IRMÃOS CARUSO | estilo s/a | alt + arte | kafka
Rio Comicon
UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
Um dia com Chris Claremont, autor dos X-Men
O MUNDO DO RUGBY
Distribuição gratuita - Venda Proibida
UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
Uma publicação de
Assim como é a lua, é Angela Fontaneli: repleta de fases que jamais se repetem. Inclusive aqui dentro
NOVEMBRO DE 2011 - nº 003
Um esporte, sobretudo, democrático
índice
Múcio de Castro 1915
1981
Diretor Presidente: Múcio de Castro Filho Diretor Executivo: Múcio de Castro Neto Editora-Chefe: Zulmara Colussi Conselho Editorial Múcio de Castro Filho Clarice Martins da Fonseca de Castro Milton Valdomiro Roos Antero Camisa Junior Dárcio Vieira Marques Paulo Sérgio Osório Valentina de Los Angeles Baigorria Múcio de Castro Neto
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Contra a parede – Paulo e Chico Caruso - Página 8 Coluna – Paulo Ferrareze Filho – Página 14 Esporte – Rugby – Página 16 Coluna – Juliano Graccho – página 22 Estilo S/A – Página 24 Ensaio + Alt – Angela Fontaneli – Página 26 Coluna – Henrique Pompermaier – Página 38 Especial – Rio Comicon – Página 40 Alt + Tab – Marina de Campos – Página 47 Coluna – Diego Rigo – Página 48 Coluna – Luan Henrique Fogolari – Página 50 Alt + Arte – Alana Lourenzi – Página 51
MC- Rede Passo Fundo de Jornalismo Ltda Rua Silva Jardim, 325 A - Bairro Annes CEP 99010-240 – Caixa postal 651 Fone: (54) 3045-8300 - Passo Fundo RS www.onacional.com.br Fones Geral: (54) 3045.8300 Redação: (54) 3045.8328 Assinaturas: (54) 3045.8335 Classificados: (54) 3045.8333 Circulação: (54) 3045.8336 Contatos Circulação: circulacao@onacional.com.br Comercial: comercial@onacional.com.br Redação: onacional@onacional.com.br Administrativo: adm@onacional.com.br Sucursal em Porto Alegre: GRUPO DE DIÁRIOS Rua Garibaldi, 659, conj. 102 – Porto Alegre-RS. Representante para Brasília: CENTRAL COMUNICAÇÃO. Representante para São Paulo e Rio de Janeiro: TRÁFEGO PUBLICIDADE E MARKETING LTDA Avenida Treze de Maio, sala 428 Rio de Janeiro – RJ. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações sem a referida citação de autoria.
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Colaboradores UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
cheia de fases
É com calma e tranquilidade que a Alt deste mês ganha as ruas. E ela está repleta de conteúdo interessante. Destaque para a matéria sobre o Rio Comicon, evento que reúne criadores, criaturas e aficionados por quadrinhos. Marina de Campos nos conta um pouco da sua jornada em busca do homem que transformou os X-Men em um dos maiores prodígios das HQs mundiais. Além disso, a capa dessa edição está mais do que divina. E tudo por culpa da adversa Angela Fontaneli, que nos brinda com sua beleza extremamente primaveril no ensaio feito em um belo final de semana e clicado pelo fotografo Gui Benck. Por enquanto é isto. Aprecie a sua revista Alt e curta a primavera do seus sonhos. Boa leitura.
ALANA LOURENZI
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GUI BENCK
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Designer Gráfica, vinte e poucos anos, um metro e meio de altura. Viciada em café, música e filmes policiais.
Detalhista, perfeccionista e fotógrafo. facebook.com/guibenck
Henrique Pompermaier
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Luan Henrique Fogolari
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Paulo Ferrareze Filho
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juliano graccho
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hpompermaier.com - Lá tem tudo que alguém possa querer saber caso tenha interesse, e ainda de lambuja o cara cai nos meus outros trabalhos, porque assim é mais ou menos como apresentar um disco só com uma música - tipo apresentar o álbum branco com Obladi-Obladá.
É ator, estudante de Letras e criador de casos entre palavras.
É respirante e autor do blog www.entrehermes.blogspot.com E-mail: ferrarezefilho@yahoo.com.br.
Tudo sobre ele na página 22.
Daniel Bittencourt – editor.
É Nóis que voa, bruxão Editor: Daniel Bittencourt
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Diagramação: Pablo Tavares
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Projeto Gráfico: Diego Rigo – Two Think More
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Conteúdo: Marina de Campos Juliana Scchneider Pablo Lauxen Pablo Tavares Daniel Bittencourt Comercial: Caroline Bittencourt –
caroline@onacional.com.br
Foto de capa: Gui Benck Impressão: Tapejarense
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Pontos de distribuição
Anglo Americano Anhanguera Bar Brasil Beehive Beta Vídeo Boka Bokinha Carolinas Confeitaria FGV Grano Café - Bourbon Shopping Imagem Vídeo locadora IMED Le Petit Café - Bourbon Shopping London Manno Escobar Moinho Lounge Natus Drive Padaria Cruzeiro Revisteira Ramires Riviera Café Simbiose Siri Cascudo Sweet Swiss Potatoes UPF TV Velvet
PUTZ!
A Alt errou gente. E foi na matéria Argumentos Cinematográficos (Alt #2 set. 2011). Na foto da página 46, onde se lê o nome de Roberto Pirovano Zanatta, o certo mesmo é Jorge Alberto Salton. Foi mals!
sonido
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foi fechada ao som de...
Achtung, Baby - U2 (1991) Completa 20 anos neste mês, Meio renegado por Bono, vários hits da banda estão nele, tal como “One”. Nota: 10
Fôlego - Filipe Catto (2011) O debut do cantor gaúcho radicado em SP. Uma voz bela, aliada à composições ótimas. Por favor, ouça. Nota: 10
Exodus - Bob Marley (1977) Conta só com “Jamming,” “Waiting in Vain”, “One Love/ People Get Ready” e “Three Little Birds”. Enjoy! Nota: 9
Fruto Proibido - Rita Lee & Tutti Frutti (1975) Aliada às guitarras de Luiz Carlini, Rita fez uma das obras-primas do rock brasuca. Na minha opinião, o melhor disco dela. Nota: 9,5
De última (hora): “Joyride”, do duo sueco Roxette. Se puder, opte pela versão ao vivo, que é visceral. Nota: 9
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Contra a parede – paulo e chico caruso
Irmãos. De copo
desenho, as cores e a sátira política de seus cartuns e quadrinhos carregam lembranças de um tempo onde a censura e a opressão militar eram uma constante no Brasil. Hoje, no auge dos seus 62 anos, Paulo José Hespanha Caruso e seu irmão, Francisco Paulo Hespanha Caruso são os gêmeos mais famosos do desenho no país mais Tupiniquim que existe neste mundo. Paulo e Chico Caruso já passaram seus traços em diversas publicações tradicionais como Veja, Isto É, Folha de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e, é claro, no O Pasquim de Tarso de Castro e sua “corja de pensadores malucos”. E a Alt aproveitou que ela ainda nem existia no mercado e entrevistou os Carusos quando eles estiveram na cidade durante a última edição da Jornada de Literatura. E, como não podia deixar de ser, a dupla de irmãos abre a boca para comer, falar e beber (e beber) com outra de dupla de irmãos. O local? O Boka lanches. O cardápio? Este você confere agora. Por: Fotos:
Caroline Bittencourt e Daniel Bittencourt Divulgação
Quando foi que vocês começaram a desenhar? Quem quer falar primeiro? Chico: Eu sou Chico Caruso. Nosso avô materno era caricaturista e pintor amador. E começamos a fazer caricatura dos amigos dele, dele, da mulher dele, da filha dele, dos genros dele, dos professores dos netos dele, dos netos dele e aí não paramos mais. Procede que vocês faziam desenhos para pegar as gatinhas na escola? Chico: Não, não, não. Nunca pegamos coisa nenhuma com os nossos desenhos. Na verdade a gente começou a desenhar porque existia uma simpatia de que em gêmeos, sempre morria um. Então trancavam a gente para evitar que saíssemos na rua para acabar morrendo. E como nosso avô era pintor amador, a gente começou a desenhar e tal, e ele começou a botar telas e tintas (Nós tínhamos uns quatro, cinco anos de idade.)
