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www.violetaskaterock.com.br


Quando procurei Daryan Dornelles para propor a ele uma nova empreitada profissional, aposto que meu amigo fotógrafo não imaginava nem de longe o que poderia ser. Ele, um contumaz leitor de revistas especializadas em música, sempre comentava comigo suas impressões e eu achava que aquilo era, na verdade, um desejo latente de produzir sua própria revista. Faltava-lhe apenas um projeto e um convite. Assim surgiu a ideia de lançar a revista online Roda.

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No início, tudo era muito embrionário e acabamos levando um bom tempo para chegar a um denominador comum. Afinal, essa relação texto e fotografia nem sempre é afinada. Uma coisa, no entanto, era ponto em comum: nosso gosto por música. Esse acabou sendo, então, o caminho escolhido na hora de buscar uma linha editorial. Durante o processo de amadurecimento, fomos incluindo outros assuntos e, fundamentalmente, outras pessoas que trariam para a revista aquilo que acreditamos ser preponderante nos dias de hoje: novidade e pluralidade na busca pelo interesse do leitor. Nossa revista nasceu principalmente dessa vontade comum e genuína de falar daquilo que a gente gosta. Essa edição número zero entra no ar com o objetivo de mostrar um pouco do que pretendemos fazer e convidar todos vocês a entrar nessa Roda com a gente.

EDITORIAL

BOB COTRIM . EDITOR DE CONTEÚDO DARYAN DORNELLES . EDITOR DE IMAGEM


COLABORADORES

FLÁVIA IRIARTE

Formou-se em cinema na UFF e realizou quatro curtas. Em 2010, fundou a editora Oito e Meio, especializada em descobrir novos talentos da literatura brasileira. Hoje, divide seu tempo entre o trabalho na editora e o mestrado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, na PUC – Rio. Neste número, faz uma reflexão sobre os caminhos que esse mercado está tomando.

TELLO GEMMAL (o pé é do Joca)

Bendito foi o encontro com um grande amigo de infância no pilotis da PUC-Rio em meados dos anos 90, que fez o futuro e insatisfeito engenheiro químico mudar de curso e se transformar num dos mais criativos designers cariocas da atualidade. Abraçou com as mãos, dedos e neurônios o projeto gráfico desse nosso número de partida e sua marca está impregnada em todas as páginas. Durante o tempo de gestação da revista, dividia as atenções entre seu estúdio, as peladas e o pequeno Joaquim.

JORGE NOUJAIM

Jorge El-Kadum Noujaim (sim! ele é brasileiro e carioca) é um designer e animador que, em 2011, foi incluído na lista dos 200 melhores ilustradores do mundo feita pela revista Archive. Ele, que atualmente reside em Nova York, trabalhando para Google, ABC TV e Disney, entre outros clientes, despeja um pouquinho da sua arte em nossas páginas.

LEANDRO SOUTO MAIOR

Jornalista, músico e radialista, sempre esteve envolvido com a cena do rock carioca. Passou pelas rádios Cidade e Fluminense, e hoje apresenta o programa “Rock Acorde”, na Roquete Pinto FM. Como repórter, passou pelo Jornal do Brasil e atualmente cobre a área de musica no jornal O Dia. Como músico, pilota com elegância a sua guitarra na banda Fuzzcas. Apaixonado por rock dos anos 70, nos brinda com um depoimento sobre um disco referencial em sua vida: seu texto é de um autêntico militante.

RAPHAEL ROQUE

Jornalista apaixonado por esportes e gastronomia. Atuou na área esportiva no Jornal Lance, onde ocupou o cargo de editor, e no jornal O Dia. Seu lado gourmet pode ser conferido no blog “Só pode ser Gula”. Nesta edição, Roque nos mostra como alguns renomados chefs e donos de restaurantes estão tentando implantar um novo modelo de relacionamento com os clientes.

STEFANO MARTINI

Formado em Design pela PUC- Rio, investe desde os 15 anos na área de fotografia e já tem um robusto trabalho autoral nessa área. Usou toda essa experiência e criatividade para criar a logomarca dessa edição. Durante o nosso trajeto, teremos outras criações suas mas, com certeza, a primeira a gente nunca vai esquecer.

MÁRCIO BULCK

Formado em Educação Artística pela UFRJ, esse entusiasta e profundo conhecedor de música criou, em 2011, o Blog “Banda Desenhada”, uma referência atual para todos aqueles que buscam informações sobre novidades na área musical. Marcio vem conquistando a simpatia de vários artistas, consolidados ou não no mercado. Mas seu texto para a revista coloca em xeque o comportamento da nova cena carioca em relação à turma de São Paulo.

EDU MONTEIRO

Quando chegou do Sul, transferido pela Revista Placar, esse gaúcho formado em Jornalismo pela Unisinos não esperava que sua carreira na fotografia tomasse o rumo que tomou. Atualmente, é um dos sócios do badalado estúdio carioca Fotonauta, faz mestrado na UFF em Arte Contemporânea e nos brinda com o ensaio “Futebol Barroco”, uma pequena amostra de como se misturar fotografia documental com arte.


Revista Roda #0 janeiro 2013

Editor de Conteúdo . Bob Cotrim bobcotrim@revistaroda.com.br Editor de Imagem . Daryan Dornelles daryandornelles@revistaroda.com.br Diretor de Arte convidado . Tello Gemmal arte@revistaroda.com.br

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Colaboraram nessa edição Edu Monteiro, Flavia Iriarte, Marcio Bulk, Leandro Souto Maior, Raphael Roque, Stefano Martini e Jorge Noujaim RODA . CONTATO Para enviar comentários, sugestões, críticas e informações sobre a revista contato@revistaroda.com.br RODA . ANÚNCIO comercial@revistaroda.com.br RODA . REDAÇÃO Para enviar sugestões e material para review redacao@revistaroda.com.br RODA . WEB www.revistaroda.com.br RODA . SOCIAL comunicacao.redesocial@revistaroda.com.br FACEBOOK.com/RevistaRoda TWITTER.com/RevistaRoda

EXPEDIENTE

Todos os artigos assinados e fotografias são de responsabilidade única de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.


