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EDITORIAL
Café com leite e pão
E
u cresci ouvindo meu pai contar várias histórias sobre Brizola e Getúlio Vargas. Um trabalhador braçal a vida toda, o seu Alcebíades não tinha como não ser trabalhista. Uma dessas histórias sempre aguçou a minha imaginação. Contava ele que, certa vez, pra manter o preço do café e não entregá-lo de graça para os gringos, Getúlio teria mandado atulhar um rio com café. Eu fica imaginando um rio transformado numa enorme cafeteira, com correntezas de água marrom, inundando as cidades ribeirinhas. Ao mesmo tempo, eu achava aquilo um desperdício. Por que não dar o café para os pobres em vez de aterrar um rio? Eu não entendia a lei da Oferta e Procura. Aliás, continuo não entendendo e só a consigo explicar pela ganância do ser humano. Bem, a história, na verdade, foi um pouco diferente. O crash da Bolsa da Nova York, em agosto de 1929, quebrou milhares de empresas, levou milhões de pessoas à miséria. Num único dia, foram perdidos 4 bilhões de dólares em ações. Isso gerou um efeito cascata em todo mundo, paralisando a economia ocidental. Não se tinha mais dinheiro para nada. Aqui no Brasil, os efeitos foram devastadores, nossas exportações caíram quase 70% e o preço do café, nosso principal produto de exportação, caiu 90% em apenas cinco meses. Era a ruína. Getúlio, que recém tinha assumido a presidência do país, na chamada Revolução de 30, que depôs Washington Luis, pondo fim à política do Café com Leite (que alternava presidentes de São Paulo e Minas Gerais) precisava tomar uma atitude, justamente, para garantir o preço do café nos mercados internacionais. Ele, então, mandou o governo adquirir 18 milhões de
sacas do produto, que estavam estocadas no porto de Santos e, durante todo o segundo semestre de 1931, mandou queimar tonelada por tonelada do grão. Uma enorme coluna de fumaça negra pairava sobre a cidade de Santos, e o cheiro impregnava a tudo num raio de muitos quilômetros. A medida drástica surtiu efeito e os preços voltaram a subir, normalizando a vida dos cafeicultores e de amplos setores da economia brasileira, uma vez que o café respondia por 70% de nossas exportações — o Brasil detinha 60% do mercado mundial do produto. Lembro dessa história ao ver a crise porque passam dois outros produtos essenciais para o agronegócio brasileiro: o trigo e o leite. Ou seja, o pão e o leite precisariam de medidas de ajuda do governo federal, se não tão extremas como a que Getulio tomou com o café, pelo menos, com o mesmo intuito de garantir a vida de quem os produz. O baixo preço do trigo e do leite tem expulsado milhares de produtores, que buscam na soja e em outras culturas um mínimo de ganho para continuar vivendo no e do campo. O governo federal não precisa queimar milhares de toneladas trigo e nem derramar milhões de litros de leite, bastaria manter amplos estoques reguladores e, se for o caso, usá-los em programas sociais de combate à fome e à pobreza. O que não dá é para continuar sacrificando o produtor brasileiro, com uma concorrência totalmente desequilibrada com o produto de outros países (trigo argentino e leite uruguaio, por exemplo) e um sem número de exigências legais que tornam a atividade desestimulante e o nosso produto sem qualquer competitividade. Que falta nos faz um Getúlio!
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SUMÁRIO
RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE CEP 90160-240 FONE: (51) 3231.8181
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Editorial
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Entrevista: Gedeão Pereira
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Capa: renda baixa com tarro cheio
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Eleições
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Na contramão do desmatamento
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Exportações em alta
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Safra: redução esperada
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Arroz: dificuldades sufocam produtores
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Insumos: tarifa zero de importação
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Crédito agrícola
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Vinho: da campanha gaúcha para o mundo
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Soja transgênica
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Carne suína: driblando embargos
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Efeito estufa
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Inspeção sanitária
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Gestão no campo: qualificação
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Mix
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Tabaco: sistema centenário de produção
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Mercado do azeite em ascenção
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Mix
www.revistapress.com.br/agrobusiness | e-mail: agro@revistapress.com.br Diretor Geral JULIO RIBEIRO
Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA
Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN
Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN
Reportagem CRISTIANO VIEIRA Designer ESPARTA PROPAGANDA Fotografia: JEFFERSON BERNARDES/ Agencia Preview
A revista PRESS AGROBUSINESS é uma publicação trimestral da Athos Editora Ltda, com circulação por mailling regional e nacional, voltada aos diversos segmentos produtivos e institucionais do setor primário do Rio Grande do Sul. Os artigos assinados e opiniões emitidas por fontes não representam, necessariamente, o pensamento da revista e de sua editora.
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Praga chinesa Voz aos produtores
A vigilância agropecuária internacional (Vigiagro), ligada ao Ministério da Agricultura, evitou a entrada no Brasil do besouro chinês ou oriental, praga que poderia causar prejuízo de bilhões de dólares na fruticultura e nas florestas plantadas. A equipe que atua no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), identificou a existência de larvas e insetos adultos da praga em restos de embalagens de madeira usados como calços de cargas. O material era procedente de voo originário do aeroporto de Amsterdã, na Holanda. A madeira foi submetida à fumigação com brometo de metila e, em seguida, destruída.
Para elaborar o Plano Safra 2018/2019, que deve ser lançado no fim do primeiro semestre, o Ministério da Agricultura pretende ouvir as demandas dos agricultores. Conforme o ministro Blairo Maggi, é importante saber dos produtores se precisam de mais recursos para custeio ou para investimento, se querem juros mais baixos com prazos mais curtos ou prazos mais longos que terão juros maiores. Atualmente, estes parâmetros são definidos pela equipe econômica do governo federal.
Selo anticorrupção Defesa agropecuária Em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura, irá implantar o Programa de Modernização e Fortalecimento da Defesa Agropecuária (Prodefesa). O total investido deve chegar a US$ 200 milhões (US$ 195 milhões do BID e US$ 5 milhões do Brasil). O programa pretende controlar e erradicar pragas vegetais e doenças de animais (como a aftosa), além de melhorar os serviços de defesa agropecuária.
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Até 31 de maio, estão abertas as inscrições para o Selo Agro+Integridade, prêmio de reconhecimento às empresas do agronegócio que adotam práticas de governança e gestão capazes de evitar desvios de conduta e de fazer cumprir a legislação, em especial a Lei Anticorrupção. Estão aptas à premiação empresas do agronegócio de pequeno, médio ou grande porte, inclusive as cooperativas. Mais informações em agricultura.gov.br.
Consumo de café Biodiesel em alta
Relatório divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) revelou que, em 2017, o consumo de café aumentou 3,3% no Brasil em relação a 2016. Foram 21,5 milhões de sacas de café processadas para consumo dentro do País – o Brasil mantém, assim, o posto de segundo maior consumidor de café do mundo, atrás dos Estados Unidos. Em produção, contudo, o País ainda lidera o ranking mundial, com 45 milhões de sacas de café na última safra.
O mês de março assinala o início da mistura obrigatória de 10% de biodiesel no diesel, medida que vale em todo o território nacional. Para atender a uma demanda estimada em 5,4 bilhões de litros/ano, o Brasil conta com 51 usinas espalhadas pelas cinco regiões. Com o programa RenovaBio, que incentiva a programação sustentável de combustíveis, a projeção é de que, até 2030, sejam 109 unidades produtivas distribuídas pelo interior do País, para atender uma demanda estimada em 18 bilhões de litros de biodiesel por ano.
Amazônia Dose menor de vacina
Relatório elaborado pela Associação Brasileiras das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) indica que, ao contrário do que é divulgado, o cultivo da soja não é responsável por grande parte do desmatamento na Amazônia. Segundo monitoramento por satélite, nos últimos 11 anos, a área com soja respondeu por apenas 1,2% das terras desmatadas do bioma. E boa parte desse plantio acontece em áreas de pastagens já degradadas anteriormente.
O Ministério da Agricultura definiu que, em maio de 2019, começará a ser aplicada a vacina contra a febre aftosa de 2 ml. Todo o calendário de vacinação deste ano segue sem mudanças, em maio e em novembro, com a vacina de 5 ml. A forma de aplicação do produto, no entanto, deverá ser preferencialmente subcutânea (abaixo do couro do animal) e não intramuscular, já a partir da primeira fase de vacinação em maio próximo, para maior eficiência e para evitar perdas no abate. Este foi um dos motivos alegados pelos Estados Unidos para suspender a compra de carne bovina brasileira no ano passado.
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“Precisamos ser a China do agronegócio”
GEDEÃO PEREIRA PRESIDENTE DA FARSUL Por: Cristiano Vieira Fotos: Jefferson Bernardes
Desde janeiro, quando assumiu a presidência do Sistema Farsul após o falecimento de Carlos Sperotto, o produtor rural Gedeão Pereira mudou completamente sua rotina. As viagens à sede da entidade, em Porto Alegre, ficaram mais frequentes para o médico veterinário de 68 anos – ele mora no interior de Bagé, em sua propriedade próxima da fronteira com o Uruguai. De integrante da oposição na primeira eleição de Sperotto para o comando da Farsul, há 20 anos, Pereira virou homem de confiança e grande amigo do ex-presidente. Cabe a Pereira, agora, completar o mandato de Sperotto até o fim deste ano. Na entrevista, ele comenta a proximidade entre ambos, sua gestão na Farsul e os desafios do agronegócio brasileiro e gaúcho, afirmando que o Brasil precisa ser a China do agronegócio.
do Hugo Paz aqui em Porto Alegre, eu presidia o Sindicato Rural de Quando terminou a eleição, abracei o Sperotto e disse: ‘meu sindicato te apoia incondicionalmente, a Farsul é maior do que nós.’ Aí ele me convidou para a comissão. Passei a privar mais da convivência com ele porque foi uma época muito conturbada da nossa história. Como tínhamos que viajar constantemente a Brasília para conversar com o ministro da Reforma Agrária, que era o Raul Jungmann, eu tinha mais intimidade com o Sperotto do que muitos outros membros da diretoria.
O senhor assumiu a presidência da Farsul em janeiro, tendo o desafio de suceder a Carlos Sperotto, que comandou a entidade por 20 anos. Como está sendo isso? Bem corrido, de início. Mas, minha trajetória aqui acompanha a do Sperotto. Eu vinha de vice-presidente da casa há três mandatos. Ultimamente, como primeiro vice. O presidente Sperotto não abria mão da minha presença. A origem da minha história na Farsul era de oposição a ele. Na sua primeira eleição eu era um dos vices da chapa de oposição. Ele me trouxe para cuidar da comissão fundiária da federação, depois fui para diretor da casa. Após, virei segundo-vice e, então, vice-presidente. Isso no período de 20 anos, o tempo que ele esteve aqui na presidência.
Essa amizade iria se consolidar ao longo de duas décadas. Sim, tanto que, nas penúltimas três eleições, ele chegou a me convidar para assumir a Farsul em seu lugar. Eu nunca quis, porque sempre achei que o Sperotto era um grande líder, além de ter sido um grande amigo. Então, vamos dizer, nós concordávamos internamente para que ele continuasse presidente. Inclusive, na última gestão, nós reunimos a diretoria e informamos que ele seria nosso presidente novamente: “O senhor tem o nosso apoio. Vamos seguir nessa jornada”. Então, tínhamos, entre aspas, culpa pelos 20 anos de gestão do Sperotto. Fomos parceiros dele neste período de presidência. Infelizmente, aconteceu o inesperado, um problema muito sério de saúde que terminou levando nosso presidente. Como eu era o primeiro vice-presidente, tive que assumir a Farsul e adaptar meu sistema de vida.
De opositor a colaborador? Desde o primeiro ano de mandato do Sperotto, passei a integrar a gestão. Assumi a comissão de assuntos fundiários, uma das mais difíceis da Farsul. Isso bem no auge da reforma agrária, das lutas fundiárias. Antes disso, na gestão
Como está sendo concluir este último ano do mandato? O agronegócio não está em seus melhores momentos, podemos dizer assim. Temos uma crise forte com a lavoura orizícola. Tivemos várias reuniões para tentar equacionar essa questão e, com um
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ENTREVISTA trabalho forte da Farsul, conseguimos que o governo federal realizasse leilões de arroz. Temos outra crise intensa no leite, na área do trigo não é diferente, embora o pessoal ainda esteja em cima da lavoura de soja e o trigo fica mais para a frente. A soja é o que ainda está razoavelmente bem. E o Funrural? É outro ponto de preocupação. Pessoal passou a ter uma dívida monstruosa determinada pelo STF referente a um período que não houve recolhimento. Também, o fim da contribuição sindical compulsória nos preocupa. Estamos em busca de alternativas para garantir a sobrevivência dos sindicatos. Segundo nosso ponto de vista, a reforma trabalhista feita ano passado foi muito boa para o Brasil, mas ela terminou com a contribuição sindical obrigatória. Esse ponto foi apoiado por nós também, porque não é possível que um País tenha 17 mil sindicatos. É demais. Evidentemente, sabíamos que teríamos que arcar com duras consequências. Temos um sistema patronal que visa sempre a produção, com assistência aos nossos produtores rurais. É um sistema sindical livre. Não estamos atrelados a nenhuma ideologia, a não ser a da produção, do trabalho. Por isso que a eliminação da contribuição compulsória iria respingar em nosso caixa. Isso aconteceu e estamos redirecionando a casa porque achamos que devemos ter um sindicalismo que chegue lá no produtor rural e tente diminuir os problemas que atingem a propriedade rural como um todo. Isso passa por uma conscientização sobre a importância da Farsul para o produtor. Evidente, já que não temos ideia de como é trabalhar sem um siste-
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ma sindical nos últimas 60 e poucos anos, o tempo do sindicalismo brasileiro. No caso dos sindicatos rurais e da federação, estamos seguidamente interferindo nas questões que atingem o produtor rural. A própria reforma agrária como foi feita no Brasil. Aqui no Rio Grande do Sul, hoje, os seus impactos já desapareceram. Ainda há alguns assentamentos remanescentes que não mostraram a que vieram. Outro exemplo forte de atuação da Farsul foi a liberação da transgenia. Foi um debate intenso na época, com vários setores da sociedade rejeitando a transgenia, e fizemos um trabalho forte em cima disso. Existia, também, um endividamento muito grande no setor rural, para o Brasil produzir uma safra de 80 milhões de grãos. Esse endividamento foi saneado, diga-se de passagem, por um trabalho muito eficiente do ex-
-presidente Sperotto. Aquele Brasil, hoje, produz 240 milhões de toneladas. Tivemos uma atuação importante também na elaboração do Código Florestal Brasileiro. O próprio Cadastro Ambiental Rural (CAR), praticamente concluído, foi realizado com nosso apoio. No Rio Grande do Sul, que pontos merecem atenção da Farsul? Trabalhamos fortemente as questões ambientais porque chegamos a um ponto de engessamento no estado do Rio Grande do Sul devido às leis ambientais. Qualquer coisinha é suficiente para trancar uma obra, em todos os setores, também comércio e indústria. A federação tem ido atrás para minimizar o impacto e pedir a simplificação na liberação dos licenciamentos ambientais. É um trabalho junto aos órgãos reguladores, como a Secretaria Estadu-
al do Meio Ambiente, do próprio Ibama. São ações de impacto que, muitas vezes, passam desapercebido pelo produtor rural. Talvez tenhamos que vender melhor nossa imagem, e essa é um mea culpa que estou fazendo. Devemos melhorar a comunicação com a nossa base, com os produtores. Um dos setores em dificuldade hoje, assim como o arroz, é o leite, que vive uma crise, devido a questões como preço e falta de um sucessor na propriedade. Como minimizá-la? A atividade rural como um todo é muito trabalhosa. Talvez o leite seja mais, porque ele não tem feriado, e, faça chuva ou faça sol, tem que trabalhar. Nas outras atividades também, mas elas te dão a oportunidade de planejar melhor. Ainda assim, em épocas de colheita dos grãos, o produtor não descansa. No caso do leite, percebemos que a média e a grande propriedade estão trazendo o jovem de volta para o campo. Isso não ocorre, com a mesma intensidade, na pequena propriedade pelas dificuldades inerentes à escala de produção. No mundo capitalista, tudo tem que ter escala. Cada vez temos que produzir mais e vender por um preço mais baixo para sermos competitivos em qualquer lugar do mundo. O sucesso da China é esse: vender quantidade e qualidade a preço baixo. O Brasil tem que ser a China do agronegócio. Mas o Brasil já é um grande player do mercado agrícola internacional. O que falta? Sim, mas temos que ser mais. Quais os nossos problemas hoje? Esbarramos em problemas fora da porteira. Temos a burocracia estatal, como já citei aqui os licenciamentos ambientais, e a falta de infraestrutura. Isso reduz nossa competitividade - são
aquelas questões que chamamos de custo-Brasil. Às vezes estamos bem localizados, próximo a um porto, mas falta a estrada, ainda de chão. E, hoje, o transporte é feito em grandes caminhões, como carretas. Então, se esbarra nessas questões de infraestrutura que são questões de Estado mas, no Brasil, o Estado virou o fim, não é mais o meio. Tanto município, Estado e federação. Vivemos uma situação dramática. Para mudar isto precisaria uma reforma maior, institucional ou política? Possivelmente sim. O Brasil necessita de muitas reformas, como política, de previdência. E também precisamos rever o conceito de estabilidade do funcionário público. Isso em todos os poderes. O País está morrendo assim. Na empresa privada, se ela vai mal, demite para sobreviver e, hoje, precisamos é de empreendedorismo para resolver questões sociais. O social se faz pela produção, pela eficiência. Todos os países desenvolvidos do mundo caminharam pela via capitalista, do empreendedorismo, da criação de emprego. Aí está o fator social. Quando você tem um Estado engessado, ele precisa melhorar sua gestão mas não consegue reduzir o quadro funcional. Ele vai morrendo. Há municípios nessa situação. Veja o Rio Grande do Sul. Está parcelando folha de pagamento. Não conseguimos diminuir o tamanho do Estado. Passamos nós, empreendedores rurais, comerciais, industriais, a trabalhar para sustentar um Estado paquidérmico. Esta é uma reforma que precisa ser feita, mas ninguém fala. Seria a principal reforma, na minha ótica, mais importante até que a da previdência. Não conseguimos, nós brasileiros, carregar um Estado do tamanho que está.
