Associação à Criança, ao Adolescente e Jovens do Icaraí (Acaji). A entidade oferece educação infantil, alfabetização para adultos e cursos de corte e costura, manicure, depilação e culinária, entre outros. Cerca de 50 jovens estão sendo preparados para o mercado de trabalho. E em Silvio eles têm um exemplo que inspira a sonhar alto.
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vença também Sua carreira também pode ser um exemplo. Procure instituições sociais de bairros carentes e se ofereça para dar uma palestra, falar sobre sua área de atuação, ministrar uma oficina. Você pode ser o estímulo que falta para fazer algum jovem brilhar. 1
Com a carreira decolando, silvio voltou ao bairro onde se criou para levar esperança a crianças e jovens
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wellington realizou o sonho de ser um grande ator em um palco inusitado: quartos de hospitais
Cura pela riso © fotos 1 daniela toviansky 2 bruno miranda/folhapress
vença também Você gostaria de fazer parte dos Doutores da Alegria? O grupo possui um centro de formação de novos palhaços. O curso dura dois anos e oferece registro profissional. Não é preciso ser ator para se matricular. Para mais informações, acesse o site www. doutoresdaalegria.org.br
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WELLINGTON NOGUEIRA, 51 ANOS, SÃO PAULO Tornar-se um ator de sucesso era o sonho de Wellington aos 23 anos, quando se mudou para Nova York. Lá, formou-se em teatro e começou a atuar. Em 1988, uma amiga lhe chamou para fazer um teste no Big Apple Clown Care Unit, um grupo que usava os recursos artísticos dos palhaços para levar alegria a crianças hospitalizadas. Desconfiado, Wellington
acabou percebendo que o trabalho exigia talento e profissionalismo. “Eu não fazia ideia do impacto que se pode ter na vida de uma criança.” Depois de oito anos nos Estados Unidos, graves problemas de saúde do seu pai o trouxeram de volta ao Brasil. Ao visitá-lo no hospital, Wellington decidiu trazer ao país o que havia aprendido no exterior. Seguindo os moldes da trupe americana,
criou o Doutores da Alegria, grupo que hoje conta com 50 palhaços atuando em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e, em breve, Belo Horizonte. “Só entendi o meu país quando fui morar fora e, ao voltar, o redescobri e quis integrar sua diversidade cultural.” O sonho de ser um ator de sucesso se realizou, com plateias mais especiais do que ele pudera imaginar.
30 problema meu
Virada esportiva A atividade física pode transformar a vida de uma comunidade e resgatar a energia de viver. Conheça histórias que comprovam isso na prática texto Jéssica Martineli ilustrações andré aguiar
Seca, pobreza, violência, falta de perspectiva de vida. O cenário do povoado de Flamengo, em Jaguarari, no norte da Bahia, era desanimador. Crianças e jovens pareciam destinados ao analfabetismo, ao crime ou à gravidez precoce. Um dos cerca de mil moradores da comunidade é o professor de educação física Antônio Ferreira, de 44 anos. Em 2006, sua filha, Náviny, então com 5 anos, lhe disse que sonhava ser atleta. Ele decidiu ajudá-la. Os dois começaram a correr todos os dias pelas ruas de terra da região. Aos poucos, outras crianças começaram a segui-los – muitas descalças. Aí, Antônio percebeu que, com o esporte, poderia inspirar não só sua filha a ter um futuro melhor. Hoje, o professor treina voluntariamente 149 meninos e meninas, todas as manhãs, de segunda a sábado. Eles praticam corrida, salto, arremesso de peso e futsal. Muitos já são filiados à Federação de Atletismo e participam de competições
oficiais. Só no início de 2012, mais de 19 medalhas foram conquistadas pelos pupilos de Antônio nas etapas baianas do Campeonato Caixa de Atletismo, confirmando a participação dos pequenos em torneios de outros estados. “Hoje vejo que teremos alguns de nossos atletas nas Olimpíadas de 2016”, diz o professor. Um dos destaques da turma é justamente Náviny, hoje com 13 anos. No campeonato baiano juvenil deste ano, ela participou como convidada, já que ainda não tem idade para competir nessa categoria – e, mesmo assim, levou a medalha de ouro na prova dos 800 metros. Mas os resultados do trabalho de Antônio são ainda mais vastos. Ele exige que as crianças tenham bons resultados na escola para que possam seguir participando do projeto. Ao cumprir essa regra, os pequenos passaram a estudar com mais vontade. E, coincidência ou não, nos últimos anos a evasão escolar diminuiu e
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o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da escola local tem crescido. Além disso, o sucesso dos atletas treinados por Antônio chamou a atenção das autoridades para o povoado. O governo baiano instalou água encanada e construiu uma pista de atletismo. E a prefeitura de Jaguarari contribui com transporte até as competições. Mas, até hoje, Antônio não tem patrocínio financeiro: professor da rede pública, ele toca o projeto com recursos próprios e com a ajuda das poucas doações que recebe. Apesar das dificuldades, empolgação não lhe falta: “Digo aos alunos que estamos dando passos largos e que nossa escola vai virar referência no mundo!”.
Sim, é possível
Fique por dentro Mais que um hábito saudável, o esporte é um direito garantido no Estatuto da Criança e do Adolescente. Quer saber mais sobre o projeto que está formando campeões mirins no interior da Bahia? Acesse navinybonfim. blogspot.com.br. Você pode ajudar doando tênis ou outros artigos esportivos!