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Apesar de cartunistas, cada um trabalhou em revistas diferentes, cada um seguiu seu rumo indiferentemente do seu traço. Como se definiu isso? Paulo: Desde pequenos nós tivemos sempre muitas diferenças. Ele (Chico) sempre foi muito prolixo. Nos desenhos inclusive. Ele desenha grandes cenários, grandes batalhas... Então, ele desenha histórias em quadrinhos. Quando a gente era pequeno ele desenhava 1500 cawboys, 500 bandidos e eu desenhava só o mocinho. Você é o bonito do detalhe, então? Paulo: Não, não, eu não fazia detalhe, não fazia cenário não fazia nada, ele faz, ele gosta do detalhe, eu gosto do envolvimento.
Gêmeos univitelinos tem este tipo de relação. Por exemplo. Gabriel Bá e Fábio Moon, que são gêmeos univitelinos e tem uma coisa de uma proximidade. Eles fazem uma coisa que nós não fazemos, por exemplo, nós nunca desenhamos juntos. A gente sempre desenha cada um no seu desenho.
Diz uma coisa: Vocês já se passaram um pelo outro? Paulo: Várias. Sempre eu por ele! Principalmente com mulheres... (risadas) Chico: Eu não. Eu era bom aluno, então eu não. Eu passava de ano mais cedo do que ele, eu era melhor aluno. Aí eu fazia a prova de francês para ele (risos). Paulo: Mas quem cantou a namorada dele pela 1ª vez fui eu. E pegou? Paulo: Não, não cheguei a pegar, porque depois daquilo... Chico: Naquele tempo ninguém comia ninguém (risadas) Era só beijinho boca?!?! Chico: Era 1963.
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Em 63 comiam gente, cara! Chico: E depois, eu era de fazer 69 (risadas). Demorou para burro para chegar 69 (risadas). Ok, mas qual é a diferença que existe entre vocês? A altura é igual, a voz é igual, a lata é igual, a lábia é igual, o quê diferencia? Chico: Eu tenho quatro bolas. Paulo: Ele é mais prolixo e
eu sou mais sucinto. É isso. Vocês usam muito a política no trabalho de vocês. E a criticam ferrenhamente. Paulo e Chico: (Cantando) No Brasil, não há mesmo quem possa. Nós nascemos com o fino da bossa. Mandamos o craque para a Europa, vendemos o time antes da copa. Aqui tudo tem seu preço, esse é o país que eu mereço. Aqui se vende advogado, deputado, senador. Eles mandam em seu favor. Com as tais medidas provisórias demos um salto na história, o mundo inteiro se espantou: Que horror! Somos inventores do jeitinho brasileiro que importamos com carinho ao mundo inteiro. Nós levamos vantagem em tudo e ainda temos um coração puro. Deus sempre esteve do nosso lado, fizemos reserva de mercado. Pode apostar no escuro... este é o país do futuro. Papapapapapa samba. Papapapapapap bunda papapapapappa Nunca rolou uma competição entre vocês? Paulo: Ahh, claro que rola! Certo, mas rola uma disputa? Paulo: Quando pequenininhos, nós ganhávamos dois carrinhos. Um para ele, um para mim. Daí, nós ficávamos brincando e ele pegava o meu. Ai eu pegava de volta e ele pegava e mordia minha mão, eu chorava, dava o carrinho para ele ai a minha mãe vinha e trazia um outro carrinho pra mim. E ele ficava com dois? Paulo: Ficava com dois. Quando ele via que eu tava com outro carrinho brincando, ele devolvia o que eu tinha ganhado e pegava o novo (risadas), entendeu? Não posso nem chamar de FDP porque eu aguento muito a mãe dele. (risadas de todos). Então Paulo, você era o preferido da mamãe? Paulo: Então, a individualidade se afirma pela comparação, pela reafirmação que existe na personalidade de cada um. Participamos num filme sobre gêmeos. E uma coisa interessante era isso: quanto mais personalidade, quanto mais intenso o caráter dos gêmeos, de cada um, a diferença aparece mais cedo. Quanto mais introvertidos eles são e quanto menos personalistas, eles ficam juntos e passam a vida inteira juntos. Ou não... Paulo: Gêmeos univitelinos tem este tipo de relação. Por exemplo. Gabriel Bá e Fábio Moon, que são gêmeos univitelinos e tem uma coisa de uma proximidade. Eles fazem uma coisa que nós não fazemos, por exemplo, nós nunca desenhamos juntos. A gente sempre desenha cada um no seu desenho. Chico : E trocar essa individualidade do desenho seria trocar características pessoais.
vada. Paulo : Chico, você fez psicanálise? Chico: Eu faço. Há 30 anos. E você? Paulo: Eu faço há 10 anos. E Passo Fundo. Vocês já pisaram aqui várias vezes. O que está diferente agora? Chico: Quando nós chegamos pela primeira vez o pessoal ia na praça. A praça do cuião. E agora não, porque os caras vão no shopping e não sei o que. Então acabou, mudou a escala. Antigamente era sei lá, 80 mil pessoas, agora são 200 mil pessoas morando aqui.
Como assim rotativo? Paulo: Um complementa o outro. Tem essa questão de que ele foi para o Rio de Janeiro e virou carioca. E eu estou em Sampa. As uchos diferenças se impuseram e Os irmãos, ainda crianças. Picorr cada um tomou seu partido. Eu fiz um trabalho sobre Sampa e o Múcio de Castro Filho foi quem nos convidou para fazer isso. Eu fiz um livro sobre São E o que você pensa disso? Melhorou ou pioPaulo e ele um livro sobre o Rio. Eu já fiz o meu e rou? ele ta devendo esse livro sobre o Rio até hoje. Ele Paulo: Você vê esse bar aqui. O Boka era só aquinão fez porque ele é carioca (debochando). lo ali (aponta para a frente do bar), agora olha Chico: Mas se eu fosse baiano demoraria mais aqui. Até jardim tem aqui. ainda (risos) Chico: Passo Fundo estava a beira do abismo e deu um passo adiante. Vocês gostam de tirar sarro. Vi vocês autografando um o livro do outro e as pessoas nem Tem uma história do Paulo aqui em Passo Funnotavam. do que é bem folclórica. Reza a lenda que você Chico: Ele não sabe disso, mas eu autografei vátomou uma garrafa de whisky no túmulo do Tarrios livros dele. so de Castro. Procede? Paulo: Sim, eu e Eric. Nós trabalhávamos no jorHoje vocês trabalham no mesmo ramo, mas nal O Nacional do Rio de Janeiro. Já tinha a histojá teve aquele lance de cada um ir para lados ria biográfica de O Nacional de Passo Fundo. Aí o opostos? Tarso, depois de várias experiências, resolveu rePaulo: Teve claro. Ele era comunista e eu era hippie. editar o O Nacional no Rio de Janeiro com o apoio Aí depois ele vinha pedir as minhas roupas para ir de Leonel Brizola, que infelizmente não compareao show do Caetano ceu, né? (risos) Veloso (risadas). O Tarso foi muiChico: A identidade to importante na se estabelece denminha carreira tro de um ponto de porque ele favista relativo. Enzia parceria. Ele tão, não é a identichamou primeiro dade de cada um, o Chico para traporque um está balhar na revista sempre ligado ao Careta. Aí o Chioutro. Não é uma co fez a primeira identidade que se história e não foi constrói como se mais. E o Tarso fosse uma música. veio atrás de mim Nós temos uma e eu conheci o relação, tem uma vácuo que o Chicoisa que é derico tinha deixado. Hoje é dia de rock, bebê
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Existe uma liderança entre vocês dois? Um é líder ou não? Paulo: O negócio é rotativo. Tivemos uma fase em que o Chico era magro eu era gordo, aí mudou. Mas ele é músico, eu não sou. Ele toca piano. Então, ele faz as músicas eu faço as letras. É complementar e é rotativo, quer dizer: um vai passando por cima do outro e nós vamos rolando há 61 anos.
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Mais uma vez, assim como com a Marilene... Daí no O Nacional eu tive uma ascensão profissional. Eu passei a ser editor. Eu fazia a capa do jornal, fazia ilustração para capa, discutia pauta... Então a coisa foi muito intensa. Daí chegou uma hora que sem a sustentação econômica, a coisa começou a desmoronar. Eu cheguei para o Tarso e falei: Olha, eu não vou mais continuar. E o Tarso, daquele jeito filha da puta dele, ironizando, bem na hora que nós mais precisamos de você. Mas aí ficou este apego pelo Tarso. Então, quando ele morreu, eu acompanhei ... Chico: Eles eram amigos de copo. Paulo: Quando acabou o jornal, logo em seguida o Tarso entrou em falência física, aí depois ele faleceu. E o primeiro encontro que nós tivemos, eu e o Eric Nepomuceno (jornalista, escritor e tradutor), foi aqui em passo fundo. Daí fomos lá e tomamos um brinde no túmulo do Tarso com o Múcio né (os dois estão enterrados no mesmo local)! O Múcio de Castro pai. Pai do Múcio de Castro Filho e que é avô do Múcio de Castro Neto. Aí, fizemos um brinde lá, uma celebração e bebemos em lembrança do Tarso.
