Revista Bá #19

Page 1

00019

por 1

503201

320063

mariana bertolucci

n o v/ d e z 2016 #19 R$ 10

rui spohr

Um dos grandes criadores de alta-costura brasileira e o maior nome da história da moda gaúcha, o costureiro conta por que a marca Rui é sinônimo de elegância há seis décadas SILVANA CORRÊA Clarice Chwartzmann, a churrasqueira cultural

bá, que luxo

Vitor Raskin apresenta Top 10 by Deu o Chic

PAOLA DEODORO Moda lenta e cuidadosa





Incorporadora

Apartamentos de andar inteiro com 256m², opções de até 4 suítes cobertura duplex de 371m²

|

ampla personalização

Rua Comendador Caminha, 88 em frente ao parque moinhos de vento

comercialização

+55 (51) 4001.2121 | www.oneimoveisdeluxo.com.br


90

58

Bรก, que lugar

DecorBรก

74

Eu Tenho Visto

64 Ping

close


112 Moda

62

Objetos e desejos

124 Moda

76

Bรก, que viagem


Direção

Mariana Bertolucci marianaabertolucci@gmail.com Editora

Mariana Bertolucci Editor de arte

Auracebio Pereira Produção gráfica

Zottis Comunicação Revisão

Daniela Damaris Neu Comercial

Denise Dias denisebcdias@gmail.com Fone (51) 99368.4664 Editora do site da Bá

www.revistaba.com.br Letícia Heinzelmann leca_he@hotmail.com Marketing e redes sociais

Astral Marketing por Julia Cappellari Laks julia@astralmarketing.com.br Colunistas

Ana Mariano André Ghem Aline Viezzer As Patrícias Carla Leidens Carlos Mânica Claudia Tajes Cristie Boff Eduardo e Camile Alvares Fernando Ernesto Corrêa Flavio Mansur Heloisa Medeiros Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro Julia Laks Lígia Nery Livia Chaves Barcellos Orestes de Andrade Jr. Paola Deodoro Silvana Porto Corrêa Tina Menna Veronica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno Ilustração

Graziela Andreazza a revista bá não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos assinados. elas são de responsabilidade de seus autores. todos os direitos reservados. 6|

©

O costureiro e a bailarina

A Bá especial de fim de ano é dedicada ao universo de luxo e festas. Só pelo mês de seu lançamento e o simples fato de existir aí na sua mão neste caótico final de 2016, a nossa 19ª edição já teria credenciais suficientes para ser festiva. Mas a inspiração da Bá está onde sempre esteve desde a sua criação, há quase quatro anos: nas histórias das pessoas. Os 60 anos de carreira de Rui Spohr são lembrados em muitas páginas da última revista do ano. A emblemática Bá especial é única, como cometas ou fenômenos cósmicos raros, daqueles que acontecem de 147 em 147 anos. Pois a Bá 19 é assim. Do precioso relato do primeiro brasileiro a estudar moda numa Paris de 1951 e que chegou minimalista numa Porto Alegre de 1954, para dois anos depois criar a mais genuína alta-costura brasileira em pleno solo gaúcho. Também completando seis belas décadas de carreira, outra história de muito trabalho, paixão e talento, a da minha professora de ballet querida, Lenita Ruschel, personalidade da dança do Açorianos 2016. Duas histórias lindas, 120 anos de patrimônio cultural gaúcho e brasileiro vivo numa só Bá! Tem luxo maior? Ainda para celebrar o in(tenso) 2016 e receber 2017 em alto estilo, ao lado do meu amigo e colunista Vitor Raskin, apresento o Top 10 by Deu o Chic. Com a curadoria assinada pelo Deu o Chic, as talentosas lentes de Tonico Alvares clicaram 10 personalidades de Porto Alegre usando as 20 mais poderosas marcas de joias e de alta-costura gaúchas. Fabiana Fagundes conta por que Renato Bing é sinônimo de sofisticação com personalidade. Ricardo Lage nos presenteia com imagens que você verá por aqui. Paola Deodoro estreia na Bá para me fazer feliz e falar do jeito que é só dela sobre a moda real. Ainda sobre o costureiro e a bailarina, eu volto no tempo, e pendurada na barra da escola da Antenor Lemos, em 1986 ou 2013, lembro do que boas bailarinas jamais devem esquecer: que nenhum passo é belo sem desejo, nenhum coque é bonito sem capricho, nenhuma aula é igual com atraso e nenhum desafio é vencido sem esforço. Bolha não cura sem dor, e nem a mais maravilhosa coreografia é premiada sem técnica, disciplina e alegria. Um 2017 com muita força, luz, saúde, amor e esperança, Mariana Bertolucci foto da capa: ricardo lage


|7

tonico alvares


Capa

8|


Eterno

gigante Mariana Bertolucci fotos ricardo lage

Primeiro brasileiro a estudar moda em Paris, em 1951, Rui Spohr casou-se com Dóris Uhr Spohr em 1960, e os dois juntos iniciaram a bonita história de uma das maiores marcas de alta-costura do Brasil. Em 1963, nasceu Maria Paula Spohr, única filha do casal, que em 1985 os presenteou com Antônia Spohr Moro, a única neta. “Não é um desespero de tempo?”, me responde perguntando Rui depois de eu falar sobre os 60 anos de carreira. Respondi encantada por aquele belo senhor me encarando: “Não é desespero, Rui. É uma dádiva te ouvir”. |9


Capa

Batizado em 1929, Flavio Hennemann Spohr, um dos quatro filhos da tradicional família de Novo Hamburgo, era um menino sério de rotina tranquila na cidade de colonização alemã. Começou a trabalhar como modelista de calçados na fábrica do pai. A dinâmica mecânica de fábrica não era o que ele estava buscando. Como boa parte dos jovens da sua idade, ele não sabia exatamente o que queria. Sabia o que não queria. Foi quando apareceu um curso de corte e costura em NH. Todas as meninas se inscreveram e o filho do seu Albino Alfredo e da dona Maria Hortencia também queria se inscrever: “Foi um escândalo. Meu pai me olhou e disse: ‘Só se tu pagar do teu salário mínimo, porque não vou te dar dinheiro’. Era um uruguaio ou argentino vigarista e não aprendi nada. Mas economizei. E fiz”. Depois de ver ao vivo em Buenos Aires a marcante Evita Perón vestindo Christian Dior em um comício, sentiu que o enigma do futuro estava prestes a ser revelado. Despertava ali um dos grandes criadores de alta-costura da história da moda brasileira e o maior nome da moda do sul do Brasil. O único ainda em atividade, aos 87 anos de vida e seis décadas de trabalho. De volta a 1951, Rui já era morador de Porto Alegre, trabalhava no Citibank e cursava Belas Artes. Mas também não era bem isso o que queria. Pediu demissão, juntou economias com a família e no final de julho embarcou na segunda classe de um transatlântico, cruzou o oceano e, depois de 11 dias, estava sozinho na França, aos 21 anos. Foi o primeiro gaúcho a estudar moda em Paris. Antes na Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, e depois na École Guerre Lavigne (atual Esmod). Ávido de mundo, numa Paris boêmia e incensada pelos pensamentos de liberdade, 10 |

na Cidade Luz fez amigos de todo o mundo, inclusive do seu Rio Grande do Sul. Viu Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld darem seus primeiros passos no mundo da moda. No palco, Josephine Baker e outras cantoras famosas da época. Conheceu boates que surgiam às pencas nas caves parisienses. Aprendeu francês, a beber vinho tinto e champanhe, a vestir preto e apreciar ópera, música e literatura. Conheceu boa parte da Europa e, como estágio final, trabalhou com o maior chapeleiro da França, Jean Barthe, que lhe ensinou tudo sobre a arte de fazer chapéus. Recém-formado, desembarcou no Salgado Filho para ser chapeleiro em Porto Alegre, em 1954, pouco tempo depois da morte de Getúlio Vargas. Nos anos seguintes, fez os primeiros desfiles e conheceu Dóris, a mulher com quem divide os sonhos, a família, a rotina e a carreira há igualmente seis décadas: “Vimos tudo acontecer, a Bossa Nova nascer, a Rhodia crescer e acabar, a moeda dar mil voltas, a destruição da guerra. Em todos esses anos, ele sempre esteve na ativa. Um dos raros no Estado e no país. Se eu sobreviver a ele, e depois quiserem fazer homenagens, não aceitarei. Agora é a hora. Enquanto a cabeça dele está boa e eu com saúde”, conta Dóris, do alto dos seus 79 dinâmicos anos. Se na cabeça é difícil armazenar tanta memória, esse problema não há no impressionante acervo organizado por ela desde o primeiro desenho que o marido fez, ainda criança. Cada história da dupla com a moda tem pasta catalogada, nome, sobrenome, ano, croqui, dados de confecção, tecidos. Vestidos usados por primeiras-damas, misses, cantoras e outras tantas personalidades estão devidamente registrados, assim como as formas dos chapéus, máquinas de


costura, moldes, tesouras, tecidos e uma imensidão de revistas de moda. De fascículos franceses de 1890 à coleção da Vogue França desde a década de 1960 até os dias de hoje. Em 1997, lançou a biografia Memórias Alinhavadas, escrita com a jornalista Beatriz Viégas-Faria. Em 2015, foi a vez da coleção Cápsula Croquis, com lenços e camisetas estampadas com os croquis. Ano em que também foi lançado o livro Moda e Estilo para Colorir, com 20 lâminas de desenhos icônicos de Rui para pintar. Gratidão é um sentimento simples e nobre. Rui é inundado dele, como você perceberá na entrevista a seguir. Ele é grato a muitos que lhe deram as mãos nessa longa e elegante jornada. A jornalista e assessora de imprensa Rejane Martins é uma dessas pessoas: “Para mim, ela é uma mãe. Tudo, tudo ela resolve. É fantástica”. Já estudado academicamente como uma referência, foi o único estilista gaúcho a fazer parte da mostra 500 Anos de Design Brasileiro, em cartaz em 2000, na Pinacoteca de São Paulo. Entre 2004 e 2005, quando o Senac apresentou a exposição Estilistas Brasileiros – Uma História de Moda, nosso

Rui também estava entre os 34 grandes da moda brasileira. Em 2011, um vestido seu integrou a exposição Moda no Brasil: Criadores Contemporâneos e Memórias, apresentada no Museu de Arte Brasileira em São Paulo, mantido pela Fundação Armando Alvares Penteado. Estudiosos e curadores da moda sabem o valor de Rui. Segundo Dóris, ele próprio às vezes esquece. Como, por exemplo, quando fala sobre o Instituto Rui Spohr, que deve ter suas formas já bem definidas em 2017: “Não gosto muito dessa coisa de instituto. Será que sou tão importante assim?”. Eu e Dóris nos olhamos e rimos. Ela me conta que levou a neta, Antônia, para visitar o acervo do avô. E qual a surpresa? “Ela ficou louca. Profissionalizou tudo que eu já tinha organizado e com estagiários quantificou tudo, em cada pasta estão descritos todos os detalhes. A ideia é transformar esses guardados em instituto e museu. Dois projetos paralelos que se completarão”, explica a super-Dóris, que agora conta com a ajuda mais do que especial da neta para transformar esse sonho de 60 anos em realidade e patrimônio cultural do país. MB

| 11


Capa

Fala um pouco de como tudo começou? Pelos 12, 13 anos, eu queria trabalhar com algo, mas não sabia o quê. Algo criativo, com desenho, ou arquitetura. Eu era uma criança que queria ser adulto e não tinha gancho. Eu estava no ar. Passei pela fábrica de sapatos do meu pai e não era para mim. Fiz um curso de perito contador. Era uma época em que os formandos pediam ajuda nas empresas para viajar na formatura. Foi a primeira vez que entrei no mundo fantástico que era Buenos Aires naquela época. De repente, vimos uma corrida de gente e as pessoas dizendo “comício, comício”. Éramos uns três, quatro e fomos ao comício em que Evita ia aparecer. De repente, vem aquela mulher vestindo tule branco, flores, chapéu deste tamanho. Uma verdadeira vedete. E eu olhava e pensava: “É com isso que eu quero trabalhar”. Me agarrei naquele gancho e só pensava: “É isso o que eu quero”. “Mas o que é isso?”, eu também me perguntava, sem saber responder. Essas flores, esse tecido, essas coisas eu estou procurando há muito tempo. Perguntei, acho que para um professor que nos acompanhava: “Mas o que é isso, esse conjunto?”. Ele me disse: “Isso é moda. Pessoas que fazem roupa e criam coleções”. Saí tonto dali. Sofreste preconceito naquela época, em Novo Hamburgo, uma cidade pequena e de colonização alemã, com esse interesse pela moda? Como é que um cara aos 16 anos no final dos anos 1940 saía com um bloquinho na mão com desenhos de vestidos? Sofri todo tipo de preconceito, da família, dos amigos, até da igreja. Em um domingo de manhã, o padre falou nos sermões das missas das 6h, das 7h, das 8h e das 10h sobre uma família que vivia em pecado e que não sabia como os pais tinham 12 |

coragem de tomar a comunhão, pois quem tinha um filho como o deles jamais deveria entrar em uma igreja. Como o meu pai era importante na comunidade, a família se reuniu para falar sobre o assunto e meu tio mais velho convocou o padre até a nossa casa. Ele pediu desculpas e colocou a culpa em gente simples, que teria feito fofoca para ele. Minha mãe citou uma parte da Bíblia em que foi destruído um travesseiro de penas, espalhando tudo para todo lado, e completou dizendo que se ele conseguisse, como na história bíblica, juntar todas as penas que tinha espalhado, só assim ela o perdoaria. Isso foi antes de ir a Paris. Como foi chegar a Paris aos 21 anos? Era outubro, frio, 6h da manhã. Eu parado na estação de Montparnasse, com uma mala numa mão, uma sacola na outra e Paris na frente. Uma mistura muito grande de alegria e coragem. Respirei fundo e saí na chuva. Olhei o endereço que eu tinha para ir e estava escrito Montparnasse. Era na própria rua onde eu desembarquei. Achei uma coincidência. Acordei no outro dia e escrevi uma carta para minha mãe contando da viagem. Naquele tempo, levava 15 dias para chegar uma carta ao Brasil. Tu vês como a gente é velho. Nem telefone tinha. Em poucos dias, por sorte, acabei em contato com um gaúcho de Flores da Cunha, Flavio Zanatta, e o também brasileiro Dirceu di Pasca. Quando eu disse para o primeiro que queria aprender moda, ele me respondeu: “Isso não existe”. E eu devolvi: “Como não existe? Os grandes costureiros são daqui”. Já o segundo, que era mais intelectualizado, comentou ao saber do meu interesse: “Mas que interessante que tu venhas lá do sul do país interessado em uma coisa que mal começou aqui. Vou te ajudar”. Mudei para


| 13


o hotel dele, que era mais barato, e 48 horas depois de chegar assustado em Paris já estava em um hotel, protegido por amigos e inscrito na escola de moda. Era aquela sensação de “eu quero, eu quero, I will, mas será que um dia vou dizer I got it?”. Fala um pouco desse tempo... Já falava espanhol e alemão, aprendi francês. Terminei o curso fazendo estágio com o maior chapeleiro de Paris, o Jean Barthe. Tinha uma turma muito boa de amigos, três rapazes e três moças. Todos de preto, nos reuníamos no meu quarto de 1m80cm por 2m e juntávamos o dinheiro que tínhamos para ir à boate. Sempre existiu a moda, mas nessa época ainda não era respeitada como ofício. Era o auge de Paris. A turma acabou indo cada um para um lado. A despedida foi no Carnaval de 1954, na Alemanha, e depois disso cada um foi para o seu lugar. E a volta para o Brasil? Pensei assim: “Tem muita gente boa aqui (em Paris). Vai ser difícil achar meu lugar”. E lembrei daquela frase: “Em terra de cego, quem tem um olho é rei. Vou voltar”. Meus amigos foram para os seus países e fiquei só de novo. Mas daí já tinha feito muitos amigos, como, por exemplo, o José Bonetti Pinto, que hoje é um senhor de 92 anos. Uma pessoa encantadora. Meu grande amigão até hoje, professor de economia na Ufrgs. E como nasceu o Rui, Flavio? Um amigo era diretor do Jornal NH e era um cara muito aberto. Depois do rebuliço da igreja, ele me convidou para escrever no jornal. Claro que aceitei, mas disse que ninguém poderia saber, pois iam cair de novo em cima de mim. Passei a assinar somente Rui nessa coluna. As pessoas agrediam mais ainda, e o codinome me protegia. Naquele tempo, era um preconceito velado. Era pederasta, não 14 |

existia o termo gay, veado. Como foi sofrer essas agressões ainda tão jovem? Sempre tive o apoio de um casal de tios, pessoas muito abertas. Mais que os meus pais. Me ajudaram e me emprestaram dinheiro para ir atrás do meu sonho. Na volta para o Brasil de Paris, foi um pouco mais fácil. Até porque vim para Porto Alegre. E a chegada à capital gaúcha, como foi? Cheguei de navio a Porto Alegre, e agora o que eu ia fazer? Trouxe uns chapéus de liquidação do Jacques Fath e Christian Dior. Precisava começar a trabalhar e fui vender chapéus. O meu primeiro desfile foi no Edifício Nice, em um quarto e sala. Estavam todos meio apertados pelo corredor. As parentes vieram de Novo Hamburgo para não ficar vazio. Após o desfile, como faziam em Paris, onde se servia champanhe, eu não queria ficar atrás, e servi vermute, em uns copinhos que catei na família inteira. Fiz uma releitura de Paris (risos). Dali, fui adiante. Quando voltei da Europa, eu logo fiz sucesso. Era o início da crônica social, com Ligia Nunes, Gilda Marinho, Luiz Carlos Lisboa, o Gasparotto veio depois. Logo saíram reportagens de páginas inteiras e fiquei conhecido. Como foi tão rápido? Eu tinha três coisas que me ajudaram muito a ser tão bem recebido aqui de volta na minha terra. Eu era jovem, falava francês e era bonito. Depois desse desfile do vermute, fiz muitos chapéus. Havia muitas boas modelistas, mas chapeleiros só tinha eu e uma outra muito talentosa. Ainda assim, era uma época em que tinha muita encomenda e não estava dando conta. Precisava de alguém para me ajudar. De repente, lá por 1956, a Gilda Marinho colocou na coluna dela: “Não se usam mais chapéus. Só de toilette, para festas finas”.



