Revista Setor Agro&Negócios

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ANO 4 / Nº 10 2020

ENTREVISTA

Desafios da conectividade no campo

ONE HEALTH

TRÍADE DO FUTURO

O caminho está traçado. A crise sanitária que revolucionou 2020 é a prova de que saúde humana, sanidade animal e meio ambiente são indissociáveis. Com uma visão holística sobre este conceito, a cadeia produtiva adota uma postura estratégica, investindo no bem-estar animal e apostando alto em pesquisas e redução do uso de antimicrobianos.



TODA A CADEIA

PROTEGIDA

AviPro™ Megan Vac 1, Elanco e o logo da barra diagonal são marcas da Elanco ou suas afiliadas. PM-BR-20-0861 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JULHO 2020 3


SUMÁRIO

NOVEMBRO DE 2020

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BOVINOS

Reposição escassa e alta nos insumos

ESPECIAL ONE HEALTH

BOVINOS 52 COMO MITIGAR IMPACTOS DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS Minimizar o estresse dos animais está entre as alternativas

24 NOVAS DIREÇÕES PARA O AGRONEGÓCIO Conceito permite oportunidades comerciais

GRÃOS

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36 COMO MELHORAR A SAÚDE DO TRABALHADOR DO CAMPO Unimed Chapecó alerta para o bem-estar físico, emocional e social

SUÍNOS 40 GRANJA 5 ESTRELAS ULTRAPASSA MARCA DE 38 DFA Adepta do manejo em bandas, a granja rompe barreiras na atividade suinícola 42 NOVAS PESQUISAS SOBRE INFLUENZA SUÍNA Acordo entre Embrapa e instituições prevê estudos para vacinas

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ENTREVISTA Francisco Jardim fala sobre os desafios para democratizar a internet no campo

44 EXPORTACÕES DEVEM ALCANÇAR 1 MILHÃO DE TOLENADAS Nos primeiros nove meses de 2020, vendas ultrapassaram total de 2019

AVES 46 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL Novos impulsos para a avicultura

56 SECA ATRASA PLANTIO DA SAFRA Impactos atingem cultivos de verão e inverno 60 NANOSSATÉLITE PARA DIAGNÓSTICO DAS LAVOURAS Tecnologia espacial traz análises a partir das cores

COOPERATIVAS 64 UMA GRANDE FAMÍLIA CHAMADA AURORA 51 anos de história e mais de 100 mil famílias envolvidas

OPINIÃO 70 ANÁLISE DE MERCADO Inflação de alimentos temporária e sem disseminação 74 UM MUNDO CONECTADO NA TEIA DA VIDA Qual a importância do equilíbrio entre seres humanos e meio ambiente?

FOTOS: DIVULGAÇÃO E ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO

30 TECNOLOGIA: A GRANDE ALIADA Inovação para avançar na sustentabilidade ambiental, econômica e produtiva.


16 CAPA

TRÍADE DO FUTURO

O conceito One Health ganha ainda mais relevância diante dos impactos da pandemia. A abordagem propõe estratégias para evitar novos surtos e mostra que também pode ser uma grande aliada do agronegócio

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AVES

Tecnologia e bem-estar para cumprir exigências de mercado

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EDITORIAL

ONE HEALTH, ONE PLANET Q uase um ano depois do registro do primeiro caso de Covid-19 no mundo, continuamos vivendo a espreita de um cenário repleto de dúvidas e insegurança. Não temos a certeza de como o coronavírus infectou os humanos, tão pouco conseguimos desenhar um futuro, mas a convicção que a pandemia nos traz é de que a interconexão entre todas as formas de vida: humana, animal e meio ambiente traçará um caminho sem volta. Em tempos de enfrentamento de doenças humanas como a Covid-19, e animal como Influenza Aviária e Peste Suína Africana, a implementação do conceito ‘One Health’ é uma grande aposta. Na décima edição da Setor Agro&Negócios mostramos como a cadeia produtiva encara estes problemas complexos de maneira integrada e holística. Durante seis meses você acompanhará através das ferramentas de nossa plataforma multimídia a visão de pesquisadores, líderes da indústria, referências do setor público e privado sobre este conceito, além de conhecer os avanços nas pesquisas para prevenção e erradicação de zoonoses. O conteúdo especial que você acompanhará nas próximas páginas alerta para a necessidade da criação de mecanismos eficazes de colaboração entre os membros desta tríade, na busca por um futuro mais saudável e sustentável. A conectividade no campo, o aumento nas exportações de carne suína, o

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uso da Inteligência Artificial na avicultura e as perspectivas para a próxima safra também são temas abordados na última edição da Setor Agro&Negócios em 2020. Eu sei, é clichê, mas o tempo passou voando e mais uma vez nos aproximamos do encerramento de um ciclo de muitas realizações. Hoje, não somos apenas uma revista impressa. Nosso portal de notícias já alcança mais de 185 mil acessos por mês. A presença no on-line também nos torna referência na comunicação para o agronegócio. Neste ano, criamos campanhas de grande impacto, como o NOVO AGRO que além de mostrar a reinvenção do setor, também entregou kits de higiene para o combate ao coronavírus para mais 1.000 famílias rurais de Santa Catarina. Quanto orgulho, quanta gratidão! Quero convidar você, nosso parceiro e leitor a continuar conosco nesta jornada, que para 2021 promete grandes projetos, muita inovação e resultados. Nossa equipe estará ainda mais engajada em mostrar a pujança do agronegócio brasileiro e valorizar todos aqueles que fazem parte dessa imensa e valiosa cadeia produtiva. Que venha 2021! Com mais saúde e muitas vitórias! Um forte abraço e boa leitura. Paula Canova - Editora

EXPEDIENTE ADMINISTRAÇÃO E REDAÇÃO RUA RUI BARBOSA, 1284-E CENTRO | CHAPECÓ (SC) CEP: 89.801-148 (49) 99975-2025 (49) 98418-9478 www.setoragroenegocios.com.br DIRETORA DE REDAÇÃO PAULA CANOVA MTB 02111 JP paula@santacomunicacao.com DIRETORA COMERCIAL RAFAELA MUNARETTO MTB 05726 JP rafaela@santacomunicacao.com REPORTAGENS SUELLEN SANTIN TAÍS TEIXEIRA DIRETORA DE ARTE BIA GOMES PROJETO GRÁFICO DOGLISMAR MONTEIRO CAPA GERSON NASCIMENTO COLABORADORES DESTA EDIÇÃO BRUNO CAPPELLOZZA, CAROLINE FACCHI , EDUARDO COSTA, EDUARDO MIOTTO , ELDEMAR NEITZKE, FELIPPE SERIGATI, LUCAS FIDÉLIS , DEYSE GALLE , MB COMUNICAÇÃO, ROBERTA POSSAMAI

A Revista Setor Agro&Negócios é uma publicação quadrimestral, destinada ao segmento do agronegócio e abrange a cadeia produtiva desde as propriedades, instituições, universidades, entidades, até a indústria. Os artigos assinados e materiais publicitários não representam, necessariamente a opinião da editora. Não é permitida a reprodução total ou parcial dos conteúdos, sem prévia autorização.


www.brde.com.br

Crédito

Rural

BRDE.

O BRDE é um dos mais importantes financiadores de investimentos agrícolas do país. E isso não é por acaso. Afinal, o BRDE nasceu com o agronegócio e ajudou ele a brotar por todo Sul do país, garantindo aos produtores e cooperativas crédito de longo prazo para o plantio das novas safras e acesso a financiamentos para modernização do campo. Porque é com trabalho de quem vive da terra e o apoio do BRDE, que o Sul colhe mais resultados a cada dia.

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Ouvidoria DDG 0800.600.1020

Quem planta, colhe apoio aqui.


VIRALIZOU

A nova sessão da Setor Agro&Negócios destaca o assunto que viralizou na internet

A eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos deve provocar mudanças radicais na política norte-americana. Mas afinal, esta guinada prometida pelo democrata poderá prejudicar o agronegócio brasileiro? Um dos posicionamentos de Biden que merece atenção é sobre a Floresta Amazônica. "Parem de destruir a floresta e, se não fizer isso, você terá consequências econômicas significativas”. A afirmação do presidente alerta para a necessidade urgente do setor prosseguir com ações de preservação ambiental e de incentivo a economia verde. Outro ponto, diz respeito aos EUA como concorrente no mercado. Os democratas sempre tiveram uma boa relação com a China, assim é esperado que Joe Biden retome uma política de “boa vizinhança”, podendo, a longo prazo, provocar redução nas exportações brasileiras de soja à China. Diante disso tudo, será necessário um forte trabalho da diplomacia brasileira. Espera-se dos americanos um posicionamento mais científico e menos ideológico sobre este tema. Cumprindo estes dois pontos, podemos ter esperança da continuidade do avanço das exportações brasileiras aos EUA. Com informações Sistema Faeg

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FOTO: DIVULGAÇÃO

O QUE O AGRONEGÓCIO DEVE ESPERAR DE JOE BIDEN?


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FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

AGRO&NEGÓCIOS

YES

Nova linha de levaduras Atenta às exigências do mercado, a Yes, empresa que desenvolve soluções biotecnológicas para uma nutrição animal eficaz, segura e sustentável, apresenta sua nova linha de leveduras e derivados para nutrição de animais de produção e companhia. 01.

02.

“Sabemos que existe uma preocupação global com a qualidade dos ingredientes utilizados na alimentação animal e uma tendência irreversível na busca por produtos saudáveis e sustentáveis, uma vez que nossos clientes estão cada vez mais conscientes da importante relação entre nutrição, saúde e meio ambiente. A linha BioSolutions traz soluções 100% naturais, de alta qualidade, padronização, de fontes renováveis e livres de antibióticos”, aponta a gerente Comercial da nova linha, Aline Simião. As leveduras são matérias-primas naturais que, devido à sua composição, proporcionam benefícios para a saúde e o desempenho animal. “Constituem-se em um ingrediente nutracêutico e por esse motivo é amplamente utilizada por todas as espécies de animais de produção e companhia. O aproveitamento da biomassa da levedura pode ser

feito integralmente (ativa e inativa), ou apenas por parte de seus componentes, como parede ou extrato celular”, explica o diretor Técnico da Yes, Carlos Ronchi. 03.

04.

Entre as principais vantagens do uso de leveduras na produção animal está o fato de que ela agrega importantes benefícios ao alimento, como: proporcionar ótimo nível de proteína bruta, melhorar o aporte de moléculas que apresentam ações fisiológicas benéficas em vários sistemas do organismo e conferir uma alta palatabilidade ao alimento. A linha BioSolutions da Yes é indicada para toda a produção animal, aumentando a resistência e proteção contra desafios sanitários. “Os produtos ainda trazem como benefícios aos produtores: lotes mais homogêneos e maior resistência a patógenos e parasitas, resultando em desempenho zootécnico superior e custos de produção otimizados”, explica o CEO da Yes, Luciano Roppa.

“OS PREÇOS AGRÍCOLAS TÊM SIDO FAVORÁVEIS AOS PRODUTORES ESTE ANO. ALÉM DOS PREÇOS, A SAFRA RECORDE DE GRÃOS E O COMÉRCIO INTERNACIONAL FAVORÁVEL COMPÕEM UM CENÁRIO DE BONS RESULTADOS FINANCEIROS” JOSÉ GARCIA GASQUES, coordenador-geral de Avaliação de Política e Informação da Secretaria de Política Agrícola do MAPA, sobre o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 2020 que é 11,5% superior ao de 2019.

BIORIGIN

IMEVE S.A.

A área de Negócios Feed da Biorigin passou recentemente por uma reestruturação. Alessandro Lima, na empresa desde 2019, assumiu a Gerência Global de Negócios Feed. Médico veterinário e especializado em marketing, Lima possui experiência de mais de 20 anos em renomadas multinacionais do ramo de saúde animal, tendo atuado em gerenciamento de marketing, de produtos e vendas.

Com uma combinação exclusiva de próbiótico, vitaminas, eletrólitos e aminoácidos, a Imeve S.A. apresenta o Polimeve Solúvel, um suplemento que facilita o fornecimento destes elementos para os animais, em suas diversas fases de desenvolvimento. O produto, que deve ser diluído na água de beber de aves e suínos, também contribui para o equilíbrio da microflora intestinal, proporcionando melhora na conversão alimentar e nos índices zootécnicos.

Negócios Feed

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Polimeve Solúvel


FOTO: DIVULGAÇÂO

OVOS

Recorde no consumo em 2020

Campanha para aproximar consumidores

FOTO: BANCO DE IMAGEM

KEMIN

O brasileiro está comendo ovo como nunca. De acordo com projeções da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo per capita nacional deve alcançar neste ano 250 unidades, número 8,5% maior em relação ao ano passado. Em 2010, este índice era de 148 unidades. Ricardo Santin, presidente da ABPA e do Instituto Ovos Brasil (IOB) ressalta que ao longo da última década, o brasileiro mudou seus hábitos alimentares – e o ovo foi um dos protagonistas deste processo. A preocupação com a saudabilidade dos alimentos ganhou força, ao mesmo tempo em que a população tinha informações mais claras sobre a qualidade. O ovo produzido no Brasil é, predominantemente, consumido no mercado interno. Das 53 bilhões de unidades que deverão ser produzidas este ano (quase 1,3 mil ovos por segundo), menos de 1% ganha o mercado internacional.

Com o slogan “Nós somos a Kemin”, a empresa, uma das líderes no mundo em ingredientes nutricionais, lançou a campanha para se aproximar das pessoas. “Pensamos nessa campanha baseados na ideia de mostrar ao cliente como a Kemin impacta na vida da população. De encontro à visão da empresa de estar presente na vida de 80% da população mundial, viemos através dessa comunicação aproximar os clientes dos nossos produtos e como eles estão indiretamente presentes no cotidiano de todos”, explica a médica veterinária e gerente de Marketing da Kemin na América do Sul, Cherlla Romeiro. “As pessoas às vezes se esquecem de como a própria alimentação é impactada pelos ingredientes presentes na alimentação dos animais que são consumidos pelo ser humano. Por exemplo, quanto maior a qualidade na alimentação de uma vaca leiteira melhor a qualidade do leite. E quanto mais eficiente os ingredientes presentes na dieta dos animais, melhor o resultado não apenas para o produtor, que ganha com uma rentabilidade melhor, mas também para o consumidor, que tem à disposição produtos mais saudáveis, saborosos e acessíveis”, amplia.

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ENTREVISTA

CONECTIVIDADE REVOLUCIONARÁ GESTÃO NO CAMPO

S

ÓCIO-FUNDADOR DA SP VENTURES, FUNDO DE INVESTIMENTOS ESPECIALIZADO EM AGROTECHS, FRANCISCO JARDIM FALA SOBRE AS BARREIRAS PROVOCADAS PELA FALTA DE INTERNET NA ÁREA RURAL, OS AVANÇOS NA CONECTIVIDADE E O PAPEL DAS TECNOLOGIAS PARA REVOLUCIONAR A GESTÃO NO CAMPO.

Por Suellen Santin

De acordo com o último censo do IBGE, 3,64 milhões de propriedades rurais, um total de 71,8%, não possuem acesso à internet. A falta de conectividade no campo é um dos principais desafios do agronegócio brasileiro? É um dos principais desafios para a adoção de tecnologias digitais. Na nossa visão, o quarto grande salto de produtividade vai ser em tecnologias digitais. Acho que a falta de conectividade é uma das grandes barreiras. Como essa falta de conectividade prejudica o setor? Quando a gente fala da adoção de tecnologia digital, tem uma expressão muito usada que é a experiência do usuário e quando a conectividade é baixa ou instável isso piora muito a experiência do usuário. Uma vez que o produtor começa a depender de uma tecnologia digital para tomada de decisão, seja previsão climática, seja uma recomendação de correção de solo, e ele não tem acesso por causa da conectividade, em um devido momento ele pode ter uma perda bem severa então ele acaba demorando para poder assumir a tecnologia digital como um pilar fundamental da operação dele. Ele

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atrasa a adoção, porque piora muito a experiência e reduz a confiança na estabilidade. Isso também nos coloca atrás de outros grandes produtores mundiais do agronegócio? Esse é um ponto que vale ressaltar. A conectividade tem sido um empecilho em todas as principais agriculturas na adoção digital, não é só um fenômeno brasileiro, porque mesmo lá fora às vezes você tem internet na sede da fazenda, mas você não tem no talhão, então quando você sai de dentro da fazenda e vai para operação acaba não tendo acesso. Consequentemente, você consegue processar a informação quando está na sede, com wi-fi, com satélite, mas não quando está de fato na operação agrícola, onde o plantio e a colheita acontecem. Além da questão operacional de ausência de internet ou da má qualidade de conexão, há os desafios da inclusão digital no campo. O agricultor hoje está preparado para trazer essas soluções ao seu processo produtivo? Acho que a gente está numa tempestade perfeita com a Covid-19 para essa situação,

pelo seguinte motivo, acho que o produtor, por causa da baixa conectividade, ficou muito atrás do consumidor dos centros urbanos no que a gente chama de alfabetismo digital, que é o nível do preparo para poder adotar as tecnologias digitais. Com a Covid, todas as feiras agropecuárias foram canceladas esse ano e a feira agropecuária era um grande meio de o produtor interagir com os colegas, descobrir novas tecnologias, melhores práticas. No momento em que isso foi cancelado, houve a explosão das lives. Vimos o produtor abraçar as lives com muita intensidade, como um substituto para esses eventos. Também vimos os grandes fabricantes de tecnologia começarem a fazer os feirões digitais. Então o produtor, num período de 30, 60, 90 dias, deixou de ver a tecnologia digital apenas como um acessório para algo fundamental para ele continuar a tocar o business dele como fazia antes. Com isso, ele ficou muito mais preparado para adotar novas tecnologias digitais. Hoje eu vejo que a capacidade do produtor de receber e extrair valor de uma tecnologia digital é muito maior do que era pré-Covid. A Covid foi uma grande formadora de futuros consumidores. Essa nova geração do agro, os sucessores, devem mudar esse cenário por terem mais contato com a tecnologia? Existia uma expectativa no mercado de que a grande virada de chave na adoção da tecnologia digital seria a sucessão. Que aconteceria na hora em que filhos ou netos voltassem para gerir as fazendas após terem estudado na cidade grande e terem passado não só por uma alfabetização digital geracional, mas por terem sido expostos a isso fora da área rural. Porém, o que a gente está percebendo e vivenciando é que a velha guarda, os avôs e pais, está sendo


Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures, fundo de investimentos especializado em agrotechs

convertida e tecnificada. A adoção digital está realmente acontecendo em todas as gerações e está sendo bem mais acelerada. Os problemas com a falta de internet no campo têm sido uma barreira para as agrotechs? Tem sido uma grande barreira, mas esse problema impacta muito mais as agrotechs estrangeiras, porque elas nascem, se estruturam e desenvolvem seu produto baseadas numa infraestrutura de conectividade diferente da nossa. Quando elas chegam aqui, por mais que lá fora também tenham problemas, sentem que o desafio é maior. As agrotechs brasileiras já nascem sabendo que a conectividade é uma grande barreira, por isso elas criam soluções, criam formas alternativas de transmissão de dados com essas tecnologias de internet das coisas. Mas estamos vendo a situação da conectividade melhorar bastante, tanto por novas tecnologias quanto pela percepção das grandes operadoras, que notaram que finalmente a demanda no campo chegou e que se hoje elas fizerem um investimento terão retorno. O incentivo à conectividade no campo vem mais da iniciativa pri-

FOTO: DIVULGAÇÃO

“COM AS LIMITAÇÕES TRAZIDAS PELA COVID, O PRODUTOR DEIXOU DE VER A TECNOLOGIA DIGITAL APENAS COMO UM ACESSÓRIO E SIM ALGO FUNDAMENTAL PARA CONTINUAR A TOCAR O BUSINESS”

vada do que do poder público? Sempre. O setor público, quando tenta se movimentar nessa questão da conectividade, acaba atrapalhando, porque o investimento acaba tendo que ser privado. Quando você tem um anúncio de investimento público para a atividade, o que acontece é que o investidor privado fica com medo. Por que eu vou querer investir em infraestrutura de conectividade se alguém vai poder oferecer isso de graça daqui a pouco? Não faz sentido. O que o setor público precisa fazer é respeitar os contratos, criar um ambiente propício para o setor privado poder investir e ter segurança jurídica, mas não tenho dúvida de que será o setor privado a fornecer. Quando a internet chegar na maior parte das propriedades, qual será o impacto para o agronegócio brasileiro? Acho que a questão chave é que a tecnologia vai propiciar uma revolução de gestão. A maioria das pessoas não pensa dessa forma, mas para nós é muito claro que quando se fala de tecnologia digital através da conectividade, se fala de ferramentas de gestão. Para que? Para coletar dados em tempo real, jogar esses dados

na nuvem, processá-los e fazer recomendações de tomadas de decisão. São todas ferramentas para tornar o produtor rural um gestor mais eficiente, automatizado. Na agricultura, onde as janelas para tomada de decisão são curtas, seja pelo clima, seja pela manifestação de doenças, seja pela volatilidade dos preços dos produtos que ele vende de commodities e do dólar, é fundamental que ele possa tomar decisões rápidas e baseadas em informações precisas e a tecnologia digital permite isso, coletando dados, cruzando dados com a nuvem, processando e fazendo recomendações em tempo real. A ampliação da conectividade no campo deve acontecer num futuro próximo? Sem sombra de dúvida. Esse foi um ano atípico, porque reduziu muito a mobilidade das pessoas, então qualquer investimento que exigia a movimentação de muita gente acabou sofrendo. Todo mundo segurou medidas de longo prazo, mas agora o cenário é perfeito para investimentos de longo prazo no campo. Estamos saindo da pandemia tendo o agronegócio como um dos setores menos afetados, com as melhores perspectivas de médio e longo prazo e com um cliente, que é o produtor, extremamente capitalizado e ávido para consumir dados. Já se seguia uma tendência de investimento do setor privado para aumentar a conectividade no curto e médio prazo e isso se intensificou agora.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

AGRO&NEGÓCIOS

FEEDIS®

Projeto de implantação de qualidade concluído

Gustavo Carneiro, gerente de Programas e Soluções Américas

PROGRAMA BALANCE

Balanço entre desempenho zootécnico e econômico das granjas

FERNANDO TOLEDANO, Diretor Geral da Feedis®

A Feedis anunciou em outubro a conclusão da implantação do projeto de qualidade dentro de suas operações. "Nosso projeto foi desenhado tendo como referência os requisitos de Boas Práticas de Fabricação (IN 04) e o GMP Plus, certificação de reconhecimento internacional", comunicou a Gestora do Projeto qualidade Feedis, Luana Andrade. "Para nós é gratificante colocar em prática algo que preconizamos junto aos nossos parceiros de negócios. A partir de agora a cartilha que seguimos está amparada pelos principais conceitos de qualidade nacional e internacional", completa o Diretor Geral da Feedis®, Fernando Toledano.

