Revista Bá #21

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MARIANA BERTOLUCCI

M A R /A B R 2017 #21 R$ 10

TÂNIA CARVALHO A diva maior da televisão gaúcha fala da carreira, da família e do novo momento de sua intensa vida

FABIANA FAGUNDES Arquitetura do Pampa

FERNANDO ERNESTO CORRÊA Será que o luto morreu?

LIANE NEVES E RANIERI RIZZA Leonardo Machado: personagem viajante



coliseu.com.br

L A N Ç A M E N T O N A T U R A L W I N T E R


52 OutBรก

72

De Nova York

78

Ranieri Maia Rizza e Liane Neves


56

Bá, que viagem

42

Objetos e desejos

88 Moda

34

Bá, que delícia

68

Trama


Segue o baile Direção

Mariana Bertolucci marianaabertolucci@gmail.com Editora

Mariana Bertolucci Editor de arte

Auracebio Pereira Revisão

Daniela Damaris Neu Comercial

Cláudia Sacramento claudiasacramentor@gmail.com (51) 9 9966-8740 Denise Dias denisebcdias@gmail.com (51) 99368.4664 Fabiana Spengler fabianaspengler8@gmail.com (51) 99399-4505 Editora do site da Bá

www.revistaba.com.br Letícia Heinzelmann leca_he@hotmail.com Marketing e redes sociais

Astral Marketing julia@astralmarketing.com.br Colunistas

Ana Mariano André Ghem Anelise Zanoni Angélica Kalil Aline Viezzer Carlos Mânica Claudia Tajes Cristiane Cavalcante Buntin Cristie Merlin Boff Fabiana Fagundes Fernando Ernesto Corrêa Flávio Mansur Heloisa Medeiros Henrique Steyer Ivan Mattos Jaqueline Pegoraro Julia Laks e Vitória Satt Liane Neves e Ranieri Rizza Ligia Nery Livia Chaves Barcellos Milena Fischer Paulo Gasparotto Regina Lunkes Dihel Veronica Bender Vitor Raskin Vitório Gheno Ilustração

Graziela Andreazza a revista bá não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos assinados. elas são de responsabilidade de seus autores. todos os direitos reservados.

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Parece que foi ontem que eu comemorava eufórica o início desta aventura linda que se chama Revista Bá. Ao lado de um time de colunistas muito especial e com o apoio de #marcasqueamamos, como Icatu, Império Persa, Kia Sun Motors, Lenita Ruschel, Panvel e Paula Vianna, que acreditam no meu jornalismo há muitas e boas edições, cá estamos mais uma vez. Sempre atentos ao movimento. Aglomerando sonhos, contando histórias, vislumbrando mudanças e acreditando no poder de transformação que só nós temos. Levando até você, querido leitor, histórias que inspiram. Nesta edição festiva, lidera o quórum de #pessoasqueamamos a diva da televisão gaúcha Tânia Carvalho. O ator Leonardo Machado também enfeita a Bá e conta seus próximos e vários projetos para uma dupla e tanto que a partir de agora está conosco: o jornalista e cinéfilo Ranieri Rizza e a talentosa fotógrafa Liane Neves. Ainda estreiam na Bá 21 as minhas amigas e jornalistas Anelise Zanoni e Milena Fischer. Ane é mãe do lindo Noah e faz sua primeira coluna na Bá ao mesmo tempo em que lança seu site Travelterapia (www.travelterapia. com.br), que compartilha roteiros e dicas preciosas de viagens. Mil divide conosco seu denso, amoroso e cúmplice olhar materno para a bela Manuela, que está ficando uma mocinha. E falando em mocinha, por aqui segue o baile brindando à maioridade desta publicação, que chega à sua vigésima primeira edição independente, atrevida e cheia de amor para dar. Obrigada. Boa leitura! Mariana Bertolucci foto da capa: tonico alvares


