EDMARIO JOBAT Paznambuco, um Estado de Consciência

JAVIER VILLANUEVA Uma nova revista cultural brasileira
EDUARDO RASCOV

EDMARIO JOBAT Paznambuco, um Estado de Consciência
JAVIER VILLANUEVA Uma nova revista cultural brasileira
EDUARDO RASCOV
Espaço de encontro que promete se tornar uma ponte entre duas
Para todos nós que colaboramos com a Revista ARTE, Cultura y Sociedad - México, foi uma grande satisfação poder crescer e consolidar-nos ao longo destes cinco anos, com um produto que nos permite VIVER A CULTURA de uma forma mais próxima e humana, e de forma atrativa.
Por isso, estamos muito felizes em ter a oportunidade de nos aproximar dos nossos irmãos e irmãs brasileiros por meio deste novo espaço de encontro, que promete ser uma ponte entre duas culturas.
Por que transcender através da Cultura?
A resposta é simples: Cultura inclui nossas crenças, tradições, conhecimento e herança, assim como dita como pensamos e como nos comportamos. Então, se realmente queremos transformar nosso ambiente social, precisamos começar por entendê-lo e desenvolvê-lo.
Em relação a esta publicação, devemos também entender que uma revista cultural não só enriquece o panorama artístico e literário, mas também promove o pensamento crítico, a diversidade e a coesão social, tornando sua divulgação fundamental para o desenvolvimento cultural de qualquer sociedade.
Como meio de comunicação, estamos convencidos de que a mudança deve ocorrer por meio de esquemas de unidade entre os países, que por sua vez promovam uma integração gradual que permita não apenas educar, mas também desenvolver nossas comunidades.
É importante mencionar que esta publicação é uma conquista que não teria sido possível sem o empenho e a determinação do nosso querido amigo paulista Javier Villanueva e sua equipe de colaboradores, entre os que se destaca Isaac Morales Fernández, que idealizaram e acreditaram no projeto, comprometendo-se a torná-lo realidade.
Em um mundo onde a cultura pode ser ofuscada pela imediatez, esses tipos de esforços, sem dúvida, se tornam faróis que iluminam o caminho em direção a uma compreensão mais profunda de nós mesmos e dos outros. Bem-vindo à ARTE Cultura y Sociedad – Brasil!
robgarza@att.net.mx
POR CONSULADO GENERAL DE MÉXICO EN SÃO PAULO
AméricaLatina y el Caribe, como espacio histórico, cultural, geográfico, económico y político, ha atestiguado esfuerzos para dar cabida, acelerar y profundizar su integración. Las expresiones culturales y artísticas, sin duda, resultan ser vehículos primordiales para articular estos esfuerzos y junto con la educación, constituyen herramientas de apalancamiento en pro de la integración.
Dado su tamaño y la invaluable riqueza de su patrimonio cultural e histórico, México es protagonista de este fenómeno de integración latinoamericana y caribeña, región que debido a sus lazos históricos, culturales e identitarios, es la de pertenencia natural de nuestro país.
El humanismo mexicano, por tanto, se enarbola mediante la difusión de todas las expresiones de la cultura mexicana entre los países hermanos y tiende la mano para actuar con responsabilidad en pro de la integración. La promoción de las manifestaciones culturales es y seguirá siendo la lengua vehicular de México para el entendimiento común y para acercar a los pueblos de nuestra región teniendo como referencia una matriz cultural común.
Basta una breve revisión histórica o relatar los resultados arrojados durante el “Año Dual 2023-2024 Presencia de México en Brasil y de Brasil en México” para confirmar lo anterior.
En ocasión de la conmemoración de 190 años de relaciones diplomáticas, los gobiernos de ambos países celebraron sus contactos a través del fortalecimiento de los lazos culturales de por sí ya estrechos.
En esos doce meses, de diciembre 2023 a diciembre 2024, ambas naciones ampliamos y dinamizamos nuestra agenda de intercambios culturales, académicos y empresariales para explorar las riquezas de nuestras tradiciones y conocernos más.
A través de las diferentes actividades y eventos, ambos países logramos acercar visiones rumbo al objetivo común de alcanzar una mayor integración de América Latina y el Caribe guiados por una orien-
tación estratégica y teniendo como punto de partida el reconocimiento de una profundidad identitaria de gran envergadura. Es decir, la confirmación de que en la región se comparten los asientos de importantes desarrollos civilizatorios y se cuenta y se participa de yacimientos culturales en todas las ramas y disciplinas de la cultura y las artes.
De esta manera, el patrimonio cultural de México, al igual que el de otros países, ha sido, es y continuará siendo una herramienta efectiva para propiciar el entendimiento mutuo entre las sociedades, un elemento fundamental para el conocimiento de lo propio y de lo contiguo; para incentivar y auspiciar la cooperación
regional entre las naciones hermanas del continente.
La promoción cultural de México a través de exposiciones artísticas, presentación de libros, muestras de producción cinematográfica, presentaciones musicales o degustaciones gastronómicas, entre muchos otros ejemplos, se comprueba como un instrumento tanto exitoso cuanto ineludible a favor del sentido de pertenencia y, por consecuencia, en pro del objetivo de integración.
De allí que resulte claro el que México está y estará a favor de la integración cultural latinoamericana y caribeña.
Gestão Geral
Roberto Garza
Gestão Editorial e Comercial
Javier Villanueva
Direção de Projeto
Gabriela Arenas
Dirección de Diseño
Enrique Riojas
Edição Geral
Laura Delgado
Webdesign
Vanessa Martínez Sepúlveda
Administração
Víctor Hurtado
Conselho Editorial
Javier Villanueva
Roberto Garza
Gabriela Arenas
Isaac Morales Fernández
Laura Delgado
Ignacio Mendoza
O conteúdo do Os editoriais são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a linha editorial do periódico.
Ano 1 | Número 1
Esta edição foi publicada 1 de Março de 2025
30 Um veículo das novas ideias e iniciativas integradoras 12 32 10
Eduardo Rascov, editor da Revista Nossa América é uma das almas do Memorial da América Latina em seu objetivo maior de integração latino-americana. Como disse na nossa entrevista, “De fato, no final dos anos 1980 e nos anos 1990 até meados das duas primeiras décadas dos anos 2000, o ambiente internacional favorecia a ideia de integração. A União Europeia era o grande exemplo. Ela conseguia a integração econômica, cultural e até política”.
E termina dizendo que “Acredito que o Brasil possa jogar um papel importante. Como país mais rico e populoso da América Latina, ele é um líder natural da região. Cabe a ele, então, liderar um processo de integração econômica, cultura e política que faça frente às forças que estão sendo liberadas no momento. Nesse caso, o Memorial pode desempenhar um papel importante como catalizador desse processo. E, claro, sua revista, como veículo de novas ideias e iniciativas integradoras”.
Julia Lage é sem dúvida uma das baixistas de rock mais versáteis da atualidade. Uma mulher que, diagnosticada como hiperativa desde criança, conseguiria canalizar toda essa energia para aquilo que se tornaria a sua paixão: a música. Em entrevista, vai nos falar, entre outros temas, sobre como a música lhe permitiu desenvolver-se e tornar-se uma pessoa melhor, sobre os valores necessários para ter sucesso na música e sobre a importância de manter o equilíbrio num mundo cada vez mais complexo, o da indústria musical.
Mago Pool, paixão pelos quadrinhos
Magô Pool é uma mulher latina, negra e incomum, nascida em São José dos Campos, interior de São Paulo (Brasil), e artista independente. Desde 2012 trabalha com arte e cultura, realizando oficinas de quadrinhos por todo o Brasil.
Nada mais apropriado hoje, ocasião em que estamos lançando uma Revista que se propõe ser ponte entre duas culturas, a brasileira e a mexicana, -e ao mesmo tempo uma estrada de duas mãos entre o português de 212 milhões de brasileiras e brasileiros e os 500 milhões de vizinhos hispano-falantes- que tratar deste tema pouco conhecido: a tradução.
OPINIÃO | OPINIÓN
E por que uma revista hoje, em tempos em que a cultura parece ser tão pouco valorizada, assim como a leitura e as artes em geral?
POR JAVIER VILLANUEVA
Primeiramente, que é exatamente uma revista e para que serve hoje, na sociedade atual?
A diferença dos antigos jornais diários ou periódicos, e hoje em dia os sites e links orientados a transmitir noticias, as revistas oferecem um tratamento mais exaustivo dos acontecimentos ou temas que desenvolvem, que podem ser tanto de atualidades ou de entretenimento, já sejam de natureza cultural, lúdica, cinematográfica, científica ou artística, entre muitos outros.
Mas, lembremos que fazer um mapa da sociedade e suas expressões não significa conhecer e codificar o território, como bem disse Alfred Korzybski.
O matemático Korzybski apresentou em 1931 um artigo no qual mostrava a possível união entre a realidade e a matemática e a linguagem como formas de expressá-la. O mais interessante do artigo é que ajuda a entender a diferença entre os modelos e a realidade. A diferença é que os modelos são representações da realidade, baseadas na nossa compreensão incompleta, e procuram ser úteis nas operações diárias. Então eles têm que ser simplificações, esquemas nem sempre fieis àquilo que se pretende representar.
Para ilustrar isso, no caso aplicado à linguagem e à matemática, o autor introduziu a metáfora do mapa e do território. Um dos pontos que o autor abordou foi que o mapa pode ter uma estrutura semelhante ou diferente da estrutura do território, segundo a sua utilidade. O mapa do metrô de Londres é muito útil para os viajantes. Mas os maquinistas não o utilizam. Os mapas descrevem um território de uma forma útil, mas com um propósito específico. Eles não podem ser tudo para todos.
Pensemos então, voltando às revistas, na variedade de propostas, textos, referências, obras de vanguarda, movimentos, projetos, grupos e, individualidades. Pensemos também que tudo isso acontece enquanto a revista e a vida de cada um de nós continuam seu curso diário. Por isso é necessário abrir uma discussão, um debate que nos leve a um nível mais alto de crítica, para resgatar nossas histórias, tradições e experiências, e desenhar cenários e definir os conflitos em aquele campo político e específico que é a cultura.
Bom, mas...para que serve uma revista cultural, então?
O pesquisador Ludolfo Paramio, -professor de Investigação no Centro de Ciências Humanas e Sociales do CSIC e Diretor do Programa de América Latina- disse que é fácil dizer para que servem as revistas acadêmicas porque quem atua em uma disciplina deve buscar os últimos achados em sua área, e aqueles que sejam uma referência para pesquisas posteriores. Também deve publicar nelas para que o seu próprio trabalho seja visto e conhecido. Isto implica a avaliação dos textos pelos pares, o que dá poder à revista e aos seus editores. Se o prestígio da revista
¿Y para qué una revista hoy, en tiempos en los que la cultura parece ser tan poco valorada, así como la lectura y las artes en general?
Primeramente, ¿Qué es exactamente una revista y para qué sirve hoy en la sociedad actual?
A diferencia de los antiguos periódicos diarios o semanales y de los sitios web orientados a transmitir noticias, las revistas ofrecen un tratamiento más exhaustivo de los acontecimientos o temas que desarrollan, ya sean de actualidad o de entreteni-miento, y pueden abarcar tanto aspectos culturales, lúdicos, cine-matográficos, científicos como artísticos, entre muchos otros.
Sin embargo, debemos recordar que hacer un mapa de la sociedad y sus expresiones no significa conocer y codificar el territorio, como bien dijo Alfred Korzybski.
El matemático Korzybski presentó en 1931 un artículo en el que mostraba la posible unión entre la realidad, la matemática y el lenguaje como formas de expresarla. Lo más interesante del artículo es que ayuda a entender la diferencia entre los modelos y la realidad. La diferencia es que los modelos son representaciones de la realidad, basadas en nuestra comprensión incompleta, y buscan ser útiles en las operaciones diarias. Por ello, deben ser simplificaciones, esquemas que no siempre son fieles a lo que pretenden representar.
Para ilustrar esto, en el caso de la lengua y la matemática, el autor introdujo la metáfora del mapa y el territorio. Uno de los puntos que abordó fue que el mapa puede tener una estructura similar o diferente a la del territorio, según su utilidad. Por ejemplo, el mapa del metro de Londres es muy útil para los viajeros, pero los maquinistas no lo utilizan. Los mapas describen un territorio de una forma útil, pero con un propósito específico. No pueden ser todo para todos.
Regresando a las revistas, pensemos en la variedad de propuestas, textos, referencias, obras de vanguardia, movimientos, proyectos, grupos e individualidades. Todo esto ocurre mientras la revista y la vida de cada uno de nosotros continúan su curso diario. Por eso es necesario abrir un debate que nos lleve a un nivel más alto de crítica, para rescatar nuestras historias, tradicio-nes y experiencias, y dibujar escenarios y definir los conflictos en ese campo político y específico que es la cultura.
Pero, ¿para qué sirve una revista cultural?
El investigador Ludolfo Paramio, profesor de Investigación en el Centro de Ciencias Humanas y Sociales del CSIC y Director del Programa de América Latina, afirmó que es fácil decir para qué sirven las revistas académicas, ya que quienes actúan en una disciplina deben buscar los últimos hallazgos en su área y aquellos que sirvan de referencia para investigaciones posteriores. También deben publicar en ellas para que su propio trabajo sea conocido. Esto implica la evaluación de los textos por pares, lo que otorga poder a la revista y a sus editores. Si el prestigio de la
Mas, lembremos que fazer um mapa da sociedade e suas expressões não significa conhecer e codificar o território, como bem disse Alfred Korzybski” Sin embargo, debemos recordar que hacer un mapa de la sociedad y sus expresiones no significa conocer y codificar el territorio, como bien dijo Alfred Korzybski”
for alto, ela pode pedir aos autores, ou aos seus departamentos, que paguem para publicar nela. Ou seja, cumprem uma função clara no mundo académico e tem mecanismos de financiamento estáveis: as assinaturas de bibliotecas universitárias.
Sabe-se também, é claro, para que servem as revistas dirigidas ao público amplo, pois oferecem informações gerais, às mais das vezes com luxo de imagens gráficas, a quem se interessa pela sua área, seja cinema, rock, arquitetura, automobilismo ou moda. E aí surge o tema do financiamento que obriga a depender da publicidade, e a calcular que o preço não afaste o leitor. A não ser que um preço mais alto seja justamente uma marca de distinção para os leitores, sobretudo no caso das revistas de arte. Mas o ideal, é claro, é ter acesso a grandes tiragens e a bons canais de distribuição, com muitos pontos de venda estratégicos.
Bom, e finalmente: para que servem as revistas de cultura? Este é um tema muito mais difícil de ser encarado, porque normalmente uma revista de cultura não têm um público tão amplo como as anteriores e muito raramente têm fontes estáveis de financiamento. Os editores mais fortes de revistas de cultura, segundo a mesma opinião do professor Ludolfo Paramio, são associados a grandes grupos de imprensa, jornais, rádios e TV; mas também há aquelas revistas que sobrevivem e crescem porque sabem tornar-se uma referência na cultura do seu país e da época. Pela sua história ou pelos canais de divulgação usados, há revistas de cultura cuja função é mais ou menos clara.
No longo processo de diálogo da integração latino-americana (visto desde a perspectiva brasileira, ao menos) até hoje, as coisas têm sido bem mais difíceis e complicadas ainda. Em primeiro lugar pela dificuldade de saltar o “abismo” entre o México e a extensa Patagônia -seja a argentina ou a chilena-, passando pela América Central e o Caribe, e sobretudo pela imensidão do território do Brasil.
Com certeza há dificuldade de dar o salto cultural que possa interessar os leitores de ambas as pontas do vasto continente latino-americano. Uma revista cultural é, sem dúvidas, um espaço de encontro para quem compartilha interesses e preocupações, e não é tão fácil transcender as fronteiras nacionais e definir um espaço partilhado para quem transita em diferentes realidades sociais, políticas e culturais.
O que nos move a criar e promover uma revista cultural é a crença de que isso constitui nosso foco de interesse pode ser partilhado por um público mais amplo. A frase comum é que existe uma lacuna no mundo cultural que uma nova revista deve ser capaz de preencher. Do ponto de vista económico isto implicaria a existência de um “nicho de mercado”, mas do ponto de vista cultural implica a existência de leitores que compartilham, ou que podem vir a partilhar, os interesses dos editores. Leitores que, se conseguirmos alcançá-los, se identificarão com a revista e não apenas a lerão, mas falarão sobre ela no seu círculo de amizades e de trabalho, e alguns até gostarão de publicar nela.
Esse sonho não é fácil de realizar. Mesmo que exista um foco de interesse que atraia os potenciais leitores da revista, pode acontecer que seja difícil encontrar os colaboradores certos, talvez devido a que são demasiado procurados; e os leitores acabem por achar parcial a visão que lhes é oferecida; o que os temas de seu interesse são pobres. O sucesso de uma revista sempre depende, sobretudo, de alguns autores, ligados a ela que são capazes de atrair novos leitores. Porém, poucos autores resistem ao teste do tempo e da moda. Se os principais colaboradores de uma revista não conseguem manter-se em sintonia com os leitores e atrair novos, a revista sofre um declínio mais ou menos lento,
revista es alto, puede pedir a los autores o a sus departamentos que paguen por publicar en ella. Es decir, cumplen una función clara en el mundo académico y tienen mecanismos de financiación estables: las suscripciones de bibliotecas universitarias.
También es evidente para qué sirven las revistas dirigidas al público general, ya que ofrecen información general, a menudo con lujosos gráficos, a quienes se interesan en sus áreas, ya sea cine, rock, arquitectura, automovilismo o moda. Aquí surge el tema de la financiación que obliga a depender de la publicidad y a calcular que el precio no aleje al lector. A menos que un precio más alto sea precisamente una marca de distinción para los lectores, especialmente en el caso de las revistas de arte. Pero lo ideal, por supuesto, es tener acceso a grandes tiradas y a buenos canales de distribución, con muchos puntos de venta estratégicos.
Finalmente, ¿para qué sirven las revistas de cultura? Este es un tema mucho más difícil de abordar, porque normalmente una revista de cultura no tiene un público tan amplio como las anteriores y muy raramente tiene fuentes estables de financiación. Los editores más fuertes de revistas de cultura, según la opinión del profesor Ludolfo Paramio, están asociados a grandes grupos de prensa, periódicos, radios y televisión; pero también hay revistas que sobreviven y crecen porque saben hacerse una referencia en la cultura de su país y de la época. Por su historia o por los canales de divulgación utilizados, hay revistas de cultura cuya función es más o menos clara.
En el largo proceso de diálogo de la integración latinoamericana (visto desde la perspectiva brasileña, al menos) hasta hoy, las cosas han sido mucho más difíciles y complicadas. En primer lugar, por la dificultad de saltar el “abismo” entre México y la extensa Patagonia, ya sea argentina o chilena, pasando por América Central y el Caribe, y sobre todo por la inmensidad del territorio brasileño.
Sin duda, hay dificultades para dar el salto cultural que pueda interesar a los lectores de ambos extremos del vasto continente latinoamericano. Una revista cultural es, sin duda, un espacio de encuentro para quienes comparten intereses y preocupaciones, y no es tan fácil trascender las fronteras nacionales y definir un espacio compartido para quienes transitan por diferentes realidades sociales, políticas y culturales.
