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Plano Safra: volume 36% maior para 2022/23

Por Felippe Serigati e Roberta Possamai

INFLAÇÃO DE ALIMENTOS

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COMBINAÇÃO DE FATORES DESCONFORTÁVEIS

FELIPPE SERIGATI

Doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/ FGV), professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro).

ROBERTA POSSAMAI

Mestre em Economia Agrícola pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). Claramente, a inflação de alimentos é um fenômeno que está atingindo fortemente os brasileiros, sobretudo, nos últimos meses. Nesse sentido, de acordo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço médio da alimentação realizada no domicílio acumulou uma alta de 16,4% em doze meses, até maio/2022.

Apesar de isso ser uma notícia desconfortável para o país, é importante deixar claro que esse cenário de alta de preços não é exclusividade do Brasil; pelo contrário, é um fenômeno global: o Real Food Price Index da FAO, que busca mensurar os preços internacionais de uma cesta de commodities alimentícias no mundo, atingiu, em março/2022, seu maior valor desde o início da série histórica, em janeiro/1990. Apesar das leves quedas registradas nos meses de abril e maio, o índice ainda está 22.8% acima no nível registrado em maio de 2021.

A disparada da inflação, no Brasil e no mundo, foi uma consequência natural do desequilíbrio entre oferta e demanda de bens, que teve início com a pandemia de Covid-19 e piorou com as condições climáticas adversas e, mais recentemente, com o início do conflito bélico no Leste Europeu. Todo esse cenário gerou uma tempestade perfeita que tem elevado sobremaneira o temor de uma crise global de fome nos próximos meses e anos.

MESMO ANTES DA GUERRA ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA, O CENÁRIO JÁ ERA DESAFIADOR

A pandemia de Covid-19, que vem assolando o mundo desde 2020, gerou desequilíbrios implicando em uma forte pressão sobre os preços: • As medidas para tentar reduzir a disseminação do vírus, dentre outros efeitos, alterou as rotas marítimas, criou novos e mais demorados protocolos nos embarques e desembarques nos portos e gerou, consequentemente, maiores custos de fretes, afetando toda a cadeia de produção. Além disso, muitas empresas e indústrias fecharam suas portas, mesmo que temporariamente. Isso acarretou em alguns problemas nas cadeias globais de suprimentos, impactando negativamente a oferta de bens; • Somado a isso, os governos de diversos países adotaram políticas fiscal e monetária bastante expansionistas, de modo que, quando as economias puderam voltar a funcionar com um mínimo de normalidade (a partir do 2º semestre/2020), o consumo interno se aqueceu de forma rápida e intensa.

DO LADO DA OFERTA, AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ADVERSAS PIORARAM AINDA MAIS A SITUAÇÃO

Para piorar o cenário deixado pela pandemia, o ano de 2021 e os primeiros meses de 2022 foram marcados por alguns eventos climáticos adversos, que reduziram a oferta agrícola em alguns importantes produtores de commodities.

Para exemplificar, pode-se citar o caso do Brasil, que foi prejudicado, notadamente, por fortes geadas em meados de 2021. Por sua vez, a Chi-

A INFLAÇÃO DE ALIMENTOS NO MUNDO

(The FAO Food Price Index – média 2014-2016 = 100)

160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50

jan-90 mai-91 set-92 jan-94 mai-95 set-96 jan-98 mai-99 set-00 jan-02 mai-03 set-04 jan-06 mai-07 set-08 jan-10 mai-11 set-12 jan-14 mai-15 set-16 jan-18

Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). mai-19 set-20 jan-22

FOTO: ADOBE STOCK

na, que é o principal produtor mundial de trigo sofreu, no mesmo ano, com as chuvas e inundações, resultando em uma safra reduzida. E agora, mais recentemente, um extremo calor na Índia (segundo maior produtor de trigo do planeta) dizimou parte relevante de sua produção.

O CONFLITO BÉLICO NO LESTE EUROPEU GEROU AINDA MAIS DESEQUILÍBRIOS

Em um momento de redução de oferta e alta dos preços derivados, sobretudo, da pandemia de Covid-19 e das condições climáticas adversas, iniciou-se o conflito bélico entre Rússia e Ucrânia.