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"O Programa BALANCE é formado por um conjunto de ações que visam balancear positivamente diversos fatores que impactam a performance zootécnica e a rentabilidade na produção avícola", inicia o gerente de Comunicação e Marketing da Novus® para América Latina, Guilherme Fray. Uma proposta que contextualiza a visão estratégica da multinacional e que caminha em paralelo às exigências da avicultura moderna, mercado mundial, tendências de consumo e o papel do Brasil como país player na produção de proteína de origem animal. O gerente de Programas e Soluções Américas, Gustavo Carneiro, sintetiza o

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compromisso deste lançamento. "Com o Programa Balance nossos clientes passam a ter uma visão ampliada para o melhor direcionamento da sua atividade. Colocamos uma lupa em todos os fatores que interferem de forma negativa o desempenho das granjas e apresentamos um leque de soluções", completa. Quatro pilares sustentam o Programa Balance: Diagnóstico Inicial, Estratégia Nutricional Adequada, Aderência de Serviços Oferecidos e Monitoramento Constante. "Este é um programa completo que coloca luz sobre os fatores técnicos intrínsecos das aves e externos", destaca Gustavo Carneiro.

CARNE SUÍNA

milhões de consumidores

foram impactos com a campanha de incentivo ao consumo da proteína. A Semana Nacional da Carne Suína (SNCS) ocorrida em outubro, provocou uma série de reações positivas e inspirou consumidores nas lojas e no meio digital para reinventar a carne suína no cotidiano. Para atingir este número, a SNCS utilizou as redes sociais, aplicativos de compra e fidelização, e-commerce, marketplace, cybercook, WhatsApp e também lojas físicas. Além dos resultados preliminares de crescimento médio de 25% nas vendas em todas as redes participantes, a Associação Brasileira de Criadores de Suínos registrou um crescimento de 61,5% nas interações no perfil de Instagram do @maiscarnesuína.


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FOTO MONTAGEM: GERSON NASCIMENTO

ESPECIAL | ONE HEALTH

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TRÍADE DO FUTURO

O conceito saúde única, regido pela conexão entre saúde humana, animal e do ambiente ganhou ainda mais relevância diante dos impactos da pandemia. A abordagem propõe estratégias para evitar novos surtos e mostra que também pode ser uma grande aliada do agronegócio. Por Suellen Santin

A

pandemia do novo coronavírus ascendeu mundialmente um grande debate sobre a relação entre as zoonoses e as proteínas animais que consumimos. Evidências indicam que a origem da Covid-19 seria zoonótica – nome dado às doenças que passam de animais para humanos – e que o vírus teria sido contraído por alguém que consumiu carne selvagem contaminada no sudeste asiático. Embora ainda se especule a origem, tampouco haja precisão sobre o caminho percorrido pelo vírus, o que esse cenário sanitário tem nos mostrado é que não há como dissociar saúde humana da saúde animal. É preciso, sim, voltar nosso olhar para ambas e para sua relação com o ambiente que compartilhamos, em busca de um equilíbrio entre essas três faces. O conceito saúde única, do inglês One Health, propõe justamente essa visão holística e tem ganhado notoriedade diante dos desafios atuais. A abordagem entende que saúde animal, saúde humana e do ambiente são indissociáveis. E reforça a necessidade de profissionais de diferentes áreas atuarem de

forma integrada para desenvolver pesquisas, construir políticas e implementar ações de enfrentamento e prevenção a doenças emergentes.

ESFORÇOS GLOBAIS O One Health é reconhecido internacio-

nalmente e encorajado por entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Juntas, elas lançaram a iniciativa “Um mundo, uma saúde”, em tom de conscientização para demonstrar a relação entre meio ambiente, enfermidades animais e saúde pública. “A saúde única é um movimento global, já estabelecido, para promover a colaboração de esforços de múltiplas disciplinas, trabalhando localmente, nacionalmente e globalmente”, explica a médica veterinária e chefe geral da Embrapa Suínos e Aves, Janice Zanella. Especialista em virologia molecular, ela defende que ameaças globais, como a pandemia que vivemos, necessitam justamente de uma resposta em nível

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ESPECIAL | ONE HEALTH

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA EMBRAPA

NO ÚLTIMO SÉCULO, EMERGIRAM OU REEMERGIRAM PELO MENOS 14 DOENÇAS INFECCIOSAS OU PARASITÁRIAS. MAIS DE 75% DELAS SÃO ORIGINÁRIAS DE AGENTES MICROBIANOS DE ANIMAIS JANICE ZANELLA, chefe geral da Embrapa Suínos e Aves.

global, por isso a integração de instituições, empresas e governos é tão importante. “A melhor chance de erradicar ou conter uma doença nova ou reemergente é quando ela surge”. Identificar prematuramente, tornar esses casos públicos e, especialmente, compartilhar informações com a comunidade internacional são fatores decisivos para conter zoonoses. “A maioria das zoonoses descritas ocorrem indiretamente, por exemplo, através do sistema alimentar”, aponta o relatório “Prevenir a Próxima Pandemia: Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão”, lançado neste ano e produzido em conjunto pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pelo Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI). O texto produzido colaborativamente por vários especialistas afirma que doenças de origem animal estão em ascensão. “No último século, emergiram ou reemergiram pelo menos 14 doenças infecciosas ou parasitárias. Sendo que mais de 75% delas são originárias de agentes microbianos de animais. Assim, estima-se que no mundo surjam 5 doenças humanas emergentes a cada ano”, relata Janice.

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DAS DOENÇAS HUMANAS SÃO ZOONOSES

É consenso entre os autores do relatório que o One Health é o mais eficaz método de prevenção e combate a esses surtos de doenças transmitidas de animais para pessoas. “Saúde única, vigilância epidemiológica, estudo de evolução de patógenos com potencial zoonóticos, desenvolvimento de plataformas de vacinas, antivirais, antimicrobianos de última geração e demais ciências são fundamentais para a atenção rápida da saúde. Vidas humanas, saúde animal e equilíbrio do planeta estão em jogo”, alerta a especialista.

SAÚDE ÚNICA X AGRONEGÓCIO

DAS DOENÇAS INFECCIOSAS QUE ACOMETEM OS SERES HUMANOS SÃO TRANSMITIDAS ENTRE ESPÉCIES DE ANIMAIS E ALCANÇAM AS PESSOAS.

Compreender os desafios dessa interface humanos-animais-ambiente também é essencial para toda a cadeia produtiva do agronegócio. Entre as 10 recomendações do PNUMA e do ILRI para evitar futuras pandemias, estão incentivar práticas de gestão sustentável da terra, desenvolver alternativas para garantir a segurança alimentar e meios de subsistência que preservem habitats e a biodiversidade. “O One Health é indissociável ao futuro do agronegócio. Quando a gente pensa na sustentabilidade do sistema produtivo, promo-


vendo saúde e bem-estar animal e boas práticas de produção, além de estarmos alinhados com diretrizes maiores, conseguimos produzir mais e de uma maneira mais racional. Ou seja, se tenho um animal saudável, eu vou usar menos antibióticos, vou ter uma taxa de mortalidade reduzida naquele sistema, esse animal vai levar menos dias para chegar ao peso de abate e, consequentemente, vou ter um menor consumo de ração, um menor consumo de água naquela instalação e tudo isso também está ligado à uma redução na emissão de carbono”, argumenta a médica veterinária e gestora de boas prática de produção e bem-estar animal da Agroceres PIC, Juliana Ribas. Em consonância com as premissas da saúde única, ela ressalta os esforços do Brasil na redução de antimicrobianos. O uso racional das substâncias antibióticas é uma preocupação, pois sua aplicação indiscrimi-

nada pode levar à multiplicação de bactérias resistentes a esses medicamentos e perigosas para a saúde humana. “Hoje, no país, existem programas para redução e uso racional dos antimicrobianos, tanto na saúde humana quanto animal, com mensuração de indicadores, levantamento das quantidades que estão sendo utilizadas, além de estímulo para a adoção de novos sistemas, como, por exemplo, o uso de receituário veterinário obrigatório para animais de produção.” Na avaliação de Janice, o Brasil, enquanto um dos protagonistas do agronegócio mundial, está atento às práticas proativas do One Health. “O Brasil tem normas e regras para a produção animal e serviços veterinários. Tem modernizado seu sistema de inspeção e rastreabilidade para dar maior segurança aos alimentos de origem animal.” Para além do que já está sendo feito nesse segmento,

FOTO: DIVULGAÇÃO

A INFORMAÇÃO TEM QUE CHEGAR PARA QUEM PRODUZ. O PRODUTOR PRECISA ENTENDER PORQUE AQUELE DETERMINADO PROCEDIMENTO ESTÁ SENDO EXIGIDO E O QUANTO PODE IMPACTAR POSITIVAMENTE NO BOLSO E NA QUALIDADE DE VIDA DA FAMÍLIA DELE. A EDUCAÇÃO É A BASE DE TUDO JULIANA RIBAS, médica veterinária e gestora de boas práticas de produção e bem-estar animal da Agroceres PIC.

One Health é o mais eficaz método de prevenção e combate a surtos de doenças transmitidas de animais para pessoas. ela acredita que o país pode aprofundar a estruturação da pesquisa de evolução de patógenos e atuar com mais força no desenvolvimento de ferramentas de controle de doenças zoonóticas. Também cita que para prevenir zoonoses é necessário investimento. Vigilância e mitigação custam caro, mas são primordiais. “Países como o Brasil, com grande vocação no agro, com o potencial de abastecer e alimentar o mundo, têm que olhar para o futuro e mais rapidamente investir e se estruturar para dar essas respostas.” Para que a cadeia produtiva caminhe cada vez mais de encontro à abordagem da saúde única, Juliana também destaca a importância de se trabalhar boas práticas para o bem-estar animal. “É comprovado que indivíduos que estão em equilíbrio com seu ambiente ficam menos estressados, menos sujeitos a doenças e com o sistema imunológico fortalecido. Os zootecnistas, veterinários, técnicos de campo e produtores devem focar nas boas práticas, que significa fazer o básico bem feito. É preciso olhar para o animal, realizar a inspeção diária para tratá-lo rapidamente logo que ele apresente algum sintoma e evitar que a doença se dissemine no rebanho, assim como rever e buscar reduzir práticas invasivas que possam causar dor ou uma reação inflamatória. Com a adição dessas práticas, consequentemente, vamos acabar reduzindo os antimicrobianos, porque se o indivíduo está bem, ele não adoece. Uma coisa está ligada a outra e é isso que a saúde única traz, que nada pode ser tratado dentro de caixas separadas.” Para que esse conceito seja efetivamente aplicado pelos produtores, a médica veterinária, que também é especialista em produção animal, pontua que educação e conscientização são fundamentais.

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ARTIGO

ONE HEALTH

ONE HEALTH

(SAÚDE ÚNICA)

A BASE PARA ENRIQUECER VIDAS

Por Deyse Galle Gerente de Marketing de Monogástricos/Elanco

A

pesar das crescentes e recentes discussões acerca do tema, o conceito que embasa a definição, One Health (Saúde Única), remonta ao século XIX, quando o médico alemão Rudolf Virchow definiu zoonose, clarificando a inter-relação entre medicina humana e medicina veterinária. Posteriormente, no século XX o conceito One Medicine, ou Uma Medicina, proposto por Dr. Calvin Schwabe estabelece oficialmente esta integração. A definição mais recente, One Health, ou Saúde Única, estabelece-se em 2004, após sucessivos surtos zoonóticos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE), Ebola, Síndrome Respiratória Aguda (SARS) e Influenza Aviária, que ratificaram a estreita comunicação entre humanos, animais e ecossistemas e a necessidade de providências conjuntas. E, nenhum outro período da história humana recente é tão emblemático em relação a estas intrínsecas conexões existentes, quanto o que estamos vivendo durante a

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pandemia por SARS Cov-2, com repercussões sanitárias, sociais e econômicas. O aumento da movimentação de humanos e cargas entre diferentes continentes confere velocidade exponencial para a disseminação de agentes de doença, tal qual o aumento dos grandes aglomerados urbanos e a proximidade destes de ambientes silvestres. É em função da complexidade que estes, e outros, fatores trazem à epidemiologia das doenças que são exigidos esforços somados, e requeridos profissionais de diversas áreas (veterinários, agrônomos, zootecnistas, biólogos, médicos, engenheiros e tantos outros). O conceito de One Health, ou Saúde Única, permeia e repercute na ciência, na política, nas leis e na ética. Políticas públicas integrativas entre os setores humano, animal e ambiental são bases importantes para reduzir o surgimento e/ou ressurgimento de zoonoses, isto porque auxiliam na prevenção, no controle e nas predições de risco.

“A SAÚDE, OU A FALTA DELA, É REALIDADE NO MUNDO DE CONEXÕES EM QUE VIVEMOS. O FUTURO SUSTENTÁVEL DA VIDA HUMANA, DEPENDE DE SERIEDADE, IMPARCIALIDADE E ALINHAMENTOS CIENTÍFICOS, SOCIAIS, LEGAIS E ÉTICOS EM TORNO DAS SAÚDES HUMANA, ANIMAL E AMBIENTAL, QUE CULMINARÃO EM ONE HEALTH/SAÚDE ÚNICA”.


ALGUNS DADOS EXEMPLIFICAM A PREMÊNCIA DO TEMA: • Pelo menos 75% das doenças emergentes e reemergentes são zoonóticas ou transmitidas por vetor.1 Surtos mundiais recentes de doenças como Ebola e Zika mostram o impacto social da relação entre humanos e animais. • Usamos os recursos naturais em excesso. Hoje, demandamos 60% mais do que a Terra pode prover enquanto o clima é cada vez mais volátil.1

“O conceito One Health permeia e repercute na ciência, na política, nas leis e na ética”, Deyse Galle, gerente de Marketing de Monogástricos Elanco

• Estima-se que 1,3 trilhões de quilos de comida são desperdiçados anualmente, mas temos que considerar o desperdício ao longo da cadeia produtiva e comercial.1 • 20% da pecuária é perdida devido a doenças antes de atingirem seu objetivo no nosso sistema de produção de alimentos, desperdiçando também recursos.1 • Quase 800 milhões de pessoas no mundo estão cronicamente desnutridas2, enquanto mais de 600 milhões são obesas.3 • Problemas emergentes, como a resistência a antibióticos, ameaçam a eficácia de ferramentas importantes para a saúde humana e animal. Percebem-se determinados temas mais reverberantes que outros, como por exemplo a resistência antimicrobiana, discutida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Organização Internacional de Epizootias (OIE), por blocos econômicos, por países, mas todos demandam abordagem conceitual e integrativa. Avalia-se que um dos maiores desafios ao sucesso desta integração tripartite, no conceito One Health, é a capacidade de definir estado de saúde dos ecossistemas 4 e as divergências políticas, sociais e econômicas que circundam o tema. Inegavelmente os problemas são complexos, as soluções necessárias precisam ser abrangentes e multidisciplinares, mas os benefícios decorrentes tendem a ser igualmente maiúsculos, como: » Preservação da eficácia de ferramentas terapêuticas necessárias às medicinas humana e veterinária. » Limitação da propagação de doenças. » Melhoria dos índices produtivos pecuários. » Garantia de acesso aos alimentos. » Conservação de recursos naturais. » Impulsionamento econômico e dos meios de subsistência. » Melhoria do bem-estar animal. » Combate às doenças decorrentes de nutrição inadequada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. www.enoughmovement.com/report/index.aspx 2. www.fao.org/3/a-i5188e.pdf 3. www.who.int/mediacentre/factsheet/fs311/en 4. Giraudoux P. Équilibre écologique et santé des écosystèmes: entre mythe biologique et consensus social. Nature ou Culture, Les colloques de l’Institut Universitaire de France. Saint Etienne: de l’Université de St Etienne; (2014). p. 129–42. [Google Scholar]

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ESPECIAL | ONE HEALTH

QUAL A VISÃO E COMO A INDÚSTRIA IMPLEMENTA O CONCEITO ONE HEALTH? OUROFINO SAÚDE ANIMAL “Os conceitos de Saúde Única são muito complexos. Dentre eles, está em discussão o tema relacionado à resistência antimicrobiana, no intuito de desenvolver programas de uso criterioso de antimicrobianos e assim garantir a efetividade dos princípios ativos em longo prazo. Em função disso, a cada dia a responsabilidade do médico veterinário se torna maior em indicar qual classe de antimicrobianos deve ser utilizada. Recentemente, os antimicrobianos foram classificados em diferentes classes de criticidade em relação à medicina humana, no intuito de que determinadas moléculas tidas como criticamente importantes para medicina humana deixassem de ser utilizadas como uma primeira opção para tratamento de animais de produção. Com esta movimentação mundial para a redução do uso de antimicrobianos, a produção animal se viu na necessidade

de retornar à prática de processos básicos como, biosseguridade, limpeza e desinfecção e utilização de vacinas. Neste sentido, o uso de biológicos também passou a ganhar alta relevância, uma vez que está relacionado ao conceito de prevenção de enfermidades, estando diretamente ligado ao conceito de Saúde Única”. Andrea Panzardi, especialista técnica em Biológicos Ourofino - Suínos

“A De Heus está alinhada com o conceito One Health, pois investe constantemente em pesquisas e agrega conhecimento em ciência e nutrição animal, acreditando que responsabilidade social e nutricional são muito importantes para toda a cadeia produtiva. Pensando nisso, criamos o Responsible Feeding - programa baseado na obtenção de maior produtividade a partir de animais saudáveis e que ajuda o produtor a buscar alternativas ao uso de antibióticos na atividade pecuária, eliminando a utilização dos promotores de crescimento e reduzindo a utilização terapêutica a níveis mais baixos. Além disso, o programa contempla: a aquisição de matérias-primas de forma responsável; a produção na indústria e a logística com menor impacto ambiental possível; em um time de colaboradores engajados e na geração de soluções valiosas para a sociedade. Dia após dia, estamos trabalhando na otimização contínua da conversão alimentar: transformando matérias-primas vegetais em proteínas essenciais para os seres humanos, da forma mais responsável e eficiente possível”. Rinus Donkers, diretor América Latina do Grupo Royal De Heus

