Arco nº 10

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JORNALISMO CIENTÍFICO E CULTURAL • Nº 10 • MAR/2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Métodos ativos e novas tecnologias quebram rotinas tradicionais de sala de aula e tornam o ensino mais participativo e acessível na UFSM

QUADRINHOS ~

Augusto Ópe da Silva: uma vida dedicada às causas dos povos indígenas

economia Quanto maior o nível de alfabetização financeira, menor o endividamento

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editora Chegamos à 10ª edição da Arco! E temos bastante a comemorar: em 2018, festejamos o aniversário de cinco anos da revista, com um evento em que pudemos apresentar diversas novidades e do qual participaram pessoas marcantes na trajetória da publicação. Lançamos, nessa comemoração, nosso vídeo institucional, que destaca a importância da revista tanto para a divulgação científica e cultural da UFSM quanto para o processo pedagógico dos acadêmicos de Comunicação e Desenho Industrial. Para nossa surpresa, ao publicarmos o vídeo nas nossas redes sociais, recebemos um elogio que nos deixou muito felizes: o professor Wilson da Costa Bueno, uma das principais referências no que diz respeito à divulgação científica do país, reconheceu o nosso trabalho em uma mensagem que pode ser conferida na página 6, na seção Chegou Inbox! (antes chamada Carta dos leitores). Ainda nesse evento de aniversário, estreamos o Tá Na Arco, nossa produção radiofônica. Com a duração de um minuto e meio, programetes com o conteúdo das revistas impressa e digital estão sendo diariamente veiculados nos intervalos de programação da rádio UNIFM. Outro sucesso alcançado nos últimos meses foi o dossiê da 9ª edição impressa, também distribuída em primeira mão no evento dos cinco anos. Nossa proposta foi discutir sobre saúde mental, principalmente no âmbito universitário, e a repercussão gerada – percebida pelos feedbacks nas redes sociais – demonstra que acertamos na escolha da pauta e que esse é um tema urgente a ser discutido na sociedade. Em um segundo evento, também relativo ao nosso aniversário, realizamos um bate-papo com três profissionais: Beatriz Magno, que foi editora-chefe da Darcy, revista da Universidade de Brasília que serviu de modelo para a criação da Arco impressa; Guilherme Falcão, editor de arte do Nexo jornal, publicação online que nos

Ilustração: Pollyana Santoro

Carta da

inspira diariamente a experimentar na nossa produção digital; e Augusto Paim, egresso da UFSM especializado em jornalismo em quadrinhos. Dessas visitas, um resultado concreto já pode ser visto na página 30 desta edição: produzimos nossa primeira matéria jornalística em formato HQ, e pretendemos que a editoria Quadrinhos se torne fixa nos próximos números impressos da publicação. Outra novidade é que, pela primeira vez, foram impressos cinco mil exemplares desta Arco número 10, mais do que o dobro do que vinha sendo a tiragem nas últimas edições. Com isso, poderemos dar continuidade, de forma ampliada, à estratégia de divulgação e distribuição que se iniciou na edição passada, de levar a banquinha da Arco a todos as unidades de ensino e campi da UFSM – fortalecendo, ainda mais, a revista com o público interno, e também tornando possível alcançar as escolas de Santa Maria e outros públicos estratégicos. Ainda, a política de comunicação da UFSM foi recentemente aprovada. Já sentimos reflexos disso, durante a produção desta 10ª edição, na forma mais integrada em que estão sendo trabalhados os fluxos e processos comunicativos na instituição, com facilitação de acesso às pautas e às fontes das diversas unidades de ensino. Um dos projetos que está em andamento, e que surgiu em consequência dessa integração, é a internacionalização da Arco, com o lançamento, em breve, da primeira edição impressa em inglês. Em uma parceria com a SAI, os exemplares serão distribuídos em visitas ao exterior de pesquisadores e gestores da UFSM e também a visitantes estrangeiros que venham conhecer a Universidade. A produção intensa da Arco para diversas mídias ocorre neste importante momento do país, de mudanças no contexto político nacional, em que se faz cada vez mais necessária a divulgação da ciência produzida nas universidades públicas como forma de defender essas instituições. O dossiê desta 10ª edição tem como tema a inovação no ensino. Nas matérias, destacamos novas técnicas e ferramentas que visam tornar o processo de ensino-aprendizagem mais atrativo, participativo e eficiente na UFSM e que beneficiam, também, os alunos com deficiência que frequentam o Ensino Superior. Boa leitura! Luciane Treulieb Editora-chefe da revista Arco

carta da editora

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sumário 07 curiosidades A numeração dos livros da biblioteca, o Tambo e o local de construção da UFSM

08 nossas invenções

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Diário de Campo Os múltiplos sentidos nas práticas de pichação/graffiti

Aplicativo Turismapp, criado por mestranda da UFSM, incentiva o turismo em Santa Maria

09 EXTENDA UFSM qualifica produtores da Polifeira por meio de minicursos

10 como surgiu? A história dos jogos eletrônicos desde as rudimentares criações do século 20 até a realidade virtual

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Métodos ativos, técnicas para alunos com deficiência e novas tecnologias ganham espaço na estrutura tradicional das salas de aula da UFSM

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e agora, quem dá aula? Ensino horizontal e colaborativo coloca o aluno em foco

conectados pelo ensino O presente e o futuro do uso da tecnologia para o ensino na UFSM

os novos rumos da inclusão Instituições de ensino superior buscam novos métodos voltados à acessibilidade de pessoas com deficiência

quadrinhos A trajetória do líder kaingang que dá nome à Casa do Estudante Indígena da UFSM


ARCO a

Revista de Jornalismo Científico e Cultural da Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria Reitor Paulo Afonso Burman | Vice-Reitor Luciano Schuch

Conselho Editorial Amanda Eloina Scherer | Professora do Departamento de Letras Clássicas e Linguística Andressa da Silveira | Professora do Departamento de Ciências da Saúde – Campus Palmeira das Missões Beatriz Teixeira Weber | Professora do Departamento de História Daniel Arruda Coronel | Diretor da Editora, Livraria e Grife UFSM Debora Ortiz de Leão | Professora do Departamento de Administração Escolar Eugenia Maria Mariano da Rocha Barrichello | Coordenadora de Comunicação Social Flavi Ferreira Lisboa Filho | Pró-reitor de Extensão Isabelle Rodrigues | Representante do Diretório Central do Estudantes – DCE/UFSM

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ensaio Fotografias retratam o comércio de rua de países do Oriente

Jaqueline Quincozes da Silva Kegler | Coordenadora da Unidade de Comunicação Integrada – Proplan Jose Neri Gottfried Paniz | Professor do Departamento de Química Lana D`Ávila Campanella | Professora do Departamento de Ciências da Comunicação – Campus Frederico Westphalen Larissa Montagner Cervo | Coordenadora da Coordenadoria de Apoio ao Desenvolvimento de Ensino – Prograd Laura Strelow Storch | Professora do Departamento de Ciências da Comunicação Lucio Strazzabosco Dorneles | Coordenador de Propriedade Intelectual – Agittec

16 saúde Cachorrinha auxilia no tratamento de crianças e adolescentes com câncer no Husm

18 economia Alfabetização financeira ajuda a regular o consumo e reduzir o endividamento

33 editora ufsm Obra revela a pedagogia e o processo criativo de Frida Kahlo

37 recordações Entre pregos e madeiras, Darcy Wiethan auxilia nas criações dos alunos de Desenho Industrial da UFSM

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38 escritos

Egresso da UFSM usa a informática para analisar o DNA de diferentes espécies de mosquitos e prevenir doenças

O poema Somos todas medicina expressa o misto de força e leveza das mulheres

Marcelo Freitas da Silva | Coordenador da Educação Básica, Técnica e Tecnológica Marcia Gonzalez Feijó | Professora do Departamento de Desportos Individuais Marilise Escobar Bürger | Professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia Paulo Cesar Piquini | Coordenador da Coordenadoria de Iniciação Científica – PRPGP Raul Ceretta Nunes | Professor do Departamento de Computação Aplicada Rodrigo Josemar Seminoti Jacques | Professor do Departamento de Solos Vanessa Teresinha Alves | Professora da Coordenadoria Acadêmica - Campus Cachoeira do Sul

Expediente Editora-chefe Luciane Treulieb (MTB: 13.260) Relações Públicas Carla Isa Costa Acadêmica de Relações Públicas Nataly Dandara Criação e Diagramação Deirdre Holanda, Lidiane Castagna, Mariana Machado Wurzel e Pollyana Santoro (acadêmicas de Desenho Industrial) Fotografias Rafael Happke e Thomás Dalcol Townsend Repórteres Andressa Canova Motter, Bibiana Pinheiro, Gabriel de David, Guilherme De Vargas, Martina Benedetti Irigoyen, Mirella Joels, Paola Jung, Paulo César Ferraz, Rossano Villagrán Dias, Tainara Luísa Liesenfeld (acadêmicos de Jornalismo) Colaboradores Augusto Machado Paim, Assessoria de Comunicação Fiocruz/ PE, Darcy Augusto Wiethan, Eduardo Zitske, Isabel Cristina Lourenço da Silva, Odailso Sinvaldo Berté, Ricardo Ravanello, Thomás Dalcol Townsend Revisão Alcione Manzoni Bidinoto Apoio Laboratório de Experimentação em Jornalismo e Editora UFSM Revista Arco Telefone e WhatsApp: (55) 99106-7935 E-mail: arco@ufsm.br Site: ufsm.br/arco Facebook: www.facebook.com/RevistaArco/ Instagram: www.instagram.com/revistaarco/ Twitter: twitter.com/revistaarco UFSM | Av. Roraima, 1000 | Cidade Universitária Bairro Camobi | Prédio da Reitoria, sala 345 | CEP 97105-900 Santa Maria – RS | Brasil Distribuição: Gratuita | Tiragem: Cinco mil exemplares Impressão: Gráfica e Editora Relâmpago LTDA

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Fotografias: Equipe da Revista Arco

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CHEGOU INBOX! Fique à vontade para mandar um comentário com dúvidas e sugestões. A sua opinião é muito importante para nós, seja por e-mail ou pelas redes sociais :)

Distribuição da 9ª edição impressa da Revista Arco nas unidades de ensino e em outros campi da UFSM

@RevistaArco @Revistaarco @RevistaArco

(55) 99106 7935 arco@ufsm.br www.ufsm.br/arco

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Jornalismo Científico na universidade: Revista Arco, um exemplo a ser seguido! Felizmente, temos caminhado, gradativamente, não apenas para sensibilizar a comunidade acadêmica e os colegas de jornalismo para a importância da democratização do conhecimento científico, mas produzindo canais que, com competência, dão conta desse processo fundamental para a construção da cidadania. È fundamental destacar a contribuição da UFSM, que há 5 anos edita a revista Arco e estimula para que este exemplo se multiplique. Os meus cumprimentos aos editores, aos colegas que a produzem, e à própria comunidade da UFSM pelo acolhimento e divulgação desta iniciativa. Parabéns, amigos. Décadas e décadas de sucesso. O jornalismo e a ciência agradecem.

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Wilson da Costa Bueno Jornalista e professor universitário - Via Facebook

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Renata Zampieri Professora do Campus da UFSM em Cachoeira do Sul - Via Facebook

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Chegou inbox!

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A revista está fantástica! Parabéns a toda a equipe pelo conteúdo, diagramação e ilustrações!

Recomendo muito a leitura do dossiê da Arco sobre saúde mental. Até compartilhei o texto sobre os servidores com um grupo do trabalho e todo mundo concordou que, no fim das contas, todos os servidores públicos estão no mesmo barco. As empresas podem ser diferentes, mas no fim os resultados de adoecimento são os mesmos.

Edina Girardi Repórter cinematográfico da TV Brasil - Via e-mail

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Como funciona a numeração dos livros nas bibliotecas da UFSM?