www.leonardonovaes.com.br


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EDITORIAL

ENTREVISTA . KARINA ZEVIANI MODA . RIDE ON, BABY

GASTRONOMIA . ÁGUA? DO FILTRO, POR FAVOR! 3 x 4 . ZÉ OTÁVIO

CONTO . RAFAEL SPERLING

DISPLAY . E-PLURIBUS FUNK . GRAND FUNK RAILROAD FOTOGRAFIA . FUTEBOL BARROCO

MÚSICA . SÃO, SÃO PAULO MEU AMOR

LITERATURA . O GRANDE MERCADO DAS PEQUENAS EDITORAS CRÔNICA . ALMA RUSSA


ilustração . Jorge Noujaim


Karina Zeviani

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POR BOB COTRIM

FOTOS . DARYAN DORNELLES / FOTONAUTA


Nascida em Jaboticabal, interior de São Paulo, essa brasileira de 36 anos, que até os 15 nunca tinha ido sequer à capital paulista, pode se gabar de ser uma cidadã do mundo. Graças à sua precoce carreira de modelo, Karina Zeviani acabou indo morar na Alemanha, depois de passar pela Inglaterra, França e outros países da Europa. Mas foi em Nova York, e através da música, que o caminho de volta à sua terra natal começou a ser percorrido. Os anos de batalha no concorrido mundo da moda acabaram moldando uma personalidade tenaz e decidida. Não é preciso muita conversa com ela para se perceber que sabe muito bem o quer. Talvez isso tenha ajudado a chamar a atenção de dois grupos consagrados internacionalmente como o Thievery Corporation e o Nouvelle Vague que, ao verem suas apresentações no badalado Nublu de Nova York, não titubearam em chamá-la para fazer parte da trupe. O tempo em turnê com eles pelo mundo ajudou a consolidar a vocação de cantar que, segundo Karina, existe desde os 8 anos, quando a família saía com a banda marcial que o tio comandava pelo interior de São Paulo, trazendo à frente uma menina espevitada no posto de baliza e mascote. Lançando seu primeiro disco solo, “Amor Inventado”, que foi gestado durante todo esse percurso de vida, Karina ainda conserva toda a expectativa, o entusiasmo e a ansiedade daquela menina que saiu de casa há 21 anos.



“Sabia que Jaboticabal não era para mim. Ser modelo lá fora foi uma maneira rápida e independente de começar a minha vida”

Como foi o inicio da sua vida profissional? Eu sabia desde sempre que queria ser cantora, apesar disso não estar muito claro na minha cabeça no inicio. Então, quando pintou a oportunidade de ser modelo, eu usei isso para me picar de Jaboticabal, sabia que Jaboticabal não era para mim. Ser modelo lá fora foi uma maneira rápida e independente de começar a minha vida e, nesse ponto, eu devo muito aos meus pais, que sempre confiaram em mim e me deram muita força. Quando surgiu essa transição das passarelas para o palco? Começou na Alemanha, no meio dos anos 90. Eu frequentava um bar que tinha musica brasileira ao vivo e um dia pintou o convite para dar uma canja, aí um convite para cantar semanalmente surgiu naturalmente. Fiquei fazendo uns trabalhos de modelo e cantando à noite. Lá, eu só cantava MPB, tipo Elis e Caetano. Acho que a transição definitiva só se deu em Nova York. Como foi esse inicio em Nova York? Lá, eu comecei a me apresentar no Nublu (espaço que desde 2002 se caracteriza por lançar novos músicos). As apresentações eram bem diferentes das que eu fazia na Alemanha e bem mais próximas do meu verdadeiro universo musical. Por volta de 2003, o Nublu já era uma realidade em Manhattan e os meus shows começaram a ficar lotados e concorridos. Daí

acho que foi um pulo para aparecer um convite bacana como o do Thievery Corporation ( David Byrne, líder do Talking Heads, foi quem indicou Karina para ser vocalista da banda). O que voce acha que chamou atenção para o seu trabalho? Eu comecei a criar a minha identidade, fui deixando os standarts de lado e comecei a colocar as minhas músicas, a minha valsa circense, o meu xote com roupagem “pantera cor de rosa”, baião eletrônico. Chico Science é uma influência absurda no meu trabalho. Mas eu sentia que aquilo não era definitivo, não era a minha verdade, eu ainda estava procurando a minha identidade musical. Eu não sou nordestina, eu sou de Jaboticabal, eu fui da banda marcial, eu gosto de tuba, de trombone. Lembra bem dessa época? Não era muito criança? Sim, a diversão que a gente tinha em cidade pequena e humilde era comer pipoca e maçã do amor na praça no coreto de domingo. O meu tio era presidente da banda marcial São Luiz. Ele tocava caixa e o meu pai tocava o bumbo da direita. Eu,nessa época, já era baliza e mascote. Nós fazíamos turnês e saíamos em dois ônibus para nos apresentar nas cidades vizinhas: Monte Alto, Ribeirão Preto. No fundo, aquilo era um circo, todo mundo fantasiado, com pena no chapéu e porta-bandeira. Hoje em


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dia, eu adoraria ter uma banda marcial comigo. Mas, respondendo sobre a influência disso no meu trabalho, eu te digo que era fundamental colocar todos esses elementos no meu trabalho, mas não gosto da palavra “referências”, acho que você transita num limite muito próximo da cópia, por isso sempre optei por utilizar essas influências de forma muito sutil. Num estúdio de fotografia ou de música, tento ser o mais intuitiva que eu posso. Como foi a experiência com o Nouvelle Vaugue e o Thievery Corporation? Cantar com Nouvelle Vaugue é entrar no palco com o jogo ganho. Foi a partir dessa época que eu percebi que o meu caminho na música era inevitável. A minha história na música até então era muito gratificante, mas o profissionalismo pra valer só começou com eles. Em 2008, por conta do Nouvelle, comecei a passar muito tempo em Paris. O resto do tempo eu ficava em Nova York. Assim, eu dividia a minha agenda entre o Thievery, o Nouvelle e a minha carreira solo. Quando percebeu que era a hora de investir no seu trabalho autoral? Esse já era um projeto antigo, o meu disco, na verdade, começou a ser gestado em 2003/2004, eu chamo ele de pop artesanal, não tem bateria no disco, é tudo percussão com: ukelele, marimba, vibrafone, sanfona e alguns metais. Ele foi sendo criado “on the road”, eu fiz em vários

