JORNALISMO CIENTÍFICO E CULTURAL • Nº 4 • SET/NOV 2014
ISSN: 2318-0757
envelheceR Projetos da UFSM focam em vivências dos idosos
CARTA DO
EDITOR O papel do Jornalismo Científico é aproximar a ciência do leitor. Oferecemos, com uma linguagem acessível, informações para que as pessoas entendam criticamente o seu entorno. Quando o conhecimento é assimilado, os leitores podem adaptá-lo às suas realidades e buscar transformar os contextos em que estão inseridos. O esforço para mostrar que os assuntos científicos também interessam aos não-cientistas vem se ampliando dia a dia. Essa busca por popularizar a cultura científica na sociedade torna-se cada vez mais importante, pois pode influenciar o desenvolvimento social, político, econômico e tecnológico brasileiro. A revista Arco é produzida com este ideal: permitir o acesso do público leigo às descobertas científicas e projetos desenvolvidos na UFSM. Pretendemos, com isso, contribuir para a geração de mais interesse pela ciência e para a difusão de uma cultura científica na sociedade. Não estamos sozinhos, já que esse é um processo coletivo, amplo e que envolve órgãos fomentadores, instituições de pesquisa, universidades, comunicadores, cientistas, educadores e estudantes. Neste quarto número da Arco, apresentamos algumas mudanças: firmou-se uma parceria com a Editora UFSM e, a partir desta edição, um dos livros publicados pela editora da nossa Universidade será o destaque de duas páginas da Arco. A obra Avifauna no Campus estreia a nova editoria. Outra novidade é que os designers da Ideorama, agência de Curitiba, assumiram a tarefa de diagramar a revista e traduzir em imagens, cores e formas as nossas ideias. Ajustes fazem parte de qualquer instituição pública, principalmente quando há mudança dos seus gestores, e esse contexto institucional acabou influenciando o tempo de produção da Arco. Ainda assim, acreditamos que a qualidade da publicação, tanto editorial quanto gráfica, foi mantida, e já estamos trabalhando para lançar, ainda este ano, a quinta edição da revista Arco. Conhecer e refletir sobre ciência e tecnologia é parte da formação cidadã de todos os indivíduos e pretendemos, através da popularização da ciência, seguir contribuindo para esse desenvolvimento. Boa leitura! Luciane Treulieb Editora-chefe da revista Arco
EDITORIAL
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sumário 07 Curiosidades Os porcos que escutam música, o memorial Reitor Mariano e os fósseis na região de Santa Maria
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diário de campo Histórias em um centro de umbanda
08 Nossas Invenções As diversas vantagens da luminária feita com LEDs criada na UFSM
09 Sociedade Desde 1967, o Projeto Rondon ajuda no desenvolvimento sustentável de cidades carentes do Brasil
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ensaio De vestido rodado, a figura emblemática da cultura gaúcha canta, dança e se emociona
ARCO a Revista de Jornalismo Científico e Cultural da Universidade Federal de Santa Maria
10 como surgiu?
30 Editora UFSM
A preparação do café, desde a infusão no Império Otomano até as cafeteiras Baristo, desenvolvidas na UFSM
Fotografias das aves do campus da UFSM são o destaque do livro Avifauna
16 Cultivo
37 Recordações
Laboratório da UFSM ajuda agricultores na identificação e manejo eficiente da lagarta Helicoverpa armigera
O fotógrafo Ricardo Toscani relembra momentos na UFSM compartilhados com o professor Paulo Kuhlmann
Universidade Federal de Santa Maria Reitor Paulo Afonso Burmann Vice-Reitor Paulo Bayard Dias Gonçalves
CONSELHO EDITORIAL Albertinho Luiz Gallina Pró-reitor de Graduação Amanda Eloina Scherer Professora do Departamento de Letras Clássicas e Linguística
18 Química
38 Escritos
A Viagem de Kemi propõe uma forma diferente de falar sobre conteúdos da Química
O patinho Tom aprendeu várias lições na história escrita por Maicon dos Santos no Ateliê de Textos
Ascísio dos Reis Pereira Coordenador de Eventos e Difusão Cultural da Pró-Reitoria de Extensão Bernardo Baldisserotto Professor do Departamento de Fisiologia e Farmacologia Cássio dos Santos Tomaim Professor do Departamento de Ciências de Comunicação (Cesnors) Graziela Maria Braga da Silva Coordenadora da Coordenadoria de Comunicação Social Hélio Leães Hey Diretor do Núcleo de Inovação e Transferência em Tecnologia Ivan Luiz Brondani Professor do Departamento de Zootecnia José Neri Gottfried Paniz Professor do Departamento de Química Luiz Fernando Sangói Coordenador da Educação Básica, Técnica e Tecnológica Marco Aurélio de Figueiredo Acosta Professor do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas Marilda Oliveira de Oliveira Professora do Departamento de Metodologia de Ensino
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Educação Entre os desafios de ensinar e aprender, uma pausa para pensar a educação
Mônica Elisa Dias Pons Professora do Departamento Multidisciplinar (Udessm) Paulo Cesar Piquini Coordenador de Iniciação Científica da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Raul Ceretta Nunes Professor do Departamento de Eletrônica e Computação Vitor Otávio Fernandes Biasoli Professor do Departamento de História
19 dossiê Idosos são protagonistas de projetos e histórias desenvolvidos na UFSM
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MORADIAS Em casa ou em instituições para idosos? Estudos refletem condições e possibilidades na terceira idade
ATIVIDADES FÍSICAS Idosos vêm à UFSM para praticar exercícios e melhorar a qualidade de vida
JORNALISMO LITERÁRIO Memórias de idosos homossexuais em biografias escritas por um estudante de Jornalismo
EXPEDIENTE Editora-chefe Luciane Treulieb Criação e Diagramação Ideorama Comunicação Fotografias Luciele Rocha de Oliveira Repórteres Augusto Acosta de Vasconcelos, Andréa Corneli Ortis, Daniela Pin Menegazzo, Luciele Rocha de Oliveira, Myrella Tatiane Allgayer (acadêmicos de Jornalismo); Ricardo Bonfanti Colaboradores Cristiane Fuzer, Átila Augusto Stock da Rosa, Camilla Milder Costa, Daniela Silva Huberty, Juliana Sarubbi, Maicon Molinari dos Santos, Ricardo Raymundo Toscani, Pedro Saurin, Dirceu Gassen Revisão Alcione Manzoni Bidinoto
Revista ARCO Telefone: (55) 3220 6118 E-mail: arco@ufsm.br ufsm.br/arco UFSM - Av. Roraima nº 1000 - Cidade Universitária Bairro Camobi - Prédio da Reitoria, 10º andar, Coordenadoria de Comunicação Social, Núcleo Agência de Notícias CEP: 97105-900 – Santa Maria – RS – Brasil Distribuição: Gratuita Impressão: Gráfica Pallotti Tiragem: Mil exemplares
Fotografia: Pedro Porto
A 3º edição da Arco foi lançada no início de janeiro no Café da Cesma, no centro de Santa Maria. Foram distribuídos bloquinhos e exemplares da edição aos presentes.
carta do
leitor Este é o espaço reservado para os nossos leitores. Ficou com alguma dúvida? Percebeu algum erro? Quer fazer um comentário ou um elogio? Escreva para a gente e colabore para que a Arco fique cada vez mais interessante!
Moradias A Revista Arco tem realizado um trabalho de excelente qualidade, não só pela diagramação da revista, mas, sobretudo, pelos conteúdos abordados, de fácil leitura pelo público interno da UFSM e especialmente pelo público externo, que é a comunidade de Santa Maria. As reportagens na sua maioria têm cunho científico, mas são relatadas de maneira simples e com uma linguagem de fácil entendimento. Gostaria também de parabenizar os editores da revista pelas ótimas matérias apresentadas na última edição (Jan/Mar 2014), que tratavam sobre as “Moradias Ecologicamente Corretas”, inclusive abordando a pesquisa da ‘Casa Popular Eficiente’, que desenvolvo no Centro de Tecnologia, em um importante laboratório de estudo que certamente trará contribuições significativas para a comunidade de Santa Maria e região. Marcos Vaghetti, professor do Departamento de Estruturas da Construção Civil
Ar fresco Fale com a gente Telefone: (55) 3220 6118 E-mail: arco@ufsm.br www.ufsm.br/arco www.facebook.com/RevistaArco UFSM – Av. Roraima nº 1000, Cidade Universitária, Bairro Camobi Prédio da Reitoria, 10º andar, Coordenadoria de Comunicação Social, Núcleo Agência de Notícias CEP: 97105-900 Santa Maria – RS – Brasil
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carta do leitor
Gostei muito da revista. O layout é ótimo, a comunicação é bem clara e “didática” e a escolha dos temas é excelente. Conheci um aspecto da UFSM que não conhecia, através dessa 3ª edição. Projetos de sustentabilidade, pesquisa de compostos naturais... Tudo isso é muito importante que a comunidade saiba. É um conhecimento que realmente é útil a todos. Vocês conseguiram tocar em pontos mais “universais” e que vão na contramão de diretrizes puramente econômicas que muitas vezes estão por trás do que é fomentado na universidade em termos de pesquisa. Agradeço pelo “ar fresco” que a revista produz, abrindo a mente e trazendo uma nova sensibilidade na escolha dos conteúdos divulgados. Mariana Freitas, aluna do curso Tecnólogo em Agricultura Familiar e Sustentabilidade da UFSM
curiosidades
VOCÊ SABIA?
É VERDADE QUE...? A cada edição, a seção Curiosidades responde àquelas questões que você sempre quis saber se eram mitos ou verdades e conta histórias singulares sobre a UFSM
É verdade que o comportamento dos porcos pode ser afetado pela música? Os sons, de um modo geral, podem estimular os animais a demonstrarem comportamentos desejáveis ou desencadear reações de medo. A música em si tem o poder de influenciar o comportamento e as respostas fisiológicas de diversas espécies, de forma positiva ou negativa, dependendo do estilo considerado e da forma como ela é aplicada. Até mesmo plantas podem ter seu potencial de germinação alterado em razão do estilo musical ao qual são expostas. Trabalhos realizados pelo Laboratório de Ambiência e Bem-Estar Animal da UFSM em Palmeira das Missões indicam que leitões que ouviram música (A Valsa das Flores, de Tchaikovsky), durante a maternidade e creche, apresentaram menos manifestações de comportamentos de luta. Já suínos na fase de terminação tiveram maior ingestão diária de alimento quando submetidos ao rock and roll, embora o ganho de peso tenha sido maior em animais que ouviram música clássica ou que não ouviram música. Muitos estudos ainda devem ser realizados para que a música seja considerada um enriquecimento ambiental, e não um desencadeador de estresse para os animais.
Os restos mortais do fundador da UFSM estão guardados na instituição? A edificação com 14 metros de altura de concreto e espelhos situada entre a Reitoria e o terminal de ônibus é um obelisco em memória a José Mariano da Rocha Filho, fundador da UFSM. Existem alguns mitos sobre essa construção; entre eles o de que sua forma triangular seria uma menção à maçonaria e o de que os restos mortais de Mariano da Rocha estariam no local. Pedro Saurin*, que foi o engenheiro do projeto, esclareceu que, diferentemente do que muitos pensam, o projeto não está relacionado aos maçons. Sua forma foi imaginada por Antonio Carlos de Lemos, membro da Associação dos Amigos do Memorial Reitor Mariano, como algo que “elevasse a memória de Mariano e refletisse o sol com esplendor, representando a luz do conhecimento”. Já a guarda dos restos mortais realmente está prevista no projeto do memorial. A ideia é que eles fiquem acolhidos em uma urna dentro do edifício. No entanto, ela ainda não está lá, assim como também falta concluir outras estruturas previstas na planta arquitetônica, como um espaço de visitação que apresente a história da UFSM e um lago em torno da passarela de concreto. O Memorial de Mariano da Rocha foi financiado via Lei Municipal de Incentivo à Cultura (LIC) e pela própria família Mariano da Rocha.