Lo que impulsa a una persona o grupo a crear o promover una revista cultural es la creencia de que aquello que constituye su foco de interés puede ser compartido por un público más amplio. La frase común es que existe una brecha en el mundo cultural que una nueva revista debe ser capaz de llenar. Desde el punto de vista económico, esto implicaría la existencia de un “nicho de mercado”, pero desde el punto de vista cultural implica la existencia de lectores que compartan o puedan llegar a compartir los intereses de los editores. Lectores que, si logramos alcanzarlos, se identificarán con la revista y no solo la leerán, sino que hablarán de ella en su círculo de amistades y trabajo, y algunos incluso querrán publicar en ella.
Este sueño no es fácil de realizar. Aunque exista un foco de interés que atraiga a los potenciales lectores de la revista, puede suceder que sea difícil encontrar a los colaboradores adecuados, tal vez porque sean demasiado buscados; y los lectores pueden acabar considerando parcial la visión que se les ofrece, o que los temas de su interés son pobres. El éxito de una revista siempre depende, sobre todo, de algunos autores, vinculados a ella de forma formal o informal, que sean capaces de atraer nuevos lectores. Sin embargo, pocos autores resisten la prueba del tiempo y la moda. Si los principales colaboradores de una revista no logran mantenerse en sintonía con los lectores y atraer a nuevos, la revista sufre un
Mas, lembremos que fazer um mapa da sociedade e suas expressões não significa conhecer e codificar o território” Sin embargo, debemos recordar que hacer un mapa de la sociedad y sus expresiones no significa conocer y codificar el territorio”
as assinaturas caem e a publicidade, se houver, desaparece. Ou seja, os colaboradores iniciais, decisivos para o arranque de uma revista, não garantem a sua continuidade.
Outros simplesmente apelarão ao argumento da rentabilidade. Dirão que um concurso de misses tem mais sucesso do que uma peça de teatro, e que as frivolidades do showbiz geram mais lucros do que qualquer atividade cultural e humanista. Isso faz com que os gurus do “marketing global” afirmem que a cultura não vende, não rende benefícios e que não é lucrativa.
A chave é um fenômeno talvez misterioso que podemos descrever como a formação de uma comunidade de autores e leitores, com identidade própria e duradoura.
Pode-se dizer que uma revista faz sucesso -com alguma independência de ser mais ou menos conhecida- quando tem leitores interessados em saber o que lerão em suas páginas, e autores que pensam sobre alguns de seus textos para publicá-lo neles, antes mesmo que a revista solicite. Isto é, quando a revista tiver conquistado um lugar no imaginário e nas expectativas de autores e colaboradores, e não for apenas um espaço de publicação, mas um ponto de encontro cultural.
As revistas surgem num determinado contexto, o que leva um grupo de pessoas a acreditar, como já foi dito, que existe “um espaço” para elas. Estas pessoas partilham a ideia de que existem questões novas com as quais ninguém está lidando, questões que à primeira vista podem parecer desconexas, mas que para elas moldam uma visão diferente da sociedade e da cultura. A revista tem sucesso se conseguir atrair mais leitores e autores que vejam nela o espaço de uma utopia partilhada e garantam que esse ideal seja atrativo ao longo do tempo.
As revistas culturais são manifestações sociais e artísticas que mostram, tanto no conteúdo editorial como na sua concepção, a sua relação com a história, a sociologia, a música, a literatura, o teatro, a dança, as histórias de vida de personagens, entre outras áreas do humanismo.
O primeiro desafio que devemos superar é a grande variedade temática. Uma revista pode muito bem abranger artigos sociológicos e científicos, literatura nas suas diversas formas, desde traduções e resenhas, seções de arte, textos instrutivos, etc. Tudo isso acompanhado de inúmeras imagens, sejam desenhos, pinturas, gravuras, caricaturas ou fotografias.
E o nosso foco vai ser Brasil e seu laços com o continente hispano-americano.
O segundo desafio é o amplo horizonte temporal: vamos falar do século XX e XXI, mas também vamos retroceder ao XIX –o início de tudo o que hoje vivemos- quando for necessário.
declive más o menos lento, las suscripciones caen y la publicidad, si la hay, desaparece. Es decir, los colaboradores iniciales, decisivos para el lanzamiento de una revista, no garantizan su continuidad.
Otros simplemente apelarán al argumento de la rentabilidad. Dirán que un concurso de misses tiene más éxito que una obra de teatro, y que las frivolidades del espectáculo generan más ganancias que cualquier actividad cultural y humanista. Esto lleva a que los gurús del “marketing global” afirmen que la cultura no vende, no genera beneficios y que no es lucrativa.
La clave es un fenómeno quizás misterioso que podemos describir como la formación de una comunidad de autores y lectores, con identidad propia y duradera.
Se puede decir que una revista tiene éxito, con cierta independencia de sus finanzas y de ser más o menos conocida, cuando tiene lectores interesados en saber qué leerán en sus páginas, y autores que piensan en algunos de sus textos para publicarlos en ella, incluso antes de que la revista lo solicite. Es decir, cuando la revista ha conquistado un lugar en el imaginario y en las expectativas de autores y colaboradores, y no es solo un espacio de publicación, sino un punto de encuentro cultural.
Las revistas surgen en un contexto determinado, lo que lleva a un grupo de personas a creer, como ya se ha dicho, que existe “un espacio” para ellas. Estas personas comparten la idea de que hay nuevas cuestiones que nadie está abordando, cuestiones que a primera vista pueden parecer desconectadas, pero que para ellas moldean una visión diferente de la sociedad y la cultura. La revista tiene éxito si logra atraer más lectores y autores que vean en ella el espacio de una utopía compartida y garantizan que este ideal sea atractivo a lo largo del tiempo.
Las revistas culturales son manifestaciones sociales y artísticas que muestran, tanto en el contenido editorial como en su concepción, su relación con la historia, la sociología, la música, la literatura, el teatro, la danza, las historias de vida de personajes, entre otras áreas del humanismo.
}El primer desafío que debemos superar es la gran variedad temática.. Una revista puede muy bien abarcar artículos sociológicos y científicos, literatura en sus diversas formas, desde traducciones y reseñas, secciones de arte, textos instructivos, etc. Todo esto acompañado de innumerables imágenes, ya sean dibujos, pinturas, grabados, caricaturas o fotografías.
Y nuestro enfoque será Brasil y sus lazos con el continente hispanoamericano.
El segundo desafío es el amplio horizonte temporal: hablaremos del siglo XX y XXI, pero también retrocederemos al XIX –el inicio de todo lo que hoy vivimos– cuando sea necesario.
Mas, lembremos que fazer um mapa da sociedade e suas expressões não significa conhecer e codificar o território, como bem disse Alfred Korzybski” Sin embargo, debemos recordar que hacer un mapa de la sociedad y sus expresiones no significa conocer y codificar el territorio, como bien dijo Alfred Korzybski”
eu sou Magô Pool, uma mulher latina, preta e fora dos padrões, nascida em São José dos Campos, interior de São Paulo (Brasil), e uma artista independente. Sou Bacharel em Comunicação Social e tenho uma pós-graduação em Gestão Cultural. Desde 2012, venho trabalhando com arte e cultura, realizando oficinas de Histórias em Quadrinhos pelo Brasil.
Além disso, publiquei duas HQs de maneira independente, o que me permitiu participar de eventos para divulgar minhas histórias, incluindo a famosa CCXP Brasil. Também fui premiada em 2022 com a HQ “Bicho Selvagem” no Prêmio Pretas Potências.
Minha obra é marcada pela representatividade como mulher latina, negra e gorda, pela diversidade e, principalmente, pela minha paixão pelos quadrinhos.
Hola,soy Magô Pool, una mujer latina, negra y fuera de lo común, nacida en São José dos Campos, en el interior de São Paulo (Brasil), y artista independiente. Tengo una Licenciatura en Comunicación Social y un posgrado en Gestión Cultural. Desde 2012 trabajo con arte y cultura, realizando talleres de cómic en todo Brasil.
Además, publiqué dos cómics de forma independiente, lo que me permitió participar de eventos para dar a conocer mis historias, incluido el famoso CCXP Brasil. También fui premiada en 2022 con el cómic “Bicho Selvagem” en los Premios Pretas Potências.
Mi trabajo está marcado por la representación como mujer latina, negra y gorda, por la diversidad y principalmente, por mi pasión por el cómic.
POR JAVIER VILLANUEVA
Lage é sem dúvida uma das baixistas de rock mais versáteis da atualidade. Uma mulher que, diagnosticada como hiperativa desde criança, conseguiria canalizar toda essa energia para aquilo que se tornaria a sua paixão: a música; o que também lhe daria um propósito e a oportunidade de se tornar uma pessoa melhor.
Em entrevista, vai nos falar, entre outros temas, sobre como a música lhe permitiu desenvolver-se e tornar-se uma pessoa melhor, sobre os valores necessários para ter sucesso na música e sobre a importância de manter o equilíbrio num mundo cada vez mais complexo, o da indústria musical.
Quem é Júlia Lage? Por favor, conte-nos sobre sua infância no Brasil e seus estudos musicais.
Eu era uma menina hiperativa que estudava em uma escola tradicional e estava sempre irritada e brigando com outras crianças. Essa era eu naquele momento.
Quando eu tinha 5 anos, a professora disse à minha mãe para me levar ao terapeuta. Naquela época não tive contato com nenhum instrumento musical; na verdade, ninguém na minha família gostava de música.
Lembro, porém, que quando fui me atender com a terapeuta, tinha um pianinho no chão, um piano que comecei a tocar enquanto minha mãe conversava com ela. Poucos minutos depois eu já estava tocando uma música, fácil, é claro, que na verdade era uma melodia. Quando a médica começou a me observar, disse: “Talvez o que sua filha precise seja de música, pois é um grande estímulo para crianças hiperativas”.
Razão pela qual a minha mãe decidiu matricular-me numa escola “Waldorf”, uma escola com um modelo que desenvolve competências intelectuais, artísticas e práticas. Lembro que, no meu primeiro dia de aula naquela escola, foi a primeira vez que minha mãe me pegou e eu adormeci no carro. Fiquei tão estimulada naquele dia que fiquei sem toda aquela a minha energia física e cerebral, mas o mais importante é que também não havia brigado com nenhuma criança.
JuliaLage es sin duda, una de las bajistas de rock más versátiles de la actualidad. Una mujer, que, al ser diagnosticada hiperactiva desde niña, lograría canalizar toda esa energía en lo que se convertiría en su pasión: la música; que también le daría un propósito y la oportunidad de convertirse en una mejor persona.
En entrevista, nos platicará entre otros temas, en cómo la música le permitió desarrollarse y convertirse en una mejor persona, acerca de los valores necesarios para tener éxito en la música y sobre la importancia de llevar un balance en la cada vez más compleja industria del entretenimiento.
¿Quién es Julia Lage? Cuéntanos por favor sobre tu infancia en Brasil y sobre tus estudios de música.
Era una niña hiperactiva que estudiaba en una escuela tradicional y que siempre estaba enojada y peleando con otros niños. Esa era yo en ese momento.
Cuando tenía 5 años, la maestra le dijo a mi mamá que me llevara a ver a un terapeuta. En ese entonces, no había tenido ningún contacto con algún instrumento musical; de hecho, a nadie de mi familia le gustaba la música.
Recuerdo, sin embargo, que cuando asistí con la terapeuta, había un piano pequeño en el suelo, un piano que comencé a tocar mientras mi mamá hablaba con ella. Unos minutos después, comencé a tocar una canción, fácil por supuesto, era en realidad una melodía. Cuando la doctora empezó a observarme, dijo: “Tal vez su hija lo que necesita es música, ya que es un gran estímulo para los niños hiperactivos”.
Razón por la que mi mamá decidió inscribirme en una escuela “Waldorf”, escuela con un modelo que desarrolla habilidades intelectuales, artísticas y prácticas. Recuerdo que, en mi primer día de clases en dicha escuela, fue la primera vez que mi mamá me recogió y me quedé dormida en el auto. Estaba tan estimulada ese día, que se me acabó toda la energía física y cerebral, pero más importante, es que tampoco había peleado con algún niño.
Pouco depois, aos sete anos, comecei a aprender na escola todos os tipos de instrumentos musicais, como violino, percussão, piano e harpa. Também cantei com em um enorme coral, com cerca de 200 crianças. Adorei essa dinâmica: eu era uma menina muito feliz. Naquela época eu sempre levava minha flauta para casa e tocava em todos os lugares, até dentro do banheiro, deixando minha mãe maluca toda vez que fazia isso.
Acho que foi o início da minha carreira musical.
Se você não tivesse mudado de escola, você acha que teria se tornado música?
Creio que teria sido uma garota muito estressada e infeliz. Eu provavelmente também teria me tornado uma “criança problema”. Tenho certeza absoluta disso.
A música não só me deu um propósito, mas também um foco e a oportunidade de me tornar uma versão melhor de mim mesma.
Você é multi-instrumentista, mas por que escolheu o baixo como instrumento?
Eu não sabia muito bem a diferença entre baixos e guitarras, mas finalmente, quando descobri o que era o baixo e suas possibilidades, passei a considerá-lo o melhor instrumento de todos.
A guitarra é um instrumento muito óbvio, você sempre pode ouvi-la, assim como a bateria. O grave não é tão óbvio e muita gente nem sabe reconhecê-lo, porém, ao eliminá-lo, quase todo mundo percebe.
Poco después, a mis siete años, comencé a aprender todo tipo de instrumentos musicales en la escuela, como violín, percusión, piano y arpa. También cantaba con un coro enorme, de unos 200 niños. Esa dinámica me encantaba, era una niña muy feliz. En ese tiempo llevaba siempre mi flauta a mi casa y la tocaba en todas partes, incluso dentro del baño, volviendo loca a mi mamá cada vez que lo hacía.
Supongo que ese fue el comienzo de mi carrera musical.
Si no hubieras cambiado de escuela, ¿crees que te habrías convertido en músico?
Creo que habría sido una niña muy estresada y miserable. Probablemente me habría convertido también en un “niño problema”. Estoy absolutamente segura de eso.
La música no solo me dio un propósito, sino un enfoque y la oportunidad de convertirme en una mejor versión de mí misma.
Eres multi-instrumentista, pero, ¿por qué elegiste al bajo como instrumento?
Realmente no sabía la diferencia entre bajos y guitarras, pero finalmente, cuando descubrí lo que era el bajo, y sus posibilidades, lo consideré como el mejor instrumento de todos.
La guitarra es un instrumento muy obvio, siempre puedes escucharla, al igual que a la batería. Los graves no son tan evidentes y mucha gente ni siquiera sabe reconocerlos, sin embargo, cuando los eliminas, casi todo el mundo lo nota.
Eu era uma menina hiperativa que estudava em uma escola tradicional e estava sempre brava e brigando com outras crianças”
“Era una niña hiperactiva que estudiaba en una escuela tradicional y que siempre estaba enojada y peleando con otros niños”
Pessoalmente, o baixo é um instrumento interessante que não é óbvio, mas é essencial, principalmente para o Rock. Além disso, é um instrumento que pode ser fácil se você estiver tocando os fundamentos, mas é difícil quando você começa a aprender todas as suas técnicas, como slap, tapping e soloing
Eu gosto do fato de que você possa fazer todo tipo de loucura com o baixo, além de ser um instrumento incrivelmente quente, sabe, não é como a guitarra, que às vezes pode ser um pouco barulhenta. O baixo estará sempre quente, então você nunca se incomodará em ouvi-lo.
Você nasceu e cresceu no Brasil e anos depois se mudou para Los Angeles. Existe diferença na forma como a música é abordada no Brasil e nos Estados Unidos?
Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos existem músicos incríveis, porém, algo que notei aqui em Los Angeles, como brasileira, é como eles valorizam o material original (as músicas originais).
Muitas vezes, no Brasil, se você toca música original, na maioria das vezes as pessoas vão te pedir algo que possa ser ouvido, ou que já tenham ouvido no rádio, já que não há muito interesse pelo material original. Eles querem que o músico seja um artista ao vivo, mas então, para que precisam dele se nem querem saber o que ele pode lhes oferecer?
Aqui em Los Angeles eu sinto que quando você coloca uma música original no seu set list, eles vão valorizar e muitas vezes até te pedir mais. É difícil de acreditar, mas acontece.
Para os músicos isso também é um alívio, porque agora eles não são tratados como máquinas. Às vezes as pessoas pensam que um músico pode tocar sem parar por sete horas ou mais, até que suas mãos comecem a sangrar. Você acha que alguém está
Personalmente, el bajo es un instrumento interesante que no es obvio, pero sí esencial, especialmente para el Rock. Además, es un instrumento que puede ser fácil si estás tocando lo fundamental, pero difícil al comienzas a aprender todas sus técnicas, como lo son el slap, el tapping y el soloing.
Me gusta, que puedes hacer todo tipo de locuras con el bajo, además, es un instrumento increíblemente cálido, ya sabes, no es como la guitarra, que a veces puede resultar un poco ruidosa. El bajo siempre será cálido, por lo que nunca te molestará escucharlo.
Naciste y creciste en Brasil y años después te mudaste a Los Ángeles. ¿Hay alguna diferencia en cómo se aborda la música en Brasil y en Estados Unidos?
Tanto en Brasil como en los Estados Unidos, hay músicos increíbles, sin embargo, algo que noté aquí en Los Ángeles, como brasileña, es en cómo le dan valor al material original (canciones originales).
Muchas veces, en Brasil, si interpretas música original, la gente te pedirá en la mayoría de las ocasiones, algo que se escuche en la radio ya que no hay mucho interés en el material original. Quieren que el músico sea un animador en vivo, pero, ¿para qué lo necesitan?, si ni siquiera quieren conocer lo que él puede ofrecerte.
Aquí en Los Ángeles, siento que cuando pones una canción original en tu set list, te la valorarán e incluso muchas veces te pedirán más. Es difícil de creer, pero sucede.
Para los músicos esto también es un alivio, porque ahora no se les trata como a una máquina. A veces la gente piensa que un músico puede tocar sin parar durante 7 o más horas, hasta que le empiezan a sangrar las manos. ¿Crees que alguien está
A música não só me deu um propósito, mas também um foco e a oportunidade de me tornar uma versão melhor de mim mesmo”
“La música no solo me dio un propósito, sino un enfoque y la oportunidad de convertirme en una mejor versión de mí misma”
O baixo sempre será um instrumento musical caloroso, então você nunca se importará de ouvi-lo”
“El bajo siempre será un instrumento musical cálido, por lo que nunca te molestará escucharlo”
preocupado com isso? Devemos compreender que os músicos não são máquinas, mas sim pessoas criativas.
Por outro lado, uma das maiores diferenças também está no público. Acho que nos Estados Unidos um músico recebe um pouco mais de respeito.
Conte-nos sobre suas influências no baixo. Quais são suas maiores influências?
Bom, sempre digo que uma das minhas maiores influências foi Geddy Lee, pois com ele aprendi uma forma diferente de tocar baixo, além de cantar e tocar ao mesmo tempo. A mesma coisa aconteceu com Sting do The Police.
Esses dois têm uma abordagem bem diferente do rock bass, o baixo do rock na mão direita, cada um com sua técnica.
Gostaria também de referir que o meu marido, Richie Kotzen, também tem sido uma grande influência para mim; conheço a sua música há cerca de quinze anos e lembro-me de ter tentado aprender algumas das suas canções.
Houve também um tempo em que eu gostava muito de Guthrie Govan, que é um guitarrista incrível, e de Marcus Miller, que é um excelente baixista com uma técnica muito precisa.
Mas quando quero ficar deprimida, ouço Victor Wooten, que é uma pessoa de mente muito aberta (risos) e Jaco Pastorius, quando quero experimentar harmônicos.
Gosto de pensar e ouvir tudo, não só linhas de baixo, aliás, grande parte das minhas influências não são baixistas, mas sim artistas que tocam outros instrumentos musicais.