Foi aí que essa história chamada Rui Spohr tomou forma? Sim. Uma senhora amiga da mãe da Dóris me indicou a Dóris. Ela veio falar comigo com um vestido que ela mesma fez, bem simplesinho e bem cortado. Gostava muito de moda e precisava ajudar em casa. O vestido está aí ainda. Chegou bem nervosa, o vestido era cor de ponche, e ela esperava encontrar um alemão corpulento e loiro. Quando eu entrei vestindo pulôver preto, cabelo e óculos pretos, bem existencialista – era um visual chocante para a época –, ela disse que levou um susto. Eu logo gostei dela e perguntei se ela queria aprender a fazer chapéus. Ela disse que sim. E eu: “Então tu vais ser minha secretária, mas eu não vou te pagar porque não tenho dinheiro”. Assim começou, ela organizava tudo. Um dia nos olhamos e dissemos um para o outro: “O que estamos esperando?”. Casamos em 1960. Era para ser um ano antes, mas faltou dinheiro. Fiz o vestido dela. Ela diz que gostava antes de mim e que eu não me manifestava. O vestido também existe. Como é essa parceria de vida, trabalho, amor e família? Já disseste muitas vezes que nada seria possível sem ela. O Ronaldo Fraga, que é amigo da Dóris, diz que atrás de um grande homem sempre há uma mulher... cansada. E ela é o suprassumo de trabalho, tem uma resistência. Agora está se agilizando na política com o sindicato do vestuário e etc. Eu não vou durar muito, mas acho que ela continua nessa história de Instituto Rui. Tens um sonho de deixar teu acervo e história todo organizado para educação e formação sobre moda? A Dóris está se reunindo com uma série de políticos, diretores e órgãos como a Fiergs para esse fim. Além disso, os mais jovens se aconselham com ela. Ela dá força para as pessoas. E repete que nós também estamos na rua e temos 16 |

dificuldades. Não é porque eu sou famoso e saio nos jornais que o dinheiro cai do céu. O nosso dinheiro ficou ruim também. Eu passei 60 anos de trabalho e nunca tive página em branco na agenda, neste ano eu tive. Eu cansei de começar do zero, e isso acontece com todo mundo. Não estamos devendo nada para ninguém. Aí a gente vê quem são as amigas e as clientes fiéis que acreditam no nosso trabalho. Ela catalogou os desenhos do primeiro desfile que eu fiz. Talvez por ter sido difícil o meu início, tenho respeito e dou força para quem está começando. Recebo aqui. Sinto prazer de incentivar. Eu sofri boicote da dona Mary Steigleder. Meu acervo está aí para fazer uma grande escola, um grande museu que minha mulher está se virando para organizar. Como essa organização toda, Dóris? As coisas tinham que ser guardadas. Olha esse, por exemplo (e me mostra o primeiro desenho de Rui). Esse aqui, de quando ele trabalhava na fábrica do pai em Novo Hamburgo. Como é que eu vou colocar fora isso? Dóris, como é o Rui pai da Maria Paula e avô da Antônia? A Maria Paula é de formação agrônoma. O Rui dizia “Minha filha, fazenda só tenho a metro”, mas ela adorava. Quando ela se formou, a Antônia era bebê. Aí o Ricardo, que era cirurgião plástico, foi convidado para trabalhar em uma clínica em Roma. Eles se mudaram para lá e ela perdeu o gancho da agronomia. O casamento terminou e ela voltou falando italiano, trabalhou com cidadania italiana, e convivendo com os advogados decidiu fazer Direito e se formou aos 50 anos. Rui – Minha mulher é bacana, mas minha filha é maravilhosa. Dóris – Cheguei aqui e já costurava a minha roupa. Essa coisa já me fascinava. Isso já me encantava. Naquela época, as


| 17

tonico alvares


18 |


mulheres terminavam o ginásio e tinham que se casar, e não trabalhar. Uma Themis Reverbel era uma em mil naquela época. Me arrumei toda e fui. A amiga da minha mãe ainda: “Tu vais bem arrumadinha, que um dia tu podes casar com ele”. Eu pensei: “Ela tá louca”. Mas me arrumei, em todo caso. Estava esperando um alemão, loiro, grande. Aí vem aquele cara magrinho todo existencialista, de preto. Isso não existia por aqui, só em fotos e reportagens da Revista Cruzeiro. De óculos pretos, cabelos bem pretos e me disse: “Tu sabes fazer chapéu?”. Levou um ano sem me pagar um tostão. Meu pai dizia: “Minha filha, pelo menos a passagem do bonde”. Em 1958, noivamos, era para casar em 1959, acabamos sem dinheiro e nos casamos em 1960. Pintamos nosso apartamento e começamos nossa vida. Conta um pouco sobre essa época? Eu brinco que quem está nesse meio é picado pela mosquinha azul. Sempre realizei as ideias dele. De acordo com o que ele aprendeu, as informações que trouxe de Paris, nós criamos o nosso método, depois com as costureiras e alfaiates. E fomos juntos aprendendo, aprendendo. Eu concretizava os sonhos dele. Criação não. Sempre fui uma realizadora dos projetos dele. Não sei como eu conseguia. Hoje, se eu olho as agendas velhas... Cortava cada peça. O trabalho que dava. Uma a uma. Quando nos casamos, éramos só eu e ele. A primeira roupa foi devolvida. Mas depois vieram as mulheres maravilhosas que acreditaram na gente: a Norinha Teixeira, sogra da Lelete Teixeira, as mulheres inteligentes e com visão se cercavam dele. Então elas contribuíam também, para desenvolver a ideia dele e até inspirá-lo. A Gladis Aranha, a Miriam Beck de Oliveira, entre muitas outras. Casamos no dia 4 de fevereiro de 1960.

Como fazer aquela interferência para ajudar a mulher a se favorecer e não a ficar mais esquisita com uma roupa que não a ajuda? As pessoas têm umas ideias que não têm nada a ver com elas. Às vezes, perdemos uma cliente porque sabemos que aquilo não vai funcionar. Não vai ajudar e ainda vai estragar. Não copio de revista. Tento conversar com elas. Tem que ser criativo, se não se acha uma renda, imita o bordado de renda. Ou se não acha aquele estampado bonito, tenho três moças que pintam tecido. O meu estilo de ver a moda tem continuidade, é atemporal. Se tu pegas um Christian Dior, não querendo me comparar, e um Rui, tu vais saber: isso é Christian Dior e isso é Rui. A maneira como burilamos a coisa deixa a cliente satisfeita. Isso nos trouxe bastante segurança porque somos muito honestos. Muito direitos. Antes de as senhoras acharem que aquilo não estava bom, nós já mudávamos. Dóris – No ano passado fechou o último lanifício. O fim da indústria têxtil prejudicou muito. Entrou a China, na época do Collor ele abriu os portos e terminou com tudo. Nunca mais foi a mesma coisa. Rui – Isso existe para o médico, para o jornalista, para os romancistas. O estilo de cada um está marcado. Lê uma parte do livro e se vê que é Erico Verissimo. Os jovens daqui fazem coisas maravilhosas que eu não sei como eles conseguem fazer sem ter esse know-how e essa vivência que tivemos. Dóris – O mundo mudou muito. Pega o avião aqui e sai em Miami com as amigas numa farra e compra qualquer vestido. Perderam a noção, a educação, os valores, a civilidade. Não se respeitam mais as pessoas. As regras mudaram. O próprio casamento também se perdeu. O mais importante não é o amor, a celebração ou o sacramento. Bota o tomara que caia, faz a badalação, coloca o chinelinho de dedo. Não sei quantas | 19


mil lembrancinhas, coloquei esses tempos muita coisa fora. E penso em como gastam dinheiro. O que é importante em uma mulher? Eu realmente ainda gosto de uma mulher elegante. Não importa com o que ela está vestida. Pode estar de pijama, camisola, saia justa ou vestido de gala. Vai estar sempre vestida dela mesma. O costureiro não vem para enfeitar a mulher. Ele vem para colocar a moldura. Valorizar o que ela já tem. Se ela chega aqui e não tem nada disso, a gente consegue entrar no mundo dela e descobrir juntos. Todo mundo tem algo interessante a revelar. O que te realiza? É tão gratificante quando uma mulher se enxerga no espelho na terceira prova e os olhos brilham e ela deixa escapar um: “Como estou bonita”. Algo que sempre me chama a atenção e me marca ainda hoje é a elegância da Dóris. O que é o amor... A Dóris é maravilhosa... Ela agora não está tanto (risos), mas eu acho que ela tem essa coisa de quando senta, senta elegantemente. Mulher elegante é aquela que entra em um grupo e todo mundo se vira, para de falar e olha ela passar. Dóris – Isso serve para homem também, personalidade, atitude, estilo e coragem. Rui – Às vezes fico com pena de muitas pessoas, mulheres e senhoras de mais idade. Mulher elegante hoje é na faixa dos 50 anos, porque antes disso é raspa, fantasia. Não é mais vestido. As mulheres de 40, de 30, não querem deixar de usar as roupas de crianças, isso é ridículo. O que a maturidade te trouxe de belo? O que te alimenta hoje nesses anos to-

20 |

dos que viveste? Olhando para trás, eu faria tudo de novo. Sem arrependimentos. Então tem coisas que gostaria de ter feito, mas, se não fiz, não deviam ser tão importantes para mim. Somos muito benquistos em toda parte que vamos. Sem querer ser, mas a gente é. Há jovens curiosos comigo, me descobrindo agora. Fico feliz. Dóris – Somos tão bem recebidos onde vamos, ele não aproveita porque ele fica meio encastelado. Talvez meio tímido. Ele gosta muito de transmitir o conhecimento. Com o Instituto, acho que será ótimo e ele vai gostar muito. Sobre a maturidade na mulher, acho que ela vai mais em busca. Sossega menos. A idade nos traz segurança e a possibilidade de chegar em todo mundo. Até os 50, é difícil se manifestar porque parece que tu estás querendo algo mais. Depois dos 50, tu não deves mais nada para ninguém, fala com o guri, com homem, com velho. Acho que é diferente essa visão do homem e da mulher. Para a mulher é mais fácil envelhecer. Ela tem mais possibilidades. Uma saudade... Morar em Saint-Germain-des-Prés. Como manténs a disposição? Adoro dormir. Tens medo de morrer? Lamento que um dia eu não vá poder mais aproveitar as coisas de que eu gosto e ajudar as pessoas. Agora estou bolando uma coisa que a Dóris nem sabe. Queria dar um curso. A gente vê as crianças fazendo cada curso picareta. Uma peça-chave que uma mulher tem que ter? Saia justa.


| 21


PERFEITA PARA ENCERRAR O ANO E RECEBER O NOVO PERFEITA PARA ENCERRAR O ANO E RECEBER O NOVO


deuochic.com Vitor Raskin

TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas Fotos Tonico Alvares

Apaixonado pelo fascinante universo das joias, festas e moda, é com muita honra que apresento o Top 10 By Deu o Chic. Não por acaso, esse projeto estreia em uma edição especial, que conta a história do nosso maior criador, Rui Spohr. Vitor Raskin

w w w. d e u o c h i c . co m


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Fernanda Maisonnave Carina Duek para Twin Set: Vestido de chifon de seda pura com incrustaçþes de renda Chantilly 24 |


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

AntĂ´nio Bernardo: Brinco Celebration de ouro com quartzo incolor, anel Celebration com quartzo incolor e pulseira Mix rosa de pedras


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Fernanda Nichelle Marco TarragĂ´: vestido de renda francesa com bordados em cristais de Ă´nix 26 |


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Coliseu: Brinco de quartzo rosa e turmalina rosa, anel em topรกzio branco e topรกzio rosa, anel em quartzo e turmalina rosa, pulseiras de ouro e brilhantes

| 27


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Laura Tigre Carlos Bacchi: Vestido em crepe Givenchy e tule italiano com renda aplicada e tingida manualmente e bordado com cristais 28 |


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Betinha Schultz: Brinco arabesco em ouro branco com brilhantes, anel arabescos em ouro branco com brilhantes, pulseiras riviera de brilhantes e ouro branco e Riviera de flores

| 29


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Leila Loifermann TĂ´nage: Vestido em tule de seda pura com renda, brilhos e bordados feitos Ă mĂŁo


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Debora Ioschpe: Brinco em madeira de cedro com cristais, ouro e turquesa, anel de flor em cedro e cristais e clutch de galuchat com franjas de seda


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Manuela Lino Felipe Veiga Lima: Saia e blusa de um ombro sรณ em chiffon seda pura off white, com detalhe em renda ouro rosado


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

DvoskinKulkes: Brinco de ouro e diamantes, anel de brilhantes com esmeralda, pulseira riviera de brilhantes e anel borboleta de diamantes


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Madeleine MĂźller Paula Vianna: Vestido de seda Balmain off white com detalhe de seda negra 34 |


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Branca Dadda: Brinco Chandelier e anel de brilhantes e rubis, rivieras de brilhante e pulseira de ouro branco e diamantes

| 35


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Mariana SimĂľes

36 |

Juliana Pereira: Vestido orange em crepe de seda, com grandes aberturas nas mangas e ampla saia levemente velada


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Debora Dvoskin Joias: Brinco de turquesa, madrepĂŠrolas e diamante negro, colares de turquesa, esmeraldas, Ă´nix verde e pĂŠrolas negras e anel de ouro e brilhantes

| 37


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

MĂ´nica Guazzelli Sergio Pacheco: Vestido nude em cetim de seda pura e tule bordado com cristais Swarowsky

38 |


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Sara Joias: Brinco franjas de diamantes, anel urso de brilhantes com rubi, pulseira e anel de brilhantes em ouro branco | 39


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Patricia Padilha Sandra Ferraz: Saia em zibeline com estampa exclusiva de flores e blusa de seda pura

40 |


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Gislaine Rial: Brinco argola de diamantes, pulseiras de ouro branco e brilhantes, anel com turmalina paraĂ­ba e diamantes e colar de ouro com diamantes e mandala com pavĂŞ de brilhantes

| 41


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Priscila Nunes Adriana Kavietz: Vestido em georgette de seda fendi com aplicaçþes em pedras coloridas 42 |


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas

Alicia Joias: Brinco de ouro branco com pedras de esmeraldas e brilhantes, rivieras de esmeraldas e diamantes, aneis de brilhantes de pavĂŞ e em formato de flor | 43