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Capa

histรณria Ivan Mattos e Mariana Bertolucci

fotos tonico alvares e arquivo pessoal

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Capa

Ivan Mattos Quando eu e Mariana Bertolucci fomos à casa de Tânia Carvalho para entrevistá-la, encontramos a jornalista toda de branco, com colares, brincos e pulseiras, cabelos arrumados no alto da cabeça, maquiada e preparada para aquele encontro. Circulando, discretamente à nossa volta, Felicíssimo Medeiros dos Santos, o Felicinho, seu marido há mais de 35 anos, que nos recebeu com sua simpatia habitual, deixando-nos à vontade com ela. É mais ou menos como nos acostumamos a vê-lo: ao seu lado, presente, discreto, um companheiro inseparável. Ela nos conta que sempre foi assim, desde que se conheceram, em 1975, através de uma amiga em comum – embora ela já soubesse da existência dele e, digamos, espichasse um olho para o médico boa-pinta, que recebeu da amiga Maria Bethânia o codinome de “príncipe”. Aliás, Tânia Carvalho dos Santos nunca andou só, sempre andou em boa companhia. Em Bagé, cidade onde nasceu, vivia na casa da mãe, cercada por muitas tias e a avó, uma verdadeira Casa de Bernarda Alba, como se refere ao núcleo familiar composto exclusivamente por mulheres

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que se formou ao seu redor desde que os pais se separaram, quando ela tinha nove meses. Depois, ao longo da vida, esteve sempre cercada de pessoas ligadas à cultura e às artes. Na televisão, entrou meio por acaso, após conceder uma entrevista para a jornalista Célia Ribeiro, que percebeu o feeling da amiga para as câmeras. Primeira apresentadora do Jornal do Almoço, da TV Gaúcha, hoje RBSTV, Tânia esteve ligada a toda novidade que surgia. Trabalhou na Editora Abril, no Yázigi, na Galeria Esphera, fez rádio, publicidade, cinema e atuou no teatro. Canta tão bem, que foi convidada por Luciano Alabarse para estrelar um show ao lado de Adriana Calcanhotto e Annie Perec, chamado Sei que Estou Errada. Mas ela estava certa. Tinha boa voz, sabia cantar e, principalmente, tocar maracas. Leitora voraz, ouvinte de rádio desde menina, cinéfila de carteirinha, Tânia nasceu para ser o que sempre foi. Uma comunicadora. Ausente da televisão desde 2012, ela ainda é parada na rua por pessoas que dizem: “Não perco teu programa”. Ou seja, mesmo aposentada da televisão, ela esteve tão presente no veículo, que é como se nunca tivesse se afastado dele. Ela continua no ar.


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Capa

IM – A tua família de muitas mulheres em Bagé foi o teu primeiro público? O que tu fazias para elas? Tânia Carvalho – Eu dançava, fazia ballet, cantava, era o show depois do jantar. Sempre gostei muito de me fantasiar, ganhava o primeiro lugar nos concursos. Eu tinha sempre a fantasia rica, toda bordada pelas tias, primeiro lugar em luxo. Se eu tivesse nascido homem, certamente seria gay. Era muita fantasia. Eu ouvia muito rádio, que ficava perto do telefone na minha casa. Tu vês, os meios de comunicação. Mas eu queria mesmo era ser aeromoça. Queria viajar muito. Lembro que quando vim de Bagé, de avião, eu usava um chapéu de feltro com uma fita que voava... e um casaquinho de pele de coelho. Eu achei uma maravilha a locução delas (das aeromoças) e ficava ao telefone imitando aquela voz: “Senhores passageiros, sejam muito bem-vindos a bordo” (risos). Eu achava muito chique aquilo tudo. IM – Quais foram teus primeiros interesses quando chegaste a Porto Alegre? Quando vim para Porto Alegre, fui estudar no Bom Conselho, comecei a adorar fotografia, a gostar de ver a minha foto no jornal. Quem não gosta? Eu adorava. Eu tinha uma vontade de fazer alguma coisa que me destacasse. Através do grupo de amigas do Bom Conselho, passei a me relacionar com as pessoas que já eram artistas, que me fascinavam. Morando na Rua Fernandes Vieira, conheci o Moacyr Scliar, a turma dos intelectuais. Depois tive que ir trabalhar, porque o meu padrasto morreu e eu parei 12 |

de estudar. Eu tinha feito o Clássico, estava pronta para fazer uma faculdade. Mas aí, com 19 anos, conheço um ator, o Geraldo Del Rey, que estava fazendo a peça A Ratoeira aqui no Theatro São Pedro. Então eu ficava cantando no violão, em rodas de artistas na casa da Maria Helena Martins ou do Luis Carlos Lisboa, que reuniam artistas e gente de teatro. Ele (Geraldo) era um galã do Cinema Novo, e eu era uma menina, 13 anos mais moça do que ele. Era como se hoje eu me casasse com o Gianecchini. Era um homem encantador. Só que todas as mulheres o achavam um homem encantador também.