E há muitos privilégios a combater... Pelo fato de vivermos em uma democracia, vocês da imprensa estão tendo a liberdade de descobrirem essas coisas e publicarem. Novamente digo: nós não estamos suportando mais, e voltamos à pequena propriedade, às dificuldades do produtor de leite. Daqui a pouco, o filho dele, que poderia ser empreendedor, tem mais atrativos no serviço público que na iniciativa privada, porque o setor privado não consegue acompanhar o que paga o Estado. É desvio de função essa situação. Então, somando tudo: falta de escala da pequena propriedade, a burocracia, menos competitividade... ela atrai menos as pessoas. Apesar disso, o agronegócio gaúcho evoluiu muito. Sem dúvida. O agronegócio brasileiro, não só o gaúcho, é referência, mas o Rio Grande do Sul é a origem de tudo no agronegócio nacional. A agricultura brasileira explodiu, nos últimos 30 anos, com muita influência do povo gaúcho. Teve gente que atravessou o País, foi parar lá em Roraima, levando nossa agricultura para todos os lados. É inegável esse sucesso do agronegócio e a balança comercial brasileira demonstra isso. Ano passado, o superávit apenas do agronegócio foi de US$ 82 bilhões. O Brasil, cada vez mais, depende do mercado internacional, por isso precisamos ser a China do agronegócio, mais competitivos. Neste caso, a soja é o grande destaque. O Brasil pode vir a ser o maior produtor mundial, passando os Estados Unidos? Depende de mais produtividade? Olha, precisamos de duas coisas. Não adianta ter excesso de produção se não conseguir vender. Está aí o caso do arroz. Temos um es-
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ENTREVISTA toque de passagem de 1 milhão de toneladas e ainda temos que competir com o arroz do Mercosul. Há disparidades muito fortes no Mercosul, isso vale também para o trigo e para o leite. São problemas que, com o custo-Brasil, tornam o arroz nacional menos competitivo que o paraguaio. Não é muita coisa que eles produzem, cerca de 800 mil toneladas, mas é suficiente para mexer com o mercado. Entra muita coisa para abastecer parte do Centro-Oeste, São Paulo e Minas Gerais. E tem mais as 8 milhões de toneladas de arroz desta safra. Como resolver isso? Abrir mercados. E tem sido assim em tudo, na carne bovina, no frango. Vendemos para 170 países. Não há falta de nada neste País, o agronegócio supre as gôndolas dos supermercados e ainda tem excedentes para exportar. O mercado do futuro, para nós, é a Ásia, sem dúvida. Os custos de produção são uma barreira para expandir mercados. Claro, veja o Mercosul. Tudo isso são tratados de comércio, um país sério faz isso. Mas tem que ter equilíbrio. Não que não possamos importar, mas temos que ter liberdade também no sentido de que os insumos vendidos na Argentina, no Uruguai e no Paraguai sejam os mesmos que o produtor brasileiro compra. Descobrimos, recentemente, que um produto químico feito no Brasil e vendido no Uruguai custa, lá, 400% menos do que para o produtor brasileiro. São brigas que temos que fazer no Mercosul. Comércio internacional é uma via de mão dupla. Se o Brasil compra arroz do Paraguai e leite do Uruguai, isso faz parte do jogo, porque a indústria vende para eles automóveis e geladeiras. Mas, pedimos igualdade nos custos de produção. Aqui, agora, os combustíveis não param
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de subir, fora a energia elétrica. Cada vez temos mais irrigação na agricultura, então precisamos de energia. Isso sem contar a comunicação. Meu caso pessoal, lá em Bagé, na minha propriedade próxima ao Uruguai. Eu tenho sinal de internet muito bom, mas levado por nós. Falando em interior do Estado, a Farsul iniciou recentemente visitas a municípios. Qual o propósito? Estivemos recentemente em São Sepé buscando uma interiorização da federação. Vamos intensificar essa agenda junto aos sindicatos rurais porque queremos mostrar aos produtores o nosso pensamento para a Farsul sem o presidente Sperotto. Vai comigo toda a diretoria, também a Casa Rural e o Senar, isso aqui é um sistema. Brasil e Rio Grande do Sul terão safras menores. Qual a expectativa para o agronegócio gaúcho neste ano? Nossa previsão é de diminuição de 2% a 3% na safra deste ano porque viemos de uma base muito elevada em 2017 – foi um ano perfeito, inclusive com chuvas re-
gulares, o clima ajudou. Neste início de ano, há focos de estiagem em vários pontos do Rio Grande do Sul. Todo o verão, de modo geral, foi seco. Sempre existiu seca no Estado, é cíclico. Devemos é nos preparar. Por isso precisamos investir em irrigação. Quanto à safra, passamos de 36 milhões de toneladas ano passado, então, se cair um pouco, ainda será uma grande produção. Viemos aí de quatro anos de resultados crescentes. O senhor será candidato na eleição deste ano à presidência da Farsul? Não, ainda não sabemos. Nossa diretoria está preocupada com a administração da casa e em atender à expectativa do “novo”. Estamos vivendo dois momentos, eu diria. De um lado, a orfandade, porque perdemos um grande líder, que ficou 20 anos na condução da Farsul lutando pelo agronegócio; de outro lado, temos a novidade, que sou eu na presidência. Estamos gerenciando esta equação no momento, cuidando da administração da Farsul. A eleição é em outubro – até lá, com certeza, algum candidato desta casa será anunciado, mas não é a nossa preocupação no momento.
MATÉRIA DE CAPA
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Renda baixa com o tarro cheio Por Cristiano Vieira
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MENOR PREÇO EM DEZ ANOS Historicamente, o valor recebido por litro de leite oscila. Enquanto em junho do ano passado estava em R$ 1,25 por litro, entrou 2018 com o produtor recebendo, em média, R$0,94.
uando questionados se há um sobrevivente no campo, a resposta dos especialistas em agronegócio é unânime: o produtor de leite brasileiro. Ninguém enfrenta tantos desafios quanto ele para se manter na atividade, sustentar a família e ainda investir no próprio negócio — geralmente, com muito sufoco. Nos últimos dois anos, fatores como custos crescentes de produção e baixo preço por litro, redução no poder de compra das famílias e aumento nas importações atingiram em cheio o tarro do agricultor. Alguns reduzem a produção e aumentam o cultivo de grãos ou hortaliças, procurando assim garantir um pouco de renda, mas muitos estão simplesmente desistindo do leite. Ao direcionar a lupa para o Rio Grande do Sul, o cenário não é diferente. A produção de leite, embora gire R$ 4,6 bilhões por ano (valor do que é produzido no campo, industrializado e comercializado), segundo a Emater, ganhou status de atividade de risco. Em dois anos, 25 mil produtores abandonaram o leite e buscaram sustento em outras opções, como cultivo de grãos, fumo ou hortaliças. Eram 195 mil propriedades leiteiras em 2015 – ano passado, esse universo caiu para 173 mil propriedades no Estado. A região Sul, capitaneada por Pelotas, é um dos principais polos produtores de leite no Rio Grande do Sul. Ano passado, o percentual de agricultores abandonando
a atividade chegou a 9,5%. “Essa indefinição quanto ao preço torna difícil, para o produtor, fechar a conta. Aqui estão pagando R$ 0,80 por litro, isso mal cobre custos. Então ele se vê obrigado a mudar para sobreviver”, explica Ronaldo Maciel, gerente-adjunto da Emater em Pelotas. Historicamente, o valor recebido por litro de leite oscila. Enquanto em junho do ano passado estava em R$ 1,25 por litro, entrou 2018 com o produtor recebendo, em média, R$ 0,94. É o menor preço em dez anos. A questão não é apenas de preço baixo, mas sim sem margem de ganho: se receber R$ 0,94 e o custo chegar a R$ 0,80, ainda há um pequeno lucro – o problema é quando o custo empata com o preço pago, aí a conta finaliza de um jeito só: prejuízo. É o que mais tem ocorrido nos últimos meses. “Ano passado, o primeiro semestre, tanto para indústria quanto para produtores, não foi ruim. O cenário mudou nos meses seguintes e a indústria fechou o ano passado no vermelho. Mas esperamos uma recuperação nos próximos meses, com crescimento do PIB e aumento na renda”, avalia, Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do RS (Sindilat-RS). A Associação dos Pequenos Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil-RS) estima que 2017 fechou com aumento de 6% na produção de leite e queda de 4%
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MATÉRIA DE CAPA no consumo – ou seja, no Brasil, há um excedente hoje de 10% do produto. Não à toa o preço acaba caindo e muitos operam no vermelho. “A recuperação depende, essencialmente, da elevação da renda da população, algo difícil em um país com 13 milhões de desempregados”, destaca Wlademir Dall’Bosco, presidente da Apil. A queda drástica dos preços no segundo semestre de 2017 prejudicou as margens dos produtores e, para uma parcela mais vulnerável, estimulou o abate de vacas, a mudança de padrão genético do rebanho e a cria de bezerros para uma gradual transição para o mercado de corte. Tem sido comum, em muitas propriedades, o leite ceder espaço para o fumo: diversos produtores têm retomado o plantio de tabaco, cultura que tem comprador fixo e cujo valor pago por quilo passou de R$ 4,93 em 2011 para R$ 8,63 no ano passado. Para o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do RS (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, o caminho mais rápido é reduzir os estoques – segundo ele, o trabalhador não consegue, simplesmente, diminuir sua produção. “Ele fez investimentos, precisa pagar as contas. Os custos como energia elétrica e óleo diesel não param de subir”, ilustra. A demanda por lácteos está diretamente ligada ao poder aquisitivo da população. Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Universidade de São Paulo (USP), a busca por produtos como iogurtes e queijos (com exceção do leite UHT) é elástica à renda - ou seja, o consumo aumenta à medida que o poder de compra se eleva. “O ano de 2017 começou bem e terminou muito ruim. Já faz
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A Associação dos Pequenos Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil-RS) estima que 2017 fechou com aumento de 6% na produção de leite e queda de 4% no consumo – ou seja, no Brasil, há um excedente hoje de 10% do produto
BALANÇA COMERCIAL Em 2017, o País importou US$ 562 milhões e exportou apenas US$ 113 milhões (principalmente leite condensado e leite em pó) – um déficit, em dólares, de US$ 449 milhões.
três anos que o setor enfrenta problemas, o principal deles o enfraquecimento da demanda. Isso é causado pela redução na renda e ocorre desde 2017. A crise econômica se agravou, obrigando o consumidor a buscar alternativas”, explica Natália Grigol, pesquisa do Cepea. Para a entidade, 2018 apresenta um panorama mais promissor - ao lado da demanda, as perspectivas de recuperação da atividade econômica devem melhorar as vendas. A taxa de juros e a inflação devem continuar em queda e o PIB deve crescer entre 2% e 3%. Com isso, é esperada uma melhora da taxa de emprego e aumento no consumo das famílias.
Uma atividade peculiar Ao contrário de outras atividades rurais, a produção de leite tem suas peculiaridades. O produtor não pode estocá-lo à espera de preço, como faz quem planta soja ou milho. Lida com um produto altamente perecível, que necessita de resfriamento
eficiente e transporte sem demora até a indústria. Já o café, por exemplo, pode permanecer até dez anos guardado em silos à espera de preço melhor. O gerenciamento também é complicado. Novamente comparando com os grãos, em que há um calendário anual e o agricultor pode planejar custos com maior eficiência, a atividade leiteira exige trabalho diário: faça chuva ou faça sol, seja feriado ou dia útil, a vaca deve ser ordenhada. “Na cadeia de gado de corte, por exemplo, o produtor ainda tem poder de negociação. Pode segurar um pouco o boi. Na pecuária leiteira isso não existe”, explica Natália Grigol, do Cepea. Em nenhuma outra atividade rural a falta de mão-de-obra é tão problemática. A produção leiteira é característica da agricultura familiar: segundo dados da Emater, em média, as propriedades rurais não ultrapassam 19 hectares. São pessoas da própria família que tocam o negócio, muitas vezes passado de pai para filho. Um trabalho que, por mais que a tecnologia e a assistência rural sejam eficientes, ainda é consideradO penoso e afugenta muitos jovens, que buscam melhores condições de vida em centros urbanos. Mesmo assim, agricultores como Éder Machado da Silva, da localidade de Linha Porongos, em Estrela, ignoram o cenário desolador e investem na atividade, apostando na persistência como forma de se manter no negócio. Através do Programa de Gestão Sustentável da Agricultura Familiar, operacionalizado pela Emater por meio de convênio com a Secretaria de Desenvolvimento Rural Pesca e Cooperativismo (SDR) do Governo do Estado, Silva tem conseguido equilibrar as finanças, na ativida-
de que desenvolve desde o começo de 2017. Desde então, aumentou o rebanho (atualmente, nove vacas produzem 100 litros diários de leite) e investiu em uma sala de ordenha canalizada, com resfriador. Segundo o agricultor, a gestão da propriedade é essencial – além de registrar todas as informações da propriedade em uma planilha, procurou ainda a redução de custos como forma de permanecer na atividade. Silva passou a, ele mesmo, produzir as mudas para a eventual necessidade de implantar novas áreas com pastagens para o gado. De acordo com a Emater, a forma de trabalho adotada por Silva e por sua família (a esposa atua em uma indústria, mas deve retornar para a propriedade e o filho de 17 anos já auxilia na rotina diária) é uma tendência para os próximos anos, especialmente em meio ao cenário de instabilidade vivido pelo setor.