A história do povoado de Flamengo mostra como o esporte pode ser mais do que apenas uma atividade física. “A educação esportiva tem um papel transformador na sociedade”, afirma o professor de educação física e mestre em ciências sociais José Florentino. “O esporte prepara para a cidadania . Dá ferramentas para enfrentar os desafios da vida prática na luta por uma sociedade mais justa.” Foi isso que Steven Dubner, de 51 anos, então estudante de educação física, começou a descobrir na década de 1980, em São Paulo. Um deficiente físico lhe perguntou se era possível jogar basquete numa cadeira de rodas. Na época, o esporte adaptado era praticamente desconhecido no Brasil. Como não tinha a resposta, Steven decidiu descobri-la por si mesmo. Sentou-se numa cadeira de rodas e começou a adaptar os movimentos. Chamou cadeirantes para treinar com ele e aprenderem juntos. E viajou para os Estados
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Unidos, onde a modalidade já era mais difundida, para se aprofundar no assunto. Em 1996, com a administradora Eliane Miada, Steven fundou a Associação Desportiva para Deficientes (ADD), para promover o desenvolvimento de pessoas com deficiência por meio do esporte. Basquete, atletismo e natação são algumas das modalidades oferecidas. Com o apoio de patrocinadores, a ADD orienta pessoas de todo o país a formar clubes especializados em atletas com deficiência.
Fique por dentro Às pessoas com deficiência, o esporte oferece não só melhoria nas condições de saúde, força, agilidade e autoestima, como promove integração social. Para saber mais sobre a associação que tem ajudado milhares de deficientes brasileiros a vivenciar todos esses benefícios, acesse www.add.org.br.
Paola Klokler, de 21 anos, de São Paulo, é uma prova de que o trabalho de Steven deu certo. Sem uma das pernas, ela foi selecionada para um dos projetos da ADD aos 10 anos. Começou a treinar basquete na segunda equipe infantil formada pela associação. Hoje, faz parte da seleção brasileira de basquete paraolímpico. “Os professores sempre nos trataram como atletas: mostravam os obstáculos a serem vencidos e não as barreiras que nos impediam de fazer algo”, diz.
Mais de 11 mil pessoas com deficiência já foram atendidas pela ADD, e estima-se que cerca de 500 mil foram auxiliadas indiretamente em todo o país.
Salvas pelo gongo Aos 70 anos, a merendeira aposentada Odete Diniz virou boxeadora. Até então, o único exercício que ela praticava era dança em bailes da terceira idade, em Rio Grande da Serra (SP), onde mora. Quando algumas amigas lhe disseram
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Movimente-se! Ficou com vontade de começar a se exercitar? Confira algumas dicas!
• Antes de praticar qualquer atividade, é preciso saber se sua saúde está em dia. Pessoas com p roblemas cardíacos ou respiratórios podem ser prejudicadas pela falta de orientação. Vá ao médico e se informe sobre as suas possibilidades. • Não é preciso investir muito tempo para deixar de ser sedentário. Cerca de 30 minutos de exercícios, de três a cinco vezes por semana, já é o suficiente.
Fique por dentro A prática de atividades físicas com regularidade não tem restrição de idade. Para os idosos, o esporte ajuda a prevenir doenças e a promover a reabilitação da saúde, garantindo também maior autonomia e independência. Saiba mais sobre o projeto que ensina boxe à terceira idade pelo telefone (11) 9674-9532.
que estavam aprendendo a lutar, e a convidaram a ir junto, ela ficou desconfiada. Aquilo não era para ela. Muito violento, ainda mais para uma senhora! Mas decidiu assistir a uma aula. Foi aí que ela conheceu o funcionário público Aílton de Lima, de 43 anos. Em 2000, então lutador de boxe, ele percebeu que havia poucas opções de atividade física para os idosos da cidade. Então, ele reuniu um grupo de 13 senhoras em um espaço ocioso de um órgão municipal e começou a treiná-las, voluntariamente. Com a divulgação boca a boca, o número de participantes cresceu. O sucesso levou a prefeitura a apoiar o projeto, remunerando Aílton e cedendo um ginásio. Hoje, já são 210 alunos – todos idosos e, a grande maioria, mulheres. O projeto acabou sendo replicado pela
administração municipal de uma cidade vizinha, Ribeirão Pires, onde há mais 81 praticantes. No começo, as alunas apenas aprendiam os golpes, sem praticar a luta em si. Mas, com o tempo, foram ganhando confiança e pediram para treinar no ringue. Odete, hoje com 75 anos, é uma das que já não se contentam apenas com o treino no saco de areia. Ela leva o marido às aulas, e um luta contra o outro. A energia das alunas levou Aílton a organizar campeonatos de boxe feminino da terceira idade. Desde 2007, já foram realizados sete. “O boxe me faz sentir renovada”, afirma Odete. “Eu dou a aula e ganho beijos e abraços!”, emociona-se Aílton. “Esse retorno que recebo delas me motiva a expandir o projeto e a levar o esporte para cada vez mais pessoas.”
• Também não é necessário gastar dinheiro. Você pode caminhar ou correr no entorno da sua casa, ou fazer um passeio de bicicleta. Além disso, muitas prefeituras do país, com o apoio do Ministério da Saúde, estão instalando equipamentos de academia ao ar livre, em praças e parques. Se essa iniciativa já chegou na sua cidade, não deixe de aproveitar! • Outra opção é buscar por associações, grupos ou entidades que desenvolvam projetos ligados ao esporte. Informe-se nas secretarias municipais de educação, esporte e lazer. • Para manter a motivação, uma boa dica é praticar esportes em grupo. Chame os amigos, familiares, vizinhos. Um ajuda o outro a espantar a preguiça.