Numeração do Atlas da Anatomia Humana, de Frank Netter, a obra mais retirada da Biblioteca Central até hoje

A numeração dos livros nas bibliotecas da UFSM segue a Classificação Decimal Universal (CDU), um sistema de organização de documentos criado no final do século 19 pelos bruxelenses Paul Otlet e Henri La Fontaine. A CDU classifica qualquer obra ou documento em dez categorias básicas do conhecimento humano. O primeiro algarismo da numeração da obra corresponde a uma das categorias – o número que inclui matemática, ciências naturais e suas tecnologias, por exemplo, é 6. Os algarismos seguintes especificam cada vez mais o assunto do livro. A segunda parte da numeração começa com a primeira letra do sobrenome do principal autor e o número correspondente ao sobrenome na tabela de Cutter – outro sistema internacional de classificação. A numeração termina com a primeira letra do título da obra, excluindo os artigos.

curiosidades

VOCÊ SABIA? É VERDADE QUE...? A cada edição, a seção Curiosidades responde àquelas questões que você sempre quis saber se eram mitos ou verdades e conta histórias singulares sobre a UFSM

VOCÊ SABE O QUE É O TAMBO DA UFSM? A palavra tambo tem origem na língua quíchua – o principal idioma indígena do Peru e da Bolívia – e é usada para designar recintos onde vacas são ordenhadas. O Tambo da UFSM compreende um prédio – mesmo que muitas pessoas pensem que se trata dos 40 hectares de pastagens da Universidade. O local, inaugurado em 1981, abriga o Laboratório de Qualidade do Leite (Lableite), onde é feita a ordenha das vacas, além de ser utilizado pelos cursos de Zootecnia, Agronomia e Medicina Veterinária como área de estudo. O Tambo ainda abriga outros dois laboratórios, nos mil litros por mês, que são vendidos para quais são realizadas análises da ração e uma cooperativa. O dinheiro arrecadado pesquisas sobre a pastagem, com o objeti- com a venda sustenta a manutenção do vo de influenciar no desenvolvimento dos laboratório, que praticamente não recebe animais. O Lableite produz cerca de oito verbas estatais.

Você sabia que se cogitou instalar o campus da UFSM em locais do centro de Santa Maria? Nos anos anteriores à fundação da UFSM, o local onde seria instalado o campus da nova instituição era objeto de discussão no poder público do município. Um dos primeiros lugares cogitados para receber o campus foi o antigo Parque Imembuí, onde hoje está situada a Vila Militar, entre as avenidas Liberdade, Presidente Vargas e Borges de Medeiros. Mais tarde, pensou-se no lugar onde hoje fica a escola Manoel Ribas, o Maneco, próximo à Vila Belga e à linha férrea. O professor José Mariano da Rocha Filho, fundador e primeiro reitor da UFSM, pleiteou também, sem sucesso, um espaço no distrito de Boca do Monte, sob administração do governo estadual. O terreno onde, por fim, construiu-se o campus foi doado pelas famílias Behr e Tonetto, após pedido feito por Mariano da Rocha e pelo então deputado federal Tarso Dutra. a Reportagem: Rossano Villagrán Dias . Ilustração e Diagramação: Mariana Wurzel Mande a sua dúvida ou conte a sua história curiosa relativa à UFSM para nós: arco@ufsm.br.

curiosidades

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NOSSAS INVENÇÕES

TECNOLOGIA QUE VALORIZA SANTA MARIA Aplicativo desenvolvido na UFSM mapeia principais pontos turísticos da cidade Em 2017, quando teve a ideia de criar um aplicativo para orientar o turista em Santa Maria, a aluna do mestrado em Patrimônio Cultural da UFSM Taís Drehmer Stein pretendia apenas que a experiência servisse como base para a sua dissertação. Pouco mais de um ano depois, ela está surpreendida com o sucesso do produto e faz planos para incrementá-lo com o apoio de empresários e do poder público. “Santa Maria possui um potencial turístico inexplorado, mas faltam investimentos no setor e informações disponíveis sobre as atrações”, explica Taís, para justificar a criação do TuriSMapp. Nele, são apresentadas 15 atrações turísticas de Santa Maria relacionadas ao patrimônio histórico e cultural da cidade e a agenda de eventos em cada uma delas. Taís utilizou a Linha Turismo - extinto roteiro de ônibus da Prefeitura de Santa Maria - como base para escolher os pontos turísticos do aplicativo. Entre os locais incluídos, estão o Theatro Treze de Maio, o Museu Gama D’Eça, o Mercado Público e o Museu de Arte de Santa Maria. O app possui ainda um mural para que os usuários possam fazer comentários e sugestões. Lançado em 30 de agosto de 2018, o produto teve, até fevereiro, cerca de 270 downloads na Play Store, a loja virtual do Google. O TuriSMapp pode ser baixado também através do QR code disponível no material de divulgação. Para o professor do Departamento de Turismo da UFSM Marcelo Ribeiro, orientador da dissertação de Taís, o turismo em Santa Maria tem potencial para crescer. Segundo ele, o turista que visita a cidade, em geral, vem para participar de eventos, fazer negócios ou procurar serviços de saúde e educação, e não a lazer. Portanto, não se planeja para aproveitar os atrativos culturais e naturais santa-marienses, pois muitas vezes os desconhece. O docente sugere que, para incrementar o setor turístico, seria necessário criar roteiros a pé guiados entre os atrativos,

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nossas invenções

ampliar o número de exposições artísticas itinerantes, estabelecer formas de diálogo com a comunidade e disponibilizar informações centralizadas e atualizadas sobre os pontos turísticos. “O aplicativo TuriSMapp foi uma ideia baseada nesses vácuos”, diz o professor.

EXPECTATIVA A criadora do TuriSMapp já foi procurada por professores e por um empresário com ideias para o aplicativo. Além disso, Taís teve uma reunião com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação e obteve apoio para a divulgação - sua principal dificuldade - e para conseguir contatos para possíveis parcerias. O gerente de projetos de turismo da secretaria, André Farias, afirma que a prefeitura acredita que o aplicativo tem potencial para incrementar o turismo na cidade. Segundo ele, a facilidade de achar informações turísticas sobre o destino é fator de influência na hora de decidir para onde ir. “Com o mundo na palma da mão, se não estivermos conectados neste modelo, perderemos turistas e visitantes”, diz. Além disso, o TuriSMapp foi um dos projetos selecionados para receber uma bolsa da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) para produtos desenvolvidos nos cursos de mestrado da UFSM. Taís afirma que também tem planos para incorporar informações sobre hotéis, restaurantes e bares. Para isso, pretende ter conversas com proprietários dos estabelecimentos. Outra ideia é expandir a abrangência do produto para cidades vizinhas, como municípios da Quarta Colônia. Nesse sentido, precisaria do auxílio das prefeituras da região, além de pessoas para atualizarem a agenda de eventos dessas cidades. a Reportagem: Rossano Villagrán Dias . Ilustração e Diagramação: Lidiane Castagna


EXTENDA

Bem antes de chegar à mesa UFSM qualifica produtores da Polifeira por meio de minicursos Nas quintas-feiras, muitos alunos e servidores da UFSM têm um objetivo comum: adquirir frutas e hortaliças recém colhidas, produtos panificados, derivados de leite, embutidos, além de geleias, chimias e compotas. Neste dia, acontece a Polifeira do Produtor, um projeto de extensão que traz para dentro da UFSM produtos oriundos da agricultura familiar e de agroindústrias locais. Apesar de ser a única etapa vista pelos consumidores, a comercialização é uma pequena parte do processo, já que muitos cuidados são tidos antes de o produto chegar à mesa das pessoas. Nesse aspecto, os alunos e professores dos cursos técnicos do Colégio Politécnico têm papel essencial, principalmente no que diz respeito à qualificação dos feirantes. Em janeiro de 2017, concomitantemente ao início da feira, foram feitos diagnósticos pela professora Marlene Lovatto a respeito dos produtos que seriam comercializados, considerando aspecto visual, sabor e embalagem. A partir dos resultados, foram planejados minicursos e oficinas, destinados a ajudar os feirantes na melhora do processo de produção e, consequentemente, do que é vendido. Neuza (esquerda) e a professora Marlene durante a produção da chimia de morango

A parte doce da feira Alguns dos minicursos e auxílios oferecidos aos feirantes pela UFSM: - Boas práticas de fabricação de alimentos - Elaboração de panificados - Processamento de frutas e hortaliças - Produção de rótulos para produtos processados - Análises de solo e uso de pesticida - Melhoramento de sementes

Fotografias: Rafael Happke

Na banquinha de Neuza e André Biasi, há uma variedade de alimentos in natura e processados, todos cultivados na horta e no pomar da chácara do casal. O marido se dedica ao cultivo das frutas e hortaliças usadas como matéria-prima, enquanto Neuza fabrica chimias, molhos agridoces e compotas. No curso oferecido pelo Colégio Politécnico, Neuza elaborou a chimia seguindo as orientações da professora Marlene. Os ingredientes foram preparados e medidos de tal forma que o produto apresentasse o padrão de qualidade buscado pelo consumidor. “Muitas vezes, o produtor aprendeu a receita com a família, mas não sabe a função que cada ingrediente desempenha no processo de elaboração. Quando compreende e observa o efeito, se sente seguro, e inclusive já estabelece novas combinações para a mesma matéria-prima”, explica Marlene. Depois das qualificações, Neuza relata que os doces se tornaram mais saudáveis e saborosos, e, em consequência, as vendas dobraram. “Aprendi a escolher e higienizar as frutas, além de verificar a consistência ideal para as chimias e dosar a quantidade de açúcar”, relata a feirante, que passou a obter alimentos com mais qualidade e durabilidade, e conquistou clientes fiéis. a Reportagem: Paola Jung . Diagramação: Pollyana Santoro

Você sabe qual é a diferença entre geleia e chimia? A geleia é elaborada com a suco da fruta e, por isso, tem consistência gelatinosa. Já a chimia, denominação comum da região sul, vem do alemão Schmieren, sendo um doce cremoso, que inclui a polpa de fruta.

extenda

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como surgiu?

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Em 1972, Allan Alcorn, juntamente com os fundadores da empresa de produtos eletrônicos Atari, Nolan Bushnell e Ted Dabney, desenvolveu o Pong: um jogo de tênis com duas barras (jogadores) e um ponto (bola), além do placar. O trio levou a máquina de arcade para um bar para testar a reação do público – que não podia ter sido melhor: a máquina chegou a estragar devido à grande quantidade de moedas colocadas pelos jogadores. Em 1975, foi lançada a versão doméstica do jogo. O Brasil recebeu os primeiros exemplares em 1979, com o nome de Telejogo.

PONG

Outro físico norte-americano, William Higinbotham, em 1958, criou o Tennis for Two, também em um osciloscópio. Mais tarde, em 1961, estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts desenvolveram o jogo Spacewar!, já no computador, no qual duas naves espaciais atiravam torpedos uma contra a outra.

PRIMEIROS Jogos LEVADOS A PÚBLICO

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O primeiro jogo considerado um passatempo virtual foi criado em 1947, por acidente. Os responsáveis foram os físicos estadunidenses Thomas T. Goldsmith Jr. e Estle Ray Mann, que ligaram um tubo de raios catódicos –feixes de luz – em um osciloscópio – máquina que mede os batimentos cardíacos. Os traços de luz exibidos simulavam mísseis parecidos com aviões, que deveriam acertar objetos. O equipamento foi patenteado e batizado de Dispositivo para Diversão de Tubo de Raios Catódicos; contudo, ficou apenas dentro dos laboratórios.

COMEÇO DISCRETO

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Em 1980, surgiu o Pac-Man, muito popular por suas dinâmicas inovações, como a mecânica de Power-Up, que permitia ao Pac-Man, temporariamente, caçar os fantasmas em vez de ser caçado. Em 1981, nasceu o personagem mais conhecido da indústria dos games: Mario – chamado, inicialmente, de Jumpman, e presente no jogo do gorila Donkey Kong. Só em 1985 que o encanador obteve seu papel de protagonista no jogo Super Mario Bros para o Nintendinho e Super Nintendo. O jogo tem títulos lançados até hoje. Os anos de 1980 ainda reservaram a estreia do sucesso soviético Tetris e o lançamento do Sega Mega Drive, com o personagem Sonic the Hedgehog.

GRANDES PERSONAGENS DOS ANOS 1980

O alemão Ralph Baer, em parceria com a empresa militar norte-americana Sanders Associates, desenvolveu o primeiro videogame da história: o Magnavox Odyssey. Lançado em 1972, atingiu relativo sucesso por possibilitar a interação com a televisão – uma inovação para a época. Bastante rudimentar, o aparelho não reproduzia sons e era compatível com somente dois tamanhos de TV. Foi descontinuado em 1975, com 330 mil unidades vendidas e apenas 27 títulos lançados.