Por que são encontrados tantos fósseis na região de Santa Maria? A região central do Rio Grande do Sul, incluindo todas as cidades entre Mata e Venâncio Aires, está assentada sobre rochas sedimentares do período Triássico, formadas há mais de 200 milhões de anos. Essas rochas registram diversos ambientes do passado, relacionados aos rios e suas planícies de inundação (“várzeas”), cujos depósitos se transformaram respectivamente em arenitos e lamitos. Em cada exposição dessas rochas, natural ou artificial, podem aparecer os registros dos animais e vegetais do passado, conhecidos como fósseis. Já foram registrados fósseis de vertebrados, invertebrados e plantas, tanto de grande quanto de pequeno porte. Entre os vertebrados existem diversos répteis, como os dicinodontes e os cinodontes, que deram origem aos mamíferos, os arcossauros, procolofonoides, peixes, anfíbios e os dinossauros. Entre estes últimos se incluem os mais primitivos do mundo, como Staurikosaurus pricei e Saturnalia tupiniquim, dinossauros encontrados em Santa Maria.
Mande a sua dúvida ou conte a sua história curiosa relativa à UFSM para nós: arco@ufsm.br. Colaboraram os professores Átila Augusto Stock da Rosa, Juliana Sarubbi e o engenheiro Pedro Saurin. *Nota da editora: O engenheiro Pedro Saurin faleceu em julho de 2014. A entrevista que ele concedeu à Arco foi realizada em março deste ano.
curiosidades
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nossas invenções
ideia que
ilumina Fotografia: Luciele Oliveira
O resultado salta aos olhos: uma luminária de eficácia elevada, com alto índice de reprodução de cores e que pode ter vida útil de até 10 anos. O Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Reatores Eletrônicos (Gedre) da UFSM é o responsável por desenvolver esse projeto, pioneiro no Brasil. A luminária foi feita a partir de diodos emissores de luz (LEDs), dispositivos que apresentam diversas vantagens para a iluminação (veja quadro). A concepção da luminária surgiu em 2011, como parte da dissertação intitulada Metodologia de Projeto Eletrotérmico de LEDs aplicada ao desenvolvimento de Sistemas de Iluminação Pública, que tinha por objetivo investigar as características de operação do LED sob diferentes temperaturas. O doutorando em Engenharia Elétrica Vitor Cristiano Bender, que desenvolveu a proposta, explica que, desde o final dos anos de 1990, os LEDs deixaram de ser utilizados apenas como sinalizadores em aparelhos eletroeletrônicos e começaram a apresentar potencial para uso em iluminação. Isso fez com que a potência dos dispositivos aumentasse para terem a capacidade de produzir mais luz. No entanto, com a potência, aumentou também a temperatura, o que acarretou na redução do fluxo luminoso e até mesmo na falha do LED. A grande sacada do projeto desenvolvido na UFSM foi justamente buscar entender a interação entre corrente elétrica, temperatura e fluxo luminoso, resolvendo o problema e permitindo a criação de uma luminária que tivesse garantidas todas as vantagens que os LEDs apresentam para a iluminação. Além do gerenciamento térmico, o projeto destaca-se pela otimização fotométrica da luminária, com o direcionamento da luz produzida para a direção desejada, que, no caso da iluminação pública, são as vias, evitando que a luz seja direcionada para casas e edifícios. Já o circuito eletrônico que aciona os LEDs da luminária possibilita o uso racional da energia elétrica. Estima-se que a luminária proposta proporcione uma redução de 25% no consumo de energia elétrica na faixa de potência em que opera, podendo a redução ser ainda maior quando a tecnologia for aplicada em outras potências. Atualmente, dos cerca de 15 milhões de pontos de iluminação pública instalados no Brasil, 63%
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nossas invenções
Luminária feita com LEDs oferece vantagens à iluminação pública
são com lâmpadas de vapor de sódio (HPS), que consomem mais energia. Outro diferencial é que o modelo de luminária proposto cumpre com as normas vigentes quanto à manutenção e operação do sistema. Ao contrário de outros modelos, a luminária desenvolvida pelo Gedre apresenta um invólucro totalmente em alumínio, para otimizar a dissipação do calor e evitar a injeção de água, dejetos de pássaros e poeira nas aletas do dissipador e nos LEDs. A luminária foi finalizada em julho de 2012, depois de cerca de um ano de experimentos, e desde então tem sido utilizada como mostruário dos projetos desenvolvidos pelo grupo, além de servir como base de resultados experimentais para o desenvolvimento de artigos científicos. Uma patente do projeto foi requerida e está em processo de concessão. Caso haja interesse de órgãos de financiamento público ou privado, o projeto poderá ser industrializado e até aplicado a outras potências de luminárias. a Repórter: Ricardo Bonfanti
VANTAGENS QUE OS LEDS APRESENTAM PARA A ILUMINAÇÃO
elevada eficácia luminosa: considera-se a quantidade de luz produzida pela potência elétrica consumida
alto índice de reprodução de cores: a fidelidade da reprodução de cores em ambientes iluminados com LEDs em relação à reprodução proporcionada pelo sol
elevada temperatura de cor correlata: oferece cores mais frias, que incentivam a atividade e aumentam a acuidade visual, principalmente em períodos noturnos
elevada vida útil: 50 mil horas, podendo permanecer mais de 10 anos em operação, considerando ciclos de 12 horas
sociedade
A sala de aula
Senador La Rocque, Maranhão
é o Brasil Universitários de diversas localidades e áreas de ensino são conectados através do projeto Rondon
Este ano, a UFSM participou da Operação Portal da Amazônia, realizada entre os dias 25 de janeiro e 10 de fevereiro. A operação contou com 339 rondonistas de 34 instituições de ensino superior, distribuídos em 17 municípios, nos estados do Maranhão e Tocantins. A equipe da UFSM realizou suas atividades em Senador La Rocque, município localizado na região oeste do Maranhão. O grupo, liderado pelos professores Fernando do Nascimento Lock e Ubiratan Tupinambá da Costa, trabalhou nas áreas de Comunicação, Meio Ambiente, Trabalho e Tecnologia e Produção. Uma das participantes das oficinas do Rondon foi a professora de matemática Márcia Oliveira Castro, que elogiou a iniciativa: “Foi uma experiência gratificante, que trouxe ideias significativas e informações que serão úteis não só na minha sala de aula, mas no meu dia a dia.” a Repórter: Daniela Huberty
Fotografia: Daniela Huberty
Buscar soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes do país é o objetivo do Projeto Rondon, criado em 1967 pelo Governo Federal. O projeto envolve a participação de professores e estudantes universitários voluntários, que têm o compromisso de produzir projetos coletivos e realizar ações que capacitem multiplicadores e colaborem para o bem-estar da população. Entretanto, o benefício não é apenas daqueles que recebem as equipes em suas cidades, mas principalmente dos que participam das operações. O lema do projeto, “Lição de vida e de cidadania”, reforça um dos maiores legados do Rondon: a experiência da prática cidadã e de responsabilidade social. Além de contribuir para a própria formação acadêmica, o projeto permite aos universitários conhecer e vivenciar diferentes realidades e culturas.
COMUNICAÇÃO
MEIO AMBIENTE
TRABALHO
TECNOLOGIA E PRODUÇÃO
A equipe de Comunicação foi responsável pela divulgação do projeto na cidade. Para isso, produziu materiais informativos e visitou os veículos de comunicação do município e região, inclusive os comunitários. Também foram ministradas oficinas para incentivar a prática de parcerias para grupos comunitários, campanhas de valorização da cidade e rádios comunitárias.
Pensando na prática sustentável, estudantes de Engenharia Florestal da UFSM ensinaram os moradores do município a implantar uma horta comunitária, além de demonstrar a prática da compostagem, feita com materiais como cascas de frutas e de ovos e resto de alimentos. Outras atividades relacionadas ao meio ambiente foram as oficinas sobre reciclagem e saneamento básico, um dos maiores problemas da região.
Estudantes dos cursos de Engenharia de Produção e Ciências Contábeis foram os responsáveis pelas oficinas de Informática, em que os participantes puderam ver, na prática, como trabalhar em funções básicas do computador, como edição de texto, planilha eletrônica e apresentador de slides. A dupla também ministrou oficinas sobre orçamento familiar e empresarial, custo e formação de preço e associativismo e cooperativismo.
Acadêmicas dos cursos de Zootecnia e Medicina Veterinária ministraram oficinas relacionadas à produção de gado de leite e corte, boas práticas de fabricação, e doenças transmitidas por alimentos. Além disso, com a ajuda de toda a equipe, realizaram a demonstração de uma nova prática para a construção de casas ecológicas, bastante presentes na região, que utilizou telas de bioconstrução, em vez da técnica de pau a pique.
sociedade
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como surgiu
vaicafezinho um aí?
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Pingado, Expresso, Carioca, Capuccino, Latte. Hoje, há várias maneiras de se preparar o café, seja nas cafeteiras simples e domésticas ou nas grandes máquinas de expresso. A bebida, famosa por ter uma característica estimulante, conquista consumidores desde o Império Otomano
Em 1683, quando os otomanos chegaram a Veneza, levaram junto o hábito de tomar café. Iniciou-se o consumo de café na Europa, que era bebido por infusão: o café moído era colocado em uma xícara e, então, despejava-se água fervente nele.
Devido ao modo de infusão, boa parte do aroma do café era perdido, e o sabor não agradava a todos. Foi então que um farmacêutico chamado François-Antoine Descroisilles inventou a primeira cafeteira, em 1802, a qual possuía dois recipientes separados, permitindo que uma espécie de filtro metálico ficasse entre a água e o café. O recipiente de baixo era colocado no fogo, fervia a água e liberava o vapor para o recipiente de cima, onde estava o café moído.
Em 1806, o físico Benjamin Thompson criou um processo que ficou conhecido como gotejamento automático. A água quente era colocada dentro de um bule, sobre o café moído, e o líquido passava por várias camadas de elementos filtrantes.
Na década de 1940, o italiano Giovanni Achille Gaggia criou o modelo moderno de máquina de café expresso, causando um impacto na maneira como se consumia a bebida. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o inventor criou a empresa Gaggia, que produz máquinas de café expresso até hoje.
A senhora Melitta Bentz foi a responsável pela criação dos filtros de papel para café. Em 1908, a dona de casa, insatisfeita com os filtros à base de algodão, fez vários furos em uma caneca de latão, recortou um pedaço redondo de mata-borrão (papel muito absorvente) e usou-o para cobrir os furos. O papel permitiu que o café fosse coado, sem deixar restos de grãos. Em dezembro daquele mesmo ano, a senhora Melitta criou, junto com o marido, a empresa de filtros de papel que conhecemos até hoje.