lugares do mundo, eu paguei por tudo, produzi com alguns co- produtores tipo “collective vibe”, sabe? Com músicos dos lugares que estava e essa é a natureza do disco. Não foi confuso esse processo? Não, porque apesar dessa loucura, o disco tem uma linha, um fio condutor, ele é o apanhado de toda essa minha vida louca desde que eu saí de Jaboticabal, ele reflete todo esse processo de amadurecimento que uma menina que vai trabalhar no exterior passa. Na parte instrumental, alguns elementos ajudam a construir esse fio. Mauro Refosco, meu amigo e percussionista de Nova York, tocou em praticamente todas as faixas. Isso ajudou muito a construir essa identidade que o disco tem, eu acho que, no fundo, o disco tem a minha cara. Como você vê o mercado de música atual e qual o caminho que projeta para o disco? Obviamente, eu tenho o sonho de alcançar um lugar e acho que existe uma possibilidade boa para o disco, mas isso não acontece gratuitamente, tem que ter todo um trabalho por trás, acho que existe espaço no mercado e acho que o mais importante é a relação do artista com o público que ele constrói. Isso hoje em dia está na mão do artista e não da gravadora. As redes sociais e o contato com o público nos shows são fundamentais hoje em dia, à gravadora cabe transformar todo esse processo em algo mais amplo e rápido.

“Comecei a passar muito tempo em Paris. O resto do tempo eu ficava em Nova York. Assim, eu dividia a minha agenda entre o Thievery, o Nouvelle e a minha carreira solo.”



make-up . Nat Roso e Rita Fischer


Como compositora, podemos dizer que seu trabalho é autoconfessional? Totalmente, eu traduzo na minha música a minha vida, os meus amores e as minhas dores, as minhas viagens psicodélicas e lúdicas. É possível me conhecer um pouco através das minhas letras, cada música do disco tem uma história vivida por trás. Voce tem um método de composição? O meu processo de criação não é único, ele é muito diversificado, às vezes vem a ideia de uma melodia que eu registro, às vezes uma emoção que me faz escrever uma letra em que coloco melodia depois. Não tem uma regra, algumas músicas eu levo uma ano para finalizar e outras eu componho em 15 minutos, como se ela estivesse pronta e eu fosse apenas um canal. ‘Muda Mutante’ saiu mais ou menos assim, durante uma viagem de ônibus. Quem voce admira e te inspira na musica? Uma das minhas grandes inspirações musicais é o Caetano, acho incrível a trajetória dele, gosto da maluquice da Björk e eu descobri uma menina há pouco tempo, estou completamente apaixonada. Se chama Agnes Obel, uma musicista clássica, ela faz uma música linda, toda acústica, tocando piano, harpa e outros instrumentos. E tem as coisas que nunca deixaram de ser influência tipo Doors, eu amo Jim Morrison, se eu pudesse reencarnar alguém seria o Jim Morrison, sem as drogas... Já que tocou no assunto... Sempre fui muito responsável e sempre tive muito medo de me envolver com coisas meio “shade” do mundo da moda. Não saía à noite, as meninas chegam lá novinhas e frescas com 14 anos, querendo conhecer tudo da vida e se jogam, eu nunca me joguei. Sempre me mantive distante de drogas ou orgias. Drogas eu não preciso e não posso. Mudando de assuntos, passa pela sua cabeça atuar como atriz? Tenho muita vontade de fazer teatro, que eu nunca fiz na vida, adoraria mas não sei se conseguiria, nunca recebi um convite para valer nesse sentido. Eu tenho vontade de me expressar artisticamente de várias formas, desde pequena eu desenho algumas roupas e costuro. Como se relaciona com a beleza? Bem, é meio difícil falar disso, pois sou muito vaidosa mas não chego a ser neurótica com isso,


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“Amor Inventado”, primeiro disco solo da cantora (Som Livre)

Karina em ação no Nublu de Nova York.


“A beleza acaba passando uma ideia de prepotência, arrogância, de nariz empinado” eu uso o creme mais básico que tem, na verdade agora que estou perto dos 40 é que eu comecei a me cuidar mais. Eu gosto de estar bonita e bem apresentada, dependendo do momento gosto de estar bem à vontade, de jeans e camiseta. Não me considero uma escrava da beleza. Beleza ajuda ou atrapalha? Sinceramente, as duas coisas. Ajuda a abrir portas mas, por outro lado, provoca desconfianças, é como se uma pessoa bonita não pudesse ser talentosa. A beleza acaba passando uma ideia de prepotência, arrogância, de nariz empinado. Como voce lida com isso? Muitos amigos reclamaram da capa do disco não ter o meu rosto e eu fiz questão que fosse assim, não quis me valer disso, não quero ser a gostosona ou a seminua na capa do disco, o que tem que prevalecer é a música. Faria qualquer coisa pela vaidade? Fiz uma cirurgia aos 19 anos para reduzir o busto, que era enorme e não cabia em nenhum sutiã. Precisei fazer, mas não sou contra quem faz, acho que fazer uma coisinha ou outra para intervir nesse processo de envelhecimento é válido. Mas a melhor coisa é se alimentar bem, dormir bem, fazer esportes e, nesse caso, o Rio de Janeiro inspira a gente, eu amo morar no Rio, poder praticar esportes em contato com a natureza é um privilégio. Então o exterior ficou para trás na sua vida? De forma definitiva sim, mas nunca quero deixar de ir para fora, eu sou muito inquieta mesmo morando numa das melhores cidade do mundo como o Rio. Na época em que estava em turnê com Thievery e o Nouvelle, às vezes acordava sem saber direito onde eu estava. Depois de um tempo isso cansa. Mas viajar é uma das