MAGNAVOX ODYSSEY

Todo mundo já se divertiu com o mundo dos jogos eletrônicos ou, ao menos, já ouviu falar de nomes como Atari, Mario, Sonic, GTA, Playstation. Porém, como será que eles surgiram e evoluíram?

DO ACASO À REALIDADE VIRTUAL

COMO SURGIU?


como surgiu?

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A Realidade Virtual (RV) foi a última das tecnologias criadas no mundo dos videogames. Nela, o jogador utiliza um óculos especial para enganar os sentidos e emular a realidade na qual o usuário está imerso. Os dispositivos mais conhecidos são o Oculus Rift, o Playstation VR e o Samsung Gear. Na Agittec, agência de incubação localizada dentro da UFSM, existe a Imgnation, empresa de desenvolvimento de jogos para RV, que começou suas atividades em 2007, quando um grupo de designers formados na Universidade passou a ilustrar jogos, filmes e animações. O integrante-fundador da empresa Orlando Fonseca Jr., formado em Desenho Industrial pela UFSM e pós-graduado em Jogos Digitais pela PUCRS, explica que a Imgnation foi convidada pela Samsung para trabalhar com RV em 2014, quando a Samsung ainda nem tinha produto

IMERSÃO

Os consoles Playstation 4 e Xbox One foram lançados em 2013 e trouxeram histórias mais profundas, gráficos bem detalhados e orçamentos milionários. A Nintendo lançou, em 2017, o console Nintendo Switch, inovador por ser portátil e ter controles laterais, que podem ser retirados e utilizados, separadamente, para jogar na televisão.

ATUAIS GERAÇÕES

e Pollyana Santoro

lançado. “Por ser a primeira empresa da América Latina e a terceira do mundo a lançar jogo na tecnologia de RV, a Imgnation consegue grande projeção e reconhecimento na área. Conseguimos inclusive investidores internacionais, da Malásia e do Vale do Silício”, comenta Orlando. Dos jogos lançados pela empresa, três se destacam: o Dodge This – criado com base em um programa japonês e que tem como objetivo acertar alvos e personagens enquantos eles passam por uma ponte –, o CowMilk Simulator – divulgado em 2017, na Steam, e que simula a ordenha de vacas – e, por fim, a novidade: o Monowheels. Este último, desenvolvido desde 2015, é de corrida e combate, e será disponibilizado no primeiro semestre de 2019 em todas as plataformas de realidade virtual. a Reportagem: Gabriel de David . Ilustração e Diagramação: Lidiane Castagna

Em 2000, surgiu o Playstation 2 no Japão. Com 150 milhões de aparelhos produzidos, tornou-se sucesso absoluto no mundo todo. Um dos grande destaques do console foi o violento jogo Grand Theft Auto: San Andreas, além de God of War, Resident Evil 4, Shadow of Colossus e muitos outros. A conectividade com a internet, que estava engatinhando com o Playstation 2, ganhou força nos consoles sucessores: Xbox 360, Playstation 3 e WII.

Amadurecimento

A década de 1990 foi marcada pela troca dos cartuchos para CDs, melhorias nas placas de áudio e transição dos arcaicos pixels para gráficos 3D. Em 1994, foi lançado o Sony Playstation e, dois anos depois, a Nintendo lança o Nintendo 64, muito popular no Brasil. Já em 1999, a Microsoft apresentou ao mercado o Xbox, com jogos de enredos envolventes. Sony, Nintendo e Microsoft se tornaram líderes no ramo de consoles.

Em 1976, foi criado o console Fairchild Channel F: o primeiro com cartuchos programáveis. No entanto, foi no ano seguinte que chegou às lojas o videogame responsável pelo primeiro boom da indústria: Atari 2600. Com mais de 30 milhões de cópias vendidas, trouxe jogos memoráveis como Space Invaders, que teve inovações no quesito de som e ambientação, e Adventure, que apresentou o primeiro easter egg – objeto escondido – da história. Além deles, outros sucessos oriundos dos arcades foram desenvolvidos para Atari, como o Microvision, o primeiro videogame portátil, lançado em 1979.

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evolução

ATARI

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diรกrio de campo

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Pichação ou graffiti: como definir? Pesquisa etnográfica acompanha o dia a dia de pichadores/grafiteiros de Santa Maria e revela novos significados para as práticas

a Um integrante fala: “A única diferença é na técnica. Mas no fundo, a essência é a mesma. É tudo arte”.

a Pichações e graffitis chamam atenção para as paredes e muros da cidade; por detrás de cada rabisco, há uma história a ser contada. Para o Estado, as pichações são pinturas sem concessão – diferentemente dos graffitis, que têm respaldo da lei e da sociedade. Já na perspectiva dos pichadores/grafiteiros, questões estéticas e de reconhecimento norteiam suas práticas, que permeiam também o campo da arte, expressão, vandalismo e bem privado. Nesse sentido, a dissertação Etnografia de uma cidade redesenhada pela pichação/graffiti se propôs a entender como são vistas as práticas de pichação/graffiti no debate público e, principalmente, sob o olhar de quem as faz. De 2014 a 2017, o então mestrando em Ciências Sociais Rodrigo Nathan Dantas desenvolveu um trabalho etnográfico com 24 pichadores/grafiteiros em Santa Maria. A pichação esteve na vida do pesquisador desde a adolescência – nos primeiros contatos com a música, principalmente o rock, nos desejos e anseios da juventude e na forma como é percebida a cidade. Já no papel de pesquisador, Rodrigo conta que buscou construir um trabalho polifônico, que foge das interpretações romantizadas, e procura apresentar uma perspectiva “mais barulhenta”, na qual “a pichação/graffiti aparece como ponto de encontros discordantes, onde as identidades e as posições são flexíveis e transitórias”. Partindo do questionamento da diferença entre pichação e graffiti, o pesquisador levou em conta a própria forma como os entrevistados se identificam – em geral, os grafiteiros são ou já foram pichadores em algum momento, portanto os termos escolhido para referi-los na pesquisa foram “pichação/graffiti” e “pichadores/grafiteiros”. Nas palavras do pesquisador, não se trata simplesmente de pichação – aquilo que é visto como ilegal, sujo, feio ou crime - versus graffiti – aquilo que é visto como legal, limpo, bonito ou arte. Para traçar aquilo que é comum ao grupo, o pesquisador acompanhou os pichadores/grafiteiros em encontros pela cidade, fez parte do Intelectuais do pixo, interagiu em grupos e páginas do Facebook e dividiu apartamento com um dos pichadores/ grafiteiros durante seis meses. As histórias narradas por eles, as observações do pesquisador nos encontros e eventos na cidade e as fotografias de pichações/graffitis construíram o diário de campo da pesquisa. Alguns trechos desse diário que compõem a pesquisa foram selecionados e podem ser conferidos a seguir.

O outro aponta: “Não tenho como explicar essa diferença(grafiteiro/pichador), pois essa percepção se dá em cada indivíduo imerso nesse contexto”.

a Um dos principais pichadores/grafiteiros interlocutores da pesquisa diz: "Falar grafiteiro é meio forçado. Eu pinto. Sou artista. No início era vandalismo mesmo, mas agora faço muito mais coisas. Hoje penso muito mais no que vou fazer do que simplesmente chegar e 'vomitar' na rua".

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Uma das interlocutoras classifica a si como “pixadora, com x”, porque, para ela, “a pixação com x não é só uns riscos nas paredes, é um movimento, uma identidade cultural transgressora”, mas isso não é tudo, “também faço coisas autorizadas e coloridas de vez em quando, bomb, graffiti, grapixo...”.

a Outra já se refere ao graffiti e à pichação como “arte de rua” e, ao mesmo tempo, diz: “Eu não me considero grafiteira, acho que não tenho produção suficiente pra isso, mas a minha vivência no meio é tão grande quanto à do cara que tá ali fazendo graffiti todo dia”.

a Outro interlocutor, especialista em pichar/ grafitar no alto dos prédios, utiliza-se da denominação “ladrão de paredes”.

a Um

dos precursores da pichação/graffiti em Santa Maria diz que “pichação e graffiti têm diferenças estéticas, mas, no fundo, estão no mesmo fluxo”. A prática seria um “vandalismo poético” e sua relação com a rua como “uma poética do particular coletivo” ou “manifestação de liberdade urbana”, sendo Total Vandal uma de suas tags.

diário de campo

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O dono de uma loja de street art

Tretas feministas

Em oficinas ministradas na sua loja, o dono chama atenção para a inquietude que é a pichação. Nas oficinas, ele sempre procurou frisar que ele vem do “movimento da pichação” e reconhecer que ela está na “origem do graffiti”, afirmando, no entanto, que hoje se identifica mais com este do que com aquela. Percebi que suas falas são de alertas do legal/ilegal: “A pichação dá muita adrenalina. Quando a pessoa tem entre 14 e 18 anos, ela quer e precisa fazer parte de um grupo. Ver a assinatura espalhada pela cidade dá uma sensação muito boa, tem muitos riscos, no início isso é bom, mas depois isso vai passando e o cara vai entrando em outras”.

Como estratégia de introduzir momentos de dissenso nas reuniões e nas aparições públicas do grupo Intelectuais do pixo, o qual participei como forma de discutir sobre pichações/graffitis na cidade, questionei suas próprias pré-noções argumentativas. Com isso, permitiu que viessem à tona informações e questões do campo da pichação/graffiti que talvez não viessem se eu me restringisse a observar ou a ser plenamente conivente com tudo o que o grupo diz e pensa. Relato de uma das pichadoras/grafiteiras, após introduzir questões provocadoras no grupo: “Tem pichador que não suporta a ideia de ter mina pichando no rolê, ainda mais se as mina forem feministas. Tem uma crew de uns guri de bosta que só saem pra atropelar o trampo das minas. Tem muito machismo no meio da pichação. Tem mano que bate na mina. O feminismo é necessário”. “O pior é que tem mina machista também”, disse outra.

Nos trilhos Na volta de um mutirão de graffiti, um dos pichadores/grafiteiros me convidou para ir embora pelos trilhos em direção à Vila Leste. O pichador que fez o convite narrou sua história: “Bah, sou fissurado por trens e trilhos, não apenas para pintar, mas porque acho que eles têm tudo a ver com a cidade. Esses trilhos são as veias de Santa Maria, foi a partir deles que a coisa começou. Quero ver se volto a fazer uns trampos em trens. Quando você pinta no trem, quem vai curtir o trem vai ser a galera que tá ligada nessas questões da linha, a grafitagem de trens e seus riscos. E aí, o trem vai daqui até o Paraná, por exemplo, e o pessoal que pinta no Paraná vai ver. E daí entra em contato. Perguntei se todo pichador/grafiteiro da cidade gosta de pintar trens. Respondeu: “Acho que não, isso é mais para quem é ‘das antigas’, as novas gerações preferem muros e subir em prédios”.

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Saúde mental e a pichação/graffiti Em uma roda de conversa sobre pichação e saúde mental, realizada na loja de street art: Um rapaz perguntou: “pichação não é uma doença? Esse lance de subir em prédio para fazer uns riscos e estragar a parede de alguém não é coisa de gente que precisa se tratar?”. “Pichar pode ser uma maneira de desopilar. A sociedade é que está doente”, respondeu um estudante de psicologia e, em seguida, sua colega: “eu tento entender a pichação enquanto manifestação, uma forma de expressão, mas se for no muro da minha casa eu não gosto (risos)”.