Você trabalhou com Alejandra Guzmán, uma das maiores vozes do rock mexicano. Por favor, conte-nos sobre isso.
Foi muito emocionante, pois gravamos o álbum La Guzman Live at the Roxy aqui em Los Angeles em 2019, um álbum que homenageia as grandes canções do rock em espanhol.
Foi emocionante, porque quando fui a um restaurante mexicano por aqui e reconheci a música dela, falei para os caras com quem fui: “Trabalhei com ela”, e eles disseram: “Sério?, ela é como a Madonna no México”.
Eu sabia que ela era uma estrela do rock no México e que tocava em grandes arenas. Ela é incrível e muito cheia de energia e paixão. Eu realmente adorei trabalhar com ela, ela foi ótima.
Qual é a sua abordagem ao escrever músicas?
Depende de muitas coisas, mas na maioria das vezes começa com algum tipo de melodia ou ideia de refrão na minha cabeça. E como sou baixista, ouço a nota fundamental, que vai me dar as opções de acordes.
Já com os acordes, gravo a melodia ou canto enquanto toco violão. Normalmente encontro primeiro a nota fundamental e depois começo a tocar alguns acordes nela, continuando esse processo até que faça sentido musicalmente.
Por fim, com a melodia pronta, coloco uma batida, toco um violão, canto por cima, faço uma linha de baixo interessante e me preparo para receber o arranjo completo.
Como você tem suas ideias musicais?
preocupado por eso? Hay que entender que los músicos no son máquinas, sino personas creativas.
Por otro lado, una de las mayores diferencias también está en la audiencia. Creo que en Estados Unidos un músico recibe un poco más de respeto.
Cuéntanos sobre tus influencias en el bajo. ¿Cuáles son tus mayores influencias?
Bueno, siempre digo que una de mis mayores influencias ha sido Geddy Lee, porque de él aprendí una forma diferente de tocar el bajo, además de cantar y tocar al mismo tiempo. Lo mismo pasó con Sting de The Police.
Esos dos tienen un enfoque muy diferente del bajo de rock en la mano derecha, cada uno con su propia técnica.
Quisiera también mencionar que mi esposo Richie Kotzen también ha sido una gran influencia para mí, conozco su música desde hace unos 15 años y recuerdo haber intentado aprender algunas de sus canciones.
También hubo un momento en el que estaba totalmente interesada en Guthrie Govan, quien es un increíble guitarrista y Marcus Miller, quien es un excelente bajista con una técnica muy precisa.
Pero cuando quiero deprimirme, escucho a Victor Wooten, quien es alguien con una mente muy abierta (risas) y a Jaco Pastorius, cuando quiero experimentar con armónicos.
Me gusta pensar y escuchar de todo, no sólo las líneas de bajo, de hecho, una gran parte de mis influencias no son bajistas, sino artistas que tocan otros instrumentos musicales.
Trabajaste con Alejandra Guzmán, una de las más grandes voces del rock mexicano. Por favor cuéntanos sobre eso.
Fue muy emocionante, ya que grabamos su álbum La Guzman Live en el Roxy aquí en Los Ángeles en 2019, un álbum que rinde homenaje a las grandes canciones del rock en español.
Fue emocionante, porque cuando iba a un restaurante mexicano de por aquí y reconocía su música, les decía a los chicos con quien iba, “trabajé con ella”, y me contestaban, “de verdad, ella es como Madonna en México”.
Sabía que ella era una estrella de rock en México y que tocaba en grandes Arenas. Ella es increíble y está muy llena de energía y pasión. Realmente me encantó trabajar con ella, fue genial.
¿Cuál es tu enfoque a la hora de escribir canciones?
Depende de muchas cosas, pero la mayoría de las veces comienza con algún tipo de melodía o idea de coro en mi cabeza. Y como soy bajista, escucho la nota fundamental, que me dará las opciones para los acordes.
Teniendo ya los acordes, grabo la melodía o la canto mientras toco la guitarra acústica. Por lo general, primero encuentro la nota fundamental y después empiezo a tocar algunos acordes sobre ella, continuando ese proceso hasta que me haga sentido musicalmente.
Finalmente, ya con una melodía lista, le pongo un ritmo, tocaré algo de guitarra acústica, cantaré encima, haré una línea interesante de bajo y me prepararé para recibir el arreglo completo.
¿Cómo se te ocurren las ideas musicales?
Às vezes sonho com uma música inteira, ou parte dela, e acordo e gravo, algo que aprendi com meu marido, Richie Kotzen
É interessante que quando você tem isso em mente, você automaticamente acorda e grava a ideia principal no seu celular, para que na primeira oportunidade você possa completá-la no Pro Tools ou em qualquer outra estação de trabalho de áudio.
A indústria da música é difícil, muito difícil. O que é preciso para sobreviver? Quais valores ou habilidades são exigidos de um músico para alcançar o sucesso?
Bem, depende do que você deseja. Alguns músicos só querem chegar ao topo, então podem fazer coisas que eu não faria agora. Aprendi ao longo da minha carreira o que é realmente importante para mim.
Lembro que antes eu dizia “sim” para tudo, o que me causava estresse, doenças, e isso ia virando algo que não me deixava feliz.
Eu estava tentando realizar tudo, mas pessoalmente estava ficando muito cansativo. Então, comecei a dizer “não” para algumas coisas e comecei a focar no que eu realmente queria e precisava.
Então isso funcionou para você?
Foi engraçado, porque na época eu tocava em muitas bandas tributo ou “cover”, e me lembro de dizer: “Eu adoraria escrever meu próprio álbum, terminar todas as músicas que tenho em andamento e ter uma ótima banda de rock com a qual eu possa fazer turnê.”
A veces sueño con una canción completa, o con una parte de ella, me despierto y la grabo, que es algo que aprendí de mi marido, Richie Kotzen.
Es interesante que cuando tienes eso en mente, en automático te despiertas y grabas la idea principal en tu teléfono, para que en la primera oportunidad puedas completarla en Pro Tools o en cualquier otra estación de trabajo de audio.
La industria de la música es dura, muy dura. ¿Qué se necesita para sobrevivir? ¿Qué valores o habilidades son requeridas por un músico para lograr el éxito?
Bueno, depende de lo que quieras. Algunos músicos sólo quieren llegar a la cima, así que podrían hacer cosas que yo no haría ahora. He aprendido a lo largo de mi carrera, sobre lo que es verdaderamente importante para mí.
Recuerdo que antes decía “sí” a todo, causándome estrés, enfermedades y convirtiéndose en algo que no me hacía feliz.
Estaba tratando de lograrlo todo, pero personalmente, se estaba volviendo muy agotador. Entonces, comencé a decir “no” a algunas cosas y comencé a concentrarme en lo que realmente quería y necesitaba.
¿Entonces eso funcionó para ti?
Fue gracioso, porque en ese momento yo tocaba en muchas bandas tributo, y recuerdo haber dicho: “Me encantaría escribir mi propio álbum, terminar toda la música que tengo en proceso y tener una gran banda de rock con quien pueda salir de gira”.
E assim que comecei a dizer “não” para algumas coisas, em três dias recebi uma ligação para entrar no VIXEN, uma banda incrível, e também me deu a oportunidade de terminar minhas músicas enquanto eu não estava em turnê com eles.
Por outro lado, algumas pessoas não se casam, pelo desejo de chegar ao topo à custa de tudo, por isso não têm filhos nem cachorro. Tudo o que eles querem é tocar, tocar, tocar.
Para mim essa é uma decisão muito pessoal, que depende do que você realmente quer na indústria musical. No meu caso sou casada, tenho cachorro e gosto de ficar em casa, mas entendo que tem gente que gosta mais de estar em turnê.
Que conselho você daria aos músicos mais jovens para alcançar o sucesso?
O melhor conselho seria: “Não pense que tudo será sempre cor de rosa e rock and roll ”, porque como qualquer trabalho, sempre haverá altos e baixos e muitos “não” como respostas.
Quando começarem a fazer testes, terão que se preparar para não receber ofertas de quem os chamou. É um processo muito difícil, que exigirá que se lembrem que o fazem pela paixão que têm pela música e não porque querem ser o melhor músico de todos os tempos.
Às vezes vejo músicos reclamando, mas a realidade é que eles não dedicam tempo nem esforço no que fazem. Há muito trabalho por trás do que precisa ser feito. Quando você vê alguém no palco tocando com muita facilidade, a realidade é que essa pessoa já trabalhou muito para chegar lá.
Acho que os músicos precisam voltar ao básico, começar a escrever músicas, ler partituras, sair da caixa e, o mais importante, estudar. Você tem que estudar, não pode simplesmente dizer “quero ser uma estrela do rock” e não fazer nada. Muitas pessoas tentam seguir o caminho mais fácil e acreditam que apenas postando uma foto sua nas redes sociais conseguirão ir muito longe.
Tudo deve ser feito por amor e por você mesmo, não pelos outros.
Há mais homens do que mulheres na indústria do rock. Que medidas podem ser tomadas para alcançar a igualdade de oportunidades para as mulheres?
O que percebi é que para cada dez músicos masculinos, talvez um seja de uma cantora ou uma banda feminina.
Quando comecei, aos 14 anos, todas as bandas eram masculinas e raramente se encontrava uma mulher tocando guitarra, baixo ou cantando. Lembro que a cantora do momento na minha adolescência era Janis Joplin. Ela era a rainha. Mas não havia quase nenhuma, apenas algumas como Heart, mas não eram tantas.
No entanto, isso provavelmente ocorreu porque, se você pensar na geração delas, elas foram criadas para serem donas de casa ou para tocar piano para entreter os maridos, não necessariamente para sair em turnê. Então, digamos que houve toda uma geração de mulheres cujo trabalho era ser donas de casa e criar filhos, e apenas algumas delas, aquelas que quebraram esse molde, foram as que formaram a sua banda e seguiram o seu sonho.
Você ainda ouve rádio?
Hoje em dia não ouço mais, porque cansei das mesmas bandas e das mesmas músicas. Agora você tem muitas outras possibi-
Y tan pronto como comencé a decir “no” a algunas cosas, a los 3 días recibí una llamada para unirme a VIXEN, una banda increíble y que también me dio la oportunidad de terminar mi música mientras no estaba de gira con ella.
Por otro lado, algunas personas no se casan, por su deseo de llegar a la cima a costa de todo, razón por la que tampoco tienen hijos, ni tampoco un perro. Lo único que quieren es tocar, tocar y tocar.
Para mí esa es una decisión muy personal, que depende de lo que realmente quieres en la industria musical. En mi caso, estoy casada, tengo un perro y me gusta estar en casa, pero entiendo que hay algunas personas a las que simplemente les gusta más estar de gira.
¿Qué consejo le darías a aquellos músicos más jóvenes para lograr el éxito?
El mejor consejo sería: “No crean que todo va a ser siempre color de rosa y rock and roll”, porque al igual que cualquier trabajo, siempre existirán altibajos y muchos “no” como respuesta.
Cuando empiecen a hacer audiciones, tendrán qué prepararse para no recibir ofertas de las mismas. Es un proceso muy duro, que exigirá que recuerden que lo hacen por la pasión que le tienen a la música y no porque se quieran convertir en el mejor músico de todos los tiempos.
A veces veo músicos quejándose, pero la realidad es que no dedican tiempo ni esfuerzo a lo que hacen. Hay mucho trabajo detrás de lo que hay que se debe hacer. Cuando ves a alguien en el escenario tocando con gran facilidad arriba del escenario, la realidad es que esa persona ya ha pasado por mucho trabajo para llegar allí.
Creo que los músicos necesitan volver a las bases, empezar a escribir canciones, leer partituras, salirse de lo convencional y muy importante, estudiar. Tienes qué estudiar, no puedes simplemente decir “quiero ser una estrella de rock” y no hacer nada. Mucha gente intenta irse por el camino fácil y creen que al publicar una foto suya en redes sociales podrán llegar muy lejos.
Todo debe hacerse por amor y para ti mismo, no para los demás.
Hay más hombres que mujeres en la industria del rock. ¿Qué medidas se pueden tomar para lograr la igualdad de oportunidades para las mujeres dentro de la misma?
Lo que he notado es, que, por cada diez canciones masculinas, tal vez una sea de una cantante o banda femenina.
Cuando comencé, a la edad de 14 años, todas las bandas eran masculinas y rara vez encontrabas a una mujer tocando la guitarra, el bajo o cantando. Recuerdo que la cantante del momento en mi adolescencia era Janis Joplin. Ella era la reina. Pero casi no había, solo algunas como Heart, pero no eran tantas.
Sin embargo, eso se debía a que probablemente, si piensas en su generación, las criaban para ser amas de casa o para tocar el piano con fines de entretener a sus maridos, no necesariamente para salir de gira. Entonces, digamos que existió toda una generación de mujeres cuyo trabajo era el ser amas de casa y criar hijos, y solo algunas de ellas, las que rompían dicho molde, eran las que formaban su banda y seguían su sueño.
¿Todavía escuchas la radio?
Actualmente ya no la escucho, porque me cansé de las mis-
Acho que nos Estados Unidos um músico recebe um pouco mais de respeito do público”
Creo que en los Estados Unidos un músico recibe un poco más de respeto de la audiencia”
Alguns músicos só querem chegar ao topo, então podem fazer coisas que eu não faria agora”
Algunos músicos sólo quieren llegar a la cima, así que podrían hacer cosas que yo no haría ahora”
lidades de ouvir no carro, como, por exemplo, a música que tem dentro do celular.
Qual foi seu melhor desempenho?
Bem, recentemente o Vixen tocou no Wacken Festival na Alemanha. Acho que, para mim, foi uma das melhores performances que já tive a oportunidade de fazer. A banda estava pegando fogo!
Estávamos muito entusiasmados por tocar diante de cerca de 60.000 espectadores. O público ficou maravilhado, o som foi perfeito e o show incrível.
Sabemos que você está trabalhando em seu álbum solo e há grandes planos com o Vixen. Por favor, conte-nos sobre seus projetos futuros.
Na verdade, estou trabalhando com a Vixen e muito focada nos meus projetos. De fato, tenho trabalhado muito nesses últimos anos e acho que depois de mais de 23 anos de carreira musical, já mereço terminá-los.
Com Vixen, acabamos de lançar um novo single intitulado Red, que apresenta uma nova formação emocionante. Também estamos trabalhando em um novo vídeo e músicas futuras.
Em relação ao meu projeto, estou finalizando meus singles e lançando-os gradativamente, para que, no final deste ano, consiga montar o que seria o álbum completo.
Vou te contar que também acabei de lançar a música The Ride, com Richie Kotzen na guitarra e Doug Pinnock do King’s Axe, que divide os vocais comigo.
Você tem trabalhado em diversas músicas, elas farão parte do seu próximo álbum?
Acho que as músicas que venho lançando ficarão como singles, mas outras como The Ride ficarão no álbum completo, assim como as próximas que lançarei em breve.
Por fim, como você lida com seu relacionamento musical com seu marido Richie Kotzen, que é um grande músico e guitarrista? Vocês dão espaço um ao outro, existem regras dentro de casa?
Não existem regras, mas acho que existe muito respeito entre nós. Somos músicos e compositores, então ambos precisamos do nosso espaço.
Richie tem seu próprio estúdio aqui em casa e geralmente está lá. Na verdade, ele está atualmente gravando uma faixa de bateria com seu amigo Adrian Smith
Por outro lado, tenho meu próprio estúdio e espaço aqui nesta sala, que é onde tenho meus equipamentos e tudo que preciso para produzir música.
O mais importante é que ambos respeitemos o nosso trabalho e o espaço do outro. Quando ele viaja ou eu viajo, a gente sente falta um do outro, o que é uma coisa boa, sabe? mas a gente também precisa do nosso espaço, então quando isso acontece acaba sendo uma coisa muito saudável para a gente. Gosto de sentir falta, mas também gosto de preservar esse espaço.
E temos três cenários: o de Julia, o de Richie e o do casal. Então, é preciso considerá-los e equilibrá-los, sendo nosso segredo o respeito ao espaço de cada um de nós.
mas bandas y mismas canciones. Ahora tienes muchas otras posibilidades para escuchar en tu coche, como, por ejemplo, la música que tienes dentro de tu teléfono.
¿Cuál ha sido tu mejor actuación?
Bueno, recientemente Vixen tocó en el Festival Wacken en Alemania. Creo que, para mí, esa ha sido una de las mejores actuaciones que haya tenido oportunidad de realizar. ¡La banda estaba en llamas!
Estábamos muy emocionadas de tocar frente a unos 60,000 espectadores. El público quedó asombrado, el sonido era perfecto y el espectáculo increíble.
Sabemos que has estado trabajando en tu álbum de solista y hay grandes planes con Vixen. Cuéntanos por favor sobre tus futuros proyectos.
Efectivamente, estoy trabajando con Vixen y muy concentrada en mis proyectos. De hecho, he estado trabajando muy duro durante estos últimos años y creo que después de mis más de 23 años de carrera musical, ya merezco terminarlos.
Con Vixen, acabamos de lanzar un nuevo sencillo titulado Red, que incluye una nueva y emocionante formación. También trabajamos en un nuevo vídeo y en futuros temas.
En relación a mi proyecto, estoy terminando mis sencillos y sacándolos paulatinamente, para que, a finales de este año, pueda conjuntar lo que sería el álbum completo.
Te comento que también acabo de lanzar el tema The Ride, con la colaboración de Richie Kotzen en guitarra y Doug Pinnock de King’s Axe, quien comparte la voz conmigo.
Has estado trabajando con varios temas, ¿serán parte de tu próximo álbum?
Creo que las canciones que he estado lanzando se quedarán como sencillos, pero otras como The Ride quedarán dentro del álbum completo, así como las próximas que estaré lanzando próximamente.
Por último, ¿cómo llevas la relación musical con tu esposo Richie Kotzen, quien es un gran músico y guitarrista? ¿Se dan su espacio, hay reglas dentro de la casa?
No hay reglas, pero creo que hay mucho respeto entre nosotros. Ambos somos músicos y compositores, por lo que ambos necesitamos nuestro espacio.
Richie cuenta con su propio estudio aquí en la casa y generalmente él se encuentra ahí dentro. De hecho, en este momento se encuentra grabando una pista de batería con su amigo Adrian Smith
Por otro lado, yo tengo mi propio estudio y espacio aquí en esta sala, que es donde tengo mi equipo y todo lo que necesito para producir música.
Lo más importante es que ambos respetamos nuestro trabajo y el espacio de cada quien. Cuando él viaja o yo viajo, nos extrañamos, lo cual es algo bueno, ya sabes, pero también necesitamos nuestro espacio, así que cuando eso sucede, resulta ser algo realmente saludable para nosotros. Me gusta extrañarlo, pero también me gusta conservar ese espacio.
Y es que tenemos tres escenarios: el de Julia, el de Richie y el de la pareja. Entonces, tienes qué considerar y balancearlos, siendo nuestro secreto el respeto al espacio de cada quien.
Às vezes vejo músicos reclamando, mas a realidade é que eles não dedicam tempo nem esforço ao que fazem”
A veces veo músicos quejándose, pero la realidad es que no dedican tiempo ni esfuerzo a lo que hacen”
POR JAVIER VILLANUEVA
Mônica Guimarães Campiteli é uma jovem polifacética. Bem, muitos dirão que todo mundo é, mas não, a maioria das pessoas permanece num mundo bastante unilateral, combinando apenas trabalho e família, o que não é pouco desafio, é claro.