melhores coisa da vida, eu adoro! O Thievery e o Nouvelle continuam fazendo parte da sua carreira? Cada vez menos, a minha decisão de ter vindo para o Brasil eu sabia que implicaria num desmanche dessa relação, eu estou aqui focada no meu projeto solo, mas não é porta fechada, eventualmente cantarei com eles. Só que é uma coisa que deixou de ser prioridade na minha vida. Eu vejo o trabalho de uma cantora e compositora como eu vejo o trabalho de uma atriz, não vai viver sempre o mesmo personagem e eu tenho muita vontade de expressar essa pluralidade na minha carreira musical, uma das minhas metas é fazer música para crianças com uma roupagem moderna bacana, enlouquecida. Essa vontade coincide com o desejo de ser mãe? Sem dúvida, eu sou mãezona, quando engravidar eu tenho certeza que vou fazer um disco para crianças, eu já tenho várias ideias nascidas de encontros com filhos de amigas minhas, nas brincadeiras sempre componho algumas coisas. Algo do tipo música infantil com foco ambiental, sem ser ecochato. Essa sua volta ao país tem a ver com o fato de o Brasil ser o foco do mundo nos próximos anos? Não, de maneira nenhuma, foi o momento da minha vida, morei oito anos em Nova York, fiz o que tinha que fazer por lá. O meu trabalho com o Thievery e o Nouvelle não tinha mais para onde ir criativamente, eu aprendi muito com eles, houve uma troca profissional muito grande e agora era hora de criar a minha trajetória e nada melhor do que fazer isso no meu país, na minha casa. Tem muita coisa nova e boa acontecendo e eu espero fazer parte disso.


Ride on, baby

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FOTOS . DARYAN DORNELLES / FOTONAUTA


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A atriz uruguaia Natalia Mikeliunas encarna o espirito do rock.






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camisetas . VSR e Totem acess贸rios e botas . acervo pessoal


Água? RODA #0

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Do filtro, por favor!

RAPHAEL ROQUE

A cena é clássica. No restaurante, o pedido por uma água é seguido imediatamente da pergunta: “Com ou sem gás?” E lá se vão muitos e muitos reais em garrafinhas cada vez menores e mais caras. Mas alguns restaurantes estão mudando esta prática ao trocar a pergunta para: “Filtrada ou mineral?”. Pois é, sabe aquele simpático hábito em países europeus de servir garrafas de água “da casa” para acompanhar as refeições? Já dá para encontrar com mais frequência em São Paulo e está chegando ao Rio. Aos poucos, mas está. Um grande defensor da causa é o chef Olivier Cozan, que implementa este tipo de serviço em casas que trabalha, como no Bretagne, um misto de bistrô e padaria que durou apenas alguns meses no Leblon, e no Ix Bistrô, localizado no Shopping da Gávea e onde o bretão trabalhou alguns meses como consultor. A iniciativa partiu de uma insatisfação pessoal do chef como cliente que, assim como muitos de nós, cansou de deixar na mesa quase 50% do valor de uma garrafa de vinho apenas em água. “Não bebemos água filtrada em casa? Então por que não beber no restaurante? O cara quer tomar Perrier? Ok. Mas isso é uma opção, não pode ser a regra”, afirma o bretão, que também defende o couvert de cortesia e o fim da taxa de serviço, mesmo que opcional, embutido na conta. Não pode ser regra, mas geralmente é. No Rio os freqüentadores de restaurantes ainda assistem, mais passivos, à ditadura da água mineral, embora a insatisfação esteja ali guardada, como a de Cozan. Em São Paulo, muitos estabelecimentos estão aderindo à acolhedora medida em seu serviço nos últimos anos. Alguns deles, lugares de prestígio como Ici Bistrô, do chef Benny Novak. E o apoio vem de blogueiros e colunistas de gastronomia como Luiz Américo Camargo, do suplemento Paladar, do Estado de São Paulo. Citando o que chama de “indústria da venda de água”, Luiz Américo defende o poder de escolha na mão dos comensais. Em seu blog “Eu só queria Jantar”, faz campanha pela água filtrada nos restaurantes, embora admita que precisa haver bom senso: “Talvez esse tipo de sistema não combine com todo e qualquer ambiente. Cai melhor em bistrôs, em casas informais, em restaurantes mais despojados. Talvez não na alta gastronomia”. A descrição casa perfeitamente com a Vila St. Gallen, uma espécie de “parque temático” da cervejaria com o mesmo nome, responsável, entre outras, pela

fabricação da cerveja Therezópolis. Entre um tour para conhecer a fabricação das cervejas e uma loja para comprar os produtos da marca, a irresistível parada no bar/restaurante da casa. Comidas alemães para combinar com a pilsen, a weiss, a ale e a porter. E, de repente, surge a jarrinha. Afinal, estamos em Teresópolis e num lugar que valoriza a qualidade da sua água. Obviamente, o oferecimento de água filtrada deixa de gerar receita, mas está claro que não chega a impactar no faturamento dos estabelecimentos. Além disso, há o caráter ecologicamente correto da iniciativa. Afinal, em uma conta estimada pelos próprios profissionais do ramo, um restaurante com 20 mesas que sirva água filtrada deixa de utilizar cerca de 20 mil garrafas de plástico de água mineral todos os meses. Em São Paulo, existe a Iniciativa Água na Jarra, um projeto da ONG Igtiba para valorizar a incentivar a troca do consumo da água em garrafa pela água tratada e filtrada, em restaurantes, empresas, hotéis e junto aos consumidores em geral. Os estabelecimentos podem se associar ao projeto e entram para uma lista “ecologicamente correta” que existe no site.“Quando damos preferência ao consumo da água filtrada que já está disponível para o nosso consumo, deixamos de gerar todos os impactos negativos causados pela produção das garrafas descartáveis, durante seu transporte e depois quando da sua disposição final. Além disso, existe o efeito educativo para o consumidor. Muitas vezes, um olhar mais cuidadoso sobre aquilo que consumimos faz toda a diferença para a adoção de novas atitudes na busca por um estilo de vida mais sustentável”, diz Letycia Janot, criadora da Iniciativa Água na Jarra. Parece estar crescendo entre as casas brasileiras a consciência de que se cobra pela qualidade da comida, dos ingredientes, até pela técnica e prestígio do chef. Mas que pequenos gestos podem fazer toda a diferença. E cliente feliz gasta mais. “A água em jarra é um conforto, uma comodidade. E permite, por que não, que as pessoas gastem mais na sobremesa, num drinque. Porque você pagar mais caro por boa comida, vá lá. Mas dói no bolso ver aquela cifra expressiva gasta só em garrafinhas”, admite Luiz Américo. “Quero crer, ainda, que a água gratuita torna as relações entre estabelecimento e público mais amigáveis”. visite http://sopodesergula.wordpress.com/