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

GRUPO ROYAL DE HEUS


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FOTO: SHUTTERSTOCK

ESPECIAL | ONE HEALTH

NOVAS DIREÇÕES PARA O AGRONEGÓCIO

Aproximação do agronegócio à abordagem de One Health é fundamental para atender as exigências do novo consumidor Por Suellen Santin

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M

esmo num período de retração econômica pelo qual passamos, o Brasil tem reafirmado seu indispensável papel como um dos principais produtores e exportadores mundiais de alimentos. Os números refletem tamanha confiança e respaldo no agronegócio brasileiro. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agro contribui hoje com mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Somente em agosto deste ano, foi responsável por mais de 50% do total de exportações do país, somando 9 bilhões de dólares em produtos, conforme apontamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). E as estimativas são de que o valor bruto de produção (VBO) alcance R$ 728,6 bilhões em 2020, incremento de 11,8% frente a 2019. Apesar desse protagonismo, ainda existem desafios a superar e oportunidades a serem exploradas. O novo cenário sanitário do pós-crise deve trazer novas exigências e, mais do que nunca, o Brasil precisará investir em uma postura estratégica em relação à segurança alimentar, concentrando-se em práticas sustentáveis, assim como em novas tecnologias, para garantir produtividade, sanidade e manejo adequado de recursos naturais. É aqui que ganha relevância o conceito One Health no agronegócio, que trata do equilíbrio entre saúde humana, saúde animal e o meio ambiente. A ideia é trabalhar essas três frentes de forma coordenada, multidisciplinar, para evitar possíveis emergências sanitárias. Entidades internacionais, inclusive, têm encorajado os países a adotarem a abordagem. Por isso, o One Health deve ser uma demanda cada vez mais presente também na cadeia de proteína animal. Para além das preocupações sanitárias, o economista e professor do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (COPPEAD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Celso Lemme, entende que a aproximação do agro com o One Health vai de encontro com as exigências do novo consumidor. Segundo o especialista, as novas gerações estão mais preocupadas com a origem dos alimentos, com o bem-estar animal e com os impactos ambientais. Nesse sentido, o agronegócio deve redirecionar seu posicionamento de mercado atento às demandas desse novo perfil. “É importante pensar que essa intera-

ção entre meio ambiente, com saúde dos animais e saúde humana, que o One Health aborda, vai além do conceito de saúde física, mas atinge também a saúde emocional. Se o consumidor vê um animal sofrendo na cadeia produtiva, ele vai rejeitar esse processo de produção. Então o bem-estar animal deve ser colocado no topo da agenda. O agronegócio brasileiro precisa caminhar rumo a esse conceito de saúde de uma forma ampla e integrada, em busca do fim de procedimentos cruéis. O outro ponto, além do manejo dos animais, é olhar para os impactos ambientais, que são decisivos para a questão da saúde e também para o posicionamento dos negócios”. Na opinião de Celso, a consciência de que a eliminação de práticas cruéis deve ser um ponto fundamental na agenda do agronegócio já avançou muito. Agora, é preciso viabilizar investimentos para progredir na substituição desse modelo produtivo. Para isso acontecer, o economista reforça que o produtor precisa mudar o tom do diálogo com investidores e com o setor financeiro. “Se ele entra com um pedido para financiar uma estação de alimentação usada na criação de suínos em baia coletiva, ele tem a chance de conseguir esse dinheiro? Tem. Porém, a chance é muito maior se ele der entrada em um banco de fomento apresentando que se trata de um projeto muito mais amplo, que vai mirar para um sistema que visa o bem-estar animal, que está alinhado com as tendências do mercado internacional, que traz inovação, tecnologia para as granjas, qualificação de mão de obra e, por consequência, retenção de mão de obra no campo.” A integração entre grandes, médias e pequenas propriedades também deve ser vista como prioridade para tornar viáveis essas transformações no setor.“Precisamos articular lideranças de diferentes áreas do conhecimento, que dialoguem com o grande produtor, com o pequeno, com organizações do setor, é assim que os caminhos para a mudança surgem. O One Health é uma enorme oportunidade para o agronegócio brasileiro, porque ele pode ajudar a pensarmos de forma sistêmica. O espírito desse conceito é a visão de conjunto. Assim como não há saúde humana, sem saúde animal, sem a saúde do ambiente, também não há uma coisa nem outra sem a integração das cadeias produtivas”, destaca Celso.

O ONE HEALTH É UMA ENORME OPORTUNIDADE PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO, PORQUE ELE PODE AJUDAR A PENSARMOS DE FORMA SISTÊMICA. O ESPÍRITO DESSE CONCEITO É A VISÃO DE CONJUNTO. ASSIM COMO NÃO HÁ SAÚDE HUMANA, SEM SAÚDE ANIMAL, SEM A SAÚDE DO AMBIENTE, TAMBÉM NÃO HÁ UMA COISA NEM OUTRA SEM A INTEGRAÇÃO DAS CADEIAS PRODUTIVAS. CELSO LEMME, economista e professor do COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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ESPECIAL | ONE HEALTH

QUAL A VISÃO E COMO A INDÚSTRIA IMPLEMENTA O CONCEITO ONE HEALTH? EVONIK “O processo de globalização, o crescimento populacional e os impactos ambientais são alguns dos fatores que favoreceram o maior contato entre animais domésticos, selvagens e o homem, aumentando o número de doenças emergentes e reemergentes, tanto em homens quanto em animais, favorecendo rápida disseminação de doenças ao redor do mundo, sejam elas conhecidas ou novas doenças. E dentro do complexo conceito de Saúde Única (One Health), um dos temas que ganhou muita força nos últimos anos relaciona-se à resistência antimicrobiana, uma vez que o objetivo passa a ser o desenvolvimento de programas de uso criterioso de antimicrobianos, garantindo a efetividade dos princípios ativos em longo prazo e a saúde do consumidor final. Como consequência disto, os antimicrobianos foram enquadrados em diferentes classes de criticidade em relação à medicina humana, no intuito de que determinadas moléculas tidas como criticamente importantes para medicina humana deixassem de ser utilizadas como uma primeira opção para tratamento de animais de produção. Com esta movimentação mundial para a redução do uso de antimicrobianos, a produção animal se viu na necessidade de retornar e intensificar a adoção do processos básicos de produção como biosseguridade, limpeza, desinfecção, boas práticas de manejo e bem-estar animal, uso de produtos alternativos aos antimicrobianos melhoradores de performance e vacinas. A Evonik investe fortemente na direção do conceito de saúde única, quando falamos em nutrição de precisão, por exemplo. Nossas ferramentas analíticas e calibrações NIR (AMINONIR) permitem que a variabilidade e qualidade das matérias-primas seja conhecida e apropriadamente controlada e adequada às formulações de rações, o que

proporciona ao animal sua máxima resposta produtiva de forma saudável e ambientalmente sustentável. Lembrando que nutrição de precisão somente se alcança se também conseguimos conhecer e monitorar o ambiente e suas variáveis que afetam diretamente os animais de produção. Razão essa pela qual a empresa também vem investindo fortemente em ferramentas como o Porphyrio e Optifarm, que permitem monitoramento de toda cadeia de produção, coleta de dados e análise eficiente dos mesmos para uma rápida e eficaz tomada de decisão. Adicionalmente, a empresa tem se dedicado ao desenvolvimento de tecnologias e produtos que visam uma redução direta do uso de antimicrobianos. Como exemplo, a linha de probióticos Evonik contemplada pelos produtos Ecobiol e Gut Care. Dentro deste escopo incluiu também em seu portfólio uma ferramenta de screening de microorganismos patogênicos, chamada Screenflox. Esta é uma tecnologia inovadora para monitorar patógenos como Clostridium Perfringens e Salmonela e assim entender que tipos de mudanças ao longo do tempo dentro da cadeia produtiva - sejam elas relativas a nutrição, saúde, aditivos e desafios ambientais, entre outras - levam ao aumento ou diminuição da quantidade destes patógenos. Tudo isso de forma não invasiva e precisa”. Maria Aparecida Melo Iuspa, Diretora Técnica Evonik Brasil

“O conceito One Health é fundamentado como a interdependência entre seres humanos, animais e o meio ambiente que os rodeia. Para corroborar com o enfrentamento de possíveis ameaças, é necessário pensar de forma única e isso é possível por meio da elaboração de mecanismos e protocolos eficientes para o controle de ameaças já existentes, implementação de boas práticas para o não surgimento de novas, além de regras claras e seguras para responder a possíveis ameaças futuras. A Suiaves vem colaborando com esse sistema por meio da criação de inúmeros protocolos sanitários aplicados em diversas áreas da cadeia produtiva, respeitando e valorizando desde o produtor até o consumidor final, enxergando o setor como um todo, para que o mesmo seja seguro, saudável e sustentável.” Luiz Eduardo Conte , diretor da Suiaves Comércio de Produtos Veterinários

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ARTIGO

A ORIGEM DO CONCEITO SAÚDE ÚNICA FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

INTRODUÇÃO

Eduardo Miotto Ternus Médico Veterinário, consultor técnico da Vetanco

O Brasil segue a linha de muitos países que já tomaram medidas para reduzir o uso de antibióticos em animais destinados a produção de alimentos, como é o caso da União Europeia (EU), que já em janeiro de 2006 proibiu o uso de antibióticos promotores de crescimento (Gaggia et al., 2010). A suinocultura nacional está em sintonia com as políticas internacionais sendo que estas restrições se enquadram em uma tendência global e, ao fazê-lo, a Suinocultura Brasileira fica alinhada com as políticas apoiadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS). Na outra ponta da cadeia estão os consumidores, os quais vem aumentando a demanda por proteínas animais produzidas sem ou com uso restrito de antibióticos. É devido a isso que grandes players mundiais no setor de alimentação estão adotando a política de "ausência de antibióticos" para seus suprimentos de carne em suas redes de supermercados e/ou fastfood.

A RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS

Os antimicrobianos têm sido utilizados na produção animal para tratamento, prevenção de doenças e como promotores do crescimento por mais de 50 anos e o impacto disso sobre o tratamento de doenças em humanos está sendo amplamente debatido. Segundo OMS, se seguirmos utilizando os ATB’s da maneira que estamos fazendo e não tomarmos nenhuma medida em relação ao tema, estima-se que até 2050 praticamente todos os antimicrobianos serão ineficazes na prevenção e tratamento de doenças humanas.

A resistência aos antimicrobianos não é um fenômeno novo. Inicialmente, foi reconhecido como uma curiosidade científica e, em seguida, como uma ameaça à eficácia dos tratamentos. No entanto, com o desenvolvimento de novas famílias antimicrobianas nas décadas de 1950 e 1960 e as modificações dessas moléculas nas décadas de 1970 e 1980 criaram uma falsa sensação de segurança e a crença de que sempre poderíamos nos antecipar aos patógenos. No entanto, hoje essa complacência nos custa muito caro pois, a geração de novas moléculas está cessando. Uma das principais causas do aparecimento de resistência é o próprio uso dos antimicrobianos, pois a pressão seletiva surge da combinação de três fatores, a saber do uso excessivo, que se observa em muitas partes do mundo especialmente nos casos de infecções sem importância, do uso incorreto, por falta de acesso a diagnóstico apropriado e do uso em subdosagens (OIE). Uma metanálise publicada em 2017 na revista The Lancet Planetary Health mostrou que as intervenções restringindo o uso de antibióticos em animais de produção reduziram as bactérias resistentes a antibióticos em até 39%. De fato, qualquer uso inadequado de antimicrobianos (uso desnecessário, uso contra microrganismos não suscetíveis, subdosagem, etc.) aumenta o risco de desenvolvimento de resistência.

ONE WORLD, ONE HEALTH

O novo conceito, "Um mundo, uma saúde", surgiu recentemente, demonstrando a preocupação da correlação entre doenças dos animais e humanos, logo um problema de saúde pública. Em maio de 2015, a 68ª Assembleia Mundial de Saúde reconheceu a importância do problema de saúde pública da resistência antimicrobiana e adotou um Plano de Ação Global que propõe interven-

“INTERVENÇÕES RESTRINGINDO O USO DE ANTIBIÓTICOS EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO REDUZIRAM AS BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS EM ATÉ 39%. O USO INADEQUADO DE ANTIMICROBIANOS AUMENTA O RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE RESISTÊNCIA”. 28 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | NOVEMBRO 2020


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Antibióticos são administrados para animais de produção e plantações.

Antibióticos são administrados para pacientes, o que pode resultar no desenvolvimento de bactéricas resistentes aos medicamentos no intestino.

Paciente comparece a hospitais ou clínicas.

ções para controlar tal resistência e, em particular, reduzir o uso desnecessário de antimicrobianos em humanos e animais. Estas novas recomendações da OMS visam preservar a eficácia dos antibióticos importantes para a medicina humana, reduzindo seu uso desnecessário. A saber: - Redução geral no uso de todas as classes de antimicrobianos de importância médica em animais destinados de produção. - Restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como promotor de crescimento em animais de produção. - Restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como tratamentos preventivos (sem diagnóstico clínico) em animais de produção, podendo somente serem utilizados os antimicrobianos em animais saudáveis para prevenir uma doença se ela tiver sido diagnosticada em outros animais na mesma granja/instalação. - Recomenda-se que os antimicrobianos considerados críticos à medicina humana não sejam utilizados para controle da disseminação de doenças clinicamente diagnosticadas em grupos de animais de produção. Segundo a OMS, tais medidas se fazem necessárias, porque o uso excessivo e indevido de antibióticos em animais e em seres humanos está contribuindo para uma crescente ameaça de resistência aos antibióticos, o que faz com que muitos tratamentos existentes deixem de ser eficazes.

Animais desenvolvem bactérias resistentes aos medicamentos em seus intestinos.

A resistência aos antibióticos ocorre quando as bactérias sofrem mutações e se tornam resistentes aos medicamentos utilizados para tratar as infecções que elas causam.

Bactérias resistentes aos medicamentos se propagam para outros pacientes devido a higiene precária e instalações sujas.

Bactérias resistentes aos medicamentos chegam aos humanos através dos alimentos, meio ambiente (água, solo e ar) ou pelo contato direto entre humanos e animais.

Bactérias resistentes aos medicamentos se propagam para o público em geral.

CONCLUSÕES

Segundo a OIE, todos temos um papel importante a desempenhar para preservar a eficácia dos antimicrobianos os quais são essenciais para a saúde e o bem-estar dos animais e humanos. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) lançou uma campanha mundial de conscientização do uso racional de antibióticos para tratamento de infecções em animais. A campanha Only Five (Somente cinco) aborda as regras para o uso de antimicrobianos e é voltada tanto para médicos veterinários e sociedade, regras estas que resumem que foi abordado anteriormente.

SOMENTE

5

#1 SOMENTE: use antimicrobianos quando prescrito por um veterinário. #2 SOMENTE: quando necessário: antimicrobianos não curam toda infecção. #3 SOMENTE: adquira antimicrobianos de fontes e distribuidores autorizados. #4 SOMENTE: use a dosagem prescrita e respeite a duração do tratamento e período de retirada. #5 SOMENTE: use antimicrobianos associado a boas práticas de saúde animal.

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ESPECIAL | ONE HEALTH

TECNOLOGIA: A GRANDE ALIADA Quando a tecnologia e o conceito de saúde única se encontram, o resultado pode trazer soluções inovadoras para o agronegócio avançar na sustentabilidade ambiental, econômica e produtiva. Por Suellen Santin

30 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | NOVEMBRO 2020

O

conceito saúde única traz diretrizes que refletem diretamente no futuro do agronegócio. A abordagem, que trata da convergência entre seres humanos, animais e meio ambiente, ganhou força no enfrentamento à pandemia e também aprofundou a reflexão sobre saúde, segurança alimentar e sustentabilidade. Por sua ligação a esses três pilares, mais do que nunca o agro brasileiro deve dialogar com esse conceito. E a tecnologia pode ser uma grande aliada para conectar campo e One Health. Na opinião do médico veterinário e diretor executivo da F&S Consulting, Leonardo Vega, vivemos um momento histórico para assimilarmos esse conceito e começarmos a pensar o mundo dentro do escopo da saúde única, no qual a saúde dos animais, dos seres humanos e do ambiente são indissociáveis. “A melhor aula prática que nós poderíamos ter foi justamente nessa quarentena global, que trouxe uma discussão sobre a relação dos seres humanos com o consumo de alimentos de origem animal. Temos tudo para aprender com o One Health e passar a utilizá-lo como conhecimento central para todas as formas de produção, para a forma de pensar o campo, o meio urbano e a economia”. Especialistas de diversas áreas, estudos científicos e relatórios de importantes organizações internacionais, abordam teoricamente o conceito de saúde única, apresentam possibilidades de sua aplicação prática e indicam, por exemplo, maneiras de como usá-lo para evitar doenças zoonóticas e garantir uma coexistência sustentável entre o agronegócio e o meio ambiente. Apesar de o One Health já ser amplamente difundido e de ter saído da área teórica, inclusive com ações práticas no setor do agronegócio, Leonardo acredita que a tecnologia é o ponto de virada para realmente impulsionar essa abordagem no campo.


ONE HEALTH E TECNOLOGIA NA PRÁTICA

FOTO: DIVULGAÇÃO

Ele cita algumas iniciativas tecnológicas em consonância com o One Health para mostrar os efeitos positivos dessa aliança. Entre as mais conhecidas está a biotecnologia. Aplicada no manejo, pode ajudar a reduzir o uso de antibióticos e, desta forma, a resistência aos antimicrobianos. “Uma possibilidade é usar a biotecnologia para produzir probióticos, em substituição aos antibióticos que, se usados de maneira abusiva, têm consequências nocivas para animais, seres humanos e para o meio ambiente, causando também prejuízo econômico para a agropecuária”. Dispositivos associados a tecnologias disruptivas, como internet das coisas (IoT), também são uma amostra da revolução tecnológica no campo ligada ao conceito. Recursos de inteligência artificial permitem sensoriar o ambiente de produção, monitorando a saúde dos animais, controlando e prevenindo doenças. É o caso de um projeto realizado pela F&S em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). Um algoritmo possibilita, por meio de câmeras 3D, identificar se um animal está se alimentando bem, se ele bebe água adequadamente ou se está em estresse térmico. “Na medida em que o animal começa a manifestar um comportamento fora da normalidade, o algoritmo consegue identificar isso de forma muito antecipada, antes de qualquer manejador que possa eventualmente passar por ali. Ao identificar esses desvios, o algoritmo sinaliza para o médico veterinário que aquele animal ou aquele grupo de animais estão começando a apresentar um

comportamento anormal, mesmo antes de adoecer e, assim, o profissional pode tomar as medidas necessárias”, esclarece Leonardo. Embora tecnologias assim sejam novidade no mercado e hoje majoritariamente operadas por companhias multinacionais, o futuro previsto pelo empresário é de que, ao ganharem escala, essas ferramentas se tornarão acessíveis também às pequenas propriedades. A etapa seguinte seria capacitar os produtores para incorporarem as inovações ao seu dia a dia de trabalho. Tarefa que, na visão de Leonardo, caberá especialmente à nova geração do agronegócio. “Os jovens do agro estão com um apetite muito grande para levar essas tecnologias de ponta para suas propriedades. Na medida em que a nova geração começar a assumir a atividade dos pais e avós, esse processo de absorção de tecnologia de ponta se dará rapidamente. E esse salto tecnológico também cumprirá outra função, que é a de fixar os jovens no campo.”

CONECTIVIDADE AINDA É UM OBSTÁCULO

Num país como o Brasil, onde o acesso à internet ainda é um entrave na área rural, focar em investimentos para levar conectividade a esses lugares é uma necessidade urgente. O último censo agropecuário do IBGE, de 2017, mostra que mais de 70% das propriedades rurais do país não têm internet. A F&S, em parceria com a TIM e com a Nokia, lançou um projeto para ajudar a mudar esse quadro. “Estamos levando conectividade para as granjas. Nós implantamos uma camada de tecnologia, como softwares, big data, IoT, e oferecemos esse suporte tecnológico para fazer tudo isso funcionar”, explica Leonardo. Superado esse desafio, a transformação digital no campo é um caminho sem volta. “As tecnologias aumentam a eficiência do sistema produtivo. Tornam possível produzir mais, com menos, economizando recursos naturais, mão de obra e tempo. O retorno financeiro ao produtor acaba sendo maior, portanto, é um investimento que se paga. A verdade é que daqui a algum tempo toda essa tecnologia de ponta será bastante acessível, permitindo avanços importantes no sentido da saúde única”, conclui.