34 Como ensino
Entre nós
Nascemos olhando para o
próprio umbigo. Só com o tempo vencemos o egoísmo – e os pais são fundamentais nesse processo. Veja como ensinar ao seu filho a importância de dividir texto Daniele Martins
A criança fica emburrada, agarra-se ao brinquedo e grita: “É meu! Só meu!”. Talvez você não se lembre, mas provavelmente já protagonizou uma cena assim quando era mais novo. E, se convive com pequenos, sabe que situações como essa não são nada difíceis de acontecer. A ciência comprova: nascemos egoístas. Só com o tempo vamos aprendendo a dividir. Um dos estudos que comprovaram essa teoria foi realizado há alguns anos na Suíça. Mais de 200 crianças entre 3 e 8 anos foram convidadas a participar de um jogo para testar sua capacidade de compartilhar. Um pesquisador mostrava a cada uma delas alguns doces e a foto de um colega. Então, sugeria algumas possibilidades de divisão das guloseimas entre os dois: uma beneficiando a própria criança, outra equilibrada e uma terceira deixando mais doces para o amigo. As crianças mais novas, principalmente entre 3 e 4 anos, foram, em sua maioria, egoístas. Já as mais velhas, majoritariamente, preferiram a divisão das recompensas em partes iguais. Uma das explicações para esse comportamento é física. Um estudo recente do instituto alemão Max-Plank sugere que o altruísmo é acionado por uma parte do cérebro chamada córtex pré-frontal dorsolateral, que é pouco desenvolvida nas crianças menores. Mas aspectos culturais também são muito importantes. Os pesquisadores que realizaram a experiência suíça lembram, por exemplo, que, ao entrar na escola, a criança aprende que
mirella é filha única. ao brincar com os primos, ela tem entendido como é bom compartilhar
a igualdade é um valor admirável, e isso certamente a estimula a tomar decisões mais justas. Os estudiosos também afirmam que, conforme crescemos, damos mais valor às opiniões dos outros sobre nossa conduta, o que é mais um impulso contra o instinto egoísta. Nesse processo de descoberta da importância de compartilhar, o papel da família é crucial. “As crianças são como esponja: copiam quase tudo o que veem. E os pais são os primeiros modelos de como viver em sociedade. Por isso, o exemplo oferecido por eles é fundamental”,
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Faça você também Compartilhar brinquedos pode ser muito difícil para um filho único, acostumado a brincar sozinho. Nesses casos, converse. Explique que, se ele emprestar suas coisas, também poderá curtir os brinquedos do colega – e a diversão será muito maior.
lembra o psicólogo especialista em terapia comportamental Fábio Passos. “Se o pai é egoísta, a criança tende a absorver essa característica. No entanto, se ele divide coisas com ela e demonstra que um mesmo objeto pode ser dos dois em determinado momento, ele está ensinando a compartilhar”, completa. O desafio tende a ser maior para pais de filhos únicos – um modelo de família que vem crescendo nas estatísticas brasileiras. Sem irmãos para dividir espaços e objetos, a criança pode ter mais dificuldade para treinar a
capacidade de compartilhar. Aí, cabe aos pais estimular o convívio com amiguinhos. Ensinar a dividir é um grande desafio. Mas o esforço se justifica, pois essa habilidade tem grande influência sobre o tipo de adulto que seu filho será. “Compartilhar exige que a gente se coloque no lugar do outro, e isso é crucial para compreender pessoas e situações”, afirma Fábio. Veja, a seguir, como três famílias estão fazendo para mostrar aos filhos a importância de dividir. Cada uma delas tem dicas que podem dar certo também em sua casa. Confira!
Mirella, hoje com 3 anos, frequenta a escolinha, em São Paulo, desde os 4 meses. Os pais, o cirurgião-dentista Marcelo de Sousa e a fisioterapeuta Melissa Yamaoka, ambos de 34 anos, tinham medo de que fosse muito cedo. Mas não tiveram escolha: não havia com quem deixar a menina. Com o tempo, acabaram percebendo que o contato com outras crianças foi ótimo para a socialização da filha única. Mirella também convive bastante com os dois primos, Vinícius, de 4 anos, e Antônio Henrique, de 9. “Nos passeios, a conta é sempre feita para três. Nós já calculamos que as crianças vão dividir os lanches e os brinquedos”, conta a mãe dos meninos, a fisioterapeuta Adriana do Espírito Santo, de 41 anos, irmã de Marcelo. “Fomos criados assim, queremos que eles tenham os mesmos valores”, completa. Um dos hábitos que os pais incentivam é a troca de brinquedos, emprestados entre os primos durante algumas semanas. A comida também ajuda a ensinar a lição da partilha: “Na Páscoa, por exemplo, damos os ovos aos poucos, e o que a Mirella recebe, naturalmente, já vai dividindo com quem está por perto”, orgulha-se o pai.
© foto daniela toviansky
Convívio que ensina
36 Entre irmãos
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Quando decidiram ter o segundo filho, a funcionária pública Luciane Pereira, de 42 anos, e o técnico em instalações hidrossanitárias Jorge Leão Filho, de 45, de Porto Alegre, pensaram em dar uma companhia para o primogênito, Rodrigo, de 8 anos. “Nós temos irmãos e gostaríamos que nosso filho também tivesse”, conta a mãe. Quando ela engravidou de Leonardo, hoje com 4 anos,
o casal se esforçou em preparar o mais velho para a chegada do bebê. A situação foi mais difícil do que o esperado, porque Leonardo teve alguns problemas de saúde quando era pequeno e demandou atenção extra. A cada crise do caçula, Rodrigo reagia revoltado – não se sabe se por preocupação ou ciúme. A alternativa foi se dividir. O pai saía com Rodrigo,
enquanto a mãe ficava em casa com Leonardo, que durante algum tempo precisou ficar em repouso. Ou então eles conseguiam a ajuda de alguém com o pequeno para que o outro pudesse ter pai e mãe com exclusividade. Deu certo. Hoje, o mais velho não se importa em emprestar brinquedos e dividir a atenção. E a família se orgulha de ter crescido mantendo a união.
