Revista Advertising - Edição 184

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ALMANAQUE

JÄGERMEISTER ABRE O CAMINHO NAS CAMISETAS DE FUTEBOL O futebol moderno, tendo se transformado em um grande negócio, é indissociável da publicidade. Apenas os anúncios em camisetas de times europeus movimentam em torno de US$ 900 milhões ao ano, de acordo com a consultoria Nielsen Sports. No entanto, por muito tempo, alterar os “mantos sagrados” dos clubes era considerado um tabu, que só começou a ser deixado para trás com uma jogada que marketing que está completando 45 anos. A maioria dos historiadores aponta o Peñarol do Uruguai como o primeiro clube a colocar marcas em sua camiseta, nos anos 1950. Alguns clubes pequenos na França, Áustria e Dinamarca também chegaram a fazer isso para conseguir recursos, mas a maioria das federações de futebol era completamente contrária à ideia, e proibiam o uso de nomes ou logomarcas que não fossem dos próprios clubes. Esse cenário só começou a mudar em 1973, quando Gün-

ter Mast, chefe executivo da Jägermeister, fabricante do famoso licor, ofereceu um contrato para que o clube Eintracht Braunschweig colocasse a logomarca da bebida em sua camisa durante cinco anos. A Bundesliga - a federação alemã de futebol - foi contrária, mas quando os jogadores do clube decidiram votar - e aprovar - a substituição do tradicional leão do clube pelo cervo da Jägermeister nos uniformes, os cartolas acabaram aceitando. Em 24 de março de 1973, o Eintracht Braunschweig estreou as novas camisas patrocinadas em um jogo contra o FC Schalke. Sete meses depois, a Bundesliga oficialmente aceitava patrocínios em camisetas para todos os clubes. Nos anos seguintes, todas as grandes federações de futebol seguiram seu exemplo. A Jägermeister anunciou nos uniformes do Eintracht Braunschweig até 1987, e Günter Mast chegou a ser presidente do clube de 1983 a 1986.

Você leva 20 anos para construir uma reputação e cinco minutos para arruiná-la. Warren Buffett (nascido em 1930)

Para que alguém se estabeleça no mundo, esse alguém precisa fazer tudo possível para parecer já estabelecido. François de la Rochefoucauld (1613 - 1680)

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Lançado em maio de 2013, Syrup traz a história de um jovem preguiçoso, mas oportunista (Shiloh Fernandez), que acredita ter o produto perfeito em mãos, capaz de seduzir milhares de consumidores. Mas para armar a campanha de marketing perfeita, ele deve aprender a confiar em sua manipuladora parceira de negócios (Amber Heard). A obra, dirigida por Aram Rappaport, faz uma sátira às técnicas de marketing e publicidade.

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SUMÁRIO

Sumário

Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RS CEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181

Textos: MARCELO BELEDELI

www.revistapress.com.br comercial@revistapress.com.br

Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA

Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 99971 5805 com NELCI GUADAGNIN

Diretor-Geral JULIO RIBEIRO

Imagens: Fotografia: Agência Preview Assinaturas atendimentoad@terra.com.br Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA

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PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO

DA REVISTA.

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Almanaque

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MIX

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Opinião: Marcelo Beledeli

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Entrevista: André Torretta

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Matéria de Capa: Pesquisa de Mercado

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Fast Forward: Alberto Meneghetti

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Grandes Nomes:: John Emory Powers

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Coluna da Ana Paula

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Especial 21 anos

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Galeria: Começa a era do Span


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MIX

GOOGLE ANUNCIA MUDANÇAS PARA MOBILES

O Google anunciou que, a partir de julho, sites que carregam mais rápido no mobile aparecerão com maior prioridade no Google Search. Assim, como já acontece no desktop, a rapidez de um site no celular afetará a posição em que aparece nas pesquisas. A empresa também lançou oficialmente no Brasil a Speed Scorecard, ferramenta que compara a velocidade de carregamento de sites mobile entre diferentes marcas. Com ela, além de ver quanto tempo seu site e o dos concorrentes leva para carregar no smatphone, veículos e marcas podem estimar a receita que poderia ser gerada se o tempo de carregamento fosse menor.

Assédio em agências

A pesquisa Hostilidade, silêncio e omissão: o retrato do assédio no mercado de comunicação de São Paulo, realizada pela entidade do mercado publicitário Grupo de Planejamento, mostra que o desrespeito nas relações de trabalho é uma prática infelizmente ainda muito presente no meio publicitário. Segundo o levantamento, feito com 1.400 pessoas do mercado de agências de publicidade, mais de 90% das mulheres já sofreram assédio sexual. Dentre estas, 30% foram assediadas pelo presidente ou por algum sócio da agência.O assédio moral também é uma constante que afeta 89% das mulheres e 85% dos homens.

Novos logotipos e novo portal Ao completar 21 anos da revista Advertising, a Athos Editora promove uma renovação de todos os logos de suas publicações: Press, Advertising, Adonline, Press Agrobusiness e Jornal da Capital. A atualização foi feita pelo designer Rodrigo Moraes, da Esparta Propaganda, que levou em consideração a necessidade da integração entre as marcas dos diversos veículos, passando a ideia de unidade e de transversalidade dos conteúdos produzidos pela editora. Os logos utilizam a mesma fonte, variando a paleta de cores, de acordo com a publicação. O resultado é um conjunto harmonioso, que guarda a identidade de cada veículo e, ao mesmo tempo, o integra.

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Nelci Guadagnin, diretora Executiva da Athos Editora salienta que essa atualização da logotipia dos produtos da editora se encaixa em outra decisão tomada na esteira da comemoração dos 21 anos da revista Advertising, qual seja a de integrar todas as plataformas digitais da empresa sob um único guarda-chuva. A partir da segunda quinzena de abril, todos os sites da editora estarão integrados ao Portal Press (www. revistapress.com.br). Assim, os sites www. adonline.com.br, www.revistapress.com. br/agrobusiness e www.jornaldacapital. com.br terão seus conteúdos abrigados pelo novo portal, que está sendo ultimado. Toda essa integração está sendo conduzida pela webdesigner Aletsiram Ribeiro.


OPINIÃO

A inteligência artificial na publicidade

A publicidade sempre foi obcecada com a compreensão do comportamento humano. A capacidade dos sistemas de inteligência artificial (AI) para transformar grandes quantidades de informações complexas e ambíguas em insights está dirigindo a análise pessoal aos estudos publicitários. Existem cerca de 2 bilhões de usuários do Facebook globalmente. Cerca de 200 bilhões de tweets são compartilhados no Twitter todos os anos. O Google processa 40.000 pesquisas a cada segundo. Temos a possibilidade de avaliar a atividade social de um indivíduo: cada palavra, cada imagem, cada emoji. Adicione a isso as localizações de telefones celulares, dados de cartões de crédito e informações como notícias e clima. Quando análises inteligentes são aplicadas a toda essa informação digital, podemos entender intimamente as motivações dos consumidores. Estas são ferramentas inegavelmente poderosas, e ninguém pode culpar o setor publicitário por querer adotá-las rapidamente. Mas a AI também apresenta considerações éticas preocupantes. Os anunciantes podem em breve nos conhecer melhor do que nós mesmos. Existem também considerações mais práticas em torno do uso de AI em publicidade: dados tendenciosos, algoritmos que tomam decisões erradas e violações da privacidade pessoal. Quanto mais completa a nossa compreensão de um indivíduo, mais

persuasivo será o nosso marketing. Mas isso levanta questões sobre as obrigações morais em relação a esse indivíduo - e a sociedade em geral. Por exemplo, a maioria dos publicitários concordaria que é aceitável usar a AI para atingir um consumidor que mostra interesse em carros esportivos. Mas e se você também soubesse que o consumidor tem múltiplas violações de leis de trânsito e tem um histórico de abuso de drogas e álcool? Ainda é recomendável oferecer um carro rápido para essa pessoa, de uma forma que tornaria quase irresistível? Em vez de julgar cada caso em seus méritos morais, é mais eficaz estabelecer diretrizes. Tal sistema incluiria três aspectos principais: dados, algoritmos e escolha do consumidor. A AI é alimentada por dados, que são usados para treinar algoritmos e sustentar o sistema. Se os dados são imprecisos ou tendenciosos de qualquer forma, essas fraquezas serão refletidas nas decisões tomadas pelo sistema AI. Em relação aos algoritmos, as AI contêm códigos que aprimoram os dados brutos. Eles determinam como o sistema opera, mas são projetados e desenvolvidos por humanos. Isso significa que suas instruções devem ser "explicáveis". Alguns chamam isso de "transparência algorítmica". A transparência, no entanto, não é realista neste contexto, porque a propriedade intelectual mais valiosa de uma AI está no algoritmo, e as agências não estão ansiosas para compartilhar esse código abertamente. Além disso, alguns sistemas

MARCELO BELEDELI beledelimarcelo@gmail.com

podem ser uma caixa preta, incapazes de explicar adequadamente sua fundamentação para qualquer escolha particular. Quando você não conhece as razões internas, a confiança autêntica não existe. Finalmente, os consumidores devem estar conscientes das técnicas que estão sendo usadas para comercializar os produtos e ter a opção de participar ou não dessas campanhas. A fim de fazer uma escolha informada, os consumidores precisam de uma explicação clara da troca de valor em qualquer campanha. O que estão fornecendo? O que estão recebendo em troca? E eles devem ser autorizados a não ser incluídos se estiverem em desconforto com a transação. Os publicitários precisam considerar o impacto social do trabalho que fazem. Existe uma linha que pode ser - e provavelmente será - atravessada com AI. Portanto, é preciso estabelecer as melhores práticas para o uso da AI em publicidade e entender as diferenças entre o que se pode, o que se deve, e o que não se deve saber.