O Tarso foi muito importante na minha carreira porque ele fazia parceria. Ele chamou primeiro o Chico para trabalhar na revista Careta. Aí o Chico fez a primeira história e não foi mais. E o Tarso veio atrás de mim e eu conheci o vácuo que o Chico tinha deixado. Mais uma vez, assim como com a Marilene...
tinha muita gente em torno dele. Ele foi o fundador de O Pasquim. O Tarso de Castro foi um cara que mudou o modo de se fazer jornalismo no Brasil. E vocês vivenciaram isso. Como vocês vêem o jornalismo que era feito naquela época como está tudo hoje? Paulo: A gente passou por uma fase de mudança dos patrões, que começaram a demitir os diretores de redação, que eram jornalistas como Josué Guimarães, por exemplo. E daí foi a passagem para os herdeiros. O Mucião passou pro Mucinho que passou para o Muciolini. Então essa foi a primeira mudança. A segunda foi a questão tecnológica também. E o Tarso, eu me lembro dele com a máquina de escrever, que ele batia ela dedo em dedo, e a garrafa de whisky na gaveta. Essa coisa que é o registro de uma época. Agora, uma coisa que eu sempre achei notável, é que nesse momento tinha um entrosamento, Por exemplo, eu trabalhei com o Tarso e depois eu trabalhei com Mino Carta e achei que existia uma rivalidade entre eles, o que permitia fazer uma crítica um ao outro. E nunca houve isso. Na verdade, quando eu me referia criticamente do Tarso para o Mino e vice e versa, os dois sempre defendiam um ao outro apesar deles serem diferentes. E isso porque tinham uma comunhão a respeito do que era notícia, do que era postura do jornalista. E agora essa coisa se diluiu. Hoje em dia isso não existe mais.
Mas é uma coisa que eu não faria hoje. Até a dona Ada (mãe de Tarso), que é viva, ficou muito preocupada com isso, porque não era para deixar a gente ir ao túmulo porque ele havia sido roubado. E era uma vergonha, mas naquele momento era importante para a gente, pois tinha um significado. A gente queria resgatar a vida. Tudo que teve de bom na vida dele. Era o último brilho. O último trago.
Legal. Voltando sobre a questão de estilo? Como que começou? Um copiou o outro? Paulo: Eu pegava o filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, por exemplo, e transformava em história em quadrinho. Bem irônica, sarcástica. Daí isso é uma coisa que a gente faz: caricaturas da realidade, no texto. A gente faz história em quadrinho de caricaturas.
Ele era difícil, né? Paulo: Era difícil. Ele era um cara muito queimado e brabo. E daí era difícil. Mas ele, como pessoa, era muito afável. Era um cara amoroso. Chico: Encantador (sarcástico). Paulo: Ele foi um cara que marcou a carreira de muita gente, não só a minha. Ele
Então, um completa o outro desta forma? Chico: Exato. Então acabamos a entrevista, pronto! (risos)
Então o Chico faz a charge com os personagens que vão evoluindo no cinema, que é quase como se fosse uma história em quadrinho. Eu cheguei a fazer durante 20 anos na Istoé uma história em quadrinho, que foi aberta pelo espaço que o Tarso me abriu pelo Bar Brasil na revista Careta, mas era uma história em quadrinho de política.
Não, ainda tem meia garrafa. Paulo: Ele sempre gozou antes de mim... Bom, que artistas, cartunistas que vocês vêem como um novo nome? Paulo: A evolução da espécie é interminável. Eu, por exemplo, gosto muito de um rapaz que é o Jean, que publica na Folha de São Paulo. Ele fez
Hoje em dia é muito fácil para o cartunista falar de política, mas antigamente era mais difícil. Como é que funcionava? Paulo: Eu acho que hoje, com essa liberdade total que a gente vive, houve uma migração. Por exemplo, começou com o pessoal do Casseta & Planeta. Eles foram mais pra área de comportamento, eles abdicaram um pouco da política. Agora, tem essa outra realidade, que é o filho do Chico fazendo o stand up, né. Aí passou a ter um outro contexto. A gente faz um show musical, com banda, com roupa... E o cara vai com um banquinho e um microfone e não precisa de mais nada. Vocês já tentaram fazer stand up?? Paulo: Não, nossa praia é outra, não é stand up. Stand up é uma coisa de tradição norte-americana ai que pegou aqui na garotada. Mas a gente não tem essa praia ai. Chico: Stand up é coisa de quem não tem o que fazer. E nós temos o que fazer. Temos que fazer desenho e temos que colocar este desenho em duas ou três dimensões, quer dizer, com o som e depois com o gráfico, então são quatro dimensões. (Chico arrota, e Paulo diz, agora com esse arroto é a quinta... hahahah) Chico: isso é um soluço...
Paulo: Ele também está com a experiência de passar para televisão. Ele está fazendo um jogo rápido na Globo lá, que passa por uma equipe de desenho em 3D que pega o storybord dele e monta volumetricamente e ele vai lá e põe a voz. Só faz a voz. Chico: Então eu desenho com a voz, e ele pega os meus bonecos e (fica soluçando e não termina.) E a questão do patriotismo? Como é que funciona o desenho de vocês em relação a isso? Paulo: A gente encara isso como uma autocrítica muito forte porque o patrocínio foi muito usado em uma época em que os militares estavam no governo. Eles vigiavam, botavam o cara na cadeia porque brincava. Eu acabei de fazer um desenho que é a Dilma de faxineira, varrendo um mar de lama que é o mapa do Brasil. É um desenho que poderia ser considerado até um atentado a um símbolo nacional. Essa coisa de brincar com a bandeira. Como o Jaguar, que foi em cana porque fez o quadro do Pedro Américo, o Dom Pedro declarando a independência dizendo: eu quero mocotó! E os caras na época acharam que isso era um atentado a um símbolo nacional. E não era, por que o quadro do Pedro Américo não é símbolo nacional. Não tem nada que ver. No fundo o uso que se faz do patriotismo é uma coisa discutível. E a gente não entra nessas, a gente tem uma sensação crítica com relação ao patriotismo. Independente de termos a nossa bandeira, de termos conquistado nossa liberdade, a nossa pátria é a liberdade de expressão. Mas tem humor no meio. As pessoas usam o humor para bater no Brasil. E aí? Chico: Bater não. É para ver se a gente ajuda a fazer os outros entenderem. O menor conto do mundo, do Eduardo Galeano, diz assim: “O menino nunca tinha visto o mar, aí o pai leva o menino para ver o mar. Daí eles chegam na frente do mar e o menino fala assim pro pai: me ajuda a ver”. Quer dizer, fala alguma coisa. É para isso que nós estamos aqui, é isso que nós fazemos, nós ajudamos os outros a ver. Ou pelo menos nós tentamos. Paulo: Só pra complementar aqui, como eu falei que a nossa pátria é a nossa liberdade de expressão, lembro daquela outra frase que é assim: O patriotismo é o refúgio dos canalhas. Vocês acham que a mulher tem que se valorizar? E se tem, qual é o ponto? Chico: O ponto G. O pessoal do Casseta diz assim: Qual é a grande contribuição que a mulher pode dar ao humor? É entender a piada. Uma frase para terminar. Paulo: Faça qualquer coisa que ninguém nunca faria. UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
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um desenho uma vez que era sobre a derrubada das árvores, que era um caminhão com umas três toras de eucaliptos derrubados, e encima um garotinho dizendo assim: 99, 100, lá vou eu. (risadas). Esse cara tem uma coisa calorosa, afetiva com relação aos personagens. Não é um cara muito sarcástico. O Allan Sieber também é outro cara absolutamente punk, ele tem um negócio agressivo. Chico: eu gosto mais do Carlos Gomes porque é um desenhista vigoroso, fantástico. É um mineiro que abainou. (risadas).