“TEMOS TUDO PARA APRENDER COM O ONE HEALTH E PASSAR A UTILIZÁ-LO COMO CONHECIMENTO CENTRAL PARA TODAS AS FORMAS DE PRODUÇÃO, PARA A FORMA DE PENSAR O CAMPO, O MEIO URBANO E A ECONOMIA” LEONARDO VEGA, diretor executivo da F&S Consulting

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ARTIGO

COMO O ESTRESSE IMPACTA A SAÚDE E O DESEMPENHO DO REBANHO FOTO: DIVULGAÇÃO

A

FOTO: SHUTTERSTOCK

Bruno Cappellozza Gerente Pesquisa & Desenvolvimento – Nutricorp

perspectiva da plataforma One Health criada na presente década traz à tona a utilização racional dos recursos naturais, fazendo com que o sistema produtivo como um todo seja beneficiado: animais, pela utilização de tecnologias alimentares/farmacológicas seguras e que promovam o desempenho com saúde e bem-estar; seres humanos, que consumirão produtos seguros e de qualidade, provenientes de animais manejados da maneira mais correta possível; e meio ambiente, onde a sustentabilidade, ou seja a capacidade de continuar produzindo de maneira responsável, ganhará ainda mais atenção e que o mesmo não sofrerá com práticas e/ou descarte de resíduos nocivos. Na base dessa cadeia estão os animais e, por isso, nós (técnicos e consultores da indústria) temos a obrigação de garantir que boas práticas alimentares e de sanidade do rebanho bovino, seja ele de corte ou leite.

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Mais especificamente, é de suma importância garantir que os animais estejam menos suscetíveis à ocorrência de doenças que, inevitavelmente resultarão na utilização de antibióticos. A prevenção na ocorrência de doenças passa por estratégias nutricionais adequadas, a vacinação do rebanho em momentos certos e a condução de manejos que não gerem um estresse ao rebanho. O estresse, mais especificamente, acontece quase que de maneira inevitável nas atividades diárias de manejo do rebanho, sendo uma resposta do animal a uma alteração na sua zona de conforto (homeostase). Ao perceber a situação estressante, uma cascata inflamatória é iniciada principalmente pela ação do hormônio do estresse, chamada de cortisol. É importante ressaltar, por isso, que o estresse não é causado por um patógeno (vírus, bactéria, fungo e/ou protozoário), mas após a sua ocorrência, o patógeno pode se aproveitar

dessa queda no status imunológico do animal e causar uma enfermidade que, por sua vez, demanda algum tipo de intervenção, tais como o uso de antibióticos. Por isso, de modo a evitarmos a ocorrência de doenças e o consequente uso de antibióticos, estratégias que reduzam os efeitos negativos do estresse na saúde, desempenho e bem-estar do animal são garantidas e devem ser avaliadas. Dentro dessas estratégias, podemos destacar a utilização da substância apaziguadora bovina (SAB) que tem demonstrado resultados positivos nos mais variados sistemas produtivos de bovinos de corte e leite. A SAB é uma substância natural que pode ser aplicada nos animais, de maneira tópica, exatamente nos momentos de manejo que resultam em estresse. Em bovinos de corte, a utilização da SAB no momento da desmama, castração, transporte para o confinamento e frigorífico melhorou a eficácia de vacinas, saúde e desempenho do rebanho, assim como o pH da carcaça de bovinos, enquanto que o período de intervenções e custos das intervenções farmacológicas (antibióticos) foram menores para bezerras leiteiras pré-desmama recebendo a SAB. Esses resultados demonstram a eficácia dessa tecnologia em otimizar a saúde e o desempenho do rebanho, assim como reduzindo a necessidade da utilização de antibióticos nos sistemas produtivos. Em resumo, a longevidade da produção de alimentos para o mundo passa por um uso responsável do meio ambiente e um manejo consciente dos animais, resultando em produtos finais (carne e leite) seguros e de qualidade para nós, no topo da cadeia alimentar. Dentro do setor produtivo de bovinos, o estresse acontece em diversas situações de manejo que, por sua vez, pode predispor o animal a doenças, com subsequente impacto negativo na produtividade, saúde e bem-estar do rebanho. Por isso, estratégias que reduzam a ocorrência do estresse são necessárias, destacando a administração do SAB, que apresenta efeitos positivos a nível de saúde e desempenho do rebanho, ajudando a promover uma melhoria no bem-estar animal.


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ARTIGO TÉCNICO

FOTOS: SHUTTERSTOCK

CONCEITO ONE HEALTH EM FRANGOS DE CORTE

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Caroline Facchi Engenheira Agrônoma, especialista em fábrica de ração, mestre em Sanidade e Produção Animal e doutoranda em Ciência Animal, na linha de nutrição de monogástricos. Atua na área de Pesquisa & Desenvolvimento da BTA Aditivos.

Lucas Fidelis Médico veterinário da Aliança Rural, formado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE


O

conceito de consumo consciente de alimentos é uma tendência que tem levado o mercado a buscar alternativas para questões como, por exemplo, a produção da proteína animal de origem mais limpa. Dentro desse contexto, o bem-estar animal torna-se o pilar para questões relacionadas a ambiência e conforto, o abate humanitário, além da utilização de produtos com menos moléculas sintéticas e mais moléculas naturais. Na alimentação animal, esta demanda tem estimulado a diminuição do uso de antibióticos nas granjas, abrindo espaço aos aditivos alternativos, como os ácidos orgânicos e óleos essenciais. Estas moléculas alternativas auxiliam o sistema imunológico dos animais, por meio de processos metabólicos, contribuindo no desempenho e mantendo a saúde animal.

EFEITOS DOS ACIDIFICANTES VIA ÁGUA DE BEBIDA

O uso de aditivos auxilia o desenvolvimento animal, pois oferecem condições de maior saúde para o trato gastrointestinal. Em um teste de campo promovido este ano, no estado de Pernambuco, na região da Zona da Mata Norte, foi realizado um experimento com 60 mil aves, das linhagens Cobb e Ross, criadas em seis galpões de pressão positiva, alimentadas com ração farelada, dividida em quatro fases: pré-inicial (0-7 dias), inicial (8-21 dias), crescimento (22-35 dias) e abate (36-44 dias) e com densidade de alojamento de 10 aves/m2. O objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos da utilização do acidificante H2ACID Oil, da BTA Aditivos, em comparação a Enrofloxacina 50%, via água de bebida, sob o desempenho zootécnico e mortalidade das aves, contemplando o período de alojamento até os sete dias de vida das mesmas.

TRATAMENTOS APLICADOS NO AVIÁRIO

As aves foram submetidas a dois tratamentos distintos. No tratamento 1, nos aviários número 1, 2 e 5 as aves consumiram H2ACID Oil, via água de bebida na dosagem de 300 ml do produto por 1.000 litros de água, durante cinco dias. No grupo de tratamento 2, nos aviários número 3, 4 e

Tabela 1. Resultados obtidos Tratamento

Nº Aviário

Peso Obtido (g)

Mortalidade

GPD (g)

T1

01

197

144

28,14

T1

02

200

108

28,57

T2

03

186

157

26,57

T2

04

145

154

20,71

T1

05

160

87

22,85

T2

06

170

133

24,28

O CONCEITO ONE HEALTH PODE SER OBSERVADO NAS SOLUÇÕES E ALTERNATIVAS MAIS NATURAIS QUE AS INDÚSTRIAS BUSCAM OFERECER AOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO. 6 as aves foram recebidas com Enrofloxacina 50%, na proporção de 100 g do produto por 1.000 litros de água, durante cinco dias. Após submetidas aos testes, foram eutanasiadas aves dos dois tratamentos e repetições, para que pudessem ser necropsiadas. Em avaliação visual, não foi possível observar diferença macroscópica de qualidade intestinal e demais órgãos entre os diferentes tratamentos propostos. Diante da avaliação dos resultados obtidos (Tabela 1) pelo lote em questão, é possível verificar melhor performance do tratamento 1 em relação ao tratamento 2, pois houve incremento no ganho de peso diário e na diminuição na ocorrência de mortalidade. Com a utilização de ácidos orgânicos e óleos essenciais é possível reduzir a inclusão de moléculas quimioterápicas, pois o acidificante garante uma melhora na resposta imune do animal. Além disso, os compostos contribuem para a diminuição de contaminação de carcaças, uma vez que os ácidos orgânicos agem eliminando as células patogênicas. Desta forma, é possível garantir que chegue à mesa do consumidor um alimento inócuo e produzido com processos mais limpos.

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ESPECIAL | ONE HEALTH

UNIMED CHAPECÓ BUSCA MELHORAR ÍNDICES DA SAÚDE NO CAMPO Quando falamos em saúde não se trata apenas da ausência de doenças, mas sim do bem-estar físico, emocional e social.

A

s populações rurais e urbanas possuem características diferentes em vários aspectos: sociais, econômicos, culturais, tecnológicos, organizacionais referentes a ocupação e consumo, além de fatores de risco à saúde: física, mental, química, biológica, orgânica, climática, mecânica e ergonômica. Aliados a esses fatores estão as especificidades de cada região brasileira e o acesso à saúde, que refletem diretamente na qualidade de vida.

Quando falamos em saúde não se trata apenas da ausência de doenças, mas sim do bem-estar físico, emocional e social que a pessoa deve ter”, enaltece Asdrubal. Os trabalhadores rurais estão mais expostos as situações específicas como: intoxicação pelo uso de defensivos agrícolas, acidentes com animais peçonhentos, contato com plantas que podem gerar intoxicações ou alergias, acidentes decorrentes do próprio risco da ocupação, ferimentos ou amputações ao operar máquinas de corte. “O que chama atenção no sul do País – pela descendência de alemães e italianos, pelo fototipo cutâneo mais claro e pela exposição ao sol – é a ocorrência do câncer de pele”, alerta ao finalizar que a cooperativa médica atua em uma região em que o agronegócio movimenta a economia regional e por isso está atenta as questões relacionadas a saúde da família rural.

FOTO: SHUTTERSTOCK

AMPLIAR O ACESSO DA ASSISTÊNCIA MÉDICA É UM DOS DESAFIOS PARA MELHORAR A SAÚDE DO TRABALHADOR RURAL

Para o médico cooperado da Unimed Chapecó e especialista em Medicina de Família, Dr. Asdrubal Cesar Russo, os principais desafios na saúde dos trabalhadores rurais são: ampliar o acesso da assistência médica; melhoria na qualidade de alimentação; desmistificar sobre os sintomas depressivos e de estresse provocados pela monotonia, isolamento e menos convívio social; e motivar a prática regular de atividades físicas para manutenção da saúde. “O atendimento às populações rurais, às vezes, carece de estímulo e políticas públicas de saúde. O Ministério da Saúde tem instigado esse posicionamento pela atenção primária à saúde, por meio da estratégia da saúde da família, o que tem interiorizado os serviços”, analisa. “Os moradores do campo têm mais dificuldade no acesso ao sistema de saúde, ao lazer, a educação e nas possibilidades de variar suas ocupações para gerar renda.

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ANS - nº 354295

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SETOR SETOR AGRO&NEGÓCIOS AGRO&NEGÓCIOS | NOVEMBRO | JANEIRO 2020 37


FOTOS: DIVULGAÇÃO

AGRO&NEGÓCIOS

VITAMINAS

Empresa chinesa desembarca no Brasil

Aluisio Schwartz Teixeira, Presidente da BRFértil e o Presidente da Andali S/A, Rafael Vaccari Gonçalves assinando a compra majoritária das ações

FERTILIZANTES

BRFértil adquire ações da Andali S/A Alexandre Camargo Costa, Managing Partner Brasil da FNF Ingredients.

O competitivo mercado de aditivos para nutrição animal acaba de ganhar mais uma empresa de peso. A FNF Ingredients, especializada na distribuição de vitaminas e aminoácidos, acaba de chegar ao Brasil. A empresa de capital chinês focará as suas atividades no atendimento personalizado e de alta tecnologia para premixeiras e produtores de rações. De acordo com Alexandre Camargo Costa, Managing Partner Brasil da FNF Ingredients, este movimento da companhia ocorre em um momento estratégico. "A nutrição animal está cada vez mais competitiva e, por conta disso, novos fabricantes de aditivos estão sendo introduzidos no mercado brasileiro. Este cenário constitui uma grande oportunidade e não podíamos ficar de fora deste importante contexto brasileiro".

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Como plano do crescimento da BRFértil, a empresa anunciou a compra da porção majoritária das ações do bloco brasileiro da Andali S/A – empresa prestadora de serviços no segmento de fertilizantes. O bloco brasileiro representa 50% do capital da companhia e a BRFértil adquiriu 26,5% das ações. A CHS do Brasil, braço brasileiro da CHS Inc., maior cooperativa de grãos e energia dos Estados Unidos, mantém a participação de 50% das ações da Andali. “Estou confiante de que a BRFértil contribuirá tanto como acionista quanto como cliente da Andali. Temos valores comuns e existe sinergia. A Andali continuará atuando com a essência de ser uma prestadora de serviços bandeira

branca para os maiores players do mercado de fertilizantes e, agora, ainda mais forte. Fico satisfeito em contar com acionistas engajados com o avanço do nosso negócio e alinhados com os nossos projetos de crescimento”, enaltece o Presidente da Andali S/A, Rafael Vaccari Gonçalves. Para a BRFértil a aquisição permite o crescimento no mercado brasileiro. “Atualmente, dentro da nossa atuação, 70% das vendas estão concentradas no Estado do Paraná. Com essa união, ampliamos fronteiras e passaremos a ter um acesso seguro e competitivo no Estado do Mato Grosso, utilizando os serviços de uma empresa que é referência no setor”, comenta Aluisio Schwartz Teixeira, Presidente da BRFértil.

AQUISIÇÃO

Adisseo e Grupo FRAmelco A Adisseo, uma Companhia Bluestar, comunicou a assinatura do contrato para a aquisição do Grupo FRAmelco, uma companhia holandesa de suplementos alimentares. Essa transação faz parte da estratégia da Adisseo em impulsionar o crescimento das especialidades para se tornar uma das líderes mundiais em nutrição animal, comercializando ingredientes especializados para ração. A FRAmelco, empresa multinacional de propriedade familiar, tem sua base na Holanda e opera três unidades de produção na Holanda, Espanha e Tailândia.


A empresa já conta com mais de 5 mil artigos na plataforma

KEMIN

Crescimento de mais de 40% em 12 meses

GRUPO SIAGRI

Base de Conhecimento

O agronegócio, um dos principais setores da economia, teve o processo de transformação digital intensificado devido a pandemia. Essa aceleração aconteceu, pois, o processo deixou de ser uma inovação e passou a ser necessidade, atingindo todas as etapas na cadeia produtiva rural. Para extrair o máximo possível da transformação é essencial o conhecimento. Pensando nisso, empresas que oferecem serviços e produtos ao agronegócio, estão adotando plataformas de conteúdo, para facilitar o atendimento de seus clientes, proporcionando a eles autonomia e agilidade.

INFORMAÇÃO EM UM SÓ LUGAR O Grupo Siagri, empresa de tecnologia para o agronegócio, lançou recentemente sua Base de Conhecimento, uma espécie de biblioteca, que reúne conteúdos informativos para auxiliar e esclarecer dúvidas. A companhia aposta que a ferramenta será um diferencial no atendimento. A empresa já conta com mais de 5 mil artigos na plataforma e eles foram elaborados para ajudar clientes e colaboradores a aprimorar o uso das soluções e serviços da companhia. DESAFIO Para o gerente de suporte do Grupo Siagri, Rogério Mendes, o principal desafio de se construir uma base de conhecimento é manter esses artigos atualizados, de acordo com as necessidades dos clientes e usuários. Mendes acredita que essa tarefa

20 AVIAGEN

já foi superada, pois a Base de Conhecimento da companhia será constantemente atualizada, levando além de suporte, informações sobre atualizações dos produtos e serviços oferecidos pela companhia.

Reduzir custos de dietas da produção animal ao mesmo tempo em que se amplia a eficiência nutricional é uma busca interminável das cadeias de aves, suínos e bovinos. Por isso a adoção de tecnologias e inovação em aditivos na dieta passa a ser fundamental no alcance dos melhores resultados. A Kemin, uma das gigantes no setor de aditivos para saúde e nutrição animal, vem ampliando a cada dia o volume de vendas e penetração no mercado com crescimento de 44% no acumulado deste ano, anunciou o médico veterinário e presidente da Kemin na América do Sul, João Marcelo Gomes, que completa um ano a frente da empresa no continente.

AGILIDADE NO ATENDIMENTO Na nova plataforma é possível abrir chamados, solicitando serviços do suporte técnico, referente aos softwares da companhia. "O cliente pode buscar os artigos para esclarecer dúvidas simples e para um atendimento mais complexo ele pode abrir um chamado ou solicitar atendimento no chat disponível dentro da plataforma." ressalta Mendes. Na ferramenta também é possível que o cliente tenha o controle de todas as suas solicitações, pois todas ficam armazenadas nela.

milhões de reais

Este é o valor investido pela Aviagen para aumentar sua capacidade de produção de avós e matrizes, inaugurando um novo núcleo em sua granja de bisavós localizada em Natividade da Serra (SP). De acordo com o presidente da Aviagen América Latina, Ivan Pupo Lauandos, o novo núcleo de bisavós garante, ainda mais, a produção de todas as linhas genéticas para clientes latino-americanos. "Nossa região segue em constante crescimento e trabalhamos incansavelmente, colaborando com os clientes e toda a indústria avícola para melhorar nossos produtos e serviços. Seguimos comprometidos com o mercado avícola na América Latina e nossa prioridade máxima é fornecer aos nossos clientes uma fonte de proteína de qualidade e acessível”.

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SUÍNOS

GRANJA CINCO ESTRELAS

ULTRAPASSA MARCA DE 38 DFA

Adepta do manejo em bandas, a granja Cinco Estrelas vem rompendo barreiras na atividade suinícola. Por trás desse sucesso, está um trabalho focado e audacioso, que tem como base uma busca incansável por eficiência e resultados econômicos cada vez melhores.

“N

a realidade, sou cafeicultor, estou suinocultor por tabela”, assim se define o produtor Ricardo Bartholo, proprietário da fazenda Cinco Estrelas, no município de Patrocínio (MG). É bem verdade que a suinocultura entrou na vida de Bartholo como saída para a necessidade de melhorar a qualidade do solo das suas lavouras de cafés especiais. Mas não se engane pensando que a suinocultura é, para ele, uma atividade secundária. Como homem de negócio, orientado para resultado, sabe muito bem o valor da atividade, que é tocada com muita seriedade e uma gestão arrojada, focada em eficiência, retorno econômico e na aplicação de conhecimento de ponta. “É aquela máxima: o que você não mede, você não controla. Por isso mensuramos cada estágio, sempre em busca de resultados financeiros melhores. E para ter resultado financeiro é preciso ter produtividade”. Há quatro anos, a granja Cinco Estrelas apresentava uma boa performance, mas Bartholo queria números ainda melhores. Reuniu seu time e cobrou resultados. Foi aconselhado pelo consultor veterinário a fazer uma troca de genética, pois já havia extraído o máximo potencial daquela com a qual trabalhava. “Foi nessa época que nós fizemos a opção pela genética da DB, uma decisão estratégica, importante e que deu muito resultado. Demos um salto em termos de produtividade, especialmente, na UPL (unidade produtora de leitões)”, explica o produtor. Hoje, com 500 matrizes, a granja vem alcançando resultados de produtividade surpreendentes. O desempenho obtido no ano passado, com o resultado de 36,86 DFA (desmamados/fêmea/ano) assegurou o Lei-

40 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | NOVEMBRO 2020

tão de Prata, na categoria 301 a 500 matrizes, do Prêmio Melhores da Suinocultura Agriness 2020. Já no primeiro trimestre deste ano, a granja superou os 38 DFA. Mas Bartholo não quer parar por aí. Seu objetivo é ultrapassar a barreira dos 40 DFA, de preferência, num curtíssimo horizonte de tempo. “Minha meta para este ano é chegar a uma média de DFA na casa dos 39”, revela. E para quem parece ter vocação para quebrar paradigmas da suinocultura e pôr abaixo muito dos mitos que cercam a atividade, como a adoção do manejo em bandas e do berçário no lugar de mães de leite, nada parece ser impossível.