TOP O by

deu o chic por

mariana bertolucci

luxo & festas agradecimento: Edison Soares e equipe do Sexton, Ângelo Rodrigues (hair), Igor Lunardi (hair), Rafaela Souza (make) e Serginho Zurita (penteados), Jorginho Goulart, Marcele Collin e Taís Andrade (Studio Taís Andrade) convidadas: Fernanda Maisonnave - Fernanda Nichele - Laura Tigre - Leila Loifermann Madeleine Müller - Manuela Lino - Mariana Simões - Mônica Guazzelli - Patricia Padilha - Priscila Nunes

estilistas

Adriana Kavietz (51) 3331-8007 (51) 99819-5748 www.adrianakavietz.com.br Carlos Bacchi (51) 99118-3008 (54) 3538-8998 @carlosbacchi www.carlosbacchi.com.br Felipe Veiga Lima (51) 3226-6651 @atelier_veiga_lima Juliana Pereira (51) 3395-4348 www.julianapereira.com.br

Marco Tarragô (51) 3328-2462 (51) 99905-2232 @marcotarragoloja www.marcotarrago.com.br Paula Vianna (51) 99718-1585 @paula.vianna_ www.paula-vianna.com

Serginho Pacheco (51) 3222-4478 (51) 99986-2687 @ateliersergiopacheco Tonâge (51) 3222-8988 (51) 99392-8673 @ton_age www.tonage.com.br

Sandra Ferraz (51) 3384-1682 @ateliersandraferraz www.sandraferraz.com.br

Twin Set Independência: (51) 3311-6972 Iguatemi: (51) 3328-2166 Moinhos: (51) 3264-4544 Glamour: (51) 3332-8722 @twinset1253 www.twinset.com.br

Branca Dadda (51) 99951-1030 @branca_dadda

DvoskinKulkes Iguatemi (51) 3334-1020 Moinhos (51) 3312-1030 Barra Shopping (51) 3093-3838 www.dvoskinkulkes.com.br

joalherias

Alicia Joias (51) 3222-0756 @aliciajoiasoficial alibriexport@gmail.com Antônio Bernardo (51) 3222-0848 (51) 3222-7433 www.antoniobernardo.com.br Betinha Schultz (51) 3335-1176 contato@betinhaschultz.com.br www.betinhaschultz.com.br

Coliseu (51) 99608-0520 @coliseujoalheria www.coliseu.com.br Debora Dvoskin Joias (51) 3508-8600 @deboradvoskinjoias Debora Ioschpe (51) 99977-2002 deborabi@terra.com.br

Gislaine Rial (51) 99992-4222 (51) 98130-6117 @gislainerialjoalheria Sara Joias (51) 3222-0648 (51) 3222-5813 @sarajoias www.sarajoias.com.br



Fernando Ernesto Corrêa

80, com tesão! Aurélio: Tesão significa força, intensidade; potência sexual Não se espantem com o título da coluna. Não vou contar as peripécias de minha performance sexual. Quero referir-me ao tesão como gana, força para fazer, busca de opções para o vazio do tempo, enfim, o desfrute com prazer e emoção da vida que não pode terminar antes que a morte chegue. Acabei de ler o segundo livro do Abilio Diniz (Novos Caminhos, Novas Escolhas). O autor é meu contemporâneo e quando circular esta edição estará completando 80 anos. Diz que mudou radicalmente nos últimos tempos e que calçou as sandálias da humildade. Dele divirjo eis que, na minha opinião, o homem do Pão de Açúcar segue vaidoso, presunçoso e arrogante. Considera-se o rei da cocada preta. Sua terceira e atual mulher é perfeita e só faltou dizer que formam o Casal 20. Excluídos esses narcisismos, que a mim não prejudicam, sou obrigado a dizer que ele é um exemplo de octogenário (que palavra cruel!) que bem administra seu tempo, seu físico, alimentação e que aproveita com rara competência as potencialidades do seu cérebro. É metido, contudo está na plenitude de sua inteligência e capacidade intelectual. Reconheço que o Abilio é uma entidade reluzente. Como não sou idiota, ressalto os vários exemplos positivos de seu livro, comparando-os com a minha realidade, já que há poucos meses entrei para o 46 |

seleto time dos octogenários. Não tenho muito do que me queixar. Quando me alfabetizei, lá pelos idos dos anos 1940, costumava treinar com os jornais da época. Lia com curiosidade as notícias policiais que retratavam os crimes de então, cometidos por descuidistas e punguistas que entravam à sorraba nos bondes e surrupiavam as bolsas e carteiras de passageiros desavisados. Também era notícia “um velho sexagenário” atropelado por ônibus ao tentar atravessar a rua. Eram esses os acontecimentos policiais majoritários, pois raramente ocorria um homicídio passional ou por diferença financeira. Em 1978, morreu meu pai, com 72 anos. Poderia ter durado mais, mas aceitei que vivera um tempo razoável. O Mauricio faleceu com 60 anos, o que foi uma precipitação. Hoje, porém, se diria que morreu um “jovem” e talentoso empresário da comunicação. Que diferença! Aliás, em quatro décadas, a expectativa de vida do brasileiro passou de 65 para 75 anos. Eu continuo trabalhando normalmente. Corria 50 quilômetros por semana até ontem. Parei porque sofri duas graves quedas em seis meses, ao perder o equilíbrio que me resta percorrendo esses lamentáveis calçamentos de nossa cidade. Sigo queimando calorias na esteira ou bicicleta. Não faço a dieta alimentar do


Abilio, de seis microrrefeições diárias, mas procuro comer legumes e verduras (de que não gosto) e frutas. Bebo e fumo charuto, menos do que gostaria e mais do que recomendam meus médicos, porque não sou paranoico. Não almejo a perfeição, que é muito chata. Busco me equilibrar entre o saudável e o prazeroso. Não é fácil, mas vale a pena tentar. O que estou querendo dizer com isso? Estou aqui para me exaltar? Claro que não. O que desejo dividir com vocês é que a vida não tem mais limite para acabar. Somos uma simples ameba ou um grão de areia neste universo, porém podemos ter nossa passagem útil e agradável por aqui

bem mais prolongada do que nossos antepassados. Com 80 ou até mais é possível levar uma vida gostosa e com razoável saúde. Eu não curto o passado. Fiz a ele algumas digressões apenas para ressaltar a importância do presente para projetar o futuro. Concito os parceiros da terceira idade para não se entregarem ao ócio vazio. Respeitados seus limites, vivam com disposição e alegria. Vestir pijama, pôr chinelos e ficar esperando o seu termo chegar é um rematado desperdício. Asseguro que tenho muito a fazer na parceria de minha família, amigos e companheiros de trabalho. Estou cheio de sonhos e de tesão. Os 80 não me intimidam.

| 47


Ana Mariano escritora

Felicidade Talvez porque minha mãe estivesse sempre dividida entre Porto Alegre onde eu e meu irmão estudávamos e São Borja onde trabalhava meu pai, desde pequena, eu me considerava a dona da casa. Ia à feira, ajudava a arrumar os quartos, inventava doces que meu irmão na sua enorme bondade e imperturbável fleuma engolia, mas recusava-se a repetir. Entre as tarefas que considerava minhas, estava a de arrumar a árvore de Natal e o presépio. No primeiro dia de dezembro, das caixas guardadas na garagem eu retirava, uma a uma, dezenas de bolinhas coloridas que, ao menor descuido, se rompiam feito bolhas de sabão. As que sobravam, eu as pendurava no pinheiro que depois enfeitava com neve de algodão e iluminava com velas (não existiam ainda essas luzinhas chinesas que todo ano, quando precisamos delas, estão queimadas). Com papel pardo, montava a gruta onde ficavam: São José, Nossa Senhora, a vaca, o anjo, o burrinho e a manjedoura vazia, porque até o dia 25 o Menino Jesus permanecia na gaveta esperando o próprio nascimento. Ao redor da gruta, ficavam os reis magos, dois pastores, três ovelhas (uma delas com a orelhinha quebrada), um galo e os

48 |

dois patinhos para os quais eu preparava um pequeno lago de espelhos cercado de areia recolhida nas calçadas. Havia calçadas, havia jardins, naquele tempo... No dia 24, antes de dormir, eu colocava um copo de leite e um prato com biscoitos para o Papai Noel. No meio da noite, levantava, derramava o leite na pia da cozinha (nunca gostei) e comia os biscoitos. No amanhecer do dia 25, corria até a sala e, com uma surpresa absolutamente verdadeira, acordava a casa aos gritos de “Papai Noel veio! Papai Noel veio! Olhem! Ele tomou todo o leite!”. O engraçado era que eu fazia tudo isso sem mentir. Era, ao mesmo tempo e com a mesma intensidade, a menina que acreditava piamente em Papai Noel e a que não acreditava, mas comia os biscoitos para que a outra, a que acreditava, pudesse continuar acreditando. Talvez eu fosse apenas uma criança com excesso de imaginação, talvez eu já sonhasse com poetas e um deles me houvesse ensinado a fingir completamente, não sei, talvez esta é outra hipótese aceitável eu já soubesse desse segredo que tornei a aprender recém ontem: felicidade é a esperança de que algo (alguém ou alguma coisa) seja possível.


CRÉDITO: CARLOS SILLERO

pronto para você

PAULA.VIANNA_ RUA 24 DE OUTUBRO 838 - 505 WWW.PAULA-VIANNA.COM


Verônica Bender dermatologista

Proteção para 2017 Fim de ano, tempo de comunhão familiar, festividades com amigos e colegas de trabalho comemorando o que aconteceu de bom e desejando um ano novo melhor, de mais igualdade e fraternidade a todos os povos. Chamado Dezembro Laranja pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, o mês de festas foi o escolhido para alertar sobre os riscos do excesso do sol sem proteção, que além do envelhecimento precoce também causa o mais comum dos cânceres, o câncer de pele. Nunca é demais lembrar de proteger a pele diariamente e reaplicar o protetor solar na pele e no cabelo. Use e abuse de chapéus, viseiras e óculos de sol. Para colaborar com a vontade de uma cor mais dourada, a cada ano surgem novidades em autobronzeadores sprays,

50 |

loções, óleos e lenços práticos para aplicar no corpo todo. Lembrando que é bom esfoliar e hidratar a pele antes da aplicação e que o autobronzeador não protege a pele do sol, o uso do protetor solar é sempre necessário. Então, em pleno Dezembro Laranja, recordo também que recentemente passamos o mês de Outubro Rosa, e percebo a importância de falar na pele dessas mulheres que estão ou estiveram sob tratamentos cirúrgicos, rádio ou quimioterápicos. Há necessidade de proteção e hidratação da pele, que fica ressecada e sem viço em decorrência do estresse físico e emocional ao qual são submetidas. Elas podem e devem usar produtos, sempre indicados por seus médicos. É essencial usar produtos que ajudem a melhorar o aspecto, a aparência e a autoestima dessas guerreiras.


A beleza de seus salões torna a Associação Leopoldina Juvenil o lugar perfeito para o seu evento. Localizada no coração do bairro Moinhos de Vento, é reconhecida pela tradição em eventos marcantes. A imponente beleza de seus salões e jardins, a excelência nos serviços, a fácil localização e segurança tornam sua celebração um momento único. Rua Marquês do Herval - 280, Porto Alegre - RS centraleventos@juvenil.com.br Contatos: (51) 3323.4311

(51)

3323.4328


foto: raul krebs - estĂşdio mutante


4 Sessões 45 minutos Semanal

VANQUISH PORTO ALEGRE COM ESTACIONAMENTO

TM

Tecnologia mundial que vai esculpir seu corpo

Padre Chagas, 310 | 301

51 | 3276.5000

ERECHIM

Bento Gonçalves, 387

54 | 3519.0030 Dr. Rafael Perin Arpini Cremers 29523


bá, que delícia

Afirmo sem medo de errar que a grande maioria das pessoas que estão lendo esta história já experimentou as delícias preparadas pela equipe do chef e empresário Claudio Solano. Ao lado da mulher, Zelir, e das filhas Tatiane e Camila, ele assina há exatas três décadas a gastronomia de um dos clubes mais tradicionais de Porto Alegre, a Associação Leopoldina Juvenil. A Sociedade Libanesa também tem a grife Claudio Solano, que já passou pelo Country Club, além de eventos particulares. Como boa parte dos meninos do Interior nos anos 1950, Claudio Solano foi criado ajudando a mãe na cozinha e o pai no pequeno comércio que a família tinha em um distrito de Santa Cruz do Sul: “Sempre fui dinâmico, aos 11 anos já ajudava meu pai no balcão”. Aos 19 anos, veio atrás de melhores oportunidades na Capital e começou a trabalhar como garçom em um hotel no centro da cidade. Em algum tempo, passou a gerenciar toda a parte de AB (alimentação e bebida) do hotel. Bastou para que ele chamasse a atenção de um cliente, que o indicou para trabalhar na gerência da mesma área do Porto Alegre Country Club, função que assumiu de 1980 a 1986: “O bom é que sempre tive esse perfil de fazer um pouco de tudo e essa experiência só aumentou as minhas aptidões em várias coisas”. Do Country, o caminho natural foi ser convidado para um desafio mais volumoso: cuidar do mesmo segmento da Associação Leopoldina Juvenil, no ano de 1986. Chegou a atender servindo cerca de oito departamentos por dia: “Era uma época em que 54 |

tinha janta da turma do boliche, da boxa, do tênis etc. Todos os restaurantes, bares, sauna, chegamos a ter 70 funcionários para dar conta de tudo”. Onze anos depois, em 1997, ele passou a responder pelo cardápio de absolutamente todos os eventos sociais do clube. Até os dias de hoje – esse casamento acaba de completar 30 anos, em 2016. Atualmente trabalha com uma equipe de cerca de 25 pessoas para realizar uma média de até quatro eventos por final de semana em temporada alta. São dois os segredos para tal responsabilidade: o primeiro é respeitar a entidade e os associados. Os gestores passam. Os sócios e o clube ficam. O segundo é planejar uma gestão completa, que observe tudo. Qualidade, funcionários e o atendimento direto ao público. Pergunto se ele e Zelir dividem por áreas as demandas: “Nós dois hoje fazemos tudo, menos o planejamento e atendimento dos eventos, que ficou só com as meninas. Não forcei nada. Elas foram gostando, mesmo sendo sacrificado muitas vezes”, explica o pai de Tatiane, formada em Hotelaria, e Camila, em Relações Públicas e Administração, e o avô coruja de Rafael. Também me contou que procura escutar as filhas sempre para modernizar e crescer e já avisa que logo mais vai incluir Rafael nas tarefas da empresa. Quando pergunto o que o deixa mais feliz no que ele faz, a resposta é tão simples quanto essencial: “Ver as pessoas felizes com o que tu proporcionaste com o teu trabalho e viver momentos únicos. Não somos fábrica, não pode automatizar”. Que delícia de resposta, chef Solano! MB

rodrigo e cassiana fotos

Trabalho e paixão no DNA


| 55


Uruguai Eduardo Alvares Boszko | Camile Marczyk Alvares fotógrafo e empresário | psicóloga

Tempos modernos Numa palestra, o psicanalista Joseph Knobel Freud, filho de Maurício Knobel e sobrinho-neto de Sigmund Freud, abordou temas como o excesso de medicalização em uma cultura regida pela pressa por resultados. Questionou onde está a nossa capacidade para parar, pensar e refletir. É verdade. Sofremos com a constante corrida contra o tempo, em um mundo competitivo que exige desempenho profissional, juventude eterna e projeção social. Uma sociedade impulsiva escrava do ter e da falta de tempo. Simplicidade é sempre bem-vinda. Menos é mais. Quanto mais estudamos, mais percebemos o quanto temos a aprender. Não saber abre espaço para o novo. O aprendizado e a reflexão nos fazem continuar crescendo e criando. Em tempos modernos, vivemos para trabalhar e nas férias nos permitimos desacelerar e curtir. Morando no Uruguai e convivendo com visitantes, percebe-se que o país provoca uma nostalgia em quem por aqui passa. A paisagem, o ritmo de vida, os objetos antigos tendem a levar cada um para um cantinho da sua infância. A satisfação em se escutar, respeitar o próprio ritmo. Um amigo nos diz que para morar aqui é necessário gostar de sua própria companhia. Diria que para viver bem é preciso gostar de conviver consigo mesmo. A vida em uma cidade grande tem mais opções, mas também mais estresse, menos tempo. Levar uma vida mais simples, sem deixar de 56 |

lado o que se gosta, é uma sabedoria. O Uruguai desperta em muitos visitantes a fantasia de mudança. Menos dinheiro, mais tempo gasto com o que vale a pena. Há os que colocam em prática a fantasia e a transformam em realidade. Pessoas de vários lugares que se encontraram aqui e inspiram outras a fazerem o mesmo. Uma dessas histórias é a de Bruno e Sylvaine. O casal Chevalier trocou Lyon por Colonia del Sacramento. Deixou para trás a família e a vida na França para recomeçar sem abrir mão do charme e da paixão. Ambos adoram a natureza e sonhavam com mais tranquilidade. Com mais tempo para aproveitar o dia a dia. Idealizaram e construíram Le Moment. Misto de casa de campo, pousada e restaurante. Um lugar sofisticado, moderno e acolhedor. Local de trabalho e lar, em que ambos colocam muito de si, trazendo vida à casa. Bruno, cheio de dons manuais e chef de cozinha, acrescentou ao lugar arte, aromas e sabores. Sylvaine é uma dama, educada, querida e de extremo bom gosto. Quando perguntamos por que escolheram Colonia, ela respondeu: “Quando tu olhas um globo do mundo, não existem tantos lugares onde se pode viver sem problemas de religião, terremotos, violência ou tsunamis. O Uruguai nos pareceu um país sério e tranquilo. Além disso, é rodeado pela natureza, tem uma cultura semelhante à nossa e um povo educado. Isso sem falar na proximidade com Buenos Aires, Montevideo e Brasil”.