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paulo ferrareze filho
AMANTES NO INVERNO
Algumas amantes são exclusivas do inverno. Digo amantes no sentido de fazer amor e não no sentido-comum-traiçoeiro... que na verdade não é tão traiçoeiro assim. Interfonei e subi. Quando sai do elevador ela me olhou com um olhar de “você não tem jeito mesmo”. - Encontros e desencontros da vida, ela disse. - Arte do reencontro, eu disse, plagiando o grande de Morais pela metade. Sou um grande plagiador da vida. Plagiar as coisas pela metade não leva ninguém pra cadeia. E como a imoralidade nunca tirou meu sono, vou fazendo de conta que tudo em mim é inédito como uma verruga nova. É preciso muita auto-ilusão pra não ficarmos bastante decepcionados com quase tudo que a vida tem pra nos oferecer. Alguns amores de amantes são sazonais, às vezes, amantes de verdade ficam meses sem nenhum contato. Acho que é possível chamar de amor o amor de uma noite apenas e, por isso, é bem provável que eu fique sem um amor tradicional como são esses que completam bodas. Falta boa-fé nos relacionamentos de hoje, e boa-fé não tem nada a ver com fidelidade. Falta honestidade com relação aos nossos desejos humanos quando nos juntamos com alguém. Jorge Amado me afiança com a Dona Flor, que repartia seus desejos humanos entre a subversão da morte e a metódica da vida. Sentir perenemente é coisa de gente mecânica. As engrenagens são assim, operam independentemente do clima, do estado de espírito ou do humor da máquina. Há quem ainda acredite que os sentimentos podem ser tão estáveis quanto são as engrenagens de um relógio, como se os desejos fossem afetos de uma calculadora. Quem acredita que a realidade pode ser batizada/rotulada/nominada, acaba convencido de que amantes são pares adjetivados pela mácula do pecado. O vinho é o pretexto eterno dos amantes de inverno. Ainda somos acostumados a fazer mil rodeios antes de tr**ar efetivamente. Depois de uns bons tragos de vinho o amor nasce em
qualquer coração que seja de verdade. Vinho tinto, claro! Deve ser porque o vinho tinto é escuro como sangue vivo. Deve vir daí aquela história do sangue de cristo que justificava e até hoje justifica o alcoolismo dos sacerdotes. Quem dera, só enchendo a cara pra aguentar a santa castidade (que ao meu ver é demoníaca castidade). Aliás, a santa castidade deveria ser chamada de santa paciência.
Sentamos ao redor da mesa de centro do apartamento dela. Uns dvds de música boa na televisão-quadro-LCD-3D-PQP de gente rica. O vinho estava servido e as conversas eram suportáveis. O cabelo dela cheirava bem, assim como o perfume do incenso. Os peitos siliconados dela me olhavam atrás da blusa de linha branca e do sutiã de alças que era como o suporte de um grande arrepio. O fim da garrafa trouxe o instinto de androgenia, que é um jeito bonito de dizer que eu tava com um tesão filho da puta. Mas as mulheres gostam de fábulas, gostam de dizer que a culpa pelo desejo é da embriaguez e não do desejo em si. Devem ser os resquícios de uma cultura que foi muito sacana com as mulheres. Se eu tivesse sido mulher antigamente, morreria queimada, assim meio puta meio Joana D’arc. O sexo com as mulheres começa com o modo como falamos no telefone. Desde a ligação elas começam uma odisséia que só termina com o café da manhã que ela nos preparará, parecendo que tivemos uma noite de cinema. O desejo de sentir-se desejada e viver numa história inventada pelas comédias românticas e não pelas comédias de verdade do Woody Allen, sempre são o veneno que as próprias mulheres fazem questão de tomar. O instinto de androgenia trouxe mais uma garrafa. O vinho percorria cada fio de músculo. O álcool já não tinha casa dentro de nós porque todas os espaços estavam ocupados. Conversa vai, conversa vem. O pau dava umas levantadas, depois se recolhia, devia estar achando tudo um saco maior que o dele. O papo continuava e continuava e continuava. As pálpebras começaram a cair nos olhos... mesmo sem ser sacerdote, as vezes é preciso uma santa paciência celestial.
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UMA UMAREVISTA REVISTAPLURAL PLURAL LLAARRUULLPPAATTSSIV IVEERRAAM MUU
Já ouviu falar nos All Blacks? E em Los Pumas? Talvez nos Les Bleus? Springbok? Wallabies? Não? Bom, são apelidos de algumas das seleções de rugby mundo afora. Já ouviu falar em rugby? Também não? Pois saiba que o rugby é o segundo esporte coletivo mais praticado no mundo. E Passo Fundo já conta com seus representantes. É o Planalto Rugby Clube, que entra tackleando (não sabe o que é tacklear? Leia o significado no gráfico na página 19) o mundo do...
GBY, .RU ..UM ESPORTE DEMOCRÁTICO Por: Pablo Tavares Fotos: Divulgação
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m uma das passagens do lindo filme Invictus 17 (2009), de Clint Eastwood, um dos personagens, ao definir grosseiramente o rugby, diz que “é um jogo de hooligans praticado por cavalheiros”, enquanto o futebol é “um jogo de cavalheiros praticado por hooligans”. Embora pareça antagônico comparar os dois esportes, não é tão difícil acharmos semelhanças entre o rugby e o futebol, já que o esporte da bola oval “surgiu” da prática do esporte bretão. Rugby é o segundo esporte coletivo mais praticado no mundo, perdendo apenas para seu irmão mais velho (o da “gorduchinha”). Popularíssimo em países como Inglaterra (terra natal), Austrália, Nova Zelândia, Argentina e África do Sul (vários estádios da Copa do Mundo de Futebol de 2010, sediada por eles, eram estádios de rugby adaptados), no Brasil a prática ainda não é tão popular, mas vem crescendo a cada dia. E em Passo Fundo não é diferente. A cidade é sede do Planalto Rugby Clube, time surgido da vontade de alguns amigos em difundir o esporte na região, mas que hoje já conta com várias outras pessoas que procuraram conhecer o rugby e se interessaram em praticar.
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Um time regional O Planalto Rugby Clube, embora seja sediado em Passo Fundo, é uma espécie de time da região do planalto gaúcho (vem daí o nome). “O clube foi fundado em 30 de abril de 2011, e foi formado da vontade de alguns companheiros do time que já praticavam e que queriam trazer a pratica do rugby para a região. A princípio, alguns dos que iniciaram jogando se conheciam, mas a grande maioria foi se conhecendo a partir dos treinos, até porque reunimos no time jogadores de outras cidades da região”, conta Lucas Cabral Ribeiro, jogador do Planalto Rugby Clube. Lucas, que começou a se interessar pelo rugby a partir de vídeos na internet e de um familiar que praticava o esporte (regras básicas do rugby na página 19), conta que, quando conheceu o pessoal que estava empenhado em montar o time, topou a ideia na hora. “Logo comecei a praticar e a convidar meus amigos para conhecer o esporte”, diz. Foco em estrutura Embora o Planalto Rugby Clube conte com praticantes assíduos, a profissionalização do time ainda é um sonho distante. “Primeiro pensamos em estruturar bem a equipe, participar de alguns campeonatos aqui no Estado e a partir dessa divulgação buscar cada vez mais parceiros e apoiadores para que possamos profissionalizar a nossa equipe”, pontua Lucas.
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Rugby. Isso ainda vai ser grande no Brasil Assim como o slogan da famosa marca de material esportivo, Lucas compartilha da mesma ideia. “Acredito que o rugby tem tudo para ser um esporte com uma popularidade maior (no Brasil), até porque o número de clubes vem tendo um bom crescimento no Brasil, as federações estaduais vêm se fortalecendo com isso. Até mesmo a mídia nacional esta mostrando mais o esporte, noticiando e transmitindo alguns jogos. Outro fator que vai contribuir para o aumento da popularidade do esporte em nosso país é que nas Olimpíadas de 2016 o rugby vai ser uma das modalidades de competição. Isso além de motivar os que já jogam vai ajudar na divulgação do esporte e trazer novos jogadores. Além disso, o crescimento do esporte não está tão distante do Rio Grande do Sul, por exemplo, temos a construção da primeira arena de rugby em Bento Gonçalves, que foi construída para os jogos sul-americanos e que na final do campeonato gaúcho contou com a presença de mais de 2 mil pessoas. Tudo isso mostra o fortalecimento do esporte no país”, conta.