Mas quando falamos de Mônica, vemos uma mulher que é música, cuidadora de animais abandonados, amante da natureza da qual faz parte como era antigamente e como os novos tempos começam a exigir com urgência. E, como em uma certa síntese -cientista, vegana, bicho do mato que divide sua morada e seus dias com companheiros de muitas espécies- arremata tudo isso com uma cereja no bolo, como presidenta do Projeto Inhayba
Além de moradora de uma área rural maravilhosa, e integrada assim à natureza de um modo vital, ela transita também sobre uma ponte que une culturas através dos idiomas, como é o ofício do tradutor e intérprete, profissão e arte da qual falamos também neste Número Zero.
J. Villanueva: Mônica, como você enxerga e como vive essa multiplicidade de Mônicas que, ao final, é só uma única pessoa, singular e sensível como você é? E o que é o Projeto Inhayba na tua vida tão múltipla?
Mônica Guimarães: É interessante você mencionar este aspecto da multiplicidade. Na verdade, eu acho que eu nunca soube compartimentalizar a minha existência – uma Mônica profissional, outra social e assim por diante. Eu sempre busquei viver aquilo que fizesse sentido para mim. Eu fui uma criança muito curiosa e muito conectada aos animais e à natureza. E acho que a natureza tem esta característica de ser múltipla e, ao mesmo tempo, singular. Na verdade, hoje penso que esta coisa de separar, compartimentalizar reflete muito a nossa visão colonizada: mente x corpo, razão x emoção, homem x natureza, algo que nos trouxe à situação em que estamos, na iminência de uma série de colapsos ambientais. Mas este é
outro assunto. Desde criança, eu via os animais nãohumanos como companheiros de vida, como iguais. Comecei a resgatar animais abandonados assim que passei a ganhar meu próprio dinheiro – que gastava todo com estes resgates – e morar sozinha. Isso foi durante a faculdade. Naquela época, ainda existiam as terríveis “carrocinhas”, como eram conhecidos os centros de zoonoses, que se encarregavam de apanhar os animais que ficavam soltos nas ruas. Estes animais eram, em sua maioria, mortos. Não haviam campanhas de castração e a nossa cultura ainda não admitia muito o papo dos direitos dos animais. Havia muitos cães e gatos abandonados e os casos chegavam pra gente – os “protetores de animais” – sem parar. Este é um trabalho que eu nunca gostei de fazer. Fazia e ainda faço com uma certa raiva no coração – raiva pela injustiça e crueldade das situações com as quais a gente se depara. Mas sempre fiz também por uma
noção de responsabilidade. Uma noção de que se eu acho que alguém deveria fazer algo por aquela situação, e eu posso fazer algo... bem, aí está: a conta já fechou. Acabei indo viver em um sítio, na zona rural de Sorocaba por conta disto. Precisava de espaço para viver com eles e não podia ter feito melhor escolha de vida. Tanto pela qualidade de vida que eu ganhei vivendo de forma desacelerada, na velocidade em que a natureza acontece, quanto pela visão de mundo que viver aqui, particularmente neste lugar, me trouxe. A gente fala sobre isso logo mais.
Bem, você mencionou que me descrevo como cientista entre outras coisas. Esta curiosidade sobre a natureza me impeliu a seguir uma carreira científica – me graduei em Biologia e pós-graduei em Física. Mas, como pedaço da natureza que sou, minha trajetória dificilmente seria uma linha reta. Depois do terceiro pós-doutoramento, estudando ciência da complexidade, resolvi mudar de carreira e me tornei tradutora e intérprete de conferências. Encontrei a mi mesma na interpretação. Na interpretação não existe rotina. Em cada trabalho, você está em um ambiente diferente, com colegas diferentes, tratando de assuntos totalmente diversos. Num dia, a gente está traduzindo uma meninada da geração Z falando sobre redes sociais, no outro, a gente está numa conferência sobre uma doença genética rara, no outro, você está acompanhando uma comitiva internacional que trata do racismo no país. Como intérprete, a gente tem a possibilidade de espiar um punhado de mundos diferentes e fazer parte deles, mesmo que bem rapidinho. Às vezes, a gente acaba fazendo parte de mundos que a gente nem queria saber que existem... mas até nestas vezes, a gente sai sabendo que a nossa bolha ficou um pouquinho maior. E é uma profissão que, como você bem colocou, faz a ponte entre culturas. Quando a gente tem a oportunidade de ser a voz de grupos historicamente invisibilizados ou fazer parte de eventos que discutem mundos melhores possíveis, a sensação de realização é indescritível! É claro que tem seus perrengues, né? Situações imprevisíveis, em que a gente precisa se virar nos 30 pra fazer o negócio acontecer. Mas, no fim do dia, quando tudo dá certo, o desafio acaba virando uma boa risada com os colegas no bar!
Eu trabalho apenas com a língua inglesa. As pessoas estão sempre me perguntando como aprendi inglês e aí entra a música! Na década de 80, a gente fazia as fitas K7 com músicas gravadas da rádio. Eu gostava muito do rock e pop internacional, os hits da época, e queria saber cantar. Então, a gente tinha que “tirar” a música. Eu passava horas ouvindo e pausando a fita, e indo até o dicionário pra tentar achar uma palavra que se parecesse com o som que eu tinha ouvido e que fizesse sentido na frase. Aprendi inglês ouvindo música nas décadas de 80 e 90 – foi um inglês bem macarrônico, é claro, mas foi o pontapé pra continuar dali. Depois, com a internet, tudo ficou bem mais fácil. Dava pra encontrar a letra da música já pronta, mas mesmo assim, a música continuou sendo meu principal meio de estudo e motivador para o aprendizado da língua inglesa. Eu sempre admirei as cantoras negras americanas da Black e Soul music. Sonhava em cantar em um pub bem sem glamour acompanhada de um piano e um baixo acústico. Bem, agora, aos 46 anos, estou finalmente indo atrás deste sonho. Comecei a estudar canto na pandemia e agora estou montando uma banda e vamos estrear cantando um repertório principalmente de Black e Soul.
Sobre o Projeto Inhayba. Eu acho que é legal contar um pouquinho sobre como eu cheguei até o projeto. Eu vim para a área rural por precisar de um espaço grande, que comportasse todos os meus companheiros nãohumanos. Encontrei este sítio onde moro totalmente por acaso. Era uma propriedade muito bonita, com um riacho super charmoso, mata, uma boa área para manter os bichinhos em segurança e acessível financeiramente. Logo que me mudei para cá, comecei a conhecer os vizinhos por conta dos animais que viviam pela estrada, muitos doentes e desnutridos. Acontece que a região onde moro é extremamente carente, muitos de meus vizinhos vivem em situação de extrema pobreza. Comecei a oferecer ajuda para os animais e, logo, as pessoas começaram a me pedir desde água potável até ajuda para ler e compreender documentos. Além de conviver de perto com situações que nunca fizeram parte da minha realidade, também comecei a ouvir as histórias das pessoas – histórias de infâncias roubadas, de violência, de negligência total do Estado, mas que eram contadas como qualquer outra história. A minha bolha de pessoa branca de classe média não durou nada diante disso! Se espatifou! Eu, que sempre acreditei que cheguei onde cheguei por que me esforcei, percebi que eu talvez não tivesse a mesma integridade destas pessoas se eu tivesse tido uma história parecida, que eu só não tive por muita sorte e privilégio!
É muito importante nos darmos conta dos nossos privilégios. Esta virada de chave mudou minha vida completamente – mudou minha visão de mundo, de mim mesma e, principalmente, da minha responsabilidade com a minha comunidade. Toda esta história de vida que contei antes, com tantas escolhas, com tantas mudanças de caminhos, só foi possível por que eu sempre usufruí de muitos privilégios. Poucas pessoas no Brasil têm real possibilidade de fazer escolhas. Além disso, não posso deixar de reconhecer que eu passei muitos anos da minha vida adulta estudando em universidades públicas, mantida com recursos públicos, algo que até hoje me abre portas no ambiente profissional e me possibilita ter uma vida confortável. Quando esta bolha estourou, eu vi algo que eu não
posso mais “desver”. Eu tenho a responsabilidade de fazer o que estiver ao meu alcance, de usar todas as ferramentas que me foram dadas pela minha formação, para diminuir as consequências da desigualdade, ao menos, na minha comunidade, pois me beneficiei dela a minha vida inteira, mesmo sem saber.
Bem, assim foi que eu resolvi me envolver neste projeto social que já existia há muito tempo no meu bairro. É um projeto que trabalha com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Entrei para a diretoria do projeto em 2019 e, em 2022 me tornei presidente, um cargo não remunerado. Nós recebemos as crianças em contraturno escolar na nossa sede – um lugar lindo, aliás – e oferecemos atividades culturais, artísticas, esportivas, visando o desenvolvimento integral dos pequenos. Além disso, temos uma equipe técnica que faz, juntamente com os educadores, um acompanhamento individualizado das crianças e das famílias. No projeto, as crianças têm a oportunidade de brincar livres, de desenvolver
sua criatividade e individualidade e são acolhidas em suas mais diversas necessidades. E essas crianças são incríveis! Não tem coisa melhor que chegar lá e ouvir um “Tia Mônicaaaaa” e ver um monte de pititicos vindo correndo pra ganhar um abraço! Além das crianças, também olhamos para a comunidade como um todo. Nosso objetivo é que o projeto seja uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável da nossa comunidade, mantendo suas características – de área rural, com importantes recursos ambientais, com sua história rica – mas com possibilidade de geração de renda e dignidade para as famílias.
Acredito que este é um bom resumo de como esta multiplicidade se integra para criar a minha história, a história de uma pessoa que é uma, singular, mas que ao mesmo tempo é parte indissolúvel de uma rede, de uma sociedade, de uma cultura. Espero que, especialmente no tempo em que vivemos, as pessoas consigam se entender como peças que somos dentro de nossas comunidades e da natureza.
Javier Villanueva entrevista a M. Cristina G. Pacheco, directora de Librería Española e Hispanoamericana
POR JAVIER VILLANUEVA
Librería Española e Hispanoamericana cumple 40 años. ¿Cómo es el resúmen de esa historia?
MCGP: Bueno, empezamos en 1985 como Enterprise Idiomas, una escuela de español, inglés y francés que a poco de andar se dio cuenta que necesitaba importar libros para la enseñanza del castellano, algo casi inexistente en Brasil entonces.
Éramos, de hecho, la primera escuela a llevar cursos de español a las empresas de São Paulo, Guarulhos, Campinas y Viracopos, y fuimos también los pioneros en importación de libros en español en gran escala.
Hoy también producimos libros didácticos para la enseñanza del idioma a brasileños, lo que requiere un conocimiento del idioma portugués, sus contrastes y las "transparencias" entre ambas lenguas, y entender el sistema educativo del país, extenso y múltiple como lo es Brasil.
Pero no solo de libros vive Librería Española e Hispanoamericana, que de ser una sucursal más céntrica
de Enterprise Idiomas, luego la reemplazó como su heredera.
Cultura y divulgación de contenidos integradores con el mundo del portugués brasileño son focos permanentes de nuestro trabajo. Por ello trajimos en 1991 el Fondo de Cultura Económica de México a São Paulo, y por ello nuestra fuerte participación en la traducción y la interpretación en eventos que integran Brasil a América Latina por sus literaturas o por la ciencia y la tecnología.
Por ello también nuestra colaboración histórica con el Memorial da América Latina y con las representaciones consulares de lengua española que reconocen nuestro trabajo y dedicación.
¿Podemos contar para nuestro próximo número con una entrevista más detallada?
MCGP: Claro, Librería Española e Hispanoamericana apoya esta iniciativa de Arte, Cultura y Sociedad de México de extender este puente hacia Brasil en una publicación bilingüe y multicultural tan seria y a la vez tan "descontraida", como decimos en portugués.
O que representa Librería Española e Hispanoamericana como experiência de divulgação do livro e da cultura em língua espanhola no Brasil?
Por que Librería Española e Hispanoamericana é reconhecida como pioneira e também como "a exclusiva" em língua espanhola no Brasil?
O que representa essa batalha diária fazendo da língua, a cultura, a tradução e a edição de manuais didáticos uma ponte entre o Brasil e Hispano-américa?
POR ISAAC MORALES FERNÁNDEZ
Quando uma amiga me sugeriu a leitura do livro Contos Vazios, que foi presenteado para ela pelo autor, Ronaldo Torres de Melo Fialho (Teresópolis, 1956) não supus que aconteceria coisa alguma fora da expectativa, apesar do título, que me traz a saudade do meu antigo grupo e revista literária ¿Al vacío…?, que coordenei de 2004 a 2016, mas como existe tanta coisa sobre o conceito de Vazio, que talvez inconscientemente imbuído da noção do azar, própria da anti-metafísica caótica (ou melhor dizer com Jarry, “patafísica”), o livro ficou na minha mesa por várias semanas, na mais vexatória inércia.
Até que um dia, de repente, me deparei nele como acordando depois de um raro sono (nada a ver com o bicho Samsa), pensando: e se quiçá, não for por acaso?… Era um dia desses como de renascimento que às vezes nos acontece, bem de manhã. Então peguei o livro e abri ainda sem muita convicção, ganhando/perdendo tempo, e a primeira coisa que ressaltou-me à vista, foi, no sumário, o título do primeiro conto: Nada
Além do óbvio título do livro, que já tinha me chamado a atenção (é que já li tanta coisa sobre o vazio!), a palavra gritava-me em negrito sobre a brancura da página, quatro letras que abrangem uma lista de significados, um amplo paradigma de semas que adoraria esquecer. E embaixo, uma dedicatória: “Para Dylan Thomas”, um dos poetas que eu mais li na juventude e que, inclusive, ia ser o nome para um possível filho meu (combinado com a que fosse minha esposa de 2006 a 2017). Então pensei: acho que está sim acontecendo alguma coisa fora da expectativa.
Não li o prefácio (nunca li prefácios antes de ler o livro mesmo) e dei uma lida no primeiro conto… “Uma nesga de sol aquecia sua pele escalavrada”... exclamei: Nossa Senhora! Eu sou de uma terra, os Vales do Tuy, no coração ardente da Venezuela, onde uma nesga de sol na pele é como uma faca que penetra até o osso. Mas, na verdade, o que quero dizer é que, além da reverberação no meu imaginário, a sonoridade com que é construída a frase inicial, a sentença de abertura do livro, tem um assobiar (nesga, sol, aquecia, sua, escalavrada) de cobra que já anuncia a crueldade de Uroboros pressagiando o fatídico destino do homem. E não só do homem do conto, velho traído pela vida, agora condenada à trilha sonora da “harmonia melan-
cólica composta com acordes de resignação”, mas também o do leitor… o Nada é um conceito que vai muito além do simples Niilismo, a maioria das vezes politicamente confortável.
Cine Alvorada é aquela história que já aconteceu em muitas cidades, acho que do mundo. De fato, é tão “universal” que certamente é muito semelhante ao que aconteceu na minha “cidadezinha” Santa Teresa del Tuy. A pequena cidade tinha até os anos 80 duas salas de cinema, que hoje em dia são igrejas, uma da “Universal” e outra Pentecostal, justo na frente da Praça Bolívar da cidade. E no maior Shopping da cidade, tem o único cinema que, de todo modo, também já faz tempo que parou de funcionar... Mas falando do conto, dedicado “Para Machado” (Antonio, com certeza, o poeta espanhol), gira em torno a um menino que pergunta para o saudoso narrador “retrógado” que ficou “para trás” constantemente sobre o funcionamento da nova igreja, ele quer saber se tem ainda cinema ali. Mas o menino que pergunta é também metáfora da criança interior do narrador tentando entender as mudanças de um mundo que ele acabou não compreendendo nem aceitando. É um conto de saudade, nostalgia, de contos de velhinhos que nos fazem lembrar aquele poema de Jorge Manrique “Como, a nuestro parecer, cualquier tiempo pasado, fue mejor” (“como, segundo nosso parecer, qualquer tempo já passado, foi melhor!”). Tempos precisamente de alvorada, que depois viram crepusculares... A ironia aqui é, na verdade, a de uma frustração sem solução.
Por quem cantas as cigarras, obvia alusão a “Por quem dobram os sinos” (For whom the bell tolls, famoso romance de Hemingway inspirado em um poema de John Donne), conto dedicado a Joseph Conrad, busca a reminiscência antropológica do humano pré-histórico, incapacitado para entender os fenómenos da natureza e, ainda, na etapa pre-cultural da irreligião, mas quando o sonho e a revolta já existiam”. Mó, personagem simbólico do relato, é exposto às ameaças climáticas em algum tempo pretérito da época das cavernas, quando o vazio era a única coisa (a não-coisa) que habitava na imaginação de um humano ainda sem consciência de si, pois carecia da consciência da morte, sentindo-a apenas como perigo que impulsa o instinto de autoproteção, mesmo atrapalhado pela ignorância e ingenuidade simiesca, etapa arcaica da nossa evolução como espécie. Porém, ali, originam-se as mais antigas interpretações míticas do mundo, como por exemplo, a
associação simbólica do canto das cigarras (registrado em muitas culturas aborígenes do nosso continente) ao aviso da morte que ronda entre as árvores e desce no relâmpago, enquanto o desesperado medo do homem (talvez antes do homo sapiens) reage, como único ato de defesa possível, xingando contra aquilo que não conhece e, por tanto, não entende; medo que serve para a preservação da vida e o cultivo primigênio dos mitos ancestrais.
A tal honestidade, dedicado a Nelson Rodrigues, relata uma cena cotidiana na que um “malandro” bêbado e mentiroso, Pedro Lontra, “doutor no jeitinho brasileiro”, e a sua mulher, Aurinha, vivem no inferno barulhento do lar infeliz, da fofoca e da não escuta, mas onde, mesmo assim, o Pedro ri e sorri, com orgulho, descansando depois das caipirinhas na rede da varanda, onde aguarda pela filha dele, Maria de Lurdes, para terem uma “conversadinha” sobre o noivo dela, um cara rico, mas que ela finalmente, se desabafando com o pai, admite que não consegue ficar mais perto dele, só que está indecisa porque também o noivo é a oportunidade de largar “essa vida miserável, vidinha de merda”. Perante os grandes questionamentos que a Maria de Lurdes se faz, pedindo conselho ao pai, Pedro Lontra responde, mais honesto que nunca: “Mente, Maria de Lurdes… Mente!”... A curiosa ironia da dica do pai, sugere também um astuto jogo semântico: para o bem mentir, é preciso o bem uso da Mente… não é mesmo? O final do conto apresenta assim uma ironia cruel que deslegitima o amor/paixão, em “virtude” do “interesse maior”... Literal, real e, mais uma vez, cruel. Tão cruel, que para o leitor ali é preciso rir (para não chorar).
O endereço da fome, dedicado ao poeta beatnik Jack Kerouac, além de ter um título muito bom até para um romance, é um texto em prosa poética, de luxuoso vocabulário, onde ressoam as noções de vazio e da ânsia (ideias muito ligadas à náusea de Sartre) e da “mesa farta, sinal de prosperidade do sonho operário” (trecho quase literal que agora não vou lembrar, do romance A Mãe, clássico do soviético Máximo Gorki). Poetas célebres como Pessoa e William Carlos Williams (um dos meus favoritos!), o artista plástico do Movimento Dadá Marcel Duchamp… enfim, no meio de uma relato intimista na bagagem da cultura esquerdista cumulada, o narrador protagonista, velho, de primeira a segunda pessoa, traz as lembranças do casal de revolucionários que ele e ela eram, quando
amantes “jovens, desafiadores, transgressores” e “você filosofava vulgaridades” como se procurasse “bálsamo na cicuta”... A lembrança é específica, de uma noite em um hotel cuja proprietária também traz as recordações frívolas e “suntuosas dos palácios”... E afinal tudo acaba sendo nostalgia, saudade, “a solidão, o abandono, o pavor do amanhã socava as portas do hoje resignado”. E o tema da fome, desde a suntuosidade perdida bem como desde a juventude acabada, passa atravessando na última linha do relato, como a desesperançadora omnipresença daquele maldito (c) o(r)vo (frito): “Nunca mais!”