Esses países são relevantes ofertantes de itens importantes da cadeia global de suprimentos. Conjuntamente, de acordo com a USDA (safra 2020/2021), respondem por 15,2% das exportações mundiais de milho, a 27,5% das de trigo e 28,8% das de cevada. Além disso, a Rússia é um importante produtor de potássio e fosfato, que são ingredientes essenciais para a produção de fertilizantes.

Nesse sentido, a guerra praticamente zerou as exportações da Ucrânia, uma vez que os embarques do país pelos portos do Mar Negro estão paralisados desde o início da invasão russa, no final de fevereiro/2022. A DISPARADA DA INFLAÇÃO, NO BRASIL E NO MUNDO, FOI UMA CONSEQUÊNCIA NATURAL DO DESEQUILÍBRIO

ENTRE OFERTA E

DEMANDA DE BENS, QUE TEVE INÍCIO COM A PANDEMIA DE COVID-19 E PIOROU COM AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ADVERSAS E, MAIS RECENTEMENTE, COM O INÍCIO DO CONFLITO BÉLICO NO LESTE EUROPEU.

Além disso, as sanções econômicas impostas à Rússia vêm dificultando o acesso aos produtos dessa nação, notadamente, de fertilizantes. Logo, a guerra piorou consideravelmente a organização da cadeia global de suprimentos, que já estava bem desorganizada, reduzindo ainda mais a oferta de produtos alimentícios.

RESULTADO DA TEMPESTADE PERFEITA: MAIOR INSEGURANÇA ALIMENTAR MUNDIAL

A consequência natural de todos esses fatos ocorridos desde 2020 levaram, como já foi observado anteriormente, a uma escalada de preços, sobretudo, de produtos alimentícios a patamares globais inéditos. O aumento das cotações reflete uma oferta de bens reduzida, cuja consequência, possivelmente, será o aumento do número de pessoas em situação de fome no mundo e que pode se complicar nos próximos meses e anos.

A situação já é grave, mas vale ressaltar que ela pode piorar ainda mais, caso o conflito no Leste Europeu continue. Dentre os principais motivos: • Parte da safra passada da Ucrânia já havia sido embarcada antes da guerra, aliviando um pouco o cenário. No entanto, para a safra atual, aqueles silos do país que não foram destruídos pela guerra estão cheios de milho e cevada e, logo, os agricultores não têm onde armazenar a próxima colheita, podendo apodrecer. Além disso, o país deverá ter dificuldades na agricultura, uma vez que não contam com mão de obra, insumos e combustíveis para o desempenho da atividade; • Até o momento, a Rússia está conseguindo exportar sua produção, apesar dos custos e riscos, porém, em um futuro próximo, o país pode sofrer com a falta de sementes e pesticidas que costuma comprar da União Europeia, mas que vem impondo sanções ao país russo.

Vale ressaltar que, na tentativa de amenizar o problema da fome no mundo, o Banco Mundial anunciou em meados de maio/2022, um programa de apoio à agricultura, com um fundo de US$ 30 bilhões, para os próximos quinze meses. Além disso, é preciso deixar claro que uma efetiva forma de tornar a situação menos complicada, enquanto os desequilíbrios ainda estão presentes, é manter o livre comércio, diferentemente do que algumas nações vêm fazendo. Ou seja, com o objetivo de garantir a segurança alimentar e inflação interna, alguns países estão suspendendo as suas exportações, o que é, claramente, um erro grave, uma vez que a solução para o aumento da fome no mundo deve vir de uma ação global, e não local.

PLANO SAFRA

VOLUME 36% MAIOR PARA 2022/23

O anúncio foi de R$ 340,8 bilhões em financiamentos para a agropecuária brasileira, sendo R$ 246,28 bilhões para custeio e comercialização. Financiamentos relacionados a sistemas de conectividade no campo também são uma das prioridades do novo plano, por meio do Inovagro*

Ogoverno federal lançou, na última semana de junho, o Plano Safra 2022/2023. Serão disponibilizados um total de R$ 340,88 bilhões em financiamentos para apoiar a produção agropecuária nacional até junho do próximo ano. O valor, segundo o Ministério da Agricultura, representa aumento de 36% em relação ao Plano Safra anterior, que disponibilizou R$ 251 bilhões a produtores rurais.