QUEBRANDO PARADIGMAS

Para o produtor, o manejo em bandas é um dos fatores que explicam o desempenho que a granja vem apresentando (os outros dois são a genética e uma equipe de alta performance). Implementado há nove anos, a organização da produção em bandas agrupa os animais de mesmo estágio fisiológico (mesma fase de produção), que avançam juntos pelas instalações da granja em intervalos regulares. Isso permite um planejamento antecipado das atividades, otimiza o trabalho dos funcionários e traz eficiência, alguns dos benefícios desse tipo de manejo, na visão de Bartholo. Mas o produtor enxerga outras vantagens: o manejo em banda requer uma disciplina muito maior no cumprimento do planejamento de coberturas e de reposições da granja, potencializa a limpeza e o controle sanitário e impacta positivamente na produção de ração, pois a alimentação específica para cada categoria de animais, organiza o fluxo de produção da

“NA REALIDADE, SOU CAFEICULTOR, ESTOU SUINOCULTOR POR TABELA” RICARDO BARTHOLO, proprietário da fazenda Cinco Estrelas que com 500 matrizes vem alcançando resultados de produtividade surpreendentes.


que o custo de tratamento dos leitões com ração e sucedâneo é maior do que com o leite da porca. “Mas é a eficiência do conjunto total que me atrai. Com isso, eu consigo entregar mais leitões ao ano, e a quantidade de animais a mais que eu entrego paga, com sobra, o custo adicional dessa ração”. Além disso, um estudo que vem sendo conduzido na propriedade, por uma pesquisadora de pós-graduação na área da Medicina Veterinária, vem apresentando resultados que indicam que os animais nutridos com ração, nesta fase de vida, apresentam uma performance melhor em ganho de peso na fase de terminação quando comparados com os animais alimentados exclusivamente no leite: “O estudo ainda será finalizado e publicado. Mas, se isso se comprovar, será talvez uma outra quebra de paradigma no meio da suinocultura”.

ESPAÇO PARA A INOVAÇÃO

Na sua busca por maior eficiência e resultados, Bartholo dá muita abertura para a realização de experimentos de melhoria, trabalho feito em parceria com o seu consultor veterinário, que encontra espaço, na Cinco Estrelas, para testar inovações e aplicar conhecimento de ponta, desenvolvido em todo o mundo no campo da suinocultura: “Temos obtido ganhos significativos em cima disso, tanto financeiros como de eficiência, com a melhoria de processos”.

RAIO X DA GRANJA CINCO ESTRELAS Produção: 3.380 cevados/trim. Taxa de partos: 96,06% Nascidos vivos: 16,18

Obstinado, Bartholo e sua equipe trabalham incansavelmente para elevar, ao máximo, a eficiência da granja e, dessa forma, maximizar o retorno econômico. “Ganhar prêmio por produtividade é ótimo, mas meu objetivo é ganhar dinheiro. O que me interessa é o animal em cima do caminhão, custando para mim o mais barato possível. Para isso, eu preciso ter eficiência na minha granja. E a eficiência da minha granja depende, antes de tudo, de um número alto de nascidos vivos”. Não à toa, o suinocultor tem um planejamento desenvolvido a quatro mãos com a equipe de geneticistas da DB, que tem como meta alcançar 42 DFA até o ano 2027. “Para chegar lá, eu preciso ganhar meio leitão desmamado/fêmea/ano por ano. Temos também a meta de diminuir a quantidade de leitões no berçário e, para isso, eu preciso de uma porca que sustente mais leitões na maternidade. Esses são dois alvos claros que estabelecemos com a turma de genética da DB e que temos perseguido. Temos um acompanhamento muito próximo feito por eles e, além disso, realizamos uma avaliação trimestral para verificar se nossos números estão caminhando nesta direção”, destaca o suinocultor. Com esse foco e determinação para perseguir resultados cada vez melhores, ninguém duvida que, muito em breve, a granja Cinco Estrelas estará criando os novos parâmetros que balizarão a produção suinícola brasileira.

“O manejo em banda é um assunto polêmico, mas só quem entra para saber o quanto de melhora acaba acontecendo. Por aqui, ele terminou de organizar a granja”.

DFA: 38,93 DNP: 5,89 dias Manejo em bandas: implementado há 9 anos. (Dados referentes ao 1º trimestre de 2020).

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FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA DB GENÉTICA

fábrica. “O manejo em banda é um assunto polêmico, mas só quem entra para saber o quanto de melhora acaba acontecendo. Por aqui, ele terminou de organizar a granja”. Na Cinco Estrelas, parte dos leitões, que necessitariam de mães de leite, são desmamados precocemente (com 13-14 dias) e levados para o berçário, onde são tratados com ração especial e sucedâneo de leite. “O fato de não trabalhar com mãe de leite aumenta a minha eficiência de maternidade. Essa é uma das razões de porque a minha média de partos/porca/ano é maior do que o de outras granjas, por volta de 2,57”. O berçário é outra aposta do produtor, que enfrenta muita controvérsia no meio, já


INFLUENZA SUÍNA

EMBRAPA E INSTITUIÇÃO NORTE-AMERICANA FIRMAM ACORDO EM PESQUISAS

A

Embrapa e o National Centers for Animal Health (NCAH), vado em humanos”, diz, ressaltando que, em suínos infectados, vinculado ao Agricultural Research Service (ARS) dos pode ocorrer redução do ganho de peso, com a necessidade do Estados Unidos, acabam de formalizar um acordo de cooconsumo de antimicrobianos para combater as infecções bacperação no desenvolvimento de pesquisas voltadas a um dos terianas secundárias. A pesquisadora explica que a influenza é principais desafios na área de sanidade animal. As duas instituições uma zoonose e a transmissão viral entre suínos e humanos é estarão envolvidas em estudos que vão contribuir com o diagnósbidirecional, ou seja, humanos transmitem o vírus para suínos, tico e a produção de vacinas eficazes para o controle da Influenza assim como suínos podem transmitir o vírus para humanos. A em suínos. “Por isso, é tão importante avaliar as mudanças (mutações) A Embrapa Suínos e Aves (Concórdia, SC) lidera projetos na que ocorrem em vírus isolados de suínos para estudar a evolução área desde 2005 e a colaboração com o ARS representa a oporda diversidade viral e identificar vírus que apresentem potencial tunidade de avançar no conhecimento que possibilitará quantifipara causar pandemias de influenza em humanos”, afirma. Nas car a evolução genética e antigênica dos vírus que circulam em pesquisas desenvolvidas, os vírus de suínos são isolados, é feito o sequenciamento genético, e caracterização antigênica dos vírus suínos no Brasil e a sua relação com os vírus da Influenza humana, visando avaliar o risco de transmissão interespécies e para frente a um painel de anticorpos produzidos contra o vírus indesenvolver abordagens de vacinação racional em suínos. fluenza de suínos e de humanos. “Realizamos a caracterização A formalização do acordo de cooperação foi articulada por Alegenética viral (pela análise das sequências gênicas geradas por xandre Varella, coordenador do Labex EUA, e a equipe da Embrasequenciamento de última geração) e caracterização antigênica pa Suínos e Aves. O recebimento e administração dos recursos (pela análise por cartografia antigênica)”, disse. financeiros destinados à pesquisa ficará a cargo da FundaSobre o benefício da colaboração entre as instituições ção Arthur Bernardes (Funarbe), que mantém parcede pesquisa brasileira e norte-americana, Rejane ria com instituições nacionais e internacionais no destaca o compartilhamento de reagentes gerados pelo NCAH (painel de soros produzidos apoio à submissão de projetos e prestação de contas às agências financiadoras. “A intermecontra vírus da influenza de origem humadiação do Labex, com a área jurídica da na e suína) para a realização de teste de A doença, apesar de ser Embrapa, foi fundamental para que a trareatividade cruzada entre os vírus da conhecida e considerada influenza isolados de suínos no Brasil. mitação do acordo fosse agilizada”, disse endêmica em suínos em Rejane Schaefer, pesquisadora da Embra“Os dados gerados serão combinados muitos países, preocupa pa Suínos e Aves e líder do projeto. e compartilhados para completar o mapa especialistas em função da antigênico e para incorporar os dados braocorrência e do surgimento TRANSMISSÃO VIRAL sileiros em uma visão global dos vírus inde novas variantes virais Segundo ela, a influenza em suínos é caufluenza A em suínos”, comenta, lembrando que dificultam o controle sa de significativas perdas econômicas na a expertise dos pesquisadores do NCAH em e o diagnóstico análises de sequências gênicas virais e cartosuinocultura. “O vírus provoca uma infecção grafia antigênica. respiratória aguda, semelhante ao que é obser-

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FOTO: SHUTTERSTOCK

SUÍNOS


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | NOVEMBRO 2020 43


SUÍNOS

EXPORTAÇÃO

1 MILHÃO DE TONELADAS EM 2020

Em nove meses, embarques de carne suína superam todo o ano de 2019.

L

evantamentos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que as exportações brasileiras de carne suína (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 764,9 mil toneladas nos nove primeiros meses de 2020, número que supera em 42,9% o total embarcado pelo setor no ano de 2019, com 534,9 mil toneladas. O saldo acumulado em 2020 supera, inclusive, as exportações totais do ano passado, que foram de 750 mil toneladas.

O mesmo desempenho também pode ser verificado no saldo em dólares das exportações. Entre janeiro e setembro, as vendas de carne suína do Brasil alcançaram US$ 1,677 bilhão, saldo que supera em 51,9% o resultado verificado entre janeiro e setembro de 2019, com US$ 1,103 bilhão. O desempenho acumulado em 2020 também é maior que toda a receita obtida em 2019, de US$ 1,597 bilhão.

VALOR DAS VENDAS DE CARNE SUÍNA DO BRASIL Jan-Set 2020

Jan-Set 2019

FOTO: FREEPIK

mil toneladas nos nove primeiros meses de 2020

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EXPORTAÇÕES PARA ÁSIA 1º CHINA

mil toneladas

2º HONG KONG

mil toneladas

3º CINGAPURA

mil toneladas

Considerando apenas o mês de setembro, as vendas do setor totalizaram 86,5 mil toneladas, volume 33% superior ao efetivado no mesmo período de 2019, com 65 mil toneladas. Em receita, a alta mensal é de 34%, com US$ 188,5 milhões no nono mês de 2020, contra US$ 140,5 milhões em 2019.A Ásia segue como principal promotor das exportações setoriais em 2020 (janeiro a setembro). A China, maior importadora da carne suína brasileira, aumentou suas importações em 133% no total deste ano em comparação com 2019, chegando a 376,7 mil toneladas. Em segundo lugar, Hong Kong importou 131,6 mil toneladas (+14%). Cingapura, com 41,9 mil toneladas (+61%) ficou em terceiro lugar. Já o Vietnã aumentou suas importações em 205%, com 32,9 mil toneladas embarcadas em 2020.“Temos boas expectativas quanto à manutenção deste ritmo ao longo dos próximos meses. Os indicativos fortalecem as previsões da ABPA de alcançarmos número próximo de 1 milhão de toneladas exportadas em 2020. Isto, sem impactar na oferta de produtos para o consumidor brasileiro”, analisa Ricardo Santin, presidente da ABPA.

O SETOR ACUMULOU ALTA DE 42,9% NO VOLUME EXPORTADO ENTRE JANEIRO E SETEMBRO.

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AVES

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL IMPULSIONA AVICULTURA

Monitoramento de granjas por inteligência artificial antecipa diagnóstico de possíveis problemas e permite ganhos em produtividade.

FOTOS: FREEPIK (FUNDO) E SHUUTERSOTCK

Por Suellen Santin

46 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | NOVEMBRO 2020


A

inteligência artificial chegou para revolucionar o agronegócio. Num momento em que é preciso produzir mais, com menos recursos, a tecnologia conduz a avicultura para um salto em qualidade e produtividade. Softwares e algoritmos capazes de coletar, processar e transmitir dados permitem o monitoramento em tempo real das granjas, beneficiando o manejo e a gestão. Um exemplo desta nova etapa da produção avícola no país é uma recente iniciativa da Biocamp Laboratórios, criada para dar suporte à criação de frangos de corte. O aplicativo para celular Broiler Pro permite usar a inteligência artificial para analisar a qualidade das fezes das aves, monitoramento que antecipa o diagnóstico de possíveis alterações intestinais nos animais e propicia a adoção de medidas rápidas para tratar essas disfunções. Tudo isso é possível por meio de imagens armazenadas pela ferramenta. O técnico responsável pode tirar fotos da granja em tempo real ou abrir fotos que já estão na galeria do celular no aplicativo e selecionar as imagens que devem ser analisadas. “Existe uma quantidade mínima de fotos necessárias para que esse processo ocorra, que varia de acordo com o número de aves alojadas. Inicia-se a análise e, em menos de um minuto, ele obtém uma resposta que mostra como está o aspecto fecal, se está ótimo, bom, regular ou ruim”, detalha o gerente de Negócio da Biocamp Laboratórios, Bauer Alvarenga. Ele afirma que o aplicativo consegue fazer essa leitura após avaliar especificamente sete características: passagem de ração, descamação intestinal, presença de gases, presença de muco, alterações para a cor amarela e alterações para a cor verde. “Essas características são analisadas de modo individual e existe uma escala de intensidade de 0 a 3. Quanto maior o score, mais significativo é o problema observado. Se o score é 0 significa que não há problema”.

tware e hardware na área agroindustrial, para que os seus produtos tenham uma interface cada vez mais interativa, mais amigável, permitindo o acompanhamento de indicadores de desempenho em tempo real e uma tomada de decisão sustentada por informações”, explica a JBS. O sistema ainda está na fase piloto e, por enquanto, tem sido implementado em granjas de Santa Catarina. “O projeto ainda está em seu início, mas a JBS mantém diversos projetos de tecnologia sendo testados e implementados no campo, cada um com níveis de desenvolvimento diferentes. Algumas tecnologias já estão incorporadas no nosso padrão tecnológico para construção dos novos galpões e outras ainda estão em fase de avaliação técnica e de viabilidade. De qualquer maneira, a resposta que vem do campo é extremamente positiva, pois o produtor rural tem aumentado seu nível de profissionalização e sendo protagonista em todo esse movimento”. Outro fator destacado pela JBS é a questão da sucessão familiar. Para a companhia, a inclusão dessas ferramentas se torna relevante para a permanência das futuras gerações no campo, já que facilita o dia a dia nas granjas. De acordo com a JBS, esse movimento traz ao campo a possibilidade de inclusão digital, evolução gerencial e de controle dos indicadores. “Temos uma expectativa que, nos próximos anos, com a inclusão digital do campo e a expansão destas tecnologias para a maior parte dos produtores integrados, possamos criar um ambiente mais automatizado, para que eles tenham mais comodidade para acompanhar e controlar sua produção com maior nível de acuracidade, permitindo a conexão direta com a agroindústria e com o cliente, fazendo com que a sinergia de toda esta cadeia seja alavancada e traga ganhos para todos os elos”.

SOFTWARES E ALGORITMOS CAPAZES DE COLETAR, PROCESSAR E TRANSMITIR DADOS PERMITEM O MONITORAMENTO EM TEMPO REAL DAS GRANJAS, BENEFICIANDO O MANEJO E A GESTÃO.

GRANJA 4.0

Outra iniciativa é o projeto Granja 4.0, sistema que realiza o monitoramento remoto de aviários por inteligência artificial, resultado de uma parceria entre a JBS, a F&S Consulting e a Tim. “As granjas 4.0 são granjas em que o produtor rural tem a gestão completamente automatizada. Nos últimos anos, grande parte dos fornecedores de equipamentos, e até mesmo empresas de tecnologia, vêm incorporando inovações de sof-

DESEMPENHO E RETORNO FINANCEIRO

Para Bauer Alvarenga, três palavras definem o papel da tecnologia na geração de novos impulsos para a avicultura: maximização de resultados. “Hoje, a tecnologia, em qualquer área em que é empregada, seja na genética, na nutrição, na ambiência, ela traz desempenho, traz retorno econômico para a atividade. Ferramentas como o Broiler Pro são capazes de otimizar o tempo dos profissionais que estão ali trabalhando no dia a dia e, automaticamente, antecipar problemas, facilitando a tomada de decisão por parte dos técnicos”.

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AVES

REOVÍRUS UMA AMEAÇA PARA A AVICULTURA

Entenda por que ele causa grande preocupação nas granjas de frangos de corte e saiba a maneira mais eficaz de controlá-lo.

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responsáveis por condenação de carcaça no abate. A depender da severidade da lesão, as aves afetadas podem ter dificuldade para caminhar, além de piora no crescimento e na conversão alimentar", explica o médico veterinário Antônio Kraieski, Assistente Técnico de Aves da Zoetis.

CONTROLE

"Por seu alto poder de transmissão (em torno de 30%) e de mortalidade (entre 5% e 10%), a maneira mais eficaz de controle do reovírus é a imunização das reprodutoras visando altos níveis de transferência de imunidade passiva para as aves de corte", diz Kraieski. A vacina viva atenuada, Poulvac Reo é indicada para a prevenção da artrite viral em galinhas reprodutoras a partir da 1ª semana de vida. Já Poulvac Maternavac IBD-REO, vacina inativada, é indicada para revacinação de galinhas reprodutoras como medida auxiliar na prevenção da doença de Gumboro e infecções por reovírus. Confere altos níveis de anticorpos maternos, que são transferidos para a progênie das aves vacinadas.

RAIO X DAS DOENÇAS ARTRITE VIRAL » Causada por diferentes sorotipos de reovírus » Acomete frangos de corte, reprodutoras (leves e pesadas) e perus. » Afeta principalmente frangos de corte, de quatro a oito semanas de idade. » Os machos, geralmente, são acometidos entre 12 e 16 semanas de vida. SÍNDROME DA MÁ ABSORÇÃO » Caracteriza-se, principalmente, por apatia e falta de mobilidade das aves, desuniformidade de lotes, deficiência de pigmentação, problemas ósseos, aves com penas eriçadas e com plumagem molhada, além de intensa diarreia e a presença de alimento parcialmente digerido nas fezes das aves. » Acomete aves jovens, de uma a três semanas

FOTO: SHUTTERSTOCK

P

or sua capacidade adaptativa a mudanças de temperatura e sua característica de alta resistência a pH 3 e à desinfecção com formalina 3%, o reovírus aviário (ARV) representa hoje uma enorme ameaça para a avicultura. A nomenclatura (REOvírus) se deve ao fato de terem sido identificados pela primeira vez no trato respiratório e nas fezes de aves (Respiratory and Entheric Orphan vírus), antes mesmo de conhecermos que patologias causariam. O ARV está relacionado a diferentes quadros patológicos, como distúrbios entéricos e respiratórios, hepatite, hidropericárdio, miocardite, pericardite e pancreatite. Isso acontece porque o reovírus aviário tem ação imunossupressora, principalmente quando associado a outros patógenos, como os vírus das doenças de Gumboro e de Marek, anemia infecciosa das galinhas, doença de Newcastle, além de interações com micotoxinas. Artrite viral (AV) e síndrome da má absorção (SMA), no entanto, são as principais doenças. "Também conhecida como tenossinovite infecciosa, a artrite viral é um dos maiores

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AVES

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

TECNOLOGIA BEM-ESTAR ANIMAL E MELHOR DESEMPENHO NOS INCUBATÓRIOS

Por Eduardo Costa Médico veterinário e diretor de Produção de Incubatório da Cobb-Vantress na América do Sul.

Todas as pesquisas e novas tecnologias voltadas para os incubatórios seguem o irreversível caminho do atendimento a demandas como bem-estar animal, melhor desempenho e eficiência produtiva no campo. As novas tecnologias ganham cada vez mais espaço para atender essas exigências.

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U

m dos entraves na produção de pintinhos de um dia está com os dias contados. Nas chamadas incubadoras de estágio múltiplo, ainda bastante populares no Brasil, a mesma máquina é incubada diversas vezes em dias alternados, apresentando ovos de diferentes idades de incubação dentro do mesmo equipamento, impossibilitando fornecer as condições ideais às distintas necessidades de cada fase do desenvolvimento embrionário. Aos poucos, os equipamentos de estágio múltiplo vêm sendo substituídos pelas incubadoras de estágio único, onde toda a carga é incubada em um mesmo momento. Dessa forma é possível atender por completo as exigências dos embriões em cada fase de desenvolvimento até o nascimento.

INCUBADORAS DE ESTÁGIO ÚNICO

Essa tecnologia nos permite controlar aspectos como CO2, temperatura ambiental e dos ovos, além de possibilitar trabalhar perfis de incubação fornecendo estímulos desses parâmetros em determinadas fases do desenvolvimento embrionário a fim de produzir pintos com capacidade de expressar todo o seu potencial genético. Essas e outras cinco fronteiras da avicultura começam a ser ultrapassadas por ciência e muita tecnologia empregada desde o início da cadeia produtiva.