Quando estou sonhando nem sempre sei por onde ando, relato dedicado a Drummond de Andrade, e cujo título é um trecho de uma música de Décio Rocha. É um meta-relato onde os personagens, poetas jovens bêbados numa mesa de buteco, conversam as coisas mais diversas, desde a morte, até contam os sonhos recentes que tiveram. Destaca-se o sonho de Riquinho, que é com Pablo Neruda, e conta como voou com o insigne poeta sobre o Chile todo e um monte de peripécias que causam até uma inveja de brincadeira entre os amigos. E claro, quando o majestuoso sonho acaba, acaba também a conversa, e o horário já fica no momento de voltar à realidade… e talvez fechar o negócio, porque é hora de ir “varrendo”...
Havia um gosto de morango no primeiro conto, texto dedicado ao ilustre Ernest Hemingway, é um conto estranho, distante e frio como a personagem da “mãe erudita” do protagonista do relato, até para se referir a sua história ou para aliviar o sofrimento da empregada. Há um leitmotiv interessante: o poeta e desenhador inglês pré romântico William Blake, cujo principal tema, é também tema da mãe do conto e do conto mesmo: a morte, como fato e como delírio. Também tem uma alusão ao primeiro conto, Nada, através do morango como metáfora da cor vermelha, que assim como está relacionada à luta revolucionária -Hemingway na guerra civil espanhola e, depois, o suicídio dele-, está porém, antes disso, íntima e universalmente relacionada ao fatídico destino do homem… Há sim um queimante cheiro vermelho na Nada. Agora, baunilha? Chocolate? Amargo marrom da terra, o pó de onde viemos e aonde vamos.
Entre a insanidade e a loucura vagueia o poema, dedicado ao immortal Walt Whitman, é, de fato, um poema em prosa em que o, ora poeta, por um instante não narrador, “descansa” sua “inteligência”, e a dita inteligência é, talvez, esse chapéu que a “loucura varre”. O texto vagueia, divaga, entre essa insanidade e loucura, logo, o que fica no meio é o devaneio, onde surgem as imagens dos arquétipos gregos: Zeus vingativo, Hades atropelado, Andrômeda apavorada, Perseu apaixonado e a Górgona Medusa que “renasce na crença nossa de cada instante”, referindo-se, talvez, ao fato de que “vangloriar-se de olhar o inimigo nos olhos” é a mesma coisa que tentar convertê-lo em pedra, ou seja, conseguir que fique calado? Como se esquecesse (“como se Zeus fosse”) que, diante daqueles aos que “o descanso eterno lhes foi dado”, a “esperança lúcida” (ou devaneio) está totalmente “indefesa frente à força superior” dos que “não pensam mais”, mas “decidem”.
Testamento, dedicado a Rubem Braga, narra as tensões entre Renato, jovem escritor (“ensaio tupi-
niquim de Hemingway”) marido de Nancy, e a avó dela (“vovó”, “vozinha”, “pobre vozinha!”), dona Ingrid, velha rica e viúva que está preocupada com o que fará sua neta com a herança, “uma das maiores fortunas do Rio de Janeiro”. A cena central acontece na ceia organizada por dona Ingrid para sua neta Nancy, mas com absoluto desprezo por Renato, para quem ela sempre constrói frases negativas, implicando com ele em todo momento, de forma indireta. Mas a chatice é mútua, pois Renato, quando já não consegue ficar
calado, lança também as suas setas de breves sarcasmos, deixando para Nancy o papel de diplomata entre os dois. Mas é Dona Ingrid, desde a altivez da sua opulência (“esnobismo faraônico”), quem sempre deixa o Renato humilhado sob o “veneno cínico”. Ali é importante destacar a reflexão final que aparece nos pensamentos de Renato e que circunscreve e até explica o que está acontecendo no fundo: há uma quebra no matrimônio. Ele quer “buscar o mapa do verdadeiro tesouro pelo qual nos casamos e juramos
fidelidade eterna!” e se questiona “o famigerado amor, a sórdida paixão, onde foi parar tudo isso?” Fica claro que Renato é infeliz. Afinal, na despedida da visita, o vínculo Ingrid-Nancy é imperturbável: “Adeus, minha neta! Pense no que lhe disse, pense bem!” e o relato acaba em um final aberto, de incertezas para ele, quem já, desde as primeiras linhas do conto, se adverte como o homem que prefere calar suas inseguranças e tristezas, para ser, a seu pesar, “o homem mais lindo e compreensivo que existe!”... A principal herança que percebemos, nós leitores, como subtexto temático, é o machismo que impera na sociedade, ironicamente reforçado pela própria mulher (“a herança que seu avô consumiu a vida inteira para forjar”) é onde o homem precisa se mostrar forte, sério, financeiramente bem sucedido, sem “fantasias”, para poder merecer a posição de “gestor” da herança da mulher. Quer dizer, a preocupação de Dona Ingrid pela herança é pelo que o marido dela vai fazer. Não tem, o homem, habilitação para ser um simples escritor, vivendo na fantasia. Não. Tem que ter alguma profissão ou ofício de prestígio na sociedade capitalista em que vivemos… enfim, seria um tema longe demais para tratar aqui, e que transversaliza muitas coisas, todas presentes de maneira bem pincelada no conto.
Sublime desejo, dedicado a Henry Miller, relata o encontro amoroso e erótico de um menino de 14 anos e uma adolescente de 17, que irá ser a “professorinha” dele. O menino, extasiado nos olhos “esmeraldinhas” dela, de quem nunca saberá o nome, acaba “atrás de seus passos (...) mansinho”. O ato erótico ocorre no fundo de um casarão, e é intenso demais. A ideia do “Sublime Desejo”, tirado do Kama Sutra, é a única referência que o garotinho tem para dar prazer à garota. A intensidade é levada pelo ritmo de uma prosa envolvente e dos diálogos curtos, explosivos, intermitentes, dos amantes; ela guiando, ele obedecendo. Porém, no momento do orgasmo a garota tem espasmos muito além do que o menino consegue entender. Os gritos dele atraem os vizinhos e, afinal, o que aconteceu foi a morte da garota por causa de uma isquemia, um tipo de infarto… Final ruim não só para a garota morta e o menino traumatizado, mas também para o conto que parece ficar assim reduzido a uma piada sem graça para o leitor. Penso que o final podia ser mais interessante e menos bobo.
O dia que Nova York desceu pelas fossas de Copacabana, dedicado a Antônio Maria, é a história de Bob Vale, um metrossexual que prefere as loiras, mas tem atividade sexual frequente com “todas, uma a cada noite, as vezes até duas”, mantém um encontro de velhos amigos com Telles e o narrador protagonista do conto (que, de todos os do livro, é o que mais encaixa na definição específica do que é Conto dentre os subgêneros da narrativa). No conto, a figura do Bob Vale é levada a um ponto máximo, não só de apresentação enquanto personagem, mas também ao ponto máximo de protagonismo no relato, pois não para de argumentar coisas em torno da sua ideia de que Nova York é onde “o mundo pulsa”. Bob Vale é praticamente a caricatura do que é a ideologia do american-way-of-life contextualizada, é claro, no Rio de Janeiro. Para ele, tudo, desde as mulheres até o possível Armageddon, é melhor em Nova York. Telles, mais à esquerda na ideologia, “já se nauseava” da fala de Bob, e o acusa de “alienado inconsequente”, e zoa:
“o Macunaíma da Quinta Avenida”, e aí Bob também zoa Telles: “Hugo Chavez de Copacabana”. A discussão segue, Bob, com um exemplar do New York Times na mão, larga ele, e em seguida, uma personagem que até esse momento passava, Ana, a lavandeira que cuidava do seu menino de quatro anos, traz o final inesperado do conto: o menino Felipinho “deu de obrar nessa hora” a mãe procurou papel e, ao não achar, usou o jornal. O engraçado, ridículo e grotesco final é para rir da desgraça do Bob: “É coisa de terceiro mundo mesmo. O menino caga, a mãe limpa a bunda do moleque com o NY Times e os idiotas acham a maior graça. Isso é o terceiro mundo”. Era o final perfeito para esse conto, sem dúvida.
A jaca e a nódia, dedicado a Manuel Bandeira, é um relato refrescante sobre a lembrança de uma menina de seis anos, Júlia, que conversa com o protagonista do conto, menino de doze anos que cai doente de gripe e fica em cama, aonde Júlia vai bater papo com ele, mas pronuncia errado algumas palavras, e depois que ele corrige ela dizendo a forma correta de falar “nódoa, largata, ingnorante”. Mas é interessante a reflexão final da Júlia, não apenas pela fofura da menina, senão principalmente pela inteligente lógica infantil de silogismo filosófico puro: “gente sabida custa mais a aprender (...) Gente sabida já sabe. Se já sabe, vai custar aprender. Gente iiignorante não sabe de nada, tem tudinho pra aprender”. A lembrança disso acontece quando já aquele menino de doze, está com sessenta anos “bem mais cansado e ainda menos sabido que aos doze”. A Júlia passa a segundo plano na história porque morreu aos dez. Mas, como bonita coincidência, o netinho dele, Antônio, de cinco, anda lidando com a pronúncia certa de “cica”... “Xiiica!”
Noite de estivador, dedicado a João do Rio, é um conto absurdista, de ciclo vicioso e vazio, como os “olhinhos marejados de vazio brilhando de felicidade” da mulher para quem o homem, em primeira pessoa na narração, faz tudo na vida, especialmente trabalhar, noite a noite, repetindo o ciclo de Sísifo, dentro do nonsense da vida monótona, repetitiva, urobórica. Sísifo é, sem dúvida, o primeiro estivador do imaginário ocidental, o anti herói cuja única proeza é carregar o peso de cada dia, mas que este estivador do conto trabalhe às noites, dá para pensar na escuridão em que vive o homem operário contemporâneo, que nem sempre tem uma Mérope que, seja caçada ou casada, o ame da forma em que está escrito no conto, em eterna harmonia… mas, será mesmo que o protagonista do conto tem uma Mérope assim?
Vamos passar a noite juntos, dedicado a Pedro Nava, narra a história do casal Osvaldo e Angelina, que estão com 25 anos de matrimônio, três filhos e um neto. Angelina, com 49, é uma mulher virtuosa no sentido mais clássico do termo, “católica fervorosa”, mas também é uma incrível dançarina comparada a Isadora Duncan. Mas um dia, por acaso, Angelina passa pela frente do temido hospício da cidade, se sente pela primeira vez como chamada desde dentro. Ali, ela pega o terço e, assustada, reza, mas decide entrar e conhece ao Tarcísio, em aparência responsável pelo hospício. Ele consegue convencer ela de conhecer o lugar mais tranquilo e “aprazível” do hospício, entre flores. A conversação entre os ambos torna-se, pela insistência dele, cada vez mais íntima e poética.
Tarcísio banha em elogios a Angelina, quem não para falar das virtudes de seu marido, no entanto deixa entender entrelinhas que não é tão atencioso com ela, como ela gostaria. Tarcísio, então, começa a falar, envolvendo Angelina num clima encantador, poético, e a conversa vira jogo, no qual Angelina também “punha um pouco de malícia”, mas achando que tudo era brincadeira do Tarcísio. O jogo dele parece feitiço, magia mesmo, a fala vai para o tema dos sonhos e por aí vai entrando aos poucos na fala sedutora do galã que pretende conquistar a mulher. Dançam. O conto tem, especialmente aqui, enorme potencial para uma peça de teatro, com diálogos intensos e uma situação confusa, lúdica e onírica. Angelina, sem saber exatamente o que está fazendo, se deixa levar pelo discurso romântico e apaixonado do Tarcísio. Fica difícil toda tentativa de oposição ou resistência. Ela admite “agora quem tá ficando maluca sou eu!”. E já quase no momento do beijo que ele está pronto a executar, no clímax da sua interpretação histriônica, é interrompido pelo chamado de uma voz anasalada… E assim, fica descoberto que Tarcísio Meira é o apelido do louco que “não pode ver um rabo de saia aqui no hospício que ele logo se arvora em galantear”... E “tem umas que até se apaixonam por ele. Vê se pode? Se apaixonar por maluco!”... Angelina se dá conta que acabou de ser quase-quase uma dessas apaixonadas por maluco… e vai embora “altiva e soberana” como sempre… e a retomar o caminho a casa, a ser a prisioneira cantora que nem o passarinho na gaiola na frente do manicômio.
Complexo de Eva, dedicado ao Marquês de Sade, é também um breve poema em prosa, com o símbolo bíblico da maçã do pecado, agregando também reminiscências zodiacais: antes libriano, agora aquariano, os ambos signos de ar, e existenciais: “sonhar é possível, glorioso nem sempre”. E assim o texto encerra numa pergunta metafórica e transliterária do poeta: “a maçã está posta na mesa do pecado. Quem dá a primeira mordida?”
Mar de Honório Gurgel , dedicado a Ivan Mata Machado, apresenta este Ivan como personagem focal do relato, narrado em primeira pessoa testemunha. E é Ivan quem fala de Copacabana, de tal forma que o narrador expressa: “o que eu mais saboreava nas prosas com o Ivan era quando ele dava de falar de Copacabana”. A conversa acaba e o protagonista do conto, volta para casa pensando no mar. E claro, Honório Gurgel é um bairro periférico, sem mar, sem rio, mas quando ele para na frente de um jardim de lírios, fecha os olhos, e recebe o cheiro das flores e o vento… aí ele imagina “o mais exuberante de todos os mares. O mar de Honório Gurgel!”
O livro de Ronaldo Fialho, termina com três mini relatos, apresentados como “conheça outras obras do autor”, de menos de uma página cada: A última nota do blues (“o blues é uma religião!”); O segredo de Arimatéia, sobrenome do personagem da Bíblia; e A espetacular vida comum de Valério Augusto: “quanto mais percorri, quanto mais viajei, diletos anjos, mais claramente pude compreender o verdadeiro sentido da vida: errar”.
E eu agrego, para amarrar o final deste comentário: errar, talvez, no vazio.
POR JAVIER VILLANUEVA TRADUÇÃO ISAAC J. MORALES FERNÁNDEZ
OMemorialda América Latina é uma instituição sólida e icônica, assentada num conjunto arquitetônico tão vigoroso quanto representativo e emblemático como a instituição que o habita. E de todos os muitos homens e mulheres que servem o ideal de integração latino-americana que viu nascer o Memorial em 1989, um deles é particularmente representativo: Eduardo Rascov. Quem o conhece desde que ingressou na instituição sabe o que pensa e como age: para ele o Memorial da América Latina não é um museu, um teatro, nem uma galeria de arte, nem um fórum de temas acadêmicos, nem um centro de festas e shows musicais. Mas é tudo isso ao mesmo tempo e no mesmo lugar. E tem princípios e objetivos que Rascov compartilha plenamente.
O que Eduardo Rascov sabe –sobretudo– é que esta, a sua instituição, veio há 35 anos resgatar a velha e nobre ideia de solidariedade e união defendida pelos libertadores da América no século XIX, sustentando que era necessário que os latino-americanos não esqueçam o seu passado, as suas origens.
De 2000 a 2015 Rascov colaborou com a Revista Nuestra/Nossa América , órgão de divulgação do Memorial da América Latina, com pautas e artigos. Desde 2015 ele se tornou o editor.
O que propôs Eduardo Rascov nesses longos anos à frente da Revista Nuestra/Nossa América? Nada menos que resgatar as raízes herdadas do pensamento do antropólogo Darcy Ribeiro, homem de teorias progressistas e de atuação política ousada que construiu, junto com o arquiteto Oscar Niemeyer, um conceito cultural que dialoga com a criação arquitetônica em todos os seus aspectos e atividades.
Darcy Ribeiro criou o Museu do Índio em 1953, a obra que ele mais amava, e criou o projeto Parque Indígena do Xingu. Fundador da Universidade de Brasília (UnB), foi seu primeiro reitor. Ministro da Educação no Governo de Jânio Quadros (1961) e chefe da Casa Civil do Governo de João Goulart, foi demitido e perseguido pela ditadura militar, exilou-se e viveu em vários países da América Latina. Durante esse longo período foi professor de antropologia na
Universidad Oriental del Uruguay e assessor dos presidentes Salvador Allende, do Chile, e Velasco Alvarado, do Peru. Autor de O Povo Brasileiro, obra que retrata a formação étnico-cultural do Brasil; As Américas e Civilização; e América Latina: uma grande pátria, obra que aborda a história dos povos latino-americanos e busca compreender como populações tão avançadas do ponto de vista sociocultural ocupam hoje uma posição secundária no nível mundial. Darcy Ribeiro foi responsável pelo projeto cultural do Memorial da América Latina, bem como pela curadoria dos acervos da Biblioteca Latino-Americana e do Pavilhão da Criatividade, e pela criação do Centro Brasileiro de Estudos LatinoAmericanos (Cbeal).
E.Rascov: Sim, claro. Darcy Ribeiro pretendia apresentar ao Brasil a grande riqueza das culturas das sociedades hispano-americanas, e mostrar às nações vizinhas e irmãs o nosso país, também repleto de história, tradições e paisagens geográficas, humanas, e de fauna e flora.
A Revista Nuestra/Nossa América, distribuída como publicação bilíngue para consulados, embaixadas, universidades, escritores e artistas de todo o continente, sofreu a crise de 2015-16, época do golpe institucional contra a presidente eleita Dilma Rousseff, o que também atingiu a economia em 20%. Mesmo assim, sofrendo o impacto, a Revista Nuestra/Nossa América não deixou de ser publicada, retornando não apenas em seu conteúdo às origens de seu inspirador, Darcy Ribeiro, mas também ao formato original, maior e com mais páginas.
O que o levou a fazer essas mudanças na Revista Nuestra/Nossa América? Como você adaptou os antigos princípios e ideais de Darcy Ribeiro aos novos tempos do século XXI?
E.Rascov: Ao fazer minha dissertação no PROLAM vi que a metodologia de pesquisa poderia tomar dois rumos: os estudos comparados, ou as pesquisas gerais sobre problemas e temas em toda a América Latina. Por que não incorporar essas metodologias na Revista? E porque não trazer também para a Revista novos temas, aqueles que começaram a surgir com força há apenas quinze, vinte anos, trazendo novas diretrizes: como o cuidado da natureza, ou a visão de uma sociedade multiespécie, como que nos destaca desde a tragédia do Rio Grande do Sul, em que somos questionados se devemos salvar os animais antes, depois ou junto com os humanos.
Os temas que suscitam novas visões identitárias também estão incorporados às diretrizes da Revista Nuestra/Nossa América?
Qual é o espírito do Memorial que você resgata na Revista Nuestra/Nossa América? Será o da utopia selvagem de Darcy e os dos caminhos para a integração latino-americana?
E.Rascov: É claro, sem dúvida. É tolice pensar que estas são questões que dividem ou separam as lutas dos oprimidos. Pelo contrário: a mulher negra e favelada,
a mulher pobre e negra trans, são exemplos gritantes de opressão que também se expressam na cultura e nas diversas expressões artísticas que a Revista mostra como conteúdo fundamental.