Marcelo Beledeli é jornalista

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MIX

Mudança impacta publicidade

…e os preços também

Os primeiros dados sobre o impacto da decisão do Facebook de priorizar conteúdos de interação pessoal, anunciada em 11 de janeiro, apontam queda nas chamadas impressões de publicidade. Impressão é o número de vezes em que o anúncio é entregue ao usuário, aparece em suas páginas na plataforma. Segundo números da AdStage, um dos parceiros publicitários da rede social, as impressões já foram 3% menores em janeiro, em comparação com janeiro de 2017. Em fevereiro, eles foram 18% maiores em fevereiro ante o mesmo mês de 2017. No entanto, o percentual de crescimento anualizado é inferior ao que vinha sendo registrado até então (85% em outubro, 149% em julho).

Outro efeito da mudança no algoritmo do Facebook, pelos primeiros dados, é que o preço cobrado dos anunciantes saltou. Também segundo números da AdStage, o CPM (custo por mil impressões de publicidade) do Facebook foi 122% maior em janeiro, na comparação com o mesmo mês de 2017. Em fevereiro, o aumento do CPM foi de 77%. Segundo o site Recode, foram os dois maiores saltos anualizados nos preços cobrados pela plataforma, nos últimos 14 meses.

Marcas de Quem Decide O Jornal do Comércio, em parceria com a Qualidata, apresentou os resultados da 20ª edição da pesquisa Marcas de Quem Decide. A Grande Marca Gaúcha da pesquisa de 2018 foi a Gerdau, com 27,8% de lembrança e 24,1% da preferência dos consumidores. O levantamento elencou as empresas mais lembradas e preferidas em 73 categorias. Pela primeira vez, a edição contou com o apoio dos leitores para eleger o Top 10 de marcas mais admiradas, de uma lista de 60 nomes que se destacaram no cenário empresarial. 8

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MARCAS TOP 10 ● Cia Zaffari ● Hospital Moinhos de Vento ● Lojas Renner ● Panvel ● Rede Marista ● Pucrs ● Sicredi ● Tramontina ● Ufrgs ● Unimed


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ENTREVISTA

ANDRÉ TORRETTA

Há 20 anos, o tema da corrupção não era central na preocupação do eleitor brasileiro. Hoje, já não se aceita mais o “rouba, mas faz”! Nas últimas semanas o publicitário baiano André Torretta, 53 anos, se viu no meio do maior escândalo internacional que o mundo da comunicação sofreu nos últimos anos. Em 2017, sua empresa, a Ponte Estratégia, havia fechado uma parceria com a multinacional britânica Cambridge Analytica, uma companhia que prometia mudar, utilizando informações que os indivíduos deixam na internet - o chamado big data - o comportamento de eleitores e consumidores. No portfólio, a empresa tinha a famosa campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. As credenciais de Torretta para abrir as portas do Brasil à empresa eram impecáveis. O publicitário trabalhou como redator e diretor de Criação em empresas de comunicação, como Editora Abril, Editora Globo, Salles, Colucci e Duda Mendonça. Foi estrategista em campanhas políticas durante 15 anos, tendo atuado no Maranhão, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Roraima, Rio de Janeiro e na Argentina. A vivência muito próxima às camadas populares lhe rendeu conhecimento para lançar em 2001, a primeira agência de publicidade e o primeiro instituto de pesquisa voltados para o que chama de “a base da pirâmide”: as classes

Como recebeste a informação de que a sua parceira, a Cambridge Analytica, estava sendo acusada de roubar as informações de 50 milhões de pessoas no Facebook? Foi uma total surpresa. Não sabia de nada. A partir do momento que

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C, D e E. Torretta já era reconhecido como o maior expert brasileiro em marketing para as camadas populares. A ideia da parceria era trazer o método inovador da Cambridge Analytica para a campanha eleitoral brasileira, usando o know how de Torretta para “tropicalizar” o sistema dos britânicos. No entanto, em março, a Cambridge Analytica foi denunciada por ter obtido acesso aos dados de 50 milhões de usuários do Facebook - cerca de 15% da população dos Estados Unidos. As informações teriam sido adquiridas por meio de um teste de personalidade na rede social que capturava não apenas as informações do usuário que se submetia ao teste como também os dados de amigos daquele perfil. Os dados teriam sidos usados para fazer marketing político durante a campanha presidencial americana de 2016 O escândalo acabou por levar ao afastamento do CEO da Cambridge Analytica, Alexander Nix, e gerou perdas bilionárias ao Facebook. Com o escândalo, André Torretta rescindiu a parceria com a Cambridge Analytica. Nesta entrevista à revista Press, o empresário brasileiro fala sobre esse caso polêmico, o uso de Big Data no marketing e campanhas políticas no Brasil, além de outros temas.

apareceu a denúncia, foram 72 horas de um tsunami tentando entender o que aconteceu. Eles sempre passaram confiança. Mas a partir do momento em que ficou claro o que estava acontecendo, suspendemos a parceria, até porque não ti-

nha mais condições morais de continuar trabalhando com eles. Como era essa parceria montada com a Cambridge Analytica? Em 2016, fui procurado pela empresa. Eles queriam entrar no Bra-


Entrevista: Julio Ribeiro Marcelo Beledeli Fotos: Divulgação

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ENTREVISTA sil para fazer marketing político. Durante a conversa fiquei muito interessado pelo tema do mundo digital. A ideia deles era montar uma base de interesses em comuns. Eu teria acesso à tecnologia e metodologia deles, para identificação de targets. E eles teriam alguém que consegue abrir portas, no caso apresentar contatos certos para as campanhas. O que eles queriam era montar um banco de dados brasileiro. Mas a gente já tinha dificuldade de “tropicalizar” o método deles, e já estávamos planejando trabalhar num método próprio.

vive um momento previsto, mas novo. Ninguém achava que iríamos chegar a esse ponto de uma maneira tão rápida. É o momento de refletir em que mundo a gente quer viver. A Comunidade Europeia tem discutido, agora, os problemas de Estado, como controle maior das empresas de informação, o acesso aos dados dos cidadãos que moram lá. Essa é uma discussão posta na mesa e a gente não pode, no mínimo, negar o debate. É algo a parar e pensar, olhar para os lados e ver se é esse o mundo que a gente quer para os próximos anos.

Que dificuldades eram essas? Para começar, o volume de dados disponíveis que você tem de um cidadão nos Estados Unidos é muito maior do que no Brasil. Nossos bancos de dados são mais limitados. Além disso, a forma de comunicação aqui é diferente. O WhatsApp não é a rede mais utilizada na campanha dos Estados Unidos. O WhatsApp era pouco difundido nos Estados Unidos, é muito mais difundido no Brasil. Então, eu tenho uma realidade aqui que não tem lá.

A Comunidade Europeia tem discutido, agora, os problemas de Estado, como controle maior das empresas de informação, o acesso aos dados dos cidadãos que moram lá.

Com o fim da parceria, esse projeto de montar um método próprio de marketing dirigido vai prosseguir, e a tempo de ser usado para clientes ainda em 2018? Com certeza. Percebemos que tínhamos um volume de informação que eles não tinham e acabamos desenvolvendo nossa própria tecnologia. Isso nos dá segurança para não interromper absolutamente nenhum serviço da Ponte. O Big Data acabou por determinar o fim do anonimato. Não te parece o cenário previsto por George Orwell no livro 1984, em que todos nós estaríamos ao alcance do Grande Irmão? Não dá para negar que a gente

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E o indivíduo, que antes de ser um eleitor, um consumidor, é um indivíduo, não tem a opção, hoje, de não deixar rastros. É o fim da privacidade, do anonimato, da vida pessoal? É, não tem como não deixar de ser por "n" motivos. Muitas vezes se autoriza que alguém pegue os seus dados, como nos contratos de softwares. A gente não sabe muito bem como lidar com isso. É um extraordinário mundo novo. É uma questão de consumo, de vida, que a gente vai ter que olhar nos próximos anos. Esse caso da Cambridge Analytica mostra isso, é algo que não pode mais ser ignorado. Temos que pensar, enquanto sociedade, como queremos que nossa privacidade seja guardada. Se a

gente deixar do jeito que está, vai todo mundo, governos, empresas, terão controle de tudo, para o bem e para o mal. E o uso dessas informações por empresas, marcas, governos, candidatos políticos no sentido de adaptar seu discurso, sua narrativa, no sentido do que cada indivíduo quer ouvir… Isso não deixa de ser uma desonestidade intelectual? Bem, no caso que eu conheço, que é o meu trabalho, de marketing, o que existe é uma adequação do conteúdo. Ou seja, se você pega uma campanha presidencial, será que os gaúchos querem discutir, nessa campanha, a mesma coisa que os baianos querem discutir? Ou eles têm anseios diferentes, necessidades diferentes e conversas diferentes? Até então, no mundo da comunicação em massa, não havia essa possibilidade... Mas sempre houve o target das regiões, se imaginava por fatias... Isso não se podia fazer de forma eficiente. Na prática, a legislação mandava você entregar uma fita em Brasília e essa fita era replicada para todas as regiões. Então, eu não conseguiria ter, até anos atrás, uma conversa regional eficiente. E agora, a gente consegue fazer até por pessoa. A gente tenta conversar com as pessoas aquilo que é de interesse delas. Mas esse tipo de ferramenta que usa o big data, informações pessoais para marketing direcionado, não abre possibilidade de para cada público, um discurso? Tem duas questões: primeiro, uma que o programa de governo do candidato é um só, o que você pode mudar são os argumentos. O programa de governo você não muda. Um candidato não pode pro-