Do total de recursos, R$ 246,28 bilhões serão destinados ao custeio e comercialização, uma alta de 39% em relação ao ano anterior. Outros R$ 94,6 bilhões serão para investimentos, um incremento de 29%. "Estamos lançando um plano safra capaz de atender aos diversos segmentos do agro, um plano safra com valor muito expressivo, R$ 341 bilhões diante de R$ 252 na safra passada, e com taxas de juros compatíveis e inferiores às taxas de mercado, inferiores até à taxa Selic", destacou o ministro da Agricultura, Marcos Montes.

A expectativa em relação aos montantes era grande, especialmente devido à situação econômica brasileira e mundial. “Sabemos das dificuldades todas do país, acabamos tendo um aumento de 36% sobre o anterior e tivemos foco. É um plano com foco, como na sustentabilidade e na competitividade. Penso que foi um plano possível”, destacou o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Caio Carvalho, em entrevistas à imprensa.

PEQUENOS E MÉDIOS PRODUTORES

Os recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) - voltado aos pequenos produtores -, subiram 36%, totalizando R$ 53,61 bilhões, com juros de 5% ao ano (para pro-

DESTAQUES DO PLANO SAFRA

INOVAÇÃO

Por meio de programas como o Inovagro, o Plano Safra disponibiliza recursos para o incentivo à inovação tecnológica e para investimentos necessários para a adoção de boas práticas agropecuárias e de gestão da propriedade. Na próxima safra, o Inovagro terá R$ 3,51 bilhões em recursos, com juros de 10,5% ao ano. Entre os financiamentos previstos estão os relacionados a sistemas de conectividade no campo, softwares e licenças para gestão, monitoramento ou automação das atividades produtivas, além de sistemas para geração e distribuição de energia produzida a partir de fontes renováveis.

SUSTENTABILIDADE

Serão R$ 6,19 bilhões para o Programa ABC, que financia a recuperação de áreas e de pastagens degradadas, a implantação de sistemas de integração lavourapecuária-florestas e a adoção de práticas conservacionistas de uso, manejo e proteção dos recursos naturais. Também foi criado o ABC+ Bioeconomia, que prevê investimentos em sistemas de exploração extrativista não madeireira, de produtos da sociobiodiversidade e ecologicamente sustentáveis. Outra novidade é o financiamento de remineralizadores de solo (pó de rocha), que tem o potencial de reduzir a dependência dos fertilizantes importados. E ainda R$ 1,95 bilhão para o programa Proirriga, que contempla o financiamento de todos os itens inerentes aos sistemas de irrigação.

Entre os financiamentos previstos estão os relacionados a sistemas de conectividade no campo

dução de alimentos e produtos da sociobiodiversidade) e 6% ao ano (para os demais produtos).

Para o médio produtor, no âmbito do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), foram disponibilizados R$ 43,75 bilhões, um aumento de 28% em relação à safra passada, com juros de 8% ao ano.

Os recursos disponibilizados no âmbito do Pronaf e do Pronamp são integralmente com taxas de juros controladas.

Para os demais produtores e cooperativas, o total disponibilizado é de R$ 243,4 bilhões, com taxas de juros de 12% ao ano. Os produtores rurais também podem optar pela contratação de financiamento de investimento a taxas de juros pós-fixadas.

*Com informações da Agência Brasil e do Ministério da Agricultura

ARMAZÉNS

O Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), que financia investimentos necessários para a ampliação e construção de novos armazéns, terá R$ 5,13 bilhões disponíveis na próxima safra, com taxas de juros de 7% ao ano para investimentos relativos à armazenagem com capacidade de até 6 mil toneladas, e de 8,5 % ao ano para os demais investimentos. O prazo de reembolso desses empréstimos é de até 12 anos, com carência de até 3 anos. Neste ano, segundo o governo, foi instituído um limite de financiamento de R$ 50 milhões para investimentos relativos a armazenagens de grãos. Para o armazenamento dos demais itens, o limite continua sendo de R$ 25 milhões.