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3x4 ZÉ OTÁVIO

Data de nascimento: 20/12/1983

Cidade onde nasceu: Olimpia - SP Cidade onde cresceu: São Paulo Cidade onde vive: Olímpia - SP

Um trabalho de alguém da sua área que te marcou: retrato de capa do Muammar Gaddafi na Bloomberg Businessweek, feito pelo David Foldvari Uma cor: amarelo

Quem voce convidaria para ser seu modelo vivo: a cantora e compositora PJ Harvey

Quem voce gostaria que fizesse um retrato seu: o fotógrafo Nadav Kander

Se voce pudesse levar somente uma imagem para Marte: tenho uma de minha noiva quando criança segurando um gato. Essa seria uma boa companhia.


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Qual é o marco inicial do seu trabalho profissional? Foi no final de 2006, quando eu deixei o estúdio de animação Cigarra, onde estagiava, do ilustrador e cineasta Céu D’Ellia, para tocar carreira própria como ilustrador. Eu abri as portas do meu quarto-estúdio em 2007 e só fui conseguir um trabalho remunerado no meio daquele ano. Foram tempos difíceis, mas, apesar de morar sozinho, eu tive um apoio do meu avô na época. O que mudou desse marco inicial para a sua produção atual? Com o tempo, fui ganhando experiência e me tornando mais profissional. Meu estúdio foi ganhando melhores condições. Consegui um flow de lidar com alguns trabalhos ao mesmo tempo, pois aprendi a organizar melhor meu tempo. Outro fator importante foi que me libertei mais para mostrar o que realmente sei fazer para os clientes. Outro dia ouvi em um podcast sobre ilustração um comentário bem interessante com que me identifiquei um tanto. Era algo como “tento fazer o que eles (os clientes) precisam, não o que eles querem”. Pode soar um pouco arrogante mas, de alguma forma, soaram precisas as palavras. Você é 100% fiel à sua técnica ou inquieto demais para não experimentar novos caminhos? Não. Eu sou fiel às cores que uso, como às primárias e aos traços, mas só, pois gosto de experimentar novos caminhos. Como ilustrador, para um trabalho encomendado por uma revista, dependendo da publicação, eu não posso experimentar tanto, entretanto surgem sempre novas ideias a partir de briefings inusitados, como foi o caso de um trabalho que fiz para a “Mundo Estranho” com o tema “Mortes Suspeitas”, em que comecei a usar colagem nos trabalhos. Isso foi completamente imprevisto e achei uma boa ideia para futuros trabalhos. E até que ponto essa “fidelidade a uma técnica” pode engessá-lo, artisticamente falando? Estou sempre desenhando em meus sketchbooks e estou sempre olhando o meu passado, presente e futuro neles. Eles são a chave para o artista não ficar ultrapassado, na minha opinião. Portanto, ali eu vou testando coisas e isso aponta o meu futuro. Acontece também de ver coisas do passado que eram mais, ou tanto quanto, legais que o que estou fazendo no momento. Porém, como ilustrador, preciso deixar um rastro para os diretores de arte, por isso eu sou bem metódico nas cores que uso e o meu traço tem quase sempre a mesma força e pegada.


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A tecnologia influi em seu processo criativo e no resultado? Ultimamente, bastante. Ando usando muito a colagem digital, ou seja, photoshopeando. Porém, uso apenas cinco botões e tudo é devidamente escaneado, não uso nenhum tipo de brush e dificilmente alguma cor vem dali. Sei que a música é uma influência grande no seu trabalho. A imagem dos músicos é mais forte que o som que eles fazem? Sim, com certeza. Foi por isso que fiz um retrato da Lady Gaga, por exemplo, e da Lana Del Rey. Eu até achei legal o primeiro disco da Gaga e me divirto um pouco com a Lana, mas não são artistas que admiro profundamente, acho que são sons de passagem. Entretanto, acho que a Lady Gaga é um alien muito interessante e que será, ou está sendo, objeto de estudos antropológicos, sociológicos e afins, portanto me senti na missão de retratá-la. Você tem que gostar do som ou a imagem do artista basta para motivá-lo? A imagem basta. Como respondi anteriormente, tem o exemplo da Gaga, mas é claro que os portraits do Dylan, Morrissey e Madonna foram mais sinceros por eu curtir a música deles, vêlos como artistas genuínos. Que outros artistas você acompanha com interesse? Admiro profundamente dois ilustradores: o Sam Weber, que tem uma produção que te leva a uma outra dimensão e realidade totalmente etérea, e o David Foldvari, que faz ilustrações que são um soco no estômago e uma torção no cérebro. Qual o limite entre comércio e arte? Acredito que a única coisa que faço sem esperar nada em troca, pelo menos em termos de dinheiro imediato, são os sketchbooks. Isso é algo realmente sincero e não tem preço, seria algo como uma agenda, algo muito íntimo para alguém colocar as mãos. A sua arte tem preço? Acredito que tudo tem um preço. Mas acredito que nunca arrancarei uma página do meu sketchbook para vender separadamente. Agora, tem muitos quadros e desenhos que faço que não passa pela minha cabeça vendê-los e, consequentemente, acabo não mostrando. Entretanto, esses são meus produtos e meu capital, e também dá prazer vender algo que você suou a camisa para fazer, mesmo tendo um certo apego àquilo. Afinal, dinheiro também é energia, como disse um mestre que tive...





UM HOMEM CHAMADO HOMEM Havia um homem Um homem chamado Homem

Rafael Sperling

Homem vivia em uma cidade chamada Cidade, que ficava no estado de Estado, no sudoeste de País. — Eu amo o País. Homem era casado com Mulher e se amavam muito. — Homem é o homem da minha vida. A união de Homem e Mulher gerou um descendente, Menino. Menino era um menino muito feliz, gostava muito de brincar com seu animal de estimação, Cachorro. Certo dia Menino pediu a Homem: — Pai, quero ir ao Cinema. — Que bom. O que está passando no Cinema? — O novo filme do Diretor. “Filme”. — Me falaram muito bem desse filme. Então Homem e Mulher resolveram sair para passear com Filho. Foram ao Shopping. Quando chegaram lá, resolveram almoçar no Restaurante. —É um ótimo restaurante — disse Homem. Já dentro, sentaram-se à Mesa. Chamaram o funcionário, Garçom: — Gostaríamos de fazer o Pedido. O que você recomenda?