ANDRÉ TORRETTA meter uma coisa em Santa Catarina e outra na Bahia. Isso não existe. Até porque a oposição denunciaria. O que se muda é o modo de abordagem, isso é verdade. Quando eu vou abordar alguém do Rio Grande do Sul, eu abordo de um modo diferente de alguém do Mato Grosso, porque tem linguagens, palavras e questões que são diferentes, deixando assim a comunicação mais apropriada. Agora, você pode pegar isso e levar para o lado não legal e não moral, como qualquer ferramenta na mídia, que pode ser usada tanto para o mal quanto para o bem. Aí é uma questão do candidato e da equipe de comunicação e marketing que está trabalhando com o candidato. Na época da campanha do Obama, o We Can, o uso das redes sociais virou uma panaceia para todas as campanhas eleitorais. Agora, com a campanha do Trump, se utilizou o Big Data e virou febre. Esse modelos enlatados e prontos não encontram na realidade brasileira um enorme desafio? Sim, primeiro porque estamos falando de comunicação. Comunicação não é ciência exata. Ninguém tem a fórmula. Na verdade, toda vez se tem uma campanha nos Estados Unidos, há uma injeção muito grande de dinheiro e tem um salto tecnológico de alguma coisa em marketing eleitoral. Você agrega novas tecnologias. No Brasil, a gente tem uma legislação diferente da americana, isso já muda completamente o cenário. Além disso, somos um país pobre, comparado com os Estados Unidos. Isso significa que há um volume de dados disponível aqui que não é o mesmo de lá. Lá tem muito mais dados sobre a população do que no resto do mundo. E temos uma característica de linguagem, de personalidade, que não dá para replicar o modelo dos

Toda vez se tem uma campanha nos Estados Unidos, há uma injeção muito grande de dinheiro e tem um salto tecnológico de alguma coisa em marketing eleitoral.

Estados Unidos porque não vai dar certo. Tanto que a gente vê que os modelos de comunicação e marketing são adaptados ao Brasil e não o contrário. Quando eu vou a Porto Alegre, sei que tem características únicas. Eu adapto minha comunicação. A cerveja Polar é famosa porque tem uma comunicação regionalizada. Ou seja, ela entendeu seu consumidor. Então, a mesma coisa que a Polar fez no Rio Grande do Sul, eu tenho que fazer com esta panaceia tecnológica no Brasil. Eu preciso adaptar. Entender quais são essas características e as personalidades, que são diferentes. Lá todo mundo é protestante, branco e rico. Aqui já é mulato, católico e esperançoso. A gente está aqui no meio de uma crise econômica. Muda muitos as características, não existe uma fórmula única. Tu te aprofundaste sobre a nova classe C brasileira. Parece que

essa nova classe média viu no consumo uma possibilidade de ascensão social. Essa classe tem algum tipo de ideologia, de inclinação ideológica, política? Ou é meramente focada no seu interesse pessoal, na sua ascensão pessoal? Sim, houve essa ascensão brasileira através do consumo, o que não é ruim, porque a ascensão é bem vinda, seja política, social ou econômica. O brasileiro experimentou e teve o gosto do que é ter uma vida melhor, até cinco, seis anos atrás. E é claro que elas sentem saudade dessa época. Qualquer pessoa vai sentir saudade de uma época em que havia mais fartura. Então, essa nova classe média tem uma aspiração econômica que nunca teve na vida. A boa notícia é que ela também tem aspirações educacionais, quer estudar mais. Mas ela não está conseguindo ter a educação de qualidade que prometeram

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ENTREVISTA para ela. E os meninos que estão saindo da universidade, agora, não têm emprego. Eles fizeram a parte deles, mas o país também tem que fazer a sua parte também. Então, sim, essa classe continua com todos os desejos, todos os anseios. E quando a gente fala esquerda e direita, as pessoas não veem isso de uma maneira muito clara. O DataFolha fez uma pesquisa de matriz ideológica em que o Brasil tinha ido para a direita na queda da Dilma. Mas o Brasil voltou para o centro. Eu acho que o brasileiro quer, hoje, ganhos sociais. É impossível entrar nesta campanha política e não conversar com eles sobre corrupção, honestidade e ganhos sociais. O marketing político acabou assumindo uma imagem um pouco embaçada, de que é responsável por vender gato por lebre. Tens algum tipo de drama de consciência em fazer campanha para políticos notoriamente corruptos ou que não tenham produzido avanços sociais nos seus estados, no seu eleitorado? Se você escolhe essa profissão, você carrega um fardo. Na época em que eu escolhi essa profissão não era tão ruim como é hoje. Por conta dos escândalos e tudo que aconteceu, não é uma profissão muito benquista no mercado. Na verdade, não dá para argumentar, mas também não dá para fingir que essa não é a minha vida. Quando você aceita um cliente — e também quando um cliente te aceita — claro que passa pela cabeça todas as possibilidades e considerações do que aquilo representa, porque no Brasil matam o mensageiro achando que ele é o construtor da mensagem. É mais fácil xingar o marqueteiro político do que o político. Eu tenho alguns determinados tipos de políticos que eu prefiro não trabalhar e não trabalho, ao longo de toda

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Se pegar uma pesquisa do Ibope da época do Fernando Collor, corrupção não era o grande escândalo brasileiro. Agora, é a corrupção, essa roubalheira virou o ponto principal.

a minha vida. Eu, André Torretta, não gosto de trabalhar com os extremos. Acho que os extremos são ruins para a vida e para os negócios. Tu não farias campanha nem para o Psol e nem para o Jair Bolsonaro? Não. Acho que são extremos e não são bons. Existe esse universo aspiracional das classes da base da pirâmide, que está sempre dois, três degraus acima dela. O motoboy ganha R$ 1.500,00 por mês, mas tem um Iphone, tem um tênis Nike, trabalha o ano inteiro para comprar uma TV de LED. Isso é um fenômeno brasileiro ou é mundial? Isso é um fenômeno mundial, e independentemente da classe social. Se eu for para o Moinhos de Vento, vai ter um cara de Land Rover que mora num “buraco”. Ele só está com o Land Rover passeando

no Moinhos porque é chique. Assim como o cara está usando um Nike de R$ 1 mil porque é chique. O cara compra o carro todo invocado para quê? Para andar velozmente? Nem tem estrada para isso no Brasil. Como vês aspirações do eleitor médio brasileiro para as eleições de outubro? Corrupção e honestidade, hoje, é um primeiro ponto. Se pegar uma pesquisa do Ibope da época do Fernando Collor, corrupção não era o grande escândalo brasileiro. Agora, é a corrupção, essa roubalheira virou o ponto principal. Isso pode dar uma sensação de otimismo, porque, finalmente, o brasileiro começou a entender o tamanho deste problema para o país. A gente achava que isso era uma coisa menor, aceitava o “rouba, mas faz”. A gente perpetuava isso. Agora começou a se tornar um pecado que talvez não seja perdoável como era antigamente. Tem,


ANDRÉ TORRETTA também, uma questão que mudou na agenda do brasileiro que é a educação, que está entre os principais problemas e não era pensada há 20, 30 anos. Então, a gente está, por incrível que pareça, andando para frente. Estamos mudando nossos critérios. O critério da corrupção, nos anos 1990, era inexistente. Você não colocava em cima de uma mesa de discussão de uma campanha eleitoral essa questão da corrupção. O Paulo Maluf era o “rouba, mas faz”. E ninguém se chocava. Hoje em dia, temos uma moral que não permite isso mais. Temos uma disseminação grande de candidatos e não existe alguém que represente uma visão predominante na população. Num caso como esse, o marketing pode construir um candidato? O marketing pode ajudar sim a construir um candidato. É isso que a gente faz. Isso acontece como? Acontece dizendo para o candidato: temos 14 milhões de desempregados, você precisa dizer alguma coisa sobre desemprego. O marketing é simples assim. O que me parece é que não tem ninguém ouvindo ninguém, porque o que importa numa eleição é o que eu quero. "Ah, vamos discutir a reforma da previdência". "Não, não quero discutir a reforma da previdência, quero discutir desemprego". Quem dita uma eleição não é o candidato, é a população. Não está aí o grande tendão de Aquiles, por exemplo, do Jair Bolsonaro, que fala muito sobre segurança pública, sobre a questão da violência, armamento, desarmamento, e não consegue falar um pouco mais profundamente sobre economia? Ele tem um nicho, que é nicho das pessoas que acham que uma arma vai resolver o problema do Brasil. Então, nesse nicho ele navega como

