Revista Setor Agro&Negócios

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ANÁLISE DE MERCADO Por Felippe Serigati e Roberta Possamai

INFLAÇÃO DE ALIMENTOS COMBINAÇÃO DE FATORES DESCONFORTÁVEIS C Doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/ FGV), professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro).

ROBERTA POSSAMAI Mestre em Economia Agrícola pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro).

MESMO ANTES DA GUERRA ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA, O CENÁRIO JÁ ERA DESAFIADOR

A pandemia de Covid-19, que vem assolando o mundo desde 2020,

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gerou desequilíbrios implicando em uma forte pressão sobre os preços: • As medidas para tentar reduzir a disseminação do vírus, dentre outros efeitos, alterou as rotas marítimas, criou novos e mais demorados protocolos nos embarques e desembarques nos portos e gerou, consequentemente, maiores custos de fretes, afetando toda a cadeia de produção. Além disso, muitas empresas e indústrias fecharam suas portas, mesmo que temporariamente. Isso acarretou em alguns problemas nas cadeias globais de suprimentos, impactando negativamente a oferta de bens; • Somado a isso, os governos de diversos países adotaram políticas fiscal e monetária bastante expansionistas, de modo que, quando as

economias puderam voltar a funcionar com um mínimo de normalidade (a partir do 2º semestre/2020), o consumo interno se aqueceu de forma rápida e intensa.

DO LADO DA OFERTA, AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ADVERSAS PIORARAM AINDA MAIS A SITUAÇÃO

Para piorar o cenário deixado pela pandemia, o ano de 2021 e os primeiros meses de 2022 foram marcados por alguns eventos climáticos adversos, que reduziram a oferta agrícola em alguns importantes produtores de commodities. Para exemplificar, pode-se citar o caso do Brasil, que foi prejudicado, notadamente, por fortes geadas em meados de 2021. Por sua vez, a Chi-

A INFLAÇÃO DE ALIMENTOS NO MUNDO (The FAO Food Price Index – média 2014-2016 = 100) 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 jan-90 mai-91 set-92 jan-94 mai-95 set-96 jan-98 mai-99 set-00 jan-02 mai-03 set-04 jan-06 mai-07 set-08 jan-10 mai-11 set-12 jan-14 mai-15 set-16 jan-18 mai-19 set-20 jan-22

FELIPPE SERIGATI

laramente, a inflação de alimentos é um fenômeno que está atingindo fortemente os brasileiros, sobretudo, nos últimos meses. Nesse sentido, de acordo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço médio da alimentação realizada no domicílio acumulou uma alta de 16,4% em doze meses, até maio/2022. Apesar de isso ser uma notícia desconfortável para o país, é importante deixar claro que esse cenário de alta de preços não é exclusividade do Brasil; pelo contrário, é um fenômeno global: o Real Food Price Index da FAO, que busca mensurar os preços internacionais de uma cesta de commodities alimentícias no mundo, atingiu, em março/2022, seu maior valor desde o início da série histórica, em janeiro/1990. Apesar das leves quedas registradas nos meses de abril e maio, o índice ainda está 22.8% acima no nível registrado em maio de 2021. A disparada da inflação, no Brasil e no mundo, foi uma consequência natural do desequilíbrio entre oferta e demanda de bens, que teve início com a pandemia de Covid-19 e piorou com as condições climáticas adversas e, mais recentemente, com o início do conflito bélico no Leste Europeu. Todo esse cenário gerou uma tempestade perfeita que tem elevado sobremaneira o temor de uma crise global de fome nos próximos meses e anos.

Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO).


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