A campanha Santa Maria do Bem

Arma na cara

Em 2015, houve dois empreendimentos envolvendo governo, mídia e empresas: a campanha Santa Maria do Bem e a Operação Solvente, para coibir e penalizar os pichadores. A internet virou um campo do conflito de moradores, proprietários e pichadores/grafiteiros. Concomitantemente, a campanha propôs o uso do graffiti para combater a pichação, incentivando os moradores a cederem o muro de suas casas para a produção de graffiti. Um pichador/grafiteiro e uma pichadora/grafiteira, ambos precursores da pichação/graffiti na cidade, participaram da campanha. Na fala da pichadora/grafiteira para jornais, ela se apresentou como ex-pichadora e argumentou que os empreendedores e moradores da cidade não querem suas casas rabiscadas com ofensas. Sua participação e depoimento suscitou críticas: “Às vezes tento entender, sei que ela tem filho e tudo mais, daí não é muito difícil aceitar se juntar ($) à prefeitura, mas usar esse discurso [...] fico triste com essa fala dela.” Em resposta, a pichadora/grafiteira disse: “A galera do graffiti não gosta porque é do Poder Público. Eu já sabia de tudo isso. Mas quando é que eu iria ter a oportunidade de pintar e ganhar material bom? Spray é caro. É uma arte cara”.

Conversando na volta para casa com um dos pichadores/grafiteiros consagrados na cena local por escalar prédios para pichar/grafitar, ele narrava algumas de suas missões mais arriscadas. “Quando eu estava riscando, o morador acordou e saiu na sacada, me viu lá em cima e mandou eu descer, disse que ia chamar a polícia. Eu disse para ele ficar frio, que eu não era ladrão, que só ia descer depois de terminar meu trampo. Daí ele entrou. Terminei o trampo e desci. Mas o mais doido foi quando cheguei em casa, já de manhã. Deitei a cabeça no travesseiro, não deu uma hora, e acordei com a polícia dentro do meu quarto, com uma arma apontada na minha cara. Era o dia da Operação Rabisco, mandado de busca e apreensão. Levaram sprays, pincéis, tintas e cadernos meus. Já tenho uns vinte BO (boletim de ocorrência) nas costas por causa de pichação. E não pretendo parar tão cedo”. a Reportagem: Bibiana Pinheiro .

Estabelecimentos comerciais Estabelecimento com a seguinte frase: “Pedimos desculpas à cidade de Santa Maria, não pintaremos mais a parede”. As falas de moradores e proprietários de casas ou lojas pichadas também vão majoritariamente nesse sentido: “a gente pinta, e no outro dia eles vão lá e picham tudo de novo”; “a gente trabalha duro, ganha pouco, daí resolvemos pintar a casa, a gente só quer ter uma casinha ajeitada, já que o bairro é humilde, daí os caras vêm e riscam tudo, isso é ruim pra nossa autoestima”. Uns compram a briga, outros jogam a toalha.

Ilustração, Lettering e Diagramação: Deirdre Holanda

Glossário da pesquisa: Tags: siglas/assinatura pichadas de cada crew Crew: grupo de pichadores/grafiteiros Trampo: trabalho, em todos os casos, picho ou grafitti. Tretas: as intrigas entre os pichadores/grafiteiros Grupo “Intelectuais do pixo”: grupo que se propunha a produzir e apresentar pontos de vista “contra hegemônicos” nas lutas semânticas, no debate público em tornonda pichação/graffiti na cidade Mina: garota, menina, mulher Mano: garoto, menino, homem Rolê: “sair pela rua para pichar/grafitar” ou referência aos pontos de encontro dos pichadores/grafiteiros na cidade e a frequência que estão circulando com o grupo

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saúde

Projeto leva animal de apoio social ao encontro de crianças com câncer que estão internadas no Hospital Universitário de Santa Maria Quem vê os sorrisos das crianças que esperam a visita semanal da Pepê nem imagina que ela é uma terapeuta pouco convencional. A cadelinha, que exerce função de cão de apoio social no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), anima os corredores do Centro de Atendimento à Criança e Adolescente com Câncer (CtCriaC), acompanhada da psicóloga Fabiane Bortoluzzi Angelo Munhoz, sua tutora. A inspiração para o projeto Afago no Hospital veio de uma iniciativa de Fabiane, que realizava consultas no seu consultório particular com a presença de Pepê. Devido aos benefícios da presença animal que pode ajudar no tratamento dos pacientes internados –, e com o apoio dos médicos do Husm, as atividades foram ampliadas. A implantação da ideia no Hospital contou com a ajuda do programa Cuidado e Atenção à Criança e ao Adolescente em Tratamento Oncológico (Caacto), do curso de Terapia Ocupacional da UFSM. Criado e coordenado pela professora do Departamento de Terapia Ocupacional Amara Holanda, o Caacto articula ações de extensão, ensino e pesquisa na promoção da atenção integral à saúde das crianças e adolescentes em tratamento no serviço hematológico e oncológico, e de seus cuidadores. O programa realiza atividades que quebram o cotidiano da internação hospitalar, como sessões de filmes no Cine Pipoca, visitas guiadas ao Hospital e intervenções musicais. Além de marcar presença em algumas das ações do Caacto, Pepê realiza visitas semanais aos pacientes do CTCriaC. “O Afago no Hospital tem uma importância fundamental e excelente aceitação por parte das crianças, adolescentes e profissionais da saúde do serviço de hematologia e oncologia do Husm”, comenta Amara.

Pepê, a terapeuta de quatro patas

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Fotografias: Rafael Happke

Por trás da Afago no Hospital Antes de o projeto ser aplicado, foi preciso muito trabalho. Fabiane, juntamente com a terapeuta ocupacional do Husm Luisiana Onófrio e a residente Natyele Silva, reuniram-se para criar fluxogramas, em conjunto com os médicos do CTCriaC e a Comissão de Controle de Infecção (CCIH). Luisiana explica que o fluxograma é um protocolo que deve ser seguido pelo tutor para que qualquer cão tenha acesso ao Hospital. Com a aprovação dos protocolos pelos médicos e pela CCIH, o processo de habilitação da Pepê começou. Após passar por uma avaliação comportamental e seguir acompanhamento médico, a cadelinha aprendeu comandos de obediência e a se habituar com barulhos e toques. “Ter a orientação de um profissional especializado no treinamento de cães é fundamental para que o animal associe positivamente o contato humano”, pontua Fabiane. No entanto, não é somente o animal que deve ser preparado: a tutora precisa seguir um comportamento específico e prestar atenção nos sinais manifestados pelo cachorro: “Pode ter dias que ele não estará disposto, e temos que respeitar isso. Esse é um dos pilares da Intervenção Assistida com animais: o respeito ao bem-estar animal”, salienta a psicóloga. Para a elaboração dos fluxogramas, o projeto também teve a ajuda da psicóloga Silvana Fedeli Prado, coordenadora da ONG Patas Therapeutas, de São Paulo e referência no Brasil por trabalhar desde 2004 com cachorros em ambiente hospitalar. Entre os cuidados elencados, estão a limpeza das patas da Pepê com antisséptico antes de entrar e sair do CTCriaC, banho no dia anterior ou no dia da visita, escovação do pelo, vacinas e exames atualizados, e cautela com perfumes e essências para não causar indisposição nos pacientes. Ademais, é essencial que todos os envolvidos na visita lavem as mãos antes e depois do contato com o cão. Além dos cuidados básicos, existem precauções diferentes para as crianças com a imunidade baixa, como o uso de equipamentos de proteção individual. “No dia que a Pepê vem, eles já esperam de máscara e luva. Com a intervenção da cadelinha, o uso dessas peças fica muito mais leve e humanizado”, comenta Natiely. O projeto conta ainda com a ajuda das acadêmicas da Terapia Ocupacional Alessandra Freitas, Morgana Machado e Sabrina Franchi. Alessandra comenta que a melhor parte de participar das atividades é poder ver o sorriso de cada criança quando a Pepê adentra o CTCriac: “Faz com que elas esqueçam da dor e da doença, se divirtam, interajam e, de certa forma, aliviem a pressão do contexto hospitalar e do desconhecido gerado pela doença que rompeu sua rotina”. .

Visita da Pepê aos pacientes em tratamento

Bom pra cachorro (e pra humano também) Um dos benefícios oferecidos pela afagoterapia é a rapidez e a facilidade que o cão tem de auxiliar em tarefas que as crianças podem não se sentir tão motivadas a fazer: "A Pepê estimula a criança a sair do leito, proporcionando melhoras psicológicas, emocionais e sociais”, explica a psicóloga Fabiane. O amparo não é somente para as crianças. Natiely conta que a presença da cadelinha auxilia na independência das crianças em relação aos pais, os quais, normalmente, são porto seguro durante a experiência de internação. Ademais, ela ajuda a estreitar relações entre as famílias e os pacientes. “O ambiente hospitalar é tenso e doloroso. Então, quanto mais a gente conseguir propiciar para essas pessoas momentos prazerosos, provavelmente melhor vai ser para o tratamento”, comenta a tutora. Luisiana complementa, contando que a feição dos profissionais do Hospital também muda com a visita da mascote: “Parece que eles ficam mais leves e felizes. Isso é muito nítido, todo mundo percebe”. Até mesmo as pessoas que não têm ligação com o CTCriaC, como funcionários e pacientes de outras unidades, são beneficiadas pelo contato com a cadelinha. “Em um momento de angústia, aguardando a consulta ou o resultado de exames, receber o afago da Pepê por alguns segundos pode ser a única alegria que a pessoa vai ter no dia”, destaca Natiely. Satisfeita com os benefícios propiciados pelo projeto Afago no Hospital, Fabiane conta que a intenção do grupo é, futuramente, expandir as ações com a ampliação das equipes canina e humana, o atendimento a outros pacientes e, até mesmo, a criação de um grupo de estudos ou um núcleo de pesquisa sobre o assunto. a Reportagem: Martina Irigoyen . Lettering e Diagramação: Deidre Holanda

saúde

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economia

Finanças além

dos número$ Estudar finanças, cuidar das despesas, pesquisar preços e taxas de juros pode parecer complicado, longe da realidade do cotidiano e sem importância – mas não é. Tornou-se, cada vez mais, algo primordial tanto para as finanças pessoais quanto para a economia do país. Ao mostrar que a alfabetização financeira contribui diretamente para reduzir a propensão ao endividamento e a compras compulsivas, a pesquisa Desmistificando a alfabetização financeira: uma análise da perspectiva comportamental foi premiada como o melhor artigo científico da 18ª International Finance Conference. “O objetivo, em geral, é estudar as influências que as pessoas sofrem ao tomar suas decisões financeiras”, explica Kelmara Mendes Vieira, do Departamento de Ciências Administrativas da UFSM, uma das autoras do texto. Ao lado de Ani Caroline Grigion Potrich, doutora em Administração pela UFSM e docente na Universidade Federal de Santa Catarina, a autora afirma que as três condições para que a pessoa se torne alfabetizada financeiramente são: educação financeira, atitude favorável e comportamento adequado na hora de tomar uma decisão. O primeiro requisito se baseia no conhecimento de finanças, como saber o que é a taxa de juros, compra a prazo, e como elas se aplicam. A atitude favorável, por sua vez, supõe que a pessoa queira usar os conhecimentos financeiros e, por fim, use-os na hora da compra - sendo este o comportamento adequado. “A pessoa sabe o que é juro, mas, na hora da compra, ignora esse fator. Ela não seria, então, completamente alfabetizada financeiramente. O indivíduo tem que ter o conhecimento, mas também a atitude e o comportamento financeiro adequado”, explica Kelmara. Para realizar a pesquisa, as professoras visitaram, durante dois anos, os 31 municípios da região centro-oeste do Estado, incluindo Santa Maria, onde foram aplicados 2.487 questionários sobre conhecimento, atitude e comportamento financeiro. A partir das respostas, as pesquisadoras fizeram um termômetro de alfabetização financeira, avaliando os aspectos de propensão a compras compulsivas e a endividamentos. Como resultado, concluíram que quanto maior o nível de alfabetização financeira, menos a pessoa está propensa ao endividamento. Esse dado é ainda mais presente quando os indivíduos têm comportamentos de compras compulsivas, como exemplifica Kelmara: “Essas pessoas, quando veem uma liquidação, por exemplo, correm e compram coisas que não precisam. Adquirem aquilo só porque está em liquidação, sem pensar na taxa de juros, no quanto é vantagem ou não”. Segundo a pesquisadora, o Brasil está atrasado em relação aos níveis de educação financeira, se comparado a países mais desenvolvidos. Pesquisas demonstram