O FRANGO DO FUTURO SERÁ UM ANIMAL MAIS EFICIENTE, TRAZENDO MELHORES RESULTADOS ZOOTÉCNICOS DESDE A CONVERSÃO ALIMENTAR NO CAMPO ATÉ O RENDIMENTO DAS AVES NO ABATEDOURO. Os incubatórios vivem uma fase de migração de incubadoras de estágio múltiplo para incubadoras de estágio único. Esta tecnologia já vem sendo usada com inúmeros benefícios. Ao trabalhar em estágio único as incubadoras estão trabalhando para atender as necessidades de requerimentos do embrião com benefícios como melhor nascimento, principalmente em lotes mais velhos e também melhor qualidade de pintinho, com impacto em melhor performance desta ave no campo.

SEXAGEM IN OVO

A sexagem in ovo está no campo das novas tendências. Muitas empresas estão investindo bastante no desenvolvimento de diferentes métodos de sexagem in ovo e as primeiras máquinas já começam a aparecer no mercado, focando no segmento de poedeiras comercias com a finalidade de atender a demanda de bem-estar animal, pois com ela se descarta os ovos sem a necessidade de descartar os machos. O avanço dessa tecnologia e o surgimento de novos métodos deve baratear os custos do equipamento, que deve chegar em incubatórios de matrizes pesadas e de frangos de corte em escala comercial. O uso da sexagem in ovo vai trazer uma redução muito relevante de mão-de-obra, além de atender ao bem-estar animal.

FOTOS: SHUTTERSTOCK

AUTOMAÇÃO

No Brasil estamos passando por uma transformação bastante interessante no que diz respeito a automação dos incubatórios. A automação já atua em diferentes frentes, como na vacinação em ovos. No entanto, ainda há desafios. Quando uma empresa busca a automação, mais do que a redução do quadro de funcionários, ela procura também aumento da produção, padronização, melhor qualidade, redução de erros, maior produtividade e flexibilidade. No final, esses fatores significam redução do custo de produção, maior eficiência e lucro. Outra grande vantagem dos sistemas automatizados é a melhor ergonomia e satisfação dos colaboradores, ou seja, menor rotatividade, proporcionando melhor especialização da equipe.

NUTRIÇÃO IN OVO

A nutrição in ovo está no campo das novíssimas tendências. Temos muitas pesquisas em campo, mas nada concreto no mercado. Trata-se da injeção de micronutrientes in ovo para o embrião já começar com aporte de aminoácidos e vitaminas antes de nascer. O objetivo é melhorar o sistema inume das aves e a performance no campo. Estudos demonstram que a técnica se traduz em uma ave mais robusta e com melhor eficiência produtiva no campo. Uma das barreiras é o volume de nutrientes necessários a ser aplicado no ovo e sua capacidade limitada de comportar esses micronutrientes.

ALIMENTAÇÃO PRECOCE OU EARLY FEEDING

A alimentação precoce também está em destaque entre as novas tendências. A ave passa a ter acesso a água e ração imediatamente após o nascimento. Em alguns países da Europa isso já é uma exigência de clientes (redes de supermercado, fast food, etc) e governos para atender diretrizes de bem-estar animal. A alimentação precoce também pode trazer benefícios zootécnicos. Com o estímulo precoce, o sistema digestivo tem um melhor desenvolvimento, trazendo melhor performance das aves no campo. O fornecimento de água ou alimentos com altos níveis de umidade também ajudam a prevenir a desidratação das aves, impactando a mortalidade de primeira semana.

NASCIMENTO NA GRANJA OU ON FARM HATCHING

O nascimento na granja é uma linha de trabalho que vem ao encontro com a essência da nutrição precoce. No caso desta inovadora forma de criação, ao invés de ir para o nascedouro, os ovos vão diretamente para a granja. Essa prática traz vantagens de biosseguridade para o incubatório por não ter aves ou plumas dentro da unidade, mas também pode ser bastante desafiadora. Ela vai exigir um con-

trole de ambiência muito mais preciso nos caminhões de transporte desses ovos embrionados e nos galpões, além de aumentar o ciclo de cada lote para o produtor e subir o seu custo com dificuldade de realizar a seleção das aves e o controle preciso do número de aves alojadas em cada aviário, entre outros. Essa é uma tendência que ainda pode demorar um pouco a chegar no Brasil, mas deve chegar. O bem-estar animal tem papel fundamental nos avanços de tecnologias. Nos avanços e pesquisas de todo o setor, basicamente, as novas tecnologias e automações estão buscando redução de custo, melhor produtividade e bem-estar animal, além de melhor desempenho das aves em nível de campo. Somando todas estas tecnologias com os constantes ganhos genéticos, o frango do futuro será um animal mais eficiente, trazendo melhores resultados zootécnicos desde a conversão alimentar no campo até o rendimento das aves no abatedouro.

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BOVINOS

COMO MITIGAR OS IMPACTOS DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS? O

complexo das doenças respiratórias bovinas (DRB) é um dos principais desafios enfrentados pela pecuária em nível mundial. Responsável por baixas na produtividade e com alto índice de morbidade, a enfermidade, que tem origem multifatorial, gera uma série de prejuízos econômicos aos produtores. Na produção leiteira, por exemplo, a patologia afeta as bezerras, prejudicando seu desenvolvimento e afetando a capacidade produtiva futura do animal. A enfermidade afeta os neonatos, principalmente nos cinco primeiros meses de vida, fase em que o sistema imunológico dos animais ainda está em formação. Podendo ser determinadas por diversos agentes, dentre eles, bactérias e vírus, as infecções do sistema respiratório têm impactos diretos no desempenho zootécnico e no bem-estar dos animais. As bactérias mais comumente envolvidas na DRB, e que são capazes de ocasionar lesões graves, são as pasteurelas (Mannheimia haemolytica e Pasteurella multocida). “Esses agentes são habitantes naturais das vias respiratórias superiores, onde permanecem em equilíbrio com o organismo dos animais. Entretanto, qualquer situação que interfira nessa estabilidade favorece a multiplicação dessas bactérias, que acabam chegando à árvore respiratória inferior e ao parênquima pulmonar, causando graves infecções”, detalha o médico veterinário e gerente técnico de pecuária da Ceva, Marcos Malacco. “A enfermidade é mais frequente em situações de aglomerações, como ocorre nas explorações leiteiras e nos confinamentos do gado

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de corte, pois os animais são mantidos juntos e mais próximos uns dos outros, o que facilita a contaminação. Além disso, outros fatores contribuem para a ocorrência da DRB, como por exemplo, a presença de bovinos de várias origens, o que pode proporcionar a incidência de uma grande diversidade de patógenos envolvidos na DRB”, explica Malacco. “Em geral a DRB é mais importante em bovinos jovens e mantidos em ambientes confinados, pouco ventilados, especialmente, quando há grande produção de gases irritantes à mucosa respiratória, como os gases de amônia. Mas, a enfermidade também pode afetar animais adultos expostos à situações que interfiram nos mecanismos de defesa geral do organismo e da mucosa respiratória”, conta Malacco. “Sempre devemos procurar minimizar ao máximo os fatores que levem ao estresse excessivo dos animais e, consequentemente, favoreçam a queda na imunidade sistêmica. Além disso, a imunização, com vacinas que protejam contra os principais agentes e, em algumas situações, a metafilaxia auxiliam bastante a mitigar os impactos da DRB”, reforça Malacco. O tratamento pró-ativo da patologia é fundamental para evitar prejuízos produtivos. “É indicada a utilização de uma droga de amplo espectro, potência e de rápida absorção que consiga interromper de forma ágil a proliferação bacteriana”, afirma Malacco. Frente aos desafios impostos para o tratamento da enfermidade, a Ceva Saúde Animal, desenvolveu o Marbox™, um moderno antibiótico, de amplo espectro, com alta potência.

FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA CEVA E AGROSTOCK

Investimento em práticas para minimizar o estresse dos animais, vacinação e, principalmente, o tratamento pró-ativo dos bovinos contaminados são medidas fundamentais para conter os avanços da patologia.


SITUAÇÕES QUE CONTRIBUEM PARA O SURGIMENTO DAS DOENÇAS • Fatores estressantes, como o transporte, especialmente por longas distâncias com privação de água e alimentos por longos períodos; • Formação recente de lotes a serem confinados, gerando disputas por hierarquia; • Restrição de espaço (pasto X boxes ou currais de confinamento); • Manejo agressivo; • Excesso de poeira ou lama.

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BOVINOS

REPOSIÇÃO ESCASSA E ALTA DOS INSUMOS DEIXAM CONFINADORES CAUTELOSOS Segundo o levantamento inicial do Confina Brasil, entre as fazendas visitadas em SP, MS e MT, os pecuaristas estão animados com o preço da venda, porém assustados com a falta de boi magro no mercado

O

s pecuaristas brasileiros vivem no campo um momento de dilema. Enquanto o entusiasmo é grande por conta da arroba atingindo patamares históricos, em algumas praças passando até de R$ 260,00, por outro lado, é visível a preocupação quanto à reposição e alta dos insumos. Este foi o cenário observado pelas equipes do Confina Brasil, iniciativa da Scot

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Consultoria que tem como objetivo mapear a pecuária intensiva no Brasil. A expedição já percorreu quase 10 mil quilômetros de muito asfalto e estrada de chão, conhecendo a verdadeira realidade de produtores de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Até o momento as equipes visitaram 76 confinamentos que, juntos, somam uma capacidade estática superior a 570 mil bois.


FOTO: DIVULGAÇÃO

De acordo com Olavo Bottino, médico veterinário e diretor técnico do Confina Brasil, em MS foi identificado que os produtores têm mais oportunidade de oferta de matéria-prima, ou seja, boi magro. Com isso, os confinamentos na região têm grande potencial de crescimento. Entretanto essa realidade já muda em SP e MT, com a escassez de animais para a reposição. “Muitos dos produtores entrevistados estão assustados. Os mato-grossenses, por exemplo, além da dificuldade de achar boi magro, os que encontram, estão muito mais caros que o planejado para este ano”, ressalta.

DIETA COMPROMETIDA

Com relação à nutrição dos animais confinados, a equipe de técnicos da expedição identificou duas importantes diferenças. Devido à maior disponibilidade de milho, a maioria dos confinamentos de MS utilizam o cereal na dieta. “Também vimos no Estado, muitos confinadores utilizando soja e o caroço de algodão na alimentação da boiada”, ressalta o diretor técnico. Ainda segundo o profissional, já em SP a dieta é caracterizada pela influência das indústrias regionais, pois os produtores paulistas usam os coprodutos das fábricas que têm maior disponibilidade, como por exemplo, a polpa cítrica e o melaço de cana. Também foi observado a utilização predominante do bagaço e silagem de cana-de-açúcar como volumoso.

Além disso, eles também relataram outro desafio: a alta nos preços dos insumos, realidade também evidenciada em MT com forte valorização dos grãos. “Muitos confinadores afirmaram que devido a essa dificuldade, boa parte dos animais terminados estão tendo até quatro dietas diferentes em 100 dias de confinamento. Por conta dos altos valores e, principalmente, da falta de disponibilidade de insumos, o produtor tem que ir substituindo pelas ofertas de insumos disponíveis, reformulando as dietas com outros concentrados e isso acaba prejudicando o desempenho final dos animais”, diz Marco Túlio Habib Silva, diretor de marketing da Scot Consultoria.

A EXPEDIÇÃO CONTINUA

A equipe do Confina Brasil continua o mapeamento em Mato Grosso e depois segue para Goiás e Minas Gerais. A expedição tem patrocínio da BB Seguros, Boehringer Ingelheim, John Deere, Nutron/Cargill e UPL. Além disso, o projeto conta com o apoio institucional da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Unesp Jaboticabal, Hospital de Amor de Barretos e a Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), entidade que representa os confinadores de gado de corte e demais integrantes da cadeia produtiva da carne bovina.

ATÉ O MOMENTO AS EQUIPES VISITARAM 76 CONFINAMENTOS QUE, JUNTOS, SOMAM UMA CAPACIDADE ESTÁTICA SUPERIOR A

570 MIL BOIS.

Todas as informações da rota são atualizadas diariamente no Instagram @confinabrasil e no site do projeto www.confinabrasil.com.

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GRÃOS

SECA ATRASA PLANTIO DA SAFRA O

início de semeadura da safra 2020/21 está em compasso de espera de chuvas mais abundantes na maioria das regiões produtoras de grãos do país. A ajuda da natureza até outubro ficou abaixo da média esperada, assim como a umidade de solo ideal para cultivo, sobretudo nas maiores regiões produtoras como Centro-Oeste e Sudeste. O Boletim de Monitoramento Agrícola, produzido e publicado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que as anomalias do Índice de Vegetação, refletem tanto o atraso na semeadura dos cultivos de verão quanto os impactos nos cultivos de inverno. Por outro lado, o tempo firme favorece as lavouras na maturação e a colheita do trigo nos três estados da região Sul.

EVOLUÇÃO DAS LAVOURAS

O estado do Paraná é o que mais adiantou a colheita do trigo, com 79% da área cultivada, cenário que é semelhante ao da safra passada. No Rio Grande do Sul, cujo desenvolvimento do cereal foi favorecido pelo tempo firme, radiação solar e significativas amplitudes térmicas na ma-

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turação dos grãos em alguns locais, a colheita atingiu 19% e, em Santa Catarina, 12% das lavouras estão em condições de colheita. Para a soja, em Mato Grosso, com a semeadura lenta até o final da primeira quinzena, foram registrados atrasos de 14% em relação à safra anterior, em grande parte das localidades produtoras. Em Goiás, as previsões de chuvas volumosas não se confirmaram e o plantio da oleaginosa ocorreu de forma lenta em grande parte do estado. Já em Mato Grosso do Sul, muitos produtores iniciaram a semeadura, mas permanece a expectativa de previsões climáticas favoráveis. Em Minas Gerais, o plantio está estimado em torno de 15%, e São Paulo sofre também com atraso em relação ao ano anterior. Quanto à evolução do milho primeira safra, com risco de comprometimento das condições regulares ou ruins das lavouras, devido o baixo volume pluviométrico, melhor situação encontra-se no Paraná, que não sofreu atraso significativo no plantio em relação à safra passada. Minas Gerais estima o plantio em 25%, e em Goiás, a jornada deve ocorrer após o plantio da soja.

FOTO: SHUTTERSTOCK

Reflexos atingem tanto o atraso na semeadura dos cultivos de verão quanto os impactos nos cultivos de inverno.


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GRÃOS

APROSOJA

FOTO: AGROSTOCK

Clima é determinante para recorde de safra O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Antonio Galvan, acredita que a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de que a safra 2020/21 alcance recorde de 268,7 milhões de toneladas pode ser concretizada, contudo, o fator determinante para que isso ocorra está diretamente relacionado aos efeitos climáticos. “A estiagem foi maior do que nos últimos anos, impactando no atraso do plantio em todas as regiões. Sem chuva e com armazenamento de umidade no solo abaixo da média, o produtor não consegue iniciar o plantio”, ponderou. De acordo com o 1º Levantamento da safra de grãos 2020/21 da Conab, a produção está estimada em 268,7 milhões de toneladas, superando em cerca de 11 milhões de toneladas o recorde de 257,7 milhões de toneladas da última safra. Os dados apontam ainda um crescimento na área cultivada, na ordem de 1,3%. A expectativa é que nesta safra o plantio ocupe cerca de 66,8 milhões de hectares, o que corresponde a 879,5 mil hectares a mais. A produção de soja é estimada em 133,7 milhões de toneladas e mantém o Brasil como o maior produtor mundial da oleaginosa.

“PRETENDEMOS TRABALHAR PARA NOS ANTECIPARMOS AOS DESAFIOS A PARTIR DE INFORMAÇÕES TÉCNICAS E INDICADORES CONSISTENTES PARA MOSTRAR A QUALIDADE AMBIENTAL NA PRODUÇÃO DA SOJA BRASILEIRA. VAMOS TRABALHAR PARA COMPROVAR COM DADOS CIENTÍFICOS COMO A PRODUÇÃO BRASILEIRA ESTÁ RESPALDADA EM PARÂMETROS AMBIENTAIS, ECONÔMICOS E SOCIAIS DE SUSTENTABILIDADE DAS CADEIAS PRODUTIVAS” ALEXANDRE NEPOMUCENO, novo chefe da Embrapa Soja sobre os desafios da gestão.

UFPR

Bactérias licenciadas para empresa americana As bactérias fixadoras de nitrogênio não são mais uma novidade para a ciência e para a agricultura. Mas somente nos últimos anos a biodiversidade brasileira tem sido utilizada para expandir o uso dessas bactérias em diversas culturas. Essas novas tecnologias começam a ganhar o mundo a partir de pesquisas realizadas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em outras instituições do Brasil. Eficazes para o crescimento das plantas como alternativa à utilização de compostos químicos, as estirpes de Azospirillum brasilense HM053 e HM210, selecionadas na UFPR pelo professor Fábio Pedrosa, serão agora estudadas nos Estados Unidos, a partir de um contrato de

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transferência de tecnologia firmado entre a UFPR e a empresa americana PIVOT BIO, que tem sede na cidade de Berkeley, Califórnia. Estes exemplares são estudados desde a década de 1990 pelo professor Pedrosa, do Núcleo de Fixação Biológica de Nitrogênio, e agora, a partir do contrato, poderão ser investigados também pela empresa norte-americana, que aposta nos biofertilizantes para suprir as necessidade de nitrogênio das plantas e para melhorar a sustentabilidade e a saúde do planeta por meio da inovação científica.


MOSAIC FERTILIZANTES

Atenção a procedência dos fertilizantes

INSETICIDADES

Com o surgimento de novos casos de adulteração de cargas de fertilizantes, principalmente no Mato Grosso, a Mosaic Fertilizantes, uma das maiores produtoras globais de fosfatados e potássio combinados, reforça a importância de o produtor rural identificar alterações e não utilizar produtos se tiver suspeita de que não sejam originais. RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES 1. NO CAMINHÃO Recomenda-se avaliar se não há nenhum rompimento nos fechos ou remendo na lona. No caso de veículos destinados às revendas e cooperativas, verificar com atenção os lacres do veículo, que devem ter a mesma numeração, que também é descrita no campo de observações das notas fiscais do produto. Caminhões e carretas simples contam com quatro lacres na lona, enquanto bitrens e rodotrens têm oito. 2. A NTES DE ABRIR O PRODUTO Observar se as condições do lacre e se o logo da empresa está intacto; Checar se todos os big bags estão em boas condições, com peso e volume uniformes, e devidamente lacrados.

3. AO ABRIR A EMBALAGEM Verificar a característica física do produto: se o formato dos granulos estão fora do padrão e/ou irregulares ou se a coloração é diferente do padrão normalmente recebido. 4. TESTES PRÁTICOS Existem dois testes práticos que podem ser feitos para verificar a qualidade do produto: Teste de solubilidade na água, pois o KCI (Cloreto de Potássio) é 100% solúvel, enquanto os produtos fraudados não são. Adição de suco de limão, que feita no produto fraudado provoca desprendimento de bolhas de gás, como em um efeito efervescente. Vale ressaltar que esta orientação não se aplica para MAP e MicroEssencials.

A Corteva apresenta ao mercado o Expedition®, Closer® SC e Verter® SC, três importantes inseticidas que ajudarão no controle das principais pragas que afetam as culturas de soja, milho, algodão, arroz, citros e hortifrúti, como percevejos, moscas-brancas, pulgões e psilídeos. Formulados a partir do ativo Isoclast®, os produtos pertencem ao novo grupo químico Sulfoxaminas, que possui um modo de ação diferenciado, ajudando os produtores no controle da resistência aos produtos já disponíveis no mercado. Além disso, serão importantes ferramentas para o manejo integrado de pragas (MIP). Entre as principais características dos novos produtos, destacam-se a ação de choque, proteção imediata da cultura e longo período de controle. O produto é seletivo para inimigos naturais, não desequilibra os ácaros e usa baixas doses por hectare. O princípio ativo já está aprovado em mais de 80 países, a exemplo do Canadá, Austrália, Japão, Índia, China, União Europeia e Argentina. “Os agricultores estavam aguardando esses produtos, pois há muitos anos não eram lançadas soluções para o controle dessas pragas. Investir continuamente em novas tecnologias essenciais para o produtor rural faz parte do compromisso da Corteva em enriquecer a vida daqueles que produzem e consomem, garantindo o progresso das próximas gerações”, comenta Douglas Ribeiro, Líder de Marketing da Corteva para Brasil e Paraguai.