Já na cafeteira moka, a água fazia o caminho inverso: era colocada no fundo e, quando sob pressão, subia e passava pelo café. Apesar de inventada por Alfonso Bialetti, foi patenteada por Luigi De Ponti, em 1933, na Itália.
COMO SURGIU?
Na cafeteira moderna, a água é aquecida em um compartimento, por meio de eletricidade. Quando ela ferve, cria bolhas que empurram a água para cima do mecanismo, através de um pequeno tubo. O tubo despeja água quente sobre o pó do café, já colocado dentro de um filtro. E então, temos o “café passado”, pronto para beber.
A primeira cafeteira elétrica, precursora das máquinas domésticas comuns, foi patenteada em 1954, na Alemanha. E la foi nomeada Wigomat, pelo inventor Gottlob Widmann. Nos anos 70, outras cafeteiras começaram a surgir, seguindo o princípio da água que passava pelo filtro e pingava em um recipiente de vidro.
Quem anda pelo campus da UFSM, principalmente durante o inverno, vê os copinhos fumegantes da empresa Baristo em algumas mãos. A Baristo surgiu em 2008, na Incubadora Tecnológica da UFSM, com o objetivo de criar e desenvolver máquinas de café. Os três sócios da empresa, dois deles egressos do curso de Engenharia Elétrica da Universidade, apostaram na qualidade das máquinas italianas, e passaram a importá-las, fazendo a preparação e a configuração destas a partir das necessidades de seus clientes. As primeiras máquinas da Baristo foram colocadas nas lancherias do campus. Com o crescimento, entre 2009 e 2010, a empresa saiu da Incubadora e mudou de sede, mas continuou na cidade de origem, onde ainda tem grande destaque. Hoje, há três bases de atendimento: nas regiões de Porto Alegre, Passo Fundo e Santa Maria. Atualmente, a Baristo atende mais de 100 cidades em todo o Rio Grande do Sul. a Repórter: Myrella Allgayer
COMO SURGIU?
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diário de campo
Um desencontro entre
corpo
e espírito Um terreiro de umbanda foi o local escolhido por uma pesquisadora das Ciências Sociais para buscar compreender como a religião se relaciona com uma doença como a depressão
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diário de campo
Helaysa estava em uma doutrina dominical no centro de umbanda quando o Cacique do terreiro perguntou aos presentes: “Quem aqui nunca tomou antidepressivo?” Muitos levantaram a mão em resposta. A partir disso, ela passou a se questionar como seria o tratamento para a depressão naquele grupo em específico, e se haveria alguma relação da doença com a mediunidade. Disto, surgiu sua pesquisa intitulada Psicoterapia e depressão na umbanda: um estudo de caso.
Quem procura tratamento para a depressão com um psiquiatra, e é diagnosticado com esta doença, provavelmente receberá uma receita de antidepressivo. Porém, há quem acredite que sintomas como estes não são solucionados somente de maneira “material” e passa a procurar sistemas simbólicos, como a umbanda, para o tratamento da doença. A egressa do curso de Ciências Sociais Helaysa Kurtz Gressler Pires escreveu em seu trabalho de conclusão de curso que, ao ler um texto do autor Clifford Geertz, de 1989, intitulado “A Religião como Sistema Cultural”, ela começou a pensar em maneiras de estudar o grupo religioso ao qual pertencia. Para iniciar o trabalho, em 2011, Helaysa pediu permissão ao cacique. A maior “autoridade” do terreiro, porém, é o “Guia-chefe” da casa, Pai Ogum Beira-Mar, que lidera através do cacique, seu médium. A pesquisadora teve a oportunidade de perguntar ao Guia como a depressão era vista por ele. O Guia lhe respondeu que, pela visão da umbanda, esta doença se refere a tipos de desencontros decorrentes de uma má ligação entre o espírito e o corpo. O espírito pode estar muito além de seu tempo, e não consegue se adaptar; a pessoa pode não ter sido bem recebida no momento em que nasceu; ou está muito voltada aos bens materiais, preocupada somente com o “ter”. O diário de campo começou a ser produzido no final de 2011. Atualmente, Helaysa está cursando o mestrado em Ciências Sociais e, desde então, continua coletando dados, já que o tema também é parte de seu projeto. O diário contém o que a pesquisadora pôde observar dentro da casa de umbanda. Já as entrevistas foram realizadas com alguns médiuns para tentar descobrir o que levara aquelas pessoas a procurar o terreiro e a religião da umbanda. Os médiuns contaram sobre o ingresso na casa, e a maioria relatou ter alguma dificuldade na época, como problemas familiares, de relacionamento, ou uso de drogas. Helaysa verificou sintomas e características presentes em manuais de psicologia que poderiam ser relacionados à depressão, apesar de nem sempre serem percebidos pelos seus entrevistados como tal. “As pessoas falavam de como elas eram, e de como elas são. De como hoje (após a inserção no terreiro) se consideram mais fiéis a si mesmas. [...] Não existe um remédio ali, algo racional. Mas existe uma lógica”, ela completa. a Repórter: Myrella Allgayer
22 de setembro de 2011 Nesta noite de sessão aberta ao público, chamada “assistência”, iniciei minhas observações no terreiro, ao qual eu já pertencia há dois anos. Porém, agora ele tomava outra forma, pois eu não estava mais participando do grupo como uma integrante e sim como uma neófita pesquisadora que fazia suas primeiras incursões em campo. Não sabendo exatamente o que anotar/observar, registrei que havia 20 mulheres e 8 homens vestidos de branco e participando do trabalho na “corrente mediúnica”. Entre as 20 mulheres médiuns, 10 delas eram “passistas”; e entre os 8 homens, 5 eram “passistas”. Os passistas são os que recebem as entidades e também atendem as pessoas da “assistência”. Enquanto o “cacique”, médium-sacerdote responsável pelos acontecimentos da sessão, proferia sua fala inicial, eu anotava “essa primeira fala é um momento em que uma reflexão é proposta para a assistência, e também contém algumas informações sobre o modo de funcionamento do terreiro que marcam fronteiras religiosas, por exemplo, não usar sacrifício de animais nos seus rituais e não cobrar.” Desviando meu olhar para os médiuns que formavam a corrente mediúnica, observei que cada um deles encontrava uma forma diferente de se concentrar: uns se balançavam para frente e para trás; outros, com a mão no coração, fechavam os olhos e ficavam em um estado de meditação; outros estavam escutando a fala do cacique; outros, olhando para o congá (altar).
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18 de janeiro de 2012
15 de fevereiro de 2012
Depois de um período de preparação e exploração, decidi que seria mais oportuno realizar a pesquisa trabalhando como “cambona”. Então, me propus a iniciar o ano de 2012 nesse lugar. E nesse dia foi a primeira sessão de caridade do ano. Cheguei como sempre chego: colocando a roupa branca, cumprimentando o congá (altar) e me colocando à disposição para o trabalho daquela noite. Depois disso, preparei o material de que eu iria precisar para aquela sessão: o bloco e o lápis. Ajudei outra cambona a arrumar uma porta que estava fechando mal, cortei o papel com as fichas numéricas que são distribuídas por ordem de chegada às pessoas (consulentes) que vão buscar o terreiro para passe e orientações. Busquei saber como deveriam ser feitas as anotações que as entidades passam aos consulentes e onde seria o meu lugar na distribuição das tarefas de cada cambono. Fiquei responsável pelas balas que são distribuídas para as crianças e por abrir a porta de saída. Mas, depois do ritual de abertura, eu acabei me deslocando um pouco de função e acabei realizando outras tarefas também.
Nesse dia era sessão de pretos-velhos. Antes de iniciar a sessão, conversei com uma médium, que me explicou sobre o significado da sua guia (colar de contas), que me chamou muito a atenção. Além de um significado que remetia ao trabalho de suas entidades no terreiro, essa guia também identificava a transposição para seu trabalho como agente de saúde. Depois disso, conversei com uma médium cambona, que estava em fase de transição para a condição de médium passista, que já é capaz de dar passes. Frequentemente, os médiuns em desenvolvimento passam por um período trabalhando como cambonos para aprender observando e ajudando nos trabalhos. Essa médium que estava em transição não sabia exatamente o que fazia, se ficava como cambona ou não. Mas, com a minha participação no grupo dos cambonos, ela poderia ficar na corrente mediúnica. E, depois de iniciados os trabalhos, ajudei os outros cambonos a colocar os bancos na frente dos médiuns passistas incorporados com seus pretos-velhos e pretas-velhas. No transcorrer dos trabalhos de cambona, anotei receitas com conjuntos de ervas e cachaça, que serviam para dores no corpo, observei que nesse dia muitas pessoas da assistência levavam roupas e fotos de familiares. Próximo ao final da sessão, eu e os outros cambonos estávamos sonolentos, nos sentindo pesados e cansados. Eu cheguei a ficar com dor de cabeça, então direcionei um pedido de ajuda aos guias para que eles levassem aquelas energias que não eram minhas e a dor amenizou. E depois que já não havia mais pessoas na assistência, fomos ao centro do terreiro, onde fomos descarregados. Na sessão seguinte questionei o cacique Paulo sobre a minha dor de cabeça e descobri que, mesmo realizando o trabalho de “cambona”, a minha concentração deveria estar focada nas energias do congá, pois lá está o centro das energias da sessão e nós, cambonos, “somos as pontes entre o mundo espiritual, através da corrente mediúnica, e o mundo material da assistência”.
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Entrevista com a médium Marta em julho de 2012
Entrevista com a médium Amanda em julho de 2012
Marta estava no terreiro há 6 anos e sua porta de entrada foi buscar orientações através do Tarô. “Eu coloquei um tarô, ele [cacique Paulo] conversou comigo e me falou da mediunidade, me falou que eu poderia aceitar ali, ou eu poderia ir em qualquer lugar, em qualquer religião, aquela em que eu gostasse, ele me falou. Aí, eu fui lá na terreira tomar um passe, fui uma vez, duas vezes. Porque, na verdade, eu e o Leonardo [seu esposo], nós tínhamos muitos problemas de convivência. Hoje, eu até entendo, eu sei que nós somos duas pessoas bem diferentes, com opiniões diferentes. [...] Às vezes a gente acabava brigando, e a gente acabou se separando umas três vezes. E, aos pouquinhos, a gente foi levando. Nessa época em que eu fui conversar com o Paulo, ele botou tarô e me disse que a maior parte dos meus problemas seria a mediunidade desajustada. Então, eu não tinha um controle do que... [...] ‘Tá, mas e aí, o que faz?’; ‘Ah, tu tem que achar um lugar!’ Passou um tempo, eu fui tomar um passe, a coisa complicou de novo e eu fui marcar outro tarô. Aí, ele conversou comigo, me acalmou, me falou sobre a mediunidade de novo e tal e coisa. A coisa melhorou. Complicou de novo e eu marquei o tarô de novo. [...] Tá, tudo bem, acalmou. Parecia que aquilo era mágico, eu é quem não entendia que aquele tarô e aquela conversa dele mexia comigo, mexia com a minha energia, na verdade, cada vez que eu chegava ali. E trabalhava, modificava o meu pensamento, e aí, acalmava. Por quê? Porque eu me acalmava. E nesse tarô, o último, o terceiro tarô que eu marquei, ele simplesmente abriu e disse para mim que ele não tinha nada mais para me dizer, e o meu problema era mediunidade, que ele já tinha me falado, e o meu problema estava todo em torno da mediunidade desajustada. Aí, eu meio desnorteada da cabeça, que não sabe para que lado tu vai, eu peguei e disse para ele ‘Bom, eu quero ouvir alguma coisa, eu estou te pagando o tarô!’ Ele disse assim: ‘Não seja por isso, eu te devolvo o dinheiro!’ E aquilo parece que me deu um choque de realidade e ele me disse: ‘Eu te pedi para tu procurar uma religião e tu procurou, para ir lá de vez em quando. Tu não entrou de cabeça na tua religião, tu não modificou as tuas atitudes. Então, como tu quer um resultado?’”