Logística cara e baixa produtividade Soja, milho, carne bovina, avicultura – para onde se olhe nas principais pautas do agronegócio, o Brasil disputa palmo a palmo o mercado internacional com grandes players como Estados Unidos, Europa, Rússia e China. Entretanto, quando o tema é leite, o cenário muda. O País fica longe dos indicadores de países como Nova Zelândia e nossos vizinhos do Mercosul Argentina e Uruguai – nestes, a produtividade alcança 12 mil litros por vaca/ano. No Brasil, a média é de 3 mil litros por vaca/ano. Houve evolução nos volumes.
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MATÉRIA DE CAPA O Brasil saltou de uma produção anual de 20 bilhões de litros de leite em 2000 para cerca de 36 bilhões de litros em 2017 (dados ainda estimados). Minas Gerais lidera o ranking de estados produtores, enquanto Rio Grande do Sul e Paraná disputam ano a ano o segundo lugar e estão praticamente empatados. “Um dos nossos maiores problemas é que a produção de leite está espalhada pelo País inteiro. Isso resulta em altos custos de captação, para a indústria, e também gastos elevados com a logística para levar o produto para a indústria e depois ao varejo”, avalia João Cesar de Resende, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG). Segundo Resende, outro ponto é a baixa escala – no Brasil, o setor é pulverizado em pequenos produtores. Novamente, na Argentina e na Nova Zelânda, para comparação, ocorre o contrário: são distâncias menores, com fazendas concentradas em áreas geográficas pequenas. Isso aumenta a competitividade destes países porque o custo de produção é
menor que o registrado no Brasil. Mesmo internamente, essa distribuição irregular se torna um empecilho. “Quando vendemos para outros estados, nosso leite custa mais nos principais mercados consumidores, como Rio e São Paulo. Perdemos competitividade devido ao frete elevado. Enquanto isso, grandes produtores, como Minas e Goiás, estão mais próximos”, avalia o presidente do Sindilat-RS, Alexandre Guerra. Na visão do dirigente, seria necessária uma ação mais direta do governo neste ponto, com desoneração fiscal, principalmente no leite UHT. Caso o Brasil fosse exportador de leite, poderia “enxugar” o mercado interno e melhorar os preços para produtor e indústria. Aqui, mais uma vez, outra lição de casa ainda não executada: além de não exportar o excesso de leite, nós ainda importamos lácteos – principalmente, leite em pó (55% do volume total) uruguaio e argentino. “Eles têm maior produtividade e custos menores que os nossos. Difícil competir”, salienta Guerra.
E a balança comercial dos lácteos é amplamente desfavorável ao Brasil. Em 2017, o País importou US$ 562 milhões e exportou apenas US$ 113 milhões (principalmente leite condensado e leite em pó) – um déficit, em dólares, de US$ 449 milhões. A boa notícia é que 2017 terminou com redução nas compras – cerca de 7% menos. Os dados são da Viva Lácteos, associação que reúne os maiores laticínios do Brasil. Atualmente, as exportações alcançam 53 países, nove a mais que em 2016. Marcelo Martins, presidente da Viva Lácteos, ressalta que o Brasil deve apostar na exportação para consolidar a sua posição no mercado internacional, mas identifica entraves nesse cenário. “Tivemos um aumento de 4% na produção de lácteos em 2017 em relação a 2016, mas não conseguimos embarcar o excedente porque o nosso preço de mercado interno está desalinhado em relação aos valores praticados no exterior. Em 2016, a diferença era de 70% e caiu para 25% em 2017. Por esse motivo, a única maneira
Alexandre Guerra Presidente do SINDILAT-RS
Wlademir Dall’Bosco Presidente da Apil.
João Cesar de Resende pesquisador da Embrapa
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de sermos competitivos é aproximar o nosso preço ao do mercado internacional”, avalia. Já o pesquisador Glauco Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, afirma que o leite está se tornando uma atividade cada vez mais profissional no Brasil. “O setor leiteiro sempre aguentou desaforos, mas isso está mudando e mudando muito rápido. Neste sentido, a velocidade das decisões e a capacidade de adaptação vai fazer toda a diferença”, conta. Para ele, produzir leite é uma das atividades mais complexas da agropecuária e por ser complexa, nem todos terão êxito e serão competitivos. “Por outro lado, muitos produtores vão seguir crescendo com a incorporação de tecnologias de produção e de gestão. Nesse processo, trabalhar a motivação das pessoas, realizar treinamentos e a buscar por maior produtividade é um fator primordial”, completa.
Consumo per capita: muito a crescer Se os custos elevados tiram competitividade do leite brasileiro no concorrido mercado internacional, uma das alternativas é elevar o consumo per capita de leite e derivados entre a população brasileira. Por aqui, cada habitante consome, em média, 160 litros anuais de leite e derivados (como queijos, iogurtes, requeijão e outros produtos). A título de comparação, há países europeus com média anual de 250 litros por habitante – na vizinha Argentina, essa relação é de 240 litros por ano. João Cesar de Resende, da Embrapa Gado de Leite, sugere uma campanha governamental
A CADEIA DO LEITE NO RIO GRANDE DO SUL
A CADEIA DO LEITE BRASIL
- Alcança 491 dos 497 municípios do Estado
- Ainge 1,3 milhão de propriedades rurais
- 173 mil propriedades (96 mil produzem para consumo próprio; 65 mil fornecem para indústria; 3,5 mil vendem leite cru direto a consumidores; 7,8 mil vendem produtos como queijos e iogurtes)
Rebanho - 23 milhões de vacas
REBANHO - 1,3 milhão de vacas
PRINCIPAIS PRODUTORES - Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás
PRODUTIVIDADE POR ANIMAL - 3,4 mil litros/ano VOLUME ANUAL RS - 4,4 bilhões de litros
Produtividade por animal - 3 mil litros/ano Volume anual - 36 bilhões de litros
RIQUEZA - Cerca de R$ 30 bilhões por ano
RIQUEZA - Cerca de R$ 4,6 bilhões por ano
incentivando o consumo de leite. Segundo ele, é necessário aumentar as vendas na faixa etária que menos consome o produto, como adolescentes e adultos jovens. “Leite é bom para a saúde e temos que atingir essa turminha dos 17 anos em diante, consumidora de refrigerantes”, pondera. A seu favor, sobra informação positiva: o leite não é um alimento facilmente substituído por outro produto, porque é difícil consumir todos os nutrientes necessários em uma dieta saudável sem incluir lácteos, principalmente o cálcio, o potássio e a vi-
tamina D, que estão relacionados à saúde pública. Para Wlademir Dall’Bosco, presidente da Associação dos Pequenos Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil), aumentando o consumo per capita para 180 litros por habitante/ano, o Brasil já conseguiria atingir um ponto de equilíbrio, no mercado interno, satisfatório para produtor, indústria e consumidor de laticínios. “Precisaríamos, para isso, de um aumento entre 10% e 15% na compra desses produtos pela população brasileira”, completa ele.
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ELEIÇÕES
ANO ELEITORAL Para quem vive no campo, assim como o homem urbano, os investimentos e as decisões dependem de acompanhar o cenário político.
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De olho em Brasília
E
conomia e política costumam trilhar o mesmo caminho – uma segue a direção da outra, seja por motivos como votações polêmicas no Congresso Nacional ou downgrade da nota do Brasil (como visto recentemente). Em ano eleitoral, com indefinição sobre quais serão os candidatos à presidência da República, muita especulação em pesquisas e uma agenda de reformas para lá de complicada, a política tende a dominar o cenário conjuntural. Para quem vive no campo, assim como o homem urbano, os investimentos e as decisões dependem de acompanhar o cenário político. Cláudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), acredita que há fatores econômicos que demonstram um certo descolamento da política. “O aumento do emprego ainda é tímido, mas a economia está crescendo, os juros estão caindo. Isso é fundamental para mantermos uma perspectiva positiva quanto ao ano”, avalia ele. O ano de 2017 terminou com leve crescimento de 1,5% no mercado de máquinas e implementos agrícolas. Parece pouco, mas é um alívio em um segmento industrial que amargou três anos sucessivos de redução nas vendas. A melhora do cenário vista em 2017 deve se repetir neste ano, segundo Bier, mas tudo a partir do que ocorrer em feiras como Expodireto e Expointer.
“Nossos companheiros estão esperando alta de 5% nos negócios nas feiras”, completa. Para José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA), “nada se descola da política”. As dificuldades pelas quais passa o setor arrozeiro, por exemplo, com problemas de preço e de comercialização, segundo Weber, só serão minimizadas com apoio político. Weber atua em um setor que teve um ano de 2017 complicadíssimo, com suspensão da compra de carne bovina pelos Estados Unidos, a operação Carne Fraca e o escândalo da JBS. Mesmo assim, apesar das expectativas contrárias, as exportações subiram 9,5% ano passado, com 1,5 milhão de toneladas de carne bovina embarcadas.
“O ambiente é de incerteza, uma vez que o cenário eleitoral ainda não está definido e há vários candidatos com boas chances”
“A verdade é uma só: o mundo hoje quer proteína vermelha e apenas quem tem produto de qualidade pode ganhar mercado. Estamos fazendo isso no Brasil. Houve uma má interpretação na operação Carne Fraca, mas o setor se recuperou. Hoje, o programa Carne Angus é um dos destaques da cadeia de carnes. Temos uma demanda forte, mas falta oferta”, explica Weber. Ele salienta que essa maior oferta passa por mais qualidade no processo de acabamento da carne nos frigoríficos. O volume de cabeças abatidas ano passa-
do se manteve estável – cerca de 500 mil – mas a produtividade aumentou 18% no caso dos animais Angus. “Os frigoríficos aproveitaram melhor as carcaças, reduzindo assim também seus custos”, avalia Weber. Outro ponto importante e que ganhou repercussão a partir dos embargos à carne brasileira é a discussão sobre a retirada da vacina contra aftosa. Por mais que as questões técnicas sejam colocadas na mesa, a decisão é política – depende de reuniões e decisões do Ministério da Agricultura. O presidente da ABA sugere cautela no tema. “Não estamos perdendo mercado por vacinarmos o rebanho, pelo contrário. Não conseguimos atender aos pedidos. Seja por questões cambiais ou de produção interna. Desde quando vacinar é ruim? A vacina é um avanço para preservar a saúde dos animais e das pessoas. A vacinação contra aftosa já está incorporada na nossa estrutura produtiva”, conta Weber. Em janeiro, o Ministério da Agricultura anunciou que, em maio de 2019, começará a ser aplicada a vacina contra a febre aftosa de 2 ml – atualmente, o volume é de 5 ml e vale para o calendário de vacinação deste ano. A forma de aplicação do produto, no entanto, deve ser preferencialmente subcutânea (abaixo do couro do animal) e não intramuscular, já a partir da primeira fase de vacinação em maio próximo, para maior eficiência do produto e para evitar perdas no abate. Segundo o secretário de Defesa Agropecuária, Luis Rangel, é preciso cautela, medidas técnicas e estudos científicos, pois o Brasil está em fase final de erradicação da aftosa e de reconhecimento de país livre da doença com vacinação, status que deverá ser obtido internacionalmente, no próximo
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ELEIÇÕES na cotação da soja. A formação do preço interno, além dos movimentos na Bolsa de Chicago, depende do comportamento do câmbio. “Com volatilidade no dólar, a soja tende a subir no mercado interno. Notamos que a moeda começou o ano no mesmo patamar de 2017, a R$ 3,25, mas é difícil prever o que irá acontecer”, elabora Gutierrez. Mesmo com toda a questão eleitoral pautando o noticiário, o patamar máximo que o dólar deve alcançar até o fim de 2018, na opinião de Gutierrez, é de R$ 3,60. “Mais do que isso seria fora do normal, o mercado trabalha com esse teto. Contudo, não se pode descartar uma alteração fora dessa projeção”, complementa. Ele concorda que a economia, a passos lentos, parece estar melhorando e as expectativas para 2018 são de PIB positivo. “Estamos colocando a casa em ordem, isso é bem visto pelo mercado internacional”, diz. Para o produtor rural, Gutierrez avisa que o principal problema é a rentabilidade. Os custos
mês de maio, junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O calendário prevê a retirada total da vacina em 2021. Outro ponto de discussão são as reformas. “Sem reforma da previdência, não haverá aposentadoria no futuro. Também acredito que devemos atuar nos altos salários do Judiciário e do Legislativo. Mas ninguém mexe com eles”, reclama o dirigente do Angus. “Vejo que muitos políticos não estão interessados no Brasil, mas sim que o governo seja o pior possível para que possam vencer a próxima eleição. E quem vai pagar a conta somos nós”, completa Weber, da ABA. Luiz Fernando Gutierrez, analista da consultoria Safras & Mercado, concorda que a eleição presidencial deste ano é a pauta principal do Brasil. “Com pré-candidatos como Lula e Bolsonaro liderando as pesquisas, temos queda da Bolsa e alta do dólar. Caso seja confirmada a inelegibilidade do Lula após a condenação, a tendência é de um câmbio mais fraco”, projeta. A política também respinga
José Roberto Pires Weber Presidente da ABA
Cláudio Bier Presidente do Simers
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aumentaram pouco na última safra de soja, relembra, mas o desafio, desde meados de 2017, é garantir um valor de venda adequado. “Ele precisa disso para garantir rentabilidade, mas o preço da soja tem caído nos últimos meses, justamente devido ao câmbio e à cotação internacional”, completa. “O ambiente é de incerteza, uma vez que o cenário eleitoral ainda não está definido e há vários candidatos com boas chances”, avalia o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira. Com isso, o produtor rural represa investimentos, já que falta segurança. “Por outro lado, tivemos avanços em algumas reformas, como a trabalhista”, diz. Vieira relata que o agronegócio brasileiro é um dos mais competitivos do planeta em termos de produtividade e de eficiência, mas há empecilhos. “Primeiro, um ambiente regulatório com legislação ambiental e tributária complexas. Segundo, temos um alto custo com a logística deficiente. Isso reduz nossa competividade”, conta.