ninguém, com uma competência absurda. O problema dele, agora, é sair desse nicho. Porque um presidente não pode ter apenas um discurso. Quem tem isso é vereador, é deputado, que ganha voto com discurso único. Ele precisa agora sair da bolha dele. E tu percebes algumas possíveis candidaturas que tenham essa possibilidade de um discurso de um espectro maior, que estejam mais preparadas para pegar uma encrenca como é administrar o Brasil? Vejamos o que está colocado na mídia. Você tem o Geraldo Alckmin. Querendo ou não querendo, ele foi governador de São Paulo. Apesar de seus escândalos, ele traz uma certa tranquilidade para o Brasil, gostando dele ou não. O Ciro Gomes, realmente, é um cara inteligente. Tem um verbo incisivo, muito bom. As pessoas têm um pouco de medo da sua instabilidade emocional, mas é alguém pra se prestar atenção. A Marina Silva, a gente não sabe qual é o posicionamento real dela, ela declara muito pouco. O Rodrigo Maia, não sei, ele se lançou há pouco tempo. Está todo mundo tentando se encaixar. O que eu não vejo é gente falando o que o povo quer ouvir. Aí entra a parte do marketing. E o presidente Michel Temer, achas que vai adiante? Alguém com 92% de rejeição?! É uma loucura! Estatisticamente falando, seria muito difícil. Ele teria que acertar a questão da violência no Rio de Janeiro em três meses. Você acha que a violência no Rio de Janeiro vai acabar em três meses? Com as novas tecnologias, a tendência é tornar as campanhas mais caras ou elas podem baratear o processo? Eu vou falar algo que talvez vo-

cês não acreditem, mas a verdade é que a campanha eleitoral, na parte do marketing, vem barateando há muitos anos. Se a gente lembrar as campanhas de 1998 e 2002, havia os chamados showmícios. Tinha Chitãozinho e Xororó, outros artistas populares contratados... Era um dinheiro absurdo. Com o tempo, a legislação, quase sempre, vem mudando para diminuir os custos das campanhas. Hoje, eu não consigo fazer um comercial para televisão usando externa. Eu só posso fazer dentro de um estúdio. Então, a campanha, hoje, já é mais barata do que foi em 2002, que foi a última campanha cara da história do Brasil. Hoje, se eu quiser fazer uma animação, mostrando uma ponte, eu não posso fazer. A regra, a lei, estabelece que eu não posso fazer. Hoje em dia, com um computador caseiro, eu edito um programa de televisão. Então, as coisas, ao contrário do que dita a lenda, diminuíram de preço. As máquinas diminuíram de preço. A única coisa que não diminuiu é o preço dos profissionais. Além disso, você tem agora uma estabilidade jurídica que, antes, não tinha. Se eu for fazer um contrato com um partido, eu tenho um "seguro legal" de que eu vou receber aquele dinheiro. Então, essa confusão toda que se tinha para pagar uma conta era ruim para todo mundo, porque você ficava sem saber o que iria acontecer. Agora, que o jogo está colocado de uma maneira mais límpida, se eu fui contratado pelo partido tal, o partido tal me paga. Se não me pagar, eu vou para a Justiça. Então, teoricamente, eu tenho uma estabilidade jurídica melhor. E é melhor que a gente olhe para essa profissão de marketing político com bons olhos, porque a profissão de marketing político sempre vai existir. Sempre vai existir, no mínimo, um redator do lado melhorando o discurso do político.

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MATÉRIA DE CAPA

Pesquisa

de mercado:

entre acertos e erros


A

Números, dados e opiniões têm o potencial de impulsionar negócios quando se juntam para indicar a aceitação à uma marca ou a um produto. Só que nem sempre o resultado atinge o objetivo, é quando a aposta em uma campanha se converte em perda

de tempo, de dinheiro e até de reputações.

s derrapadas acontecem e, não raro, ganham mais visibilidade do que se a publicidade assertiva. A campanha “Black is Beautiful”, vinculada ao lançamento do papel higiênico de folhas pretas da marca Personal, é um bom (ou mau) e recente exemplo. O problema estava no slogan que remete ao lema do movimento negro. A reação foi imediata, sobretudo nas redes sociais. As críticas foram tão pesadas que até mesmo a atriz Marina Ruy Barbosa, contratada para divulgar o produto, se manifestou, pedindo desculpas aos que se sentiram ofendidos. Esse é um problema que não se restringe ao lançamento de produtos. A publicidade no setor público também é, frequentemente, mal recebida. A prefeitura de Porto Alegre, em 2013, repercutiu nacionalmente por conta da campanha “Só uma mulher sabe”, elaborada para o Dia Internacional da Mulher. As frases, que deveriam homenagear, foram consideradas ofensivas por associarem a figura feminina a situações fúteis, como “só uma mulher sabe o que é perder a chave dentro da própria bolsa”. Ou, então, “só uma mulher entende o valor de um simples chocolate na TPM.” E a vaidade não foi deixada de lado: “só uma mulher sabe o drama que é estragar a unha logo após sair da manicure”. O desenvolvimento de novos produtos nem sempre traz o resultado esperado. Pelo contrário: mais da metade dos lançamentos fracassam. É o que indica uma pesquisa da Nielsen feita em 2012. O estudo avaliou a aceitação a itens de alimentação, limpeza, higiene pessoal e medicamentos sem prescrição médica. A análise foi feita durante quatro anos e concluiu que 54% das mercadorias verificadas estavam condenadas ao insucesso. Segundo o instituto, esse índice tão grande de rejeição é resultado de falhas relacionadas ao poder de atração dos produtos e ao desejo de compra dos consumidores. Ou seja, falta entender o que o público-alvo quer e qual é a melhor maneira de apresentar os produtos desenvolvidos. Usando um termo próprio do marketing, o erro está em não realizar testes de conceito eficientes. O preço a pagar por um deslize como esse é alto, engloba todos os esforços e custos de inovação e fabricação, quando não chegam a comprometer a credibilidade e a reputação da marca com campanhas publicitárias também desastrosas.

Onde está o erro? Se a recepção a uma marca ou produto é pesquisada e planejada previamente, por que algumas campanhas ainda assim dão tão errado? De acordo com Danielle Almeida, gerente de marketing da MindMiners, empresa especializada em pesquisa digital, os fatores principais são: tempo, erros na definição da amostra, tomada de decisão final e interpretações equivocadas dos resultados.

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MATÉRIA DE CAPA

A falta de pesquisas aumenta a taxa de erros no lançamento de campanhas e produtos O tempo, observa, é uma falha comum. “Eu vi isso acontecer muito em agências em que atuei”, comenta. “Dentro de uma agência não há muito tempo. Muitas vezes, a pesquisa é contratada, mas o time não pode esperar a pesquisa chegar.” Isso ocorre com avaliações de mercado que são mais demoradas, exigindo que a equipe de formulação se antecipe aos resultados. Existem, ainda, os erros na hora de definir a amostra da pesquisa. “A preocupação fica centrada no tamanho da amostra, mas esquece-se que o que importa é quem são as pessoas”, ressalta. Consumidores têm comportamento alinhado à proposta da marca, se o público consultado está fora desse contexto, as chances de haver distorções são grandes.

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Fora isso, a decisão final sobre a campanha ou produto a ser colocado no mercado nem sempre leva em conta os apontamentos da pesquisa. É o caso, por exemplo, quando o resultado contraria a ideia que os gestores têm. A opção por insistir na proposta inicial, mesmo assim, pode não ser a melhor. “A pesquisa dá direções e ajuda a tomar decisões, mas pesquisa não é exata, tem toda uma interpretação”, pontua Danielle. Se todos os processos foram feitos de forma cuidadosa, mas a análise dos dados, não, a eficácia também estará comprometida. O professor André Cauduro D'Angelo, da PUCRS, lembra que é preciso distinguir duas etapas importantes: a realização da pesquisa

de mercado e o processo criativo. “Da concepção à concretização, um longo caminho é percorrido, e a capacidade de tradução de uma ideia nem sempre é a mais feliz.” Fato é que a pesquisa de mercado é fundamental para aumentar a receptividade do mercado, mas não pode ser considerada a única responsável por eventuais equívocos. “Pesquisas permitem coletar e analisar informações, o que é importante para tomar decisões mais eficazes”, sinaliza D’Angelo. Ainda assim, “não são capazes de dirimir totalmente as dúvidas das empresas nem mesmo de substituir o papel do gestor, que em última análise é quem tem a responsabilidade e a prerrogativa de decidir, eventualmente até contrariando resultados de pesquisas”.


Do modelo tradicional para o digital O formato tradicional da pesquisa de mercado é o presencial, podendo conter perguntas quantitativas ou qualitativas. É o modelo de negócios dos grandes institutos de pesquisa, que exige tempo e recursos maiores do que no ambiente digital. Hoje, os dois métodos coexistem e têm tanto vantagens quanto desvantagens. O professor André D’Angelo destaca que, atualmente, o levantamento pode trazer resultado instantâneo. “Hoje, existe uma forma imediata de auscultar parte da opinião pública, através da repercussão de um assunto nas redes sociais.” A vantagem, frisa, é que esse é “um termômetro importante, especialmente quando se trata de gestão de crises de imagem e de anúncios de oportunidade”. A repercussão veloz permite identificar o alcance de uma crise, por exemplo. Já os memes e assuntos do momento ajudam a identificar abordagens possíveis de interação com o público. “Discute-se quão válidas são as pesquisas realizadas através desses canais, ou mesmo se o levantamento de dados relativos a eles é capaz de fornecer um cenário representativo da sociedade como um todo”, contrapõe D’Angelo. “Teme-se que, com as redes sociais, dê-se importância excessiva àqueles que fazem ques-

tão de se manifestar e se fazer ouvir, e que estes não necessariamente representam um retrato fiel da população, basta ver a eleição do Trump, garantida pela maioria silenciosa.”