Amanda estava há 4 anos no terreiro e sua história envolveu uso e abuso de álcool e psicoativos. Ela foi a uma sessão junto com sua tia. Segue ela: “Eu tomei um passe com um mentor (guia) muito bom, mas saí de lá ainda com muita vibração. Voltei e falei com o cambono, falei que eu estava ruim de novo. Aí, Pai Ogum pediu que eu esperasse até o final. E eu esperei até o final. Quando ele me chamou para trabalhar e eu cheguei na frente dele com muita vibração, tremendo toda e ele disse assim para mim: ‘Bem-vinda! Eu estava te esperando!’ Quando ele abriu os braços para mim, eu não vi mais nada, eu só sentia que meu corpo estava levitando e aqueles pontos de Iemanjá. Ele trabalhou, acalmou a vibração e disse que eu tinha muita mediunidade e que eu tinha que desenvolver. [...] Eu lembro que eu chorava muito, eu não conseguia falar de tanto que eu chorava. Na outra semana eu marquei um tarô com o Paulo. Quando eu entrei na sala e o Paulo me olhou, eu comecei a chorar, eu chorava, chorava e eu comecei a contar a minha vida para ele. Das pessoas com quem eu tinha me envolvido, porque até aquele momento eu ainda era viciada em droga, eu ainda era viciada no álcool, porque eu bebia muito, eu ganhava a minha vida dançando na “zona” e aí eu comecei a contar para ele. Só o que ele disse para mim foi que era só para eu aceitar a minha missão e me ajudar, que as coisas iam melhorar. Eu lembro que, naquele dia, ele fez um reiki comigo e eu não acreditava em amor, eu não acreditava em paixão, eu não acreditava que a gente podia ser feliz. Para mim era o momento e mais nada, era aquilo e mais nada, não tinha sentimento pelas pessoas. Eu era como se tivesse uma pedra no coração. Aí, ele conversando comigo, ele disse que ia me ajudar, mas que para isso eu precisava me ajudar e que era para eu aceitar a espiritualidade na minha caminhada. E eu comecei a pensar.” Depois de contar todo processo pelo qual ela passou para deixar seus vícios e contar sobre como conheceu seu marido, ela disse: “Hoje eu sei o que é amar, hoje eu sei o que é ser feliz, hoje eu sei o que é tu estar no fundo do poço e tu recomeçar de novo.”
diário de campo
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Helicoverpa armigera: a temida lagarta O Laboratório de Manejo de Pragas da UFSM auxilia no combate da praga que vem preocupando os agricultores
Arranjo do solo, escolha e preparo de sementes, plantio, acompanhamento da floração e da maturação e, finalmente, colheita. A rotina de produção nos campos brasileiros era essa até a safra de 2013/14, quando agricultores relataram à Embrapa e aos órgãos de pesquisa o aparecimento de uma lagarta que não conseguiam controlar em suas lavouras. Chegou a se questionar se seria uma espécie mutante, resistente à tecnologia transgênica. Mas logo o inseto foi identificado: Helicoverpa armigera, uma lagarta catalogada pelo entomologista alemão Jakob Hübner, no ano de 1809. Embora a espécie seja conhecida há mais de duzentos anos e tenha sido registrada na Índia e na Austrália, em solo brasileiro era novidade. Uma devastadora novidade, que resultou em um prejuízo de cerca de 2 bilhões de reais, segundo a Embrapa. O professor Jerson Carús Guedes, coordenador do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da UFSM (LabMIP), explica que a Helicoverpa armigera é uma
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Cultivo
espécie invasora: a qualquer momento pode colonizar outras regiões e cultivos, especialmente devido ao intenso comércio mundial, à ampla gama de hospedeiros e se houver um ambiente favorável ao seu desenvolvimento. A praga pode atacar mais de 120 espécies vegetais, sendo as mais importantes o milho, o feijão, o algodão, o tomate e a soja, esta última a mais atacada pela espécie na safra deste ano, no sul do Brasil. No Rio Grande do Sul, mais de 30 municípios, dos 47 analisados, tiveram ocorrência da lagarta em suas plantações. A lagarta consegue se adaptar a diferentes ambientes, climas e sistemas de cultivo, o que explica sua presença em estados brasileiros de características
tão distintas, como Bahia e Rio Grande do Sul. Além disso, sua capacidade de reprodução, somada à tolerância a inseticidas, garante-lhe potencial de sobrevivência.
A identificação A identificação das lagartas é difícil em campo. Entretanto os heliothíneos (Heliothis e Helicoverpa) diferem dos demais grupos por recurvarem a cabeça e os primeiros segmentos, formando uma volta. Além disso, se estão na soja, provavelmente serão da espécie Helicoverpa armigera. Estas lagartas passam no solo a fase de pupa, e desta emerge uma mariposa. Segundo o prof. Jerson Guedes, a confirmação da espécie de Helicoverpa somente pode ser feita com o exame das mariposas, que nessa fase são diferenciadas pela análise da genitália dos machos e fêmeas. Esta análise tem sido feita rotineiramente no LabMIP da UFSM e registrada nos laudos de ocorrência da praga encaminhados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
eficaz no combate na Região Central do Rio Grande do Sul.
O apoio da UFSM Na UFSM, o LabMIP é o local onde são desenvolvidos diversos trabalhos com Helicoverpa armigera, buscando gerar informações para dar assistência aos produtores no controle desse inseto. Por meio de auxílio na identificação da lagarta, o LabMIP procura ajudar os agricultores a atuarem de forma eficiente no manejo da nova praga. Assim, com as experiências e pesquisas desenvolvidas pelos profissionais de diversas áreas ligadas ao manejo integrado de pragas, ocorrem trocas de conhecimento entre estudiosos e comunidade para garantir uma produção mais sustentável e com menor impacto ao ambiente. a Repórter: Augusto Vasconcelos
Em relação às demais pragas encontradas nas lavouras brasileiras, a Helicoverpa armigera é a que provoca maiores danos na soja. Mesmo havendo inseticidas eficientes, quando estes são aplicados fora de época ou em doses inadequadas, podem falhar e representar risco à produção. A busca pelo controle da praga, que acaba alterando um pouco a rotina dos agricultores, inicia-se com vistorias semanais nas lavouras. Na fase inicial de desenvolvimento da cultura de soja, a vistoria deve ser visual, focada principalmente nos trifólios jovens (ainda em expansão). Já no período reprodutivo da cultura, a avaliação visual deve ser direcionada a estruturas reprodutivas da planta, principalmente às vagens (legumes), porque essas estruturas são as preferidas pela Helicoverpa armigera. A partir do momento que a soja permite o uso do pano-de-batida (veja quadro), este deve ser utilizado em conjunto com a avaliação visual. Se, nessa avaliação, o produtor encontrar duas lagartas por metro de fileira de soja, a lavoura está no nível indicado para realizar o controle – que, na maioria dos casos, é a interferência com inseticidas biológicos ou químicos. O LabMIP da UFSM recomenda que, após atingida a população de insetos que causa dano à soja, o produtor utilize integradamente inseticidas biológicos e químicos, e estas técnicas de controle sejam empregadas quando as lagartas ainda apresentarem tamanho inferior a 1 centímetro de comprimento. A partir do florescimento, a penetração do agrotóxico nas folhas do terço inferior da planta (mais próximo ao solo) é muito baixa, exigindo maior atenção pelos agricultores. Segundo Jerson Guedes, apesar de o agrotóxico ser a ferramenta mais utilizada pelos agricultores no controle de Helicoverpa armigera, existem outras estratégias de manejo dessa praga. Trabalhos realizados pelo LabMIP demonstraram elevada taxa de parasitismo natural sobre essa lagarta em campo. Além disso, a utilização de inseticidas biológicos à base de bactérias e vírus foi
Fotografia: Dirceu Gassen
Controle da praga
Os heliothíneos (Heliothis e Helicoverpa) diferem dos demais grupos de lagartas por recurvarem a cabeça e os primeiros segmentos, formando uma volta
pano de batida vertical O pano-de-batida vertical é constituído de um bastão de madeira, na extremidade superior, e um tubo de policloreto de polivinila (100 mm), cortado ao meio longitudinalmente, na extremidade inferior, ligados entre si por um tecido branco, com comprimento de 1 metro e com altura ajustável à estatura das plantas de soja. Para a coleta dos insetos, o pano deve ser colocado verticalmente na entrelinha da cultura, e as plantas da fileira devem ser sacudidas contra a superfície do pano, a fim de que ocorra a queda das lagartas e outros insetos no pano, para se realizar a quantificação destes. Esse procedimento deve ser realizado em 15 pontos amostrais distribuídos na lavoura, para ser representativo da situação populacional de pragas que ocorrem na área.
cultivo
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próxima parada: o mundo De uma forma diferente e descontraída, A Viagem de Kemi propõe uma alternativa para professores e alunos desvendarem a química
A palavra “química” vem do egípcio kemi e significa “terra negra”. É também o nome dado à ciência que estuda todas as transformações que acontecem no universo: da composição da terra, do mar, da atmosfera, dos seres vivos. Embora sempre tão presente, suas infinitas fórmulas e ligações não raro causam boas dores de cabeça a professores e alunos que tentam compreendê-la, explicá-la e experimentá-la. São números daqui, misturas dali; e o resultado, muitas vezes, são mais perguntas. A busca por desmistificar o ensino da química e ajudar a encontrar respostas deu origem à série A Viagem de Kemi. A série foi criada, em 2011, como parte integrante do Projeto Condigital, dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, que tinha como objetivo a elaboração de mídias eletrônicas que servissem como material de apoio para as disciplinas do Ensino Médio. A proposta era desenvolver um total de 306 produções para cada matéria, divididas igualmente entre áudios, vídeos e jogos eletrônicos. A professora do Departamento de Química da UFSM e idealizadora de A Viagem de Kemi Marta Tocchetto considera este seu maior projeto profissional, devido ao desafio de traduzir o conteúdo de química para um formato leve, agradável e divertido, além do cuidado para não ferir conceitos, o que lhe exigiu uma ressignificação de concepções de ensino e metodologia. A proposta inicial apresentada aos desenvolvedores dos materiais era que, ao fim das produções de
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química
da química cada uma das disciplinas, elas fossem reunidas em um kit a ser entregue às escolas de todo o país, o que, no entanto, não ocorreu. Para Marta, isso fez com que, não só a sua série, mas também aquelas produzidas por outros professores, deixassem de ter seu potencial totalmente aproveitado pelos alunos que poderiam se beneficiar delas. “Eu sempre me preocupei muito com a questão da divulgação desse material, então fizemos um canal no Youtube para colocar pelo menos os vídeos ali. Criamos também uma página no Facebook. Mas até então, era só isso”. No início de 2014, a TV Campus, canal universitário da UFSM, tomou conhecimento dos vídeos e decidiu que o conteúdo faria parte de sua programação e que os vídeos seriam exibidos semanalmente. Marta destaca, no entanto, que a ideia é que A Viagem de Kemi sirva como ferramenta para o professor utilizar na escola ou mesmo para o aluno fixar os conteúdos aprendidos, e não como uma vídeo-aula. “Com uma média de dez minutos por episódio, eles são uma forma de fugir da aula convencional, a qual o professor muitas vezes está apegado. Isso porque é difícil, com toda a carga de trabalho, produzir algo novo ou diferente e, ao mesmo tempo, dar conta do vasto programa de conteúdos”. a Repórter: Daniela Pin Menegazzo
Que tal embarcar nessa viagem? O mundo da química te espera!