CO UM POU DE HIS
TÓRIA
William Webb Ellis, o dono da disda córdia, mas que dá nome à taça Copa do Mundo de Rugby (ao lado)
A história do rugby é controversa. A versão mais difundida é a de que no ano de 1823, na Rugby School, na cidade de Rugby, Inglaterra, um aluno chamado William Webb Ellis, tomou a bola em suas mãos e, desrespeitando as regras do futebol vigentes na região (Rugby School Football Rules), que permitia que a bola fosse segurada com as mãos (mas somente se o jogador recuasse do ponto onde pegou a bola), avançou rumo ao campo adversário, enquanto os oponentes
tentavam segurá-lo para impedir a sua progressão. Mas muitos historiadores defendem a tese de que a essência do rugby data de outra época e de lugares distintos da Europa, e que, portanto, não foi William Webb Ellis quem “criou” o esporte. O que há de consenso é que o rugby surgiu de uma variação do futebol, tanto é que por muito tempo foram tratados como a mesma coisa (!), vindo a separar-se apenas em 1871. Fonte: http://blogdorugby.com.br
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Democrático, acima de tudo Mas a característica mais bela do rugby é a democracia, como conta Lucas. “Não importa se você é gordo, magro, baixo ou alto, todos têm espaço e uma função no time. Mais interessante ainda é o espírito de coletividade que o jogo traz para seus praticantes, por exemplo, de todos os esporte que pratiquei até hoje esse é o que tu mais depende de seus companheiros para fazer algo, como brincamos às vezes, é muito difícil existir um Pelé no rugby. Interessante lembrar que o rugby também tem espaço para as mulheres, onde o Brasil hoje conta com uma das melhores seleções femininas da América do Sul, tendo conquistado sete títulos sul americanos, sendo assim, temos a ideia de organizar um time feminino no Planalto também”, finaliza. Pensando melhor, a definição de rugby dada pelo personagem de Invictus não está tão errada assim. O rugby aceita todos, o rugby não discrimina ninguém. Nelson Mandela só conseguiu a união plena dos habitantes da África do Sul com a ajuda da seleção de rugby de seu país. Porra, o rugby já uniu um povo mazelado por um regime segregacionista! Acho que pode, sim, fazer algo por nós. UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
PRINCIPAIS
SELEÇÕES
All Blacks (Nova Zelândia)
A Seleção Neozelandesa de Rugby é talvez a melhor equipe de rugby do mundo. Conhecidos como All Blacks (todos pretos), a seleção recebeu o apelido dado devido a um artigo britânico que se referia ao movimento de avanço sistemático da equipe como all backs (todos na retaguarda). Esta expressão foi mal entendida e se tornou All Blacks, que faz alusão ao uniforme de hoje em dia. Conquistaram a primeira Copa do Mundo em 1987 e ocupam a primeira posição do ranking da Federação Internacional de Rugby.
Seleção inglesa
Os “pais” do esporte. Carregam como símbolo uma rosa vermelha. A história da equipe começa em 1873, quando o rugby inglês teve sua primeira partida oficial, onde perdeu para a Escócia. Ganharam a Copa do Mundo em 2003.
Los Pumas (Argentina)
A Seleção Argentina de Rugby, apelidada de Los Pumas, é atualmente o melhor time de rugby da América, e ocupam o terceiro lugar do ranking da Federação Internacional de Rugby. O apelido da seleção (Pumas) acredita-se que foi resultado de um erro feito por um jornalista que acompanhava a equipe em sua primeira viagem internacional, para a África Meridional em 1965. Os jornalistas estavam tentando dar um nome à seleção (tal qual All Blacks, Springbok e afins), quando um deles viu a foto de um animal no emblema da camisa. Entretanto, se confundiu pensando que era um puma, sendo que o animal em questão era um jaguar. O apelido foi posteriormente adotado pelos argentinos, mas no emblema ainda consta um jaguar, e não um puma.
Springbok (África do Sul)
A inspiração para o filme Invictus. A grandiosa vitória da Copa em 1995, logo após ter saído do apartheid, foi retratada no filme de Clint Eastwood, onde Morgan Freeman vive Nelson Mandela. O apelido da Seleção Sul-Africana de Rugby é Springbok, uma espécie de antílope da fauna local. Trata-se de uma das cinco maiores seleções do rugby mundial, tendo sido campeã da Copa do Mundo de 1995 e Copa do Mundo de 2007. A seleção de rugby da África do Sul é, neste momento, a com mais vitórias no Mundial.
Wallabies (Austrália)
A Seleção Australiana de Rugby recebeu o apelido de Wallabies em homenagem ao marsupial Wallaby que é encontrado naquele país. Os australianos são bicampeões mundiais de rugby, mas mesmo assim estão atrás dos All Blacks da Nova Zelândia, seus maiores rivais por conta da proximidade entre os dois países.
GRANDES
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JOGADORES
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Embora o forte do rugby seja o coletivo, podemos destacar pelo menos dois grandes jogadores. Jonah Lomu, dos All Blacks, tido como o maior jogador de rugby de todos os tempos, e François Pienaar, o capitão da seleção sul-africana em 1995.
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Jonah Lomu
Filho de pais tonganeses, o neo-zelandês jogava como back. Entrou no International Rugby Hall of Fame em 9 de outubro de 2007. Lomu jogou em vários clubes da Nova Zelândia e no Cardiff Blues, do País de Gales. Pelos All Blacks, jogou 63 vezes, marcando 215 pontos. Jogou duas vezes na fase final do Mundial de Rugby, em 1995 e 1999, marcando 15 tries, o recorde absoluto da competição.
François Pienaar
Jacobus François Pienaar foi o capitão da seleção sul-africana que se sagrou campeã da Copa do Mundo de Rugby de 1995, na própria África do Sul. Este título foi extremamente importante para o país, pois aconteceu pouco depois do fim do apartheid e serviu para unir o país. No filme Invictus, é interpretado por Matt Damon.
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UMARugby REVISTA PLURAL LARULP Planalto Clube Horários e local de treino: Campo 7 da UPF (ao lado do Shandoon), das 14h30 as 17h30 - Em dias de chuva, no campo dos fundos do quartel (perto do Hospital São Vicente) Site: www.planaltorugby.com/ Facebook: facebook.com/pages/PlanaltoRugby-Clube
Mais sobre rugby:
Federação Brasileira de Rugby http://www.brasilrugby.com.br/ Federação Gaúcha de Rugby http://www.fgrugby.com.br/ Blog do Rugby http://blogdorugby.com.br
Para comprar produtos (bolas, camisas e afins)
Sul Back: http://www.sulback.com/
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Juliano graccho
Graccho, Juliano Juliano Graccho, Graccho por parte de vô e Juliano por parte de outros. Cheguei em 1988, gosto dos meus números de nascimento, me causam algum estranho orgulho, são um pouco sorteados, cheios de ímpares. Sou de touro com cabeça de gêmeos, não acredito muito em signos, logo isso não importa muito. Meus ídolos atuais são Vincent, Björk, Márcia, Renato, Dzis e mais aqueles ali. Esta lista tem certa rotatividade. Sou gay, seja lá o que isso quer dizer ou limitar, mas nas quintas gosto de mulheres, travestis e afins. No pouco de espiritualidade que me resta sou budista, com tecos esquizo-paranóides de cristianismo, mas sou um aspirante a ateu até que bem esforçado. Sou equizo-paranóide e os médicos tem tentado me chamar de bipolar. Gosto, de, usar, vírgulas, e gosto de repetir e repetir palavras. Também inventar palavras inassilábidilimissíveis. E com os passares dos tempos passei a tomar gosto por erros gramaticaes no proposital. Sou um antropófago assumido e assíduo, preciso me alimentar de gente (e arte) o tempo todo, seja ao vivo ou no virtual, seja em sexo ou em conversa. Falo de arte, de morte, de impulso, de pornografias e da vida dos outros. Se existir reencarnação, na outra vida quero ser homem hétero ou travesti, o primeiro pela facilidade e o segundo pela coragem. Não gosto de mentir. Minto muito pouco.
Não sei mentir quando a ação é de arte, aprendi isso com tio Grotowsky, considero uma afronta mentir em um ato expressivo. Aqui minto um pouco, meu nome, mas mudando algumas ordens e letras posso ser tomado como honesto novamente. Acho que isto basta como uma apresentação. Expor não, abrir. Estou abrindo, mostrar o que se passa aqui (chega a ser hilário chamar de aqui um lugar que geograficamente não existe). E o que tem aqui é o que tenho para abrir, sou mais sensível que inteligente, mais observador que leitor. Ler tem sido um suplício. Me acomodo quando penso que na verdade sou uma das vítimas da minha geração. Gentis seres bombardeados por imagens e velocidades que acabaram com a vontade de leitura. E me preocupo quando percebo que mesmo percebendo isso, permaneço no mesmo lugar. Aqui me despeço. Nu, que é como acho que deveríamos conviver. Sem vergonhas de nossas pancinhas e pelos na bunda. Se houver uma próxima, até a próxima. Grato, Juliano.