Como se expressam essas novas tendências culturais, artísticas e folclóricas que trazem à luz os comportamentos das sociedades latino-americanas no século XXI?
E.Rascov: Pois bem, voltamos a Darcy Ribeiro, que conhece no exílio o mexicano Leopoldo Zea, com quem nosso sociólogo brasileiro ajudou a tecer redes transnacionais no mundo intelectual e político, como testemunha sua influência internacional do pensamento indígena e de temas como sub-desenvolvimento e andependência latino-americanos. Também abordam ações como homens públicos que são, especialmente na educação e na reforma universitária, o que é fundamental para compreender sua influência na América Latina, atuando diretamente na reestruturação do ensino superior em diversos países, como Brasil, Uruguai e Venezuela. Tudo isso é base sólida para um pensamento aberto e progressista, alheio ao conservadorismo contra o qual Darcy lutou toda a sua vida e que tão bem se expressa no Memorial da América Latina e na Revista Nuestra/Nossa América.
Qual foi a última publicação da Revista, aquela que causou tanto impacto?
E.Rascov: O último número aborda a devolução do Manto Tupinambá, recuperado pelos nossos povos originários mais de três séculos depois de permanecer no Nationalmuseet, de Copenhague, Dinamarca. Mas o faz não só com grande antecipação à recente chegada da peça ao país, mas a partir de uma perspectiva diferente da mera notícia. Decidimos, com muito sucesso, que a Revista Nuestra/Nossa América trouxesse a cultura ancestral e popular da América Latina através da matéria “Mantos imantados”, de Paulo Vieira, que mostra a aproximação entre o Manto Tupinambá agora
retornado, o Manto da Apresentação, do artista popular Arthur Bispo do Rosário –“negro, pobre, preso por décadas num manicômio, que foi iluminado por sua fé e imaginação e por suas mãos hábeis a serviço de sua criatividade”, como diz a matéria; e os Parangolés, de Hélio Oiticica, que produziu essas capas para que seus modelos –muitos deles da comunidade do Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro– pudessem dançar e se divertir. Talvez seu Manto Parangolé carregasse uma força espiritual para que quem o usasse começasse a dançar.
Uma última pergunta para encerrar a entrevista: em 1989 e durante um par de décadas, o ambiente internacional parecia mais propício para os objetivos do Memorial da América Latina e a Revista Nossa/ Nuestra América. Ante a nova situação de maiores dificuldades, sobretudo no território da América Latina e do Caribe, como você acha que ambas as
instituições devem agir para continuar aportando aos objetivos da integração econômica, social e cultural do nosso continente?
E.Rascov: De fato, no final dos anos 1980 e nos anos 1990 até meados das duas primeiras décadas dos anos 2000, o ambiente internacional favorecia a ideia de integração. A União Europeia era o grande exemplo. Ela conseguia a integração econômica, cultural e até política. Uma proeza para um continente que vivia em guerra. Com o fim do comunismo na Europa, novos países foram incorporados ao mercado capitalista e o mundo viveu uma fase de expansão econômica, integração produtiva e predomínio dos valores associados à democracia burguesa ocidental. Esse processo ficou conhecido como Globalização.
Mas essa realidade mudou com a ascensão da China, grande potência econômica e o surgimento de novos polos e potências regionais, como a Rússia, a Índia, a África do Sul, a Indonésia, o Vietnã, etc. O início da Guerra da Ucrânia, em 2022, pode ser apontado como o marco do início do fim da supremacia ocidental absoluta. Desde então a tendência é a formação de blocos estanques, comandados pelas potências regionais. Esse é um desafio lançado contra a ordem imposta pelos EUA após a segunda guerra mundial.
Acredito que o Brasil possa jogar um papel importante. Como país mais rico e populoso da América Latina, ele é um líder natural da região. Cabe a ele, então, liderar um processo de integração econômica, cultura e política que faça frente às forças que estão sendo liberadas no momento. Nesse caso, o Memorial pode desempenhar um papel importante como catalisador desse processo. E, claro, sua revista, como veículo das novas ideias e iniciativas integradoras.
LÍNGUAS | LITERATURA
Nada mais apropriado hoje, ocasião em que estamos lançando uma Revista que se propõe ser ponte entre duas culturas, a brasileira e a mexicana, -e ao mesmo tempo uma estrada de duas mãos entre o português de 212 milhões de brasileiras e brasileiros e os 500 milhões de vizinhos hispano-falantes- que tratar deste tema pouco conhecido: a tradução
POR JAVIER VILLANUEVA
Vários
amigos me perguntam por que na minha idade madura (que alguns já consideram uma marcha galopante para a velhice) me dedico a aperfeiçoar um ofício que se soma aos já antigos da edição, da escrita e da profissão de livreiro. A profissão, aprendida muito antes da pandemia, mas praticada com paixão durante a longa peste de 2020 a 2022 até hoje, é a de tradutor/intérprete. Bom, como trabalho com espanhol como língua estrangeira em um país de 212 milhões de falantes de português - o Brasil - eu diria que uma coisa leva à outra e todas exigem muito estudo, dedicação, e o amor de um eterno aprendiz.
Quando falamos em dificuldades de tradução, há sempre quem se lembre imediatamente de palavras supostamente intraduzíveis, como “saudade” e outras do género.
Tanto “saudade” como “morriña”, esta última partilhada com o galego, são palavras míticas, e todas as línguas têm as suas, sempre apresentadas ao novato e ao amador com alguma definição engenhosa, sempre deliberadamente complicada e ambígua, para nos fazer acreditar que ninguém conseguiu traduzir um conceito tão supostamente distorcido. E ainda assim, na vida cotidiana, essas mesmas palavras são usadas em frases simples e claras, que raramente causam dificuldades. O meu grande amigo português Marcos Neve, especialista nestes temas, lembra-se da frase “Sinto falta de um bom bacalhau à Gomes de Sá”. O tradutor talvez dedique mais tempo à resolução do problema de “Gomes de Sá” do que à nostalgia,
saudade, saudade ou sentimento de falta, que pode resolver o enigma da “saudade”.
Mas, afinal, o que é tradução e o que é interpretação? É o mesmo trabalho? São dois? Sim e não: são profissões vinculadas, fortemente amarradas, embora alguns se dediquem mais a uma do que a outra. Em qualquer caso, trata-se de levar uma ideia, um conceito ou todo um discurso, de uma língua de origem para outra, para uma língua “de chegada”. Mas, enquanto a tradução é sobretudo escrita, a interpretação é oral: é traduzir em tempo real o que alguém diz numa língua e trazê-lo para a outra língua de uma forma compreensível e clara. É interpretar o emissor para comunicar suas ideias e conceitos a um ouvinte, ou a vários receptores.
Ultimamente, com o surgimento da Inteligência Artificial, a tradução de textos começou a ser tirada das mãos do profissional humano e entregue a outro produto humano que até agora demonstra -nesta nossa área ao menos- mais fracassos do que sucessos, mas que certamente tem tirado trabalho da velha profissão da tradução que antigamente chamávamos “em papel”, e há algumas décadas denominamos “em arquivos digitais”. Muitos tradutores são chamados a “corrigir” erros grosseiros da I.A. e às vezes é mais fácil fazer tudo de novo do que simplesmente revisar e ajustar.
Por isso, talvez, grande parte dos tradutores migrou para o trabalho mais específico e –pelo menos por enquanto – insubstituível da interpretação.
E o que exatamente um intérprete faz? Bastante
ausente do registro histórico, -mesmo invisível e ignorado na maioria das vezes- quem interpreta, seja em tempos de paz ou em tempos de guerra, geralmente não é retratado, pelo menos não nos textos de história. No livro “Línguas entre dois fogos. Intérpretes na Guerra Civil Espanhola (1936-1939)’” de Jesús Baigorri, o conflito bélico é reconstruído através das palavras como uma profissão que ora nega, anula ou minimiza, ora substitui as armas. Entre os mais de 2.000 homens e mulheres do contingente soviético, por exemplo – 772 pilotos militares, 351 operadores de tanques, 222 conselheiros de armas, 339 conselheiros técnicos, 100 artilheiros, 77 marinheiros – havia 204 tradutores, com grande representação de mulheres tradutoras, algo muito incomum até então. Para ser mais claro: mais de 2.000 cidadãos da URSS participaram em combates, enquanto 204 tradutores e intérpretes da União Soviética, metade deles mulheres, desempenharam o seu trabalho em situações difíceis e muito perigosas.
Um fenómeno tão excepcional até a época da Guerra Civil Espanhola de 1936-39, segundo Baigorri, autor da obra, tem uma explicação sociológica clara, uma vez que a Revolução de Outubro de 1917 promoveu a integração feminina no mercado de trabalho em igualdade de condições com os homens, e a grande maioria – 90% deles – nasceram após o ano de 1900, ou seja, a adolescência e o tempo de estudos coincidiram com aquele contexto. Isto certamente também ocorreu como um fenómeno durante a primeira revolução do século XX, que estava uma década à frente da russa: a Revolução Mexicana; mas quase não há dados sobre a participação feminina como
suporte fundamental para a atuação de jornalistas, repórteres e observadores estrangeiros que chegaram ao país naquele período.
Como se comunicavam os membros das Brigadas Internacionais entre si e todos eles com os combatentes do Exército Republicano? Como os alemães da Legião Condor conversaram com as tropas de Franco do outro lado das trincheiras e barricadas?
Devido à escassez de tropas com habilidades poliglotas, as mulheres soviéticas cumpriram seu papel de tradutoras e intérpretes na Espanha mais individualmente do que em equipes, e tiveram que desempenhá-lo em unidades separadas ou acompanhando comandantes específicos durante as batalhas em que os russos se encontraram com os espanhóis e homens e mulheres de todo o mundo que chegaram às Brigadas Internacionais.
E Jesús Baigorri menciona a quase desconhecida Soledad Sancha, as irmãs Abramson, Lydia Kúper, Ruth Zernova, Anna Obrucheva e Elizaveta Parshina, como algumas das mais de cem mulheres “entre dois fogos”, protagonistas silenciadas da Guerra Civil Espanhola, um fenômeno que se repetiria mais tarde, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
No final da Segunda Guerra Mundial de 193945, nos julgamentos de Nuremberg, os intérpretes bilíngues e poliglotas foram essenciais, uma vez que as línguas de trabalho eram o inglês, o francês, o alemão e o russo. Assim, foram montadas quatro cabines, com
três intérpretes em cada uma delas, e um total de doze intérpretes rotativos na sala do tribunal que julgou e condenou os criminosos de guerra. Sem o trabalho de tradução simultânea, os juízos serão inviáveis.
Seria possível? se perguntaram os juízes e advogados. Poderiam traduzir ao vivo e em direto cerca de 100 palavras por minuto? Isso nunca tinha sido feito antes. Pela primeira vez na história, uma tradução simultânea de cada palavra falada seria feita em pelo menos três outros idiomas diferentes –ao alemão, neste caso – e dentro de um ambiente judicial. Muitos disseram que não seria possível, mas no final foi conseguido e o evento marcou a entrada pela porta da frente da interpretação simultânea.
O trabalho dos tradutores simultâneos em Nuremberg foi um enorme avanço na interpretação simultânea, como expressou Kimberly Guise, vice-diretora dos serviços curatoriais do Museu da Segunda Guerra Mundial, nos EUA. em seu texto “Tradução e interpretação dos julgamentos de Nuremberg”
Mas, afinal, qual a diferença entre os dois tipos de interpretação, a simultânea e a consecutiva? Para entender melhor, voltemos ao caso de Nuremberg: se uma interpretação consecutiva em vez da simultânea dos julgamentos tivesse sido realizada nas quatro línguas mencionadas, todo o processo teria demorado quatro vezes mais, diz Philip Wiedmann, professor de tradução e interpretação da Universidade Europeia de Valência. Se tivesse sido utilizado o método consecutivo, enquanto
alguém falasse em alemão ou russo, os intérpretes das outras línguas fariam suas anotações. Ao final do discurso do primeiro orador, seria a vez dos tradutores: o francês, depois o inglês, e assim sucessivamente até a conclusão das quatro versões.
A modalidade de interpretação simultânea utilizada nos julgamentos de Nuremberg produziria um grande avanço e uma revolução técnica, embora esta forma de tradução já tivesse começado a ser utilizada há cerca de vinte anos. Mesmo antes dos julgamentos dos criminosos nazistas, já se utilizava a interpretação sussurrada ou chuchotage, uma espécie de interpretação simultânea em que o intérprete sussurra para o ouvinte-alvo ou receptor a tradução em tempo real da fala do locutor-emissor. Essa modalidade é utilizada até hoje em pequenos espaços, como visitas de negócios, ou em diplomacia, e até em conferências com públicos menores. Mas nada como a interpretação simultânea, a mais utilizada hoje, com a mesma tecnologia simples do dispositivo de envio e recepção de cada um dos participantes de uma conferência internacional, por exemplo.
Bom, e depois de tanta explicação, por que este humilde servidor decidiu acrescentar essa nobre profissão do tradutor/intérprete ao seu rol de atividades como editor, escritor e livreiro? Pois bem, porque certamente nada ajuda a manter a mente ágil e dinâmica como o fato de ouvir numa língua e falar simultaneamente em outra, deixando o falante e os seus ouvintes, em línguas diferentes, igualmente satisfeitos.
OPINIÃO
EDMARIO JOBAT
Pernambuco é um importante Estado brasileiro, por suas riquezas histórica, paisagística, cultural, social e política. Uma terra, uma cultura e um povo ímpares que encantam brasileiros e estrangeiros.
Todavia, a terra do Frevo, do Forró, das belas praias, cuja capital é Recife, a Veneza brasileira, é também um território de violências. Entre 2022 e 2023, enquanto no Brasil, a média de mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes foi de 22,8%, em Pernambuco atingiuse o patamar de 40,2%. São resultados de uma cultura diária de violências. E combatê-la é só uma medida temporária, pois os índices reduzem, aumentam e seguem.
E a transformação que tanto desejamos, ocorre no estado de consciência de cada pessoa, pois suas mãos provocam guerras e promovem a Paz. Neste sentido, visando contribuir nesse processo, o projeto Mãos Promovendo a Paz (MPPaz) de Igarassu (326ª Cidade Internacional da Paz, da ICP-EUA), após atuar por seis anos nesta; ampliou a área de trabalho, o Estado pernambucano com suas 12 regiões de desenvolvimento e 184 cidades, batizando- o de Paznambuco - Estado de Consciência em todas as direções.
Este processo possui um folguedo- símbolo: Ecoburrinha Detinha; canção oficial: Sou Paznambuco; capital: Igarassu das Coroletas; rota rodoviária/marítima: Rota 184-Noronha e a Ação Dias de Paz Pernambuco, de dois anos (2024/2026), que se iniciou em 21/9/2024, no Dia Internacional da Paz. Após uma pesquisa nas 184 páginas das Câmaras municipais, identificou-se que 13 cidades já possuíam seus dias municipais da Paz.
Um dia deste é importante, pois pertence a todos os segmentos sociais que são convidados a desenvolverem atividades de Paz na referida data e refletirem sobre outras ações durante os próximos 364 dias. Diante dos resultados, as outras 171 Câmaras receberam uma carta aberta, via
A transformação que tanto desejamos, ocorre no estado de consciência de cada pessoa, pois suas mãos provocam guerras e promovem a Paz
email, discorrendo sobre os dados das violências, a pesquisa e um convite a refletirem sobre a criação destes nos seus municípios, pois tudo ocorre na cidade. Até o presente, 19 já confirmaram o recebimento e coloqueime à disposição para ajudar.
O MPPaz/ Paznambuco seguirá com suas campanhas: Um milhão de corações de origami e sorrisos pela Paz (parceria com projeto civil Risobank, PR e CeiaPerú, Peru); Homens pela Gentileza: pelo fim da violência contra as mulheres; e Coroletas: campanha de incentivo à leitura e promoção da Paz; além de palestras e oficinas. O projeto MPPaz tem como mote: Construindo Uma Cultura de Paz: Igarassu 500 anos (1535/2035). Nasceu em 21/5/2018 e cessará em 27/9/2035, nos 500 anos de Igarassu. Edmario Jobat, artista, publicitário e poeta pernambucano de Igarassu, é Embaixador da Paz, do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz (CUAP), França; e líder local das ICP - Cidades Internacionais da Paz, EUA. Contatos: Tel/WSAPP: +55 81 992622750 | @paznambuco @mppazbrazil | paznambuco@ gmail.com
POR ISAAC MORALES FERNÁNDEZ
Quilômetros e quilômetros de estradas solitárias, com ruínas de galpões, minas e fábricas abandonadas dos dois lados, uma longa costa pouco percorrida onde só se ouve o vento eternamente assediando desde o Deserto do Atacama e o mar em seu eterno ir e vir do Pacífico; é o que hoje circunda a cidade portuária de Iquique, na região de Tarapacá, cidade que tem uma história de guerras, fome, opressão e desolação.
Esta região hoje pertence ao Chile, localizada ao norte, mas no passado pertenceu ao Peru e por um breve período à Bolívia, durante a guerra entre esses dois países em 1842. Também pertenceu ao Chile desde a Guerra do Pacífico, que ocorreu entre os três países mencionados por volta de 1880, de modo que a transformação do que era uma pequena aldeia pós-colonial numa cidade reconstruída como uma grande urbe não pode ser vista separadamente do que foi um prolongado conflito de interesses económicos. E estes interesses tornam-se mais agudos quando o tentáculo capitalista da Inglaterra coloca as suas ventosas na região com aquele que era o seu único motor de desenvolvimento: a indústria de nitratos. “A Inglaterra tinha tomado o lugar da Espanha”, afirma Eduardo Galeano em As veias abertas da América Latina, e depois raciocina: “Até então, o deserto tinha servido como zona tampão para os conflitos latentes entre o Chile, o Peru e a Bolívia. O salitre começou a luta. A guerra do salitre estourou em 1879 e durou até 1883. As forças armadas chilenas, que em 1879 também haviam ocupado os portos peruanos da região do salitre, Patillos, Iquique, Pisagua, Junín, finalmente entraram vitoriosas em Lima, e ao mesmo tempo no dia seguinte, a fortaleza de Callao rendeu-se. A derrota causou a mutilação e o sangramento do Peru” (Siglo XXI editores, 2000, página 228).
Com o rápido desenvolvimento da mineração de nitratos em torno do porto de Iquique, no final do século XIX, agora definitivamente nas mãos do Chile, é o capital inglês que promove e desenvolve esta cidade mas, é claro, um desenvolvimento puramente capitalista, às custas da pobreza dos pampeanos. A região começa a se encher de imigrantes ingleses, alemães, espanhóis e italianos de classe média com interesses econômicos diversos sempre associados à indústria de nitratos, enquanto o povo nativo, formado por bolivianos, peruanos e chilenos das classes populares, além de alguns outros imigrantes, empobrecidos pela concorrência interna desleal da
Kilómetros y kilómetros de carreteras solitarias, con ruinas de galpones, minas y fábricas abandonadas de lado y lado, una larga costa apenas transitada en donde sólo se oyen el viento asediando eternamente desde el desierto de Atacama y el mar en su eterno ir y venir desde el Pacífico, es lo que rodea hoy a la ciudad portuaria de Iquique, en la región de Tarapacá, una ciudad que guarda una historia de guerras, hambrunas, opresión y desolación.