Faça você também Quem tem mais de um filho sabe que negociação é uma palavra-chave para ter harmonia em casa. Se um quiser ir ao parquinho e o outro ao cinema, mostre que alguém vai ter de ceder. E que o preterido da vez será o escolhido numa próxima. 1
luciane e jorge tiveram de se dividir para que o filho mais velho aceitasse a chegada do caçula
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37 Lição com ginga “Quando ia uma criança lá em casa, o Gabriel brigava por causa dos brinquedos. Por mais que tentássemos ensinar, ele não sabia dividir. Até na hora de conversar ele queria atenção exclusiva”, conta a empresária Nanna Pretto, de 32 anos, de São Paulo, sobre o filho único. Ela e o marido, o representante comercial Jarbas Pires, de 34 anos, viram no esporte uma possível solução. Gabriel, que hoje tem 4 anos, começou a nadar aos 2. Os pais garantem que a atividade trouxe disciplina e senso de companheirismo para o pequeno: “Ele teve de aprender a dividir a atenção do professor com os colegas, esperar sua vez de fazer exercícios, tomar banho...”. No começo deste ano, foi a vez da capoeira. “Também é uma boa atividade, porque acontece em grupo, cada um tem de esperar o movimento do outro, respeitar os limites”, conta a mãe. “As duas atividades, mais a escolinha, contribuíram para que ele ficasse bem mais tranquilo.”
Faça você também Se está difícil convencer seu filho a praticar esporte, tente outras atividades. Teatro, dança e música, por exemplo, também são oportunidades para que ele compreenda que os outros também têm direitos que precisam ser respeitados.
nas rodas de capoeira, o pequeno gabriel aprendeu que cada um tem de ter a sua vez
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Mais dicas para compartilhar © foto 1 Marcelo Curia 2 Renato Pizzutto
Confira outras quatro ideias para ensinar seus filhos a vencer o egoísmo
Desapego
Paciência
Data certa
Diálogo
De tempos em tempos, faça uma arrumação em casa e separe o que não usa mais. Chame seu filho para participar, escolhendo brinquedos que também serão doados. Além de ajudar quem precisa, você vai dar uma lição de generosidade para seu pequeno.
Não deixe que seu filho cresça achando que as coisas devem acontecer quando ele bem entender. Mostre que os compromissos precisam levar em conta a agenda de todos. E, muitas vezes, ele terá de esperar para fazer o que tanto quer. Seja firme.
Quando você vai comprar um presente para alguma criança que fará aniversário, seu filho briga para também ganhar alguma coisa? Aproveite a situação para mostrar que tudo tem seu tempo: o presente virá na data certa, não agora. É preciso entender.
Sempre que tiver oportunidade, converse. Lembre-se que você está lidando com uma criança que está começando a conhecer o mundo. Ela precisa ser orientada. Use exemplos, historinhas, simule situações em que o tema egoísmo esteja em pauta.
38 nós podemos
Rede povo Já pensou em criar um canal de comunicação feito pelas pessoas do seu bairro? É uma boa maneira de unir forças para construir uma vizinhança melhor texto Jaqueline Li ilustrações veridiana scarpelli
Já imaginou como seria uma rádio, um jornal ou um canal de televisão que só transmitisse informações que interessam ao seu bairro? Noticiários e conteúdos de cultura e entretenimento produzidos sob medida para você e os seus vizinhos. Gostou da ideia? Isso se chama comunicação comunitária. Se onde você mora não há nada assim, você pode se espelhar em diversas iniciativas que pipocam Brasil afora. Uma delas acontece na maior favela do país, a Rocinha, no Rio de Janeiro. É o Rocinha Notícias, jornal criado em 2000 pelo morador Carlos Costa, de 49 anos. “Não é apenas um veículo de comunicação da Rocinha para a Rocinha, mas também um espaço para mostrar, lá para
fora, o que a comunidade vive aqui dentro”, afirma. Às vezes, a verba arrecadada com anúncios é insuficiente para arcar com a produção e a impressão dos 10 mil exemplares mensais. Nesse caso, Carlos, que é jornalista formado e trabalha numa ONG, precisa tirar dinheiro do próprio bolso. Mas as conquistas do jornal fazem o esforço valer a pena. Um episódio emblemático ocorreu quando um lixão se formou na entrada da favela. “Com máquinas fotográficas nas mãos, nós nos disfarçamos e descobrimos que os sacos vinham da Zona Sul e da orla, para depois serem removidos para o lixão de Gramacho”, conta Carlos. Dois meses após a publicação das fotos, o acúmulo foi interrompido.
Não se trumbique! Veja, nesta e nas próximas páginas, dicas para você criar uma rádio, um site ou um jornal e dar voz à sua comunidade
Rádio comunitária Vantagens Atinge uma grande área e as pessoas só precisam de um radinho para receber a informação. Equipamentos Você vai precisar de, pelo menos, um transmissor FM, certificado pela Anatel, uma antena e um computador. Equipe Uma pessoa é capaz de manter uma programação mínima. Mas é bom ter ajuda para produzir matérias, debates, entrevistas... Como colocar no ar A solicitação deve ser feita ao Ministério das Comunicações. As associações comunitárias sem fins lucrativos podem se candidatar a ter uma emissora FM. Quem pode ajudar Baixe uma cartilha no site bit.ly/K95DFd. Aqui, você aprende a fazer uma rádio on-line: www.dissonante.org
40 nós podemos Além de assuntos relacionados diretamente à Rocinha, temas que podem favorecer a reflexão dentro da comunidade, com o distanciamento de quem a vê de fora, também são abordados. Especialistas de outros bairros são entrevistados para confrontar argumentos de formadores de opinião da favela. “A comunicação tem de ser assim: sem protecionismo e com controvérsia, para gerar debate e romper as fronteiras imaginárias que separam a nossa comunidade”, afirma Carlos.