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Estilo? Sim, ele tem de sobra Por: Fotos:
Juliana Scchneider Equipe Alt
resci em meio a moda”, diz Ramiro Lima Piovesan logo na primeira pergunta que o fiz. Sim, o arquiteto de 29 anos, desde que se conhece por gente, vive em meio a roupas, tendências e lançamentos da moda masculina, afinal seu pai é dono de uma das mais tradicionais lojas de Passo Fundo do ramo, a Celestino Moda Homem. Aliás, Ramiro conta que a loja tem exatamente sua idade. Ramiro é apaixonado por moda. Trabalhou com sua família no ramo desde sempre e só deixou o negócio há quatro anos, quando resolveu seguir a arquitetura, que, na verdade não deixa de ser algo relacionado a imagem, beleza e estética. Para ele, estar bem vestido vai além de sua aparência apenas. Sua imagem fala, também, a respeito de sua profissão. Um arquiteto deve ter uma imagem bacana para passar credibilidade ao cliente, afirma ele. Na hora de escolher suas roupas, escolhe peças que tenham a ver com seu estilo. Dá preferência sempre para calças skinny, dificilmente usa camisetas e é louco por sapatos, preferencialmente os de bico fino e os coturnos. Segundo ele, é muito fácil acompanhar tudo de mais novo no que diz respeito a moda masculina, pois tem a loja ali, com todas as novidades ao seu alcance. E, essa imagem cheia de estilo está super ligada à vida do rapaz, que é reconhecido pelo seu bom gosto na hora de vestir. Além disso, ousadia e criatividade fazem parte de seu guarda-roupa. Esses tempos o arquiteto comprou uma calça vermelha, foi a um bar da cidade e lá ouviu todos os tipos de comentários a respeito da ousadia. Mas Ramiro parece não dar ouvidos as piadinhas. Cuida sim de sua imagem. É super antenado nas tendências de moda e está sempre muito bem vestido. Há quem diga por aí, que o moço desfila pelas ruas de Passo Fundo, o que não deixa de ser verdade, pois é sempre bom ver gente que cuida bem do seu visual. UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
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Para a noite, a aposta do arquiteto é em uma camisa, blazer, calça mais escura e sapato preto
Para o dia a dia, Ramiro opta por camisa, calça skinny e sapato
O look noite pode ser complementado por uma gravata de algodão, super em alta no guarda-roupa deles para composições mais descoladas
A jaqueta de couro com gola padre é peça coringa do guarda-roupas do arquiteto
Ramiro não dispensa os lenços para compor seus looks
O colete esquenta os dias de temperaturas mais amenas e dão um toque super moderno no visual
Acessórios como cinto, relógio e óculos de sol são indispensáveis
Ramiro é um apaixonado por sapatos. Em suas prateleiras muitas opções com bico mais fino e coturnos
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Angela Fontaneli é adversa. O oposto. Contrária. Antagonista de si mesma. Assim como a lua em suas diferentes etapas, que causam efeitos inexplicáveis naqueles que a fitam despretensiosamente. Texto: Fotos: Edição de moda:
Daniel Bittencourt Gui Benck Juliana Scchneider
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eus pés descalços não perdem o glamour sem o salto. Seu sorriso adverte quem quer que seja sobre seus diferentes períodos. Os olhos não ficam menos importantes sem a maquiagem que os circundam. Ela é como a lua... Repleta de fases que se repetem infinitamente, mas que nunca são as mesmas. Cíclicas, porém únicas. Adversária de si mesma. Ora sorri, outrora encara. E assim ela vai construindo sua vida. Sem roteiros, sem mapas, sem destino... Apenas seguindo os astros que iluminam seu palácio chamado mundo. UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
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Angela Fontaneli é, como diz Cecília Meirelles no seu poema Lua Adversa, cheia de fases.
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Cabelo e Maquiagem: Manno Escobar Cabeleireiros
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Confira no site fotos exclusivas do ensaio com a Angela.
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Henrique Pompermaier coluna
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espelho
(leia em frente ao mesmo)
eu perdi toda minha arrogância quando ouvi o teu silêncio: fui pego de surpresa, confesso, mas segui como um diplomata improvisando uma classe que eu não tinha e nunca tive. na verdade, parecemos dois atores de uma novela latino-americana, de produção pobre, fingimos não ligar para o que realmente existe através de uma indiferença orgulhosa e mesquinha. - eu não julgo a atitude, não - mas imagino você no futuro, casada, dois filhos, viagem planejada para algum lugar da américa central - fã de todos os best sellers eu... bem, eu fico a esmo, quase-tranquilo não espero tanto, e sinceramente, só sinto uma pena - leve quando você mente pra quem não deve
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Gals rock!
Memórias de uma fã de X-Men frente a frente com Chris Claremont na maior convenção de quadrinhos do Brasil, a Rio Comicon 2011 Por: Fotos:
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Marina de Campos Leandro Pagliaro e Marina de Campos
gora eu me lembro. Foi numa prainha minúscula perto de Capão da Canoa que tudo começou. Improvável, eu sei, mas foi assim, depois que saí de uma dessas lojas cheias de porcarias sem saber explicar por que escolhi gastar meus trocados naqueles gibis. Talvez porque fossem aquelas edições 2 em 1 por apenas R$ 3, ou quem sabe aquelas garras já tivessem algum efeito sobre mim. Nunca vou saber. E nunca poderia imaginar, naquele dia, quando abri mão do sol e do mar pra ficar na rede lendo sobre mutantes, que quase dez anos depois eu estaria na cidade-praia mais incrível do país, prestes a mergulhar de cabeça no mundo dos quadrinhos e encontrar lá nas profundezas o homem que transformou em mito os X-Men.