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economia

Alfabetização financeira reduz o endividamento e influencia comportamentos dos consumidores

que apenas 3% dos jovens de 15 anos têm níveis de educação financeira altos. “Se os jovens não estão aprendendo a lidar com seu dinheiro, nós vamos continuar tendo famílias extremamentes endividadas”, avalia a professora, que complementa: “Precisamos definir maneiras e estratégias para aumentar o nível e o número de pessoas alfabetizadas financeiramente. Com nossa pesquisa, mostramos que ainda faltam investimentos nessa área”. Uma das iniciativas existentes é a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), que objetiva promover a educação financeira e previdenciária, aumentando a capacidade do cidadão de saber administrar seus recursos, e contribuindo para a eficiência dos mercados financeiro, de capitais, de seguros e de Previdência. Na recente alteração da Base Comum Curricular das escolas, proposta pelo Governo Federal em 2017, a educação financeira passou a ser tratada de forma interdisciplinar. “É uma mudança estrutural, comportamental e de longo prazo, mas os primeiros passos estão sendo dados”, avalia Kelmara. Nesse sentido, Ani Caroline entende que, se as pessoas, o governo, a sociedade como um todo investirem em tornar as pessoas mais educadas financeiramente, a situação econômica, inclusive do país, pode melhorar. a Reportagem: Gabriel de David . Ilustração e Diagramação: Pollyana Santoro


dossiê

Alunos e professores são desafiados a saírem da zona de conforto em prol de um ensino mais acessível e colaborativo

Classes enfileiradas em direção ao quadro. À frente dele, a mesa do professor, em lugar de destaque. O ambiente exige silêncio e concentração. Apenas o docente fala; os demais ouvem e participam quando é conveniente. Se você já foi aluno, reconhecerá esse cenário – já que, há séculos, as salas de aula brasileiras estão configuradas dessa forma. Aos poucos, no entanto, novas técnicas e ferramentas ganham espaço. Nas chamadas metodologias ativas, estudantes e professores têm papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem, que se torna mais atrativo, participativo e eficiente. As mudanças se devem, especialmente, à ascensão de tecnologias na educação. Se antes os conhecimentos científicos estavam descritos basicamente em livros e eram transmitidos oralmente nas salas de aula, hoje podem ser acessados em qualquer lugar e a todo momento

por meio da internet. Paralelamente a isso, o avanço das pesquisas em inteligência artificial e programação tem permitido a inserção de atores e ferramentas virtuais mais interativas na educação, como os robôs. Os novos métodos beneficiam, também, os alunos com deficiência, que hoje ocupam cerca de 40 mil vagas em universidades brasileiras. Na UFSM, esse público enfrenta, diariamente, barreiras físicas, pedagógicas e sociais, que são amenizadas por meio de iniciativas de docentes e projetos locais. Ainda que existam desafios de ordem cultural e estrutural a serem superados, não há mais dúvidas: o investimento em inovação e acessibilidade em prol do conhecimento traz, aos poucos, benefícios a todos os envolvidos na rotina de ensino das universidades. a Fotografias: Thomás Dalcol Townsend

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Metodologias ativas colocam o aluno em foco e tornam o ensino mais atrativo

Ao chegar ao restaurante, você se acomoda à espera de alguém que lhe atenda. O garçom chega com o cardápio, e então você faz o pedido. No entanto, em vez de esperar pela entrega do prato pronto, você é convidado a ir à cozinha para auxiliar os chefs na escolha e no preparo dos alimentos. A experiência, ainda que cause estranhamento, faz com que você saia da zona de conforto. No âmbito das salas de aula, essa é a proposta das metodologias ativas: incentivar o envolvimento dos alunos no processo de ensino, tornando-o mais horizontal e efetivo. O termo engloba as técnicas que quebram rotinas tradicionais de sala de aula, como estudos de caso, simulações e debates – conhecidas há anos pelos alunos brasileiros. No entanto, foi a partir de 2010 que o conceito de metodologias ativas ficou conhecido no país, adaptado pela incorporação das tecnologias da

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informação e comunicação (TICs) como ferramentas de aprendizagem. Em qualquer dos formatos, o processo de ensino deixa de ser atribuído apenas ao professor, tornando-se um trabalho coletivo, que demanda a multiprofissionalidade. “O professor não é mais professor. Ele passa a ser um curador, um orientador, que guia e instiga o aluno. Nesse sentido, é fundamental contar com as orientações pedagógica e tecnológica”, explica Gisele Santiago, doutora em Agronomia pela UFSM e pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática na Universidade Franciscana (UFN), onde pesquisa sobre o ensino de genética mediado por metodologias ativas, empregando uma de suas ramificações, o ensino híbrido – o qual, por sua vez, compreende técnicas como a sala de aula invertida e a rotação por estações.

Sala de aula invertida: o professor envia os conteúdos ao aluno por meio de plataformas digitais, como o Moodle da UFSM, para serem estudados em casa. A aula é o momento de tirar dúvidas, debater em turma e fazer exercícios. Rotação por estações: um assunto é dividido em tópicos, apresentados em vários formatos, como vídeos, entrevistas e textos. Esses são distribuídos em diferentes pontos da sala –as estações –, juntamente com tarefas, que devem ser cumpridas pelos alunos, divididos em grupos. Ao final, todos têm contato com todo o assunto.


Por que a aula de hoje é imperdível?

Alunos ativos Os discentes desempenham papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem: “O professor pode propor, mas tudo depende de o aluno querer, se não vai voltar a ser uma sala de aula tradicional. O aprendizado é algo muito particular e depende do indivíduo”, explica Gisele, que elucida: as metodologias ativas pressupõem a maturidade e o compromisso do aluno em aprender. Essa mudança fez com que a turma de Bernardo Moro, acadêmico de Enfermagem da UFSM, reagisse com estranhamento aos debates, leitura e produção de cartazes propostos pelo professor de uma disciplina. “Foi difícil aceitar que uma dinâmica poderia ensinar mais do que algo copiado do quadro. A gente pensa que o jeito que aprendeu a vida toda é o certo”, relata o aluno. Segundo o técnico-administrativo da UFSM Alberto Pedro Antonello Neto, que estudou sobre o ensino híbrido em seu mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica, defendido em 2017, o desconforto inicial com as novas técnicas faz parte do processo. “No sistema tradicional de ensino, o aluno aguarda passivamente a transmissão do conteúdo pelo professor”, pontua o servidor, ressaltando a importância da capacitação docente para melhorar a aceitação e o aproveitamento por parte da turma. Neste sentido, Alberto Pedro ressalta que o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) é um dos setores que oferece cursos de aperfeiçoamento para os professores, com foco no emprego de tecnologias nas salas de aula.

Como trabalho de conclusão do curso de Engenharia Civil, Thayse Campos de Avila realizou um estudo de caso durante o primeiro semestre de 2018 na disciplina Infraestrutura de Transportes. A aluna propôs ao professor responsável a aplicação de metodologias pedagógicas diferentes das praticadas nas aulas, na intenção de verificar a efetividade dessas e comparar índices de reprovação, desistência e aplicação de exames do período em relação a anteriores. Para isso, foram realizadas reuniões semanais de criação e planejamento, todas guiadas pela pergunta: “Por que a aula de hoje é imperdível?”. A partir dela, o professor se preparou para tornar os encontros úteis e atrativos, utilizando técnicas como:

Alunos dispostos em grupos, com classes em círculo

De Infra para a Vida: discussões sobre resiliência emocional, futuro e desafios posteriores à graduação, ética e respeito

Moral da história: estudo principal do dia sintetizado em uma única frase, ao final da aula

Conteúdos passados em 15 minutos, com o tempo cronometrado – já que, de acordo com pesquisas, a capacidade de o aluno reter informações se esgota entre 10 e 20 minutos

No episódio anterior...: retomada, em alguns minutos, do conteúdo trabalhado na aula passada

No próximo episódio...: explicação do que seria abordado na semana seguinte e como o conteúdo se relacionava com o aprendizado recém-adquirido

Os resultados obtidos pelo professor em conjunto com a turma, ao final do semestre, foram positivos – como apresentados nos gráficos abaixo, feitos com base nos números levantados por Thayse:

Mudanças na base O professor do Departamento de Matemática do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) Ricardo Fajardo, que há 20 anos coordena um projeto de extensão que usa técnicas lúdicas para explicar matemática às séries finais do ensino fundamental, defende: “Para a escola básica mudar, é preciso que a universidade mude, porque a formação dos professores acontece aqui”. Para expandir a aplicação de metodologias ativas na UFSM, Gisele argumenta que são necessárias adequações pontuais no Projeto Pedagógico Institucional (PPI) da Universidade. A Técnica em Assuntos Educacionais da Pró-Reitoria de Graduação da UFSM Juliane Paprosqui Marchi da Silva ressalta que o PPI vigente, aprovado em 2016, dá abertura para que os professores inovem em sala de aula. Ela explica que a UFSM, por ser relativamente antiga, trabalha com base em disciplinas e departamentos, enquanto novas universidades estão organizadas de maneira a possibilitar maior contato dos alunos com projetos e problemas reais. “Uma mudança estrutural na UFSM seria complexa, e dependeria da alteração da Estatuinte, nosso maior documento”, explica Juliane, que esteve envolvida na construção do PPI.

Porcentagem de alunos em exame 28,6% 19%

23,8% 0%

13,8% 2014/1

2015/1

2016/1

2017/1

2018/1

A pesquisa da acadêmica vai ao encontro da opinião de Bernardo, aluno da Enfermagem: “Não importa se o professor tem apenas um quadro negro e um giz. Se ele tiver criatividade para passar o conteúdo, e o aluno estiver disposto a aprender, o ensino vai ser efetivo”. Diante disso, o senso comum de que as salas de aula brasileiras e os professores estão atrasados, enquanto alunos se atualizam, é colocado em xeque. a Reportagem: Andressa Canova Motter . Lettering: Deirdre Holanda . Diagramação: Lidiane Castagna . Ilustração: Pollyana Santoro

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A internet e a inteligência artificial em prol do ensino na Universidade

Pela manhã, a turma fica sabendo pelo grupo do WhatsApp que a aula no laboratório de informática foi cancelada. No caminho para a universidade, o aluno abre uma vídeo-aula no YouTube para reforçar os conteúdos, antes da avaliação final da disciplina. Ao chegar ao campus, a aula do dia é dada em um ambiente virtual, sem classes dispostas no formato tradicional e com uma infinidade de conteúdos disponíveis online. Todas essas situações parecem compor um futuro distante? Pois saiba que não. Isso já é realidade em alguns cursos da UFSM.

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Nas últimas décadas, a comunicação e a interação de alunos e professores foi amplamente beneficiada por aplicativos de trocas de mensagens, e o ritmo de produção e consumo de conteúdos foi acelerado. A grande quantidade de dados e informações em ambiente virtual, o armazenamento dessas informações em espaços chamados de nuvem, e a robótica estão, cada vez mais, mudando a forma como ensinamos e aprendemos. Mesmo que possa parecer algo natural e intrínseco da sociedade moderna, o uso de ferramentas digitais em sala de aula ainda exige adaptações dos sistemas de ensino e dos protagonistas do processo: alunos e professores.


Dando play no estudo

Também se aprende jogando

Se antes os conteúdos utilizados no ensino se restringiam aos livros didáticos tradicionais – ficando sujeitos ao “envelhecimento” das teorias ao longo do tempo – hoje, podem ser conferidos e, até mesmo, ajustados instantaneamente na internet. Já é comum estudar pelas telas dos celulares e computadores e, com isso, muitos professores migraram das salas de aula para os canais do YouTube, como forma alternativa de ensino. Na plataforma, são conhecidos como edutubers, pessoas que compartilham informações úteis e colaboram para a disseminação do conhecimento. Os vídeos permitem que os alunos tenham acesso aos conteúdos vistos em aula e possam revisá-los posteriormente. Pensando nisso, o professor Rafael Beltrame, do Departamento de Processamento de Energia Elétrica, gravou e disponibilizou online todas as suas aulas em seu canal no Youtube. A motivação surgiu a partir do entendimento de que a disciplina Eletromagnetismo para Sistemas e Automação, em especial, é considerada por muitos estudantes como uma das mais desafiadoras do curso, devido ao extenso conteúdo e por demandar habilidades da formação básica, especificamente em geometria analítica, álgebra e cálculo vetorial. Em 2016, as vídeo-aulas da disciplina foram disponibilizadas, via Moodle (software livre, de apoio à aprendizagem utilizado pela maior parte dos cursos da UFSM), exclusivamente aos alunos. Após o término do semestre, Rafael tornou público o material produzido, que soma aproximadamente 100 mil visualizações. “Quando se publica um material online, deve-ser ter em mente que os internautas serão ‘super sinceros’, seja para elogiar ou criticar. Porém, recebo frequentemente o contato de estudantes de diversas regiões do país agradecendo pelo auxílio proporcionado pelos vídeos e/ou solicitando acesso a material complementar de estudo, como slides e listas de exercícios”, comenta Rafael. Durante esses anos, o professor chegou a receber contato de estudantes de países africanos de língua portuguesa e descreve a reação surpreso: “Realmente, nunca considerei a possibilidade de o material ir tão longe”.