Ouvindo a Amazônia A grande vantagem dos veículos de comunicação comunitária é justamente essa liberdade. Deve valer o interesse da comunidade, sem as pressões políticas e econômicas que pesam sobre os meios de massa, como grandes canais de TV. “A mídia comunitária tem a própria agenda”,
afirma Luiz da Silva, professor e pesquisador de comunicação e jornalismo público da Universidade de Brasília. “Deve contar de forma participativa assuntos que tenham algum vínculo social, que proporcionem a sensação de pertencimento.” Uma experiência assim tem acontecido na comunidade de Suruacá, no município de Santarém (PA), onde vivem cerca de 500 pessoas. De lá até o centro da cidade, são quatro horas de viagem, por rio. A única fonte local de difusão de informações é a rádio comunitária Japiim. O som sai de um poste, perto da escola e do campo de futebol. A rádio fica no ar por, no máximo, três horas por dia, já que a comunidade só tem eletricidade das 19 às 22 horas, de três a quatro dias por semana. A programação fala sobre festas locais, campeonatos de futebol amador (com jogos narrados ao vivo), eventos religiosos,
campanhas do Ministério da Saúde, notícias sobre famílias atingidas pelas cheias... Oito jovens voluntários produzem o conteúdo. Eles também editam um jornalzinho, que é fotocopiado. As notícias ainda são publicadas em blogs. Toda essa estrutura foi viabilizada pela ONG Saúde e Alegria, que, desde 1983, desenvolve programas de organização social, direitos humanos, meio ambiente, saúde, saneamento, educação e inclusão digital em povoados da Amazônia. A instituição oferece treinamento para jovens interessados em se tornar repórteres comunitários, dando voz ao local onde vivem. Maiara Vasconcelos, de 29 anos, é voluntária na Japiim desde a criação da rádio, em 1994. Ela lembra como era difícil o acesso a informações na comunidade antes da iniciativa. “A única solução era carta. Sem internet nem rádio, tudo era muito difícil”,
INTERNET Vantagens É o jeito mais fácil de falar com o mundo inteiro. Mas será que todas as pessoas da sua comunidade têm acesso à rede? Equipamentos Um computador com acesso à internet e um celular com câmera já é o suficiente para publicar textos e vídeos. Equipe Uma pessoa pode fazer tudo sozinha. Mas, quanto mais gente, mais qualidade e volume de produção. Como colocar no ar Há serviços gratuitos de blog (Wordpress ou Blogger, por exemplo) e canal de vídeo (YouTube e Vimeo). Quem pode ajudar O site www.vivafavela.com.br, produzido por 200 correspondentes comunitários, oferece hospedagem gratuita e apoio tecnológico e de conteúdo.
41 diz. “A rádio trouxe muitos benefícios, principalmente para a juventude, que agora tem contato com tecnologias. Isso contribui para o desenvolvimento pessoal, sem perder a identidade cultural e regional.” “Estamos acostumados a ler e ouvir abordagens sobre a Amazônia, mas não da Amazônia”, afirma Fábio Pena, coordenador de educação e comunicação da Saúde e Alegria. É isso que a ONG tem ajudado a mudar. A Japiim foi a pioneira de uma rede formada por 22 rádios comunitárias da região de Santarém e se prepara para ser a primeira delas a funcionar em ondas FM.
A união faz a força Os moradores do Jardim Colombo, na Zona Sul de São Paulo, também estão experimentando os benefícios de ter o próprio canal de informação. Eles criaram uma TV comunitária na internet. Ali, são exibidas
reportagens gravadas no bairro, divulgando novidades e cobrando o poder público. A iniciativa foi idealizada pela União dos Moradores da Favela Jardim Colombo há cerca de um ano. Tudo começou quando o estudante de análise de sistemas Edson Dutra, de 21 anos, foi convidado pelo presidente da associação, Ivanildo de Oliveira, de 40 anos, a desenvolver o site da entidade. Ivanildo gostou do serviço e convidou o rapaz a pôr a TV no ar. Edson, morador do bairro, assumiu a câmera e a edição das imagens. Os vídeos são publicados num site gratuito, o YouTube, e depois compartilhados na página da TV União: uniaojdcolombo.org.br/tv_uniao.html. Apesar dos poucos recursos, o canal já tem ajudado bastante na luta por melhores condições para o bairro. Em outubro de 2011, a TV divulgou problemas em uma caixa de esgoto, construída sem a vedação
adequada. O vídeo foi visto pela superintendente municipal de habitação popular, que cobrou providências da empresa licitada para realizar a obra. “Com esse episódio, percebemos que nosso trabalho estava gerando resultados”, lembra Edson. Algumas matérias já alcançaram 200 acessos, o que pode ser considerado bastante para uma reportagem comunitária. Ivanildo, que improvisa na função de repórter, espera que alguma faculdade de comunicação se interesse pelo projeto e possa indicar voluntários para uma produção diária de conteúdo. Ele sabe que, assim, vai ajudar a construir uma comunidade mais unida, informada e com força para lutar pelo que deseja. “Antes eu não conseguia nem abordar algumas empresas para cobrar providências ou propor parcerias. Hoje, quando a gente fala em nome da TV, o papo muda.”
JORNAL IMPRESSO Vantagem É mais barato que uma rádio e mais acessível que um site, em comunidades onde a internet ainda é novidade. Equipamentos Um computador e uma impressora já dão conta. Equipe É preciso gente que escreva, diagrame, fotografe e distribua. Como fazer Há softwares gratuitos tanto para escrever textos (como o BrOffice: www.broffice.org) quanto para diagramar o jornal (como o Scribus: www.scribus.net). Quem pode ajudar Este blog traz o passo a passo do planejamento de um informativo: bit.ly/KRJ31j. E este programa de TV explica as etapas de criação de um jornal diário: bit.ly/JSkC6q
42 É GOSTOSO E FAZ BEM
Receitas especiais um Projeto de culinária para pessoas com síndrome de Down estimula o corpo e a mente com receitas fáceis e deliciosas. Aprenda!