— Recomendo o Prato Grande. É delicioso. — E para meu filho? — Recomendo nossa última criação, o Prato Infantil; ele leva Comida e Tempero. — Então eu vou querer um Prato Grande, ela vai querer um Prato Grande pequeno, e ele um Prato Infantil. Depois de saírem do Restaurante, tomaram um sorvete Sorvete e se dirigiram ao Cinema. “Filme” era uma obra-prima. Contava a História de Protagonista, um homem que se desentendia com Antagonista, pois sempre estavam lutando pelo amor de Coadjuvante. No final, todos se suicidavam ingerindo altas doses de Veneno, uma substância muito venenosa. Mulher não conseguiu se conter: — Estou sentindo muito forte a Emoção. Na saída, Menino pediu a Homem para irem à Loja de Cd’s: — Queria muito que você comprasse pra mim o novo CD da Banda. Chama-se “CD”. Foram até o local e compraram o devido produto. Menino ficou radiante: — Obrigado! Estou sentindo muito forte a Emoção. Na volta, todos resolveram escutar a obra musical adquirida. Eram belas canções, especialmente as faixas “Primeira Faixa” e “Terceira Faixa”. Como todos sentiam a Emoção muito forte neste momento, resolveram fazer a Dança, que era a moda do momento. Ela havia se popularizado através do show televisivo “Programa”, no qual Apresentador sempre realizava a Dança, para a alegria de todos os telespectadores de País.


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Alguns dias depois, Mztava na Discoteca e, no momento em que DJ colocou a música “Primeira Faixa”, todos começaram a fazer a Dança. Foi nesse momento que Menino avistou Menina. Ele nunca havia visto uma pessoa assim. Como Menino tinha muita Timidez, continuou apenas fazendo a Dança. Até que ela foi falar com ele: — Oi! Qual o seu nome? — Menino. E o seu? — Menina. — Poxa, é um belo nome. E Menina sorriu. Logo estavam realizando o Beijo. Mas durou pouco tempo, pois Adolescente realizou a Separação: — Se vocês realizarem o Beijo de novo, irei utilizar a Força. Menina é minha Namorada. — Não sou mais sua Namorada. Pare de realizar a Perseguição comigo! — e se afastou. — Fique longe de Menina — disse Adolescente. — Eu faço O Que Quero. Assim como Menina. Então Adolescente usou a Força e derrubou Menino no chão. — Se encontrá-los juntos de novo, irei aplicar-lhes a Morte. De volta à Casa, Menino relatou a Homem o ocorrido. Homem lhe instrui a aplicar a Morte em Adolescente. Apresenta-lhe à Arma: — Se avistar Adolescente de novo, utilize a Força através da Arma. Mostre que não se deve fazer isso com pessoas da família Família.


Alguns dias depois, na Escola, Menino reencontrou Menina. Ficaram realizando a Conversa por um Tempo, até que Adolescente emergiu da Relva. — Estava a observá-los. Irei utilizar a Força para provocar-lhes a Morte. Quando Adolescente fez menção de Violência, Menino aplicou-lhe a Força. A Morte tomou conta de Adolescente. Olhando nos olhos de Menina, Menino sentiu forte o Sentimento, que foi recíproco. A Situação de Limite havia criado um Forte Laço Mútuo. E o Sentimento foi impregnado pelo Tempo: (...) (...) (...) (...) (...) (...) Sentimento (...) (...) (...) (...) (...) (...) Após um Espaço de Tempo Não havia mais uma Menina Havia uma Mulher E ao seu lado Havia um Homem Um homem chamado Homem.

Rafael Sperling nasceu em 1985, no Rio de Janeiro. Compositor e produtor musical, estuda Composição na UFRJ, além de escrever no blog www.somesentido.blogspot.com. Seu primeiro livro, Festa na Usina Nuclear, foi lançado pela Editora Oito e meio, em 2011. http://www.oitoemeio.com.br


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Os Red Hot Chili Peppers dizem amém!

Display

Fã convicto do rock and roll, mais especificamente o rock clássico (sou daqueles ‘xiitas’ que acham que depois de 1975, o gênero só desceu ladeira abaixo), foi com grande desconfiança que escutei um amigo me falar da banda norte-americana Grand Funk Railroad – ou apenas Grand Funk. Adolescente, estava ainda descobrindo as lendárias bandas e artistas do rock, flutuando nos mais conhecidos da massa – leia-se Beatles, Rolling Stones, Who, etc... – e preconceituosamente torci o nariz para um grupo que trazia no nome o execrável (para os autoproclamados ‘puristas’, como me considerava) funk, ritmo que tomava de assalto a juventude da época. E nem eram os tempos dos proibidões, registre-se!

A ignorância ainda não me levara a James Brown, para saber que a palavra ‘funk’, muito antes de Claudinho & Buchecha, também era coisa das boas. Enfim: confiando no gosto musical do amigo, fui conferir o tal Grand Funk. E a ‘aplicação’ começou justo pelo ‘E-Pluribus Funk’, mais conhecido como ‘o disco da moeda’, quinto de estúdio da discografia deles, lançado em 1971, e considerado o ponto alto da carreira.

LEANDRO SOUTO MAIOR

Foi uma pancada na cabeça, e até hoje é dos discos que deixam de queixo caído qualquer um que trave um primeiro contato com ele. Assim como o nosso funk, e aí não vai nenhuma crítica, o álbum tinha aquele balanço dançante que faz bater o pézinho (não por acaso a faixa de abertura chama-se ‘Footstompin’ Music’,

mal traduzindo, daria algo como ‘música para o pé ficar batendo’) mas sem perder a ‘maldição da caveira’ – que era como minha turma de fãs do então chamado ‘rock pauleira’ chamava as bandas repletas de guitarras incendiárias, baixo distorcido e bateria selvagem.