YARA

Capacitação para pequenos empreendedores A Yara, líder mundial em nutrição de plantas, se uniu ao Sebrae em uma parceria inédita que proporcionará aos pequenos empreendedores condições para que possam melhorar a produtividade e a competitividade dos seus negócios afetados por esta pandemia. A iniciativa tem o objetivo de atuar fortemente no apoio à retomada das atividades dos setores que sentiram bastante os impactos da COVID-19. Além de assessorias específicas para os empreendedores dos municípios com unidades da Yara, o conteúdo online pode ser acessado por todos e terá informações sobre temas como finanças, empreendedorismo feminino, marketing digital, avaliação da gestão da produtividade rural, entre outros. A finalidade é estimular os empreendedores a entrarem pra valer no mercado digital, para que consigam superar os desafios e se preparar da melhor forma possível para a retomada econômica neste novo cenário a partir do coronavírus.

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FOTOS: DILVUGAÇÃO

Lançamentos Corteva Agriscience


GRÃOS

NANOSSATÉLITE

FOTO: SHUTTERSTOCK

Cores que refletem diagnósticos

Cientista brasileiro desenvolveu tecnologia espacial para analisar lavouras a partir da decomposição das cores refletidas pela luz solar. O objetivo é aumentar a capacidade de produção de alimentos no mundo.

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Por Taís Teixeira


FOTO: ASSESORIA DE IMPRENSA EXPODIRETO COTRIJAL

“U

m raio x da planta”. É dessa forma que o cientista brasileiro Fábio Teixeira, exemplifica o resultado da pesquisa que desenvolve há quase dois anos. Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, foi a primeira pessoa selecionada para uma bolsa integral no programa da Singularity University (SU), situada no campus de pesquisa da NASA, na Califórnia. Em 2015, ele fundou a startup Hypercubes, no Vale do Silício em São Francisco, Estados Unidos. O pesquisador trabalha na teoria do “Teletransporte quântico do efeito fotoelétrico para transmissão de energia solar do espaço”. Tão complexo quanto o nome é à sua proposta: analisar o reflexo das cores que formam a luz solar. Neste sistema cada cor é interpretada. “A gente decompõe essas cores que são reflexo do alvo, no caso a lavoura. Cada uma corresponde a uma deficiência. Os diferentes estados da planta alteram essa cor e então entendemos o que acontece. Juntas se transformam em um banco de dados, formado por assinaturas espectrais, que é como chamamos cada deficiência. Os resultados serão precisos, o que vai ajudar na tomada de decisão do produtor rural”. Para capturar imagens das plantas, o pesquisador desenvolveu um nanossatélite, que vai orbitar a Terra. Com a função de fornecer o respaldo e o conhecimento técnico e específico do cenário agropecuário, outro brasileiro integra a equipe, o engenheiro agrônomo Rogério Raposo .“A troca de ideias é fundamental para o resultado dessa parceria. O produtor também participa desse processo. São três fases: a criação do conhecimento, onde eu mostro para o Fábio quais são as necessidades da lavoura e ele identifica no satéli-

te. A segunda é conferir a biblioteca criada pelo próprio produtor, ele mesmo elenca quais deficiências quer monitorar, e se corresponde com o que está sendo lido pelo satélite. E a terceira é integrar tudo isso e entregar uma plataforma para ajudar o produtor”, explica. A operação inicia em 2021.

é mais cara, mas que ao se tornar “popularizado”, a tendência é que o investimento diminua. “Hoje ele custa em torno de $ 5 milhões de dólares, um valor muito menor se comparado aos satélites que custam dezenas de milhões de dólares”. A comercialização deve ser pelo modelo de assinaturas de pacotes. “O nome da plataforma é Symbios, sistema similar à contratação dos serviços de streaming de vídeos no mundo”. O lançamento está previsto para 2021. É do ceú que vem o sol e a chuva que o produtor precisa, na medida certa, para ter resultados. Do céu também, pode vir a inovação para ajudar o homem do campo a aumentar a produtividade de alimentos no mundo.

UMA CONSTELAÇÃO TECNOLÓGICA

O nanossatélite não vai orbitar sozinho. Ele atua em um conjunto. “É uma constelação de 100 nanossatélites, que decompõe essas cores a nível quântico. O nanossatélite, é muito menor e tem implementação mais rápida do que o satélite padrão, vai orbitar a Terra e fazer essa leitura. Como se fosse um raio X da planta”, destaca Teixeira. Nesse momento, o objetivo é buscar parceiros. “Produtores, agrônomos, pesquisadores e cooperativas para validação em campo do que aprendemos na Biosphere, que é uma biosfera de última geração onde podemos manipular todas as variáveis que influenciam o desenvolvimento de uma cultura sob a vigilância da mesma tecnologia embarcada em nossos satélites.

Cientista brasileiro Fábio Teixeira trabalha na teoria do Teletransporte quântico do efeito fotoelétrico para transmissão de energia solar do espaço

PREVISÃO DE LANÇAMENTO PARA 2021 Raposo afirma que, num prim eiro m o mento, a construção do nanossatélite

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | NOVEMBRO 2020 61


AGRO&TECH NEGÓCIOS

Desde o mês de outubro, a Basf Agro Digital passa a contar com uma nova diretoria focada na digitalização do setor. Almir Araújo assume a posição de diretor de Digital, Novos Modelos de Negócio & Excelência Comercial para América Latina. Antes, ele ocupava o cargo de Líder em Agricultura Digital e Sales Excellence Latam. A BASF Agro Digital ganha força para ampliar o portfólio de tecnologias de alto desempenho, com soluções para as necessidades do agricultor. Além disso, a diretoria recém-criada vai atuar com o desenvolvimento de novos modelos de negócios, visando levar serviços digitais inovadores aos agricultores de toda a América Latina. Há quase 10 anos na BASF, Almir Araújo vem trilhando uma trajetória de sucesso na

4,5

FOTO: ASESSORIA DE IMPRESA BASF

BASF Agro Digital vira diretoria na América Latina

empresa. Formado em Design Digital, com pós-graduação em Marketing Digital e MBA em Gestão Empresarial, já atuou com gestão de projetos digitais com metodologias ágeis e em Marketing Digital. Desde 2014, está na Divisão de Soluções para Agricultura, onde

liderou a implementação do AgroStart, plataforma de inovação aberta e pioneira na aceleração de startups para o agronegócio com iniciativas de intraempreendedorismo, cocriação com empresas de fora do agronegócio e venture capital.

PARCERIA ÓRBIA

milhões de associados Sicredi poderão usufruir de uma parceria entre a instituição e a Orbia, maior plataforma digital do agronegócio brasileiro, que tem como objetivo conectar os produtores rurais a uma rede de parceiros para oferecer benefícios. A parceria permite aos associados transferir seus pontos acumulados no Programa de Recompensa Sicredi para a Orbia, onde eles poderão resgatar uma série de produtos, serviços e benefícios especializados em aumentar a sua produtividade.

APP

Já disponível, a versão 3.0 do Custo Fácil traz novidades para os produtores de frangos de corte e de suínos que têm o aplicativo instalado em seus celulares e tablets. Agora é possível editar e apagar granjas e dados de lotes, além de gerar relatórios dinâmicos das granjas, do usuário e das estatísticas da base de dados no servidor da Embrapa. Além disso, os relatórios permitem separar as despesas dos custos com mão de obra familiar. Tudo com uma navegação mais amigável e autoexplicativa e ainda oferecendo a possibilidade de restaurar as informações usando um backup. O aplicativo está

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disponível de forma gratuita para instalação em dispositivos Android, na Google Play. A nova versão traz uma melhor conectividade com a base de dados da Embrapa, permitindo ao usuário não apenas buscar relatórios das suas granjas, como ocorria até a versão 2.0, mas também obter sua posição no ranking e as médias regionais dos principais indicadores econômicos (receita bruta, custo total, lucro líquido e geração de caixa) das granjas que declararam informações por meio do aplicativo ou no portal Custo Fácil na internet.

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA EMBRAPA

Relatórios dinâmicos sobre granjas de aves e suínos


FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA SENAR

GESTÃO DA FAZENDA

Internet é aliada de mais de 60% dos produtores

Uma pesquisa realizada pela Embrapa, Sebrae e Inpe, no período de pandemia mostra que a tecnologia chega com tudo ao campo. Foram 556 produtores entrevistados e números surpreendentes: PRODUTOR NAS REDES SOCIAIS usam pelo menos um aplicativo de comunicação ou rede social, como o WhatsApp ou Facebook.

usam a internet para atividades produtivas.

SENAR usam o celular para enviar mensagens de texto ou falar por serviços de mensagem pela internet, como o WhatsApp.

Apesar da elevação nos números, a falta de conexão na propriedade rural ainda é um grande problema na zona rural: QUEM ESTÁ OFF LINE Das 5 milhões de propriedades rurais brasileiras,

não têm um único ponto de conexão dentro da propriedade (Censo 2017).

Deste percentual, metade estão no Nordeste e em fazendas com menos de 100 hectares.

Mais de 195,7 milhões de hectares, o que equivale ao tamanho de sete países europeus – estão “off line” no Brasil, ou seja, não possui conexão. VETANCO

App para controle de cascudinhos A ferramenta exclusiva da Vetanco é disponibilizada por meio de um App para apoiar as práticas de gestão sanitária, organizando e definindo as melhores estratégias para o controle do inseto, sempre com foco na biosseguridade, especialmente no controle de enteropatógenos que são comprovadamente veiculados por este inseto. O Vetancid App gera gráficos de fácil visualização, comparando os níveis de infestação em relação a lotes anteriores, o que traz informações rápidas para o produtor tomar a melhor decisão no controle da praga.

Ater Digital O diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara, participou do lançamento online do programa Ater Digital, que vai ampliar o atendimento de assistência técnica e extensão rural para os produtores rurais brasileiros. O programa é uma parceria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). “É um grande desafio que temos para transferir tecnologias e levar as ferramentas adequadas e adaptadas às realidades dos mais diversos produtores rurais, mas juntos vamos avançar. O Senar oferece Assistência Técnica e Gerencial há sete anos. Colocamos o conhecimento, a estrutura e a capilaridade da instituição à disposição do Ministério da Agricultura para esse novo programa”, destacou Carrara que também falou da importância dos técnicos que estão na ponta dos atendimentos aos produtores. A ministra Tereza Cristina destacou as parcerias e a soma de esforços para o sucesso do programa. “Por meio de um sistema inclusivo, e com a parceria de várias instituições, o programa Ater Digital vai levar tecnologia aos produtores rurais e permitir que eles melhorem de vida com geração de renda. Ao utilizar a tecnologia, a informação e a comunicação podemos ampliar a assistência técnica e extensão rural de maneira digital em todo o Brasil”, afirmou a ministra.

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COOPERATIVAS

RESPEITO E DEDICAÇÃO:

UMA GRANDE FAMÍLIA CHAMADA AURORA

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Quando a excelência começa no campo, a qualidade é garantida. Família Both, associada à Cooperitaipu, cooperativa filiada ao Sistema Aurora

No ambiente dessa cooperativa de alimentos, que hoje é considerada uma das maiores e mais queridas do Brasil, é comum repetir que as pessoas são o principal ativo. Elas trazem vida à Aurora Alimentos todos os dias, seja produzindo a matéria-prima no campo, industrializando nas fábricas, comercializando em todo país. Elas são as responsáveis por fazer essa grande engrenagem sustentável funcionar e levar produtos seguros e saborosos à mesa de milhares de famílias do Brasil e do mundo. por Sheila Marangoni


FOTOS: DIVULGAÇÃO

Q

uando falamos em família, estamos falando de cuidado. E na Aurora são mais de 100 mil, que há mais de 50 anos se dedicam e dão o seu melhor. Por isso, há uma atenção especial com o compromisso social relacionado ao bem-estar das pessoas envolvidas em todos os processos produtivos. Esse cuidado começa no campo, com as mais de 65 mil famílias de empresários rurais, associadas às 11 cooperativas filiadas à Aurora. Eles são responsáveis por produzir os suínos, aves e leite, matéria-prima que dá origem aos produtos da Aurora. Em parceria com as cooperativas filiadas, a Aurora desenvolve ações e atividades dentro do Programa de Desenvolvimento de Produtores Rurais Cooperativistas, denominado Encadeamento Produtivo, que buscam a melhoria da qualidade de vida no meio rural, com ganhos não apenas em produtividade, mas em aspectos sociais, como relacionamento familiar, lazer e autoestima. Com o auxílio de instrutores capacitados e a parceria de instituições como o Sebrae, Senar, Sescoop e Sicoob, são desenvolvidos cursos em que as famílias rurais são convidadas a participar. A partir daí todos têm a exata noção da importância do seu trabalho e bem-estar para a continuidade do negócio. Em mais de 20 anos de trabalho, os resultados são significativos. Os avanços nas propriedades rurais são visíveis, tanto na parte organizacional, produtiva, aliado ao resgate da autoestima e a volta dos filhos às propriedades, hoje econômica e socialmente sustentáveis. E quando nos transportamos para as unidades fabris, administrativas e comerciais da Aurora Alimentos, nos deparamos com mais ações, voltadas ao corpo funcional da cooperativa. O entendimento é de que não basta motivar as pessoas e oferecer apenas o que a legislação preconiza. É preciso oferecer as condições e o ambiente necessário para que se desenvolvam e sintam orgulho do local em que escolheram para suas carreiras profissionais. Na Aurora, são mais 34 mil empregados de norte a sul do País. São culturas, etnias e idiomas diferentes, mas todas entendem seu propósito. Por isso a Aurora oferece, além dos benefícios legais, um pacote de benefícios voltado à qualidade de vida e satisfação dos empregados, visando complementar a renda familiar, de forma justa e compatível com a sua necessidade. Plano de saúde com mensalidade 100% custeada pela empresa, plano odontológico, prêmio assiduidade, alimentação com acompanhamento nutricional e plano de participação nos resultados são alguns exemplos.

NÚMEROS QUE SURPREENDEM anos de história Mais de

famílias de empresários rurais

famílias envolvidas

de investimento no desenvolvimento de seus empregados

empregados

horas em cursos

cooperativas filiadas produtos

Clive, Anyolanda e Jair fazem parte dos mais de 34 mil empregados da Aurora

Quanto ao desenvolvimento profissional, apenas em 2019, a Aurora Alimentos investiu R$ 5,4 milhões no desenvolvimento de seus empregados, totalizando aproximadamente 541 mil horas em cursos. Não à toa, em diversos anos a Aurora tem conquistado prêmios e espaço entre as melhores empresas do Brasil em índice de desenvolvimento humano organizacional. O cuidado com a nossa gente e a dedicação de cada um, no campo e nas indústrias, refletem na qualidade dos produtos. Hoje, a Aurora Alimentos possui à disposição do consumidor um mix completo, formado por mais de 850 produtos que proporcionam diversidade para todas as horas do dia. Três marcas (Aurora, Nobre e Peperi) apresentam uma variedade em cortes de suínos e aves, lácteos, massas, pescado e industrializados.

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COOPERATIVAS

Homenagem

MÁRIO LANZNASTER

O LEGADO DE UM LÍDER Presidente da Aurora Alimentos deixa a marca de um visionário e uma contribuição imensurável para o agronegócio brasileiro.

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CONTRIBUIÇÃO PARA O AGRONEGÓCIO E PARA TODA SOCIEDADE

Lanznaster nasceu em 30 de junho de 1940 no município catarinense de Presidente Getúlio. Casou-se com Edirce com quem tem quatro filhos: Márcia, Fabiano, Fernando e Juliana, além de seis netos. Foi suinocultor e produtor de milho, feijão, soja e trigo desde 1984. Especialista em suinocultura tendo atuado como jurado em exposições regionais, nacionais e internacionais. Também era proprietário há 40 anos da Granja Master, na Linha Simoneto, município de Chapecó.

A VINCULAÇÃO DE LANZNASTER AO COOPERATIVISMO COMPLETOU 46 ANOS Era graduado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1967) e em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Federal de Santa Catarina (1975). No sistema cooperativista, sua trajetória foi marcada pela liderança e reconhecida pelo desenvolvimento. Além de presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos, também presidiu a Cooperativa Agroindustrial Alfa (Cooperalfa) por 12 anos, foi vice-presidente da Organização das Co-

operativas do Estado de Santa Catarina (OCESC) como representante do setor agropecuário (1988 a 1993) e atuou como vice-presidente de Assuntos Estratégicos do Agronegócio da FIESC desde 2009. O dirigente também atuou como conselheiro de Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP) de 2004 a 2007 e conselheiro Fiscal da Federação das Cooperativas do Estado de SC (Fecoagro) entre 2008 e 2012. Além de comandar importantes agroindústrias, Lanznaster contribuiu pessoalmente para o desenvolvimento econômico regional. Na presidência da Sociedade Amigos de Chapecó em 1974, atuou ao lado das lideranças locais para viabilizar importantes obras e inovações para a região Oeste de Santa Catarina.

FOTO: MB COMUNICAÇÃO

O

cooperativismo brasileiro se despediu de um de seus maiores líderes: Mário Lanznaster, presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos, que faleceu no último dia 18 de outubro, aos 80 anos de idade. O dirigente ingressou no cooperativismo em 1974 atendendo a um convite do fundador da Aurora, Aury Luiz Bodanese, que buscava, visionariamente, qualificar as cooperativas para o desafio do mercado, capacitando seus assessores, técnicos e gestores. Em 31 de janeiro de 2019, Lanznaster foi reeleito pela terceira vez como presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos para o mandato de mais quatro anos. A vinculação de Lanznaster ao cooperativismo completou 46 anos, período em que atuou como assessor e diretor da Aurora e da Cooperalfa. Participou e contribuiu ativamente com o crescimento dessas duas grandes sociedades cooperativas. As trajetórias das duas instituições, às quais Lanznaster esteve diretamente ligado, representam a expansão empresarial e também a elevação da qualidade de vida da família rural, condição aferida pelo crescimento da renda e pela incorporação de bens de produção e de consumo tecnológicos. Na Aurora Alimentos, a liderança do presidente conduziu a Cooperativa a uma marca formidável, tornando-se uma comunidade produtiva formada por mais de 100 mil famílias espalhadas por cerca de 300 municípios brasileiros. É o terceiro maior conglomerado industrial do setor de carnes e a 75ª maior empresa do Brasil segundo o ranking “As melhores & maiores” da Revista Exame. A Aurora encerrou 2019 com uma receita operacional bruta de R$ 10,9 bilhões (elevação de 20% em relação a 2018) e sobras da ordem de R$ 543 milhões.


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CRÉDITO RURAL

BRDE FOMENTA INVESTIMENTOS NO CAMPO Modalidade de crédito de investimento tem despontado no agronegócio brasileiro e contribuído para o setor se tornar mais competitivo

FOTO: SHUTTERSTOCK

C

om foco no desenvolvimento econômico e social da área rural, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) conta com 11 linhas de crédito para o agronegócio, que podem ser acessadas tanto pelo produtor, como por suas cooperativas. A maioria delas está na modalidade investimento, financiamento que tem apresentado um crescimento expressivo no país nos últimos anos. Cerca de ¼ da verba dos financiamentos do Plano Safra 2020/2021 – hoje a principal fonte de recursos do crédito rural – é destinada para investimentos. Neste ano, essa modalidade ganhou um incremento de 6,5% em relação ao ano anterior, abarcando R$ 53,4 bilhões, de um total de R$ 236,3 bilhões de recursos do novo plano. O gerente operacional rural do BRDE, Olavo Gavioli explica que a principal finalidade da modalidade é fomentar os investimentos no campo. Esse tipo de crédito pode ser aplicado em bens duráveis e serviços na propriedade. Ao longo de sua trajetória, o banco de desenvolvimento se tornou um dos mais importantes financiadores agrícolas do país, se aperfeiçoando em viabilizar projetos de investimentos diretamente com o produtor, cooperativas centrais, de produção e agroindústrias. “Como possuímos uma equipe reduzida e especializada, o contato com os produtores e com a agroindústria se torna muito próximo e o atendimento bastante rápido. Além disso, geralmente trabalhamos com os prazos

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máximos de financiamento nas linhas do Plano Safra, o que dificilmente ocorre nos demais repassadores desses recursos”, afirma Gavioli. De acordo com dados do Balanço de Financiamento Agropecuário da Safra 2020/2021, sobre as contratações do primeiro mês de programa, a modalidade de financiamentos que mais cresceu foi a de investimentos, com um aumento de 110% no comparativo com o mesmo mês do ano agrícola passado. Quanto às linhas de investimento, a maioria subiu mais de 100%, com destaque para Moderagro (535%), Moderinfra (413%), Programa ABC (134%) e Inovagro (175%), que estão entre os carros-chefe do BRDE. Para Gavioli, a procura por financiamentos desse tipo aumentou nos últimos três anos, principalmente, pela situação da China em relação à gripe suína. “Como precisou reduzir significativamente o seu rebanho suíno e é o principal consumidor de proteína animal, a China buscou suprir essa necessidade fora do país. O Brasil, como principal provedor mundial de alimentos, se consolidou como um dos principais exportadores de grãos e de proteína animal, não somente para a China, como para diversos outros países. Houve uma maior demanda de produção para as agroindústrias e cooperativas, o que resultou em investimentos em construção e modernização de novas unidades, causando um efeito cascata até o produtor”.