E eu não conseguia segurar isso. Nós nos casamos em 1963, na Igreja da Conceição, com todas as câmeras da TV Piratini. Foi um acontecimento na cidade. Até o momento de ele chegar, as minhas amigas diziam: “Tânia, eu acho que ele não vem”. Fazia seis meses que a gente não se via. Eu me casei virgem. Não ficava bem a gente transar antes. Olha que espanto. MB – E vocês ficaram morando em Porto Alegre? Não, eu pedi demissão do Yágizi e me mudei para São Paulo com ele. O Geraldo recém tinha feito Deus e o Diabo na Terra do Sol, do Glauber Rocha, por isso os seis meses de ausência. E, logo que chegamos a São Paulo, ele foi para o Festival de Cannes, e aí fiquei três meses sem saber o que fazer. Sem querer dizer para a minha mãe. Mas eu tinha grandes amigos. Eu trabalhava de dia como secretária de uma empresa e à noite ia para o Teatro Oficina, do Zé Celso Martinez Corrêa, bater à máquina e copiar no mimeógrafo os textos das peças de teatro. Então eu ficava ouvindo Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, sendo apresentado e datilografando Pena que Ela Seja uma Puta, do John Ford. Tanto que um dia a Etty Fraser ficou doente e eu disse: “Olha, eu posso substituir, eu sei todas as falas...”. Mas não, claro, eu não me sentia capaz. Mas adorava estar ali, no meio daquelas pessoas, daquela gente maravilhosa. Zé Celso, Ittala Nandi, Dina Sfat, Paulo José, que era meu grande amigo. Eu não só fui apresentada como fui recebida por eles. Eles me acolheram. IM – E estando ali, naquele meio artís-

tico, não sentiste vontade de ser atriz? Sim, eu fiz uma peça infantil no Teatro Oficina, A História da Família Limoeiro, escrita pelo Renato Borghi, o Zé Celso, a Ittala, cada um dava um palpite, escrevia um pedaço. Mas, como eu já estava grávida do Fabiano, eu fazia o menino gordo, e como era a época da ditadura, a gente não podia falar muita coisa, então era uma família de fantasmas. Era a forma de driblar a censura. | 13


MB – E aí tu te encantaste por fazer outras experiências? Me encantei, mas eu não queria fazer teatro, repetir todos os dias a mesma coisa, eu achei uma coisa muito chata. Tenho o maior respeito por ator de teatro. É diferente do jornalismo, da TV, onde cada dia é uma entrevista, pessoas diferentes. Outro pique. Aí o Geraldo voltou, e como ele iria fazer um filme com o Costa-Gavras, nós fomos para Portugal. Nós ficamos um ano e meio morando em Portugal e viajando pela Europa. (Neste ponto, as duas falam juntas, sobre viagens, filhos, mil assuntos correlatos, experiências, e eu percebo como é difícil controlar duas mulheres juntas falando coisas interessantes e ter de manter o foco da entrevista, interromper, mas vamos lá.) IM – Como é que tu te sentias nesta época? Ah, eu me sentia um pouco estrela também. Eu lembro que embarquei para Lisboa com um tailleur roxo com um decote profundo, um salto alto, agulha, enorme, com uma bolsa, um chapeuzinho. Olha que chique. Neste ínterim, eu já trabalhava na Editora Abril, na Revista Manequim, fazia produção para a Claudia, Capricho, e sugeria os meus amigos para as pautas, a Dina, o Geraldo, eu aproveitava os meus amigos. Tem uma história da Dina Sfat que acho que nunca contei. A Dina foi muito minha amiga, e ela trouxe dos EUA a pílula anticoncepcional, que já estavam usando por lá. Mas aqui as pessoas diziam que a pílula era para acabar com as mulheres na América Latina. Então, como ela não queria engravidar em função do trabalho, eu levava as pílulas dela pra casa e todos os dias ia ao Teatro de Are14 |