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2 Fachada da Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro (1) Claremont sorrindo direto para a câmera (2) A esposa Beth Fleisher, inspiração para Emma Frost (3)
Conhecidos pelo grande público a partir dos anos 2000, quando foram adaptados para o cinema com fidelidade e incrível sucesso, os X-Men tiveram vida bem antes disso. Mais uma genial criação da dupla Stan Lee e Jack Kirby – de parcerias consagradas como Hulk, Thor e o Quarteto Fantástico – a equipe de super-heróis apareceu pela primeira vez em 1963, mas passou um bom tempo sendo apenas mais uma opção nas bancas. Eis que, em 1976, o título passa a ser escrito por um jovem roteirista de figura simpática e temperamento forte, que ao longo dos próximos 16 anos transformaria este em um dos maiores fenômenos da história dos quadrinhos, culminando no recorde absoluto de 500 milhões de exemplares vendidos com sua mítica minissérie de despedida, em 1991. Seu nome, claro: Chris Claremont. E foi o anúncio desse nome, só um mês antes do início do evento, que me fez pensar dia e noite na possibilidade de uma ridícula aventura: sair de Passo Fundo numa madrugada e viajar rumo ao Rio de Janeiro, onde aconteceria a maior convenção de quadrinhos do Brasil. Agora em sua segunda edição, a Rio Comicon traria não somente um mestre imbatível dos comic books norte-americanos, mas também autores brasileiros, argentinos, franceses, alemães e japoneses de renome, além de exposições com originais de ícones como Will Eisner e Guido Crepax. O quadro era tentador! E a meu favor estava o amargo arrependimento por ter perdido o italiano Milo Manara no ano passado, aliado à decisão de não mais deixar passar. Então eu fui. No caminho lembrava de quando tinha 12 ou 13 anos e chegava perto de acreditar que tudo aquilo podia mesmo existir. A história era boa: assim como na evolução do homo sapiens, a humanidade estava assistindo ao surgimento do homo superior, algo como o próximo estágio da evolução humana. Portadores do gene X manifestavam poderes ou habilidades anormais geralmente na adolescência, e nos meus delírios mais idiotas eu pensava que os meus ainda estavam por vir. Apesar de defenderem o mundo com seus poderes, os X-Men enfrentavam o preconceito causado pela diferença, numa das melhores e mais sérias metáforas da realidade, em que aquilo que é diferente é temido, rejeitado e por vezes destruído. Dispensável dizer aqui que os quadrinhos não são coisa de criança, mas no caso dos X-Men a carga de questões morais e sociais extrapola as aventu-
ras tradicionais para se colocar num patamar de reflexão adulta e coerente – algo que muito se deve aos anos de Claremont como roteirista. Uma vez no Rio, fui logo conferir a estrutura armada para receber o público na Estação Leopoldina, em São Cristóvão. Antiga estação de trem desativada, a enorme construção se encontrou inundada por quadrinhos entre os dias 20 e 23 de outubro, com uma programação diferente a cada dia. Retrato do paraíso, o local contava com exposições dos autores convidados e estandes de lojas e artistas, além da plataforma dos desenhistas e das exposições do coletivo japonês CLAMP e dos 75 anos da DC Comics do lado de fora, onde ficavam os trens abandonados. O aquecimento nos dois primeiros dias me permitiu conhecer Denis Kitchen (editor de nomes como R. Crumb e Will Eisner), Peter Kuper, da tira Spy v. Spy na revista MAD, Liniers, da tirinha Macanudo, e Salvador Sanz, de Noturno. Mas o que eu queria mesmo era que o sábado chegasse e eu fizesse o que tinha vindo fazer. Antes das oito o pequeno auditório já estava lotado. Sentei na primeira fila com a desculpa de fazer fotos, observando de perto o nome mais importante da história do meu gibi preferido. Careca de laterais, sobrancelhas e farto cavanhaque brancos, Chris Claremont carregava um sorriso bondoso que logo se desmancharia com suas respostas carregadas de ironia. Fãs de figuras como ele sabem que não devem esperar alguém fácil de lidar, mas ainda assim ele foi surpreendente. Fazendo uma quantidade enorme de caretas por segundo antecedendo cada resposta, como quem está pensando em como responder da melhor – ou pior – maneira, ele tinha todos na mão. Quando, por exemplo, uma elaboradíssima pergunta vinda da plateia questionou a sua atenção com os personagens femininos, a responsabilidade na criação de várias mutantes e a carga geralmente sexy e poderosa que lhes oferecia, Claremont demorou tempo suficiente para que uma gargalhada de sua esposa Beth Fleisher tomasse conta antes da derradeira resposta: “Eu apenas gosto de garotas!”. O que mais era preciso dizer? Palmas e mais risadas de sua esposa, que o autor confessou ter servido de inspiração para a criação da personagem Emma Frost, a Rainha Branca. Loira e determinada, ela realmente lembrava a interessante vilã. Responsável por delinear a personalidade e o caráter de alguns dos maiores ícones dos X-Men,
um marco. Acontece que, naquele ponto da história, ela precisava ter um desfecho desses. Os editores me disseram: ‘ela fez coisas erradas, as únicas soluções são prisão ou morte’. Eu não imaginei Jean presa e escolhi a morte. Escolhi mesmo, sou o culpado”. Apesar disso, mais tarde a personagem retornaria aos quadrinhos, causando uma enorme polêmica que se arrasta até hoje, com a morte e o retorno de diversos super-heróis num aparente jogo de marketing. “Eu não queria a volta de Jean, fui terminantemente contra isso”. Entre muitos assuntos possíveis, o roteirista foi sendo guiado pelas perguntas da plateia, que geralmente iniciavam com uma declaração emocionada do tipo “muito obrigado pelo senhor estar aqui”. Ele parecia gostar. Com um humor ácido e abastecido por uma incrível quantidade de Coca-Cola, respondeu sobre ganhar dinheiro afirmando já ter tentado comprar um pedaço da Marvel. “Não funcionou”. Sobre as adaptações para o cinema, para a surpresa de muitos, ele afirmou categoricamente gostar de todos, e estar ansioso pelo próximo Wolverine, provavelmente baseado em sua história. Disse ainda que lia muito pouco dos quadrinhos atuais mas sabia que era preciso respeitá-los, e que quem resolve o que funciona é o próprio mercado. Espontaneamente, contou uma história passada no Nova York Comic-Con, realizado na semana anterior
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o roteirista teve a chance de falar de figuras adoradas pelo público, como Wolverine e Jean Grey. Surgido em 1974 como coadjuvante na edição de O Incrível Hulk #180, tendo como autor Len Wein, o furioso canadense deve tudo que é a Chris Claremont. “Logan foi um acidente milagroso e feliz. Uma enorme porção do que aconteceu veio pelo trabalho com John Byrne, e culminou na minissérie Eu, Wolverine”. Escrita em 1982 em parceria com Frank Miller, a obra é nada menos que um clássico. “Wolverine é alguém que jamais se desculpa pelo que é, mas acredita que é uma maldição. Não tem a alegria de uma vida normal, pois não interessa o quanto ele tente, há uma besta raivosa em sua alma. As únicas pessoas que o entendem são Jean Grey, que morreu, e Kitty Pride, que deveria ser mais inteligente. Ele é tão fodido que posso criar a maior das histórias apaixonadas, e ele vai continuar chutando todo mundo!”. Um dos seus trabalhos mais cultuados é certamente a Saga da Fênix Negra, de 1980, quando mudou radicalmente os rumos da personagem Jean Grey transformando-a em uma das mais poderosas, interessantes e controversas personagens dos quadrinhos. Minha mutante preferida justamente por ser a mocinha que parte corações, mas também uma vilã impiedosa e essencial, Jean teve seu cruel destino nas mãos de Claremont. “A morte de Jean é
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45 horas antes da sessão, cheguei à Estação Leopoldina às 14h01, pensando estar sendo pontual. No estande da Rio Comicon não havia sequer fila, e eu caminhava em sua direção aliviada. Peguei minha senha e, quando outra pessoa se aproximou logo depois, o atendente comentou displicente: “que sorte, você ficou com a última senha”. Meus olhos arregalaram silenciosamente e eu saí dali pensando que a sorte era toda minha. Depois, já no meio da fila, eu explodia de dúvida ao tentar decidir quais dos meus gibis seria o premiado. Eram eles a edição #1 da famosa minissérie de despedida, a recente edição encadernada de Eu,Wolverine, ou ainda a minha preciosidade, uma edição de luxo limitada e importada em italiano de X-Men: Ragazze in fuga, assinada por ninguém menos que Chris Claremont e Milo Manara, comprada quase como um fetiche há vários meses atrás, em Porto Alegre. No fim decidi que esta última se tornaria ainda mais incrível com um autógrafo do autor, mas até o último segundo possível eu estive indecisa. A dúvida acabou quando, chegada a minha vez, a situação mais inesperada aconteceu. No lugar de simplesmente assinar e passar para o próximo gibi, Claremont olhou bem para a capa, abriu e começou a folheá-la lentamente, com visível interesse. Comentou com sua esposa que nunca tinha visto aquela edição, enquanto a tradutora me animava dizendo que ele não havia parado para olhar nenhum outro quadrinho. Eu já me encontrava em pleno êxtase quando ele começou a autografar, e não imaginava que ainda pudesse melhorar. “To Marina, GALS ROCK! Chris Claremont 2011”. Com verdadeiro assombro a tradutora voltou a me informar que ele não havia escrito nada além de sua assinatura nos outros gibis. Era o céu. A relíquia da minha estante havia impressionado Claremont! Eu tentava me conter, mas exibia um sorrisão satisfeito que até mesmo ele percebeu. Agora eu só podia tentar agradecer, pois havia uma fila atrás de mim esperando pelo seu momento. Obra lançada recentemente na qual Claremont cede suas heroínas ao traço sexy de Manara reunindo duas das coisas que mais gosto nos quadrinhos, minha edição carregaria para sempre o meu nome, o nome de Claremont e uma frase simples, mas genial. “Garotas arrasam!”. Saí do Rio Comicon com a plena sensação de que valeu a pena, e acreditando ter uma boa história pra contar. UMA REVISTA PLURAL LARULP ATSIVER AMU