A ideia de trazer elementos de jogos, como bonificação e ranqueamento, para contextos de “não-jogo”, é também cada vez mais recorrente. A professora Giliane Bernardi, do Departamento de Computação Aplicada, explica que na gamificação do ensino, os artifícios de jogo servem para incentivar o estudo. “A gamificação surge para fomentar a motivação extrínseca. Você cria um elemento no jogo que pode incentivar o jogador/ aluno a interagir. Esse sistema pode ser aplicado no Moodle, por exemplo”, destaca a pesquisadora. De acordo com Giliane, os jogos, quando bem elaborados e utilizados, são uma boa opção para prender a atenção dos alunos e diminuir os percentuais de evasão: “Fazem os alunos participarem mais das aulas, interagir entre si e favorecem aqueles que têm dificuldade de entender conteúdos passados da forma tradicional”, complementa a docente. Desde 2017, uma equipe multiprofissional do Centro de Processamento de Dados da UFSM tem se debruçado na criação de um jogo educativo que deverá ser usado em breve nas escolas públicas de Santa Maria para o ensino da Educação Fiscal. A ideia é que cada jogador prove da experiência de ser “prefeito” da cidade, e consiga gerenciar os recursos e resolver os problemas apresentados. O programador do jogo, Cássio Fernandes Lemos, explica que há uma necessidade de decisão do jogador frente a determinadas questões que aparecem. “Isso estimula o raciocínio, o aprendizado. Passa-se um ensinamento através de uma situação onde o problema é apresentado diretamente ao aluno e não através de uma explicação escrita em um quadro na sala de aula”, complementa o programador. Além dos jogos mais clássicos e simples, há também aqueles que misturam a realidade com o virtual, por meio de uma câmera e com o uso de sensores de movimento, como giroscópio e acelerômetro. Em 2017, Alex Mazzuco defendeu sua dissertação no Mestrado Profissional em Tecnologias Educacionais em Rede, onde apresentou um sistema web criado para modelagem tridimensional de moléculas, utilizando a realidade virtual. O objetivo basicamente era criar um sistema web para planejamento e elaboração de aulas de química no Instituto Federal Farroupilha Campus São Borja. Com um código de barras bidimensional (QRCode), os estudantes puderam visualizar e interagir com as moléculas, por meio da realidade aumentada, que permitia movimentar, girar, aproximar e distanciar as partículas.

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A interação humano-robô O avanço da robótica sempre trouxe questionamentos sobre o futuro das interações entre humanos e robôs. Na UFSM, alguns testes já estão sendo feitos e comprovam que o convívio com máquinas poderá aprimorar o ensino e a aprendizagem. Um robô de nome Beo, programado com inteligência artificial, poderá circular pelas salas de aula nos próximos anos e tirar dúvidas da turma, servindo como um “agente companheiro” ou “tutor pedagógico” para os alunos. Atualmente, o trabalho, realizado em parceria entre o Grupo de Redes de Computadores e Computação Aplicada (Greca) e o Grupo de Automação e Robótica Aplicada (Garra), é aprimorado para diminuir o tempo de resposta de Beo, tornando as interações mais ágeis e naturais. A inteligência artificial ajuda a entender noções de física e matemática, mas o seu conceito muda com o passar do tempo, segundo o professor Rodrigo Guerra, também do Departamento de Processamento de Energia Elétrica: “Hoje em dia, o que está movimentando muito a economia e causando impactos muito grandes no estudo da inteligência artificial é baseado no big data e nas redes neurais artificiais. Estamos ficando muito bons em fazer inteligências artificiais que conseguem, depois de ver muitos exemplos, abstrair aquele conceito e resolver um problema nunca visto, mas da mesma natureza”.

Big data: conjunto de recursos computacionais que permite armazenar um grande volume de dados estruturados - geralmente organizados em linhas e colunas - e dados não estruturados, como vídeos, imagens e textos.

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Redes neurais artificiais: são uma espécie de modelo matemático que funciona de forma muito análoga ao sistema nervoso. São pequenos “nós” - ou neurônios - que fazem cálculos de adição e multiplicação e se conectam em uma estrutura, formando uma espécie de “teia”. Com essa tecnologia, é possível realizar o aprendizado de máquina, ou seja, aprender com dados, reconhecer padrões e tomar decisões com o mínimo de intervenção humana.


Explorando mundos virtuais Desde 2010, o Greca trabalha com realidades virtuais pensando em mundos virtuais. Com isso, o aluno, que se personifica na forma de um avatar, entra em uma plataforma online – a sala de aula – e encontra uma série de exercícios para serem feitos. “A liberdade para criar é imensa. Você pode disponibilizar no ambiente virtual vídeos, slides, conferências. Você pode ser quem quiser (um animal ou pessoa) e interagir com os demais”, destaca Giliane, que integra o Greca na linha de computação aplicada. Ali, podem interagir, por meio de áudio ou chat, com outros avatares – os colegas. Além disso, no ambiente virtual, deparam-se com “avatares tutores”, que foram configurados com inteligência artificial e estão programados para oferecer ajuda. De acordo com a professora Roseclea Duarte Medina, que atua junto ao Greca na linha de Sistemas Paralelos e Distribuídos, os agentes inteligentes são capazes de avaliar os erros dos alunos nas atividades e recomendar materiais para que os conteúdos sejam revisados. “Os agentes fazem um diferencial muito interessante, pois os alunos se sentem mais à vontade para interagir com um colega ou com um agente, e não diretamente com o professor”, ressalta a docente. Durante a aula no mundo virtual, os alunos podem até ficar em casa. O recomendado é, no entanto, que eles compareçam ao laboratório, por causa do acesso à internet, que se faz necessário.

O futuro: sala de aula inteligente Desde o início de 2018, o Greca trabalha na criação de salas de aula inteligentes. Com a análise e a interpretação do grande volume de dados gerados pelos indivíduos na internet, já é possível acompanhar, por exemplo, o desempenho dos alunos em tempo real. Quando o aprendizado se dá online e a avaliação acontece em etapas em uma plataforma digital, o professor sabe exatamente quanto tempo o aluno demorou para aprender cada conteúdo. Com a sala de aula inteligente, isso

se tornaria ainda mais evidente. A grande quantidade de dados sobre o aprendizado seria devidamente processada por inteligência artificial e permitiria a personalização do ensino. A ideia é que as pessoas cheguem na universidade e possam desfrutar de inúmeras vantagens da tecnologia. Em uma sala de aula inteligente, os alunos registrariam a presença com a biometria, facilitando o trabalho do professor, que não mais necessitaria fazer o registro de frequências e notas. Nesse ambiente, os sensores de temperatura e expressão facial dos alunos também poderiam ser reconhecidos, a fim de mudar a dinâmica da aula, favorecendo a adaptação dos conteúdos para cada aluno. Apesar de o projeto ainda estar em fase inicial – com os testes de sensores de temperatura e luminosidade –, a professora Roseclea descreve empolgada o objetivo: “Nesta sala, haverá uma integração total de todos os dispositivos, sensores integrados com o sistema acadêmico e com o mundo virtual, por exemplo, com os jogos. Nossa intenção é que ela seja a semente para o campus inteligente”.

Desafios a serem superados Não restam dúvidas sobre a presença da tecnologia no dia a dia dos jovens – uma geração que já nasceu conectada ao mundo virtual – e os impactos que esse novo perfil de aluno traz ao ambiente escolar e acadêmico. Esse contexto lança o desafio para escolas, universidades e professores sobre como usar os novos recursos tecnológicos a favor do ensino. Resistir à tecnologia não é uma opção. A professora Giliane Bernardi acredita que é necessário promover interações mais simples, com interfaces mais intuitivas que não tenham um nível de complexidade muito grande. “A mediação tecnológica precisa ser simples, rápida, eficiente e transparente”, complementa. Mas, para isso, precisam ser discutidos também a falta de infraestrutura, de investimentos no setor tecnológico e, principalmente, os valores pagos para o acesso à internet no país – como destaca a professora Roseclea: “Não adianta o aluno ter um celular, um computador bom e um mundo virtual disponível, mas não possuir uma rede de internet com qualidade”. a Reportagem: Tainara Liesenfeld . Lettering e Diagramação: Deirdre Holanda . Ilustração: Pollyana Santoro

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Instituições de ensino superior públicas brasileiras buscam novos métodos voltados à acessibilidade para pessoas com deficiência

A entrada de alunos com deficiência nas universidades brasileiras aumentou progressivamente desde a aprovação da Lei nº 12.711, em agosto de 2012, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quando foi adotada a política de cotas. Entretanto, o Ensino Superior está realmente preparado para receber pessoas, para as quais, antes, o acesso era bastante limitado? Esse foi um dos pontos principais da tese da professora do Departamento de Educação Especial da UFSM Sabrina Fernandes de Castro. Sua pesquisa tinha como finalidade identificar as ações e iniciativas de universidades públicas relacionadas ao ingresso e à

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permanência de estudantes com deficiência, abordando impedimentos e facilitadores da continuidade desses acadêmicos nas instituições de ensino. O estudo foi realizado em 13 Instituições de Ensino Superior (IES) públicas brasileiras. A pesquisadora entrevistou os reitores dessas instituições ou alguém que os representasse, além dos responsáveis pelos núcleos, serviços ou programas de atendimento especializados aos alunos com deficiência, e, por fim, talvez a parte mais interessada da história: os próprios discentes com deficiência.


Pela manutenção, contra a evasão A maioria dos serviços voltados aos acadêmicos brasileiros com deficiência é recente. Dentre as iniciativas, destaca-se, particularmente, a ideia do desenvolvimento do Programa Incluir, que é do Ministério da Educação. Um dos objetivos principais da iniciativa é criar núcleos responsáveis por implementar políticas de inclusão dentro das universidades públicas. Na UFSM, o Núcleo de Acessibilidade, criado em 2007, tem como objetivo facilitar os encaminhamentos gerados pelas demandas de acessibilidade. Por isso, anexo ao Núcleo, também há a Comissão de Acessibilidade. As ações de ambos são voltadas para alunos e servidores com transtorno do espectro autista, superdotação/altas habilidades, deficiências e surdez, que se deparam, diariamente, com obstáculos físicos e sociais existentes no ambiente universitário. Com o apoio dos núcleos, pessoas com deficiência podem desenvolver mais atividades de melhor forma, estando cada vez mais incluídas na vida acadêmica da instituição da qual fazem parte e se sentindo plenamente integradas à comunidade universitária. “São necessárias pequenas ações que tornem a universidade mais acolhedora, sua formação adequada, sua presença na instituição agradável, com o sentimento de que são realmente parte integrante da comunidade universitária”, argumenta Sabrina. Em sua tese, a pesquisadora classifica em quatro categorias – especificadas a seguir – as barreiras que dificultam a permanência de pessoas com deficiência nas universidades.

abc

? Barreiras pedagógicas: carência de materiais didáticos adaptados e, por consequência, problemas na atuação do intérprete. Barreiras atitudinais: comportamento dos professores em sala de aula, na maioria das vezes ainda pouco preparados; relacionamento com os colegas; desrespeito às vagas destinadas para os deficientes em estacionamentos; obstáculos colocados em rampas, calçadas e caminhos. Barreiras comunicacionais: falta de acessibilidade à informação; número insuficiente de tradutores ou intérpretes em Libras para surdos; uso de lousa e murais para passar os conteúdos em sala de aula – um problema para os alunos cegos. Deficiência visual: é de suma importância disponibilizar as provas com fonte ampliada, lupas, avaliações em braille, lupas e computador com sintetizador (DOS VOX ou outro software leitor de tela). Também é importante a ampliação do tempo de realização das provas, o auxílio de escribas (digitação em áudio) para a transcrição das respostas (assistência fiscal). Barreiras arquitetônicas: ausência de rampas ou escarpas com inclinação adequada; calçadas sem manutenção ou construídas com pisos impróprios; portas e banheiros estreitos; falta de corrimão, sinalização, referências, mapas táteis; telefones públicos mal colocados.