| 57


Decor Bá Fabiana Fagundes

arquiteta | mude@fabianafagundes.com.br

Intenso requinte mado por amigos próximos para fazer ambientações em residências, o que já fazia com muita facilidade e domínio. Mas foi em 1991 que ele teve talvez seu primeiro grande desafio. Planejar e ambientar uma festa de casamento, pensar os espaços, criar os cenários e montar o clima do evento. Naquela época, esse tipo de função no planejamento de festas era praticamente desconhecido, diferente do que vemos hoje, quando poucos são os grandes eventos, sociais ou não, que não têm um arquiteto ou decorador por trás das montagens incríveis que vemos por aí. Desafio aceito, lá foi ele então “fazer acontecer” suas ideias para a grande noite. fotos letícia remião

Conversar com Renato Bing não é só agradável, é também uma prazerosa aula de bom gosto e requinte. E quando falo em requinte considero a palavra na sua melhor descrição: aperfeiçoar, aprimorar, apurar ou mesmo elevar. Pois é assim que Renato Bing trata suas criações. Lá nos anos 1980, o jovem universitário, ainda cursando a Faculdade de Arquitetura Ritter dos Reis, era um devorador de todas as boas edições da biblioteca da faculdade. Ali se perdia no horário ao viajar nas imagens que vinham do mundo inteiro e encantavam e alimentavam sua imaginação, que já dava os primeiros sinais da vontade de alçar voos bem altos. Nessa mesma época, Renato era cha-

58 |


Naquela época, mal se falava em iluminações cenográficas, as lâmpadas dicroicas eram a nova sensação do mercado e se começava a falar em iluminação dirigida nas decorações residenciais. Ele então, obstinado que é, fez manualmente focos de luz com lâmpadas dicroicas para cada arranjo da festa, criou efeitos em paredes com vários tipos de filtros feitos também para o evento, montou arranjos inusitados e transformou o Porto Alegre Country Club em um outro lugar. O sucesso foi instantâneo, na semana seguinte Renato já tinha mais três festas agendadas para os próximos meses e começava ali uma carreira singular no segmento de festas. Pode-se afirmar que sua marca registrada é a exclusividade das suas criações. Suas festas são sempre inesquecíveis, com uma riqueza de detalhes que sempre surpreende, com uso de objetos inusitados e garimpados

um a um, dando ao todo um visual rico e luxuoso, mas acima de tudo cheio de personalidade. Assim ele é também na decoração de ambientes, ama o mix de estilos e o faz com muita propriedade. Não tem medo das cores fortes nem da possibilidade de misturar móveis e objetos de épocas completamente diferentes, e consegue fazer com que tudo “converse” com harmonia e requinte admiráveis. Suas criações são luxuosas na definição, para mim, mais correta que essa palavra tem, que é de termos em um mesmo lugar formas, cores e texturas falando entre si e virando um deleite para os olhos. Lugares em que a gente entra e não tem vontade de sair, lugares que a gente guarda na lembrança porque de alguma forma tocam algo em nós que nos faz sentir bem. Um luxo capaz de inspirar sentimentos impossíveis de descrever em palavras, e nisso Renato Bing é mestre. | 59


Paola Deodoro jornalista

Por uma moda lenta e cuidadosa O mundo mudou, a internet deixou nossa vida imensamente mais acelerada, as redes sociais alteraram as conexões pessoais, nossas necessidades hoje em dia são outras. Com isso, a moda também mudou de ritmo, abrindo mais e mais espaço para o fast fashion, certo? Bééééééé! Errado! (ufa!). O grande ponto é que o processo industrial têxtil e de criação está absolutamente sensível (e vulnerável) ao outro lado desta modernidade líquida toda: o das questões ambientais e sociais. O público consumidor real de moda, que entende o vestir como um processo e não como um impulso, tem dado atenção a apelos importantes do mercado. É onde entra a força onipresente das redes sociais, que, muito mais do que os grandes meios de comuni-

cação, tornam público e latente como se dá o processo de produção em massa. Altas doses de poluentes para lavagens de tecidos, mão de obra escrava e infantil, uso de matéria-prima animal sem certificação, tudo em prol da produção gigantesca, veloz e descartável. Informações importantes que dão nomes aos bois e que fazem com que se acenda a luzinha vermelha do consumidor minimamente consciente. Parece menos necessário esse tipo de cuidado na moda do que na alimentação, por exemplo. Uma empresa que teve seu leite contaminado com ácido dificilmente vai voltar à sua mesa nas próximas décadas – e por motivos óbvios. Já uma marca de jeans que despeja todos os químicos em um leito de rio é revoltante, mas o caminho até afetar sua saúde diretamente é mais longo (de distância e de prazo). A boa notícia é que somos seres evoluídos e que a percepção com o que acontece ao nosso redor ficou mais refinada. Se antes éramos protegidos por nossa própria ignorância, a tempestade de informações que recebemos atualmente não deixa espaço para indiferença. E o resultado no fotos dior /divulgação

60 |


termômetro cool é: quanto mais engajado e envolvido, mais interessante você se torna. E olha que esse conceito já foi muito apedrejado por aí. Em 2008 (há nem tanto tempo assim, viu!), a estilista britânica Vivienne Westwood (lendária designer responsável pelo figurino da banda punk Sex Pistols) veio ao Brasil para divulgar seu manifesto contra o consumo desenfreado e foi duramente criticada – até mesmo ironizada. Como a dona de uma maison que vende vestidos caríssimos não estimula o consumo? Em essência, seu manifesto quer direcionar o pensamento coletivo para consumir menos e melhor, com o mínimo de desperdício. E como nada melhor do que um dia após o outro, muitos nomes conhecidos da moda brasileira que participaram do apedrejamento são hoje orgulhosos defensores do consumo responsável. Por uma questão de posicionamento contemporâneo e de necessidade mesmo. Ainda um pouco antes, em 2006, a WGSN – uma das maiores empresas de estudo de tendência do mundo – apresentou, também aqui no Brasil, um modelo de negócio que causou absurda estranheza entre a plateia de antenados formadores de opinião. Já falavase de ecologia nos processos de produção, mas a surpresa foi a possibilidade de que, em poucos anos, os consumidores passariam a privilegiar empresas com engajamento social em seus métodos. Empregar pessoas com mobilidade reduzida ou desti-

nar o excedente da cadeia de produção para uma instituição carente pareciam temas muito distantes do público final. O estudo afirmava que o posicionamento social da empresa seria definitivo para a escolha do comprador. Na época, a plateia inteira, sem exceção (também fiquei me questionando, juro), ficou com aquela expressão de “Como assim?”. Se a empresa faz caridade, tudo bem, mas isso não chega a influenciar meu poder de compra. E cá estamos nós, todos, adorando ouvir as histórias (o superglamouroso storytelling) de como a empresa foi planejada, quais as metas para o futuro, quem está envolvido na criação, quantos rolos de fita crepe economizam em cada nova coleção. É claro que as grandes redes de moda rápida continuam crescendo (um pouquinho menos, mas crescendo), mas estão também reinventando-se. Coleções cápsulas e parcerias com nomes que desenvolvem trabalhos autorais acontecem em volume assustador – e nesses tempos transitórios são a tábua de salvação para os dois lados. Enfim, houve o tempo em que comprar muito, por preço baixo e com decepção garantida nos bastava. Mas admite, vai: não tem coisa mais gostosa do que entrar em uma lojinha de rua, ser atendida pela própria dona, pedir para ajustar a manga, nunca encontrar alguém com o look igual e ainda por cima ver aquela peça vivendo muitos anos no seu guarda-roupa, cheia de saúde. É luxo só. | 61


Objetos e desejos Henrique Steyer

A riqueza do Theatro José de Alencar fotos marcos vinícius de oliveira mota

Acima do Paralelo 30, existe um Brasil cheio de riquezas a ser explorado. Nas regiões Norte e Nordeste, temos uma infinita gama de aromas, sabores e culturas às vezes tão diferentes das nossas aqui dos Pampas, que mais parecem ser de outro país. Coisa típica de um país continental como o nosso, repleto das mais distintas influências e miscigenações. Nos últimos tempos, meu trabalho tem me proporcionado a oportunidade de conhecer muito deste enorme Brasil. Recentemente, fui convidado para realizar uma palestra em Fortaleza, capital do Ceará, e, após definidas questões de agenda, fui surpreendido quando me informaram o local onde seria realizado o evento: um dos tea62 |

tros mais lindos que já conheci. O Theatro José de Alencar é referência artística, turística e arquitetônica, além de ser tombado pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tratase de um verdadeiro monumento fonte de pesquisa artística há mais de um século. Inaugurado em 17 de junho de 1910, o incrível prédio em arquitetura eclética tem sala de espetáculos em estilo art nouveau de três andares que comporta 800 pessoas. Um dos diferenciais do local é o salão a céu aberto, uma espécie de foyer que fica entre o pórtico de entrada e o prédio principal. Coisa que só é possível em uma região como o Nordeste, onde faz calor e chove pouco. A gente ingressa no teatro por uma


edificação em estilo eclético linda, como em qualquer outra capital do país. Até aí, sem surpresas. A novidade vem quando essa primeira edícula termina e adentramos o pátio interno com vista para a fachada principal, toda construída com ferro fundido vindo de Glasgow, na Escócia, e grandes vitrais coloridos. Lindo! Sua pedra fundamental foi lançada em 1896, mas o projeto original não foi concretizado e só em 1904 foi oficialmente autorizada sua construção. No início do século, ao realizar o projeto arquitetônico, o capitão Bernardo José de Mello imaginou um teatrojardim. Mas a parte verde e estatuária só foi construída décadas depois, na reforma realizada em 1975. O jardim ocupa todo o espaço vizinho ao teatro, e foi projetado por Burle Marx, considerado o maior paisagista do Brasil. O José de Alencar desperta mesmo encanto em todos. Grandes companhias de artes cênicas e dança já se apresentaram lá, assim como as maiores vozes do Brasil já encantaram plateias cheias, acomodadas em cadeiras de madeira vergada com assento e encosto em palha austríaca que são a cara do Nordeste. Há relatos de pessoas mais sim-

ples que afirmam ter levado uma vida inteira passando pelo local com pescoço torto e olhos curiosos em direção à parte interna do edifício, imaginando a riqueza arquitetônica escondida ali. É incrível percebermos o quanto uma obra construída pelo homem pode gerar encantamento e magia por anos e anos. Que venham mais joias como esta para que as próximas gerações saibam conviver com aquilo que é bom para alimentar os olhos e a alma. Acho que é isso que torna a nossa vida mais doce.

|


art imagens

ping

64 |


Tempo de projetos Caçula de três mulheres, a mini Roberta Jalfim já montava e desmontava cidades e ambientes das Barbies: “Ficava pronto e eu já cansava da brincadeira e desmontava para fazer de novo”. Ela também adorava pintar e desenhar em casa ou no Colégio Israelita. Em 1996, ela entrou na faculdade de Arquitetura, mesmo ano em que a mãe, Iara Jalfim, abriu a empresa de eventos Celebrare: “Um dia, ela comentou que precisava colocar 600 pessoas em um salão e não conseguia. Resolvi fazer a planta para ver as possibilidades. O cliente adorou. Comecei a fazer as plantas dos eventos”. Foi quando passou por estágios em escritórios de arquitetura. Mas já tinha sido fisgada pelo encanto dos eventos e antes mesmo de se formar já trabalhava direto na Jalfim Eventos, marca referência no segmento e que nessa época ganhou nome novo – e atualmente comemora duas bem-sucedidas décadas. Não raro, em feriados ou finais de semana, ela vai para o escritório, o telefone não toca e é quando consegue criar: “Eventos absorvem mesmo. Como trabalho com prazer, não vejo o tempo passar e exagero. Vejo pouco as minhas amigas porque estou sempre trabalhando e queria mudar isso com o tempo”. Enquanto esse momento não chega, é tempo de Roberta armar a festa. Focada, dedicada e perfeccionista, ela se entrega por inteiro para cada projeto que sai da cabeça, vai para o papel e vira festa. O sonho de cada noiva passa a ser também o seu. Não bastasse a rotina exigente, encontra tempo (onde?) para presidir o Lide Mulher RS e ser vice -presidente da Agepes. Nas horas livres, ela adora ficar com a família e os amigos. “Sinto não ter tido mais tempo com uma grande amiga que perdi neste ano. Quero estar mais perto de quem é importante para mim. Organizar a minha rotina para me dar mais tempo livre”. Uma estrelinha lá do céu me contou que esse será teu melhor projeto de 2017, doce e amorosa Roberta. MB

Trocarias Porto Alegre? Acho que não trocaria. Fui a Paris no ano passado. A beleza e a história encantam, mas para morar gosto do Portinho. Quem é Roberta e o que quer da vida? A Roberta respira evento. Ver a cara de felicidade de um cliente entrando no salão não tem preço. Superar expectativas é muito gratificante. O que é o mais importante em uma festa? Ter a alma dos anfitriões. A diferença está nos detalhes. Um bom guardanapo de linho, uma mesa bem posta. Mas o mais importante são o serviço e o conforto térmico. Calor ou frio acabam com a festa. O processo é artesanal. Um defeito e uma qualidade? Sou extremamente perfeccionista (qualidade e defeito) e centralizadora (defeito). Quem tu admiras? Castro Bernardes, Antonio Neves da Rocha, Colin Cowie, entre outros decoradores de festas. Projetos marcantes? Um casamento em Ibiza foi um marco e um grande desafio. Os casamentos no teatro do Bourbon, o evento da Panvel no Jardim Botânico. O que amas no teu trabalho? Ver o trabalho de um ano resumido em uma noite é inesquecível. Emociona participar da vida das pessoas em momentos especiais. Não tem como não se envolver. Já fizemos o aniversário de um ano e de 15. Já fizemos 15 anos, formatura e casamento e grandes amizades nesses 20 anos, participamos da história de muitas famílias. A parte chata é... Trabalhar enquanto os amigos estão se divertindo. Incomoda também a fofoca. É um meio complicado. O que queres mudar em 2017? Neste ano, perdi uma grande amiga da faculdade, de câncer. Foi difícil aceitar e entender. Desde esse dia, passei a só desejar saúde.

| 65


JONAS ADRIANO

pong

66 |


Voa, anjo Tagarela, maluquinho e criativo. Sabe o típico inventor de modas? Assim era o pitoco Pedro Toigo. Um geminiano de temperamento forte e apaixonado por bonecas: “Odiava (odeio) futebol ou tudo que os ‘meninos normais’ fazem. Se era para fazer igual, nem fazia”. A adolescência foi pacífica e criativa. Os pais sempre o incentivaram a criar, seguir os sonhos e a ser feliz. A paixão por desenhar sapatos começou aos nove anos, e a avó, sempre moderna, feminina e elegante, foi sua principal inspiração: “Ela é minha maior ídola e fã! Mesmo com a família incomodando, ela me apoiou”. Apesar da pouca experiência (e quem consegue ter experiência aos 21 anos?), trabalhar por um ano e nove meses na Tufi Duek deu boas noções de uma gestão de negócio voltado para a moda. Do estoque passando pelo marketing, financeiro e venda. O amor por sapatos é antigo, e a decisão de transformá-lo em fonte de renda imediatamente surgiu de uma necessidade familiar. Como aconteceu com muitos brasileiros, a crise de 2015 atingiu em cheio os Toigo. Josana Toigo, que era executiva de banco, estava aposentada, e Marcos Monteiro, que é publicitário, saiu da agência em que trabalhava. Era hora de apostar no talentoso e obstinado filho único, que começou a criar, crescer e aparecer. Com determinação e trabalho de pai, mãe e filho, nasceu a Pedro Toigo Design. A marca produz sapatos e bolsas de python sob medida e unissex e já ganhou os olhares de formadoras de opinião e personalidades gaúchas. Suas criações custam em média R$ 1 mil e prezam pelo conforto com atitude. No sexto semestre de Moda, a prática tem superado a sala de aula e a euforia é grande: “Eu não trabalho. Vivo minha paixão! Amo o que faço, criar, produzir e seduzir. Está nos planos próximos abrir a primeira loja”. Fly, angel, voa que o mundo é teu. MB