Esta región pertenece hoy a Chile, ubicada al norte, pero alguna vez en el pasado perteneció a Perú y por breve tiempo a Bolivia, durante la guerra entre estos dos países en 1842. Igualmente pertenece a Chile desde la Guerra del Pacífico, ocurrida entre los tres países mencionados hacia 1880, de manera que la transformación de lo que era una pequeña aldea postcolonial a una ciudad reconstruida como una gran urbe no puede verse desligada de lo que fue un prolongado conflicto de intereses económicos. Y estos intereses se agudizan cuando el tentáculo capitalista de Inglaterra mete sus ventosas en la región con lo que fue su único motor de desarrollo: la industria salitrera. “Inglaterra había ocupado el lugar de España” afirma Eduardo Galeano en Las venas abiertas de América Latina, y luego razona: “Hasta aquella época, el desierto había oficiado de zona de amortiguación para los conflictos latentes entre Chile, Perú y Bolivia. El salitre desencadenó la pelea. La guerra del salitre estalló en 1879 y duró hasta 1883. Las fuerzas armadas chilenas, que ya en 1879 habían ocupado también los puertos peruanos de la región del salitre, Patillos, Iquique, Pisagua, Junín, entraron por fin victoriosos en Lima, y al día siguiente la fortaleza del Callao se rindió. La derrota provocó la mutilación y la sangría de Perú” (Siglo XXI editores, 2000, pág.228).
Con el rápido desarrollo de la minería salitrera alrededor del puerto de Iquique, a finales del siglo XIX, ya definitivamente en manos de Chile, son los capitales ingleses quienes impulsan y desarrollan a esta ciudad, pero por supuesto un desarrollo meramente capitalista, a expensas de la pobreza de los pampinos. La región se empieza a llenar de inmigrantes ingleses, alemanes, españoles e italianos de clase media con diferentes intereses económicos asociados siempre con la industria salitrera, mientras el pueblo nativo, compuesto por bolivianos, peruanos y chilenos de las clases más bajas, así como algunos inmigrantes empobrecidos por la desleal competencia interna
burguesía, começam a tornar-se trabalhadores explorados, oprimidos e marginalizados.
Esta situação perdurou até a primeira década do século XX, quando os trabalhadores do salitre decidiram se organizar e exigir as suas reivindicações. Suas jornadas eram de 16 a 18 horas, eram pagos em fichas válidas apenas para a mesma empresa empregadora, ou seja, não recebiam remuneração real, não tinham direito à educação dos filhos, nem seguro ou qualquer coisa parecida com benefícios sociais. Motivada por isso, a população mineira da vasta região do Pampa Chileno iniciou uma caminhada pacífica, com palavras de ordem, bandeiras e estandartes, sem armas, com suas esposas, filhos e filhas, de todas as áreas vizinhas, principalmente do Escritório de Nitrato de San Lorenzo, no cantão de San Antonio, à sede das minas de salitre de Iquique, na segunda semana de dezembro de 1907. Assim lembra o último sobrevivente daquela manifestação, entrevistado para o documentário Escuela Santa María de Iquique, 1907, direção de Cláudio Sapiaín, filmado pela Universidade do Chile em 1969, durante o governo de Salvador Allende (visível em https://youtu.be/cEjqIAcXpms?t=814):
“Assim chegou o dia certo, o dia do princípio para ir ao dia fatal. Eles partiram, senhores. Ao Escritório Santa Lucia. Vamos pegar as vias do trem. Os Oito, aos quinze, aos vinte quarteirões, o povão, alguns já estavam ficando sem água, a fome estava chegando, o bebê pedia só aguinha, e a filhinha que estava andando ficava caindo no chão e não conseguia mais andar, nós sabíamos que havia muito sol, ainda mais aqui.”
Na marcha, havia muito mais do que cinco mil pessoas das classes mais baixas. Saíram da mina de nitrato de San Lorenzo para Santa Lucía e de lá para San Antonio, para se agruparem e seguirem para Iquique. À entrada da cidade, aguardava-lhes a guarda montada e os granadeiros para impedir a sua passagem para o interior da cidade. O regimento levou os manifestantes ao Clube Hípico da cidade, onde seriam supostamente ouvidos pelas autoridades. De lá, após algumas horas de espera, são conduzidos ao pátio da Escola Domingo Santa María, no centro da cidade, sempre com a promessa de que suas reclamações seriam ouvidas. Os manifestantes decidiram se organizar para unir critérios na
de la burguesía, comienzan a convertirse en obreros explotados, oprimidos y marginados.
Esta situación se mantiene hasta la primera década del siglo XX, cuando los trabajadores salitreros deciden organizarse y exigir reivindicaciones. Sus jornadas eran de 16 a 18 horas, les pagaban en fichas que sólo eran válidas para la misma empresa empleadora, es decir, no recibían remuneración real, no tenían derecho a la educación de sus hijos ni a seguro ni nada que se pareciera a beneficios sociales. Motivado a esto, la población minera de la vasta región de la Pampa chilena inició una caminata pacífica, con consignas, banderas y pancartas, sin armas, con sus esposas, hijos e hijas, desde todas las zonas aledañas, principalmente de la Oficina salitrera de San Lorenzo, en el cantón de San Antonio, hasta la Oficina principal de las minas de salitre en Iquique, la segunda semana de diciembre de 1907. Así rememora el último sobreviviente de esa manifestación, entrevistado para el documental Escuela Santa María de Iquique, 1907, dirección de Cláudio Sapiaín, filmado por la Universidad de Chile en 1969, durante el gobierno de Salvador Allende (visible en https://youtu.be/cEjqIAcXpms?t=814):
“Así llegó el buen día, el día del principio para ir al día fatal. Partieron, señores. A la Oficina Santa Lucía. Vamos agarrando la línea del ferrocarril. Las ocho, las quince, las veinte cuadras, el gentío, algunos ya se les acababa el agua, ya venía el hambre, ya la guagua pedía era agüita, ya la hijita que venía andando se caía al suelo y era incapaz de andar, sabíamos bien que había mucho sol y más aquí.”
En la marcha había mucho más de cinco mil personas de las clases más bajas. Partieron de la salitrera San Lorenzo a la Santa Lucía, y de ahí a San Antonio, para agruparse y dirigirse a Iquique. En la entrada de la ciudad, los esperaba la guardia montada y los granaderos para impedir su paso al interior de la ciudad. El regimiento llevó a los manifestantes hasta el Club Hípico de la ciudad donde supuestamente serían escuchados por las autoridades. De allí, tras algunas horas de espera, son llevados al patio de la Escuela Domingo Santa María, en el centro de la ciudad, siempre con la promesa de que sus reclamos serían
negociação para a solução da greve com as autoridades. Assim explica o historiador Rigoberto Sánchez, no documentário de 2007 Massacre na Escola Santa María para Iquique Televisión (também visível em
https://www.youtube.com/watch?v=QMmGW0zGfxo):
“... E vão montar uma equipe de diretoria, o comitê central da greve, onde estarão os delegados de cada um dos escritórios em greve, e serão estabelecidas comissões de trabalho -para usar a linguagem atual-. Uma dedicada à troca de fichas, para poder comprar itens de consumo aqui no comércio local. Outra dedicada ao cuidado das instalações e evitar a embriaguez dos trabalhadores, e uma equipe que negociará com as autoridades.”
A lista de reivindicações que os trabalhadores -mineiros, ferroviários e portuários- entregaram aos militares, que já tinham toda a cidade sob custódia, contemplava vários pontos, entre eles, os principais eram: pagamentos de diária de 18 centavos, supressão do sistema de fichas, cobrir as bateis a modo de prevenção de acidentes (segurança no emprego), escolas para filhos de trabalhadores e indenização por despejo (demissão justificada e remunerada). Os proprietários das indústrias de nitrato recusaram-se a negociar com os trabalhadores até terminarem a greve, mas estes recusaram-se a regressar aos seus locais de trabalho até que os seus empregadores os atendessem. Carlos Eastman, que ocupava o cargo de Superintendente, compareceu ao local e assumiu a função de mediador do conflito, sem sucesso diante do poder manipulador dos empresários. No entanto, a realidade é que o Ministro do Interior, Rafael Sotomayor, e o próprio Presidente da República, Pedro Montt, deram a ordem expressa, por escrito, para proibir a liberdade de manifestação, independentemente do que acontecesse, mesmo que tivesse de recorrer à força, já que eram cerca de dez mil grevistas, e eles não estavam apenas no pátio da escola, mas também ocupavam a praça central da cidade. Deve-se notar que, na época, o Chile enfrentava uma forte desvalorização da sua moeda. O general Roberto Silva Renard, chefe militar da região, recebeu então uma ordem direta do presidente Montt por telegrama: “Adote todas as medidas para encerramento imediato da greve. Montt.” Desta forma, Silva Renard tentou dar ordem aos manifestantes para se dirigirem aos seus locais de trabalho, mas, como seria de esperar, estes recusaram uma vez que os seus patrões não mostraram o rosto.
O relatório que Silva Renard envia ao Ministro Sotomayor, justificando a sua acção, detalha cinicamente os fatos:
“Como se compreenderá, os oradores nada mais fizeram do que repetir os lugares-comuns da guerra contra o capital e a ordem social existente.” (Arquivo Geral do Chile, também citado pelo historiador Sergio Grez Toso em seu ensaio La guerra preventiva: Escuela Santa María de Iquique. Las razones del poder, no site: http://dialogoandino.cl/wp-content/uploads/2016/07/05-GREZDA-31.pdf Trad.: “A guerra preventiva: Escola Santa Maria de Iquique. As razões do poder”).
Por fim, às 15h30 do dia 21 de dezembro, Silva Renard grita a ordem de atirar contra os delegados que estavam na parte alta da escola e contra a multidão em geral. O relatório oficial do massacre apenas reconheceu 120 mortes, no entanto, diferentes depoimentos de sobreviventes e testemunhas que foram recolhidos ao longo do século XX, atestaram que ali, em pouco menos de um minuto (trinta segundos admitiu o próprio Silva Renard no referido relatório), o exército assassinou entre 2.000 e 3.000 pessoas, incluindo homens, mulheres e menores. Esses sobreviventes fugiram do local, derrotados, feridos, humilhados, ensanguentados, tendo seus familiares assassinados e também
escuchados. Los manifestantes deciden organizarse para unir criterios en la negociación para la solución de la huelga con las autoridades. Así lo explica el historiador Rigoberto Sánchez, en el documental de 2007 Masacre en la Escuela Santa María para Iquique Televisión (visible también en https://www.youtube. com/watch?v=QMmGW0zGfxo):
“... Y va a haber un equipo directivo, el comité central de la huelga, donde van a estar los delegados de cada una de las oficinas en huelga, y se van a constituir comisiones de trabajo -para usar un lenguaje actual-. Una dedicada al cambio de ficha, para poder adquirir artículos de consumo acá en el comercio local. Otra dedicada al cuidado de las dependencias y a evitar la embriaguez de los trabajadores, y un equipo que va a negociar con las autoridades”
El pliego de peticiones que los obreros –mineros, ferroviarios y portuarios- entregaron a los militares, que ya tenían toda la ciudad custodiada, contemplaba varios puntos, entre ellos los principales eran: pagos de la jornada a 18 peniques, supresión del sistema esclavista de pago en fichas, cubrir las bateas en prevención de accidentes (seguridad laboral), escuelas para los hijos de los trabajadores, e indemnización al desahucio (despido justificado y remunerado). Los dueños de las industrias salitreras se negaban a ir a negociar con los trabajadores hasta que no depusieran la huelga, pero estos se negaban a volver a sus puestos de trabajo hasta que no les atendieran sus patro-
obrigados a retornarem ao trabalho, enquanto seus mortos, deixados para trás no centro de Iquique, foram enterrados em uma vala comum na periferia do povoado. Devido ao caráter escandaloso do massacre e à cobertura mediática que recebeu, o Congresso Nacional ordenou a criação de uma Comissão Oficial de Investigação do acontecimento que nunca foi constituída. Em 1914, o General Silva Renard foi mortalmente ferido por um sobrevivente do referido massacre, um dos reconhecidos fundadores do movimento anarquista chileno, Antonio Ramón Ramón, que vingou a morte de seus parentes assassinados por ordem dos militares. A única coisa que se assemelhou à justiça que houve para quem causou tantas mortes.
Hoje, por decisão da presidente Michele Bachelet, todo dia 21 de dezembro, desde o centenário do massacre em 2007, foi declarado Dia de Luto Nacional e foi criado um monumento em homenagem aos mártires de Iquique. No entanto, o rescaldo do massacre ainda está vivo nos pampas chilenos, nos quilómetros e quilómetros de estradas solitárias, com ruínas dos dois lados, na longa costa onde apenas se ouve o vento sitiante do deserto do Atacama e do mar. em seu eterno ir e vir do Pacífico, tudo em uma grande e comovente desolação.
(Artigo original acessível em:
http://masdelodebidoymenosdeloquerido.blogspot. com/2014/11/iquique-o-la-gran-desolacion.html )
nes. Al lugar se apersonó Carlos Eastman, quien ostentaba el cargo de Superintendente, y asume el papel de mediador en el conflicto, sin éxito ante el poder manipulador de los empresarios. Sin embargo, la realidad es que el Ministro del Interior, Rafael Sotomayor, y el propio Presidente de la República Pedro Montt, habían dado la orden expresa, por escrito, de prohibir la libertad de manifestación a como diera lugar así tuviera que usarse la fuerza, ya que la misma rondaba los diez mil huelguistas, y no sólo estaban en el patio de la escuela, sino que ocupaban también la plaza central de la ciudad. Cabe destacar que para el momento, Chile enfrentaba una fuerte devaluación de su moneda. El General Roberto Silva Renard, el jefe militar de la región, recibió entonces una orden directa del Presidente Montt mediante telegrama: “Adopte toda medida para cesación inmediata de huelga. Montt.”. De esta manera, Silva Renard pretendió dar la orden a los manifestantes de marcharse a sus lugares de trabajo, pero, como era de esperarse, estos se negaron ya que sus patrones no les daban la cara.
El informe que Silva Renard envía al Ministro Sotomayor, justificando su acción, detalla cínicamente los hechos:
“Como se comprenderá, los oradores no hacían otra cosa que repetir los lugares comunes de guerra al capital y al orden social existente”. (Archivo General de Chile, citado también por el historiador Sergio Grez Toso en su ensayo La guerra preventiva: Escuela Santa María de Iquique. Las razones del poder, en la página web: http://dialogoandino.cl/wp-content/ uploads/2016/07/05-GREZ-DA-31.pdf .
Finalmente, a las 3:30 de la tarde del 21 de diciembre, Silva Renard grita la orden de fuego contra los delegados que estaban en la parte alta de la escuela y contra la multitud en general. El parte oficial de la matanza sólo reconoció 120 muertos, sin embargo, diferentes testimonios de sobrevivientes y testigos que se recogieron a lo largo del siglo XX, dieron fe de que allí, en poco menos de un minuto (treinta segundos exactamente admitió el mismo Silva Renard en el citado informe), el ejército asesinó entre 2000 y 3000 personas, entre hombres, mujeres y menores de edad. Dichos sobrevivientes huyeron del sitio, derrotados, heridos, humillados, ensangrentados, con sus familiares asesinados y además, obligados a volver a sus puestos de trabajo, mientras sus muertos dejados atrás en el centro de Iquique, fueron enterrados en una fosa común a las afueras del pueblo. Por lo escandaloso de la masacre, y la cobertura mediática que tuvo, el Congreso Nacional ordenó crear una Comisión Oficial de Investigación del suceso… la cual nunca fue conformada. En 1914, en general Silva Renard fue mortalmente herido por un sobreviviente de dicha masacre, uno de los reconocidos fundadores del movimiento anarquista chileno Antonio Ramón Ramón, quien vengó la muerte de sus familiares asesinados por orden del militar… Lo único parecido a la justicia que hubo para quien causó tantas muertes.
Hoy, por decisión de la Presidenta Michele Bachelet, cada 21 de diciembre, desde el centenario de la masacre en 2007, ha sido declarado Día de Duelo Nacional y se creó un monumento en homenaje a los y las mártires de Iquique. Sin embargo, las secuelas de la masacre están aún vivas en la pampa chilena, en los kilómetros y kilómetros de carreteras solitarias, con ruinas de lado y lado, en la larga costa donde sólo se oyen el viento asediando desde el desierto de Atacama y el mar en su eterno ir y venir desde el Pacífico, todo en una conmovedora gran desolación.
(Artículo original accesible en:
http://masdelodebidoymenosdeloquerido.blogspot. com/2014/11/iquique-o-la-gran-desolacion.html )
POR STIVEN RODRÍGUEZ VOLCÁN - CORTESÍA TRADUÇÃO ISAAC J. MORALES FERNÁNDEZ
Apaisagem rural e a cidade é a dualidade que vive no mundo de Julio Valderrey, poeta que percorre estes espaços. Ele se fez a si mesmo com as suas palavras, de grande carga existencial, da memória, do amor e da libertação.
Seu título mais reciente é Papeles de ocio, poesía reunida (1982 - 2022), publicado pela editora El perro y la rana, reunindo os poemários Greda (1982), Los días perdidos (2004), Ruidos del iniciado (2009), dentre outros.
Encontramo-nos neste Semanário de Culturas com Valderrey, para explorar na sua imaginação e concepção de vida. Nasceu em Las Labranzas, estado de Mérida (1954), num “paraíso de montanhas, rios, pedras, árvores, flores, nuvens. É a primeira impressão que tenho da natureza, são as minhas primeiras lembranças antes de descer do páramo onde nasci. Estou muito ligado à terra, e na minha poesia há muito reflexo dos elementos da natureza, são coisas que carrego no inconsciente.” Ele nos conta que é filho de camponeses, que na primeira infância cresceu junto ao campo, mas que posteriormente desenvolveu sua vida na cidade de Caracas.
S.R.: Quanta presença tem a cidade de Caracas na sua poesia?
J.V.: Caracas é uma referência urbana, talvez uma megalópole, algo que alimenta a minha irreverência por ter sido contraste. Venho de um páramo onde ainda nem havia luz elétrica quando desci de lá. Foi um choque de sensibilidades, a cidade é outra coisa, mudou minha visão de mundo e da realidade, no começo me bateu mas comecei a gostar do mundo que uma cidade continha, batente e amoroso. Talvez esse imaginário do homem e do seu ambiente real e psicológico se reflita nas minhas obras.
S.R.: Las Labranzas, Mérida, sua terra natal, ainda está na poesia que você escreve?
J.V.: Na minha poesia estão todas as imagens acumuladas na minha memória, nos primeiros anos que morei no páramo de Las Labranzas. Acredito que, a partir dessas imagens, se desenvolveu a minha sensibilidade, a minha visão de mundo. Tudo isso fica guardado no inconsciente, onde está a poesia.
S.R.: Quem foram seus maestros poetas?
J.V.: Meus professores são todos os poetas que leio, principalmente os da minha língua, em espanhol, volto a eles periodicamente e os releio, Quevedo, Góngora, Garcilazo, mas me alimento mais da poesia contemporânea escrita em minha língua, como Vallejo, Neruda, Borges, Lezama Lima, Nicanor Parra, Rafael José Muñoz e toda aquela poesia escrita nas montanhas, décadas dos anos 30 e 40: Rosamel del Valle, Roberto Juarroz, Vicente Huidobro, Humberto Díaz Casanueva, entre outros. Mas também havia uma realidade que me ensinava: o compromisso.