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Por outra lente

Fotografia ao alcance dos olhos de todos Na Educação Superior brasileira, existem 2203 alunos cegos, sendo que 449 estão matriculados em universidades federais, de acordo com relatórios elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 2017 – os mais atualizados até o momento. Em 2012, Rubia Sttefens, que nasceu cega, ingressou no curso de Jornalismo da UFSM de Frederico Westphalen. “Todo mundo enfrenta dificuldades, de formas diferentes, mas o fato de eu não enxergar nunca me impediu de fazer tudo como qualquer um. Meu principal obstáculo foi a falta de informação das outras pessoas. Tudo parece um 'bicho de sete cabeças' quando temos que enfrentar o desconhecido”, comenta Rubia, hoje jornalista. Com a entrada da aluna, a professora do Departamento de Comunicação da UFSM-FW Janaína Gomes, que dá aulas de fotografia na Instituição, tratou de adequar o ensino da disciplina. Para isso, contou com a ajuda de alguns colaboradores. Inicialmente, o apoio veio do jornalista e fotógrafo com baixa visão Teco Barbero, que ministrou a palestra "Fotografando os Sentidos", na UFSM/FW, além do professor Francisco de Lima, que é formado em audiodescrição pela Universidade Federal de Pernambuco, consolidando-a como tecnologia assistiva. “Teco foi fundamental para o avanço da confecção do material didático que desenvolvi. Com o professor Francisco pude compreender a psicofísica – área da ciência que estuda as relações entre as sensações subjetivas e os estímulos físicos, estabelecendo relações entre eles – como recurso para explicar o que eu e Rubia estávamos desenvolvendo, já para ensinar outros cegos a fotografar”, esclarece a docente.

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Teco Barbero teve dificuldades no seu período de graduação, entre 2001 e 2004, por causa da falta de adaptação na Universidade de Sorocaba (Uniso), onde estudava. “Era uma época que não se falava em acessibilidade dentro das universidades, principalmente para o curso de Jornalismo. Eu mesmo fui muito contestado, porque me perguntavam como eu faria uma foto e como eu pegaria em uma câmera”, lamenta Teco. Segundo a professora Janaína, Teco trouxe para Frederico Westphalen algumas técnicas que aprendeu com o jornalista, fotógrafo, produtor cultural e documentarista brasileiro Werinton Kermes. A partir desses métodos, ele desenvolveu uma oficina explorando, essencialmente, os cinco sentidos do corpo humano: visão, olfato, paladar, audição e tato. Na ocasião, alunos do curso estiveram no papel de monitores da oficina de fotografia para pessoas com deficiência visual, incluindo Rubia. “Teco representou a possibilidade de termos uma aluna cega em um curso com tamanha carga de conteúdo visual. Quebrando esse paradigma, fomos atrás de capacitações e o Núcleo de Acessibilidade da UFSM foi incansável em nos atender”, afirma a professora Janaína. A docente explica que, para o caso de Rubia, que é uma cega congênita, era necessário criar parâmetros físicos que servissem como ponto de referência para os seus enquadramentos e, para isso, tiveram que aprimorar a técnica com ajuda da matemática. Em um segundo momento, os planos mais abertos – aqueles que apresentam mais o ambiente na fotografia – precisavam ser conquistados. “Fotografia é, num primeiro momento, inimaginável para pessoas cegas, por ser totalmente visual. Eu não posso ver as imagens, mas posso mostrar para os outros o que eu quero ou o lugar onde estou. De certa forma, apesar de não enxergar, fotografar é também estar participando do mundo cada vez mais visual que vivemos atualmente”, afirma Rubia.

Na linha do horizonte Neste processo de ensino-aprendizado, foram construídos muitos instrumentos, inclusive, com materiais de PVC, MDF e barbante. Com eles, segundo Janaína, o aluno é capaz de entender que precisa aferir o tamanho do que vai fotografar e obter certo distanciamento do objeto a ser fotografado. “Nessa etapa, ele tem uma

relação sensorial de tato com o que vai enquadrar e, com isso, tem um referencial para entender como funciona fisicamente a abertura que as lentes objetivas proporcionam”, explica a professora. Janaína construiu uma pirâmide para ilustrar essa relação. Por meio dela, os acadêmicos cegos podem fazer selfies, pois é exatamente a distância que precisam tomar para fotografar alguém ou o próprio rosto. “Hoje parece simples, mas explicar e dar referentes para tudo isso foi um processo que demorou dois anos. Contei com a Rubia em todas as etapas, para que ela pudesse me dizer se o que eu estava pensando fazia sentido”, explica a professora. Para os planos mais abertos, Janaína combinou conhecimentos (denominados como regra dos terços), além da percepção da linha do horizonte e o uso do próprio corpo para direcionar a câmera e efetivar o enquadramento fotográfico. Uma das práticas realizadas com Rúbia aconteceu em um campo de soja, orientada pelo vento. Quando as folhas da planta viravam ao contrário, Janaína - que estava vendada - e Rúbia percebiam a passagem do vento nos campos. Com isso, a docente fazia a audiodescrição do local para sua aluna fotografar. Nas universidades, ainda não existem estruturas com audiodescritores nas lousas, que é uma tecnologia assistiva endereçada ao aprimoramento do ensino para alunos cegos. Janaína comenta que na UFSM foi assim: estudou-se a legislação e, com isso, foram proporcionadas as condições para a formação da aluna. “A audiodescrição deveria, sim, ser obrigatória como é Libras no sistema educacional. Outra coisa que precisa ser compreendida na educação de pessoas com deficiência é que cada uma tem uma necessidade distinta. Nada pode ser uniformizado num país que não tem ainda resolvido a inclusão na educação”, sinaliza a pesquisadora. Depois disso, a professora também idealizou oficinas de fotografia inclusiva em lugares como Espírito Santo, Alagoas, Maranhão e Pernambuco. “As pessoas cegas duvidam muito de que podem fotografar, porque estão acostumadas a não ter informações visuais. A primeira coisa que costumo observar é isso: que além de fotografar, as pessoas aprendem sobre coisas que ninguém fala com elas, como o que é a linha do horizonte”, expressa Janaína.


De acordo com a investigação de Sabrina, em 2008, de 225 Instituições de Ensino Superior públicas, somente 22 tinham vagas para pessoas com deficiência. A UFSM era uma delas, pois direciona, desde 2007, 5% de suas vagas para discentes com deficiência. Os dados a seguir foram divulgados em 2017 pelo Inep e mostram, com detalhes, números relacionados aos universitários com deficiência no Brasil.

BRASIL Total de alunos com deficiência 38272 matriculados nas universidades nacionais:

Obstáculos sobre rodas

Públicas

14293 Privadas

23979

14449

Autismo Infantil

Deficiência múltipla

Baixa Visão

Deficiência Física

690

10619

378

Deficiência auditiva

Síndrome de Asperger

5404

Superdotação

Surdez Cegueira

2203

1067 376 226

Deficiência Intelectual

2138

139

Surdocegueira

Síndrome de Rett

Transtorno Desintegrativo de Infância

2043

123

Total de deficiências: 39855 (o mesmo aluno pode ter mais de um tipo de deficiência) Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)

ufsm

Entre 2009 e 2017, 220 alunos com dificiência estavam regularmente matriculados na Universidade

Alunos regulares por unidades de ensino e campi: CCSH:

52

À distância:

CCS:

49

CCNE:

CT:

33

CCR: CE

12

CEFD:

4

9

UFSM Cachoeira do Sul:

3

CAL:

8

CTISM:

2

18

UFSM P. das Missões:

6

UFSM FW:

2

16

Colégio Politécnico:

5

Unidade Descentralizada de Silveira Martins:

1

Medicina é o curso com mais alunos apresentando alguma deficiência: 36

Matriculados por deficiência desde 2009:

Física

Visual

98 Auditiva

35

Transtornos de aprendizagem

8 Não especificado

13 5

5 Transtorno do espectro autista

Doença mental

Intelectual

112 Surdez

201

479

3

Dados do Núcleo de Acessibilidade da UFSM

Diante das dificuldades que o aluno do penúltimo semestre do curso de Medicina Eduardo Correa Nascimento tinha para se locomover durante as aulas práticas de cirurgia, realizadas no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), a Instituição adquiriu uma cadeira de rodas, no modelo stand-up. “Quando o Eduardo ingressou no estágio curricular obrigatório, conversamos sobre suas dificuldades de acessibilidade e quão difícil seria para realizar o estágio no bloco cirúrgico” relata Flávio Jobim, docente do Departamento de Ginecologia do curso de Medicina da UFSM. Foi o próprio estudante que encontrou esse modelo de cadeira, que é fabricada no Rio Grande do Sul e possibilita ao usuário com mais de 1,5 metro de altura ficar em pé. Seu projeto biomecânico possui dimensões estruturais com assento, encosto e apoio para os pés, garantindo estabilidade, ergonomia, conforto e segurança ao cadeirante. “No caso do Eduardo, sem essa valiosa ferramenta, ele não poderia participar dos procedimentos cirúrgicos e nem mesmo observá-los, já que as equipes se posicionam geralmente ao redor do paciente que fica em posição de decúbito (atitude do corpo em repouso em um plano horizontal) na mesa cirúrgica”, explica o professor, que auxiliou na aquisição do utensílio. A cadeira foi desenvolvida para que o estudante deficiente se mantenha saudável, principalmente nas suas funções circulatórias e respiratórias. Além disso, ao concentrar seu peso nos membros inferiores, o usuário previne a osteoporose, por colocar seus músculos e ossos em funcionamento. Eduardo descreve que, durante a graduação, as dificuldades foram imensas. “No meu primeiro dia de aula, já fiquei decepcionado com tamanho descaso por parte de todos, ao ter que ser carregado para poder chegar ao laboratório de anatomia. Não tinha nem rampa, muito menos banheiro adaptado nesse local”, conta. De acordo com o estudante, havia somente um banheiro acessível, mas estava localizado no segundo andar do prédio e, para chegar até lá, necessitava subir escadas. A aquisição da cadeira de rodas stand-up representou, nas palavras do acadêmico, a possibilidade de cursar o ensino superior com dignidade: “Me beneficiei ao ter um aprendizado igual ao dos meu colegas, podendo tratar das mais variadas especialidades cirúrgicas, no período em que pude estagiar no Husm”. a Reportagem: Guilherme de Vargas . Lettering: Deirdre Holanda . Ilustração e Diagramação: Pollyana Santoro

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a Reportagem: Andressa Canova Motter . Ilustração: Lidiane Castagna . Editor convidado: Augusto Machado Paim

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A PESQUISA COMO FORMA DE PREVENÇÃO Egresso da UFSM busca solucionar problemas de saúde pública por meio da análise do material genético de mosquitos Alguns mosquitos carregam consigo ameaças à saúde da população, devido às doenças que podem transmitir, como Chikungunya, Dengue e Zika vírus. Em busca de avanços científicos que relacionem a saúde pública a esses insetos, o egresso da UFSM Gabriel da Luz Wallau se especializou na área de Biologia Molecular e Bioinformática e, atualmente, trabalha na unidade da Fundação Oswaldo Cruz de Aggeu Magalhães, em Recife, onde existe um setor de pesquisa dedicado à Entomologia – o estudo dos insetos. Gabriel ingressou no curso de Ciências Biológicas da UFSM em 2004 e só saiu da Universidade em 2013, ao concluir o doutorado em Biodiversidade Animal. Quando conheceu a disciplina de Biologia Celular, ministrada pelo professor Elgion Loreto, o acadêmico percebeu que havia descoberto o rumo de sua carreira: ser pesquisador. Na disciplina, Gabriel aprendeu como funcionam as células do corpo humano e dos animais, bactérias e plantas. “Ao produzir conhecimento científico, estamos ajudando a humanidade a se conhecer melhor e conhecer melhor as coisas que a rodeia”, observa o biólogo. Durante o segundo semestre da graduação, o pesquisador iniciou estágio no Laboratório de Biologia Molecular e Sequenciamento, o LabDros, orientado pelo professor Elgion. Ali, estudava as moscas das frutas, chamadas drosófilas – que conferem o sufixo Dros ao Laboratório –, e foi nesse período que se interessou por se aprofundar no estudo do genoma e dos parasitas genéticos.