Uma história que define a tua personalidade? Sou um fã alucinado por Lady Gaga! Um Little Monster de carteirinha. A maior das minhas loucuras foi ir ao Rio sozinho com 15 anos ver meu primeiro show da Gaga. Essa independência e certeza mostram que eu consigo tudo que quero. Por qual cidade trocarias Porto Alegre? São Paulo. Adoro o caos, a muvuca, a loucura da cidade grande! Gosto de engarrafamento, de dirigir e ver o movimento. Sentir o que a cidade está falando e ver como as pessoas sobrevivem. Vivemos numa selva animada, cheia de incertezas e diferenças. Quem é Pedro Toigo e o que deseja da vida? Um sonhador. Meu desejo é cada vez mais nas ruas ver pessoas usando meus calçados. Nem fama, nem fortuna, só quero ver gente tão apaixonada pelos meus produtos quanto eu. Qual teu grande sonho? Meu maior sonho é calçar a Lady Gaga. Ela é pessoa sensacional, e desenho sapatos desde criança pensando nela. Um dia vou ver um PTD nos pés dela... Qual teu maior ensinamento? Minha avó me ensinou a amar. Os outros e a mim. Me amo muito! O que o teu sapato tem de diferente? Meu sapato é exótico: saltos únicos, cores diferentes e design sofisticado. Eu coloco amor em tudo que faço, noto que as pessoas percebem isso. Um defeito e uma qualidade? Sou muito falante e muito honesto! Tens algum modelo preferido? Meu sneaker Angel representa exatamente quem sou. O que mais seduz no teu trabalho? Ver como um belo par de calçados ou uma boa bolsa empodera e compõe uma pessoa. O que às vezes dá vontade de largar tudo e começar diferente... Atender pessoas mal-educadas. É natural, mas eu não aceito. Sou claro e educado com todos, e não entendo como é possível alguém não fazer o mesmo.

| 67


Claudia Tajes

Se 2016 fosse ficção Se 2016 fosse um filme, o roteirista já teria sido demitido, e por justa causa, há muito tempo. A cada reviravolta, lembro dos meus chefes (são tantos) dizendo: “Isso não é verossímil, exagerou na forçação de barra, o público não é bobo para acreditar em uma cena dessas”. Seja lá quem pensou no enredo de 2016, que fracasso de bilheteria. 2016 lembrou um programa daqueles em que as pessoas fazem qualquer coisa para sobreviver. Receber uma parcela de R$ 500 no final do mês: nem o No Limite pensou em prova tão cruel. Se 2016 fosse um reality show, seria o Largados & Pelados. Largados à própria sorte e com o bolso nu. Estrelando, ora quem: nós todos. Cada coisa que se ouviu em 2016. E cada coisa que se leu. Se 2016 fosse um programa de humor, o bordão tinha que ser o de um velho personagem do Jô Soares: fica vermelha, cara sem

68 |

vergonha. Mas anos e anos de falcatruas acabaram com qualquer possibilidade de rubor nas faces sem vergonha. Nada como a prática. Enquanto o pessoal de Brasília não decide se aquilo lá é um governo ou uma imobiliária, 2016 se parece com um apartamento comprado na planta que nunca saiu do papel. Se o Procon aceitasse reclamações, pediria minhas esperanças de volta. Teve uma época em que, nos meus desejos de final de ano, eu incluía a paz no mundo. Hoje ficaria feliz da vida com trabalho para todos e juros mais humanos. Sustentar o banco sai pornograficamente mais caro que pagar as contas de uma família. Seja como for, o jeito é juntar forças e resistir. Nossa sorte é que o brasileiro não desiste nunca e que o gaúcho é forte, aguerrido e bravo. Porque outros menos cascudos, olha, já teriam entregue a rapadura há horas. Que 2017 nos trate melhor!



Bá, que legal Carla Lendens de Gramado

A última edição do ano da Revista Bá está recheada de informações e dicas sobre as festas e o luxo deste período. Fiquei pensando sobre o luxo e sobre o que é luxo nos dias corridos de hoje. Luxo é chegar em casa mais cedo. Luxo é passear de mãos dadas com seu filho sem pensar nos problemas. Luxo é achar tempo na agenda para um chope com um amigo. Ir ao cinema sozinho e ficar em casa sem fazer nada. Luxo é ter um bicho de estimação e cuidar dele de verdade. Luxo é o cheiro de um novo livro ou a voz do seu pai pedindo algo bem simples. Luxo é uma festa glamourosa, mas também um churrasco embaixo de uma árvore, o passeio pela própria cidade olhando as coisas com outros olhos. É poder desligar o celular e ficar desconectado uma hora pelo menos por dia, para dar vez a ou-

tros pensamentos. Luxo é sentir o vento na pele e aproveitar os dias mais longos do verão. Luxo é ter alguém em casa te esperando e celebrando sua presença. Luxo é ter amigos de verdade e vez que outra poder viajar por aí. Luxo é sentir-se livre para dizer o que pensa sem medo de julgamentos e luxo também é ficar calado quando o que se for dizer não fará diferença na vida de alguém. Luxo é encontrar um novo caminho todos os dias, mudar o lado da rua, trocar o lado da cama e dizer coisas boas às pessoas que estão durante o ano todo ao seu lado. Luxo é dizer eu te amo. A simplicidade da vida. Por aqui, em Canela e Gramado, existem vários destinos de luxo. Assim como são inúmeras as opções de festas de final de ano, ceias de Natal e Réveillon. Mas minhas dicas são os lugares mais simples.

Em família

É assim mesmo que se escreve, sem plural. O Bar dos Alemão é outro lugar daqueles que tem que conhecer. Guaraná de garrafa, comida caseira e a melhor polenta frita do planeta. A família Hanel atende todos os dias o mais diversificado dos públicos. Você poderá encontrar o prefeito sentando ao lado do jardineiro em uma conversa muito informal.

70 |

Melhor X

Doçuras

Doces, tortas e o famoso gratinado são servidos na Confeitaria Martha, que agora é administrada pela terceira geração da família. Encontre uma mesa e sem pressa desfrute as delícias que são servidas sempre com o mesmo sabor. A Confeitaria Martha fica bem no centro de Canela e é muito tradicional.

O x-búrguer é muito tradicional por aqui. Mas há alguns lugares que ficam acima da média. Assim é o Dogão, em Canela, um lugar simples, com mesas de plástico e o melhor x-búrguer que você poderá provar. São poucos sabores no cardápio, mas qualquer sabor que você escolher virá recheado da simplicidade e do trabalho em família que há 40 anos é feito por lá.


gastronomia

C C LAUDIO S OLANO

Rua MarquĂŞs do Herval, 280 | Porto Alegre - RS 51 3222.3630 | c.solima@terra.com.br

www.claudiosolanogastronomia.com.br


Vinte anos depois de sua morte, o escritor nascido em Santiago do Boqueirão, que começou a escrever muito cedo, lançou livros, ganhou jornalista prêmios, integrou a primeira equipe de jornalistas da revista Veja, escreveu artigos para diversas revistas, como Manchete, Pais & Filhos, entre tantas outras, foi cronista do jornal O Estado de S. Paulo, é hoje um dos mais citados nas redes sociais, com diversos perfis no Facebook e no Twitter em sua homenagem. Quando comentei com meu amigo Vitor Lya Luft, sua colega de ofício, desde cedo reRaskin que faria um perfil do escritor Caio Fer- conheceu seu valor, tanto que lhe confiou um nando Abreu para esta edição que versa sobre de seus mais prestigiados livros, Reunião de o luxo, ele mais do que depressa falou: “Deu o Família, para que fosse adaptado para o teatro. chique!”. Fiquei com isso na cabeça. Lembrei Caio se tornou, então, quase coautor do texto, também que em diversas ocasiões conversei adaptando com extrema fidelidade o universo com o estilista Rui Spohr, a capa desta edição de Lya para o palco na montagem de Luciano da Bá, sobre o Caio. Mais um sinal. Alabarse, em 1984. “A permanência de Caio no Depois de entrevistar a jornalista Paula amor, admiração e interesse das pessoas, e enDip, amiga e biógrafa do escritor gaúcho, re- tre os jovens, deve-se a sua genialidade, cujo constituí mentalmente os tantos Caios que valor literário se afirmou desde as primeiras existem a partir da persona multifacetada de obras, ainda adolescente. Da mesma forma sua um dos mais polêmicos e prestigiados escri- visão e experiência do ser humano, e da vida, tores brasileiros da segunda metade do sécu- com seu espírito hipersensível e atormentado, lo 20. De memória, eu não dei conta. capaz de sofrimento pungente e encantamento Reli seus livros, assisti suas entrevistas, eufórico. Em certos momentos da vida de torevi o filme sobre sua vida – Para Sempre Teu, dos nós, ele acaba sendo um filho, um irmão”, Caio F. –, dirigido por Candé Salles, e, sobretudo, acrescenta Lya. conversei com Paula Dip, que estava em Porto Paula Dip, jornalista, colega de trabalho, Alegre por ocasião da Feira do Livro. Enfim, de amiga e biógrafa de Caio, o vê realizando prominha parte, o luxo é mesmo o Caio. fecias, como ela conta na entrevista para a Bá. Dele já foi dito quase tudo. Que é um esca- “Ele afirmava: ‘Os astros já disseram que eu só fandrista da palavra, um grande epistolista, serei famoso depois de morto’. Hoje, ele ultraum pop star das letras, um David Bowie da li- passou Clarice Lispector como texto li terário teratura. Símbolo de uma mais citado na internet. Tem cada geração, um personagem Paula Dip, biógrafa de vez mais seguidores, leitores e fãs. que significava muita gente. Caio Fernando Abreu Nosso pacto era que o primeiro A atriz Deborah Fique morresse escreveria a história nocchiaro iria estrear um e deixaria a obra do outro famoespetáculo em janeiro de sa. Isto está numa carta que nós 2017, Caio do Céu, e mais trocamos. Foi o que eu fiz, depois um livro de Paula Dip, de dez anos da morte dele, iniciei o enfocando a relação de livro Para Sempre Teu, Caio F.”. Caio virou livro, filme, peça de Caio com a escritora Hilteatro, espalhou perfis nas redes da Hilst, seria lançado em sociais e cumpriu sua profecia. breve. Ele estava de novo “Ele era de extremos, contraditóem cena.

arte Ivan Mattos

Ele queria ser imortal

72 |


rio, engraçado, e um grande escritor. Diria que é um dos melhores textos da segunda metade do século 20 do Brasil. Um escritor urbano, do amor, do sentimento mais fundo, também um dramaturgo, um cara que amava cinema, música, um poeta, embora ele dissesse que não, eu acho que ele está vivo porque ele é bom”, acrescenta Paula. Por trás da enigmática figura, uma personalidade divertida, delicada, explosiva, capaz de rir das maiores bobagens e fazer piada de si mesmo. Derrubava em minutos a esfinge que construíra para si e que a mídia ajudara a concretizar. O escritor maldito, o enfant terrible das letras adorava sentar numa prosaica churrascaria do Menino Deus num fim de noite, entre uma picanha mal passada e umas Brahmas, como dizia. Preconizava rindo as bandeiras despregadas da caretice e dos conformados. Adorava a moçada. Frequentemente, dispensava as mesas de intelectuais nos bons restaurantes para dividir o balcão do bar Ocidente, no Bom Fim, rodeado de gente jovem, artistas, jornalistas, cantores, atores, poetas, desvalidos, velhos amigos de boemia. Se vivo fosse, talvez reclamasse para si a autoria e divulgação de várias expressões que ajudou a cunhar e que nunca lhe deram crédito. Saia justa, por exemplo, era seu bordão preferido quando a situação se complicava.

Mas Caio F. – codinome emprestado do filme Cristiane F., Drogada e Prostituída – sabia ser gentil ou agressivo, conforme a situação. Na rua, ao ser abordado por um leitor mais afoito que se confessava seu fã, ele dizia: “Eu não quero fãs, quero amantes”. E morria de rir. Seus posicionamentos políticos eram muito claros. Como no célebre episódio do programa Roda Viva, da TV Cultura, em que a escritora entrevistada Raquel de Queiroz acabou se confessando colaboradora do regime ditatorial brasileiro em sua fase mais recrudescente. Num gesto dramático e teatral, retirou seu microfone e se disse impedido de seguir entrevistando uma pessoa que havia colaborado com um dos períodos mais negros da história recente do país. Saia justa, ao vivo e em cores. Coerente como sempre, dramático e passional como só ele sabia ser. O seu fim, talvez previsto por ele em suas divagações mais alucinadas, corroborando biografias de outros artistas malditos, teve consonância com sua existência atribulada e despudoradamente apaixonada. Nada a lamentar. Vinte anos depois de sua morte, Caio F. emerge do passado para nos libertar de tanta caretice e hipocrisia. Viveu e morreu como quis. Em cena, viajando, escrevendo, dizendo verdades, criando, amando, e rindo, rindo muito, de tudo e todos. | 73


eutenhovisto.com Jaqueline Pegoraro

Luxo é doar Sou grata por desfrutar o ano inteiro do que a maioria das pessoas experimenta apenas nesta época do ano. Sempre gostei de luxo. E descobri que o maior deles é poder doar, fazer o bem a quem precisa e transformar a vida de pessoas. Foi em 2015 que conheci, no Rio, o projeto Flor Faz Bem. E depois de participar de algumas ações decidi trazer para Porto Alegre a iniciativa que busca a doação de flores em grandes eventos para oferecer arranjos nas ruas, em asilos e instituições. Desde então, já foram mais de 100 entregas Aos poucos, ganhei voluntários e mais duas embaixadoras do projeto no Sul, Claudia Bopp e Karen Jaconi. Juntas, conectamos e engajamos dezenas de pessoas para as entregas em diferentes espaços, com di-

74 |

vertidas e inusitadas ações. E assim, ao reaproveitar a beleza da decoração das festas, ressignificamos momentos importantes e fazemos o bem. Doamos tempo, doamos um sorriso, doamos flores. Ganhamos muito amor em troca. Acreditamos no valor transformador das boas ações. E estamos abertas para novos parceiros. Se você Gostou da ideia, e tem um evento planejado para 2017, experimente esse luxo. Entre contato com o clubearteflores. Nós também planejamos e montamos as flores do seu evento. Assim, tenha certeza de um ambiente maravilhoso e do gerenciamento dos resíduos, com a coleta e a distribuição solidária após a festa. Entre em contato com clubearteeflores@gmail.com


| 75


Bá, que viagem

Caminho de luz Eu não tinha mais de 15 anos quando conheci a Tatiana Fadel Rihan. Ela era amiga de uma prima minha e irmã de um amigo de infância, o Cris. O quarteto de Calil e Ivete ainda tinha Ricardo e Adriano. Era um fim de verão dos anos 1980 em Atlântida. Atiradas ao sol. Eu vivia a doçura das primeiras liberdades da vida. Com a prima, na praia, sem os pais. Raio de luz, agitada, rouca, louca, olho de gata. Eu não tirava o olho daquela magrela de biquíni falando sem parar. Uma história mais maluca que a outra e todas elas maravilhosas. Sortuda que sou, voltei a encontrar a Tati por toda a minha vida. Nos mesmos lugares, com amigos em comum. Sempre muito bom. Desde então, eu passei a achar a Tati simplesmente o M-Á-X-I-M-O. Dona de um espírito livre, ansiosamente feliz e atrevidamente criativo. Sempre disposta a ver algo ou alguém novo, engraçada, autêntica e dedicada. Livre, leve e solta. Podia ter sido Psicologia, mas escolheu Direito, e depois de formada, aos 23 anos, seguiu carreira jurídica no Estado. Mas, no fim de 1996, trocou a estabilidade na carreira e, como uma boa garota dourada que era, fez a mochila e foi para a Califórnia, viver a vida não sobre as ondas, mas sendo babá,

garçonete, manobrista, delivery e o bico que aparecesse. A ideia era juntar dinheiro para dar a volta ao mundo: “Eu já caminhava muito sozinha, aprendi a me despedir das pessoas. Mas faltava algo”. De volta a Porto Alegre no Natal de 1998, ela não quis mais trabalhar com o Direito e no ano seguinte, em 1999, decidiu empreender ao lado da mãe, Ivete. A dupla assumiu uma franquia no ramo de alimentação e mergulhou de cabeça no trabalho. Tanto que 17 anos se passaram e a franquia virou um sólido negócio, o Restaurante Di Rihan, que carrega no seu DNA essa fibra de mãe e filha: “Atendendo mesa, no caixa, mexendo sopas, fazendo compras, no financeiro ou na telentrega”. Embora a rotina de empresária “fazquase-tudo” não fosse lá a mais zen, como um bom ser inquieto e atento aos recados da vida, Tatiana seguia conectada às fontes de energia de sempre: liberdade, natureza, terapias alternativas e a mais poderosa delas, o olho no olho. “Em 2013, uma voz me mandou para o Caminho de Santiago de Compostela. Em três meses, estava pronta para partir de Saint Jean, cidade do início da rota francesa. Sem saber nada. Achava que