Batatas recheadas Rendimento: 2 porções.
Ingredientes • 2 batatas grandes • 50 g de queijo gorgonzola • 50 g de queijo cremoso (requeijão ou Catupiry) • 1 dente de alho • azeite, alecrim e salsinha a gosto
TEXTO Helaine Martins
De uniforme, chapéu e pose de gente grande. Foi assim que Guilherme Campos, de 13 anos, recebeu o pai em casa, na volta do trabalho. O filho desatou a contar suas novas aventuras entre panelas, alimentos e receitas. Guilherme é um dos portadores de síndrome de Down que participam do projeto Chefs Especiais, que estimula a cognição e a sociabilidade por meio de aulas de culinária. A iniciativa é do casal de empresários paulistanos Simone, de 45 anos, e Márcio Berti, de 49. Em 2006, eles decidiram trabalhar pela causa mesmo sem ter nenhum parente com necessidades especiais. São 180 alunos cadastrados, de todas as idades, que participam das aulas em esquema de rodízio, para que todos tenham sua vez. Ingredientes, uniformes, espaço, tudo é doado. E os professores, voluntários, são chefs renomados, como Olivier Anquier e Alessandro Segato. As receitas são do tipo em que é preciso pôr a mão na massa, interagir com os ingredientes. Que tal compartilhar essa diversão com sua família? Veja ao lado três pratos deliciosos que alegram as aulas dos Chefs Especiais. E, para saber mais sobre o projeto, acesse chefsespeciais.blogspot.com.br.
Modo de preparo Cozinhe as batatas até ficarem “al dente”. Corte-as ao meio, retire parte do miolo e reserve. Esprema o alho e misture-o com os queijos até formar uma massa homogênea. Recheie as batatas com o creme e leve-as ao forno por 10 minutos em uma assadeira untada. Finalize com azeite, salsinha e alecrim.
o projeto de márcio e simone usa a culinária como estímulo para portadores de síndrome de down
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por Exemplo
Focaccia de calabresa Rendimento: 20 porções.
Ingredientes • 10 g de fermento biológico • 100 ml de leite • 40 g de manteiga • 0,5 kg de farinha de trigo • 10 g de melhorador de massa • azeite para untar • 200 g de linguiça calabresa moída • sal, cebola e alho a gosto
Modo de preparo Dissolva o fermento no leite. Acrescente a manteiga e misture. Adicione a farinha, o sal e o melhorador de massa. Amasse com as mãos até ficar consistente. Unte uma assadeira com azeite e abra a massa. Deixe-a descansar, coberta, por uma hora. Frite a linguiça com a cebola e o alho. Polvilhe-a sobre a massa e leve ao forno, preaquecido, por 30 minutos.
Panqueca doce
© foto s heila oliveira/empório Fotográfico produção de objetos Márcia Asnis produção culinária Claudia Yoshida
Rendimento: 4 porções.
Ingredientes • 100 ml de leite • 1 ovo • essência de baunilha a gosto • 40 g de farinha de trigo • 20 g de açúcar
Modo de preparo Bata os ingredientes até formar uma massa homogênea. Em uma frigideira antiaderente untada, coloque um pouco da massa e frite dos dois lados. Recheie com o doce de sua preferência e leve ao forno por 30 segundos.
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44 o tempo de cada um
Ana Flávia Della Torre
r e vo lu ç õ e s por m in uto Veja como quatro jovens encaram a primeira grande mudança da vida
De São Paulo, nascida em 14/11/1996 Fã de rock, Ana Flávia nunca tinha pensado em festa de debutante. Mas, no último aniversário, se emocionou com a comemoração surpresa que a família organizou, com direito a valsa com o pai. “Foi um ritual de passagem.” Dividida entre a escola, o grupo de escoteiros e o fanzine de que faz parte, ela vê mais de uma opção para seu futuro: “Estou em dúvida entre medicina e pedagogia”.
texto Ana Luiza Ponciano e Dilson Branco
Em nenhuma outra idade lidamos com tantas transformações em tão pouco tempo. O corpo, a voz, as emoções, os interesses, as relações, tudo muda. Até ali, a vida inteira tínhamos sido crianças. Então, viramos alguma outra coisa. A puberdade é a primeira grande ruptura da vida. E o aniversário que melhor simboliza esse momento é o de 15 anos. “Nessa idade, a pessoa não é mais criança e ainda não é adulta”, explica André Toso, psicanalista da Sociedade Paulista de Psicanálise. “Ela começa a construir seu livre-arbítrio, mas ainda depende financeiramente e emocionalmente dos pais”, completa. Ao enxergar que há um mundo inteiro fora de casa, longe da alçada familiar, o adolescente começa a se apropriar do que lhe interessa. Toma decisões, vislumbra uma carreira, conhece grupos dos quais quer fazer parte, causas que vai defender. E cada um trilha esse caminho à sua maneira, construindo a própria identidade. Conheça, a seguir, quatro jovens com 15 anos e veja como eles estão passando pelas mudanças que caracterizam esta idade.