Luiz Fernando Gutierrez Analista da Safras & Mercado
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SUSTENTABILIDADE
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Na contramão do desmatamento
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Brasil utiliza apenas 7,6% do seu território com lavouras – cerca de 64 milhões de hectares. Os dados são da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), apresentados neste ano e que confirmam a tese, defendida pelo Ministério da Agricultura, de que o agronegócio não é responsável pelo desmatamento no País. Em 2016, a Embrapa Territorial já havia calculado a ocupação com a produção agrícola em 7,8% (65,9 milhões de hectares). Os números da Nasa datam de novembro de 2017, indicando percentual menor, mas segundo o chefe geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, doutor em Ecologia, é normal a pequena diferença de 0,2% entre os dados brasileiros e norte-americanos. Conforme Miranda, alguns dados comparativos entre o uso agrícola dos países, de acordo com a Nasa, merecem destaque. Os métodos empregados pela agência norte-americana foram homogêneos em todo o planeta. O Brasil protege e preserva a vegetação nativa em mais de 66% de seu território e usa 7,6% das terras para cultivo. “A Dinamarca cultiva 76,8%, dez vezes mais que o Brasil; a Irlanda, 74,7%; os Países Baixos, 66,2%; o Reino Unido 63,9%; a Alemanha 56,9%, e por aí vai”, explica ele. O trabalho conjunto da Nasa, em parceria com o Serviço Geológico (USGS) dos Estados Unidos, fez o mapeamento e o cálculo das áreas cultivadas do planeta
baseados em monitoramento por satélites. Durante duas décadas, a Terra foi vasculhada, detalhadamente, em imagens de alta definição por pesquisadores do Global Food Security Analysis, que comprovaram os dados antecipados pela Embrapa. As áreas cultivadas variam de 0,01 hectare por habitante – em países como Arábia Saudita, Peru, Japão, Coréia do Sul e Mauritânia – até mais de 3 hectares por habitante no Canadá, Península Ibérica, Rússia e Austrália. O Brasil tem uma pequena área cultivada de 0,3 hectare por habitante, e situa-se na faixa entre 0,26 a 0,50 hectare por habitante, que é o caso da África do Sul, Finlândia, Mongólia, Irã, Suécia, Chile, Laos, Níger, Chade e México. O levantamento da Nasa também detalha informações sobre a
segurança alimentar no planeta, com a medição da extensão dos cultivos, áreas irrigadas e de sequeiro, intensificação no uso das terras com duas, três safras e até áreas de cultivo contínuo. Não entram nesses cálculos áreas de plantio florestal e de reflorestamento, que são as terras dedicadas ao plantio de eucaliptos. No Brasil, contaram-se apenas as lavouras. De acordo com o estudo, a área da Terra ocupada por lavouras é de 1,87 bilhão de hectares. A população mundial atingiu 7,6 bilhões em outubro passado, resultando que cada hectare, em média, alimentaria 4 pessoas. Na realidade, a produtividade por hectare varia muito, assim como o tipo e a qualidade dos cultivos. “Os europeus desmataram e exploraram intensamente o seu território. A Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas originais do planeta. Hoje tem apenas 0,1%. A soma da área cultivada da França (31,8 milhões de hectares) com a da Espanha (31,7 milhões de hectares) equivale à do Brasil”, relata Miranda. As maiores áreas cultivadas estão na Índia (179,8 milhões de hectares), nos Estados Unidos
O Brasil protege e preserva a vegetação nativa em mais de 66% de seu território e usa 7,6% das terras para cultivo.
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SUSTENTABILIDADE (167,8 milhões de hectares), na China (165,2 milhões de hectares) e na Rússia (155,8 milhões de hectares). Somente esses quatro países dominam 36% da área cultivada do planeta. O Brasil ocupa o quinto lugar, seguido pelo Canadá, Argentina, Indonésia, Austrália e México. Miranda concorda que não procede a imagem do Brasil de nação despreocupada com a questão ambiental. Segundo ele, o País é e será cada vez mais reconhecido como uma potência agrícola e ambiental. “O total de áreas destinadas à preservação e proteção da vegetação nativa (unidades de conservação, terras indígenas, áreas militares, terras devolutas e imóveis rurais) representa 66,3% do território nacional. Quem protege e preserva isso no mundo?”, questiona ele. Já Marcelo Vieira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), credita essa imagem negativa aos competidores do Brasil no disputado mercado internacional de commodities. “Um dos nossos maiores problemas é a imagem, estamos começando a trabalhar isso no mercado internacional e
internamente também. O Brasil é o país que mais preserva e tem a legislação ambiental mais rígida do mundo. Isso tem que ser mostrado”, afirma. A SRB lançou, recentemente, o projeto Reduzindo o Desmatamento na Cadeia Produtiva de Soja, também chamado de GEF Matopiba. O GEF (sigla em inglês para Fundo Global para o Meio Ambiente) investirá R$ 22 milhões nos próximos três anos para promover o desenvolvimento sustentável de commodities agrícolas na nova fronteira agrícola do Brasil, a região composta por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (por isso Matopiba). O programa visa reduzir o desmatamento e promover a produção sustentável de soja na região. Uma das maneiras de alcançar essa meta é incentivar as práticas mais sustentáveis na produção de commodities, por meio da articulação com stakeholders (governos, produtores, empresas) e desenvolvimento de atividades no campo nas regiões onde o programa terá projetos-pilotos. A expectativa, ao final do projeto,
é ter 40% da região protegida em unidades de conservação, terras indígenas, reservas legais e áreas de preservação permanente. São essas iniciativas que mudam, aos poucos, a visão que muitos têm do agronegócio. Miranda, da Embrapa, cita uma pesquisa recente, realizada nas principais capitais, em que 89% dos entrevistados concordaram que o Brasil é o país do agronegócio e 94% o consideram importante ou extremamente importante. “Basta aos críticos deixarem suas visões anacrônicas e pôr o pé na roça, para descobrir e desfrutar de todo o avanço ambiental da agricultura. Conhecer melhor o campo brasileiro é necessário. Aqui e no exterior. O papel da Embrapa é o de fornecer dados, números, mapas e fatos”, avisa ele. O pesquisador salienta que a agricultura brasileira não admite generalizações ou simplismos. Seus complexos sistemas de produção são cada vez mais integrados, verticalizados, amigos da biodiversidade, sustentáveis, eficientes e diversificados. “E têm um papel fundamental, tanto na garantia básica da segurança alimentar dos brasileiros e do mundo, como na oferta farta e diversificada de produtos agropecuários para as mais variadas finalidades, caseiras ou industriais”, diz.
Para onde crescer? Para Evaristo de Miranda, a prioridade da agricultura brasileira é ampliar sua produtividade e competitividade. Busca-se o crescimento vertical, e não horizontal, ou seja, utilizar as mesmas áreas para produzir sempre mais.“É possível ampliar a área cultivada em todos os estados da federação, de forma sustentável.
Evaristo de Miranda Marcelo Vieira Doutor em Ecologia 26 | PRESS AGROBUSINESSPresidente da SRB
O caminho principal é converter pastagens em áreas agrícolas, sem necessidade de novos desmatamentos”, destaca. Mas existem limites biológicos e fisiológicos nas plantas. “Ninguém produzirá 15 toneladas de soja por hectare. O aumento de área cultivada ocorrerá, tendo como prioridade as pastagens”, cita ele. Presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira concorda que o Brasil tem uma área enorme de pastagem que pode ser convertida para a produção de grãos – a tendência é crescer nestas áreas. “O que percebemos, em muitas regiões, é que a produção de soja, de cana-de-açúcar, aumentou em áreas de pecuária”, relata. Segundo Miranda, agricultores gaúchos, da região do Campos de Cima da Serra, foram pesadamente multados por converterem suas pastagens em áreas de cultivos, o que não deixa de ser um
paradoxo. Esse processo ocorre desde meados do século passado. Hoje, cerca de 40% do território dos Campos de Cima da Serra são ocupados com agricultura e 30% com pecuária e reflorestamentos. Os dados do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR), em outubro de 2017, processados pela Embrapa Territorial registravam 46.909 imóveis rurais cadastrados ou 1.387.293 hectares. Desta área, 452.062 hectares ou 33% da área cadastrada são destinados à preservação da vegetação nativa, incluindo diversos tipos de formações vegetais. As áreas referem-se principalmente às de preservação permanente (APP), reserva legal (RL) e às de vegetação nativa excedente. “Isso é muito mais do que o máximo exigido pela legislação ambiental a ser destinado à preservação da vegetação nativa em Áreas de Preservação Permanente e Reser-
va Legal (20%)”, afirma. O Cadastro Ambiental Rural (CAR), outro elemento importante para quantificar as áreas de preservação no Brasil, foi novamente prorrogado – agora, o prazo final é 31 de maio deste ano. A base eletrônica de dados foi criada a partir do novo Código Florestal e contém informações das propriedades e posses rurais, além dos limites das posses com áreas de vegetação nativa e reservadas para preservação. A inscrição no cadastro eletrônico é obrigatória para todos os imóveis rurais do Brasil. Conforme os últimos dados parciais, o CAR já ultrapassou a meta no País: de 398 milhões de hectares esperados para integrarem o cadastro, o sistema conta com 431 milhões de hectares registrados. No Rio Grande do Sul, dos 20,3 milhões de hectares estimados, entraram no CAR até dezembro 19,6 milhões de hectares (96,7%).
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COMÉRCIO EXTERIOR
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Exportações em alta
O
ano começou favorável para o comércio exterior. As exportações do agronegócio atingiram US$ 6,16 bilhões em janeiro, alta de 4,9% sobre os US$ 5,87 bilhões do mesmo mês no ano passado. As importações tiveram redução de 2,7%, passando de US$ 1,27 bilhão para US$ 1,24 bilhão. Como resultado, o saldo comercial no primeiro mês do ano foi de US$ 4,92 bilhões ante os US$ 4,60 bilhões de janeiro de 2017.O agronegócio contribuiu com 36,3% do total das exportações brasileiras no mês. Os cinco principais setores exportadores são carnes (19,3% de participação); produtos florestais (18,7% de participação); complexo soja (16,8% de participação); complexo sucroalcooleiro (10,3% de participação); e cereais, farinhas e preparações (8,9% de participação). As vendas externas de carnes somaram US$ 1,19 bilhão. Houve queda do volume exportado em 5,9%, amenizada pela expansão de 3,8% no preço. A carne bovina se destacou com incremento de 24,2%. Houve expansão tanto da quantidade exportada (+15,7%) quanto do preço médio de exportação (+7,3%). Os produtos florestais passaram para a segunda posição dentre os principais setores exportadores. As vendas tiveram forte alta de preço, possibilitando a expansão das exportações de US$ 956,62 milhões para US$ 1,15 bilhão. Destaque para a celulose, com US$ 713,61 milhões em vendas externas (+19,9%).
O complexo soja superou a marca de US$ 1 bilhão, chegando a US$ 1,03 bilhão em exportações (+7,4%), valor recorde para janeiro. A forte expansão na quantidade exportada de soja em grão (+71,5%), com valor e volume recorde para o mês, possibilitou o aumento do valor exportado, mesmo com a queda de 5% no preço médio. Quando analisado o período de 12 meses, a balança comercial segue no positivo. As exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 96,30 bilhões entre fevereiro de 2017 e janeiro deste ano, registrando acréscimo de 12,2%. Do lado das importações, o resultado foi de US$ 14,12 bilhões, em alta de 1%. Assim, o saldo comercial do agronegócio em 12 meses saltou de US$ 71,84 bilhões para US$ 82,18 bilhões. Nos 12 meses, a pauta das exportações do agronegócio foi liderada por produtos do complexo soja, que somaram US$ 31,79 bilhões, respondendo por 33% das exportações. Na sequência, destacam-se as vendas de carnes (US$ 15,45 bilhões), complexo sucroalcooleiro (US$ 11,84 bilhões), produtos florestais (US$ 11,72 bilhões) e cereais (US$ 5,43 bilhões). Em conjunto, esses cin-
co grupos de produtos representaram 79,2% do total da pauta. A Ásia ampliou ainda mais a franca liderança entre os destinos do agronegócio brasileiro, respondendo por 46,1% do total exportado ante 43,7% do período anterior. O total das exportações à região somou US$ 44,42 bilhões, com alta de 18,4%. A pauta concentra-se em soja em grão, seguido por carnes, açúcar e celulose, destinados, sobretudo, ao mercado chinês.
As exportações do agronegócio atingiram US$ 6,16 bilhões em janeiro, alta de 4,9% sobre os US$ 5,87 bilhões do mesmo mês no ano passado. O agronegócio contribuiu com 36,3% do total das exportações brasileiras no mês.
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SAFRA
SAFRA REDUZIDA A safra brasileira de grãos, o ciclo 2017/2018 deve apresentar uma redução de 5,1% no total colhido, devendo alcançar 225,6 milhões de toneladas.
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Redução esperada Depois de três anos de sucessivos recordes na safra brasileira de grãos, o ciclo 2017/2018 deve apresentar uma redução de 5,1% no total colhido, segundo informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O Rio Grande do Sul, um dos principais produtores nacionais de grãos, deve acompanhar o cenário nacional. Conforme a Conab, a safra deve alcançar 225,6 milhões de toneladas, sendo a segunda maior da série histórica. Na comparação com o volume produzido em 2016/2017, de 237,7 milhões de toneladas, espera-se um recuo de 5,1%, embora a área total de plantio prevista seja 0,2% maior, de 61,01 milhões de hectares. O levantamento identificou que sofrerão queda culturas como a soja, o milho e o arroz, que passam de 12,327 milhões de toneladas para 11,639 milhões, com uma colheita 5,6% inferior à de 2016/2017. A produção de arroz, estimada em 11,6 milhões de toneladas, não sofreu alterações sig-
nificativas, visto que as condições climáticas permanecem favoráveis à cultura, segundo o levantamento. O Rio Grande do Sul deve responder pela maior parte – cerca de 8,7 milhões de toneladas. “O pessoal do arroz está com dificuldade de preço. Nós tivemos uma safra excepcional no ano passado, vamos ter uma safra muito boa este ano. O governo não tem nada de estoque de arroz. Por um lado, é positivo, porque temos a garantia do abastecimento privado. Isso fez com que os preços do arroz estejam no limite do preço mínimo”, afirma o diretor-presidente da Conab, Marcelo Bezerra. A soja, cultura favorita dos produtores brasileiros, ao lado do milho, apresenta uma diminuição de 2,2% na produção, com um total de 111,6 milhões de toneladas, ante 114,1 milhões de toneladas do período mais recente. No quesito produtividade, a oleaginosa sofreu perda avaliada em 3.364 quilos/hectare da safra anterior para 3.185 quilos/hectare. O superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, Aroldo de Oliveira Neto, ressalta que, enquanto a soja e o milho são favoritos pelos produtores
devido à projeção no mercado externo, o feijão e o arroz, que compõem a tradicional mistura presente no prato dos brasileiros, “representam saúde”, apesar de estarem sendo plantados em espaços menores. Ainda no ano passado, a Emater havia identificado essa possibilidade de redução na produção. Conforme a instituição, a safra gaúcha cairá de 33,3 milhões de toneladas no ciclo anterior para 29,9 milhões de toneladas neste ano.“Não chega a ser uma surpresa essa diminuição. Finalizada a safra do ano passado, começamos a estimar a próxima. Para tanto, levamos em conta a média dos últimos dez anos e o avanço da tecnologia. Veja o milho – a área tem reduzido ano após ano”, explica Alencar Rugeri, da Emater. O caso do milho é emblemático. Com 731 mil hectares de área plantada, a expectativa é de que sejam colhidas 5,2 milhões de toneladas de milho até março, de acordo com a Emater. A produtividade média deve ser de 7 mil quilos por hectare. Em safras anterior, a área ocupada chegou a ser 20% maior e o volume colhido de 1 milhão de toneladas a mais. Segundo o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, o milho é uma cultura importantíssima, incentivada pela entidade por causa da questão agronômica de rotação com a cultura da soja e também por ser um importante insumo para a indústria de carnes do Rio Grande do Sul. “Somos um grande consumidor de milho e neste ano, infelizmente, não deveremos ter uma safra farta. Os produtores colocam na balança os valores e com os preços atuais, mesmo com a queda do preço da soja, eles optaram pelo plantio desta cultura que é mais estável e demonstra mais liquidez”, afirma.