Soluções para transportes familiares, empresariais, eventos e turismo Motoristas experientes e bilíngues Pontualidade, conforto e segurança


51 9 9707-6760

/SKN Soluções em Transportes


seria mais uma aventura com natureza, conexão com gente e caminhada.” Existem muitas rotas em vários lugares da Europa para o destino místico. Todas chegam à Catedral de Santiago. A Tati escolheu percorrer o caminho francês, que é o mais conhecido e também um dos mais distantes. São 800 quilômetros percorridos em média em 45 dias. Capital da Galícia, o nome da cidade é uma homenagem a San Tiago, um dos 12 apóstolos de Cristo, e a crença de que esse caminho é transformador vem desse tempo. Ao longo dos séculos, foram atraídas a pé para lá milhares de pessoas como a Tati, de todas as partes do mundo. O que fez desse canto mágico do mundo um lugar bonitinho e bem comercial, que vive só do movimento e do turismo espiritual que lá existe, e das histórias dos peregrinos que por lá passam. “O caminho é um portal. Cada pessoa recebe o que tem para receber e não o que quer receber”. A transformação foi física e espiritual, sentiu dores fortíssimas nos joelhos e tornozelos, a ponto de não conseguir andar: “A dor me fez parar, mudou meu ritmo, e dela tirei forças para seguir. A cada parada, mudava a rota, e como mágica encontrava outro significado falando com uma pessoa, ou quieta comigo mesma. Encontrei no caminho os motivos para estar ali e a força para seguir. No Brasil, os médicos não viram nada nos meus joelhos ou pés. Era um processo”, recorda Tati. O ápice da transformação e da energia é a hora em que os peregrinos de todas as partes e rotas do planeta se encontram na missa com botafumeiro, o incensário. A cerimônia se realiza mais de uma vez por dia na cidadezinha de mil habitantes. Minha curiosidade com tanta transformação só aumentava a cada palavra dela: “Mudou tudo. Só lá entendi a essência da pessoa que eu sou”. Nas pausas por dor, que eram para ser sofri78 |

das, acontecia a transformação. Quase em catarse, escreveu um livro de mais de 400 páginas sobre o que sentia no bloco de notas do celular: “Em alguns trechos do caminho, eu andava e escrevia ao mesmo tempo, de tão intensa que foi a experiência”. O livro de estreia de Tati se chama Uma Viagem em Um Bloco de Notas. Foi lançado no Brasil em outubro de 2014 e já vendeu quase 2 mil exemplares. Para falar sobre ele, foi chamada para palestras, conheceu peregrinos e leitores que encontraram no que ela escreveu no caminho a força que precisavam para seguir. Em solo espanhol, teve sessão de autógrafos e lançamento internacional no Museu das Peregrinações, em maio deste ano. Ocasião em que fez o caminho novamente: “Na primeira caminhada, as dores, que me impediam de andar, fizeram nascer o livro. A dores me apontaram o tempo e o silêncio e um olhar de verdade para dentro de mim. Com confiança, com luz e amor. Na segunda, sem dor, e carregando a minha vida transformada nas costas, que era o livro na mochila, eu caminhei muito. Mesmo parada, caminhava”. Caminha, Tati! E que a vida siga me presenteando contigo por essas esquinas como tem sido. Sempre cheia de amor e de luz. MB


Tina Mena Barreto nutricionista

Panetone e dieta. Amor sem fim

Na minha infância, panetone era duro e vinha com frutas cristalizadas. Ficava lá em cima da mesa, só para enfeitar. Uns comiam, outros olhavam as bolas brilhantes fincadas nele como decoração. Quanta coisa mudou, não é mesmo? Hoje eles são fofinhos, deliciosos, de vários sabores e agradam a todas as gerações. Começam a ser vendidos (caros) em novembro e entram em promoções supertentadoras quando o novo ano chega perto do Carnaval. Ou seja, comemos essa gostosura por uns três meses do ano. Por isso, precisei adaptar as dietas dos meus pacientes. Até porque, num regime de reeducação alimentar e/ou perda de peso, é preciso aprender a comer de tudo. Pouco, claro. Mas “de um tudo”. Então vamos lá. Como colocar o panetone na sua vida e na sua dieta? Divida esse bolo natalino (de 500g) em quatro partes iguais. Cada ¼ você divide em mais três pedaços. Resultado, 12 pedaços mais ou menos do mesmo tamanho. Esta é a fatia que poderá fazer parte do seu café da manhã (exceto diabéticos, claro) quatro vezes por semana no lugar do pão nosso de cada dia. Para guardar e não cair na tentação da gula, enrole cada fatia do panetone (de frutas ou gotas de chocolate – não aqueles cheios de creme dentro, por favor) em filme plástico ou coloque num pote tampado. E congele. Assim ficam na porção certa mas longe dos seus olhos. Então de manhã, com todo seu espírito natalino, retire um pedaço do freezer, espere uns 20 minutos pra descongelar naturalmente e delicie-se. Ou coloque na torradeira (mais conhecida aqui em casa como “pulador de pão”). E não tenha prejuízos na cintura em 2017. E fique feliz! Que venha 2017 cheio de saúde e realizações! Beijos.


19

Crônica Mariana Bertolucci

Luxo é coragem A moda nunca ocupou muito a minha mente. Não que eu não ache bacana ter um acessório estiloso e diferente ou uma roupinha nova. Mas não sou feliz andando “ensacolada” em shoppings e nem uma escrava de tendências. Uso e sempre usei o que me dá na telha (para desespero antigo da minha mãe e da minha avó e mais recente da minha irmã). E a minha telha é bem variada e cada vez mais prática. O meu radar curioso de boa generalista passa batido pelas novas alturas dos cós das calças ou das coleções internacionais. Meu senso estético para vestir quase não tem amarras, sigo algum bom senso, embora nem sempre tenha o apoio familiar, das amigas ou do namorado nas minhas escolhas. Mas eu não ligo muito. Não ligar muito para muitas “coisas” para as quais boa parte das pessoas liga demais me agrada em mim. Já que tanto sabemos que as coisas mais importantes da vida não são coisas. Dificilmente serei vista de bota branca, mesmo que ela seja Chanel, ou com um brinco pesado, mesmo que ele seja de

esmeralda. Eu gosto de mostrar as pernas mesmo e minha avó Tonica, do alto dos seus 90 anos, não cansa de repetir há pelo menos 10 o mesmo mantra: “Menina, mas isso é roupa de uma mulher da tua idade?”. Eu sapeco um beijo na bochecha macia dela e pergunto pela ambrosia para mudar o assunto. Nunca pensei seriamente em casar. Queria mesmo era uma filha, que nasceu linda há 11 anos, sem muito planejamento, mas cercada de muito amor e um vestido rodado com saia de tule, que escolhi sozinha em uma loja de Boston. Um dia olhei para a minha mãe e disse: “Mãe, não achas que eu mereço ter um Rui?”. Ela me olhou meio sem entender meu ataque repentino de sofisticação e respondeu: “Acho que sim, minha filha, toda mulher merece ter um Rui”. Meu Rui é esse que você está vendo aí. Além de ser verde-esperança e deslumbrante como imaginei, me fez admirar ainda mais seu criador. O que eu penso sobre moda e luxo vai por esse caminho. Que devemos buscar o que


tonico alvares

achamos que merecemos. As roupas, as joias, os metros quadrados em que escolhemos viver, os destinos que desejamos conhecer e as festas a que gostamos de ir (eu a-d-o-r-o) deixam sim nossas vidas muito mais graciosas, nossas imagens no espelho mais bonitas e nossos dias mais felizes e musicais. Mas sem saúde, amor, justiça e as pessoas tudo perde o brilho. Meu luxo em 2017 é que eu continue serelepe no meu Rui ou de polainas indo para o meu ballet (a minha irmã diz que sou a única pessoa que ela conhece que ainda usa polainas). Que a minha avó Tonica siga reclamando das minhas roupas e adoçando nossas vidas com ambrosia e que todos encontremos sempre coragem, força, fé e serenidade para seguir em frente. Todos os dias.


Cristie Boff

Designer e Artista Plática

Bella Italia

Acontece em Florença a mostra do artista chinês Ai Weiwei, no prestigioso Palazzo Strozzi. As obras conceituais do artista expressam sua luta pela liberdade de expressão e utilizam uma linguagem com forte pegada política e simbólica. Variam desde instalações, fotografias, esculturas, objetos e vídeos. Entre os temas também abordados por Weiwei estão a tradição em contraste com a modernidade do mundo contemporâneo. Uma das obras de grande impacto visual é a instalação com barcos infláveis colocados nas janelas da fachada do palácio, representando um problema latente que é a imigração clandestina que passa pelo Mediterrâneo. Começou em setembro e fica em cartaz até 22 de fevereiro.

82 |

Elton John Collection

A Tate Modern, de Londres, abriu em novembro último uma exposição com fotos da coleção privada do cantor Elton John. A mostra reúne obras de grandes nomes da fotografia modernista, como Man Ray, Ilse Bing, Herbert Bayer e Otto Umbehr. A paixão do cantor pela fotografia moderna nasceu do encontro com o fotógrafo Herb Ritts e abriu horizontes do rock star para o mundo das artes. Em pouquíssimo tempo, ele já havia comprado mais de 1 mil fotografias de grandes autores, da vanguarda ao presente. Vinte e cinco anos mais tarde, ou seja, atualmente, a coleção de Elton John possui 7 mil estampas vintage e é uma das coleções privadas mais importantes do mundo, especialmente pela riqueza desse período de experimentação linguística, que vai de 1920 até 1950. Poderá ser visitada até 7 de maio de 2017.


51 3013. 3361 . 51 3414. 3 108 . 51 92272815 ed uard o. p ar t y @ gmai l . com . w ww.du du da sc a ipira s.c om .br




Trama

À mestra, com amor Lenita Ruschel é hoje uma das poucas expoentes da dança nacional em atividade no país. E foi diversas vezes condecorada e homenageada por seu papel destacado de incentivo à dança e ao seu aprendizado Desde muito pequena, Lenita Ruschel sabia o que queria ser quando crescesse. A loirinha chamava a vizinhança para brincar de dar aula de ballet. Quando surgia um compromisso familiar ou chovia muito, as miniaprendizes ficavam tristes sem “aulas”. Convidada por uma vizinha da família no Menino Deus para organizar uma apresentação no Dia das Mães, a sala da dona Eloah virou o palco da turma e no comando estava a pequena Lenita, ao som de um piano de cauda, tocado com maestria pela anfitriã. Não tinha nenhum conhecimento, só imaginação fértil e uma enorme vontade de se expressar pelo movimento. Segunda filha dos quatro de Erica e Arnaldo, Lenita nasceu na mesma casa da Rua Antenor Lemos onde deu os primeiros passos e nas últimas seis décadas ensinou a dançar milhares de alunos que passaram por sua escola. É lá até hoje que fica a sede principal do Ballet Lenita Ruschel, e também onde viveu até os 97 bem vividos anos a vó Erica. Quem, como eu, teve a sorte de conviver com a vó Erica na infância e na adolescência sabe bem que ela foi um capítulo à parte e precioso dessa história e uma figura fundamental na vida de sua talentosa e obstinada filha. Foi da mãe que a minha professora de ballet herdou a rígida doçura e a determinação pelo trabalho, além de alguns dotes manuais. Já do pai veio um aguçado ouvido musical.

86 |

Embora a família frequentasse concertos e flertasse com a arte e a cultura, dançar com seriedade era algo fora de cogitação naqueles tempos. Na Doutor Flores com os fundos para a Senhor dos Passos, no segundo andar da casa da avó materna de Lenita, Erna Sperb, havia um terraço de onde era possível observar bem em frente, no mesmo andar, as aulas ministradas pelo professor João Luiz Rolla. Sempre que visitava a avó, ia direto para o terraço e de lá acompanhava tudo com encantamento. O parapeito era a barra, e a música podia ser ouvida com nitidez. Percebendo o claro interesse da menina, Rolla várias vezes a chamou para participar das aulas. Porém, foi só depois da sensível interferência da vó Erna que a neta passou a frequentar as aulas. Era a realização de um sonho. Manter-se na escola foi outro desafio, que só foi superado com o esforço e dedicação da amorosa e perseverante mãe, Erica, que confeccionava os trajes das coleguinhas para que a filha tivesse oportunidade e condições financeiras de dançar nas apresentações de final de ano. Com Rolla, aprendeu muito sobre disciplina, técnica, confecção dos trajes, a importância do capricho nos uniformes, horários, hábitos e postura que uma boa bailarina deve ter. Depois de passar pela professora Glacy Las Casas, Lenita foi selecionada para integrar o Curso Oficial de Dança no Rio Grande do Sul, dirigido por Lya Bastian Meyer, que muito a influenciou e incentivou. Nessa época, Lya chamou o então namorado da sua bailarina, Zulphe Nunes Pereira, e perguntou: “Tu tens intenção de casar com a Lenita?”. Ele respondeu que


claudio etges

sim. Dona Lya completou bem séria: “Então vais me prometer que tu nunca vais proibir a Lenita de dar aulas de ballet, porque ela nasceu para isso”. Lenita dava e frequentava aulas, como aluna do Curso Oficial do Estado (o que hoje, se cultivado e incentivado, poderia ter se tornado um corpo de baile subsidiado pelo governo como os do Rio e São Paulo), e participava das óperas de repertório que vinham a Porto Alegre de países como Uruguai e Argentina. Além de ter sido o grande companheiro da mulher na vida, Zulphe seguiu à risca a promessa feita a dona Lya e foi também seu braço direito na escola ao lado da vó Erica. Ainda deixou de presente seus 10 maiores tesouros: as filhas Deborah, Helena e Silvia e os netos Diego, Marina, Rodrigo, Luíza, Bárbara, Isabella e Pedro. Além de professora, a primogênita Deborah é uma virtuosa e premiada coreógrafa. Helena também trabalha com dança e é professora. Foi uma bailarina excepcional, formada pela Royal Academy of Dance de

Londres, método adotado na escola desde os anos 1970. A caçula Silvia, para completar o legado da mãe, também vive da dança. Expert em coreografar para adolescentes, com prêmios e convites nessa área, ao lado de Helena e de Lenita, hoje administra as cinco escolas em Porto Alegre. Nesses 60 anos, Lenita dividiu a atenção entre a escola e a família, engajou-se e apoiou associações, políticas públicas e também festivais de dança em todo o Brasil, como jurada e competindo com seus bailarinos. Tia Lenita, mestra querida, talvez só nós duas saibamos de fato todos os afetos e significados que nos ligam, mas não tenho outro jeito de encerrar este texto a não ser te dizendo em nome de todas as tuas bailarinas que foi essencial para mim aprender contigo, que com esforço e também com alegria todos somos capazes e que vale a pena tentar e não ter medo de girar nesta vida, porque do chão ninguém passa. Obrigada! MB | 87


moda astral Julia Cappellari Laks

publicitária e sócia da Astral Marketing

Moda astral O valor humano é fundamental para conectar marca e público. Vejo muito isso na nossa adoração por marcas autorais. Elas olham diretamente para a gente e para o mundo. Elas entendem “micromercados” e grupos de pessoas que admiram um estilo de vida único. Se aprofundam e pertencem a esses grupos para, então, poder contemplá-los com peças relacionadas a esse universo. A moda agora deixa a passarela de lado para olhar para as pessoas. Algumas marcas (inclusive grandes e tradicionais casas) seguem com um pensamento antigo, mas em breve serão obrigadas a se adaptar: seja pelo mercado ou por quem trabalha dentro delas. Inovar é estar adaptado, enxergar através dos olhos do outro e sentir com o coração do próximo. Vivemos em um mundo mutante e preocupado, onde a relação marca-consumidor é mais forte que o simples ato de escolher entre o crédito e o débito. Luxo é viver cercado de peças que fazem bem à autoestima e à consciência. ricardo lage

Estreio na Bá com uma breve apresentação: meu nome é Julia Cappellari Laks e sou publicitária, apaixonada por moda e por livros. Há dois anos, abri minha empresa, a Astral Marketing. Somos responsáveis pelo marketing e redes sociais da Bá, que desde o início acreditou no nosso trabalho. Conheço a Mari desde 2010, quando fiz meu trabalho de conclusão de curso e a escolhi como uma das minhas entrevistadas. Foi amor à primeira vista. Hoje quero dividir um pouquinho de um pensamento... A moda mudou tanto, né? E não digo só nas tendências, mas também na maneira como nos comportamos diante dela. Cada vez mais, buscamos nos vestir e nos relacionar com marcas que têm um propósito e uma causa. Que não são só bonitas, mas são do bem. Os pensamentos de “comprar por comprar”, “preciso ter para pertencer” e “quem usa tá na moda” já eram. Hoje, mais do que tudo isso, EMPATIA é palavra de ordem. As características humanas estão tomando conta do mundo (ainda bem!), e na moda não é diferente.