App: maior base de dados com `menores custos As possibilidades de apuração no ambiente digital não se restringem às redes sociais. Os aplicativos são vistos como mecanismo para reunir um grupo diversificado de pessoas interessadas em participar de pesquisas de opinião em troca de pontuações, que geram retorno em serviços e produtos. Essa é a proposta dos apps MeSeems, da MindMiners, e Heap Up, da Opinion Box. As empresas, especializadas em pesquisas digitais, desenvolveram um formato que permite o acompanhamento das respostas em tempo real. Os contratantes das

pesquisas podem acessar os dados (com exceção da identificação dos respondentes) a qualquer momento, com a possibilidade de filtrar as informações. O Opinion Box possui duas soluções. “A Plataforma Opinion Box permite que o usuário crie sua pesquisa e realize todo o processo com autonomia, mas com acesso ao nosso suporte sempre que precisar”, explica o COO (executivo-chefe de operações) da empresa, Felipe Schepers. “Já as Pesquisas com Especialistas permitem atingir públicos mais específicos, recursos avançados de pesquisa e o projeto é conduzido do início ao fim pelo nosso time”, acrescenta. “Se eu já tenho consumidores reunidos em um lugar, só preciso ativá-los para fazer a pesquisa”, exemplifica Danielle Almeida, da MindMiners. “Já fizemos pesquisa de um dia para o outro.” O prazo

A publicidade no setor público também é, frequentemente, mal recebida. A prefeitura de Porto Alegre, em 2013, repercutiu nacionalmente por conta da campanha “Só uma mulher sabe”, elaborada para o Dia Internacional da Mulher.

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MATÉRIA DE CAPA

apertado, que continua pressionando as agências, já não chega a representar o mesmo risco de falha que tantas vezes a gerente de marketing viu ocorrer no mercado. Os participantes das redes criadas pelas empresas respondem a uma série de perguntas durante a criação do cadastro, que permite identificar padrão de consumo, perfil, escolaridade, renda, entre outros aspectos. “Quando a marca diz que precisa conversar com pessoas que consumiram chocolate nos últimos dias ou compraram carro no último ano, eu consigo selecionar na base apenas os participantes que se encaixam nessas características”, enfatiza Danielle. A gerente de marketing da MindMiners ressalta, ainda, que a pesquisa em ambiente digital pode ser verificada por analistas especializados. A credibilidade do serviço, que é contratado tanto por empresas quanto por agências, é outro destaque. “Muitas vezes a pesquisa é questionada porque falta transparência na condução. Com a tecnologia, é possível acompanhar todo o processo. Assim, também ajudamos as agências a ganharem espaço com seus clientes.” Com uma estrutura menos dispendiosa do que a tradicional pesquisa presencial, os custos dos levantamentos realizados em ambientes digitais são mais vantajosos. “Pela nossa experiência, as pesquisas feitas por um instituto tradicional chega facilmente entre R$ 120 mil e R$ 200 mil. Nós conseguimos fazer o serviço cobrando entre R$ 3 mil a R$ 5 mil. O preço é muito competitivo”, compara. “Com o crescimento da internet, tanto em desktops e notebooks quanto nos dispositivos móveis, como smartphones e tablets, ficou mais fácil alcançar os consumidores”, aponta Schepers. “Abrangência, recursos, velocidade e custo são

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as principais vantagens e como desvantagem pode-se citar a necessidade de uma comunicação bem clara, pois a entrevista acontece com autopreenchimento”, pondera.

Prático e barato, mas também tem limitações A tecnologia utilizada pelas empresas de pesquisa digital abre inúmeras oportunidades, mas, também, não está imune a falhas e a limitações. A gerente de marketing Danielle Almeida reconhece que há restrições, dependendo da intenção da pesquisa. O desafio principal é com relação ao público. Na base de respondentes da MindMiners, alguns perfis têm uma presença menor no uso de dispositivos mobile, o que limita o alcance do app. É o caso de pessoas que estão na classe social D e E, que representam apenas 3% da base. A idade é outro aspecto que precisa ser avaliado, já que faixas etárias mais avançadas também aparecem em menor proporção, a partir dos 50 anos e, sobretudo, acima dos 65 anos. Ou seja, há pesquisas que dependem dos institutos tradicionais para

terem um sucesso maior. “Existem institutos muito sérios com trabalhos de credibilidade, que nós respeitamos muito”, afirma Danielle. Ela exemplifica que levantamentos como intenção de votos dependem de uma base diversificada da sociedade, considerando regionalidade, classe social, entre outros padrões que nem sempre são alcançadas pelas redes online. Já outros desafios possíveis entre as pesquisas digitais, como a garantia de veracidade nas respostas concedidas, são resolvidos com inovação. “Quando rodamos uma pesquisa, nosso próprio robô consegue identificar distorções”, sustenta. O tempo de resposta, por exemplo, é um indicador. Existe um prazo médio previsto, se o participante envia a resposta em tempo inferior, provavelmente está dando respostas prontas. Essas são descartadas da pesquisa. “Por isso, sempre utilizamos um percentual superior ao número de respondentes necessário. Em geral, o percentual que temos que descartar varia entre dois e três por cento.” Por outro lado, algumas abordagens são desafiadoras para a pesquisa presencial. “Em métodos tradicio-


nais as pessoas têm dificuldade para se abrir sobre questões delicadas”, afirma. “A gente teve uma pesquisa sobre uso de fralda geriátrica”, exemplifica. “Também tivemos outra sobre sexualidade feminina e os depoimentos que obtivemos são incríveis. As pessoas abrem o coração, querem compartilhar.” Ainda assim, o novo formato vai se consolidando aos poucos. “Mais de 90% dos nossos clientes estão conosco desde o início, ou seja, voltam a realizar serviços ou aderir a planos anuais. O nosso desafio é ir para mais empresas, sobretudo, pequenas e médias, em que a prática de realização de pesquisas ainda é baixa.” A MindMiners, que no começo precisou investir em marketing para ganhar adesão ao aplicativo, hoje conta com uma base de cerca de 500 mil pessoas, com crescimento orgânico no número de downloads. A quantidade ativa por mês, entretanto, é muito inferior, chega a 60 mil pessoas. Isso porque há um mecanismo de rotação para variar a participação dos respondentes. Sobre a base de respondentes, o desafio da empresa é expandir o número

de participantes nas regiões Norte e Nordeste.

O que é fundamental?

Tecnologias imersivas ganham projeção Para onde vai a evolução tecnológica aplicada às pesquisas de mercado? De acordo com o professor André D’Angelo, a tendência está nas ferramentas imersivas, que aproximam o pesquisador da realidade do pesquisado. “Entram aí a observação, a apropriação da etnografia tradicional e a netnografia, que é uma tentativa de transpor para o universo digital a lógica da etnografia tradicional.” O uso de imagens, outro aspecto promissor, já começa a surgir como uma necessidade. “Vamos ter que incluir funcionalidades às nossas pesquisas, como vídeos ou fotos, microinfluenciadores e compartilhamento de experiência. A gente já teve que fazer essa adaptação com a inclusão de vídeo e fotos”, descreve Danielle Almeida. “Estamos começando a trabalhar com inteligência artificial”, sinaliza sobre as mudanças que já estão em curso no segmento.

Mesmo com todos os avanços e possibilidades, se a pesquisa não for bem elaborada, ela pode falhar. O COO da Opinion Box, Felipe Schepers, indica como ser bem-sucedido em quatro passos:

1. 2.

3. 4.

Defina qual é o objetivo da sua pesquisa, isso precisa estar claro desde o início; Estabeleça qual o público que você quer ouvir na pesquisa; não adianta fazer a pesquisa correta com o público errado; Elabore um questionário com perguntas que cubram os objetivos definidos;

Aplique uma quantidade de entrevistas que lhe dê tranquilidade em relação à margem de erro.

Danielle Almeida, da Mind Miners, e Felipe Schepers, da Opinion Box, falam sobre a importância do levantamento e da interpretação dos dados de uma pesquisa

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FAST FORWARD

Alberto Meneghetti é publicitário meneghetti@gmail.com

E

screvo esta coluna recém-chegado de mais uma incursão a uma das inúmeras feiras do agronegócio, que acontecem sem parar no nosso país rural e que movimentam – sempre para cima – o PIB brasileiro. E, como faço nestas ocasiões, converso com os produtores para saber como a digitalização e a introdução das novas tecnologias no campo os tem afetado, tentando entender em que estágio estamos e sabendo que o investimento em tecnologia é um fator que pode fazer a diferença no agronegócio brasileiro em 2018. E está claro que o protagonismo do campo só será alcançado, na sua plenitude, depois de minimizados os gargalos relacionados à infraestrutura básica, como a capilaridade da rede de internet de alta velocidade, além do fornecimento de energia elétrica de qualidade e melhoria das estradas. Até lá, os contrastes serão gritantes. Um dos dados mais importantes levantados na pesquisa Hábitos do Produtor Rural, feita pela Associação Brasileira de Marketing Rural - ABMR&A, foi que a internet chegou, definitivamente, ao campo, e isso não tem mais volta. O estudo mostrou os avanços e mudanças no perfil dos produtores rurais, a adoção de novas tecnologias e as relações e o envolvimento de quem comanda o campo com as novas formas de mídia e comunicação. E como isto se manifesta? Por exemplo, conheci hoje, pessoalmente, um dos mais recentes fenômenos da “web gaudéria”, o produtor rural Giovane Weber, que tem mais de 100 mil seguidores no Facebook e que transmite, como ninguém, através de vídeos criativos na sua página, as dificuldades e o dia-dia do homem do campo. Giovane é um cara especial. Faz questão de falar como um colono de Santa Cruz do Sul, fala perfeitamente alemão e é um autodidata. Ele virou um influenciador digital por sua capacidade de falar a mesma linguagem de seus pares e, assim, transmitir credibilidade.