SEGURO RURAL

No seguro rural, a expectativa é atingir um montante de R$ 2 bilhões em 2023. A partir do próximo ano, o valor de subvenção nas regiões Norte e Nordeste será de 30% no caso de plantio da soja e de 45% para as demais culturas. No caso de produtores que aderirem ao Programa ABC, os valores serão de 25% para soja e 45% para as demais. A partir deste ano, todas as apólices passaram a ser georreferenciadas. A medida possibilita um melhor mapeamento das áreas seguradas e o cruzamento de dados com outras bases de informações.

PARCERIA Evonik e AgTech Garage

A Evonik firmou um acordo de cooperação tecnológica com o centro de inovação AgTech Garage no Parque Tecnológico de Piracicaba (SP). A nova parceria vai promover as capacidades da Evonik no setor agrícola e contribuir para alavancar a inovação da empresa no setor ao aprimorar as conexões com o ecossistema regional do agronegócio. "Estamos comprometidos com o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis para o mercado agrícola da América do Sul. Através da parceria com o AgTech Garage, poderemos nos conectar com grandes empresas e startups a fim de promover e desenvolver novas tecnologias para a indústria agrícola por meio da inovação aberta", explica Diego Abreu, Head Global de Marketing do segmento agrícola da Evonik Interface & Performance.

SOLUÇÕES AGRO

O negócio agro de Interface & Performance da Evonik oferece aditivos e adjuvantes para formulações agroquímicas convencionais e biológicas sob sua marca BREAK-THRU®. O amplo portfólio de antiespumantes, dispersantes, emulsificantes, melhoradores de óleo, umectantes, superespalhantes e superpenetrantes também inclui produtos biocompatíveis para proteção e tratamento de sementes.

BIOGÉNESIS BAGÓ Prêmio Top Brands Quality 2022

A Biogénesis Bagó recebeu o prêmio Top Brands Quality 2022. Esta é a terceira vez seguida que a empresa recebe o reconhecimento por suas ações no campo na categoria "Comunicação e Proximidade com o Cliente”.

O gerente de Produto & Trade da Biogénesis Bagó, Pedro Hespanha ressalta que para a empresa é uma grande satisfação receber novamente o prêmio. “A honra é maior ainda quando a gente sabe que a metodologia de indicação vem do produtor, de quem está no campo”.Para Hespanha, o prêmio é um reconhecimento às ações inovadoras na empresa com os clientes.

A Biogénesis Bagó concluiu em 2021 um ciclo de 'virada de página' da empresa no Brasil e iniciou este ano um novo para fortalecer seu crescimento no mercado brasileiro. “Conseguimos atingir nosso objetivo de estar entre as dez maiores do mercado de ruminantes brasileiro. Neste novo ciclo, que vai até 2026, pretendemos estar entre as dez maiores empresas do mundo, com base em novos projetos e lançando o conceito dos seis pilares da pecuária moderna, detalha.

Por Leyder Nunes

O PAPEL DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO NA SEGURANÇA ALIMENTAR MUNDIAL

LEYDER NUNES

Coordenador dos programas de Pós-graduação em Agronegócio da Faculdade FGI, Professor e Escritor; Doutorando em Ciências Empresariais, Mestre em Recursos Humanos, Especialista em Gestão Empresarial. Arevolução do agronegócio brasileiro surpreende o mundo. Isso porque, em pouco espaço de tempo, o país ganhou destaque internacional no agronegócio. No início da década de 1970 o Brasil importava alimentos. Hoje, o país é um dos cinco maiores exportadores de proteína animal, açúcar, soja, café, frutas, cereais, entre outros produtos.

Poucos brasileiros se dão conta de que as safras brasileiras alimentam 1,5 bilhão de pessoas mundo a fora. Nosso campo alimenta uma população sete vezes maior que o número de habitantes, por isso somos essenciais para a segurança alimentar do planeta.