A pancadaria segue nas faixas seguintes, com destaque para ‘I Come Tumblin’’ e o grito antibélico ‘People, Let’s Stop The War’. No entanto, a agressividade na execução é pontuada com vocais afinadíssimos, um corinho perfeito feito pelo guitarrista Mark Farner e o batera de cabelo black power Don Brewer (completava a formação o baixista Mel Schacher) e que é uma das marcas do Grand Funk. Nesses nossos tempos digitais, a reedição de ‘E-Pluribus Funk’ em CD perdeu parte importante de seu carisma pela limitação dos atuais disquinhos: a capa original era um destaque a parte. Em vez do formato quadrado, era redonda, no formato da bolacha, coberto por um papel prateado, como se fosse uma moeda (daí ser conhecido como ‘o disco da moeda’). A partir do ‘E-Pluribus Funk’, o Grand Funk deixaria de ser um trio, agregando à sua formação o tecladista Craig Frost. Sua música passa, então, a mudar, direcionando-se para um caminho mais ‘comercial’. ‘Phoenix’, o lançamento seguinte, porém, ainda guarda a centelha dos tempos iniciais e vale uma bela ouvida. Mas, se você é um iniciante na discografia do grupo, vá direto a este ‘E-Pluribus Funk’. Sua vida não será mais a mesma, garanto.


Satisfaction

Discos

Desde 1985 Rua Francisco Sรก, 95 - Loja K - Copacabana Telefone: (21) 2521-2893


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Futebol Barroco

FOTOS . EDU MONTEIRO / FOTONAUTA



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Música RODA #0

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São, São Paulo meu amor

MÁRCIO BULK

Não, não é bairrismo, eu juro. Bem, pelo menos não daquele tipo clichê que, com certeza, você já viu em algum lugar por aí. Está mais para inveja branca, do bem. Afinal, desde que surgiu, a nova MPB paulistana vem ganhando importância, colhendo merecidos frutos e se firmando dentro do atual cenário musical brasileiro. Ok, você poderá dizer, com certo entojo, que o sucesso dos “novos paulistanos” (aff!) se deve somente à cidade e a sua “grana que ergue e destrói coisas belas”. Mas estamos começando o ano e não serei eu a falar mal desses meninos. Na verdade, quero tocar em outro assunto, talvez um pouco démodé, algo sobre amor e generosidade.

Fui no início de dezembro à gravação do especial de fim de ano do Cultura Livre, programa de rádio e TV capitaneado por Roberta Martinelli. Era um “Show da Virada”, tipo réveillon em Copacabana, só que bacana. No palco, passaram 18 artistas que representaram de forma pra lá de significativa o que há de mais instigante no atual cenário musical. Tulipa Ruiz, Leo Cavalcanti, Marcia Castro, Filipe Catto, Blubell, Kiko Dinucci, Rafael Castro, Juçara Marçal, Karina Buhr, Tatá Aeroplano, Pélico, Felipe Cordeiro, Letuce, Bárbara Eugênia, Rael, Laura Lavieri e – nem tão novo MPBista assim - Maurício Pereira se apresentaram, ora individualmente, ora em duetos, tendo sempre como banda de apoio os heróicos meninos de O Terno. No meio desta festa tão imodesta, pela hora da contagem regressiva, a trupe foi toda ao palco cantar “Gente Aberta”, de Erasmo Carlos. A canção que inicia com os salutares versos “Eu não quero mais conversa/Com quem não tem amor” pareceu retratar perfeitamente aquele momento: a felicidade estava estampada no rosto de todos. Entre um intervalo e outro, os próprios artistas iam para a plateia, fazendo bela fuzarca e se divertindo como poucos. Nos bastidores, as meninas usaram e abusaram do Instagram após terem sido devidamente penteadas e maquiadas. Letícia Novaes fez o mapa astral de Filipe Catto. Este, cantarolava com Bárbara Eugênia uma música do rei. De forma cômica, Leo Cavalcanti dava bronca em Pélico por saber melhor do que o próprio autor a letra de “Se Você me Perguntar”. Nina Cavalcanti, a multitalentosa irmã de Leo, providenciou bebidinhas para a

jornada de mais de quatro horas de gravação. Assim, descompromissadamente, a festa serviu para demonstrar o porquê da cena paulistana ter dado tanto certo. Ali, em meio aos artistas e fãs, também se encontravam produtores, jornalistas, blogueiros, fotógrafos e afins. Estes, em grande parte, responsáveis por fomentar a cena, estavam no mesmo clima dos demais, não escondendo o entusiasmo e a sua admiração pelos artistas ali presentes.

Bem, chegamos enfim ao ponto principal dessa história: aquele papo meio sentimental e démodé... Por mais que exista o jogo de interesses e a natural guerra de egos, o que se viu durante todo o processo de gravação do programa foi uma vontade una de que tudo desse certo, de que aquela cena desse certo. Ali, em meio à comemoração, diversos profissionais, amigos de fato, se confraternizaram por acreditar no trabalho e na força daqueles artistas. Estou falando de amor, meu caro, de entrega e dedicação. Sinceramente, sinto que é isto que falta ao Rio. Enquanto não houver a união de profissionais que fomentem a cena, enquanto não houver igual generosidade por parte dos artistas, enquanto não houver mais entusiastas, será muito difícil termos uma resposta tão positiva quanto nossos prezados vizinhos. Claro que os cariocas se esforçam, vide os programas de rádio Faro MPB e Geleia Moderna, o interesse - ainda que recente - do Circo Voador por esta geração, o novo espaço Comuna, os projetos “Dia da Rua” e “Som na Sala” e os blogues Rock in Press, Já Ouviu? e – desculpem a falta de modéstia – Banda Desenhada. Entretanto, ainda é pouco. Muito pouco. Sendo assim, prezados cariocas, considerem este texto um puxão de orelha, daqueles bem dados. Tipo de mãe, que depois de falar mil vezes com o filho endiabrado, perde a pouca paciência e manda ver. Tipo de quem adotou a cidade maravilhosa como lar há mais de 20 anos e quer muito que ela dê certo, que a sua música dê certo. Então, por favor, está na hora de colocarmos egos, mesquinharias e outras mumunhas mais de lado e partir para a ação. Afinal, como bem diz a dupla Letuce, eminência carioca e nada parda do especial de fim de ano: “Why carão? Love carinho”. visite http://bandadesenhada01.blogspot.com.br/