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ARROZ
Dificuldades sufocam produtores
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alvez o item da pauta agrícola mais merecedor de atenção na atualidade, juntamente com o setor leiteiro, seja a lavoura de arroz, que sofre problemas de competividade devido a diversos fatores. O tema foi amplamente debatido durante a abertura da colheita do arroz, ocorrida em fevereiro, em Cachoeirinha.
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Questões como entrada de arroz do Mercosul, preços baixos e endividamento nunca saem de cena quando se tratam de cenários da lavoura orizícola. Segundo o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, os três problemas têm algo em comum: não são causa, mas consequência. Ele cita, por exemplo, a questão do endividamento. “Estamos sistematicamente gastando energia em um assunto que não termina. Ficar renegociando dívidas não resolve acesso ao crédito nem acaba com o débito. É como enxugar gelo”, destaca. Luz salienta que o arroz importado via Mercosul leva em conta as oportunidades de mercado.
“Nas commodities, só se ganha de um jeito bastante frio: ou mata ou morre. O arroz não entra por acaso. O preço dele é ruim porque não cobre nossos custos, mas para a concorrência é muito bom”, afirma. Os países vizinhos contam com um custo de produção inferior aos praticados no mercado interno, seja na compra de máquinas agrícolas e agroquímicos, ou nas condições de armazenagem. Ainda assim, o economista da Farsul conta que os orizicultores brasileiros precisam apresentar competitividade. No mercado internacional, ocorre o oposto: é esperada uma alta nos preços para o decorrer de 2018, segundo Sérgio Rober-
to Gomes dos Santos Júnior, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Ele utiliza informações do Departamento norte-americano de Agricultura (USDA) para justificar esta expectativa mundial, que dão conta de uma redução na produção mundial do cereal para a próxima safra e expansão dos estoques chineses. Com relação ao Mercosul, destaca que o Uruguai voltou a ser um importante país importador do mercado brasileiro, e já o Paraguai vem colocando muito arroz no Brasil, onde o Rio Grande do Sul tem previsão de queda de área e de produtividade. Quanto aos preços, o especialista da Conab afirma que a redução observada no ano passado, atrelada principalmente com a redução da demanda interna e externa que resultou no aumento do estoque de passagem e pressão nos preços, ocasionou o panorama atual: o valor por saca de arroz, em média R$ 35,05 no Rio Grande do Sul, está abaixo do preço mínimo, de R$ 36,01. Segundo o diretor comercial do Irga, Tiago Barata, as dificuldades do setor arrozeiro, principalmente, se devem à forte diminuição do preço do cereal – praticamente voltando ao patamar de três anos atrás. Barata enumera ainda que os custos de produção têm crescido em uma velocidade muito significativa, causando a inviabilidade econômica da atividade. “Neste último ano, tivemos uma ligeira redução dos custos em razão da diminuição do preço do arroz - referência para vários indicadores que compõem estes custos -, mas isto não trouxe alívio para o setor.Nos últimos 14 anos, o produtor acumulou prejuízo de 124 sacos por hectare, isso considerando o custo de produção e produtividade média levantados pelo Irga e o preço mé-
“Nas commodities, só se ganha de um jeito bastante frio: ou mata ou
morre. O arroz não entra por acaso. O preço dele é ruim porque não cobre nossos custos, mas para a concorrência é muito bom”
dio anual levantado pelo Cepea”, conta o diretor do Irga. Barata destacou que a sustentabilidade econômica da atividade produtiva de arroz no Rio Grande do Sul depende de mudanças nas questões estruturais. “Precisamos corrigir questões ligadas à tributação, custo de produção, logística e consumo”. Para o engenheiro agrônomo Felipe Carmona, doutor em Ciências do Solo e sócio diretor da Integrar - Gestão e Inovação Agropecuária, a integração lavoura pecuária colabora para a redução dos custos de produção (compostos pelas operações da lavoura, fertilizantes e defensivos agrícolas). Conforme Carmona, nas últimas sete safras houve um aumento de mais de 93% nestes insumos. “Ao utilizar o plantio direto, a diversificação de culturas e a criação de animais há uma redução no uso de herbicidas e adubos e, consequentemente, uma diminuição de valores. Há muita coisa a ser feita da porteira para dentro para ajudar a resolver parte dos problemas das lavouras arrozeiras”, observa. De acordo com o professor Ernani Carvalho Costa Neto, coordenador do núcleo de Agronegó-
cio da ESPM Sul, há exemplos práticos de ações para melhorar a produtividade em um momento em que o preço do arroz vem caindo, e os custos, aumentando. Investir em inovação, segundo ele, é um caminho. Implementar novos processos, como o controle de pragas, ajuda a evitar desperdícios. “Não podemos controlar o preço final do produto, pois isso vem do mercado, mas devemos trabalhar com o que é possível, como os custos de produção”, avisa. A saída, para ele, é aumentar a produtividade nas lavouras de arroz mesmo em menores áreas cultivadas. “A empresa que quiser se destacar terá de ter representatividade, vigor e, principalmente, resiliência para não se acomodar”, finaliza. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz), Elton Doeler, essa situação do arroz não é nova e o setor, como um todo, deve encontrar uma solução construída com inteligência para sustentar o preço do arroz. “A grande questão é que o mercado é soberano e vive de expectativas. O setor produtivo vem sofrendo uma concorrência muito forte. Precisamos ter um grande comprador, chamado governo”, acredita.
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INSUMO
Defensivos com tarifa zero de importação
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emanda de entidades do setor rural, a alíquota zero na importação de alguns defensivos agrícolas da Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec), que acontece desde 2016, será mantida pelo governo federal. Conforme a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), o objetivo é evitar uma elevação dos preços de defensivos agrícolas ofertados ao agricultor. A medida vale para seis tipos de
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defensivos: fipronil, clorpirifós, imidacloprido, metomil, carbendazim e tebutiourom. “Com isso, estamos defendendo a competitividade do produtor rural. Onerar o produtor só tende a prejudicar a cadeia produtiva como um todo”, destaca a coordenadora de Produção Agrícola da CNA, Natália Fernandes. Parte dos fabricantes brasileiros de defensivos havia solicitado a elevação da alíquota para 8%. Os agroquímicos citados acima
são utilizados em culturas como algodão, milho, hortaliças, cana-de-açúcar, café, citros, soja e feijão. “Sabemos que há um gargalo na área de defensivos, principalmente relacionado ao processo de registro. A CNA tem trabalhado ao lado da indústria para dar mais transparência e celeridade a esse processo de registro”, relata Natália. O setor movimentou em 2017 cerca de US$ 8,8 bilhões no Brasil, conforme o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg). Para este ano, a perspectiva é de estabilidade. Contudo, pode haver uma má notícia para o produtor rural: o custo na aquisição de defensi-
vos para a safra 2018-2019 pode aumentar entre 10% e 15%. O aumento, projetado pelo Rabobank, reflete a redução na oferta dos defensivos vendidos pela China, um dos maiores fornecedores mundiais de produtos para defesa vegetal. A queda ocorre porque autoridades chinesas estão endurecendo regras ambientais para os fabricantes locais. Muitas empresas estão simplesmente fechando as portas no gigante asiático, já que os custos para corrigir eventuais problemas nas fábricas são elevados. Para os fertilizantes, a expectativa do Rabobank também é de maiores custos na próxima safra. Se por um lado, o cenário é de aumento da produção global, acima da demanda, de outro o aumento dos custos de produção deve limitar a redução de preços para nitrogenados e fosfatados. Para os potássicos, o aumento da capacidade de produção tem sido compensado pelo fechamento de algumas minas menos eficientes, limitando a queda. O Rabobank estima que a demanda deverá crescer entre 1,5% e 2%, para 34,7 milhões de toneladas de fertilizantes em 2018 no Brasil. Esse aumento deve ser amparado pelo incremento da área cultivada com soja, que deve ser de 3% nesta safra.
Solução natural no manejo de pragas Em fevereiro passado, no Show Rural Coopavel, realizado em Cascavel (PR), a Embrapa apresentou uma tecnologia que usa feromônios (substâncias que os insetos utilizam para se comunicar com outros da mesma espé-
O setor movimentou em 2017 cerca de US$ 8,8 bilhões no Brasil. Para este ano, a perspectiva é de estabilidade. cie) para monitorar e controlar percevejos-praga nas diferentes lavouras. É considerado um método seguro, com grande potencial de utilização em programas de manejo integrado de pragas porque pode reduzir significativamente e, até mesmo, eliminar a utilização de defensivos químicos nas lavouras. Os inseticidas, além de ineficientes para controlar os percevejos, causam resistência nos insetos, são nocivos a quem os aplica e têm forte impacto na morte de insetos benéficos, como abelhas. O segredo para alcançar este método estava na própria natureza. Os cientistas da Embrapa observaram que os insetos utilizam substâncias químicas para “avisar” aos outros sobre demar-
cação de território, alimentação, risco de predadores, reprodução, entre outros. Quando essa comunicação ocorre dentro da mesma espécie, o composto químico é chamado de feromônio. A partir disto, a equipe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, liderada pelo pesquisador Miguel Borges, iniciou a extração de feromônios em laboratório para depois colocá-los em armadilhas nas lavouras. “No caso dos percevejos, trabalhamos principalmente com os feromônios sexuais produzidos pelos machos”, avisa o cientista. Após a identificação, o feromônio natural produzido pelo inseto é sintetizado em laboratório e formulado em pequenos dispositivos (pastilhas). Por fim, são colocados em armadilhas no campo para a captura e monitoramento das fêmeas. As armadilhas com o defensivo natural são colocadas nas lavouras com o objetivo de enganar os insetos. Ao identificar o cheiro dos machos, as fêmeas são atraídas e capturadas na armadilha. O intuito final é monitorar e controlar as populações dos percevejos-praga e, consequentemente, reduzir os danos às plantações de forma efetiva e sustentável. A novidade é mais uma que utiliza semioquímicos (substâncias químicas envolvidas na comunicação entre os seres vivos) para proteger os cultivos agrícolas. Segundo a Embrapa, o mercado de semioquímicos está em expansão. No mundo, o uso de feromônios no combate a doenças e pragas na agricultura movimenta US$ 300 milhões anualmente – no Brasil, não há dados disponíveis, mas o crescimento do número de empresas trabalhando com semioquímicos indica aumento do consumo pelos agricultores.
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FINANCIAMENTO
Alta no crédito agrícola
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ntre julho do ano passado e janeiro de 2018, o total de crédito rural liberado para médios e grandes produtores no acumulado da 2017/2018 subiu 14%, somando R$ 85 bilhões. As informações são da Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura. A maior alta ocorreu na concessão de crédito para comercialização, com desembolso de R$ 15,7 bilhões no período, 38,5% acima do apurado em igual intervalo da safra anterior. Em nota, o diretor de crédito e assuntos econômicos do Ministério da Agricultura, Wilson Vaz de Araújo, destacou que o aumento se deve, especialmente, ao fato de os preços dos produtos agrícolas estarem relativamente inferiores aos do ciclo passado, o que leva produtores a estocarem produtos e aguardar melhor oportunidade de comercialização. Os maiores tomado-
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res de recursos nessa categoria foram produtores de milho, arroz e leite. A liberação de crédito para investimentos também cresceu de forma expressiva: 24%, alcançado R$ 16,9 bilhões. Destaque, aqui, para os programas Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC); para construção e ampliação de armazéns (PCA); do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro); e do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). De acordo com Araújo “a volta desses investimentos implicará ganhos de produtividade no curto e médio prazos”. Ainda conforme o ministério, o total concedido entre julho e janeiro por meio da linha Moderfrota, para financiamento de máquinas agrícolas, foi 5,3% inferior ao registrado em igual intervalo da safra 2016-2017. Até o mês
passado, R$ 4,159 bilhões tinham sido emprestados aos produtores, 45,2% do ofertado pela Pasta para toda a safra. Em janeiro, outra medida para o setor: o governo federal liberou, antecipadamente, R$ 12,5 bilhões para financiar a safra agrícola de 2018-2019, cujo lançamento oficial ocorre apenas em julho deste ano. Os recursos são 16% superiores ao valor antecipado no ano passado e serão utilizados na compra de insumos e serviços agropecuários para as lavouras de soja, milho, arroz, algodão e café. Cada produtor poderá financiar, no máximo, R$ 3 milhões. Para os médios produtores que integram o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), os recursos serão disponibilizados com taxas de 7,5% ao ano. Para os outros produtores, os financiamentos têm encargos de 8,5% ao ano. Modalidades alternativas de financiamento serão disponibilizadas para os produtores que demandam valores superiores ao limite do plano.
VINHO
Da Campanha gaúcha para o mundo
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epois de cinco anos de muito trabalho, em dezembro passado foi solicitado, oficialmente, o pedido de criação da Indicação Geográfica (IG) Vinhos Finos da Campanha Gaúcha. Os vinhos finos tranquilos (sem gaseificação) e espumantes serão os produtos autorizados a receberem o selo da IG, cujos vinhedos são cultivados em espaldeiras.
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O presidente da Associação de Produtores Vinhos da Campanha, René Ormazabal Moura, salienta que a IG “vai trazer um selo de qualidade aos nossos produtos. Hoje temos todo um conjunto de informações da vitivinicultura da região que poderão auxiliar o produtor na tomada de decisão”. Coordenador dos trabalhos, o pesquisador da Embrapa Uva e
Vinho Jorge Tonietto conta que “a originalidade destes vinhos ampliam e valorizam a qualidade e a diversidade da vitivinicultura brasileira”. Esta é a primeira IG de vinhos finos brasileira fora da tradicional região produtora da Serra Gaúcha – por lá, já existem a de Farroupilha; Monte Belo; Vale dos Vinhedos; Pinto Bandeira e Altos Montes. Com uma história ainda recente, a viticultura na Campanha Gaúcha teve início a partir dos investimentos da Almadén nos anos 1980, que estabeleceu o maior vinhedo contínuo da América do Sul. Tonietto conta que esta é a área
que apresenta o clima mais quente dentre as regiões vitícolas do Sul do Brasil, com chuvas bem distribuídas e boa insolação. A região também apresenta áreas de planície com encostas de baixa declividade, facilitando o uso da mecanização nos vinhedos. Atualmente, são mais de 1,5 mil hectares de vinhedos e diversas vinícolas elaborando vinhos finos de qualidade na Campanha. Apenas em Santana do Livramento são mais de 960 hectares destinados à uva. A solicitação inclui um completo dossiê técnico, cuja documentação inclui, entre outros, a delimitação da área geográfica, o Regulamento de Uso para os vinhos da, o plano de controle dos produtos, a caracterização geográfica - incluindo a geologia, o solo, o relevo e o clima, a viticultura e as vinícolas produtoras, as características dos vinhos, os processos de produção vitícolas e enológicos, além do descritivo histórico e do renome da região. A expectativa da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha é que o reconhecimento seja publicado ainda em 2018. Os produtores acreditam que o reconhecimento da região, por meio da Indicação de Procedência, será um impulso para o desenvolvimento econômico dos 11 municípios da Campanha Gaúcha. Os impactos esperados podem mudar a geografia da produção com a obtenção de estímulos a novos investimentos e a inovações tecnológicas, preservando características e tipicidade dos vinhos, estabelecendo, assim, um patrimônio da região. A Campanha já é a segunda maior região vitícola do Brasil, com uma produção anual de 10 milhões de toneladas de uvas, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Os da-
dos, de 2017, indicam ainda que foram produzidos, pelas vinícolas da Campanha, 2,6 milhões de litros de vinhos e derivados.