Viaje pelo mundo da Química também no Facebook! Acesse www.facebook.com/aviagemdekemi
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Vivendo e envelhecendo A 3ÂŞ idade como protagonista em pesquisas da Universidade
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um novo
envelhecer As relações humanas aparecem assim, sem eufemismos ou desculpas. Esse é “Nebraska”, um dos indicados deste ano ao Oscar de melhor filme - e também um momento em que ficção e realidade ficam lado a lado. No filme, Woody Grant, interpretado por Bruce Dern, recebe um informe publicitário que diz que ele poderia se tornar um milionário. Em idade avançada, alcoólatra, com sinais de esclerose e já sem muitas expectativas sobre a vida, essa se torna sua obsessão, mesmo que ele não possa dirigir até a cidade de Lincoln, no Nebraska, para retirar seu prêmio. Depois de muita insistência, o filho David, vivido por Will Forte, decide levá-lo na longa viagem, ainda que acredite que tudo não passe de uma farsa. No caminho eles se deparam com a dura, e muitas vezes até cansativa, relação que tentam desvelar. “Nebraska” é sobre a descoberta do momento em que os filhos precisam se tornar pais dos próprios pais. Traz a realidade de uma situação que ainda causa desconforto e que, embora renda discussões há tempos, é tema atual. O crescimento da população de idosos reforça essa ideia: segundo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050 o número de pessoas com mais de 60 anos de idade será aproximadamente três vezes maior do que o atual. A estimativa é ainda que os
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O envelhecer é uma etapa comum à vida, mas nem sempre compreendido em suas possibilidades
idosos componham cerca de um quinto da população mundial projetada, o que representa 1,9 bilhões de indivíduos de um total de nove bilhões. Os dados só reforçam a necessidade de estudos e políticas públicas que sirvam como contribuição para a melhoria da saúde e qualidade de vida nessa faixa etária. Com o crescimento da população idosa, tem aumentado também a demanda, ao longo dos últimos tempos, por Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs). Seja por fatores demográficos, de saúde, financeiros ou sociais, elas representam uma alternativa que não costuma ser de fácil escolha, tanto para os familiares quanto para o próprio idoso. A curiosidade em compreender esse cenário levou a enfermeira Naiana Oliveira dos Santos a trabalhar com o tema Família de idosos institucionalizados: perspectiva de trabalhadores de uma instituição de longa permanência em sua dissertação de mestrado para o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSM.
Uma nova rotina A opção pela institucionalização do idoso está ligada a diferentes motivos, alguns dos quais bastante contestados. Há os casos em que a família não possui condições de prestar os cuidados necessários e então opta pela institucionalização. A busca pelo asilamento também pode vir como uma tentativa de transferência de responsabilidades. Por vezes, a opção parte do próprio idoso, que busca um local no qual tenha atenção, conforto e o atendimento indispensável para suas necessidades básicas. Existem ainda aqueles que estão nas instituições por não possuírem família ou terem sido abandonados por elas, por não terem quem os cuide ou um local onde morar. Naiana conta que, nas vezes em que foi até as instituições, percebeu a ausência das famílias, que raramente faziam visitas. A carência tida como resultado era sempre expressa no pedido de um abraço, um minuto a mais de conversa ou um simples sorriso. A fala de um dos trabalhadores entrevistados para a pesquisa reforça essa ideia. Ele diz que a maioria das famílias não aparece há anos e estima, empiricamente, que isso é o que ocorre em torno de 70% dos casos. O afastamento daqueles que antes eram próximos faz com que os idosos institucionalizados criem novos laços e uma relação de carinho e respeito uns com os outros e também com os trabalhadores da instituição. Apesar disso, Naiana destaca que “os trabalhadores visualizam a ILPI como uma colaboradora no cuidado dos idosos. Por mais competentes e afetivos que sejam, a família dos idosos jamais será substituída”. A socialização nem sempre é fácil, por isso a importância da família é fundamental
A presença constante dos entes queridos é uma forma de incentivo que melhora a qualidade de vida daquele que espera que a idade já avançada não seja uma sentença de esquecimento.
Na área externa, dona Catarina (esquerda) e dona Rosalina (direita) aproveitam o lanche da tarde
Exemplo disso é dona Arlinda Motta dos Santos. Aos 107 anos, ela hoje reside no Abrigo Espírita Oscar Pithan e faz questão de se manter ativa. Embora não possua mais familiares, ela recebe visitas constantes daqueles com quem viveu durante anos. Cada encontro é esperado com ansiedade. Foi juntamente com eles que tomou a decisão de morar no Oscar Pithan. “O meu patrão disse que já estava na hora de pararmos de trabalhar, tanto ele quanto eu. Sugeriu comprar um apartamento para mim, mas aí o filho dele disse que talvez não fosse a melhor solução e eu concordei, porque também já não tenho mais ninguém para ficar comigo. Então eles me deram o dinheiro e resolvi vir para cá”, explica dona Arlinda. Há casos, porém, em que o afastamento dos familiares nasce da falta de compreensão e desconhecimento, seja da dinâmica da instituição, das formas de contribuir e mesmo da importância que esse contato tem para o idoso. Por isso, uma dinâmica que insira os familiares na rotina do local é não só útil, mas também essencial. Quando
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há uma relação de confiança e sinceridade estabelecida entre família, o idoso e os trabalhadores da ILPI, os vínculos afetivos são reforçados e a vivência da situação se torna menos traumática, embora, ainda assim, nem sempre fácil. Apesar da tentativa das instituições asilares de respeitar as peculiaridades e demandas de seus internos, em geral elas sofrem, principalmente as de caráter público e filantrópico, com dificuldades de ordem econômica. Como há de se supor, os recursos humanos acabam não sendo suficientes para dar conta de demandas tão específicas. A professora de Enfermagem do Centro de Educação Superior Norte–RS (CESNORS) e pesquisadora de temas ligados ao idoso Marinês Tambara Leite entende que por isso, e também pela própria dinâmica de coletividade das ILPIs, o idoso institucionalizado acaba sendo privado dos seus projetos, relações afetivas e traços de sua personalidade.
O asilo é a instância encarregada de acolher a face rejeitada do idoso e, na medida do possível, oferecer aquilo que a sociedade lhe negou. Muitas vezes ele traz consigo uma enorme carga de dor e sofrimento, pois ter uma ILPI como último refúgio significa habitar um universo paralelo, com um tipo de socialização alternativa, que só em situações bem específicas se toca com o mundo que lhe é exterior”, explica Marinês. Atividades que seriam comuns da vida diária, tais como ir ao supermercado ou visitar amigos e parentes, por exemplo, diminuem drasticamente ou deixam de existir. Essas restrições diminuem o convívio social e podem gerar uma sensação de falta de liberdade.
O aprender a conviver
Mesmo depois de o ofício de pedreiro lhe render algumas quedas e cirurgias, Setembrino faz questão de manter o sorriso no rosto e a horta do abrigo sempre abastecida
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Se a participação dos familiares na vida dos idosos institucionalizados é importante, ela se torna indispensável nos casos em que a opção feita é a de mantê-los mais perto, em casa. Não basta fornecer um lugar onde comer e dormir, é preciso dar os cuidados necessários, que não são apenas materiais. Tempo e boa vontade passam a ser quesitos fundamentais. A enfermeira Marinês lembra que o Brasil possui um aporte legal presente na Constituição com o intuito de garantir ao idoso respeito social e direito de viver e se relacionar melhor em sociedade. No artigo 229 fica determinado que, assim como os pais têm o dever de criar e educar os filhos menores de idade, os filhos maiores devem ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. “Existem idosos, no entanto, cujas famílias são muito pobres ou seus familiares não podem abandonar o mercado de trabalho para assumir tal responsabilidade. Isso faz com que haja um número considerável de idosos que vivem isolados socialmente, mesmo residindo com seus familiares”, pontua ainda Marinês. Em um contexto social no qual a família assume novas configurações, com menos membros, em que o ritmo de vida costuma
Aos 107 anos, dona Arlinda segue dando forma a peças de crochê em sua poltrona
ser de uma eterna corrida contra o tempo e as dificuldades financeiras são uma realidade constante, os obstáculos para a manutenção do idoso em seu lar apenas se somam. “Este panorama aponta para a necessidade da adoção de ações e de intervenções de gestores das políticas públicas, isso com o intuito de desenvolver recursos que proporcionem a manutenção da participação da família no contexto de vida”, enfatiza Naiana. Apesar da necessidade de suporte material, mesmo coisas muito simples, como ações de orientação e esclarecimento, podem fazer a diferença, especialmente nos casos em que o idoso é dependente para a realização das atividades da vida diária e requer cuidados diretos.
sem perder o ritmo Embora as representações sociais construídas em torno da velhice entendam-na como necessariamente ligada a um período de dependência e inatividade, a questão passa muito longe disso. Podem existir limitações, mas elas não são regra e nem fazem do envelhecer um sinônimo de doença. Seu Setembrino Domingues é exemplo disso. Seu trabalho como pedreiro lhe rendeu duas vértebras quebradas e fraturas em quatro pontos da perna. Foram dez meses parado. Vinte anos depois, mais uma queda séria, quatro meses de recuperação e a decisão de ir morar em uma uma Instituição de Longe Permanência para Idosos. “Cheguei aqui e foram uns dois ou três meses sem fazer nada, e eu não consigo ficar parado. Aí comecei a trabalhar na horta aqui do Oscar Pithan e tem uns dez anos que eu cuido dela. O que eu puder fazer sozinho eu faço e o que não dá deixo para o outro dia”, explica seu Setembrino. Em suas pesquisas na área e vivências, Marinês percebe que nas últimas décadas os idosos estão mais ativos e inseridos, tanto no espaço familiar como na sociedade. O acesso mais amplo aos serviços de saúde e aos bens sociais, tais como educação e renda, tem permitido me-
lhor qualidade de vida. A pesquisadora afirma que “estas novas características expressam o crescente afastamento da tradicional imagem do idoso inativo, aposentado da vida, e sua significativa substituição pela dos idosos dinâmicos, reunidos em grupos geracionais”. Em muitas situações, inclusive, o idoso contribui fortemente no orçamento ou mesmo cabe a ele tomar conta de outros integrantes da família, principalmente os netos. Outra realidade bastante comum são os idosos que preferem continuar vivendo em suas próprias casas, mesmo que isso possa significar não ter outras pessoas morando consigo. Essa é uma forma de preservar sua autonomia e independência - o que não significa solidão, uma vez que as relações afetivas se mantêm. Mas seja morando sozinhos ou com a família, uma tendência crescente é a participação dos idosos em grupos de terceira idade. Marinês entende que esse é um espaço importante para desencadear, tanto na pessoa idosa quanto na comunidade, uma mudança comportamental diante da situação de preconceito que existe nesta relação. Para os idosos, a inserção nesses grupos é uma busca por melhor qualidade de vida. É um espaço para realizar atividades que melhoram a saúde física, e também a mental, prevenindo perdas funcionais e recuperando capacidades. Mais ainda, é o desenvolvimento de novas amizades, de poder compartilhar experiências, sejam elas alegres ou tristes. Segundo Marinês, alguns estudos evidenciam que a participação dos idosos nos grupos de convivência leva não só a passar o tempo livre: “São espaços nos quais o convívio e a interação com e entre os idosos permitem a construção de laços simbólicos de identificação, onde é possível partilhar e negociar os significados da velhice, construindo novos modelos e identidades sociais”. É uma nova perspectiva que pode garantir a motivação necessária para seguir em frente e atingir, ou mesmo criar, objetivos para seguir em frente. a
Repórter: Daniela Pin Menegazzo | Fotografia: Luciele Oliveira
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Fotografia: Daniela Pin Menegazzo
envelheçamos Idosos vêm à UFSM para praticar exercícios, fazer amigos e melhorar a qualidade de vida
Os cabelos, brancos ou acinzentados, muitas vezes es-
em Santa Maria, de lugares públicos de lazer destinados
tão molhados. As mãos carregam bolsas com apetrechos
aos que já não têm um corpo tão flexível.