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O artificialismo não tem lugar na comunicação do agro. O “novo” produtor rejeita propagandas com modelos e atores travestidos de agricultores e que miram seu bolso. Ele está se modernizando, incorporando novas tecnologias e mudando o modo de gerenciar os rumos do seu negócio. Nas minhas conversas, com pequenos, médios ou grandes produtores, comprovei que não existe mais espaço para uma vida sem internet, não importa o quão longe fica a sua propriedade rural. Netflix e leitura de jornais via assinatura digital são citados agora, da mesma forma que a TV aberta via parabólica e rádio eram a única forma de consumir conteúdo, tempos atrás. E, aproximadamente 3⁄4 dos produtores que tem acesso a internet costumam utilizar redes sociais. E para a troca de mensagens e comunicação, o WhatsApp tem a preferência de 96% dos produtores. Outra pesquisa recente, a “Tecnologia da Informação no


Dica de série na Netflix: THE RANCH: Já que o tema aqui da coluna é agro, a dica de série do Netflix é “The Ranch” (titulado no Brasil “O Rancho”). A série se passa numa fazenda no Colorado, detalhando a vida de dois irmãos tentando ajudar seu pai no rancho e é estrelada pelo Ashton Kutcher, Debra Winger, Sam Elliot e pelo Danny Masterson, melhor conhecido como o Steven Hyde do seriado That '70s Show. Foi criada por Don Reo e Jim Patterson, que foram produtores executivos de inesquecível seriado “Two and a Half Men” – daí a presença do Ashton Kutcher, também presente na última temporada desta. "The Ranch" se encontra em um cenário nas Montanhas Rochosas, onde Colt Bennett (Ashton Kutcher), retorna à sua cidade natal depois de uma breve carreira de jogo semi-profissional no futebol americano. Ele segue o negócio da família com seu irmão Jameson "Galo" (Danny Masterson). É uma ótima comédia dramática e leva um jeitão de sitcom, com suas câmeras múltiplas e público no estúdio, mas é muito mais que isto. Confiram. #ficaadica Agronegócio”, feita pelo Sebrae, identificou que 71% dos donos de microempresas rurais e 85% dos proprietários de empresas de pequeno porte no campo, usam smartphones para acessar a web. Esse resultado é expressivo se for considerado que o acesso médio da população brasileira à Internet por meio de aparelhos celulares é de 62% (segundo o Google Consumer Barometer). Para o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, a pesquisa confirma a necessidade de investimentos no meio rural, de modo a aumentar o acesso dos produtores às Tecnologias da Informação. “No mundo atual, onde o pequeno produtor precisa agregar valor ao seu trabalho e se diferenciar do restante do mercado, o acesso aos instrumentos digitais é algo fundamental para a conquista de novos públicos consumidores e para elevar o nível de competitividade do negócio”, comenta Afif. Falou e disse.

“O modo como você reúne, administra e usa a informação determina se vencerá ou perderá.” BILL GATES

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GRANDES NOMES

JOHN EMORY POWERS

N

LORD & TAYLOR Onde John Powers se tornou o primeiro redator em tempo integral do mundo

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a segunda metade do século XIX a publicidade era uma indústria que estava ainda nascendo. Nessa época de pioneiros, em que ainda se desenvolviam as relações entre os veículos de massa e as empresas que buscavam anunciar para o público, um nome se destacou em ajudar a criar o estilo de linguagem publicitária que seria o cânone durante o século seguinte: John Emory Powers. Primeiro redator em tempo integral no mundo, Powers trabalhou para as lojas de departamento Lord & Taylor e Wanamaker antes de se tornar um freelancer em 1886. Considerado o pai da propaganda criativa moderna, por ter lançados as bases da técnica publicitária atual, ele foi introduzido no Hall da Fama da Publicidade em 1954. John Emory Powers nasceu em uma fazenda em Augusta, no centro do estado de Nova York, em 20 de abril 1837. Era o caçula de 11 filhos do casal Moses Powers e Ann Wood. Inicialmente trabalhou como agente de seguros e depois viajou para a Inglaterra para vender as máquinas


O primeiro redator publicitário só escrevia

A VERDADE de costura Wilcox & Gibbs. Powers foi pioneiro no uso de muitas novas técnicas de marketing, incluindo anúncios de página inteira sob a forma de uma história ou peça, usos de teste gratuitos de produtos, planos de compra fáceis com parcelamentos, entre outros. Sua campanha criou uma demanda por máquinas de costura na Grã-Bretanha que Wilcox & Gibbs não conseguiu satisfazer. Na década de 1870, Powers começou a escrever anúncios para as lojas Lord & Taylor como um emprego de tempo parcial. Suas propagandas chamaram a atenção do dono da loja de departamentos John Wanamaker, um dos primeiros magnatas do varejo norte-americano. Considerado um dos pioneiros no uso do marketing para vender suas marcas - autor da famosa frase "Metade do meu dinheiro gasto em publicidade é desperdiçado, só não sei qual metade" - Wanamaker contratou Powers em maio de 1880 para produzir anúncios exclusivamente para suas empresas, em tempo integral, e levou-o para a Filadélfia para trabalhar na loja Grand Depot ( que mais

tarde mudou o nome para Wanamaker's). Powers escreveu seis anúncios por semana durante cerca de nove meses. Depois de muita experimentação com diferentes estilos, ele estabeleceu um formato de texto que apresentava inglês coloquial, frases curtas e letras em tipo simples romano sem itálico, ao invés de estilos de exibição hiperbólicos, como era comum em alguns anúncios da época. Durante o período em que Powers trabalhou para a loja, as receitas da Wanamaker’s dobraram de US$ 4 milhões para US$ 8 milhões. No entanto, o redator não se dava bem com outras pessoas que trabalhavam na empresa. John Wanamaker chegou a descrevê-lo como "o homem mais sem pudor" que ele já havia visto. Combinado com a insistência de Powers em ser sincero nos anúncios, isso às vezes causou tensão com seus empregadores. Wanamaker demitiu Powers em 1883, mas contratou-o novamente em 1884. Dois anos depois, ele foi demitido definitivamente da loja. Em 1886, Powers tornou-se redator freelancer e trabalhou para outras empresas, incluindo as lamparinas MacBeth, pílulas Beecham, Vacuum Oil (querosene), Scott's Emulsion (óleo de fígado de bacalhau) e os vernizes Murphy. No final da década de 1890, ele ganhava mais de US$ 100 por dia como redator, o equivalente a aproximadamente US$ 700.000 por ano atualmente. Powers teve uma forte influência na indústria de publicidade e na próxima geração de redatores. Ele adotou um formato de publicidade exclusivo que passou a ser conhecido como o “estilo Powers”. Usava linguagem simples, evitava exageros, manchetes limitadas a poucas palavras, e não usava desenhos ou ilustrações em seus anúncios. Também conhecido como o estilo "razão por que", seu estilo de redação estava em contraste com o estilo "Barnumesque" - termo oriundo de P.T. Barnum, showman e empresário de circos - que tinha como base afirmações radicais e exageradas ou recursos emocionais. Powers defendeu o uso de linguagem simples nos negócios, visando atingir o público mediano. “O lugar comum é nível próprio para a escrita de negócios, onde a primeira virtude é a simplicidade. A escrita fina não é apenas intelectual, é ofensiva”, destacava. Seus anúncios apareciam, invariavelmente,

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GRANDES NOMES com texto em fonte Caslon de 12 pontos, em uma única coluna, sem qualquer design gráfico, e dificilmente passavam de 100 palavras. Numa época em que a maioria das propagandas apresentava hipérbole, Powers tornou-se conhecido pelo foco em fatos. Recusava-se a escrever um anúncio para um produto, a menos que ele estivesse convencido de seus méritos. Ele declarou uma vez que o mais importante na publicidade é chamar a atenção do leitor por ser interessante e o segundo ponto mais importante é falar a verdade. “A primeira coisa que alguém precisa fazer para ter sucesso em publicidade é ter a atenção do leitor. Isso significa ser interessante. Depois disso, é preciso se manter verdadeiro, e isso significa retificar qualquer coisa errada no negócio do comerciante. Se a verdade não puder ser contada, conserte-a para que seja. Isso é tudo que é necessário.” Uma vez, enquanto trabalhava para a Wanamaker's, ele foi informado de que um departamento precisava se livrar de tecidos que estavam estragando. Ele escreveu um anúncio que continha a seguinte frase: “Temos muitos tecidos podres e coisas de que queremos nos livrar”. No dia em que o anúncio apareceu, os clientes compraram todo o excedente dos tecidos ao meio-dia. Outro de seus anúncios para Wanamaker's destacava: “O preço é monstruoso, mas não temos nada a ver com isso”. Para uma promoção de gravatas, escreveu: “Elas não são tão boas quanto parecem, mas são boas o suficiente - 25 centavos”. Quando Powers foi contratado por uma empresa de roupas quase quebrada em Pittsburgh, ele recomendou ao cliente ser honesto com potenciais clientes. O anúncio apresentou as seguintes palavras: “Estamos na falência. Este anúncio fará nossos credores agarrarem nossos pescoços. Mas se você vier e comprar amanhã, teremos dinheiro para encontrá-los. Se não, iremos ao paredão”. O anúncio resultou em um aumento imediato nas vendas, e a empresa em dificuldades foi salva da falência.