Genética para ganhar mercado Há 40 anos, um trabalho pioneiro da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, impactou fortemente o desenvolvimento do mercado de vinhos e de uvas no Brasil. Com os cultivares de uvas originados pelo Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil, o setor ganhou mais produtividade, resistência maior a pragas e condições de adaptação a diferentes regiões do País. Recentemente, foram celebrados os 40 anos do programa na Serra. Um dos destaques do evento foi a presença da produtora Lorena Carissimi Tomasin, que deu nome à cultivar de uva
branca BRS Lorena. Os ensaios de validação foram feitos em sua propriedade. “Fui uma das primeiras produtoras que cultivou essa uva em Pinto Bandeira, em 1999. É uma uva bonita, doce, gostosa. A gente entregava para a Cooperativa Aurora”, lembra. O pesquisador aposentado Umberto Almeida Camargo, um dos criadores do programa, relata que conseguiram formar uma equipe de excelente qualidade, muito bem preparada e, acima de tudo, muito dedicada. “Graças a tudo isso, conseguimos depois de 40 anos ter um grande número de variedades lançadas de uva, uma cultura perene que demanda tempo para avaliar e validar os genótipos. Não se tem dúvida de que muita coisa foi feita”, diz. A pesquisadora e coordenadora do programa, Patricia Ritschel, destaca ainda o Banco Ativo de Germoplasma de Uva, disponibilizado neste ano pela internet
Atualmente, são mais de 1,5 mil hectares de vinhedos e diversas vinícolas elaborando vinhos finos de qualidade na Campanha.
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VINHO com informações sobre as características da uva, flor, cacho, produção, baga, características químicas e incidência de doenças. Anteriormente, quando o sistema não estava disponível, o acesso só podia ser feito por extratos na Unidade de Pesquisa, em Bento Gonçalves. Agora, todas as informações podem ser acessadas na base de dados, no qual é possível ter uma visão geral do acervo. Parte da coleção também está disponível para intercâmbio, em pequenas quantidades. De acordo com o pesquisador João Dimas Maia, um dos coordenadores do programa, o mercado das uvas pede cada vez mais variedades tolerantes a doenças, para se diminuir o uso de fungicidas; mais graúdas, que dependam menos de reguladores de crescimento, variedades que expressam melhor a cor, diminuindo o uso de hormônios e variedades com manejo mais simples, que tenham cachos mais soltos. “Variedades mais resistentes vão trazer benefícios para os operadores, menos riscos de
René Ormazabal Moura Presidente da Associação de Produtores Vinhos da Campanha
Os produtores acreditam que o reconhecimento da região, por meio da Indicação de Procedência, será um impulso para o desenvolvimento econômico dos 11 municípios da Campanha Gaúcha.
aplicação para o meio ambiente, onde estão inseridas essas plantações, e menor risco de resíduo para o consumidor brasileiro”. O melhoramento genético desenvolvido nas últimas décadas beneficiou agricultores de toda a região, como Jair Fernando Freiberg, de Alto Feliz, cidade próxima a São Vendelino, no pé da Serra gaúcha. Ele cultiva quatro
Jorge Tonietto Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho
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variedades: BRS Isis, BRS Magna, BRS Vitória e BRS Núbia. “O principal benefício das cultivares da Embrapa é a genética melhorada. Consigo ver um resultado bom em termos de açúcar e cor”, destaca ele. Ainda segundo o produtor rural, “a presença das variedades virou um atrativo a mais para o público que vem degustar e comprar essas uvas de mesa, pedindo a uva preta sem semente, a Vitória”, complementa. Para Mauro Zanus, chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, o programa de melhoramento genético é fundamental para a competitividade e sustentabilidade do segmento de uvas de mesa, sucos de uva e vinhos do Brasil. Os mercados, os produtores e a agroindústria terão novas demandas - por isso, disponibilizar novas variedades de uvas será fundamental. “Além de propiciar variedades mais produtivas, adaptadas aos diferentes climas e solos, mais resistentes a pragas e doenças, será através do melhoramento que poderemos desenvolver as uvas para o futuro”, completa.
João Dimas Maia Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil
GENÉTICA
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Soja transgênica mais eficiente
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rincipal grão da safra brasileira – com cerca de 115 milhões de toneladas – e importante item das exportações nacionais, a soja também é a cultura que mais tem recebido atenção, tanto de empresas privadas quanto públicas, no manejo de doenças por meio do melhoramento genético. Recentemente, a Embrapa lançou uma cultivar nova, a BRS 511, com alta produtividade associada a maior proteção contra a ferrugem da soja. “Seu diferencial é retardar o avanço da doença no campo, promovendo uma maior estabilidade de produção quando as condições climáticas forem desfavoráveis à aplicação de fungicidas”, ressalta o pesquisador da Embrapa Soja, Carlos Lásaro Pereira de Melo. A tecnologia auxiliar no controle da ferrugem-asiática da soja, mas não dispensa o uso de agroquímicos tradicionais. A BRS 511 é a primeira cultivar que a Embrapa coloca no mercado com a Tecnologia Shield, selo que identifica as culturas com genes que têm resistência à doença. “Essa tecnologia, como diz o nome, funciona como um escudo que ajuda a proteger a lavoura quando a doença aparece”, relata o chefe-geral da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias. De acordo com os critérios científicos, são consideradas cultivares resistentes à ferrugem asiática as que apresentam lesões marrom-avermelhada (reddish-brown-RB) nas folhas por reduzirem a multiplicação do fungo.
As cultivares que são suscetíveis à doença apresentam lesão castanha (TAN), com abundante esporulação do fungo. “A BRS 511 é uma cultivar que manifesta a lesão RB. Isso significa que o fungo causador da ferrugem irá provocar uma lesão (semelhante à lesão de hipersensibilidade), com nenhuma ou muito pouca esporulação do fungo, retardando a evolução da doença no campo”, conta Melo. Conforme o pesquisador, a questão da resistência genética à ferrugem é complexa, uma vez que o fungo apresenta grande variabilidade genética. E deve-se ressaltar, ainda, a resistência da BRS 511 à ferrugem não é do tipo imune, mas permite uma melhor convivência com a do-
ença no campo, sendo uma ferramenta importante de manejo. Segundo a Embrapa, entre as estratégias de manejo integrado da ferrugem estão a semeadura no início da época recomendada, o uso de cultivares precoces e resistentes, além do controle químico. A BRS 511 é uma cultivar diferenciada, ainda, porque durante os testes, tanto em áreas experimentais pequenas quanto em parcelas maiores, conduzidas por parceiros em diferentes regiões, sua produtividade foi superior à da BRS 284, que já esteve entre as mais produtivas do Brasil. A BRS 284 é uma cultivar de soja convencional, de ciclo precoce e tipo de crescimento indeterminado. Com excelente potencial produtivo, alcança bons resultados mesmo em áreas com a presença do nematoide Meloidogyne javanica. “A BRS 511 tem comprovadamente excelente potencial produtivo, com alta estabilidade e alto peso de sementes”, complementa Carlos Lásaro Melo. A novidade é um dos lançamentos da Embrapa na safra 2017/18 e apresenta ampla adaptação.
Transgênicos: tecnologia contra a fome
José Renato Bouças Farias Chefe-geral da Embrapa Soja
O Brasil, juntamente com os Estados Unidos, lidera o mercado mundial de organismos geneticamente modificados na agricultura, segundo informações do ISAAA (sigla em inglês de Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia). No caso do Brasil, ano passado, a área destinada às sementes transgênicas cresceu 11%, somando 49 milhões de hectares atrás apenas dos Estados Unidos
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GENÉTICA (73 milhões de hectares). Da área cultivada com transgênicos no Brasil, a soja lidera com folga: ocupa 33 milhões de hectares. “As culturas biotecnológicas se tornaram um recurso agrícola essencial para agricultores ao redor do mundo devido aos imensos benefícios para a melhoria da rentabilidade e produtividade”, afirma a instituição, em comunicado. Nos países em desenvolvimento, a utilização de variedades com biotecnologia ajudou a aliviar a fome ao aumentar a renda de 18 milhões de pequenos agricultores e suas famílias, trazendo maior estabilidade financeira para mais de 65 milhões de pessoas.“A biotecnologia é uma das ferramentas necessárias para ajudar os agricultores a produzir mais alimentos usando menos terras”, diz o relatório. É o caso do continente africano. A África do Sul e o Sudão aumentaram a plantação de milho, soja e algodão transgênicos de 2,29 milhões de hectares em 2015 para 2,66 milhões de hectares ano passado. Apesar de ainda vistos com cautela por diversos países africanos, os transgênicos têm registrado maior aceitação: Quênia, Nigéria, Etiópia, Gana, Nigéria, Suazilândia e Uganda apresentam progressos nas leis e nas aprovações de comercialização para uma variedade de culturas biotecnológicas. No mundo, são 186 milhões de hectares destinados a culturas biotecnológicas – eram 179 milhões de hectares em 2016. Cinco países - Estados Unidos, Brasil, Argentina, Canadá e Índia – plantam 91% dos transgênicos do planeta. O primeiro alimento geneticamente modificado do mundo foi conhecido em 1994 – um tomate com maior durabilidade desenvolvido na Califórnia. Vinte
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“Seu diferencial é retardar o avanço da doença no campo, promovendo uma maior estabilidade de produção quando as condições climáticas forem desfavoráveis à aplicação de fungicidas” e três anos depois, o mercado de transgênicos na agricultura é cada vez mais expressivo. A área com culturas transgênicas subiu 100 vezes, de 1,7 milhão de hectares para 186 milhões de hectares. A cada 100 hectares plantados com soja hoje no mundo, 80 são de sementes com genes alterados. No caso do milho, são 30 para cada 100 hectares.
Brasil: destaque no cenário mundial O panorama agrícola do Brasil mudou muito desde que os organismos transgênicos foram introduzidos na agricultura, há 23 anos: 96% da soja, 88% do milho e 78% do algodão aqui plantados são geneticamente modificados. Conhecida desde a década de 1970, a biotecnologia não é utilizada apenas na agricultura – se produz desde insulina a produtos de limpeza a partir de organismos
geneticamente modificados. Mas é no agronegócio que a transgenia recebeu maior atenção. Atualmente, no Brasil existe liberação para cultivo de 70 cultivares geneticamente modificados de milho, 10 de soja e 12 de algodão. A maior parte dessas novas espécies de sementes possuem resistência a herbicida ou a insetos. Diversas empresas desenvolvem culturas transgênicas para amenizar problemas como a es-
A área com culturas transgênicas subiu 100 vezes, de 1,7 milhão de hectares para 186 milhões de hectares. A cada 100 hectares plantados com soja hoje no mundo, 80 são de sementes
tiagem ou – no extremo oposto – as inundações. Doenças, insetos e vermes também são alvo da biotecnologia. Hoje, em praticamente todas as lavouras a biotecnologia oferece algum tipo de resultado, como nas hortaliças, no milho, na soja, no trigo, entre tantas outras. Conforme a Embrapa, os estudos atuais destacam o sequenciamento do DNA da biodiversidade para conhecer a evolução dos
organismos vivos e usar essas informações para reduzir perdas na agricultura. O Brasil possui 20% da biodiversidade do planeta, o maior percentual do planeta. Por isso é preciso desmistificar a engenharia genética e mostrar que ela é, no futuro, a chave para a agricultura não precisar mais dos agroquímicos. Em outra frente de atuação, há pesquisas, por exemplo, com resultado direto na saúde humana. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia conseguiu aumentar o teor de ácido fólico, ou vitamina B9, nas plantas de alface. O objetivo é conter o avanço da anencefalia no Brasil. O País é hoje o quarto do mundo com maior prevalência de nascimentos de bebês com anencefalia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). São cerca de 1,8 mil casos por ano. Apesar de a causa da anencefalia ainda não estar completamente definida - provavelmente é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais
- já se sabe que a ingestão de ácido fólico meses antes da concepção pode prevenir em mais de 50% a ocorrência dessa doença. Os estudos iniciaram em 2006. Conforme o pesquisador Francisco Aragão, a alface já produz naturalmente essa vitamina, mas em quantidades pequenas. O que a Embrapa fez foi acelerar a produção das moléculas que dão origem ao ácido fólico através da introdução de genes de Arabidopsis thaliana, que é uma planta-modelo, muito utilizada na biotecnologia vegetal. Os resultados foram promissores. A dose diária de ácido fólico recomendada para um adulto a partir de 15 anos é de 0.4 mg. Com a ingestão de apenas duas folhas da alface modificada, o ser humano absorve 70% da vitamina que precisa diariamente. A perspectiva é promissora, uma vez que, na média, os programas genéticos consideram satisfatória uma melhora de 30% no resultado final. E quanto à segurança? O Brasil possui um dos mais rígidos sistemas de pesquisa e licenciamento de biotecnologia do planeta: a Lei 11.105/05, que regula as atividades com transgênicos. Essa legislação determina que, desde a sua descoberta até chegar a ser um produto comercial, um transgênico é obrigado a passar por muitos estudos, que levam aproximadamente 10 anos de pesquisa. Esses estudos buscam garantir a segurança alimentar e ambiental do produto final. Somente depois de analisado e aprovado pela CTNBio é que o produto vai para o mercado. Ou seja, a produção de transgênicos é uma atividade legal e legítima, regida por legislação específica e pautada por rígidos critérios de biossegurança.
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SUINOCULTURA
Driblando embargos
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NOVO MERCADO Apesar do embargo imposto pela Rússia, o que salvou o setor de proteína animal brasileira foram as fortes encomendas da China e Hong Kong.