ENTRE GENOMAS, MOSQUITOS E COMPUTADORES O genoma é o conjunto de letras químicas que determinam características de um organismo, como, por exemplo, cor ou tamanho. O trabalho de Gabriel no momento é sequenciar o DNA

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de diferentes espécies de mosquitos, ou seja, estudar a sequência do genoma desses insetos. A partir desse estudo, busca-se permitir um melhor controle populacional, podendo diminuir o número de mosquitos ou até mesmo eliminá-los. Segundo o pesquisador, o genoma dos mosquitos é gigante, quase do tamanho do genoma humano (três bilhões de “letras” químicas), e por esse motivo não é possível realizar esse estudo manualmente anotando no caderno. É para suprir essa necessidade que se faz uso da bioinformática, outra área de atuação de Gabriel. A bioinformática utiliza os computadores para organizar, ler e interpretar informações sobre as sequências genômicas. O objetivo final dessas pesquisas é entender como funciona o mosquito para poder prevenir a transmissão de doenças para os seres humanos. Mesmo cinco anos depois de ter saído da UFSM, Gabriel ainda mantém contato e colabora com a Universidade, principalmente com o LabDros: “Trocamos ideias sobre projetos, ele nos auxilia na área de Bioinformática e compartilha amostras biológicas para analisar, tanto na UFSM quanto em Recife”, conta o professor Elgion. A área da pesquisa científica fascina Gabriel por estar em constante mudança: “Não existe trabalho repetitivo em ser cientista. Como ficar cansado ou entediado com algo que todo dia apresenta um quebra-cabeças novo para ser resolvido?”, questiona. Tanta admiração por ciência levou Gabriel a ocupar um lugar semelhante ao de quem lhe transmitiu conhecimento. A vontade de buscar e compartilhar descobertas tornou Gabriel orientador, no Instituto Fiocruz, de um grupo de pesquisa na área de patógenos/vetores, que abrange o conhecimento que ele adquiriu durante o período acadêmico na UFSM. a Reportagem: Mirella Joels . Ilustração e Diagramação: Pollyana Santoro


EDITORA UFSM

entrelaços

artísticos O livro O Movimento Criativo e Pedagógico de Frida Kahlo evidencia as ações da vida e obra da artista mexicana

Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, ou apenas Frida Kahlo, foi artista, professora e tornou-se símbolo de empoderamento feminino. Sua trajetória inspirou filmes biográficos, livros, músicas e outros produtos culturais e políticos no mundo todo. Em 2018, a Editora UFSM lançou a obra O Movimento Criativo e Pedagógico de Frida Kahlo, escrita pelo professor dos cursos de licenciatura e bacharelado em Dança da UFSM Odailso Berté. A partir do processo criativo desenvolvido pela pintora em seus trabalhos, o autor do livro decidiu debruçar-se sobre o trabalho docente de Kahlo e sua lógica combinando corpo, experiências e imagem. Para Berté, a inspiração para escrever o livro se explica através da “radicalidade de Frida em assumir no corpo a etnia, a identidade afetiva-sexual e a deficiência física de maneira performativa”. Embora não seja seu primeiro trabalho estimulado pela história de Kahlo, o escritor entende que o destaque do livro é explorar diferentes e quase desconhecidos movimentos da pintora. Para ele, é necessário o reconhecimento de aspectos da atividade criadora da artista, enfatizando que “arte é, primeiramente, trabalho, profissão, processo, investigação, e não um mero instrumento de sublimação ou de qualquer outra ação curativa ou salvadora”. Segundo Berté, Frida vivia em constante transformação e movimento. Um dos períodos destacados pelo autor – e que, não à toa, encontra-se no título do livro – é o que Kahlo dedicou à pedagogia. Foi no período da atuação como professora na Escuela Nacional de Pintura, Escultura y Grabado La Esmeralda, na Cidade do México, que Frida criou obras reconhecidas, como Autorretrato como tehuana, Autorretrato con monos e Raíces, todas de seu primeiro ano na instituição, 1943. Embora tenha permanecido apenas dois anos de maneira oficial, a artista desenvolveu processos artístico-pedagógicos até o final da vida, em 1954, com um pequeno grupo de alunos chamados Los Fridos. Odailso Berté relata que as práticas de ensino da artista eram extremamente ligadas à vida sociocultural e às experiências dos alunos. De acordo com Berté, que viajou até o México para conhecer sobre o passado da artista, O Movimento Criativo e Pedagógico de Frida Kahlo é “um livro acadêmico-afetivo que pode interessar a artistas, professores, investigadores e admiradores da pintora e professora”. Motivado pela história de Frida, o autor afirma: “Kahlo me move a construir conhecimento e arte com o outro, indo ao encontro da vida e sempre atento ao momento histórico que nos cabe viver”. a Reportagem: Paulo Ferraz . Ilustração e Diagramação: Mariana Wurzel

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Ensaio

Vendedores do oriente De caráter documental, série fotográfica de Ricardo Ravanello registra vendedores de rua na Ásia e na África

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Para as lentes de Ricardo Ravanello, o dia a dia de diferentes pessoas e lugares rende os melhores retratos. Com o objetivo de se inserir em realidades distintas da sua, o professor de fotografia do Departamento de Desenho Industrial da UFSM participou de cursos na Ásia e na África. A partir deles, surgiu a inspiração para a série Vendedores, produzida entre 2015 e 2017, com comerciantes de rua do Marrocos, Índia, Vietnã e Camboja. O fotógrafo considera os mercados públicos “uma espécie de janela para o passado” e retrata, nas suas fotografias, a peculiaridade de uma forma de comércio que passou a ser rara em vários locais do mundo, mas continua fortemente presente nas culturas orientais observadas por ele. Como filosofia de criação, o fotógrafo adotou dois aspectos fundamentais: o primeiro é a materialidade, que explora os processos da impressão química e dá à fotografia

condição de originalidade, exclusividade e raridade. O segundo ponto reconhece a essência da foto como produção ficcional, capaz de carregar imaginários – fator que permite explorar a emocionalidade humana, contar histórias e transformar elementos do mundo visível em objetos estéticos. Por terem caráter documental – gênero que trabalha no registro cultural ou artístico de um momento –, a produção das imagens desafiou a introspecção de Ricardo, pois era necessária a sua integração com o lugar e a população: “Você precisa criar um laço com as pessoas antes de fotografar. Isso tem que acontecer quase de forma imediata, porque você está de passagem por um local”, relata o docente, que aliou a compreensão de estética à técnica fotográfica e à intuição na escolha das cenas e dos personagens que podem ser vistos neste ensaio. a Reportagem: Martina Irigoyen . Diagramação: Lidiane Castagna

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recordações

*por Darcy Wiethan Outro dia, eu estava conversando com alguns alunos, e meio que de brincadeira disse que, se existisse internet quando era jovem, hoje eu estaria rico. Como é fácil ter ideias e se informar ali, né?! Mesmo sem as tecnologias, a minha curiosidade fez com que eu aprendesse várias atividades, desde criança. Fui um moleque introspectivo, que não costumava estudar muito, mas aprendia com facilidade. Tinha o hábito de mexer e desmontar alguns itens domésticos, como a máquina de costura da mãe. Assim, aprendi a manusear equipamentos, afiar ferramentas, soldar, fazer instalação elétrica e algumas coisas de mecânica – enfim, uma série de coisas. Quando me tornei gente, não sabia exatamente que profissão iria abraçar. Fiz um teste vocacional, e o resultado deu “pluriaptidão”, mas com um viés para as ciências médicas. Bom, fiz vestibular para Medicina, quase passei. Faltaram alguns pontos. Tempos antes, comecei a aprender técnicas de marcenaria com meu irmão mais velho. Isso se tornou “uma cachaça”, e comecei a trabalhar na fabricação de móveis. Mesmo assim, fiz vestibular para Ciências Econômicas, por ser um dos únicos cursos noturnos disponíveis na UFSM. Passei com certa facilidade, mas não gostava da área. Meu negócio era a madeira. Mesmo assim, me formei Bacharel em Ciências Econômicas em 1985. Continuei trabalhando de forma autônoma, lidando com as muitas dificuldades que os planos econômicos da época nos impuseram. Até que, em 1994, abriu um concurso público na UFSM para marceneiro. Para quem já tinha esposa e uma filha de sete anos, pensei que seria uma opção mais segura, dado que, embora o salário fosse pequeno, havia a estabilidade de um emprego público. Entrei para a UFSM na marcenaria da Proinfra, onde trabalhei até 2007, quando fui convidado por telefone pelo então coordenador do Desenho Industrial, o professor Luiz Antonio Netto, para assumir, no curso, o laboratório que estava sendo criado. Como eu já estava trabalhando há bastante tempo no mesmo lugar, pensei: “Tá na hora de mudar”, mesmo sem conhecer o laboratório. Quando cheguei, as máquinas ainda estavam todas dentro de caixas, desmontadas. Percebi que

tinha muito trabalho para fazer. Minha inquietude se uniu à curiosidade e a todas as coisas que eu havia aprendido. Mesmo sem ser minha responsabilidade, comecei a encaixar os motores, as ligações elétricas e, assim, dia após dia, fui colocando em funcionamento parte do que temos hoje. E aqui estou desde então. Começo bem cedinho, às sete horas. O tempo todo tem alunos e professores no laboratório. Tenho uma boa relação com todos, e isso ajuda a tocar os desafios que sempre aparecem, em maior ou menor dificuldade. Posso dizer que já fizemos protótipo de geladeira, interior de ônibus, eletrodomésticos, cadeiras, equipamentos e dispositivos para pessoas especiais, sapatos, muitos projetos. Fico muito contente quando um ex-aluno se encontra num período de sucesso. Isso faz com que esse “quase” idoso tenha mais ânimo e vontade de continuar auxiliando essa meninada a crescer profissionalmente e a se tornar seres humanos melhores. Daqui a algum tempo irei me aposentar, levando a certeza de que cumpri um papel social importante, auxiliando na formação de novos profissionais. Também trago comigo a realização pessoal de fazer o que gosto, sempre com dedicação e carinho. Penso que só por meio da educação e do conhecimento mudaremos a nossa triste realidade social. a Ilustração e Diagramação: Mariana Wurzel . Lettering: Deirdre Holanda *Darcy é marceneiro do Laboratório de Modelos Tridimensionais (Labtri) do Departamento de Desenho Industrial da UFSM

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*por Isabel Cristina Lourenço da Silva

Somos medicina, Somos mujeres Somos brujas Somos todo lo que se puede y quiere ser, sin miedos ni mordazas. ¿Por que tienen miedo de nosotras? Porque somos la cura, porque somos el amor, y el amor puede todo lo que quiere, por eso, por eso tienen miedo de nosotras. Pueden intentar silenciarnos, pero somos semillas, somos aves en el vuelo, somos el viento, la lluvia. No pueden detenernos, no hay cómo detener la fuerza de la naturaleza, del amor. Yo estoy en todas, todas están en mí. a Lettering, Ilustração e Diagramação: Deirdre Holanda SOMOS TODAS MEDICINA Somos medicina, / Somos mulheres, / Somos bruxas / Somos tudo o que se pode e quer ser, / sem medos nem mordaças. / Por que têm medo de nós? / Porque somos a cura, porque somos o amor, e o amor pode tudo o que quer, por isso, / por isso têm medo de nós. / Podem tentar nos silenciar, mas somos sementes, somos aves em voo, / somos o vento, a chuva. / Não podem nos deter, não há como deter a força da natureza, do amor. / Eu estou em todas, todas estão em mim.

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escritos

*Engenheira Agrônoma e mestra em Extensão Rural pela UFSM. Atualmente, é aluna do curso de Licenciatura em Educação do Campo, no polo Seberi da Universidade


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