88 |


Somos especialistas em planejar e proteger o futuro do que tem mais valor pra você: a sua família.

Faça como milhões de gaúchos e escolha você também a Icatu Seguros para proteger o futuro da sua família. ESPECIALISTA NO QUE TEM VALOR PRA VOCÊ

www.icatuseguros.com.br

Seguros e Previdência: 4002 0040 (capitais e regiões metropolitanas) e 0800 285 3000 (demais localidades). Ouvidoria: 0800 286 0047, segunda a sexta, das 8h30 às 18h30, exceto feriados.


Bá, que lugar

Bons sonhos Há quatro anos, conheci a Quinta do Bucanero ao vivo e a cores. E que cores! Só dirigir o olhar para qualquer lado do cantinho de Santa Catarina que Cezar Bocão Pegoraro e Jaqueline Biazus escolheram para repousar e embalar seus sonhos, a Praia do Rosa, já encanta por si só até dentro de uma tapera, que dirá instalado em uma das 12 charmosas suítes. Pedaço farto de natureza emoldurado por Deus e descoberto e idolatrado pela gauchada, o Rosa, há duas décadas, conquistou o Brasil e o mundo. Há anos, a pousada aposta no conforto e no charme sob medida para casais. Do capricho no café da manhã caseiro à simpatia e presteza dos funcionários. A ambientação e o astral da pousada são pura mordomia despojada, luxo rústico com boa música, arte colorida, madeira natural, sabores delicados. Onde os pequenos detalhes fazem a grandiosa diferença. Como um bombom que adoça a noite serena, o passeio de canoa da lagoa até o mar, uma toalha quentinha e macia depois do banho com vista panorâmica para o paraíso. O mais simbólico dos detalhes, que já havia me marcado na primeira visita pela singela ternura do seu significado, é uma pequena almofada aromática bordada pela Jaque com as palavras Bons Sonhos. Conversando com a Jaque, percebe-se que a frase não é bordada por acaso pela dedicada proprietária. Com paixão contagiante e intensa, Jaque conta como tudo aconteceu nesses 20 anos da pousada que administra ao lado do marido, e como os sonhos dos dois ganharam vida e forma. Os gostosos aposentos têm varanda, 90 |

vista linda para o mar e a Mata Atlântica. O restaurante é uma delícia, a academia é excelente para se exercitar e tem wi-fi em todos os recantos. Na nossa conversa na vinda anterior, Jaque contou que entre os sonhos futuros estava a construção de mais duas suítes luxuosas e maiores para em quatro anos festejar as duas décadas do Bucanero. Dito e feito. Lá estão as duas cerejas do bolo. Sonhadas e construídas em forma de Casa Mar e Casa Terra. O luxo e o requinte das suítes de 100 metros quadrados estão também nos pequenos carinhos. Fiquei na Casa Terra, ambientada numa pegada bem tropical, de cores quentes. Ambas planejadas com conceitos sustentáveis, com madeira de reflorestamento, coleta de água da chuva, aquecimento natural. Oferecem blu-ray, adega, varanda com hidromassagem e uma apaziguadora vista para o mar. A área comum da pousada também ganhou retoques e um deque de madeira com espelho d’água. Tem luxo maior do que sonhar e realizar? MB


| 91



| 93


Báco Orestes de Andrade Jr. jornalista e sommelier

Ano Novo com borbulhas!

A bebida ideal para as festas de final de ano é borbulhante! As bolinhas do vinho espumante nada mais são do que gás carbônico. O que qualifica um espumante são as duas fermentações alcoólicas. Há duas maneiras de realizá-las: o método tradicional (champenoise) e o charmat. Em ambos, as leveduras transformam açúcar em álcool – e assim liberam gás carbônico, dando origem ao perlage. Após, o espumante passa por um processo de autólise e envelhecimento que pode durar meses ou até anos. A conclusão ocorre com a remoção das impurezas através da remuage e do degorgement. Os vinhos espumantes podem ser chamados de várias formas, que identificam a sua origem. O “rei dos vinhos”, o champagne, é obrigatoriamente produzido na França. Entre suas peculiaridades, é elaborado apenas pelo método tradicional (segunda

94 |

fermentação na garrafa) e tem só três uvas – Chardonnay, Pinot Noir e/ou Pinot Meunier. Não há champagne ruim. Todos, desde os mais simples, são deliciosos, de alta qualidade. Na Itália, temos o Prosecco, do Vêneto, um espumante produzido com uvas da variedade prosecco, recentemente chamada de Glera. Na Espanha, o espumante foi batizado de Cava; na Alemanha, de Sekt. Ainda temos os conhecidos Franciacorta, do norte da Itália, e o Crémant, de outras regiões francesas. Na Inglaterra e em outros países de língua inglesa, os espumantes são chamados simplesmente de Sparkling Wine. Todos são vinhos espumantes. Aqui no Brasil, sem nome específico, chamamos apenas de espumante – com qualidade reconhecida no mundo todo. De 2010 a 2015, os rótulos verde-amarelos


ganharam mais de 1,3 mil medalhas em concursos internacionais. Recentemente, a Decanter Magazine, uma das principais publicações do segmento, deu grande destaque para a produção brasileira, classificando o estágio atual do desenvolvimento do setor como “histórico e consistente”. Aqui, vale um alerta: nem tudo que borbulha é espumante! Bolinhas não são sinônimo de espumante. Caso das sidras, dos vinhos gaseificados e frisantes, do filtrado doce, do fermentado de frutas, da bebida alcoólica mista e até do refrigerante. Alguns também são provenientes da

uva, como o vinho gaseificado, o vinho frisante e o filtrado doce. Outros são provenientes de frutas diversas, como a sidra (que é feita de maçã) e outros fermentados de fruta. Há também produtos que são uma mistura de tudo um pouco, que são conhecidos como bebida alcoólica mista, pois neles há, além de fermentado, algum destilado alcoólico (álcool de cana), acrescido dos mais diferentes componentes. Este é o caso, por exemplo, do cooler, da sangria e demais coquetéis. Pegue sua taça, escolha seu rótulo preferido e tim-tim!

Saiba o que você está tomando

Os espumantes são classificados em cinco tipos, conforme a quantidade de açúcar presente: tipo

quantidade de de açúcar por litro

Extrabrut

0g a 6g

Brut

6g a 15g

Sec/Seco

15g a 20g

Meio Seco/Meio Doce/Demi-Sec

20g a 60g

Doce

Mais de 60g

| 95


Lígia Nery coach

Tempo de gratidão A palavra Chronos (em grego, Χρόνος; em latim, Chronus) significa “tempo”. Kairos (καιρός) é uma antiga palavra grega que significa “momento certo” ou “tudo fez formoso em seu tempo”. (Eclesiastes 3 : 11) O tempo de Deus é baseado em sua única vontade. Ou seja, é indeterminado aos olhos dos homens, logo se destina ao tempo chamado Kairos. Enquanto o do homem é Chronos, cuja sentença é determinada através dos segundos. Nossa reflexão começa tentando mostrar essa diferença entre o tempo qualitativo de Deus (seja qual for o seu Deus...) e o tempo cronológico do homem. Um fala na eternidade, mas o outro exala tirania se não estivermos muito atentos. Quem dera pudéssemos ressaltar com mais facilidade aquilo que é o tempo de Deus e dizer a todos que este tempo é um dia eterno. O outro parece mostrar uma tirania, pondo a termo tudo que nasce, pondo fim a tudo que se inicia, gerando ansiedade. Estes são Kairos e Chronos! Na mitologia grega, Kairos é filho de Chronos, é o deus do tempo e das estações. Os gregos denominavam Kairos e acreditavam nele para enfrentar o cruel tirano Chronos. Na filosofia grega e romana, Kairos é a experiência da eternitude, é o momento mágico. Então, sendo conhecedores do tempo, quem sabe podemos não mais encarar nossos rituais de passagem com a mesma visão. Para quem conhece o “tempo de Deus”, o agora, o momento toma outra dimensão. A vida nos levou a mudanças de formato em nossas famílias, em nossas empresas, na nossa sociedade. Nos tornamos mais críticos, tudo mais escasso e novos valores começam a inundar nossa alma e a nossa vida. 96 |

Festejar é também, e principalmente, agradecer pela vida, pelos momentos diferenciados, pelas pessoas que cercam nossa existência. Final de ano sempre foi sinônimo de planejamento, de renovação de votos de esperança e gols, de uva, os brindes vestidos de branco, com roupas novas, roupas íntimas com a cor do ano. A grande mensagem que o mundo vem deixando é pensar mais no agora como tempo de gratidão. Projetar a felicidade para o amanhã nos leva ao risco da frustração, expectativa, ansiedade. Este é um movimento de Chronos. Enquanto a gratidão pelo hoje com a concretude nos preenche, conforta e, acima de tudo, assim nos fortalece. Fica posto o desafio para este final de 2016, quem sabe hoje... sem esperar 31 de dezembro...: que possamos agradecer mais do que pedir, vivendo mais no mundo de Kairos.


Vi l l a del F iore

locação por temporada e venda a menos de 1km do centro de gramado apartamentos com duas suítes, lareira e duas vagas para carro Rua Piratini, 416 | Bairro Bavária Vegetação nativa preservada | Club House com 350m2 | Salão de estar com lareira | Gourmeteria e bar inglês | Sauna Fitness center | Sala de jogos e brinquedoteca | Piscina térmica com solarium | Terreno de 8.470m2 com três frentes

fernanda@villadelfiore.com.br (51) 3025-3319 e 99333-6707 villadelfiore.com.br


Lívia Chaves Barcellos

A arte de Rui croquis dos vestidos. Com um desenho limpo e rápido, via-se logo que se tratava de um grande artista. E, como um passe de mágica, aquele desenho se transformava em uma roupa sensacional. Aí entrava o dedo de Dóris, que sabia fazer uma prova como ninguém. O alfinete estava sempre no lugar certo. Ismael, que fazia ternos com Vargas, sempre disse que dava para reconhecer a léguas um terno de seu alfaiate preferido e uma roupa de Rui. O mundo mudou, veio a era do prêt-à -porter, e Rui, sempre mantendo a alta-costura como carro-chefe, também entrou de cabeça neste mundo novo. Mudou também de endereço, foi para a Rua Miguel Tostes, onde está até hoje, brilhando sempre. Sou fã desse querido casal. ricardo lage

Homenageado neste número da Bá, o assunto não pode ser outro. Rui, o grande costureiro do Rio Grande do Sul. E a querida e elegantérrima Dóris, sua mulher e braço direito. Os dois formam um casal perfeito em todos os sentidos, um completa o outro. Trago comigo belas lembranças daquele ateliê da Rua Pinto Bandeira, onde nos conhecemos, no final da década de 1960. Era o endereço certo para sair superbem vestida, com a roupa que fazia levantar a autoestima de qualquer mulher. Corte e confecção absolutamente perfeitos e um bom gosto inquestionável. Não poderia ser diferente: foi lá que encomendei meu vestido de noiva. Desde então, muitas vezes voltei para escolher as roupas para as festas mais importantes ou para momentos inesquecíveis. O maior prazer era ver Rui fazendo os

98 |


André Ghem tenista profissional

Melhor escolha Cada um de nós tem uma visão sobre como celebrar aniversário, Páscoa e festas de fim de ano. Nunca entrei em miúdos para saber o que fazemos por nossa vontade, por vontade dos nossos amigos ou por vontade da sociedade. Dos feriadões, Páscoa e Natal são os mais fáceis de se aproveitar. Na primeira, pode-se ir para a praia, se o clima estiver favorável, Serra ou mesmo procurar o ninho no conforto de casa, sempre uma ótima opção. Natal é família e ponto final. Simples. Aniversário? Dá trabalho. Passada a contagem regressiva para a maioridade dos tempos de infância, os anos completos deixaram de ter uma importância dentro de mim. Alguns deles passei completamente sozinho do outro lado do mundo, sem contar pra ninguém, e a vida seguiu e segue sem traumas ou consequências. Por outro lado, não deixa de ser uma boa oportunidade de juntar os amigos, basta querer. Já sobre o Réveillon, tenho muitas histórias. Por anos seguidos, passei a virada na cama, dormindo, sozinho, sem peso na consciência, pois no dia primeiro tinha de trabalhar. Teve um outro no avião, quatro horas depois de levantar voo passaríamos pela linha onde trocaríamos o último pelo primeiro dia do ano e seria servida uma taça de champanhe a todos em um grande brinde coletivo, mas acabei perdendo o tim-tim porque peguei no sono minutos antes. O da Tailândia teve uma expectativa, estar no meio de uma grande concentração de pessoas pela contagem regressiva. Porém, cinco minutos após o término dos fogos, a multidão já se esvaía. Todos a la casa e antes de completar a primeira hora do ano eu já estava deitado mais uma vez. As festas e as comemorações passam e o que sempre fica são as escolhas que fazemos, por isso, faça sempre o bem. Não há escolha melhor. Boas festas a todos!

| 99


Flavio Mansur de Pelotas

No melhor estilo gaúcho Maria Rita Sampaio é uma mulher incrível, bonita, talentosa, mãe e avó exemplar e muito dinâmica. Segue o exemplo de sua inesquecível mãe, Antoninha Berchon Sampaio, sempre atenta à preservação do patrimônio histórico de Pelotas. Em um dos sábados de novembro, num dia de céu azul, recebeu nos jardins da sua Estância São José para uma Grande Festa Gaúcha em benefício da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, reunindo mais de 200 convidados, muitos vindos do eixo Rio/São Paulo, e outros tantos de Pelotas, Porto Alegre e Jaguarão. Sugeriu no convite traje típico gaúcho, e a adesão foi geral, proporcionando uma festa temática linda na sua histórica propriedade rural. A culinária campeira esteve irretocável, desde as saladas e acompanhamentos, até as carnes assadas pela equipe Radmann e as deliciosas sobremesas. Números de música e dança, inclusive com a participação de Glorinha Majer e Gilberto Alves completaram a ocasião. Cristina Almeida Braga, em amarelo, era seguramente a dama mais elegante, dividindo a mesa com a filha Nazaré Almeida Braga Metsavaht e a neta Caetana Almeida Braga Metsavaht. Outra figura chique era Beth Monteiro de Carvalho, e a presença mais bela indiscutivelmente a nora da anfitriã, Carla Luque, simplesmente encantadora em período de gestação. Entre os nomes femininos de Pelotas, uma referência as irmãs Aninha, Carolina e Francisca Luiza Peró Osório, as três perfeitas na indumentária gaúcha, assim como Ana Carolina Issler Ferreira Kessler. 100 |

As irmãs Ana, Francisca Luiza e Carolina Peró Osorio e o menino Pedro

Anna Luiza Quinto di Cameli, Cristina Almeida Braga, Nazare Almeida Braga Metsavaht e Caetana Almeida Braga Metsavaht

João Pedro Schild, Ana Lúcia e Carlos Alberto Mascarenhas Schild


A modelo internacional Carla Luque, esposa de Felipe Sampaio Nabuco, e Catarina Quinto di Cameli

Vitor Issler Ferreira Araujo e a tia Ana Carolina Issler Ferreira Kessler

A anfitriã Maria Rita Sampaio entre Alexandre Durans e a prefeita eleita de Pelotas, Paula Schild Mascarenhas