Hoje o tema segurança alimentar se tornou uma espécie de mantra entre os políticos mundiais, porém, se compõe de uma série complexa de práticas e políticas voltadas para garantir que todos se alimentem bem levando em conta quantidades, proporções de grupos alimentares e características nutricionais de um número grande de diferentes alimentos. A variedade na dieta não é um simples capricho, mas uma questão de saúde pública.

Sem contar que a disponibilidade e a qualidade dos alimentos, disponíveis ou não a população, também interferem em uma série de indicadores que pode redefinir a geopolítica de países.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO, a segurança alimentar mundial hoje depende do Brasil, o que comprova que o agronegócio nacional assumiu o protagonismo no mercado internacional. No entanto, neste cenário de crescimento, é válido salientar que o número de pessoas também aumentará nos próximos anos no mundo e, que isso, aumenta o desafio para os gigantes do agronegócio, inclusive o Brasil.

Ainda segundo a FAO, há uma projeção de aumento da demanda mundial por produtos agrícolas da ordem de 60% nos próximos 30 anos. O crescimento dos países asiáticos, sobretudo da China, tem integrado dezenas de milhões de novos consumidores a cada ano. Com o nosso potencial produtivo e possibilidade de ampliação da produtividade, o agronegócio brasileiro tem o poder de suprir grande parte dessa expansão populacional.

“O mundo inteiro está vendo que, para o ano 2050, as estimativas são de que pelo menos metade dos aumentos, em termos de área para produção mundial de alimentos para uma população de quase 10 bilhões de habitantes, virão do Brasil. Então, o nosso

DE ACORDO COM A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA, A FAO, A SEGURANÇA ALIMENTAR MUNDIAL HOJE DEPENDE DO BRASIL, O QUE COMPROVA QUE O AGRONEGÓCIO NACIONAL ASSUMIU O PROTAGONISMO NO MERCADO INTERNACIONAL.

país tem uma posição privilegiada para fornecer alimentos”, disse o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic.

Segundo ele, o Brasil precisa trabalhar mais o marketing, para mostrar o tipo de prática que a agricultura nacional utiliza, com o intuito de manter a produção de maneira mais orgânica com o meio ambiente. É nesta evolução tecnológica que a Embrapa assume um papel fundamental, com pesquisas que permitem o aumento da produtividade em regiões que antes eram vistas como pouco atraentes para determinadas culturas.

SOLUÇÕES PARA A CRISE DOS ALIMENTOS

Mas em um mundo globalizado e tão diferente, as coisas podem sair do controle. É o que está acontecendo com a Guerra na Ucrânia. A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Dra. Ngozi Okonjo-Iweala, ressaltou que a crise de alimentos, impulsionada pela guerra na Ucrânia, é real. Enfatizou também que é necessário pensar em soluções. “Se não acharmos soluções, os países pobres sofrerão", previu a representante da OMC, durante painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos.

Diante desta realidade desafiadora, Ngozi realizou uma visita ao Brasil no mês de Abril. Em sua passagem, a Diretora da OMC ressaltou que seu desejo era de que o Brasil ampliasse a oferta de alimentos no mundo. Em entrevista ao Valor Econômico, apontou que se o Brasil exportar adicionalmente alimentos, poderá ajudar a frear a espiral de alta dos preços globalmente, permitindo que os alimentos cheguem a mais pessoas ao redor do planeta. Além disso, enfatizou que

O BRASIL PRECISA TRABALHAR MAIS O MARKETING, PARA MOSTRAR O TIPO DE PRÁTICA QUE A AGRICULTURA NACIONAL UTILIZA, COM O INTUITO DE MANTER A PRODUÇÃO DE MANEIRA MAIS ORGÂNICA COM O MEIO AMBIENTE.

o Brasil é parte da solução, com superávit de grãos e proteínas para atender o mundo.

Para o Brasil, a OMC permanece como alicerce central do sistema multilateral de comércio. O país está pronto para colaborar com Ngozi ao prezar por resultados realistas e ambiciosos, especialmente em agricultura para os próximos anos.