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ao evento brasileiro. “Lá um garoto de 9 anos me veio com a melhor pergunta que já ouvi em toda minha vida. Ele queria saber simplesmente de quem Jean gostava mais, Ciclope ou Logan. E acontece que eu não sei! Ninguém tem como saber”. Ao ser questionado sobre a sua controversa saída do título dos X-Men em 1991 – muitos afirmam que o desenhista Jim Lee, hoje nome forte dentro da DC Comics, estava tendo controle demais sobre o seu trabalho -, ele preferiu escapar da pergunta afirmando que ela era muito “século 20”. Porém, a partir daí, pareceu deixar de lado o sarcasmo e entrar em um clima melancólico e extremamente verdadeiro. “Sair da Marvel e dos X-Men pareceu a coisa mais lógica a fazer na época. Sinto com tristeza que a mensagem não mudou e que milhares de pessoas ainda estão lutando para encontrar um lugar seguro no mundo, construir um futuro sem medo de alguém. Naquele tempo nós vivíamos à sombra de um desastre nuclear, da União Soviética, de várias guerras. Hoje o mundo está cheio de possibilidades. Acho que o que acontece é que fui tolo e arrogante o suficiente de pensar que os X-Men seriam uma maneira de brincar com essa realidade e mostrar um caminho melhor”. Com a plateia hipnotizada, Claremont continuou: “Quando estou em uma conferência e uma mulher vem chorando emocionada me contar que o marido a proíbe de ler histórias em quadrinhos e que ela se sente muito triste com isso, entendo que sou um autor e essas são minhas histórias, essa é a minha plateia. Se a reação é assim tão sincera e apaixonada, tenho que merecer, fazer histórias ainda melhores a cada dia. É como defino minha arte e minha ambição quando escrevo a primeira página de uma história. E vocês não imaginam quantas páginas eu jogo fora.” Com essas palavras, capazes de emocionar os mais ‘sinceros e apaixonados’ por seu trabalho ali reunidos, ele mostrou por que tornou-se um dos nomes mais respeitados das histórias em quadrinhos, dono de um legado sólido, atemporal e tomado de boas lições para o mundo real. Apesar de algumas tentativas de conseguir um autógrafo, a pequena multidão aceitou ir embora por estar mais do que satisfeita com o debate. Sem palavras, caminhavam apenas extasiados. Mais cedo, no meio daquela tarde de sábado, Chris Claremont aceitou deixar sua herança para somente cem sortudos que teriam direito a um autógrafo. Informada de que as tais senhas seriam distribuídas duas
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Dicas da
alt+tab
por Marin
a de Cam
Algumas sugestões de HQs de artistas que passaram pela maior convenção de quadrinhos do Brasil, realizada em outubro no Rio de Janeiro
Lançado no ano passado pela Zarabatana, o álbum do jovem quadrinista argentino surpreendente pelos excelentes desenhos e a atmosfera sombria do roteiro classificado como realismo fantástico. Por R$ 32
Eu, Wolverine, de Chris Claremont e Frank Miller
Um dos únicos títulos do mestre Claremont facilmente encontrado em livrarias, a edição especial do clássico de 1982 vale a pena e tem preço mais que acessível. Por R$ 21
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Vencedor do Eisner deste ano, o álbum dos gêmeos esgotou durante a Rio Comicon. Elogiado por grandes artistas, conta a história de um aspirante a escritor que produz obituários para jornais. Por R$ 62
A adaptação do clássico de Franz Kafka pelo autor norte-americano está em promoção no site da editora Conrad. Por R$ 17,90
Recém-lançado, o quarto volume de Macanudo reúne as bem-humoradas tirinhas do escritor Liniers, publicadas semanalmente no Brasil pela Folha de S. Paulo. Por R$ 35
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Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá
A metamorfose, de Peter Kuper
Na internet
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Noturno, de Salvador Sanz
Macanudo 4, de Liniers
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Os Beats, de Harvey Pekar e Peter Kuper
Selo da editora Saraiva, a Benvirá publicou o título sobre os ícones da literatura beat com roteiro de Harvey Pekar e desenhos de vários artistas, entre eles Kuper. Por R$ 39,90
Lucille, de Ludovic Debeurme Lançado em outubro pela editora Barba Negra, a graphic novel francesa conta a história de dois jovens infelizes que decidem fugir de seus destinos. Por R$ 54,90
www
Sites de alguns artistas estrangeiros presentes no evento sem obras publicadas no Brasil
www.electrocomics.net – Coletivo com obras da alemã Ulli Lust, de Hoje é o último dia do resto da sua vida www.dangoldman.net – Norte-americano radicado em São Paulo, é referência em arte digital www.edmondbaudoin.com – Consagrado ilustrador francês vencedor do Angoulême www.lewistrondheim.com – Fundador da L’Association e considerado um dos melhores cartunistas franceses da atualidade
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Diego Rigo coluna
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Luan Henrique Fogolari
Nada pareceria tão normal, como ficar em casa tomando um bom chá, soprando alguma fumaça e buscando alguma literatura na qual ele se identificasse, apesar de ser uma sexta-feira quente, com um luar tão intenso quanto os olhos daquela personagem de Machado de Assis. Ele ficara paralisado por alguns minutos procurando em sua estante de livros alguma obra que o remetesse ou remediasse aquilo que estava sentindo. Sem poder verbalizar seus sentimentos, ele pegara um livro no qual Clarice Lispector lhe traduzia em palavras ora confusas, ora inteligentes, em cada fragmento, a complexidade de sua existência. Logo após ler alguns trechos da descoberta do mundo, e atrás de mais um gole de chá, ele observava a xícara, na qual servira mais um pouco daquela bebida quente. Ficou um bom tempo a contemplar o amarelado do recipiente e a cor do chá, vermelho. Aquilo tudo lhe fazia nostalgizar sua infância, seus sonhos, questionava-se, como na escrita de Lewis Carroll, se o chá poderia ser a chave que o levasse para algum mundo além da toca. Talvez, quem sabe, em alguma leitura ele poderia reencontrar suas personagens favoritas, sem hesitar ele levantou de sua poltrona e correu novamente ao encontro de sua estante, chegando à frente, colocou seu dedo indicador, sem medo, sobre as obras e começou a passá-lo por vários títulos, era como se passeasse por várias histórias, como se visse sua vida sendo contada através daqueles mundos, numa espécie de frenesi. Chegou à adolescência, aquele momento primaveril onde, de súbito encontro, como se as palavras contassem sua puberdade, lembrou-se da garota de cabelos ruivos, que povoava e fantasiava sua imaginação nessa época, e que morrera de raiva, mas seus cabelos não paravam de crescer mesmo no túmulo, como do amor e outro demônios surgissem sua historia mais nobre. Como Gabriel Garcia Márquez pudera fazer isso com ele? Criar uma historia tão igual a sua, contar à história que sua avó lhe contava, escrever sobre a história da família e de seus amores? E publicá-las tão descaradamente em seus livros? Achou todos aqueles pensamentos tolos, como alguém poderia prever o que iria acontecer quase 30 anos antes. Seria ele um oráculo, um místico que tivera uma epifania?
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O que você lê é o mesmo que come, bebe e fuma?
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- Nada disso, respondeu para si mesmo, devo estar delirando. Pôs o livro, raivoso, na cabeceira do seu leito e resolveu esfriar a cabeça, tomar um ar. Foi em direção a janela, e de lá começou a observar um enorme aglomerado de janelas de um edifício. Pegou o seu binóculo e lá ficou, em cada janela que passava seu olhar, via pessoas, amando, traindo, trabalhando, cantando e dançando e ao voltar-se para o pátio do edifício, fitou uma mulher negra de estatura alta, se fazendo líder entre diversos homens que a subestimavam. Não longe dali, uma menina fazia obscenidades em baixo de uma árvore, homens bebiam e escutavam samba e cachorros magros pastavam. Intrigado com a realidade que via, começou a fazer analogias ao Cortiço de Aluizio de Azevedo, como aqueles gestos e maneiras poderiam ser tão tipicamente iguais ao manuscrito? Perguntara-se, como a vida poderia ser tão parecida aos livros que lia. Como as personagens poderiam contar histórias próprias, até mesmo se fazerem reais. Paralisado, anestesiado com a vida que via e sentia, tomava dimensões nunca por ele percebidas, entendia que a literatura que ele devorará ao longo do tempo dava sentido a sua existência. Percebera que para entender a literatura é preciso observar a vida, ser mero expectador. Para ele a Literatura era vida. E o seu sentido nada mais era do que aquilo que se vive, que se sente, contada por alguém e traduzida em papel. Perguntava-se, - Se eu sou o que a literatura me traduz, talvez eu também seja o que eu como, o que eu bebo, e o que eu fumo. Em sumo retrato as palavras se tornam imagens e o que vejo nada mais é do que eu sinto?! Devo estar endoidecendo ou aprendendo a enxergar a vida com outros olhos, olhares que antes nunca me foram ensinados?! Intrigado com o paradoxo que ele havia criado, acendeu um cigarro, bebericou mais alguns goles de chá e resolveu se preocupar com outros sentidos, outras estantes. Mas isso já é outra história, e outra história, possivelmente já deve ter sido contada por outro alguém.
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+ arte alana lourenzi irm達os caruso
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