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John Emory Powers faleceu em 20 de abril de 1919, em Hartsdale, Nova York. Durante sua vida, ajudou a ressaltar a importância dos redatores, elevando seu papel em agências por todos os Estados Unidos. Antes do trabalho de Powers, poucas agências tinham seus próprios redatores. No entanto, o talento exibido por ele e a eficácia de seus anúncios fizeram com que muitas empresas pioneiras de publicidade reconsiderassem essa situação. Seus talentos eram tão incríveis para a época e sua influência na nascente indústria da publicidade e na geração seguinte de copywriters foi tão grande que a Printer’s Ink - a primeira revista norte-americana especializada em publicidade - escreveu: “Powers foi o primeiro verdadeiro redator publicitário, não apenas no calendário, mas levando em consideração suas conquistas e sua remuneração. Poucos — talvez nenhum — de seus contemporâneos chegou perto dele em habilidade. Naquele tempo, havia dois tipos de publicidade - o estilo de Powers e o resto”. Em suma, Powers foi um homem de grande criatividade, profissionalismo e determinação, que não poderia ser lembrado apenas por ser o primeiro redator publicitário profissional a trabalhar em tempo integral, mas sim deveria ser recordado sobretudo pelo seu estilo, genialidade e ideias, as quais ainda hoje podem ser exemplos para o mundo da publicidade, onde ainda hoje, em vários casos, ainda se utilizam técnicas enganosas e não exatamente educadas. `

SÓ VERDADE Ele adotou um formato de publicidade exclusivo que passou a ser conhecido como o “estilo Powers”. Usava linguagem simples, evitava exageros, manchetes limitadas a poucas palavras, e não usava desenhos ou ilustrações em seus anúncios



COLUNA DA ANA PAULA

anapaula@revistapress.com.br

Vem leitura boa por aí! Dia 9 de abril acontece em São Paulo o lançamento do esperado livro do publicitário Washington Olivetto, pela editora Sextante. No dia 11 de abril é a vez do Rio de Janeiro. Porto Alegre também está incluída no roteiro de lançamento. “É o lugar que mais se lê no Brasil”, opina. São 400 páginas de histórias da vida de Olivetto. Histórias que o transformaram num publicitário e não simplesmente a história de um publicitário. “Não é um livro dirigido a publicitários. É muito para todo mundo”, adianta. “Tenho a ambição de ser muito lido. Já tive o privilégio de estar na lista dos mais vendidos com Corinthians é Preto no Branco. Acho que este livro está bacana”, adianta. A foto da capa foi feita em Paris por ninguém menos que o talentoso fotógrafo Sebastião Salgado, amigo pessoal de Olivetto. Embora o pedido de escrever uma autobiografia fosse antigo, Olivetto só começou o projeto recentemente. “Comecei a vir para Londres para montar a estrutura de moradia e ficava 15 dias no Brasil e 15 dias aqui. Os dias sozinho ficavam muito compridos e, em outubro de 2017, comecei a escrever. Foi quando tive a ideia do título “Direto de Washington. W Olivetto por ele mesmo” é que me convenci de fazer o livro. Neste momento, pensei: Meu Deus! Eu preciso fazer este livro. Só eu posso escrever esta história. Me empolguei e fui ficando feliz com o resultado. Espero que as pessoas se divirtam tanto quanto eu me diverti escrevendo”, revela.

Pintar, surfar e amar. Morando no Havaí desde 2015, após vender sua parte na sociedade e deixar o comando da AlmapBBDO, que dividia Jose Luiz Madeira; Marcello Serpa, um dos criativos brasileiros mais premiados, divide sua rotina entre a pintura, o surf e a família. “Resolvi fazer um detox. Hoje me realizo pintando, pegando ondas e convivendo bastante com meus filhos. Adoro a publicidade, mas, durante 35 anos, já vivi todos os ciclos da propaganda, dei muitas voltas e fiz tudo que podia fazer”, conta. Alguma chance de voltar? pergunto. Serpa diz: “Nunca digo que deste mercado não viverei. Mas é difícil me imaginar num ambiente fechando, em reuniões. Se eu voltar para São Paulo, pode acontecer. No momento, não”. Final do ano passado, Serpa fez sua primeira exposição, chamada “Terebintina”, na Art Gallery, espaço cultural de Nova York. Dos 15 quadros expostos, dez foram vendidos e enviados para diversos lugares como Colômbia, Los Angeles, Miami, Rio de Janeiro e São Paulo. “Meus quadros são muito pessoais, coloridos e figurativos. Pinto sem censura”, conta.

Pressionadas pela menor remuneração, a nova realidade do mercado exige gestão extremamente competente e produtividade das agências. Com este propósito, a Fenapro, em parceria com os Sinapros, realiza este ano o projeto “Caixa de Ferramentas Essenciais da Agência de Propaganda” que vai percorrer dez cidades brasileiras. Os mercados para ativação presencial são: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Salvador, Campinas e São José dos Campos A ideia é reunir e apresentar diversas soluções que vão aprimorar os serviços prestados pelas agências. Segundo Alexis Pagliarini, superintendente da Fenapro, a entidade selecionou dez parceiros considerados estratégicos. Os encontros também terão conteúdo com palestras da Globo e Get Images.

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Ana Paula Jung é jornalista especializada em marketing e comunicação e também publicitária


Esse speaker vintage (foto) está sempre ligado na recepção da agência Morya, em Porto Alegre. O projeto criativo “Boombass” , desenvolvido pelo diretor de arte, Andre Mosquito, e pelo engenheiro eletro/eletrônico, Diego Pasetto, transforma malas antigas em caixas de som com bluetooth e bateria. Exclusivas, são vendidas somente por encomenda pelo instagram @boombass.

A pauta é ÉTICA A Nova/SB é a única agência brasileira de publicidade a conquistar o selo pró-ética, pelo segundo ano consecutivo. O selo é uma iniciativa da Controladoria Geral da União e o Instituto Ethos. À frente da agência está Bob Vieira da Costa, publicitário mineiro com longa experiência em comunicação pública. A agência tem a maior parcela do seu faturamento concentrada em verbas públicas. Uma das principais razões, segundo Bob Vieira da Costa, para investir em gestão de integridade corporativa. Bob, como se explica que um atestado tão emblemático como o selo pró-ética seja alcançado por apenas uma agência? Desinteresse ou falta de condições de atender às exigências? Não acho que seja isso. Primeiro, é preciso considerar que dá muito trabalho e custa bem caro implantar e praticar uma gestão focada em integridade corporativa. Não se trata apenas de um jeito de pensar, mas de fazer. Ou seja, você tem que se qualificar, verdadeiramente. Começando por uma coisa que eu mesmo não sabia que deveria ter e que, com exceção das multinacionais, não sei se alguma agência faz, que é uma prosaica auditoria nos números da agência. Só essa iniciativa nos custa 400.000 reais por ano. Claro que não vai custar isso para todas as agências, mas sempre é caro.

O que o motivou a buscar esse padrão ético que vai além do discurso, mas que leva a uma prática reconhecida? Certamente, a nossa dedicação ao atendimento de contas públicas é uma razão importantíssima. Todos nós sabemos da aura de suspeição que, tradicionalmente, paira sobre as licitações, gerando toda sorte de especulações. Então, nos perguntamos “o que podemos fazer para melhorar nossos processos, garantindo a lisura nas relações com os clientes governamentais?” Estudamos muito o conceito de integridade corporativa na gestão e concluímos que era sem dúvida a coisa certa a fazer. Foi muito difícil essa implantação no início? Não é uma tarefa simples. Mas tivemos um facilitador no fato de que boa parte do que se exigia já eram práticas nossas. Se não fosse isso, provavelmente, estaríamos no rol daquelas agências que acessam o site do pro-etica e desistem de candidatar-se, diante do rigor da avaliação e da quantidade de exigências. Dá muito trabalho. Para você ter uma ideia, para ganhar o selo de 2016, nós começamos a nos preparar em 2014. Sem falar do custo. Ter direito a este selo nos custa cerca de um milhão por ano.

Sócio-presidente da Nova/SB Comunicação

O que mudou no cotidiano da agência? Em primeiro lugar, ninguém mais faz as coisas como quer e porque quer, nem eu, é tudo muito bem controlado. Por exemplo, qualquer reunião, seja pelo motivo que for – uma simples mudança num plano de mídia – feita com agente público precisa ser relatada em detalhes, se almoçaram juntos, quem pagou a conta... Além disso, temos canais que são muito utilizados para denúncias anônimas ou não. Recebemos relatos de assédio moral, de suspeitas de negociações temerárias, tudo é levantado, investigado e esclarecido. Hoje, é um processo completamente incorporado e tocado naturalmente por todos.