As irmãs Maria Rita Sampaio e Rosa May Sampaio, esta decoradora de sucesso no eixo Rio/São Paulo e mãe da atriz Guilhermina Guinle

Beth Monteiro de Carvalho veio de São Paulo para o almoço

Sempre bonita, Andreia Fetter Zambrano

A artista plástica Maria da Graça Marques | 101


Bá, que imagem Heloisa Medeiros fotógrafa

A vida como ela é Poucas experiências foram tão transformadoras. Quando aceitei o convite do amigo e também fotógrafo Giuliano Lucas para participar de uma imersão artística financiada pela Funarte, eu sabia que seria um grande desafio fotografar o universo da maior área de prostituição do país. Que me tiraria da zona de conforto de tudo que já havia vivenciado. Aceitei com alegria! Sim, sim, sim, infinitamente grata por essa oportunidade de expandir conhecimento e sensações. Sabia que de alguma forma nunca mais seria a mesma. Adentrar esse universo desconhecido e somente percebido através de relatos de terceiros, da literatura ou do cinema foi extremamente perturbador e ao mesmo tempo libertador. Também enquanto mulher, além da profissional. Viver Guaicurus, no centro de Belo Horizonte, me fez mais forte, me fez ter empatia por essas mulheres tão guerreiras, me fez entender a fragilidade “viril” dos “homens

102 |

zumbis” sedentos por afeto e prazer. Me fez chorar de raiva do dono do estabelecimento, que cobra R$ 150 por diária de cada trabalhadora do sexo. Elas têm que fazer uma média de sete programas por dia para começar a ganhar seu sustento. Me fez entender que o jogo de poder muda da porta para dentro. Compreendi que existem ilhas de afeto no meio de um ambiente tão hostil. A cantina do “hotel” com o colo da dona Nice de sobremesa seja a hora que for, seja para as profissionais que ali trabalham diariamente, seja para nós artistas astronautas forasteiros, atentos e sensíveis a que tudo vê. Aprendi também a segurar a ansiedade. Há tempo para tudo. É preciso estabelecer laços de afeto antes de abrir a câmera. É preciso verdade nas fotografias. Havia exploração, havia abandono, havia humilhação. Mas também havia amor, respeito e amizade. A vida como ela é!


| 103


Carlos Mânica

Consultor de empreendedoras

Os primeiros passos Um dos maiores medos de uma empreendedora é não conquistar os resultados pretendidos. Com esse medo, algumas não tiram suas ideias do papel, outras desistem e há as que precisam investir continuamente em análises, planejamentos e ações para atingir resultados satisfatórios com o seu negócio. Eu acredito que o primeiro passo para a construção de um empreendimento é estabelecer uma estrutura base. É justamente essa estrutura que possibilitará a segurança dos próximos passos. Em meu trabalho com desenvolvimento de empreendedoras, eu costumo trabalhar essa base estrutural buscando duas respostas: realização profissional e um bom nicho de mercado para atuar. Normalmente encontramos a realização profissional quando buscamos empreender com algo conectado com nossas vidas. Algumas vezes, é algo que envolve algum ponto do nosso passado, outras vezes, alguma demanda do presente, outras vezes pode ser algo envolvendo um objetivo futuro, ou até mesmo um grande insight que gera identificação pessoal. Empreender em algo que não está conectado conosco é possível, porém pode custar caro e nos afastar da felicidade profissional. Outro ponto é a procura por um nicho de

104 |

mercado, que nada mais é que um segmento específico para se explorar. Normalmente eles são identificados desta forma por serem pouco explorados ou inexistentes até então. Quando posicionamos uma ideia empreendedora em um nicho de mercado, damos um importante passo para conquistar resultados positivos. Quando um negócio é criado diretamente ligado à vida da empreendedora e focado em um nicho de mercado, naturalmente este já será um negócio diferenciado. Costumo brincar que, para testar se a sua ideia é realmente diferenciada, você precisa se perguntar: essa ideia é boa o suficiente para me levar a ser entrevistada pela Fátima Bernardes ou pelo Jô Soares? O mercado está saturado de ideias comuns, empreendimentos de sucesso precisam destacar-se dos demais. Você quer empreender? Então espero que este texto te possibilite boas reflexões, pois mulheres empreendedoras normalmente colocam em seus negócios grandes expectativas que impactarão positivamente suas vidas. Para essas mulheres inquietas, nada melhor do que obterem sucesso, terem negócios diferenciados, e sendo plenamente realizadas profissionalmente. Sucesso!!!



close Silvana Porto Corrêa

Fim da tradição Uma das quatro filhas da família Chwartzmann, Clarice foi criada solta em uma casa em Passo Fundo. A mãe era cozinheira de mão cheia, e o pai, um grande churrasqueiro. Criou-se trepada em árvores, com horta em casa, e era no pátio do jardim onde ela vivia feliz e a família toda confraternizava. Desde pequena, vivia em volta do pai ao lado da churrasqueira. Aos 17 anos, veio morar em Porto Alegre e fazer faculdade de Publicidade e Propaganda. Em seguida, entrou na Zero Hora. Entre idas e vindas no Grupo RBS, foram 15 anos. Clarice conta que levava a churrasqueira elétrica para a redação e fazia o churrasco lá. Morou na Europa, em Florianópolis, na Bahia e no Rio de Janeiro, sempre atuando na área de produção cultural. Em 1998, começou a trabalhar no Festival Porto Alegre em Cena e ali se especializou na captação de recursos. O que chamou a atenção de Eva Sopher. Era Clarice, segundo Dona Eva, a pessoa indicada para tirar da gaveta o projeto do Multipalco. Iniciativa pela qual trabalhou árduo durante 10 anos e foi uma experiência incrível. Seguiu ainda por mais cinco anos no segmento de produção cultural com sua própria empresa. Os 50 anos se aproximavam e com eles questionamentos existenciais sobre o que a estava deixando feliz na vida. Com um empurrãozinho da psicanálise, Clarice percebeu que queria tomar outro rumo. O churrasco e seus aromas voltavam a rondar sua alma. É algo que está em sua história. Faz parte da vida das pessoas, e por que as mulheres não fazem? 106 |

Foi dessa dúvida que nasceu A Churrasqueira. Sucesso total! Passados pouco mais de dois anos, Clarice já é uma churrasqueira nacionalmente conhecida. Participou de vários programas, como Mais Você, MasterChef, Cozinheiros em Ação, Saia Justa e por aí vai. Hoje, além dos cursos em todo o Brasil, ela também realiza eventos sob medida ao gosto do cliente. De pequenos a grandes grupos. A novidade para 2017 é que Cla vai percorrer o interior gaúcho para saber por que os gaúchos são famosos no mundo inteiro pelos seus dotes de churrasqueiros. O projeto Os Gaúchos e o Churrasco – Uma Jornada Cultural ao Redor do Fogo vai mostrar a evolução e transformação do churrasco ao longo dos anos. O resultado poderá ser visto em livro e exposição na Expointer de 2017. Dale, Cla!

fotos letícia remião


| 107


de olho Marcelo Bragagnolo publicitário e agente

Top gaúcha estreia nos croquis A nova label Tatiana Dumenti Brazilian Wear marca a estreia da modelo gaúcha Tatiana Dumenti como designer de moda no segmento de praia e resort. Paralelamente à carreira internacional, que ultrapassa dez anos como modelo, passeando por experiências na TV como repórter e apresentadora, Tatiana transfere o conhecimento adquirido, resultado do cur-

108 |

rículo recheado de incontáveis temporadas de trabalho entre Nova York, Paris e Milão, para suas criações: “Busco interpretar a sensualidade feminina da brasileira discreta, que chama atenção pela elegância, pelo estilo e atitude. Também priorizo tecidos e aviamentos de alta qualidade – quero atender mulheres que valorizam materiais ora elaborados, ora rústicos e naturais”. Já na primeira coleção, batizada The Ruffles Collection, para o verão 2017, as curvas e a feminilidade discretamente sensual e a inspiração: “Babados sinalizam sofisticação e uma beleza delicada, de alguém que busca um visual elegante mesmo nas altas temperaturas”. As peças com design elaborado ganham um contraponto com texturas leves e mais rústicas do algodão. A seda é uma proposta mais sofisticada: “Pensei em looks para as pool parties e passeios de barco. E algumas saídas versáteis, que vão tranquilas da praia à festa, dependendo da produção e da personalidade das mulheres cheias de atitude que imaginei, é claro!”. Já a linha resort recebe influência da alfaiataria de verão com modelagem precisa e intenção de valorizar qualquer biotipo: “A ideia foi desenvolver uma coleção democrática, para acompanhar o humor das mulheres e cada momento: os que pedem sofisticação e aqueles de relaxamento”. A coleção completa tá no site: tatianadumenti.com.br


Projeto: Denise Herwig | Foto: Everton Rosa

Materiais, Cenรกrios e Coberturas para Eventos www.emporiodaslocacoes.com.br

f: (51)3325.9595

Projeto: Rafaela Scalzilli | Foto: Claudio Fonseca


Aline Viezzer

50 anos de fotografia No recém lançado Las Fiestas Casa de Eventos, aconteceu o lançamento do livro do Rio Grande do Sul do fotógrafo Leonid Streliaev, que completou 50 anos de fotografia, com a presença de autoridades e grandes empresários do Estado. fotos cleiton thiele

Rita Leidens e Tatiana Farias

Carmen Rizzato e Milton Miranda

110 |

Ieda Maria Vargas e Leonid Streliaev

Daniela Ecker e Rosângela Valmórbida


Cristina Silva Karin Lacerda Cleusa Tissiani e Cรกtia Vechio

Aline Rissato e Vancarlo Anecleto com Joรฃo Pedro e Leonid Streliaev

Tiago e Ligia Ruggieri

Adriana Franciosi Leonid Streliaev e Liane Neves

| 111


112 |


todas querem Rui. Uma gramática simples, um talento complexo que deu vida ao primeiro grande movimento de moda nacional, quando a figura do costureiro ganhou seu status autoral, transformando esta pequena assinatura em grande desejo além de qualquer década. Embora sempre impecavelmente clássico, Rui despertou polêmicas, instigou ousadias, foi além do óbvio com seu talhe firme, sua modelagem perfeita que por muito tempo antecipou tendências. Hoje sua moda é a tradução mais perfeita do que se define como a alta-costura no Brasil, um sob medida precioso que interpreta os sonhos das clientes mantendo a personalidade do criador. Rui, um elo entre a ambição e a precisão do bem vestir. Todas sempre vão querer Rui.

As Patrícias www.aspatricias.com.br Fotos Jean Pierre Kruze

| 113


114 |


| 115


116 |


| 117


118 |

fotógrafo : jean pierre kruze hair : cesar augusto (mirage três figueiras) maquiagem : jaqueline gelsi (mirage três figueiras) produção : carolina loureiro e leticia kleemann produção de cast : marcelo bragagnolo modelos : andressa port, camila saibro , carolina loureiro , julia bing , leticia kleemann , roberta pfeifer , vitória chaves barcellos (lov m gmt )


| 119




122 |


acervo de luxo

Por Renata Fratton Noronha Em 2003, eu era formanda em Moda na Universidade de Caxias do Sul. Nasci em Santo Ângelo e queria morar em Porto Alegre. Fui aceita como aprendiz no atelier de costura. Foi um choque, confesso. Numa época em que se valorizavam os processos industriais, o tecnológico, a produção rápida, as costureiras do Rui pareciam ter parado no tempo. Numa

| 123


sala muito clara, havia uma grande mesa de corte, outras mesas pequenas, poucas máquinas de costura. Praticamente todo o trabalho era feito à mão: o risco leve de giz no tecido, os pontos de alinhavo, os bordados. O trabalho todo era coordenado pela dona Luiza, mulher ágil, voz quase estridente, perfeccionista e, para mim, muito parecida com Coco Chanel, porém loira. Até hoje a chamo de “Chanel loira”. Aprendi o que é toile, que um vestido precisa de pelo menos três provas, que para ficar perfeito é preciso desmanchar muitas vezes. Todo aquele universo que, na faculdade, ouvia-se falar sobre alta-costura, savoir-faire, desvelava-se diante dos meus olhos. Volta e meia a dona Dóris, esposa de Rui, me pegava pela mão e me mostrava uma peça ou outra: “Isto é sinal de casaco bem cortado!”, “Está vendo este tecido? Pura lã uruguaia”, “Um xadrez precisa encaixar assim!”. Uma vez fui levada ao sótão da casa, onde deparei com um acervo incrível, muitas roupas, revistas, fotografias. Um verdadeiro tesouro. Terminei o período de aprendizagem, segui estudando, comecei a dar aula. Em 2009, na França, visitei o atelier Lesage, responsável pelos bordados de Chanel, Dior e de todos os demais da alta-costura francesa. Lembrei do Rui, das costureiras de jaleco branco, da dona Luiza muito séria, porém, feliz em “fazer coisas bonitas”. De volta ao Brasil, decidi retornar ao Rui. Mergulhei na história do primeiro brasileiro a estudar moda em Paris, o que projetou a moda do Rio Grande do Sul nacionalmente, casado com a sua assistente, que se tornou sua companheira de vida, a Dóris, mulher forte, cabeça sempre à frente do tempo. Vestiu misses, primeiras-damas, fundiu a sua história com a história da cidade, fala de moda na TV, no rádio, desenha para o jornal: “O Rui disse”, “Rui é Rui”. 124 |

O tempo passa. E, apesar da mente inquieta, da sensibilidade extrema, Rui é um senhor que nasceu em 1929. E trabalha com moda há 60 anos. 60 anos! Que marca, que profissional consegue ter uma carreira tão longeva no Brasil, com todas as suas turbulências? Não é só talento com lápis, papel, agulha, tesoura e números: é amor também. Amor pelo belo, pela emoção do desfile, a ansiedade da escolha dos tecidos, das cores, o corpo feminino, a roupa bem feita. Há pouco tempo, dona Dóris me chamou e contou sobre a mudança da casa, a necessidade de se pensar numa sucessão que levasse à continuidade desta vida dedicada à moda. O casarão da Miguel Tostes foi demolido. Rui havia se instalado ali na década de 1970. Recentemente havia sido pintado, detalhes em vermelho, janelas pretas: “Preto, branco e um pouquinho de cor...”, conforme ele próprio. Houve o desejo de registrar os últimos momentos da casa, com roupas do acervo de diferentes épocas. Guardar não apenas na memória esse espaço que já não existe.


| 125


126 |


| 127


128 |


| 129


130 |


fotos e tratamento de imagens : ricardo lage assistente de fotografia : raphael plastina produção de estilo : renata fratton assistente de estilo : lolla monasterio beauty : abraao kennedy modelo : nicole werlang /lov agradecimentos : marcelo bragagnolo /lov

| 131


-x-x

RUY CARLOS OSTERMANN cercado do carinho da filha CRISTIANE OSTERMANN e a mulher, NILSE WINK OSTERMANN

bรก

Turma animada: SIMONE SIMON, MARCOS MAFFEI, NEKA CARVALHO e PAULO GUERRA

por Mariana Bertolucci fotos michael paz frantzeski

KARINA LEGENDRE e BETO DALMOLIN


DANIELA CECCHINI e FABIANA ROSÁRIO

| 133

| 133


SERGINHO MAX e LAURA MEDINA

JULIANA DAVIS e CARMO FARIA JR.

OTÁVIO e ALEXANDRA BEYLOUNI

DODA BEDIN e MARCELO BACCHIN

Mais de 160 anos de bom jornalismo: RUY CARLOS OSTERMANN e FERNANDO ERNESTO CORRêA

JULIANA, JEFFERSON e TATIANA FURSTENAU com o pequeno DAVI FÜRSTENAU STAMPE


MICHAELA ESTRELA, sempre astral

| 135


GIOVANA PERNA ARAUJO e ANDREA PERNA

IVAN ANDRADE e HEITOR BERGAMINI

BETINHA SCHULTZ, BRUNA LAMP e JANICE TROIS

FLAVINHA MELLO e FERNANDA SICA

MARTHA BECKER e ROBERTA COLTRO

RENATA BUSNELLO

LAURA BIER MOREIRA


FRANCINE CAMARGO

| 137


Vitรณrio Gheno artista plรกtico

foto nรกdia raupp meucci

pandorgando...

138 |


Tonico Alvares

atelier de retratos e fotografia autoral

tonico.alvares@uol.com.br (51) 9116-5686 (51) 3907-5886 rua barao de santo angelo, 299 - poa, rs



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.