Litera-C tura

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O grande mercado das pequenas editoras

FLÁVIA IRIARTE

Quando decidi abrir uma editora em 2010, com o intuito principal de “contribuir com a formação, organização e divulgação da produção literária contemporânea, através da publicação de obras literárias de novos autores”, eu não achava que seria fácil (afinal, o que anda fácil nesses nossos tempos?). Tampouco, contudo, foi um sonho-de-menina-atitude-quixotesca-idealista de quem, em nome da literatura, está disposta a ficar sem ter como pagar as contas de casa. Eu estava relativamente consciente da dinâmica de funcionamento do mercado editorial –sua tradicional centralização, editoras grandes disputando a tapa e altas cifras nomes de autores consagrados para seus catálogos ou o título do último sucesso do mercado editorial americano em feiras cheias de glamour e cansaço. Mas eu enxergava também naquele então – e era isso que me interessava – a consolidação crescente de novos espaços de visibilidade, possibilitada por tecnologias de publicação digitais –que iam desde suas formas virtuais como o blog, até a impressa, como o livro sob demanda. E, aqui, destaco essa última. Essa tecnologia, para a qual muitos ainda não deram a devida atenção, (fala-se mais em mercado de e-books, que me parece ainda uma realidade limitada aqui no Brasil), está reestruturando significativamente a forma como se produz,

recebe e circula o livro em formato impresso na nossa sociedade. Ela possibilitou, por exemplo, o mercado julgar interessante publicar títulos de autores pouco conhecidos, explorando aquilo que se convencionou chamar de “mercado de nicho”. E no bojo desse processo surgiu uma série de pequenas e médias editoras, que se utilizam dessas tecnologias para viabilizar financeiramente seus projetos editoriais. Foi assim que pude entrar em contato com a literatura de autores como Rafael Sperling, Leonardo Marona, Luciano Prado da Silva, Cesar Cardoso, Leandro Jardim, (os quais tenho a felicidade de hoje ter no catálogo da Oito e meio); Francisco Slade, Simone Campos (7Letras), Mariel Reis (Vermelho Marinho), Emanoel Aragão, Victor Paes (Confraria do Vento), Ana Salek (Circuito), Marcelo Reis de Mello (Cozinha experimental). E tantos outros, que eu poderia passar pelo menos uma hora listando. É evidente que as assimetrias continuam existindo; que nós, pequenos e médios editores, raramente temos a chance de disputar com os grandes, os espaços da grande mídia ou das grandes redes de livraria. Mas talvez não seja mesmo disso que se trata. Talvez mais do que disputar esses antigos espaços, nosso papel seja criar novos. visite http://www.oitoemeio.com.br/


CCCP ALMA RUSSA

Na condição de estrangeiro dentro de meu próprio país, eu, que devo ter nascido Rodrigo, Tiago ou algo que o valha, sempre me vi mais como Dimitri. Tive o caráter forjado no Peneirovsky, o futebol de várzea russo, considerado por muitos o mais disputado do planeta. Me sinto oriundo de um ventre exilado, mas não me falta esforço para observar e compreender tudo que me cerca nesta terra que parece não ter sido projetada para pessoas como eu, de alma russa. Cada vez que saio de meu apartamento, dotado de uma arquitetura objetiva e prática e que se torna um dos poucos lugares de conforto que tenho, é como se estivesse saindo de um disco voador para explorar um novo planeta. Apesar de não acreditar em ETs e americanos no espaço. Esses dias fui chamado para uma festa, na condição de excêntrico, em um bem falado local da Zona Sul carioca. Foi o ponto de partida para uma de minhas novas conclusões: o polo é o novo esporte nacional.

DIMITRI CARIOSHENKO

Sempre achei que o brasileiro fosse apaixonado pelo futebol, mas, ao sair de casa, vejo que quatro entre cinco pessoas, com as quais eu não tenho a menor vontade de falar, usam camisas desse equinante esporte. Aliás, por estarem todos com esse uniforme, acreditei que voltavam diretamente de uma partida, o que me fez pensar que o estacionamento estaria cheio de cavalos e não carros. Esse fenômeno, continuei divagando, se deveria à desilusão com o futebol. Pois não acredito que haja um Ricardo Teixeira na federação de Polo. Não há lugares comuns para cavalos e raposas. Os jogadores do local

me confundiam com tantas cores e números. As camisas também possuíam uma quantidade de bordados que deixariam qualquer avó com tendinite. Percebi que, quanto maior o cavalo bordado, mais importante era o jogador. Os números também eram intrigantes: alguns me confundiam por serem 08 na frente e 34 atrás. Provavelmente, eram os capitães. Tentei fazer contato, mas eles pareciam ser um grupo muito fechado, do qual só eu não fazia parte. Achei que teria assunto ao avistar um deles pedindo uma vodka ao meu lado, seria um assunto em comum a tão distintas pessoas, mas o England 27 pediu uma Smirnoff com um tal RedBull. Deve ser coisa de atleta misturar água com um guaraná feito com 50 sacos de café. Vendo que não teria sucesso em perguntar mais sobre a nova paixão nacional, resolvi ir, no dia seguinte, ao Jockey Club assistir a uma partida. Ao chegar, não avistei nenhum jogador. Havia apenas quatro homens de idade apostando em uma corrida de cavalos onde todos pareciam ser azarões. Achei que aquela corrida, que não atraía ninguém, seria apenas a preliminar e que logo o público e os atletas chegariam. Errei. Nenhuma partida e já estava tarde. Quando me levanto e caminho para a saída, avisto em uma outra área do mesmo Jockey Club algo que parecia ser uma festa. E, agora para meu espanto, chegavam todos os jogadores, inclusive alguns do dia anterior, só que já vestiam outras camisas, com outros números. Isso me fez chegar à conclusão de que os jogadores de Polo já estavam como os de futebol: trocando de camisa de um dia para o outro e só pensando em festa. Roberto Cotrim é jornalista e editor-chefe básico


www.oficio21.com.br


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