pessoais, como toalhas e garrafas d’água. As marcas pro-
Pensando em ampliar os horizontes dos idosos, o
fundas no rosto e pescoço indicam que a juventude já
Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade
não está presente, mas que eles fazem parte de outro
(Nieati), coordenado pelo professor Marco Aurélio Acosta,
ciclo da vida, a velhice. Caminhando em grupos ou pe-
é um exemplo dos projetos da UFSM voltados aos mais
gando o ônibus para irem embora do campus, eles dei-
velhos. Existente há 30 anos, surgiu com o intuito de
xam a dúvida por onde passam: o que estarão fazendo
incluir os idosos na prática da educação física, já que, na
na Universidade?
época, foi comprovado que as atividades eram voltadas
Desde meados de 1984, a UFSM, através do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), investe em pro-
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rindo
essencialmente aos esportes que priorizavam a juventude, como o futebol.
gramas de atividades físicas voltados aos idosos, ou seja,
Desde então, foram surgindo projetos de extensão na
àqueles com mais de 60 anos. Essa inclusão dos mais
Universidade que visavam trazer os idosos para o cam-
velhos na Universidade se dá principalmente pela falta,
pus ou, ainda, levar os esportes até eles. A UFSM oferece
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as aulas de natação e hidroginástica, que atendem cerca de 900 idosos de segunda-feira a sábado no ginásio do CEFD, a dança na terceira idade, o coral e os ciclos de cinema. Dentro dessa gama de projetos, o mais antigo é o de grupos de atividades físicas: “Geralmente os idosos se reúnem nos salões de igrejas, que são um ponto de referência do bairro, e praticam exercícios físicos duas vezes por semana com o auxílio de monitores, estudantes do curso”, explica Marco Aurélio. O projeto acaba trazendo ainda uma série de benefícios para a vida dos mais velhos, como, por exemplo, o convívio em sociedade. “Eles começam a conviver com pessoas que apresentam as mesmas características, como baixa escolaridade e problemas de saúde. São pessoas que, em uma certa dimensão, possuem semelhanças com os adolescentes, já que têm aquele discurso de que não são amados, que não gostam da aparência física. Assim, as pessoas se encontram como iguais nos grupos” ressalta o professor. Os grupos estão presentes em distintos bairros da cidade, como Camobi, Centro, Medianeira e Passo D’Areia. Por se tratar de um projeto tão antigo, Marco Aurélio, juntamente com Ariane Pacheco, na época mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizaram uma pesquisa para entender o porquê de os “velhos” – como os chama o professor – interessarem-se tanto por fazer atividades físicas. Em Lazer e Envelhecimento: Olhares que Entrelaçaram a Cidade e o Envelhecer, eles procuraram compreender certas transformações no cenário urbano e, em particular, nos espaços de lazer, sob o olhar de pessoas que viveram essas mudanças e, atualmente, encontram-se dentro das universidades em programas voltados aos idosos. Há pouco tempo – cerca de 30 anos –, existiam distintas opções para se descansar e passar o tempo. As crianças podiam brincar na rua até tarde, jogar futebol no campinho na frente de casa, tomar banho de rio. Os idosos podiam sentar em frente à casa e cevar um amargo até altas horas, ou participavam de domingueiras em clubes especializados. Atualmente, a mudança dos espaços e a falta de segurança acabam prendendo todas as classes sociais e faixas etárias em casa após o entardecer e até mesmo nos finais de semana. Essas mudanças do espaço físico, segundo Marco Aurélio, não alteram apenas a configuração física de um lugar, mas também as dimensões da vida. É o que acontece com os idosos de Santa Maria, que antes tinham inúmeras opções de entretenimento e, agora, buscam por outras formas para terem momentos de lazer e distração. A pesquisa, que levou em conta opiniões de 5 homens e 5 mulheres que vivem em Santa Maria desde 1964, fichou, principalmente, os espaços de lazer e atividades das igrejas e clubes que existiam na cidade. Havia clubes como o Esportivo e o Grêmio dos Ferroviários, e cinemas como o Independência e o
Glória, além de peças de teatro, programas de auditórios de emissoras de televisão e atividades desportivas, como, por exemplo, o futebol. Atualmente, com a falta de lugares, os encontros com semelhantes nos salões de igreja ou ginásios de bairros se tornaram a alternativa dos idosos, que criaram laços de amizade, além de melhorarem a qualidade de vida com os exercícios. Uma vez por mês, em uma pequena sala do CEFD, o professor Marco Aurélio se reúne com os presidentes dos grupos de atividades físicas. Em uma reunião descontraída, os “velhos” têm a possibilidade de convidarem para as tradicionais domingueiras nos seus bairros. Uma das presidentes, dona Maria Portela da Silva, no auge dos seus 69 anos, é encarregada do grupo que realiza os encontros na Vila Medianeira há dois anos, porém já faz 18 anos que participa das atividades desenvolvidas pelo CEFD. Duas vezes na semana, a senhora de cabelo na altura dos ombros se encontra com mais 15 companheiros para se exercitar. Com um sorriso faceiro no rosto, diz que sua vida melhorou muito desde que pratica os exercícios. Além disso, criou um grande círculo de amizades. “Tudo melhorou, e as amizades, então, em 100%”, comenta. Adepta da hidroginástica e das aulas de dança que ocorrem na piscina e nos ginásios da UFSM, outra beneficiada com os projetos é dona Edi Charão Gonçalves, que aos 79 anos esbanja simpatia e vitalidade: “Eu adoro isso aqui, eu sempre digo que é minha segunda família. Se não fosse por esses exercícios, estaria entrevada, em uma cadeira de rodas há tempos.” A falta de locais públicos de lazer para quem está na velhice é uma lástima para a cidade. Por outro lado, os idosos acabaram encontrando o caminho da Universidade e dos grupos de atividades, que, além de entretenimento e diversão, possibilitam uma melhora na qualidade de vida desses eternos jovens de alma. a Repórter: Andréa Ortis
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revoada de
Quantas histórias uma pessoa idosa tem para contar? Este trabalho buscou contar as memórias de dois idosos homossexuais cuja juventude se passou em um tempo de intensa intolerância
memórias
“Kalu vivenciou com intensidade todos os momentos. Queria ser livre, queria ser feliz, queria festejar a diferença. Mas o regime era cruel e autoritário. Todavia, Kalu e seus amigos jamais baixaram a cabeça. A palavra era união. A homossexualidade não era bem vista pelos conservadores, mas um monte de coisa também não era. Os negros, os índios, os socialistas, as feministas: todos à margem.” trecho de “Pássaro da Manhã”, de Marlon Dias
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Em 2009, o diretor Marcelo Caetano lançou o curta-metragem “Bailão”, um documentário filmado em uma casa noturna de São Paulo, cujos clientes são homens homossexuais com idade acima de 60 anos. Em entrevista ao programa Zoom, da TV Cultura, Caetano afirmou que aquele era um grupo muito invisível, que não gostava de falar sobre sua sexualidade, o que tornava aquela pesquisa um desafio muito grande. Dois anos depois, um aluno da UFSM do curso de Comunicação Social - Jornalismo assistiu ao curta e decidiu abraçar um desafio que focava no mesmo grupo: homossexuais com mais de 60 anos. O trabalho de Marlon Santa Maria Dias, atualmente mestrando em Comunicação Midiática, procurou uma maneira diferenciada para contar as histórias de dois idosos, Kalu e Silvio. Marlon optou por um Projeto Experimental em seu Trabalho de Conclusão de Curso e o intitulou Pássaros da mesma gaiola: memórias de homossexuais idosos em biografias de curta duração no estilo Jornalismo Literário. O trabalho conta com a produção de dois textos nomeados “Pássaro da Manhã”, sobre Kalu, e “Pássaro Proibido”, protagonizado por Silvio.
A escolha pelo estilo Jornalismo Literário veio de um interesse anterior pela área. Marlon entrou em contato com o gênero em uma Disciplina Complementar de Graduação oferecida no curso de Jornalismo. O professor Paulo Roberto Araujo, que ministra a disciplina, tornou-se seu orientador. Este contato, somado ao aspecto de humanização deste tipo de relato, fez com que o pesquisador optasse pelo estilo. Segundo Marlon, haveria outras maneiras de tratar o assunto, mas não uma maneira melhor: “Estamos trabalhando com pessoas que estão contando sua história de vida. Acho que o estilo Jornalismo Literário possibilita algo que não é só escrever um texto bonito. É poder modificar a tua postura como jornalista e encarar a pauta e as fontes com um olhar diferenciado, mais humano. É um tema muito delicado, mas acho que o estilome ajudou a trabalhá-lo de uma forma mais humana.” Como é exposto na pesquisa, o Jornalismo Literário não ignora o jornalismo convencional, apenas busca a história que pode estar por trás de acontecimentos que, por vezes, merecem apenas uma nota no jornal. Os textos convencionais apresentam vidas rasas, se comparadas à sua magnitude. A intenção do jornalista literário é, então, humanizar o relato sobre o outro, na tentativa de compreender a maneira como ele construiu sua história e o lugar que ocupa nela. Como escreve Felipe Pena, cujas teorias foram utilizadas no TCC de Marlon, “No dia seguinte, o texto deve servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o peixe na feira.”
“Aos 65 anos, Silvio acha desnecessário esconder a idade. Cada ruga de seu rosto é uma marca esculpida pelo tempo que sinaliza o quanto viveu, como se cada uma contasse uma de suas histórias. [...] Os olhos também são grandes, atentos faróis que por vezes parecem perder-se na imensidão de escuro à sua frente. E não raro percebi seu olhar vago, como se procurasse algo que a escuridão recobrisse.” Trecho de “Pássaro Proibido”, de Marlon Dias
A busca pelos biografados não foi fácil. Poucos idosos estavam dispostos a falar sobre si e principalmente sobre sua sexualidade. Inclusive, algumas pessoas afirmaram não se encaixar no perfil procurado.Através de alguns contatos, Marlon encontrou Silvio em Quaraí, cidade natal do pesquisador, e Kalu em Santa Maria. Foram de cinco a sete encontros com cada um, em suas respectivas casas. Os ambientes em que conversavam também foram descritos nos textos.