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Artur Tissiani De Brasília, nascido em 2/9/1996 Para acabar com o tédio, Artur começou a praticar natação. A coisa ficou séria: hoje, ele abre espaço na agenda da escola para treinar quatro vezes por semana e participar de competições. “O esporte me deixou mais forte e com mais fôlego”, diz. Mas o garoto não sabe se vai fazer disso sua profissão. “Também gosto de desenho, tenho planos de seguir carreira nessa área”, explica.
por Exemplo
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se você tem 15... Pedro Henrique Franceschi Do Rio de Janeiro, nascido em 19/7/ 1996 O currículo de Pedro já dá inveja a muito marmanjo: ele é o criador do software que permite ao sistema de reconhecimento de voz do celular iPhone entender frases em português. Programando computadores desde os 8 anos, ele tem emprego na área e até dá palestras. “Mas também curto coisas da minha idade”, argumenta. Como o quê? Videogame, rock e... mecânica quântica! 3 4
Mariana Cavalcanti De Osasco (SP), nascida em 31/8/1996 Sempre preocupada com a natureza, Mariana decidiu fazer curso técnico de meio ambiente. “Eu e meus colegas estamos tentando ajudar um bairro que não tem saneamento básico e queremos implantar coleta seletiva na escola”, diz. Além disso, uma vez por semestre, ela participa de uma campanha de doação de roupas e alimentos para um orfanato. “Faz bem fazer o bem.”
...nasceu junto com o primeiro livro da série Harry Potter, que virou um enorme sucesso não só na literatura, mas também no cinema. Recentemente, foi lançada uma rede social para os fãs do bruxinho (site em inglês): www.pottermore.com
...é só um pouco mais velho que a Estação Espacial Internacional: um laboratório científico que orbita a Terra desde 1998, quando começou a ser montado no espaço. Este vídeo mostra como a Terra é vista lá de cima: http://bit.ly/vDHWiv
...aos 5 anos, ainda não tinha idade para entender o significado da destruição das Torres Gêmeas, em Nova York, em 2001. O filme World Trade Center (EUA, 2006), do diretor Oliver Stone, é baseado na história do ataque.
...durante mais da metade da sua vida, o Brasil foi governado por Luiz Inácio Lula da Silva, presidente entre 2003 e 2010. Recentemente, Lula lançou sua página no Facebook, com notícias dos seus novos projetos: www.facebook.com/Lula © fotos 1 Patricia Stavis 2Cristiano Mariz 3 Anna Fischer 4 Alexia Santi
46 aprenda e ensine
Qual é a sua turma?
Atividades em grupo favorecem a troca de experiências e a motivação. Reúna os amigos para aprender e ensinar assuntos de interesse comum
texto Dilson Branco e Leandro Quintanilha ilustração LaeRTE SILVINO
Uma mão lava a outra. Junto, a gente chega lá. A união faz a força... O valor de compartilhar experiências e aprender em conjunto está presente de várias maneiras em nosso imaginário. Sinal de que, geração após geração, essa estratégia continua dando certo: juntar uma turma com os mesmos interesses é uma maneira divertida e barata de adquirir novos conhecimentos, fazer amigos e ter uma rotina mais interessante. O que você gostaria de aprender? Um esporte, um idioma, dicas para cuidar dos filhos, uma habilidade manual? Em grupo, um motiva o outro, cada um contribui com dúvidas e informações, e assim fica muito mais fácil e rápido mergulhar numa nova área de conhecimento, ou se aprofundar em algo que você já sabe fazer. O primeiro passo é encontrar as pessoas. Fale com seus amigos e vizinhos, espalhe cartazes no prédio e na rua, use as redes sociais na internet. Você também vai precisar de um lugar para os encontros: pode ser a casa de alguém, ou um local público. Trocando e-mails ou telefonemas, a turma pode agendar as reuniões e definir as responsabilidades de cada um. Aí é só curtir o aprendizado. Veja, a seguir, algumas ideias de grupos que você pode criar.
Para gostar de ler Você já deve ter visto algo assim em um filme americano. Em um clube do livro, um grupo escolhe uma obra, define um calendário segundo o qual cada parte deve ser lida e realiza reuniões periódicas em que todos comentam suas impressões. Convidados, como um professor de literatura, podem ajudar a aprofundar o debate.
Com as próprias mãos Almofadas de fuxico, escultura de argila, bijuterias artesanais. Um grupo de atividades manuais deve reunir pessoas com diferentes especialidades. Assim, cada um ensina o que sabe aos demais. Antes de cada encontro, é preciso avisar sobre o material necessário. A produção pode ser convertida em fonte de renda ou doações.
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Dia das mães Enfrentar o maior desafio da vida de uma mulher fica mais fácil em grupo. Juntas, as mães podem compartilhar dicas sobre como cuidar da saúde, da alimentação e da educação dos pequenos. Também podem trocar roupinhas e brinquedos. E vale abrir a roda aos pais, para que contribuam com seu ponto de vista!
Friends, amis, amici... Se preguiça e vergonha são os empecilhos para você aprender uma língua estrangeira, que tal juntar os amigos nessa empreitada? Um motiva o outro, e o clima fica divertido e informal. Vocês podem conseguir desconto numa escola convencional ou fazer uma vaquinha para contratar um professor.
Questão de afinidade Fotografia, jardinagem, gastronomia, desenho... Seja qual for seu hobby, ele não precisa ser solitário. Ao juntar pessoas com o mesmo interesse, será mais fácil aprofundar os conhecimentos. Vocês também podem conseguir descontos na compra de materiais.
Passeio completo Em São Paulo e no Rio de Janeiro, são comuns grupos de senhoras que viajam do interior à capital para assistir a peças de teatro. Além da companhia no trajeto, elas ainda têm o conforto de uma van particular, com custo dividido. A ideia pode ser repetida para qualquer faixa etária e tipo de programa.
Vai, time! Esportes individuais também podem ser praticados em grupo – como caminhadas, corridas, skate, patinação... Os praticantes mais experientes podem orientar os demais. Por vezes, essas reuniões se tornam movimentos sociais para a ocupação de espaços públicos – como tem acontecido com as “bicicletadas”.