Olavo Gavioli BRDE conta com 11 linhas de crédito para o agronegócio, que podem ser acessadas tanto pelo produtor, como por suas cooperativas.

PRINCIPAIS PROGRAMAS DE CRÉDITO DE INVESTIMENTO DO BRDE ABC

Exemplos de aplicação: Implantação de viveiros de mudas florestais, adequação ao sistema de agricultura orgânica, manutenção e melhoramento de sistemas de tratamento de dejetos e resíduos, projetos de recomposição e manutenção de áreas de preservação permanente ou de reserva legal. Limite: Até R$ 5 milhões.

Inovagro

Exemplos de aplicação: Projetos de inovação tecnológica nas propriedades rurais. Limite: Individual de até R$ 1,3 milhões; Coletivo de até R$ 3,9 milhões. *Caso o financiamento seja para custeio associado ao projeto ou para aquisição de matrizes e reprodutores, o limite é de até 50% do financiamento.

Moderagro

Exemplos de aplicação: Investimentos fixos e semifixos relacionados a atividades como apicultura, avicultura e suinocultura; obras de adequação sanitária; implantação de frigorífico; recuperação de solos; construção e ampliação de instalações destinadas à guarda de máquinas.

Exemplos de aplicação: Máquinas e equipamentos agrícolas novos; tratores e colheitadeiras usados; plantadeiras e semeadoras usadas. Limite: Até 85%.

Prodecoop

Exemplos de aplicação: Estudos, projetos e tecnologia; obras civis, instalações e outros investimentos fixos; máquinas e equipamentos nacionais novos. Capital de giro associado ao projeto de investimento limitado a 30% do valor financiado para investimento fixo. Limite: Até 90% do valor limitado a R$ 150 milhões por Cooperativa Singular ou Cooperativa Central.

Pronaf Agroindústria

Exemplos de aplicação: Investimentos que visem o beneficiamento, o processamento e a comercialização da produção agropecuária, de produtos florestais e do extrativismo, ou de produtos artesanais, e a exploração de turismo rural; investimento em tecnologias de energia renovável.

*Caso o financiamento seja para a aquisição de matrizes e de reprodutores de ovinos, caprinos e bovinos de leite o limite é de até R$ 400 mil.

Limite: Até R$35 milhões (R$ 45 mil por associado). Para o investimento em cotas - partes (capital de giro, investimento e/ou custeio) o limite é de até R$ 40 mil (produtor) e de até R$ 40 milhões (Cooperativa Singular).

Moderinfra

PCA

Limite: Individual de até R$ 880 mil e coletivo de até R$ 2,64 milhões.

QUER SABER MAIS? O podcast InfoAgro apresenta episódios exclusivos do BRDE com dicas valiosas sobre crédito rural! OUÇA AGORA!

Moderfrota

Exemplos de aplicação: Implantação, ampliação, reforma e adequação de sistemas de irrigação, além da aquisição, implantação e recuperação de equipamentos e instalações para proteção de cultivos. Limite: Individual de até R$ 3,3 milhões; Coletivo de até R$ 9,9 milhões.

Exemplos de aplicação: Investimentos individuais ou coletivos para construção, modernização, reforma e ampliação da capacidade de armazenagem de grãos, frutas, tubérculos, bulbos, hortaliças, fibras e açúcar. Limite: Até 100% do valor.

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ANÁLISE DE MERCADO Por Felippe Serigati e Roberta Possamai

INFLAÇÃO DE ALIMENTOS TEMPORÁRIA E SEM DISSEMINAÇÃO (ATÉ O MOMENTO)

MERCADO INTERNO DE ALIMENTOS AQUECIDO

No momento em que este artigo é escrito já é possível afirmar com segurança que a economia brasileira tecnicamente já saiu da recessão e que alguns setores já operam em nível superior àquele do período pré-pandemia. Os números do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) deixam claro que a economia brasileira tem crescido desde o mês de maio. É importante ter claro que, apesar dessa recuperação, a economia brasileira, como um todo, ainda opera em um

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nível bem inferior ao período pré-pandemia e deverá encerrar o ano menor do que era em 2019 - de acordo com a mediana das

projeções da Pesquisa Focus do Banco Central, o PIB brasileiro deverá contrair em torno de 5% em 2020.

ÍNDICE DE ATIVIDADE ECONÔMCA (IBC-BR):

VAR. MENSAL (% A.M.) COM AJUSTE SAZONAL

1,06%

-5,93%

Por trás desse processo de recuperação, merecem destaque as políticas de transferência de renda adotadas pelo Governo Federal, notadamente, o Auxílio Financeiro Emergencial. De acordo com a previsão orçamentária da Secretaria Especial de Fazenda, do Ministério da Economia, o volume de recursos alocados com medidas socioecômicas deve somar R$ 445.3 bilhões de reais até o final do ano. Desse montante, o Auxílio Emergencial deve responder sozinho por R$ 321.8 bilhões, atendendo mais de 65 milhões de pessoas. Esse expressivo volume de recursos tem aquecido o mercado interno para alguns produtos, entre eles, os alimentos. De acordo com o Índice de Produção Agroindústrial (PIMAgro) do FGV Agro, a produção de Pro-

Ago-20

Jul-20

Jun-20

Mai-20

Abr-20

-9,27% Mar-20

Fonte: Banco Central

5,33% 3,71% 1,68%

0,11% 0,41%

Fev-20

8% 6% 4% 2% 0% -2% -4% -6% -8% -10%

Jan-20

(% a.m.)

C

ertamente, a inflação de alimentos foi um dos temas mais discutidos ao longo do segundo semestre. De fato, nos últimos 12 meses, enquanto a inflação geral medida pelo IPCA acumulou uma alta de 3.1%, os alimentos ficaram, na média, 11.8% mais caros. Há vários fatores que explicam essa forte elevação do preço dos alimentos, entre eles: • Demanda mais aquecida no mercado doméstico devido aos programas de transferência de renda, com especial destaque para o Auxílio Emergencial; • Elevação das cotações das commodities agrícolas no mercado internacional, resultado tanto do início do processo de recuperação da economia mundial quanto da recomposição dos estoques de alimentos em alguns países; • Exportações agropecuárias brasileiras mais aquecidas, pressionando os preços no mercado interno; • Dólar mais caro no mercado cambial brasileiro. Sem dúvida, a elevação do preço dos alimentos é algo que pode trazer desconforto para os domicílios, porém, em geral, são choques temporários, ou seja, é uma inflação que deve se dissipar nos próximos meses e, até o momento, não deve mudar a atual política de juros do Banco Central.

dutos Alimentícios já acumula uma alta de 5.8% em 2020 (entre janeiro e setembro). Ou seja, apesar da pandemia, a produção desse segmento da agroindústria deve registrar expansão robusta este ano.

DÓLAR ALTO, RECUPERAÇÃO ECONÔMICA MUNDIAL E RECOMPOSIÇÃO DOS ESTOQUES = EXPORTAÇÕES AQUECIDAS

De acordo com os números da pesquisa do Desempenho Comercial do Agronegócio, do FGV Agro, as exportações do universo agro brasileiro já acumulam uma alta de 5.8% em 2020 (entre janeiro e setembro). Considerando apenas os produtos agropecuários (ou seja, deixando de lado os produtos agroindustriais), essa expansão já supera 13.3%.


IPCA: INFLAÇÃO DE ALIMENTOS VS. NÚCLEO DA INFLAÇÃO (VAR. ACUMULADA EM 12 MESES – % A.A.) 16%

IPA - alimentação e bebidas Meta (4,0%) Teto (5,5%) 11,8% Piso (2,5%) Núcleo da inflação

14% 12% 10% 8% 6% 4% 2%

1,2%

0% -2% -4%

Jan-15 Mar-15 Mai-15 Jul-15 Set-15 Nov-15 Jan-16 Mar-16 Mai-16 Jul-16 Set-16 Nov-16 Jan-17 Mar-17 Mai-17 Jul-17 Set-17 Nov-17 Jan-18 Mar-18 Mai-18 Jul-18 Set-18 Nov-18 Jan-19 Mar-19 Mai-19 Jul-19 Set-19 Nov-19 Jan-20 Mar-20 Mai-10 Jul-20 Set-20

As exportações do agronegócio brasileiro estão aquecidas por diversos motivos: • Mesmo com todas as turbulências causadas pela pandemia, o universo agro nacional apresentou grande resiliência e conseguiu abastecer tanto o mercado interno quanto os compradores externos sem qualquer interrupção relevante. Enquanto alguns importantes países exportadores de alimentos tiveram problemas ao longo do seu processo produtivo ou decidiram reter exportações, o agro brasileiro operou normalmente, inclusive suprindo mercados que outros países deixaram de atender; • Os mercados de commodities agrícolas também foram pressionados pela decisão de alguns países - notadamente, no leste asiático e no Oriente Médio - de reforçar seus estoques de alimentos; • Essa decisão, combinada a recuperação econômica mundial, levou a um aumento da demanda por alimentos e, consequentemente, a uma elevação na média das cotações de commodities agrícolas em suas principais praças internacionais. Por si só, esse mercado internacional mais aquecido já seria um ambiente favorável para as exportações agropecuárias brasileiras. Porém, essa conjuntura foi amplificada pela depreciação do real em relação ao dólar, por um lado, tornando as produtos nacionais mais competitivos no mercado internacional e, por outro, elevando o preço de diversos alimentos no mercado doméstico, adicionando fôlego à inflação de alimentos.

Fonte: Banco Central

alimentos deve ceder, como já foi visto várias vezes. Por exemplo, entre 2015 e 2016, a inflação de alimentos chegou a dois dígitos, cedendo em 2017 e operando em patamares negativos até a greve dos caminhoneiro em 2018. Além disso, vale ressaltar que, até o momento, a alta dos preços dos alimentos não contaminou o preço de outros setores;

enquanto, nos últimos 12 meses, a inflação de alimentos já acumula uma alta de 8.8%, o núcleo da inflação medida pelo IPCA (isto é, a inflação sem alimentos e preços administrados) desacelera e acumula uma expansão de apenas 1.2%. Logo, se esse quadro se mantiver, não deverá haver qualquer alteração na política de juros do Banco Central.

ATÉ O MOMENTO, A INFLAÇÃO DE ALIMENTO É UM FENÔMENO LOCALIZADO

FOTO: ELLA OLSSON/PEXELS

Seguramente, uma inflação de alimentos pode gerar desconforto junto aos domicílios. Porém, em geral, a elevação dos preços de alimentos é um fenômeno temporário resultado de algum desequilíbrio de oferta e demanda ou consequência de um choque cambial. Ou seja, em alguns meses o preço dos FELIPPE SERIGATI Doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV), professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). felippe.serigati@fgv.br ROBERTA POSSAMAI Mestre em Economia Agrícola pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). roberta.possamai@fgv.br

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MERCADO

EXPORTAÇÃO EM SC

Estabilidade nas aves e suínos em alta Em posição de destaque no cenário brasileiro como produtor e exportador de carne suína e de frango, Estado deve ser beneficiado pela projeção de aumento das exportações na suinocultura e de manutenção dos patamares de 2019 na cadeia avícola.

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s expectativas para Santa Catarina no segmento pecuário brasileiro são positivas, e o Estado deve encontrar importantes oportunidades a partir de sua posição relevante nas exportações de carnes suína e de frango, beneficiadas pela alta do dólar. É o que revela o Relatório Setorial Agro – Segmento de Proteína Animal publicado pela Bateleur com o objetivo de mapear os impactos econômicos da Covid-19 e as perspectivas para o futuro. O relatório analisa as três cadeias do segmento de carnes – avícola, bovina e suinícola – nos contextos do Brasil, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. A partir da avaliação dos mercados atendidos por essas cadeias – e das diferentes dinâmicas que as regem –, traça as principais perspectivas para o médio e longo prazo, além de elaborar estratégias a serem seguidas pelos empresários. Em 2019, a pecuária catarinense registrou o melhor desempenho da história na exportação de carnes, com um faturamento de US$ 3,12 bilhões. Os embarques de carne suína bateram recorde, e os de frango tiveram o segundo melhor resultado dos últimos 22 anos, impulsionando todo o setor de proteína animal. De acordo com as projeções da Bateleur, feitas a partir da análise das séries históricas disponibilizadas pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o volume de exportações do setor avícola deve se manter estável em 2020 na comparação com o ano passado. No entanto, o embarque de carne suína deve registrar aumento de 27,3% – cenário que beneficia a economia catarinense.

Aumento de

FOTOS: SHUTTERSTOCK E ILUSTRAÇÕESL FREEPIK

27,3%

Total: de 836,6 mil toneladas

AVES

Maior exportador de carne de frango do mundo, o Brasil responde por 34,4% de todas as exportações mundiais do produto em 2019, com 4,2 milhões de toneladas. Em Santa Catarina, a carne de frango é o principal produto exportado, com um faturamento que passa de US$ 2,2 bilhões. Esse valor representou cerca de 30,5% das exportações nacionais em 2019, colocando o Estado como segundo maior exportador do Brasil, atrás apenas do Paraná. Para 2020, a Bateleur projeta um cenário de estabilidade no que refere ao comércio internacional, com 3,99 milhões de toneladas exportadas. Em um cenário mais otimista, pode haver crescimento de até 2,64% e, em um contexto mais pessimista, queda de 2,62% em relação ao volume de 2019.

Ernani Carvalho, especialista que assina o relatório da Bateleur, chama a atenção para um aspecto que, cada vez mais, tem relevância: o crescimento da preocupação com saúde, segurança alimentar e origem dos alimentos. Essas tendências foram ainda mais aceleradas no momento pós-Covid, tornando necessária a adoção de estratégias por parte dos produtores e empresários do ramo alimentar para adequar não apenas seus processos produtivos, mas também a comunicação com os consumidores. "A busca por uma alimentação mais saudável e com menor impacto ambiental aumenta as exigências de controle sanitário em todas as etapas na produção de carnes, e oferece ao Brasil a possibilidade de ser protagonista no atendimento dessa demanda, saindo na frente em relação aos demais países fornecedores", defende. A China, que já era um dos maiores importadores das três principais cadeias de proteínas brasileiras, passou a demandar volumes ainda maiores desde o início do ano. De janeiro a agosto de 2020, os embarques de aves, bovinos e suínos à China apresentaram crescimentos expressivos. Em relação ao mesmo período de 2019, a exportação de bovinos e suínos cresceu 145,4% e 136,0%, respectivamente, a despeito de todos os problemas logísticos causados pelo lockdown chinês. As exportações de aves, por sua vez, registraram um crescimento menor na mesma base de comparação, de 29,1%. Além disso, a forte desvalorização do Real frente ao Dólar também tornou as carnes brasileiras muito mais competitivas no mercado internacional.

Estabilidade

Total: de 3 ,99 milhões de toneladas

Ernani Carvalho, especialista que assina o relatório da Bateleur, alerta para a necessidade de monitorar a relação comercial entre os EUA e a China, bem como a evolução da Peste Suína Africana e os efeitos que eventuais novas ondas de contaminação pela Covid-19

FOTO: DIVULGAÇÃO

SUÍNOS

O Brasil é o quarto colocado entre os maiores produtores de carne suína no mundo (atrás de China, União Europeia e Estados Unidos) e ocupa essa mesma posição entre os maiores exportadores do produto. Para 2020, a Bateleur projeta um crescimento de 27,3%, com um total de 836,6 mil toneladas exportadas. "Para esse cenário de projeção, consideramos que, a partir de agosto, as exportações não sustentem as mesmas taxas de crescimento apresentados até agora, uma vez que entendemos que os volumes exportados no final de 2019 já foram bastante expressivos", explica Ernani Carvalho, sócio da Bateleur e especialista em agronegócio.

PERSPECTIVAS PARA O FUTURO DO SEGMENTO

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OPINIÃO Por Eldemar Neitzke

UM MUNDO CONECTADO NA TEIA DA VIDA

O

Eldemar Neitzke É formado em Administração, com Mestrado em Gestão Estratégica, MBA em Marketing Estratégico e pós-graduado em Gestão Empresarial, Diretor da N & N Gestão de Estratégias Comerciais

ano de 2020 está sendo encerrado levando em sua história muitas adversidades e oportunidades de superação e muitas constatações, exigindo uma nova maneira de pensar e entender a vida e suas diversas nuances. Com o aparecimento da COVID-19 surgiram muitos questionamentos sobre o significado real da criação e da vida humana. Será que estamos falhando em algum aspecto quanto ao equilíbrio da vida em nosso planeta? O Criador, Deus, em sua Onipresença, Onisciência e Onipotência, teria criado esse universo maravilhoso onde seríamos subjugados para viver momentos de desafios quanto a nossa existência? Qual a importância de manter o equilíbrio do ser humano com meio ambiente, com os animais de todas as espécies, crescimento industrial, evolução econômica sustentável? A busca crescente da população em consumir proteínas e alimentos tem influenciado na degradação dos recursos naturais e preservação de uma natureza saudável? Esse é um assunto amplo e complexo, exigiria algumas páginas de reflexões e análises, assim serei mais sucinto. A leitura do livro de Fritjof Capra, “A Teia da Vida”, traz em sua essência a visão de que vivemos em um mundo conectado, interligado onde

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as ações em todo o Planeta não passam desapercebidas. O físico alemão Winfried Otto Schumann constatou que a Terra possui um campo eletromagnético, em resumo, uma pulsação, como sendo um coração, no qual os seres vivos que estivessem nessa frequência teriam menor risco de ficar doentes. Ainda podemos refletir sobre a teoria de Gaia, onde estabelece que a Terra é um imenso organismo vivo, interligado. É possível que a referência de Peter Druckor sobre o assunto “Uma borboleta batendo as asas no Brasil pode causar um furacão no Japão. Demonstra a impredictibilidade do futuro, e quão impactantes alguns eventos podem ser”. Assim, temos algumas hipóteses científicas que permitem concluir a necessidade do ser humano viver em equilíbrio, iniciando no nosso interno e evoluindo para os seres vivos do planeta. A proposta ideal seria buscar a integração entre a saúde humana e animal com o meio ambiente e a adoção de políticas públicas efetivas para prevenção e controle de enfermidades trabalhando nos níveis local, regional, nacional e global. A grande dificuldade dessa integração é conciliar as necessidades e interesses individuais, nacionais, internacionais, de investidores

públicos e privados e governos para com essas necessidades. O ser humano já passou por inúmeros desafios quanto a doenças endêmicas, pois desafiamos os limites aos quais o Universo deixou em equilíbrio. Esquecemos que toda atitude que não preserva o equilíbrio natural, vai gerar uma reação. Diz a lenda que havia uma imensa floresta onde viviam milhares de animais, aves e insetos. Certo dia uma enorme coluna de fumaça foi avistada ao longe e, em pouco tempo, embaladas pelo vento, as chamas já eram visíveis por uma das copas das árvores. Os animais assustados diante da terrível ameaça de morrerem queimados, fugiram o mais rápido que puderam, exceto um pequeno beija-flor. Este passava zunindo como uma flecha indo veloz em direção ao foco do incêndio e dava um voo quase rasante por uma das labaredas, em seguida voltava ligeiro em direção a um pequeno lago que ficava no centro da floresta. Incansável em sua tarefa e bastante ligeiro, ele chamou a atenção de um elefante, que com suas orelhas imensas ouviu suas idas e vindas pelo caminho, e curioso para saber porque o pequenino não procurava também afastar-se do perigo como todos os outros animais, pediu-lhe gentilmente que o escutasse, ao que ele prontamente atendeu, pairando no ar a pequena distância do gigantesco curioso. Tem razão senhor elefante, há mesmo um grande perigo em meio aquelas chamas, mas acredito que se eu conseguir levar um pouco de água em cada voo que fizer do lago até lá, estarei fazendo a minha parte para evitar que nossa mãe floresta seja destruída. Ao esquecer essa máxima da física que dois corpos não ocupam o mesmo lugar e tempo, sabemos da necessidade de viver em harmonia, porém o que cada um pode fazer sobre esses aspectos extremamente importantes?

FOTO: 123 RF

“O ideal é a integração entre saúde humana, animal e meio ambiente”


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