Cena do documentário “Bailão”, de Marcelo Caetano
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Fotografia: Luciele Oliveira
Kalu (à esq.), biografado por Marlon, aparece ao lado do companheiro João
“Entrei pelo caminho de pedras que cruzava a grama do jardim e me levava do portão de entrada à porta da casa. O primeiro cômodo era uma sala, adaptada para ser o seu salão de beleza. [...] As paredes do salão são decoradas com alguns souvenires (presentes das clientes) e quadros de famosas marcas de cosméticos, com modelos femininas e seus cabelos esvoaçantes. O seu salão foi a única peça da casa que Silvio permitiu que eu conhecesse, com a desculpa de que a bagunça era grande e que eu deveria parar de ser ‘mexeriqueiro’.” Trecho de “Pássaro Proibido”, de Marlon Dias
O desafio seguinte surgiu com as entrevistas, pois perguntar sobre diversos aspectos da vida de uma pessoa exige sensibilidade. As abordagens eram medidas e as perguntas balanceadas. A sexualidade não foi pauta das primeiras conversas, porém, conforme a confiança entre repórter e biografados crescia, os assuntos mais delicados surgiram. Nenhum deles comentou muito sobre o
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preconceito que em alguns momentos devem ter sofrido. Kalu dizia que nunca tinha enfrentado problemas deste tipo. Silvio carregava um passado religioso, e via a homossexualidade como um pecado. Ele ainda trabalhava em Quaraí como cabeleireiro e morava sozinho, enquanto Kalu estava de licença médica durante a época da pesquisa, e vivia com seu companheiro João.
“Há uma sintonia entre os dois, algo de quem se conhece pelo olhar. Desde quando resolveram morar juntos, em 1978, não se separaram mais. São companheiros e amigos. João está com sessenta e dois anos, dois a mais que Kalu. Estão entrando na velhice, mas encaram-na apenas como mais uma etapa da vida. O relacionamento é harmonioso e o diálogo aberto entre os dois sempre facilitou o convívio.” Trecho de “Pássaro da Manhã”, de Marlon Dias
“Kalu despediu-se de mim, afirmando que eu poderia aparecer novamente. O aperto de mão veio acompanhado de uma resposta positiva. Naquela semana, ao ver uma de suas atualizações numa rede social – sim, ele se rendeu à Internet e já tem até uma comunidade virtual em sua homenagem –, me deparo com uma postagem sua que reflete muito o seu espírito e, quem sabe, possa resumir sua posição perante o mundo. Era a frase de uma escritora que muito lhe agrada, Cora Coralina: ‘Mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros..’.”
Silvio e Kalu compartilhavam algo mais em comum: durante a juventude, saíram de suas cidades no interior do Rio Grande do Sul e puderam ver um pouco das grandes metrópoles brasileiras. Além disso, ambos vivenciaram a ditadura militar no Brasil. “Deu para perceber, depois do trabalho pronto, como essas histórias de alguma maneira se encontravam e como eles enfrentaram alguns períodos da história brasileira. Os dois saem de cidades no interior do Rio Grande do Sul e acabam viajando para algum lugar maior. Na questão da ditadura, o Kalu, por exemplo, tinha um posicionamento porque tinha uma formação política, acadêmica (é formado em Filosofia pela UFSM). Para o Sílvio, por outro lado, só sair da cidade já era algo muito distante. Ele não tinha a informação do que era realmente uma ditadura (ao contrário do Kalu), do que estava acontecendo. Mudou o presidente como sempre mudava. Era uma realidade muito distante. E ao mesmo tempo essa saída do interior para a metrópole, era de se libertar.”, conta Marlon. A repercussão da pesquisa de Marlon foi grande. Em 2012, o trabalho foi premiado no XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul (Intercom Sul), na categoria Jornalismo Literário ou Opinativo. Posteriormente, um texto seu sobre homossexualidade na terceira idade foi publicado nos portais O Viés e Sul 21. Com os comentários que surgiram nas publicações, foi possível refletir sobre como as pessoas encaravam o tema e o receio de alguns jovens em chegar à terceira idade. Além disso, Rafael Saar, criador do curta-metragem “Depois de Tudo”, que tem o cantor Ney Matogrosso no elenco e tem como protagonista esse mesmo grupo de pessoas, chegou a entrar em contato com Marlon, para elogiar sua iniciativa. O curta também havia servido como inspiração e pesquisa para o trabalho, assim como “Bailão”.
trecho de “Pássaro da Manhã”, de Marlon Dias
Na conclusão da pesquisa, Marlon afirma que a imprensa não realiza um trabalho “suficiente” sobre a homossexualidade na terceira idade. O exemplo disso é a pouca quantidade de material produzido sobre este assunto. Nas entrevistas, o repórter desafiou os entrevistados a contarem suas vivências, e é claro que eles as relataram da maneira como gostariam que elas fossem lembradas. Algumas questões seguem como dúvidas, pois os relatos são inconstantes e mutáveis. Kalu e Silvio não leram as biografias logo após serem finalizadas. Segundo o pesquisador, Kalu estava doente, por isso não conversaram mais depois das entrevistas. Com a produção desta matéria para a Arco, eles se falaram novamente e o biografado leu o texto que contava um pouco de sua vida. Kalu disse a Marlon que havia gostado do produto final e que se emocionou com a maneira como sua história foi retratada. No final de “Pássaro Proibido”, Silvio havia ido embora, sem informar para onde. O jornalista soube que ele faleceu logo depois. Felizmente, uma parte dele ficou eternizada nas palavras de Marlon. a Repórter: Myrella Allgayer
Fotografia: arquivo pessoal
Kalu e João: desde 1978, moram juntos, são companheiros e amigos
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Um convite de descanso
aos olhos e ouvidos Livro Avifauna no Campus destaca fotografias das aves que compõem a paisagem da UFSM
Você já notou que um simples passeio pelas ruas da cidade é repleto de elementos audiovisuais? Subordinados a prazos que nos obrigam a ter pressa (e até mesmo a perder a paciência), não percebemos a beleza natural ao nosso redor. Na Cidade Universitária da UFSM, por exemplo, circulam mais de 30 mil pessoas diariamente. O constante vai e vem de estudantes, professores, servidores, visitantes e pacientes do Hospital Universitário movimenta a Avenida Roraima e as ruelas entre um prédio e outro do campus. Nos centros urbanos, assim como na Universidade, há cenários com árvores e gramados habitados por aves e insetos de diferentes espécies – uma possibilidade de respiro em meio às construções. Que tal dar um tempo e trocar a trilha sonora? Em vez de uma cacofonia de carros, motos, ônibus e caminhões dando partida, buzinando, freando e acelerando, experimente ouvir a sinfonia formada por pássaros que cantam para seduzir seus parceiros. O livro Avifauna no Campus pode ser um estímulo, ao mostrar os pássaros como protagonistas dos espaços verdes da Universidade.
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Editora UFSM
O professor do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM Marco Antônio Verardi Fialho, amante da natureza, começou a fotografar as aves do campus em 2008. Sem formação na área fotográfica e com pouco conhecimento sobre aves, seus registros, que não passavam de hobby, concretizaram um livro que convida o leitor a apertar o pause. A obra, equilibrada entre arte e ciência, tem a colaboração de outros entusiastas, como a médica veterinária Maristela Lovato e a bióloga Marilise Mendonça Krügel, que auxiliaram na catalogação das 162 espécies apresentadas página a página. O zootecnista Everton Rodolfo Behr, membro do Clube de Observadores de Aves de Santa Maria, e a médica veterinária Larissa Quinto Pereira também foram fundamentais para garantir a qualidade do conteúdo. Publicado pela Editora UFSM, o livro Avifauna no Campus aproxima o leitor da natureza – um lembrete de que momentos de lazer podem ser desfrutados ao ar livre. Busque cenários que mereçam a indicação ao prêmio de Melhor Fotografia e seja espectador de um musical protagonizado pelos animais! a Repórter: Augusto Vasconcelos
Amazonetta brasiliensis
Colaptes melanochloros
Sturnella superciliares
Xolmis irupero
Heterospizias meriodinalis
Pitangus sulphuratus
editora ufsm
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OS DESAFIOS
DA EDUCAÇÃO Já dizia Paulo Freire que se a educação, sozinha, não transforma a sociedade, menos ainda a sociedade é capaz de mudar sem ela. É no aprendizado diário que nos desenvolvemos como sujeitos e que também nos tornamos conscientes da realidade que nos cerca. Em um processo tão importante como é o de educar e ser educado, há uma série de fatores que precisam ser considerados, por terem influência seja positiva ou negativa na aprendizagem.
Educação e violência: como agir? Dentre as tantas pesquisas realizadas na área da educação, está a tese A violência doméstica e as dificuldades de aprendizagens em jovens de escolas públicas de Ensino Médio de Santa Maria/RS, desenvolvida pela enfermeira Verginia Medianeira Dallago Rossato, no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da UFSM. O estudo é uma busca por reflexões sobre a educação dentro e fora do espaço escolar. Realizada em escolas estaduais de todas as regiões de Santa Maria, a pesquisa foi desenvolvida em três passos: aplicação de questionário; realização de grupos focais para discutir o tema com os alunos; e reuniões com os professores para repassar os resultados encontrados. Verginia destaca que, ao longo de todo o processo, o que ficava mais evidente da percepção dos alunos sobre a família, no que diz respeito à educação, eram fatores como a pressão psicológica, a briga e a cobrança. Um dos casos que mais a marcaram está ligado à ingestão de bebidas alcoólicas. “A adolescente se demonstrava aflita porque, em casa, o pai bebia, batia na mãe e brigava com ela. A menina, então, não conseguia dormir direito e no outro dia estava na escola, ainda preocupada”, exemplifica. A relação da violência doméstica – seja ela psicológica, física ou sexual – com a aprendizagem não se esgota em si e leva a pensar na educação como um todo. Para a pesquisadora é fácil perceber isso em
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Entre diferentes abordagens, as pesquisadoras Adriane Cenci e Verginia Rossato desenvolvem pesquisas que refletem aprendizagem, ensino e contextos na atualidade
casos nos quais o aluno está na escola e se vê abatido por problemas pessoais. Muitas vezes, o professor não se envolve, embora a situação tenha reflexo no ritmo escolar. “Isso porque ele [o professor] já está sobrecarregado em sua carga horária, não se vê valorizado e, ainda, em diversos casos, não tem o suporte de outros profissionais capacitados, como coordenadores pedagógicos ou psicólogos, que o auxiliem”, expõe a pesquisadora. Seja qual for o caso, é fundamental que a escola se construa enquanto espaço de diálogo, e que se proponha a orientar alunos e família. Quando o estudante tem o sentimento de que é ouvido e compreendido em suas diferenças, a tendência é que ele se sinta incluído no ambiente escolar. A educadora Adriane Cenci, que também desenvolve estudos sobre as dificuldades de aprendizagem e educação inclusiva, como é o caso de sua dissertação Processos mediativos e formação de conceitos cotidianos: implicações nas dificuldades de aprendizagem, vai além. “Quando um aluno é alvo de piadas, quando o professor grita com ele ou quando é subestimado em sua capacidade de aprender, também se está exercendo violência”, afirma. Ela entende que é também papel da escola combater essa violência, a que se desenvolve dentro do ambiente educacional.