ESPECIAL

Advertising e Gabriela comemoram 21 anos de vida!

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uando a revista Advertising estava por completar dois anos de vida (em 1999), surgiu a ideia de colocarmos na capa uma menina, que também tivesse dois anos. Foi quando escolhemos a Gabriela Zettermann, filha do casal Napoleão Zettermann e Karina Castelo Branco, uma menina linda, de sorriso fácil e que tinha tudo para um futuro brilhante. Agora, quando tanto a revista quanto a Gabriela comemoram a sua maioridade, os seus 21 anos, resolvemos revisitar aquela edição e, também, a nossa modelo. E não é que nossas previsões se confirmaram? Tanto a revista quanto a Gabi se tornaram adultas fortes, bonitas, cheias de sonhos e esperanças e com o futuro em suas mãos. Confira essa pequena entrevista com nossa modelo e concorde com a gente! Tu lembras alguma coisa de quando posaste pra capa de 2 anos da revista? Minhas lembranças, na verdade, são dos relatos dos meus pais. Minha mãe sempre lembrava de ter me arrumado de vestidinho e sapatinho para tirar as fotos da revista. Me recordo de ver a revista Advertising espalhada nas casas de todos da minha família, avôs, tios, primos e isso era, realmente, muito legal. Qual a tua expectativa sobre os 21 anos? O que a maioridade pode mudar na tua vida? A maioridade traz um sentimento maravilhoso de segurança e liberdade. E um dos momentos marcantes, pra mim, nessa transição pra maioridade, foi quando pude levar a minha irmã mais nova pra assistir um show, sendo eu a responsável por ela. Lembro que fiquei extremamente orgulhosa ao apresentar a minha carteira de identidade. O que tu estudas? Trabalhas? O que pretendes ser no futuro? Desde criança, eu afirmava, com convicção, que faria

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centivo. Meus pais, Napô e Karina, minha irmã Laura e meu namorado Matheus. Eles são a minha base, o meu porto seguro, são os meus exemplos que me levam pra mais perto da minha maior paixão: Jesus Cristo.

Curiosidades da edição de 2 anos

Direito quando crescesse. Lembro que as pessoas diziam "Ah, falta muito tempo ainda! Até lá tu podes mudar de ideia". No entanto, eu sabia que o Direito era a minha paixão. E, hoje, curso o 4º semestre de Direito na Faculdade do Ministério Público. E, a cada manhã de aula, saio mais realizada. No final do ano passado, comecei a estagiar no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. E confesso que achei muito incrível a primeira vez que vesti o crachá que estampava as palavras "Poder Judiciário". Me senti muito “gente grande”! (risos) Quanto ao futuro profissional, penso em trabalhar em algum órgão público. Quando tu eras criança, o que tu sonhavas e pensavas sobre a vida adulta? Quando criança, eu enxergava os adultos como verdadeiros super-heróis, que sabiam de tudo e podiam resolver todos os problemas. Hoje, aprendi que os adultos não sabem de tudo e, de fato, não podem resolver todos os problemas. No entanto, tenho percebido que adultos super-heróis podem existir sim! Eles podem ser vocês, ou até mesmo eu, quando entregamos o nosso coração naquilo que fazemos. Quando abrimos a nossa carteira e dividimos os nossos recursos com alguém que necessita, ou quando colorimos o dia cinzento de alguém. Tenho aprendido que, pra ser um super-herói, basta sair da zona de conforto e aceitar a incrível missão que é fazer a diferença. Tens planos para os próximos 21 anos? Sim! Muitos planos e sonhos! Quero poder fazer a diferença, com a minha futura profissão, nos lugares em que eu tiver a oportunidade de passar. Lutando, incansavelmente, por uma sociedade mais justa e inclusiva. Mas, tudo isso, só consigo sonhar porque tenho verdadeiros super-heróis ao meu lado, que me enchem de amor e in-

Duas décadas é muito tempo em qualquer mercado, imaginem no mercado da comunicação, que virou de cabeça pra baixo nesses 21 anos de revista Advertising! Por isso é curioso relembrar alguma noticias e matérias publicadas na edição de abril de 1999, quando comemoramos dois anos de circulação e a Gabriela foi capa: - A manchete de capa daquela edição 21 (que coincidência esse número 21!), dizia: “Em apenas dois aninhos já vimos muita coisa acontecer na propaganda gaúcha!”. Nem imaginávamos o que viria pela frente nas décadas seguintes! - Naqueles dias, Porto Alegre sediou o primeiro encontro regional da Associação Brasileira de Agências de Propaganda – ABAP para a apresentação e discussão do CENP – Conselho Executivo das Normas-Padrão, que pretendia certificar 2.300 agências em todo o país. O CENP se tornou realidade, pelas mãos do saudoso Petrônio Corrêa e acabou servindo de parâmetro para as negociações de remuneração de agências, especialmente em relação ao setor público. - Uma das noticias na seção de Internet dizia, em clima de euforia, que o ano 2000 deveria chegar com cerca de 3,8 milhões de brasileiros conectados à internet. Hoje são perto de 120 milhões de usuários no Brasil, ou seja, um crescimento na ordem de 3.000%. - Nelson Sirotsky, então presidente do Grupo RBS, escreveu em artigo intitulado “Gato que late” sobre a necessidade, crescente, dos players do mercado publicitário, fazerem mais e melhor como única forma de se manterem relevantes e vivos no novo cenário de desregulamentação que estava por vir. “...há quem se protege pela qualidade do que faz e outros que tentam se apegar a regulamentação. Os primeiros levarão vantagem na disputa por mercado...”ncentivo. Meus pais, Napô e Karina, minha irmã Laura e meu namorado Matheus. Eles são a minha base, o meu porto seguro, são os meus exemplos que me levam pra mais perto da minha maior paixão: Jesus Cristo.

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GALERIA

Começa a era do Spam Poucas coisas irritam tanto na internet quanto o spam. A grande maioria das caixas de e-mail sempre estão cheias deles, forçando os usuários a apagar diversas mensagens inúteis até selecionar apenas as que lhes interessam. Dependendo de quem está contando, acredita-se que o spam representa hoje 90% do tráfego mundial de e-mails - muito disso enviado através de robôs ou empresas especializadas em mensagens. A maior infâmia do marketing na Internet começou há 40 anos. O primeiro spam foi enviado em 3 de maio de 1978 por Gary Thuerk, funcionário da empresa Digital Equipment Corporation (DEC). A mensagem, que convidava para uma apresentação de produtos da empresa, foi enviada para 393 usuários da Arpanet, rede de computadores gerida pelo governo americano e que, eventualmente, se transformou na internet.

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reação à mensagem enviada em 1978 também mostra o início de uma guerra contra o spam. Revoltados, usuários da Arpanet inundaram a caixa de entrada de Thuerk com reclamações e pedidos de retratação. No entanto, a mensagem de Thuerk, além de limitada, pode ser considerada apenas como um mero convite. O primeiro caso célebre de spam comercial aconteceu em 12 de abril de 1994, graças a dois advogados do Arizona, Laurence Canter e sua esposa, Martha Siegel, que iniciaram a primeira campanha de spam comercial em massa do mundo. Eles usaram um script feito por um programador de Phoenix para criar anúncios para seus serviços jurídicos, que auxiliavam pessoas a conseguir o Green Card - o visto de residência nos EUA para estrangeiros. O esquema envolvia incentivar as pessoas a se inscreverem na "loteria do Green Card”, que ocorre quando o governo dos EUA aloca uma quantidade limitada de vistos para não cidadãos, permitindo que eles permaneçam e trabalhem no país. Canter e Siegel se ofereceram para fazer a papelada por uma taxa. Eles omitiram o fato de que aqueles que queriam entrar na loteria tiveram que enviar um cartão postal com seu nome e endereço para o departamento de Estado dos EUA. Laurence e Martha Canter enviaram seu anúncio com o título "Green Card Lottery - Final One?" para ao menos 5.500 grupos de discussão da Usenet, um grande número

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na época. Não importava que a maioria dos destinatários não precisasse de tais serviços oferecidos - eles foram “spamados”. Como não pode deixar de ser nesses casos, várias linhas ESTAVAM EM MAIÚSCULAS. O spam do casal provocou alvoroço. Seu provedor de serviços de Internet, Internet Direct, recebeu tantas queixas que seus servidores de e-mail caíram repetidamente por dois dias. No entanto, apesar da ira dos usuários contra os advogados, eles postaram novamente outro anúncio, em junho de 1994, para 1.000 grupos de notícias. Isso forçou a Usenet, pela primeira vez, a usar um robô que cancelava mensagens. Em uma entrevista ainda em dezembro de 1994, eles afirmaram que o esquema lhes rendeu 1.000 contatos e que ganharam US$ 1 mil ao custo de apenas centavos. Em maio de 1994, criaram uma companhia chamada Cybersell. Costumavam se promover como experts em vendas online, chegando a lançar um livro chamado “Como Fazer uma Fortuna na Supervia da Informação”. Canter mais tarde alegou não se arrepender de liberar spam. "Alguém teria feito se não tivéssemos feito isso", declarou. E se houver um meio que valha a pena se comunicar, algumas empresas e grupos vão acreditar que vale a pena enviar spam. Painéis de mensagens, comentários de blog e sites de redes sociais têm que lutar contra o flagelo desencadeado pelo infame spam do Green Card de 1994.


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