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ano começou com forte alta nas vendas de carne suína do Brasil no exterior – apesar do embargo imposto pela Rússia à proteína no ano passado. O que salvou o setor, conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), foram as fortes encomendas da China e de Hong Kong. O caso mais emblemático é o da China que, no primeiro mês de 2018, importou 13,5 mil toneladas, resultado que supera em 122% o volume embarcado para o mercado chinês em janeiro do ano passado. As vendas geraram receita de US$ 28,9 milhões, 131% acima do realizado no ano anterior. Hong Kong, por sua vez, aumentou as importações em 23%, com 17,2 mil toneladas adquiridas em janeiro último. Em receita, o crescimento chegou a 27%, totalizando US$ 34,8 milhões. “O setor de suínos entrou em um novo momento, com menor dependência das vendas para o Leste Europeu, diminuindo os efeitos do embargo russo. As exportações para a China neste início do ano, inclusive, superaram a média dos embarques realizados para a Rússia no primeiro mês dos últimos cinco anos”, explica Francisco Turra, presidente-executivo da ABPA. As exportações brasileiras de carne suína (incluindo todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 54,4 mil toneladas no mês, volume 15,4% inferior ao registrado em janeiro
de 2017, com 64,3 mil toneladas. Em receita, os embarques do setor renderam US$ 111,4 milhões em janeiro, número 19,9% menor que os US$ 139,1 milhões obtidos em janeiro de 2017. Outros mercados também incrementaram suas importações no primeiro mês do ano. É o caso do Uruguai, que importou 3,1 mil toneladas (+30%); e de Angola, com 2,5 mil toneladas (+7%). A expectativa é positiva para o restante do ano. “Os embarques de carne suína devem ser impulsionados neste ano pelas vendas para a Coreia do Sul, que está abrindo seu mercado. Há, também, sinalizações de interesse vindas do Peru e do México”, completa Turra. Outra notícia importante ocorrerá em maio, quando o Brasil deve ser reconhecido como país livre de aftosa com vacinação na reunião anual da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em maio de 2018. Esse novo status sanitário deve contribuir para que o País diversifique os destinos das exportações de carne suína, resultando, no longo prazo, na melhoria de toda a cadeia. Os reflexos deste novo cenário já foram percebidos em 2017, quando a Coreia do Sul passou a importar carne suína brasileira de três frigoríficos localizados em Santa Catarina – atualmente, único estado do País reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação. Recentemente, uma missão do Ministério da Agricultura ao Sudeste Asiático constatou que há outros interessados na carne brasileira com potencial para comprar cada vez mais: Cingapura. Conforme o ministério, a atratividade de Cingapura reside no fato de a cidade-estado não ter produção agrícola relevante e deter um PIB de US$ 300 bilhõespara uma
população de 5,6 milhões de habitantes. Apenas 3% da importação agropecuária de Cingapura é de produtos brasileiros. Os principais itens importados são carnes in natura, de frango, suína e bovina. Agora, a pressa é para acelerar a liberação de plantas frigoríficas brasileiras aptas a comercializar com o país asiático.
No mercado interno, a cautela Se no exterior a carne suína tem encontrado novos compradores, no mercado interno o momento é de cautela, na avaliação da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS). Em média, o consumo brasileiro absorve 80% da produção nacional de carne suína. Em relatório, a instituição afirma que o produtor rural deve ficar atento à eficiência produtiva, visando reduzir o custo de produção. Apesar das boas perspectivas para a economia brasileira em 2018, observadas no relatório Focus divulgado pelo Banco Central, com alta de 2,70% no PIB, o brasileiro ainda se mostra cuidadoso com seus gastos. Em relação aos custos de produção, de acordo com o Cepea, os gastos na compra de insumos para formulação de ração podem ser superiores aos de 2017. Isso porque o preço do milho tende a subir neste ano, devido ao atraso na colheita da soja da safra 2017/18, que pode retardar o plantio do cereal. Segundo a ABCS, a taxa de desemprego permanece próxima a 12% e, com isso, 78% da população ainda classifica o momento da economia como ruim, conforme pesquisa recente. De acordo com informações do Cepea, as
Francisco Turra Presidente-executivo da ABPA vendas abaixo do esperado no período de final de ano elevaram a disponibilidade da carne suína no varejo, pressionando os valores junto aos produtores, diminuindo o valor do preço pago historicamente no período. Apesar do cenário ainda incerto, Marcelo Lopes, presidente da ABCS, permanece otimista. “O preço do suíno está sendo pressionado pela economia ainda desaquecida e sobretudo pelo embargo russo. No curto prazo, precisamos que o governo consiga derrubar o embargo, o que certamente trará reflexos positivos para o preço pago ao produtor. Por outro lado, o mercado de milho tem contribuído para amenizar o cenário. Neste momento o produtor precisa acompanhar bem de perto sua granja, focando a eficiência e a redução do custo de produção”, finaliza.
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MEIO-AMBIENTE
Contra o efeito-estufa
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té junho deste ano, o Ministério da Agricultura e a Embrapa devem concluir a implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do setor agropecuário brasileiro na redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE). A NDC do Brasil foi apresentada na 21ª Conferência das Partes (COP-21), realizada pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima
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(UNFCCC), mediante a assinatura do Acordo de Paris em 2015, e ratificada em 2016, na COP 22, em Marrakesh, Marrocos. As metas estabelecem a redução das emissões GEE em 37% abaixo dos níveis de 2005, com prazo até 2025 – esse patamar deve subir para 43% até 2030. No caso da agricultura, os compromissos assumidos se referem às ações em que o potencial de mitigação das emissões sejam de 133 a 162 milhões toneladas de CO2 equivalentes. O objetivo é o aperfeiçoamento contínuo das práticas de uso e manejo sustentáveis dos recursos naturais que reduzam a emissão GEE. Entre eles, aumentar a fixação de CO2 na vegetação e no
solo, e, ainda, diminuir a vulnerabilidade dos produtores, das comunidades rurais e dos ecossistemas. De acordo com a Embrapa, a agricultura contribui para o efeito estufa com emissões de gases como o metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), óxido nitroso (N2O) e óxidos de nitrogênio (NOx). As estimativas são de que 20% do aumento anual dos gases na atmosfera decorre das atividades do setor agrícola. O metano e o óxido nitroso são os principais gases emitidos pelo setor agropecuário, contribuindo com 15% e 6%, respectivamente. Ainda segundo informações
da Embrapa, as principais fontes agrícolas de gases de efeito estufa são o cultivo de arroz irrigado por inundação, a pecuária, dejetos animais, o manejo dos solos e a queima de resíduos agrícolas. O cultivo de arroz irrigado por inundação, a pecuária doméstica e seus dejetos, assim como a queima de resíduos agrícolas promovem a liberação de metano (CH4) na atmosfera. No caso do manejo do solo, a utilização de fertilizantes nitrogenados e adição de dejetos animais, entre outros fatores, são responsáveis por emissões de óxido nitroso (N2O). As queimadas, por sua vez, liberam, além do metano (CH4), óxido nitroso (N2O), óxidos de nitrogênio (NOx) e monóxido de carbono (CO). O tema é preocupante, segundo especialistas, por que a longo prazo os gases podem provocar aumento na temperatura do planeta. Estima-se que, se a taxa atual de aumento desses gases continuar no ritmo atual na Terra, as temperaturas médias globais subirão 0,3ºC por década. A esse
ritmo, em 2100, o aquecimento global chegaria a quase 3,5ºC.
Recuperação de pastagens Outro ponto que merece atenção quanto à emissão dos gases de efeito estufa é a degradação das pastagens. Para a Embrapa, a estimativa é de que a recuperação de 15 milhões de hectares em pastagens degradadas até 2020 pode reduzir as emissões em 40,2 milhões de toneladas de CO² equivalente ao ano. Em outra frente, a adoção de sistemas integrados em 4 milhões de hectaresreduziria 10,7 milhões de toneladas de CO² equivalente por ano. Apenas entre 2010 e 2015, cerca de 5 milhões de hectares se transformaram em sistemas integrados, com 82% sendo integração lavoura-pecuária (ILP). Há, ainda, sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). A preocupação é tamanha que há modalidade de crédito rural
A implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) no setor agropecuário brasileiro deve reduzir em 37% as emissões de gases do efeito estufa, comparado com os níveis de 2005
específica dentro do Plano Safra, mas vem perdendo fôlego. Segundo a Embrapa, o programa ABC, linha de crédito com foco em recuperação de pastagens, plantio direto e adoção de sistemas integrados, ofertou R$ 2,13 bilhões na safra 2017/2018, redução de 26% em relação ao montante de 2016/2017 (R$ 2,9 bilhões). Desde o primeiro ano em que essa modalidade de crédito foi oferecida, em 2010, o total contratado nunca atingiu o valor disponibilizado. Na safra 2016/2017, a utilização chegou a 63% do total, enquanto no ciclo 2015/2016 foi de 68%. De acordo com a Embrapa, falta de informação e burocracia são alguns dos entraves que podem explicar esses números A região que mais busca a linha de crédito é a Centro-Oeste, com 31,3%, seguida do Sudeste (22,7%). Em termos de finalidade, a recuperação de pastagens corresponde por 61% do total, depois 23% para plantio direto e 7% para sistemas integrados. No Acordo de Paris sobre o clima, o Brasil assumiu, entre outras metas, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, além de recuperar mais 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e adotar sistemas ILPF em 5 milhões de hectares adicionais. Para atingir estes objetivos até 2020 e incentivar os produtores rurais, uma alternativa é expandir o financiamento rural para outras linhas do Plano Safra. Para os 15 milhões de hectares de pastagens citados acima, a estimativa do governo federal é de que serão necessários investimentos de até R$ 31 bilhões. Para a expansão do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) em 4 milhões de hectares, o custo identificado é de R$ 7 bilhões.
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FISCALIZAÇÃO
Inspeção sanitária em pauta
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lvo de polêmicas no ano passado, o novo modelo de inspeção sanitária criado pelo Rio Grande do Sul já está em vigor. A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) abriu, em fevereiro, edital para credenciar prestadores de serviços técnico e operacional em estabelecimentos Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Conforme explica o diretor-geral da Seapi, Antônio Aguiar, “o edital visa a inscrição de empresas prestadoras de serviço na área da medicina veterinária para que possam se credenciar e assim prestarem serviços nos estabelecimentos de frigoríficos, de acor-
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do com a lei de n° 15.027 de 21 de agosto de 2017”. Aprovada pela Assembleia Legislativa em agosto do ano passado e sancionada pelo governo no mesmo mês, a nova lei realizou mudanças conceituais no antigo modelo, aumentando a eficiência e a capilaridade da inspeção. Agora, ficou mais rápido o processo de habilitação de médicos veterinários profissionais para prestar o serviço. Presidente do Fundo Estadual de Saúde Animal (Fundesa), Rogério Kerber acredita que a mudança é bem-vinda. “Agora temos (o setor produtivo) a obrigação de, ao implementar as regras, ter um desempenho à altura da sociedade que estará atenta e olhando. Que isto esteja focado na saúde do consumidor, que é quem dará o aval final deste trabalho que estamos desenvolvendo”, salienta. De acordo com o texto, a inspeção sanitária e industrial foi separada da fiscalização por serem atividades distintas. A inspeção é feita por médicos veterinários habilitados pelo Estado. Os novos
veterinários serão inseridos no sistema da inspeção, por meio de credenciamento de prestadores de serviços técnicos e operacionais. As alterações, conforme o governo do Estado, têm o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e já vigoram nos estados do Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo; além de países como Alemanha, França e Estados Unidos. A nova modalidade dará “mais velocidade ao setor de proteína animal com toda a segurança necessária para a qualidade do produto”, explica o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Alexandre Guerra. “A modernização da fiscalização é um marco histórico para o Rio Grande do Sul”, destaca. Segundo a Seapi, o edital ficará aberto permanentemente no site da Secretaria da Agricultura, podendo os prestadores de serviços técnico e operacionais se credenciarem. A habilitação dos veterinários contratados será feita pela secretaria.
GESTÃO
Qualificação no campo
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esde fevereiro, a cidade de São Sepé conta com uma estrutura do Senar-RS para atender aos alunos do curso técnico em agronegócio. Atualmente, 94 estudantes frequentam o curso, e outros 60 devem participar das aulas a partir desde semestre. O curso técnico em agronegócio busca ampliar a qualificação de quem desenvolve suas atividades no meio rural para aumentar a eficiência do mercado agrícola e industrial. A atividade, gratuita, é realizada na modalidade semipresencial, em que 80% das aulas são realizadas em ambiente virtual, e exige que os candidatos tenham concluído o Ensino Médio. No Rio Grande do Sul, o Senar-RS oferece 120 vagas distribuídas entre seus dois polos: Cruz Alta e São Sepé. Neste ano, mudou o processo seletivo. Ao invés de provas, será
feita análise do currículo e do histórico escolar dos candidatos. A prioridade será dada a agricultores familiares ou de médio porte e agentes de assistência técnica e extensão rural cadastrados no Programa Rural Sustentável do Ministério da Agricultura. Em outra frente, o Sebrae-RS disponibiliza diversas opções de capacitações online gratuitas. São cinco opções, entre cursos, vídeos e webseries, divididas em tópicos fundamentais para o bom desenvolvimento das atividades do campo. O curso Avaliação da Gestão da Propriedade Rural, por exemplo, tem como objetivo proporcionar mais conhecimento sobre o uso de ferramentas de controles financeiros que, executadas continuamente, promovem a melhoria da gestão. Outra opção é a atividade Boas práticas como diferencial na gestão das pro-
priedades rurais, que permite ao produtor refletir sobre a importância de implantar um sistema de gestão utilizando ferramentas adequadas para administrar o negócio com foco em resultados. Já a websérie Novo Agronegócio, com 50 vídeos, oferece uma abordagem objetiva, com informações importantes para aqueles produtores que atuam em diversos sistemas de produção, ou ainda para quem deseja de investir em uma nova atividade. As séries estão divididas tem temas como ambiente de produção, mercado, infraestrutura, recursos humanos e recursos financeiros. Quanto à sucessão rural, tema cada vez mais presente hoje no agronegócio, destaque para o vídeo De pai para filho: a continuidade dos negócios no campo, que busca informar e conscientizar os herdeiros sobre o futuro das propriedades rurais familiares. O material pode ser acessado diretamente na página de cursos do Sebrae-RS, por meio do link https://goo.gl/tPZsqZ.
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MIX
Mulheres no agronegócio Internet das coisas
O campo está mais feminino, pelo menos é o que indica um levantamento feito pela Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR). Uma em cada três propriedades rurais do Brasil tem mulheres ocupando funções de comando – há cinco anos, eram 10%. Quando não são as principais responsáveis pelas propriedades, elas atuam como administradoras, dividem as atividades com um familiar ou estão sendo preparadas para assumir essas funções. A pesquisa foi realizada ao longo de 2017, com 2.090 agricultores e 717 pecuaristas de 15 Estados.
A internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) deve movimentar US$ 8 bilhões no Brasil este ano, segundo a empresa de pesquisa IDC. O conceito diz respeito a máquinas que se comunicam sem interferência humana, trocando dados pela rede – e elas já são realidade no campo. Com os sensores instalados em máquinas agrícolas, é possível obter uma série de informações do solo, por exemplo, que podem orientar as ações de correção de acidez, irrigação e plantio. A agricultura de precisão, neste caso, é aliada importante da IoT.
Na Argentina, suínos em alta Fertilidade no solo Dados divulgados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) indicam que o volume comercializado no Brasil ano passado foi recorde. O ano fechou com 34,44 milhões de toneladas de adubos frente as 34,08 milhões de toneladas comercializadas em 2016. Entretanto, a produção nacional diminuiu 9,5% em 2017, abrindo espaço para o adubo importado: no total, vieram do exterior 26,30 milhões de toneladas do produto. Isso respondeu por 76,4% da demanda nacional por adubos.