Aqui na Venezuela lemos com atenção Vicente Gerbasi, Juan Sánchez Peláez, Rafael José Muñoz, Eugenio Montejo, toda aquela bela geração dos anos 50 e 60, comprometida e com altura estética vanguardista, onde também estão “El Chino” Víctor Valera Mora, José “Pepe” Barroeta, Blas Perozo Naveda e muitos outros; mas eu tinha uma boa amizade com Montejo, ele era o professor quando eu estudei nas Oficinas Literárias do Centro de Estudos Latino-Americanos Rómulo Gallegos (CELARG), onde tive outro amigo cúmplice, Ramón Querales.
Ele comenta que também foi influenciado pelos “movimentos estéticos, pela irreverência dos românticos, pela irreverência dos surrealistas, pela geração Beat norte-americana e por toda aquela grande quantidade de poetas comprometidos com o ser humano e sua realidade latino-americana, toda aquela cultura underground que cercou grande parte do mundo e o transformou.
S.R.: Atualmente, o que lhe inspira a escrever?
J.V.: Inspiro-me na mesma coisa de sempre, a necessidade de dizer alguma coisa, talvez de acusar. Tento continuar escrevendo, basicamente poesia, e me inspiro no amor, na vida, na justiça social, na verdadeira libertação dos seres humanos e não humanos, no hedonismo, no prazer, enfim, escrevo porque foi o entretenimento que escolhi para ficar bem. Parece irônico, mas optei por ver o mundo através da poesia.
S.R.: Você tem algum ritual para escrever?
J.V.: Talvez exista sim um ritual para assumir a criação. Sempre gostei do contato com os elementos da Terra, e sempre procuro fazer meus primeiros esboços
literários com um lápis de grafite, porque contém um mineral da terra. Já depois vem o trabalho de elaboração, o trabalho de linguagem, e entro na tecnologia, mas eis meu pequeno ritual.
S.R.: Como você explica sua criação poética?
J.V.: Não acho forma de explicar, talvez ela se explique com o tempo, talvez o seus conteúdos sejam múltiplos. Acredito que a obra de arte não se explica, mas se compreende, faz parte o meu imaginário, é tudo aquilo que fica na memória, frases e símbolos que vão ficando relacionados com um tempo que é todos os tempos.
S.R.: Papéis de ócio dá nome a este livro que reúne suas obras. Esse poemário de 1986 tem destaque em toda a sua poesia?
J.V.: Não necessariamente, existem outros títulos de minha criação que gosto, mas escolhi Papéis de ócio, pela capacidade de ironia que contém: nas sociedades capitalistas o ócio não é produtivo, mas a poesia é nada mais do que ócio, como os gregos o compreendiam, ócio criativo. Aqueles que se aventuram a escrever poesia nestes tempos estão ociosos, e isso é outro alimento.
S.R.: Um dos seus poemas diz: “Somos passageiros/ leves. / Somos feitos / de palavras”. Você poderia resumir para nós com quais palavras você se identifica mais?
J.V.: As palavras com que mais me identifico são aquelas que aprendi na infância: pedra, árvore, rio, flor, amor; são palavras que sempre me acompanharam, que perduram e as repito nos meus poemas como um lugar-comum, embora sejamos feitos de palavras.
S.R.: O que você mais aprecia na vida?
J.V.: Ter descoberto a poesia como forma de vida, ter visto a realidade dessa perspectiva, saber que o ser humano não é só feito de carne e osso, mas que existe algo que nos transcende e que é a poesia.
Publicado na edição 1081 do Semanário Cultural Todosadentro, páginas 8 e 9. Data: 17 de fevereiro de 2024. Tradução de Isaac J. Morales Fernández.
POR RALF CORREIA-RICKLI TRADUÇÃO E EDIÇÃO: / TRADUCCIÓN Y EDICIÓN: ISAAC J. MORALES FERNÁNDEZ
ELEGIA 2, SOBRE A CIDADE: “Das lamentações futuras de algum Jeremias presente”
chora, ó filha do brooklyn, da paulista, da vieira souto chora que não mais tens quem te console: caiu a grande casa que sustentava teus días de incontáveis prazeres miúdos, caiu a morada do xampu, de pão pluma e da margarina. caiu e não mais verás suas portas se abrindo. jamais de novo verás o pó que lava mais branco ou a pasta que te asegura o sorriso. acabou-se o papel higiénico nem mais se acha em saquinhos o chá. e tomates – tomates, ó filha –se os quiséres terás de plantá-los (se ainda há terra onde brote algum verde).
caiu, caiu, caiu a grande casa da abundancia com suas luzes coloridas e suas maquininhas tilintadoras. não mais passearás os carrinhos entre as filas coloridas ao som dos elétrons cantando por bocas ocultas. perdeste a chance, minha filha, de roubares teus grampos de roupa quando a lente que a todos vigia se distrai por um momento; perdeste a chance de apreciar tantos livros eróticos tantos desodorantes tantas carícias prontas e alegrias enlatadas; perdeste a chance de teres na boca a fórmula da felicidade e de levares pra casa a liberdade vestindo tuas pernas!; perdeste a chance, minha filha pois o supermercado caiu pra não se levantar mais pra não se levantar mais.
chora, ó filha, chora pois onde é que irás agora pra comprar a vida?
2 SOBRE LA CIUDAD: “De las lamentaciones futuras de algún Jeremías presente”
llora, oh hija del brooklyn de la paulista, de la viera souto llora que ya no tienes más quien te consuele: cayó la casa grande que sustentaba tus días de incontables placeres pueriles cayó el hogar del champú del pan de molde y margarina. cayó y ya no verás más sus puertas abriéndose. jamás volverás a ver el polvo que lava más blanco o la crema que te asegura la sonrisa. se acabó el papel higiénico ni se consiguen bolsitas de té. y tomates -¡tomates, oh, hija!si los quieres, tendrás que plantarlos (si aún hay tierra donde brote algo verde).
cayó, cayó cayó la casa grande de la abundancia con sus luces coloridas y sus maquinillas tintineantes no pasearás más los carritos entre las filas de colores al son de los electrones cantando por bocas ocultas. perdiste el chance, hija mía, de robarte los ganchos de ropa cuando la lente que a todos vigila se distrae por un momento; perdiste el chance de apreciar tantos libros eróticos tantos desodorantes tantas caricias listas y alegrías enlatadas; perdiste el chance de tener en la boca la fórmula de la felicidad y de llevarte para la casa la libertad ¡vistiendo tus piernas! perdiste el chance, hija mía, pues el supermercado cayó para no levantarse más para no levantarse más
llora, hija mía, llora pues ¿a dónde es que irás ahora para comprar la vida?
Del libro Pa’fuera. Poemas incompletos (1981), del poeta brasilero Ralf CorreiaRickli.
Poema ganador del 1er lugar en el Concurso Aniversario de la revista Escrita de São Paulo. Nov.1981 (cc) 2025, NingunA Editørial Brasil & Venezuela
“Ya sé que es el de arriba. Pero las hierbas enanas no lo ven y creen que soy yo quien las calienta y les da la lamedura de la tarde”.
Yo –ya veis que mi tallo es duro– no les he contestado ni con una inclinación de cabeza.
Nada de engaño mio, pero las dejo engañarse porque nunca alcanzarán a aquel que, por otra parte, las quemaría, y a mí en cambio hasta me tocan los pies.
Es bastante esclavitud hacer el sol. Este volverse al Oriente y al ocaso y estar terriblemente atento a la posición de aquel, cansa mi nuca, que no es ágil.
Ellas, las hierbas, siguen cantando allá abajo: “El sol tiene cuatrocientos hojas de oro, un gran disco oscuro al centro y un tallo soberano”.
Las oigo, pero no les doy señal de afirmación con mi cabeza. Me callo; pero sé, para mí, que es el de arriba.
“Eu sei que é o de acima. Mas as ervas anãs não enxergam ele e acham que sou eu quem as aquece e dá a lambidela da tarde”.
Eu -já vedes que meu talo é duro- ainda não respondi nada para elas nem com uma inclinação da cabeça.
Nada de engano meu, só que deixo elas se enganarem porque nunca atingirão aquele que, se for o caso, as queimaria. Em mim, ao invês disso, elas até conseguem me tocar nos pés.
É muita escravidão fazer o sol: aquilo de virar ao Leste e ao ocaso e ficar terrivelmente atento à posição daquele, cansa a minha nuca, que não é agil.
Elas, as ervas, seguem cantando lá embaixo: “o sol tem quatrocentas folhas de ouro, um grande disco escuro no centro e um talo soberano”.
Eu as ouço, mas não dou sinal de afirmação com a cabeça. Calo, mas sei, para mim, que é o de acima.
No han logrado ocasionarme el daño de ser un colonizado mental. He logrado despegarme de ese baldío al que nos han querido meter, todos juntos, oliendo bosta, el sudor en las minas, el silencio en la mesa con alimentos de una escasez dolorosa. Hemos sentido crujir las tripas sin poder decidir nuestras voluntades, que se van disciplinando con el látigo opresor y bajándonos la autoestima, porque somos marrones, bajitos, de pelo duro y lacio y, sobre todo, han logrado que perdiéramos esos itinerarios genéticos mezclándonos un poco con el hombre blanco y haciéndonos creer que somos uno de ellos, algo en lo cual ellos no creían.
Pero yo me salvé por mis cabellos ondulados y finos, aunque de un castaño bien oscuro. Mi tez, en las mezclas, prevaleció clara. Salí alto como mi bisabuelo inmigrante de la Baja Navarra del País Vasco francés, rubio, casado con una santiagueña de la cual conservo una foto, con rasgos de india o, mejor dicho, descendiente de los pueblos originarios. De esa mezcla nació mi abuela tucumana con rasgos más parecidos a los de su padre; su tez era bastante blanca, ojos grandes y cabello castaño claro y lacio con algunas ondas, como su padre.
Mi abuela terminó casándose con un rubio de ojos verdes que le recordaría un poco a su padre, descendiente de belgas; a mi padre ya no se le notaba ese lejano origen con esa tierra: había nacido en esta Argentina que en su tiempo era convulsionada pero todavía próspera. Y se casó con una descendiente de gallegos, de cabellos oscuros con reflejos rojizos. Bellísima, de nariz un tanto grande, un cuerpo privilegiado que, sin nunca haber hecho deporte, era fibrosa y de líneas perfectas con una cintura envidiable, con senos pequeños, lo que en aquellos tiempos era la estética femenina, quedando atrás el estereotipo de Gina Lollobrigida o Sophia Loren. Y nací yo, al poco tiempo mi hermana, siempre bellísima, de cabellos castaño claro, delgada y alta. Fue mi gran compañera de juegos ya que nos llevábamos poco tiempo de edad.
Exilio, el Rock, el Folclore y el Tango, y el Exilio
Y, tal vez por estas raíces más europeas, Latinoamérica no llegó a pegársenos en la piel. Mis padres no escuchaban folclore, salvo un disco de José Larralde; el resto era bastante variopinto, pero en general, más artistas europeos o norteamericanos. Tampoco el tango, salvo Piazzolla, muy influenciado por la música de cámara, un poco de jazz y, sí, de tango también. Había también muchos libros en la biblioteca, pero tuvieron que deshacerse de ellos por causa de la dictadura del 76. Después había una buena cantidad de libros de arte, pero se repetía la misma identidad europea o estadounidense. Latinoamérica parecía otro mundo a pesar de que estábamos allí dentro. Después de Malvinas y de la debacle del país tras los sucesivos gobiernos, la deuda externa que nos condicionaba totalmente el desarrollo como país, los descendientes de europeos que se iban a la tierra de donde vinieron sus padres o abuelos y la gran inmigración latinoamericana, porque muchos inmigrantes de países hermanos todavía estaban mejor aquí, en Argentina, que en sus tierras; todo esto nos fue acercando a esta Latinoamérica tan rica, saqueada y sufrida.
En algún momento me empecé a identificar con estos parajes, con su historia, su arte, hasta su rock particular como el argentino, algo melancólico, ese tango que no te deja y que circula en tus venas y tus veredas recorridas, ensangrentadas, pero no vencidas.
Y ocurrió que terminada la dictadura los artistas -y no solo artistas- empezaron a volver, algunos a intentarlo de nuevo en su país y otros a visitarnos porque ya habían construido toda una vida en el exilio. Y ahí se produjo ese encuentro generacional entre los que lucharon por un mundo más justo, fuese bajo la conducción de Perón, o la de la tradición marxista, o también sectores de la teología de la liberación. El arte nunca estuvo atrás sino en la vanguardia de ese territorio a conquistar, a desalambrar. La vuelta a la democracia había traído una sensación de victoria del pueblo, a pesar de los desaparecidos y la derrota de Malvinas.
Pero volvieron ellos y puedo hablar de los argentinos que hicieron que este país tuviese, sí, identidad latinoamericana, recuperándose en las nuevas generaciones que no la vivimos. Y vino Mercedes Sosa cantando “todas las voces todas”, y volvieron actores como Héctor Alterio en tiempos de tregua ya que años después el neoliberalismo volvió a acercarnos.
La visita de Julio Cortázar poco antes de morir en París. Y apareció la trova cubana con Silvio Rodríguez y Pablo Milanés; descubrimos a Chico Buarque y a Caetano Veloso. Tomamos vino con Horacio Guaraní, la recibimos a Marilina Ross y así tantos.
Y entendimos todos mejor la letra de Los Dinosaurios de Charly García y le pedimos a Dios otra vez con León Gieco. Y podría no terminar de enumerar esos grandes que hicieron el enlace otra vez entre generaciones. Y ya no estábamos tan huérfanos y ya no nos creíamos la Europa de Latinoamérica.
No nos quedaron dudas cuando los italianos en el Mundial de Italia nos silbaron el himno y Maradona los puteó de arriba abajo. Los eliminamos en su territorio de aquel combate. Pero los latinoamericanos seguimos peleando por nuestra identidad, por no ser colonia. Se nos quieren meter de nuevo con los cipayos que les rinden pleitesía, y si pueden, nos venden por chirolas.
Pero acá estamos, abrazándonos para construir esa Patria Grande que desearon nuestros revolucionarios ancestrales porque como cantamos tantas veces, ese tema de León: Todo está guardado en la memoria/ Sueño de la vida y de la historia.
Paulo Baudouin es un músico, bailarín y poeta que nace en junio de 1964 en São Paulo, Brasil. Personaje que transito componiendo, tocando, cantando, bailando, coreografiando y escribiendo.
Más allá de cursos en los que se formó, Paulo es intuitivo en todas las artes que emprendió.
LITERATURA
em português, e especialmente as letras brasileiras, são quase um mistério para quem fala o espanhol no restante da América, uma população que já passa dos 570 milhões de hispano-americanos, incluindo os moradores do sul dos EUA. Vamos ver se começamos a construir pontes.
Inclina o teu ouvido, Senhor, e ouve-me; porque sou indefeso e pobre.
(Salmos LXXXV, I)
“Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior. Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumouse às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.
Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude. Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.
O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disselhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.
Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.
O homem, entretanto, não gostou da minha prática de oferecer aos espectadores almoços gratuitos, que eu extraía misteriosamente de dentro do paletó. Considerando não ser dos melhores negócios aumentar o número de fregueses sem o consequente acréscimo nos lucros, apresentou-me ao empresário do Circo-Parque Andaluz que, posto a par das minhas habilidades, propôs contratar-me. Antes, porém, aconselhou-o que se prevenisse contra os meus truques, pois ninguém estranharia se me ocorresse a ideia de distribuir ingressos graciosos para os espetáculos.” (M.R.)
Murilo Rubião, escritor e funcionário público mineiro, conta nesta famosa história como a buro -
cracia anulou a capacidade do homem de transformar tudo em magia.
O personagem é um mágico desencantado, com poderes extraordinários, mas incontroláveis. Ao protagonista desta história, sem que ele queira ou consiga lidar com isso de forma alguma, acontecem-lhe coisas estranhas e absurdas que aparecem ao seu redor sem que ele consiga entendê-las.
Mas, homem eternamente entediado, seus prodígios só servem para entediá-lo ainda mais. Nada realmente o anima ou diverte.
O conto mais famoso de Murilo Rubião, O ExMágico da Taberna Minhota, coloca o leitor em contato com o mundo fantástico cheio de preocupações do autor, um dos pioneiros do gênero no Brasil. A obra, lançada em 1949, conta com ilustrações de Ana Raquel e um útil glossário de termos utilizados no texto.
Após a publicação de seu primeiro livro, O ExMágico, em 1947, Murilo Rubião (1916-1991) alcançou uma posição até então inédita no campo literário brasileiro, não apenas por sua originalidade temática, como o iniciador da forma chamada en all fantástica América Latina em que estrutura suas obras, mas também pelo caráter de sua escrita única, tanto pelos aspectos temáticos, pelas epígrafes bíblicas quanto pelo que ficou conhecido como gesto de reescrita. Reescrever textos resulta de um desejo de perfeccionismo, é claro. Porém, essa compulsão leva o escritor a uma condição de sofrimento, pois, como ele mesmo diz, é angustiante escrever, reler, cortar, aparar, reescrever, corrigir, etc.
Seu projeto literário também demonstra suas concepções ideológicas e apresenta um autor sensível à situação moderna estabelecida naqueles anos e à difícil relação entre o indivíduo e o meio ambiente, expressa nas inadequações devido às restrições impostas pela sociedade em um país ainda nos primórdios do seu desenvolvimento.
Ancorado nesta premissa dialética, Rubião examina e explora as características da chamada “Modernidade Líquida”, conceito de Zygmunt Bauman, no seu conto “O ex-mágico da taberna Minhota”
As relações sociais e as angústias do mago derivam de sua existência em um ambiente líquido moderno baseado na efemeridade, nas inconsistências, na racio-
nalidade e na organização rígida e fechada, em que quase não há espaço para a imaginação criativa. Um mundo em que se perde tempo buscando cada vez mais satisfação com maior rapidez, dadas as condições de validade dos produtos oferecidos, e não necessariamente dos produtos alimentícios.
O escritor faz parte da terceira geração modernista, o chamado pós-modernismo. Apontado pela crítica como precursor do realismo fantástico no Brasil, suas histórias apresentam situações e personagens inseridos em um contexto mágico, maravilhoso ou extraordinário. Assim, sua primeira obra foi recebida com enorme surpresa por leitores e críticos, mas o autor já a conhecia – ou a imaginava – e, por isso, declarou que “a glória, a consagração imediata, nunca conduziu a uma consciência clássica da obra literária”.
A nova realidade gerada pela pós-modernidade causou desgaste social e um desejo insaciável, em que a máxima é o consumo, e a mercadoria passa a administrar os desejos e ações dos indivíduos. Além disso, o condicionamento dos sujeitos passa pela dominação ideológica, portanto esse processo ocorre de forma naturalizada e alienante, o que, além das consequências na vida, gera problemas nas relações privadas e humanas em geral.
Principal representante do realismo mágico ou fantástico no Brasil, o contador de histórias falecido em 16 de setembro de 1991, publicou livros caracterizados por narrativas que mostram realidades absurdas, marcadas pela falta de sentido, além de apresentar o monólogo interior de personagens imersos em seus conflitos existenciais.
Contrariando as previsões pessimistas do primeiro patrão, o meu comportamento foi exemplar. As minhas apresentações em público não só empolgaram multidões, como deram fabulosos lucros aos donos da companhia. A plateia, em geral, me recebia com frieza, talvez por não me exibir de casaca e cartola. Mas quando, sem querer, começava a extrair do chapéu coelhos, cobras, lagartos, os assistentes vibravam. Sobretudo no último número em que eu fazia surgir, por entre os dedos, um jacaré. Em seguida, comprimindo o animal pelas extremidades, transformava-o numa sanfona. E encerrava o espetáculo tocando o Hino Nacional da Cochinchina. Os aplausos estrugiam de todos os lados, sob o meu olhar distante.