Mas como chegar lá produzindo cada vez mais, porém prezando pela sustentabilidade? A resposta não é tão simples, mas podemos encontrá-la observando toda a cadeia do agronegócio. Não devemos olhar apenas o campo e os sucessivos aumentos de produção, temos que visualizar o macro.

Segundo a FAO, 33% de tudo o que é produzido no mundo acaba no lixo, e 50% desse descarte acontece durante a logística. O aumento de alimentos disponíveis no mundo passa por infraestrutura, logística, tecnologia, industrialização, educação da mão de obra, etc...

Para evitar que a fome seja um problema mundial que atingirá quase todos os países no fim desta década, o governo brasileiro precisa encontrar soluções que contemplem toda a cadeia de produção, incluindo gargalos ligados à exportação. Uma certeza, no entanto, é que a ciência e a inovação terão papel-chave para permitir que produtores agrícolas do nosso país alimentem o mundo com preços cada vez mais acessíveis, qualidade e segurança.

Por Filipe Antonio Dalla Costa e Antony Luenenberg

O BEM-ESTAR ANIMAL COMO FERRAMENTA DE GESTÃO E PRODUTIVIDADE

FILIPE ANTONIO DALLA COSTA

Médico veterinário, com mestrado e doutorado em Zootecnia. Líder de Bem-Estar Animal da MSD Saúde Animal.

ANTONY LUENENBERG

Engenheiro Agrônomo e líder de Bem-Estar Animal da MSD Saúde Animal. A demanda crescente por fontes de proteínas, preservação dos ambientes entre outros desafios influenciam de forma direta na sustentabilidade do planeta e formas de criação animal. A saúde dos ambientes, das pessoas e dos animais estão intimamente ligadas e nos faz refletir sobre a importância do conceito de Bem-estar Único ou “One Health”.

Entre as diversas áreas interdisciplinares deste conceito o bem-estar animal é de fundamental importância. Indivíduos estressados de forma aguda ou crônica reduzem significativamente a imunidade. Entender, traduzir e conectar indicadores de bem-estar animal em produtividade é um desafio na produção animal. Gerenciar esses indicadores de forma harmônica para os animais, o meio ambiente, e seres humanos dependem de efeitos quantitativos e qualitativos que validem o principal objetivo: a produção de alimentos.

Conceitualmente, o bem-estar animal é traduzido pela forma como o animal reage aos desafios impostos. Um indivíduo em bom nível de bem-estar animal depende do equilíbrio entre cinco domínios (alimentação, saúde, ambiência, comportamento, o estado mental) que interagem de forma dinâmica e podem ser utilizados para gerenciamento da produtividade. Os resultados positivos dessas interações podem ser observados, por exemplo, quando realizamos uma aclimatação adequada no confinamento, fornecendo recursos de qualidade, sem disputa, estimulando interações positivas entre o manejador e os animais e uma boa ambiência. Essa simples ação permite reduzir significativamente o índice de mortalidade.

A importância do tema não termina na propriedade. O manejo pré-abate realizado por equipes bem treinadas e conscientes dos efeitos de suas atitudes para o comportamento dos animais reduzem as chances de perdas com animais cansados em mais de 40 vezes e a ocorrência de hematomas em 63%. Estruturas bem planejadas reduzem as chances de perdas com mortalidade em mais de cinco vezes. A apanha das aves para embarque pode levar a prejuízos enormes com mortalidade e lesões. O estresse durante essa fase também pode levar a prejuízos na qualidade de carne como carnes “pálidas, moles e exsudativas” ou “duras, secas e firmes”.

A questão do bem-estar animal vai ao encontro dessas iniciativas e conversa diretamente com a produtividade. Identificar os indicadores dentro de cada domínio e entender como cada um deles afeta a produtividade auxilia a criar conexões positivas com os animais e manter a harmonia dos sistemas de produção.

IDENTIFICAR OS INDICADORES DENTRO DE CADA DOMÍNIO E ENTENDER COMO CADA UM DELES AFETA A PRODUTIVIDADE AUXILIA A CRIAR CONEXÕES POSITIVAS COM OS ANIMAIS E MANTER A HARMONIA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO.

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