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O abate de suínos na Argentina atingiu recorde de 6,42 milhões de cabeças em 2017, uma alta de 7,3% ante 2016 (5,98 milhões de cabeças) e um forte crescimento de 68% em relação ao registrado há cinco anos, de 3,81 milhões de animais em 2012. Em nota, o Ministério da Agricultura argentino informou que o consumo per capita da proteína no país cresceu 9,1%, na mesma base de comparação, para 14 quilos per capita/ano. O próximo passo, conforme o ministério, é a abertura de novos mercados internacionais para a carne suína produzida pelo vizinho do Brasil.
FUMICULTURA
Sistema centenário de produção
É
em ritmo acelerado que a Souza Cruz beneficia, na fábrica de Santa Cruz do Sul, parte do fumo comprado na safra 2017/2018. O tabaco processado na unidade - considerada uma das maiores do mundo, com capacidade instalada de processamento de 120 mil toneladas por ano - é fruto do trabalho dos produtores integrados à empresa no Rio Grande do Sul. Neste ano, a Souza Cruz celebra 100 anos do Sistema Integrado de Produção de Tabaco (SIPT). Criado em 1918 pela empresa, o SIPT virou referência no agronegócio familiar do Brasil – hoje, é encontrado em outras companhias de diversos segmentos no País e no mundo. O sistema consiste no fornecimento das sementes (desenvolvidas no centro de pesquisa da Souza Cruz) e
dos insumos necessários para a instalação e desenvolvimento da lavoura. O modelo inclui, ainda, assistência técnica gratuita em todas as fases da cultura até a comercialização. Em Santa Cruz do Sul, a expectativa é de que o processo siga até a primeira quinzena de setembro, com a contratação de 1,7 mil colaboradores temporários. “A geração de empregos é semelhante à safra passada, mas o diferencial deste ano é com relação ao tempo de contrato, que será maior”, explica o gerente de Operações Industriais, Robson Lima. O SIPT promove, também, a aproximação das comunidades rurais com a empresa, possibilitando investimentos e parcerias com objetivo de reduzir o êxodo rural e, ainda, a diversificação da produção, com espaço para ou-
tras culturas como feijão e milho após a colheita do tabaco. Além do Rio Grande do Sul, a companhia processa tabaco em outros estados. No Paraná, o trabalho ocorre na planta de Rio Negro (deve seguir até o início de julho), e em Santa Catarina, na unidade de Blumenau (previsão de término também em julho). Sediada no Rio de Janeiro, a Souza Cruz atua em 584 municípios da Região Sul do Brasil, com o envolvimento de 27 mil produtores integrados e uma equipe de assistência técnica formada por 222 orientadores agrícolas. Conforme dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), a safra 2017/2018 soma 705 mil toneladas. A cultura é base de sustento para 190 mil famílias distribuídas entre os três estados do Sul do Brasil e ocupa cerca de 300 mil hectares. O tabaco é um dos principais produtos da pauta exportadora do País, com 427 mil toneladas comercializadas ano passado, com resultado de US$ 2 bilhões em vendas.
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OLIVICULTURA
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Mercado do azeite em ascensão
H
á menos de 15 anos, ninguém imaginava encontrar no mercado azeite produzido no Rio Grande do Sul. Hoje, a realidade é outra. Ano após a ano, os empreendedores gaúchos colocam à disposição dos consumidores milhares de litros de azeite de oliva que — justiça seja feita, a julgar pelos prêmios internacionais recebidos e ao esforço dos produtores locais, em nada devem aos estrangeiros. Assim como no vinho, no azeite os gaúchos vão traçando um caminho vitorioso, mas que ainda tem seus percalços. As oliveiras chegaram ao Rio Grande do Sul ainda nos idos de 1900, com os primeiros casais açorianos. A fruta, azeitona, sempre foi usada na alimentação, em conserva. O aumento na produção de oliveiras para se transformar no apreciado azeite só virou realidade há pouco tempo, na Metade Sul. Atualmente, as árvores (e o azeite) surgem de propriedades localizadas em municípios como Caçapava do Sul, Canguçu, Cachoeira do Sul, Bagé e Barra do Ribeiro, entre vários outros. Na pesquisa, o setor ganhou atenção nos últimos anos. Caso da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, que tem trabalhado ativamente com a olivicultura. Entre os pontos já conquistados estão a formação de um banco de germoplasma, novas técnicas de manejo fitossanitário e as tecnologias que melhor contribuem para o desenvolvimento correto da planta. O objetivo final é dar suporte técnico aos produtores na
busca por um azeite com qualidade superior. A importância do segmento é tanta que já foi incluído nos segmentos atendidos por financiamento de bancos como Banrisul e Sicredi. A Expointer do ano passado, por sua vez, presenciou o lançamento oficial do Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva), que já conta com 80 associados. Em solo gaúcho, a produtividade é similar à registrada na Europa – média de dez toneladas de azeitonas por hectare, resultando em 1,5 mil litros ou quilos de azeite. Contudo, é uma cultura de longo prazo. Apenas no quarto ano de vida a árvore começa a frutificar e assim continua por até 70 anos, se bem cuidada.
Com cerca de 3,3 mil hectares dedicados à cultura, o Rio Grande do Sul responde por quase 50% da produção brasileira – outros 3,6 mil hectares estão distribuídos por Minas Gerais e Rio de Janeiro. Segundo o presidente do Ibraoliva, Eudes Marchetti, em 2018 a produção de azeite no RS deve alcançar 70 mil litros – ano passado, foram 55 mil litros. A área ocupada com oliveiras tem crescido ano após ano. Apenas de 2016 para 2017, conforme Marchetti, a cultura cresceu 40% em hectares. Mas por que tanto apreço pelo cobiçado fruto que origina o azeite? Simplesmente por que o mercado absorve toda a produção. “Ano passado, em setembro, já não tínhamos mais garrafas para vender”, informa ele, que produz o azeite Prosperato. E isso que o azeite nacional supre apenas 1,5% da demanda dos brasileiros pelo produto. A maior parte vem de países tradicionais, como Espanha e Portugal. O Brasil é o maior importador mundial de azeite, segundo Marchetti.
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IRRIGAÇÃO Não chega a ser um problema para o azeite brasileiro. “Temos mercado para nosso produto, um azeite extravirgem, puro. Se o Brasil suspendesse a importação, seriam necessários 70 mil hectares para suprir a demanda interna, impossível hoje”, avisa ele. O problema, segundo o presidente do Ibraoliva, não é a importação, mas sim o produto vendido como azeite mas que não é azeite. “Há casos em que misturam óleo de soja ou de milho junto. Esse produto é engarrafado e comercializado em gôndolas de supermercados como azeite extravirgem, nada mais enganoso”, avisa. Isso ocorre porque boa parte do azeite importado entra no Brasil em granéis com 200 litros. O envase final é feito no território nacional, um prato cheio para falsificações e que tem prejudicado a imagem do azeite extravirgem. “Uma de nossas metas no Ibraoliva é de que o governo permita a importação apenas do azeite já engarrafado”, pede Marchetti. A favor do azeite gaúcho conta a juventude – ao contrário do vinho, quanto mais rápido o processo entre colheita e envase, melhor o resultado final do produto. “Então, ainda, no caso dos importados, além da questão do azeite a granel, tem muito produto vendido com mais de seis meses, um azeite velho. Aqui, em dois dias colocamos o nosso no mercado”, conta o presidente do Ibraoliva. Para quem costuma reclamar que o azeite é caro, Marchetti abre as contas. Para extrair um litro de azeite são necessários 9 quilos, em média, de azeitona. Cada quilo custa R$ 4,50 – só aí o custo por litro já beira R$ 41,00 apenas em azeitonas. “Você deve adicionar os gastos com a garrafa, tampa, estocagem, o transporte, armazenagem. Então como
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você explicar um azeite vendido a R$ 15,00 no varejo? Não é extravirgem, é azeite misturado. Precisamos mostrar ao consumidor que o que vendemos vale o que custa”, destaca. E não são apenas os produtores locais que ressaltam a qualidade do nosso azeite. Marchetti conta que, nos últimos anos, os gaúchos já receberam mais de 30 prêmios internacionais que referendam a excelência do azeite que sai dos campos do Rio Grande do Sul. “Estamos ainda no início de um mercado promissor, que exige investimentos, claro, mas que gera um produto final de qualidade e com consumidor disposto a pagar por ele”, completa o presidente do Ibraoliva.
Colhendo os frutos Se a olivicultura é relativamente nova na economia gaúcha, mais ainda são os fabricantes de azeites. Muitos estão desbravando, apoiados por técnicos especiali-
Eudes Marchetti Presidente do Ibraoliva
zados, este mercado. Um deles é o empresário Leo Fuhrmann, que comanda a Verde Louro Azeites, de Canguçu, juntamente com a esposa, Mita Fuhrmann. O casal está indo para a terceira colheita este ano – tem oliveiras espalhadas por 300 hectares no município do Sul gaúcho e processa ali mesmo as frutas. A expectativa, neste ano, é aumentar em 20% a produção de azeite, atingindo 15 mil litros. “A minha marca é bem nova, vamos conquistando mercado aos poucos. Basicamente, o consumo é todo interno, não exportamos. Ainda temos um trabalho de conquistar o consumidor para o azeite gaúcho, uma vez que ele está acostumado a consumir o importado”, avalia Furhmann. Ao contrário do vinho (“quanto mais velho, melhor”, diz o ditado), o azeite “novo” é o que tem as melhores propriedades de sabor. Quanto menor o tempo entre colhida a azeitona, processada na fábrica e envasado o azeite, melhor o resultado final. “Dependendo, em dois dias conseguimos produzir o azeite. É um grande diferencial competitivo frente ao produto espanhol, por exemplo, que passa meses estocados antes do envase”, pondera ele. Fuhrmann é empresário da área calçadista, com negócios em Três Coroas, onde reside. Em viagens a trabalho pelo exterior, leu uma reportagem sobre o sucesso da produção de oliveiras no Sul do Brasil. Vislumbrou, a partir de então, uma oportunidade de investir em um setor completamente diferente. “Isso era 2009. Eu tinha que tomar uma decisão: ou aumentar a fábrica de calçados ou participava de outro negócio. Optei pelas oliveiras e não me arrependo. Foi o caminho certo”, relembra. Uma vez por semana, ele percorre os
da qualidade das azeitonas e que os processos realizados a preservam. Uma acidez baixa indica a ótima qualidade do fruto, o processo correto na extração e o controle total na plantação. “Tudo inicia lá na produção das mudas. Temos um agrônomo que vive na região e controla esta parte. Produzir azeite tem uma semelhança com o vinho: cada safra depende do clima, podendo até mesmo alterar o sabor final do produto. Por enquanto, nossas três primeiras safras foram muito boas. Esperamos seguir neste ritmo”, completa.
Nativa do Oriente Médio Com cerca de 3,3 mil hectares dedicados à olivocultura, o Rio Grande do Sul responde por quase 50% da produção brasileira. 370 quilômetros que separam os dois municípios para cuidar dos seus olivais e dos azeites. No início, tudo era novo. A partir de pesquisas da Embrapa, que já tinha mapeado a olivicultura gaúcha, Fuhrmann encontrou terras disponíveis em Canguçu. Começou do zero, amparado por engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas e consultorias. Hoje, a Verde Louro produz três azeites extravirgens a partir de diferentes variedades de azeitona (arbequina, arbosana e koroneiki), mais um blend das variedades. Os produtos da marca são encontrados em mercados especializados e pequenas lojas em diversos pontos do Brasil. Uma dificuldade comum a muitos produtores locais de azeite é encontrar espaço nas gôndolas das grandes redes varejistas. “O varejo quer preço competitivo e escala, e nós trabalhamos com qualidade. Se eu
reduzir a qualidade para ter preço, perco no produto. Então prefiro seguir assim”, pondera. O processo é rápido. Após a colheita, as azeitonas são limpas, lavadas e pesadas. O tempo médio entre a colheita e o processamento dos frutos é de cinco horas. Logo após vem a termobatedura, etapa em que as azeitonas começam a virar o azeite. A extração é feita através de pressão a frio, cuidando para não alterar o sabor único do azeite com compostos que podem ser encontrados na polpa e caroço do fruto. A massa de azeitonas tem sua temperatura controlada, nunca passando de 28º C, preservando assim seus compostos voláteis, responsáveis pelo aroma e sabor. O próximo passo é o envase. Um dos parâmetros químicos de avaliação do azeite de oliva é sua acidez. Quanto menor a taxa, melhores são as indicações
A oliveira (Olea europea L) é nativa do Oriente Médio e foi introduzida no Brasil no século XIX. Seu fruto, a azeitona, era usada, geralmente, na alimentação humana. Dele são consumidos a polpa macia, que reveste o caroço, e o azeite, óleo produzido a partir do esmagamento da polpa. Cada oliveira leva cerca de quatro anos para atingir o ponto considerado ideal para colheita da azeitona e produz de 2 a 3 litros por safra. Rica em minerais como o fósforo, cálcio, potássio e ferro, a azeitona também contém a vitamina E, substância antioxidante que age contra doenças cardíacas, tem ação anti-inflamatória e auxilia no aumento do colesterol bom, por exemplo. O azeite de oliva, derivado da azeitona, e seus benefícios nutricionais são recomendados por seus fatores que inibem o risco de doenças cardiovasculares e no processo digestivo. Os tipos extravirgem, puro ou refinado são aplicados nas diversas formas na alimentação e no preparo de receitas de alimentos.
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Valor recorde Frango versus câmbio
O ano de 2017 terminou com o maior Valor Produto da Produção (VBP) desde que a série histórica foi criada, há 19 anos. Conforme o Ministério da Agricultura, o VBP de 2017 somou R$ 540,3 bilhões (1,3% de crescimento). O resultado favorável de 2017 deve-se principalmente à grande safra de grãos: 240,6 milhões de toneladas, segundo dados do IBGE. Sete estados lideraram o VBP do ano passado: São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Pará.
Mais água No início deste ano, o governo gaúcho anunciou a construção de 979 microaçudes em propriedades da agricultura familiar. As obras integram o Programa de Apoio e Ampliação da Infraestrutura Rural, da Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR). Serão beneficiados 99 municípios com as obras, orçadas em R$ 5,5 milhões (recursos do Fundo de Recursos Hídricos, gerenciado pela Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema). A Emater irá elaborar os projetos dos açudes, cada um com capacidade entre 4 e 5 mil metros cúbicos de água.
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O ano começou com as exportações de carne frango ligeiramente menores que as de janeiro de 2017 – segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os embarques (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 330,9 mil toneladas em janeiro. O saldo é 8,8% inferior ao obtido no mesmo mês de 2017 (com 362,9 mil toneladas). Em receita, o saldo total das exportações chegou a US$ 521,9 milhões, número 13,3% menor que os US$ 601,7 milhões obtidos em janeiro do ano passado.
Nova Embrapa
Desde 1 de fevereiro de 2018, a Embrapa mudou sua estrutura administrativa. A empresa reduziu de 15 para seis as áreas administrativas da sede, em Brasília, com corte de funções gratificadas e alteração de toda a estrutura e processos.O ajuste, mantendo o mesmo grupo de empregados, busca adequar a Embrapa às mudanças tecnológicas e sociais e aumentar sua eficiência. Atualmente, são 9.579 empregados, sendo 2.438 pesquisadores, que incluem agrônomos, físicos, veterinários, economistas, biólogos, químicos e cientistas da computação. Eles atuam em equipes e redes desenvolvendo, atualmente, 1.117 projetos de pesquisa.