48 agradeço
Apaixonada lição A intimidade do namoro ou do casamento permite uma troca privilegiada de conhecimentos. O que de mais importante você aprendeu com o amor da sua vida? texto Carla Castellotti, Leandro Quintanilha, Marina Gadelha e Rafaela Carvalho foto Felipe Brasil
Um grande amor pode ter muito a ensinar, se você for um bom aluno. Quando duas pessoas decidem compartilhar a vida, cada uma traz consigo a sua educação, as suas experiências e o seu jeito particular de enxergar o mundo. E, assim como aquele casaco que serve nos dois, uma ideia, uma estratégia, um estilo ou um método do outro podem caber direitinho na sua vida. E vice-versa. Da forma mais prática de lavar a louça ao exercício do perdão. De um jeito eficiente de organizar as contas à prática cotidiana da gentileza. O importante é encarar as diferenças como oportunidade de aprendizado. Por isso, nem sempre é melhor ter razão. De vez em quando, pode ser mais saudável se deixar convencer por uma ideia diferente da sua, mas que tem lá os seus méritos. O seu amor pode ser um ótimo professor multidisciplinar. Economia doméstica, estudos sociais, ciências, filosofia: haverá sempre algo a ensinar e a aprender. Preste atenção no que o seu amado diz e faz. Reflita. E tente colocar em prática o que foi proposto, sempre que a matéria fizer sentido para você também. O afeto é muito pedagógico e o processo de formação em um casal nunca termina, porque envolve um estímulo contínuo de conhecimento do outro e de si mesmo. Com uma visão privilegiada de fora (mas de perto), o seu amor pode ajudá-lo a se tornar um especialista em ser você.
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Aprendi que é difícil competir com o time do coração dele, mas que assistir aos jogos juntos pode ser divertido. Para viver um amor de verdade, é preciso respeitar as diferenças e amar também os defeitos. Caroline Almeida, 26 anos, Maceió O orgulho tem de ser deixado de lado em algumas ocasiões. Desculpar-se não é o fim do mundo. Às vezes, as palavras doem, mas são necessárias. Laura Fonseca, 16 anos, Mariana (MG) O amor é que nem borboleta: se você tenta prendê-lo, ele foge. Se o deixa livre, ele vai e volta. Luciana Oliveira, 34 anos, Belo Horizonte caroline aprendeu que futebol a dois pode ser bem divertido
Com meu marido, aprendi a nunca guardar rancor. É melhor dizer o que está incomodando, mas sem ser grosseiro. Suely Omodei, 47 anos, São Paulo Aprendi que, quando um cozinha, o outro lava – e vice-versa. Uma lição que vale não só para o serviço de casa, mas para a vida como um todo. Herbert Loureiro, 23 anos, Maceió Com o Samuel, aprendi que, quando a gente ama, não há necessidade de fingir para ser aceito: basta ser você mesmo. Cecília Aquino, 22 anos, Belo Horizonte Mesmo os amores solitários, sem correspondência, valem a pena. Aprendi que o sentimento faz mais bem a quem ama do que a quem é amado. David Tierro, 40 anos, Belo Horizonte
Tive uma namorada que era sempre alegre e divertida. Um dia, ela me contou que convivia com um drama familiar que a incomodava muito – e me ensinou que, mesmo com preocupações graves, podemos ter uma postura positiva na vida. Vitor Manuel de Almeida, 57 anos, São Paulo Durante todo o tempo em que me dediquei ao trabalho de conclusão da faculdade, meu amor se manteve ao meu lado. E assim me ensinou a valorizar o tempo e o esforço que investimos em nossas conquistas. Ramiro Ribeiro, 26 anos, Maceió Com seu exemplo, meu namorado me ensinou a ser gentil com todo mundo. Buscando o melhor de cada pessoa, me sinto mais feliz. Stephanie Bordignon, 22 anos, Mogi Mirim (SP) Meu ex-marido me incentivou a andar de montanha-russa pela primeira vez, e logo no carrinho da frente! Tive uma sensação de liberdade que até hoje me ajuda a vencer meus medos. Aparecida de Almeida, 48 anos, Belo Horizonte Como ele é músico, me apresentou novos ritmos e artistas, e me estimulou a colecionar discos. Débora Hagestedt, 22 anos, Maceió Entendi que é possível ser feliz vivendo os momentos simples da vida, se a pessoa ao nosso lado é quem nos completa. Luciana Gomes, 29 anos, São Paulo
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Desde que minha namorada veio morar comigo, tenho aprendido a recriar meu espaço – físico, mental e espiritual – em busca de um equilíbrio para o nosso amor. Fábio Zanetti, 34 anos, Maceió Nos 17 anos em que convivo com a Anita, tenho aprendido até nas horas de dor. Ao vê-la enfrentar a perda dos pais, por exemplo, me senti mais forte para superar o mesmo trauma, quando chegou a minha vez. Alan Jô Rocha, 57 anos, Belo Horizonte Acordar ao lado de quem amo e estar com minhas filhas me mostra como a vida pode ser leve e feliz. Soa brega, eu sei, mas meu sentimento é assim mesmo: usa gel no cabelo, camisa florida e medalhão dourado escrito “Eu te amo!”. Amanda Berto, 27 anos, Maceió Um dia, o vi catalogando faturas e contas em pastas. Perguntei como ele fazia e adotei o costume. Hoje tenho meu orçamento bem mais organizado. Nataly Santos, 27 anos, Ribeirão Preto (SP) Aprendi a ser paciente e tolerante. Só assim evitam-se brigas que não valem a pena. Dirlene Santos, 33 anos, Rio de Janeiro É possível ter poesia mesmo com tantos anos de estrada. Superar equívocos, seguir em frente. Descobrir que bastamos um ao outro, sem precisar nos isolar. Reinventar a vida. Robson Santos, 60 anos, Belo Horizonte
A quem você gostaria de agradecer por ter-lhe ensinado algo importante? Conte para a gente! Veja nossos contatos na página 7.