Entre dificuldades de aprendizagem e de ensino Embora em seu estudo Verginia relacione a violência doméstica como possível causa das dificuldades de aprendizagem, ela deixa claro que não é possível evidenciar um único fator que possa ser determinante. A pesquisadora entende que, na maioria das vezes, o fracasso escolar é associado somente ao aluno, o que se torna um problema, na medida em que se deixa de considerar, por exemplo, suas vivências, o local em que está inserido, crenças, enfim, seu contexto sociocultural. Adriane destaca que uma
real avaliação dessas dificuldades requer que se considere ainda mais do que isso. “Às vezes, o problema pode estar no ensino, que não considera as características e tempos de aprendizagem das crianças e adolescentes, ou pode estar na escola, que não faz sentido algum para a criança que tem de ir pra aí todos os dias”, pontua ainda. Não é incomum encontrar essa percepção na fala de estudantes indignados com a quantidade de fórmulas matemáticas que necessitam decorar para a prova. O mesmo ocorre com as informações históricas extremamente precisas de tempos muito remotos que lhes são aconselhadas saber de cor e salteado. De fato, parece sem
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Às vezes, o problema pode estar no ensino, que não considera as características e tempos de aprendizagem das crianças e adolescentes, ou pode estar na escola, que não faz sentido algum para a criança que tem de ir pra aí todos os dias”
sentido, quando os conteúdos trabalhados ficam restritos a exercícios de decorar o que dizem os livros e se adequar ao cronograma do que vai cair no vestibular. Contudo, muitos dos conteúdos entendidos como apenas escolares são importantes para ampliar e aprofundar o olhar do estudante sobre o mundo. Os problemas na educação, no entanto, não passam só pelas dificuldades dos alunos. São um desafio diário também para os professores. Como tornar, de forma atrativa, o espaço de uma sala de aula um local de troca de saberes? O tradicional ensino voltado ao quadro negro já não parece ser suficiente, mas também não existe receita pronta e exata. Uma aula que provoque e instigue exige não só conhecimento, mas também desenvolver meios de adaptar os saberes aos alunos. Entre informações de matérias tão diversas, estabelecer ligações que conectem a sala de aula e o cotidiano pode ser uma boa saída.
Uma aula que provoque e instigue exige não só conhecimento, mas também desenvolver meios de adaptar os saberes aos alunos. Já difícil por si só, a tarefa se torna ainda mais complexa e desafiadora ao considerar-se o cenário ao qual os professores estão expostos. Como exigir tanto quando o reconhecimento, as condições e a remuneração não são os adequados? “A escola pode dar espaço às iniciativas diferenciadas dos professores, isso já ajuda. Porém, enquanto não tivermos uma política sólida de formação de qualidade e de reconhecimento dos professores, vamos encontrar apenas medidas paliativas aqui e ali”, adverte Adriane. Se a sociedade é incapaz de mudar sem educação de qualidade, mais investimentos se fazem necessários para um futuro melhor para todos, com mais igualdade e condições. a
Repórter: Daniela Pin Menegazzo
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Entre um passo de dança e Fotografias buscam representar a construção da imagem da prenda gaúcha
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o balançar de uma saia
Com seu vestido longo repleto de babados, a prenda gaúcha desfila com elegância por onde passa. Essa figura emblemática da cultura do Rio Grande do Sul foi tema da dissertação intitulada Por debaixo dos panos: a construção da imagem da prenda tradicionalista por meio de exposição fotográfica do Departamento de Tradições Gaúchas Noel Guarany. Nesse trabalho, apresentado no Programa de Pós-Graduação em Patrimônio Cultural da UFSM, a jornalista Camilla Milder buscou desvelar como a mulher é representada, na figura da prenda, sob o olhar do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Na busca por retratar em imagens essas características das prendas, Camilla trabalhou junto ao Departamento de Tradições Gaúchas Noel Guarany, que é vinculado à UFSM. Para a produção das fotografias, a pesquisadora acompanhou desde o making-of das prendas até desfiles e apresentações em nove eventos realizados pelo DTG no Rio Grande do Sul. a Repórter: Andréa Ortis | Fotografia: Camilla Milder Costa
ensaios ensaio
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Essa é minha foto, revelada depois da primeira saída fotográfica. Tinha me perdido do grupo, fiz a aula sozinho. Aula do professor Paulo Kuhlmann. – Ó professor, fiz essa... – Essa é sua primeira foto? Parabéns, eu não gosto muito de fotos de crianças, mas essa tá muito boa. Você vai ser um grande fotógrafo. Entrei empolgado no quarto escuro e fiz a ampliação do indiozinho, irmãozinho da menina da foto. – E aí, professor? – Retiro o que eu disse, essa tá uma droga!
recordações
Fases por Ricardo Toscani*
*** Depois de muito tempo, 4 anos, minha monografia. Paulo era o orientador, e ele foi supremo, virou mais que um orientador, era um amigo que me emprestava livros. Vendo que eu tremia muito antes de apresentar o trabalho, Paulo me tirou para fora da sala e fez uma previsão: – Fica tranquilo, tua nota já tá dada, e tu vai para São Paulo. Enquanto apresentava minha monografia, era alvejado pelos professores, principalmente por um que, nas suas considerações finais, falou que com trabalhos assim eu não teria o carro do ano, nem a mulher da minha vida, muito menos ganharia dinheiro. Nem como lambe-lambe numa esquina em Porto Alegre. O Paulo e a Nara (esposa dele e também professora do Centro de Artes e Letras) me fizeram acreditar no meu trabalho, e não desistir dele nunca. Me deram uma nota 9 e eliminamos mais uma etapa. *** Agora eu viria para São Paulo. Uma vez, voltei para Santa Maria para entregar meu relatório de estágio. Porém, no relatório de estágio de um rapaz de 22 anos, recém-chegado em São Paulo, tinha muita raiva e indignação, e, num pequeno espaço destinado a críticas, eu fui feroz. Nesse dia, no fim da noite, recebo uma ligação do professor Paulo: – Ricardo, bem legal seu relatório, mas tem uma parte que tu fala de um professor, egoísta, que não empresta as chaves do estúdio e fica regulando o uso das coisas. Fala que os professores têm que sair mais da universidade e entrar mais em contato com os que estão fora.Você está falando de mim? Nesse dia, do outro lado da linha, me veio a imagem da gente conversando no laboratório e o Paulo me falando de dois nomes, Marcio Simch e Reinaldo Cóser, importantes fotógrafos, e que ele já havia falado com o Reinaldo sobre mim e começado a abrir as portas dessa cidade que ainda me metia medo. – Não, Paulo, não é de ti. (E não era mesmo!). Obrigado professor, obrigado pelas aulas, obrigado pelo excelente timing nas piadas, por confiar a chave do laboratório de foto até nos fins de semana. Pelo seu coração! – Não se assustem, esse é o Ricardo, ele dorme por aqui agora. *** Na minha formatura, eu ganhei um abraço desse lindo casal, dessa dupla tão querida. A professora Nara fez uma confissão ao pé do meu ouvido: – Não sei se tu vais ganhar muito dinheiro, se vais ter o carro dos teus sonhos, mas a mulher da tua vida tu já encontraste e estás indo morar com ela. O resto vem, tu tens um belo trabalho. *** Pois é, hoje estou em São Paulo, sem carro – o que mais de 10 anos depois da apresentação da monografia é outro status. Dinheiro, ganho o que pague as contas. A mulher da minha vida ainda tenho e me deu uma filha linda, e não existe foto que eu faça que seja mais valiosa do que essa menina. Portanto, meus queridos professores, obrigado pelo melhor ensinamento. Amar o que faz. Amar em casa, amar a casa, o trabalho, amar a vida. E quando a vida mudar de fase, amar as mais belas lembranças dela. *Ricardo Toscani é formado em Desenho Industrial na UFSM, e trabalha como fotógrafo em São Paulo
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o patinho roqueiro por Maicon Molinari dos Santos*
*Maicon Molinari dos Santos participou do Ateliê de Textos em 2013, quando cursava a 7ª série da Escola Estadual Professora Celina de Moraes. O Ateliê de Textos é um projeto de ensino e extensão coordenado pela professora Cristiane Fuzer, do Departamento de Letras Vernáculas da UFSM. Entre as atividades desenvolvidas pelo projeto, está a reinvenção de contos fantásticos a partir de clássicos da literatura infanto-juvenil.
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escritos
Era uma vez um patinho chamado Tom. Ele usava óculos que o tornavam feio, e por isso seus amigos o chamavam de “Patinho Quatro Olhos”. Tom morava com o seu pai, pois sua mãe foi morta por caçadores. Tom adorava ficar no Facebook, mas seu pai, que era um grande cisne, não gostava da ideia de seu filho ficar 24 horas em frente ao computador. Tom achava que porque tinha tudo o que queria deveria só curtir a vida. Mas a sorte do patinho começou a virar contra ele. Já que seu pai estava ficando muito velho para trabalhar, queria que seu filho fizesse isso por ele. Entretanto, Tom não queria trabalhar, ele gostava da vida que tinha no Facebook. Ali ninguém o chamava por apelidos ofensivos. Então seu pai falou que se Tom não fosse trabalhar ele seria expulso de casa. Mesmo assim o patinho não foi. Então foi expulso de casa. Sem saber o que fazer, o patinho andou pelas ruas da cidade, sem rumo, até que esbarrou em um pato maior que ele. Esse pato, que se chamava Diego, disse que tinha uma banda. Logo eles viraram amigos. Conversaram tanto que nem perceberam que estava escurecendo. Então, Diego chamou Tom para ir dormir em sua casa, porque Diego viu que Tom poderia ser um grande amigo e contribuir na banda. Enquanto isso, a situação do pai de Tom não estava nada bem, pois estava acabando o dinheiro e sem dinheiro ele não poderia comprar alimento. O pai de Tom estava com muitas saudades do filho, mas não podia chamá-lo de volta, se não Tom nunca aprenderia a lição e voltaria a ficar 24 horas no Facebook. Tom e Diego estavam só de curtição. Até que Diego apresentou sua banda para o patinho, os “Linkin Patos”. Tom achou demais! Diego perguntou: – E você Tom, toca algum instrumento? – Eu me amarro em tocar guitarra. Desde pequeno aprendi e faço mó sonzera! – Mazaaa, que fera! Tu não quer participar do Linkin Patos? Estamos precisando mesmo de um guitarrista! É claro que Tom aceitou na hora. Além de gostar de tocar guitarra, Tom estava fazendo um amigo que nem tinha ligado se ele usava óculos ou não. Logo os Linkin Patos ficaram famosos e começaram a ganhar muito dinheiro, enquanto o pai de Tom estava doente e sem alimento. Até que um dia, o pai do patinho foi ver como era o Facebook e viu um vídeo da banda na rede. Reconheceu seu filho na hora. No final do vídeo aparecia o número de contato. Imediatamente o pai ligou para o filho. Marcaram de se encontrar em uma hora. Pai e filho se encontraram na hora e no local marcado. Tiveram uma longa conversa e Tom aceitou voltar para casa. Mas claro que Tom continuou na banda e seu pai, agora que tinha um filho rico, passava o dia no Facebook divulgando os shows da banda do filho. Assim, o pai do Tom melhorou de saúde, Tom mostrou aos seus amigos que não fazia diferença nenhuma usar ou não óculos. O filho aprendeu que trabalhar pode ser divertido, que também é uma maneira de “curtir a vida”, e o pai aprendeu que deve ter outras medidas para educar seu filho e jamais expulsá-lo de casa.
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