na, à noite, antes do espetáculo, e passava assim, que nem uma droga, a pílula para ela. Depois, como eu não dei mais a pílula pra ela, ela engravidou (risos). IM – Pegaste o auge do rigor da ditadura, não foi? Claro, e a classe artística era muito visada. E eu ali, no meio deles. Uma coisa engraçada que aconteceu na época, quando terminou a temporada dos Pequenos Burgueses, de Gorki: o Renato Borghi, o Fernando Peixoto e o Zé Celso ficaram um tempo na nossa casa, que era a menos visada. Bem, eles usavam barbas longas, e resolveram cortar as barbas, e daí não sabíamos o que fazer com elas... Era perigoso jogar no lixo, simplesmente. A polícia, procurando comunistas, remexia os lixos. Botei as barbas numa sacola de papel, tipo de súper, e saí caminhando por Sampa. Lá pelos jardins, achei uma casa bem linda com um lixo maravilhoso. Depositei ali as barbas dos amigos e voltei pra casa. Tinha toda uma paranoia em torno de resíduos, livros, filmes, papos. IM – Quem mais tu conheceste nessa época? Nós fomos à rodoviária buscar o Gil e o Caetano, vindos da Bahia, vieram de ônibus. Eles eram todos amigos lá do teatro da Bahia, do cinema, e o Geraldo era da turma, o Glauber. A Bethânia tinha paixão pelo Geraldo, até hoje ela revira os olhos quando fala dele. Nós tínhamos um Galaxy branco e, quando a Bethânia estava em São Paulo, uma vez nós subimos a Brigadeiro Luis Antônio de ré. Era uma farra, fazíamos corridas de Galaxy...


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MB – Isso tudo antes de Portugal? Não, na volta. MB – Quantos anos de casamento, Tânia? Sete anos, todo o tempo morando em São Paulo e uma temporada em Lisboa. Eu convivi com muita gente interessante na Editora Abril, amava trabalhar lá, convivendo com os maiores jornalistas do Brasil, Tomás Souto Corrêa, me comove até, nem me lembro de todo mundo. Aí que foi a minha faculdade de jornalismo. Eu aprendi aí, fazendo produção de fotografia no Rio de Janeiro com a Bethânia, fui aprendendo. Essas pessoas eram minhas amigas. Tanto que, quando chegavam aqui em Porto Alegre, diziam: “Eu quero fazer entrevista com a Tânia Carvalho”. Eva Wilma, John Herbert, Raul Cortez. Uma vez o Raul Cortez fez recreação em um aniversário do Fabiano aqui, com todos os atores da peça com que ele estava em Porto Alegre. No Bere & Ballare. Era uma coisa muito generosa deles. Me pagavam pizza no Gigetto (reduto da classe artística em São Paulo). Com o Walmor, a Cacilda. 16 |


Todos. Os Mutantes eu conheci na casa deles. A Glória e o Tarcísio. Eram pessoas que eram muito amigas minhas. A Rosamaria Murtinho... Uma vez, nós íamos fazer um arroz com galinha, depois do espetáculo deles, e não tinha arroz. Nós saímos no Fusca dela e ela botou o pacote no colo, daí o pacote arrebentou, esparramando todo o arroz..., e ela deu um grito e bateu o carro. (Mudando de tom) Eu não gosto de falar do passado. Cada vez que eu tenho que dar uma entrevista, eu penso: “Ah, eu tenho que contar toda a minha vida... nãoooo...” (risos). MB – Tu que decidiste terminar o casamento? Sim, eu não segurei aquele assédio todo com o Geraldo. Eu vim a Porto Alegre para passar férias, pedi demissão da Editora Abril e vim passar o Natal aqui e resolvi ficar. O Nazareth, que era um costureiro maravilhoso, me convidou para ser assessora dele, então eu comecei a fazer fichário das clientes dele. Todas as senhoras da sociedade são minhas amigas porque costuravam com o Nazareth. Daí abriu a Esphera, galeria de arte, e fui trabalhar lá. Como eu fiquei morando na casa da minha mãe, juntei dinheiro e fui para a Europa com uns amigos de São Paulo, para Londres, Amsterdã. Um mês. Foi quando eu voltei e dei uma entrevista para a Célia Ribeiro – a gente dava entrevista para a televisão quando voltava da Europa. Eu era mutante também, ia em tudo que era museu, conhecia muita arte. Aí mudei o meu foco. MB – E como vocês se conheceram, tu e o Felício? Chegou uma hora em que cansei, | 17


queria ter a minha família, a minha casa, ficar aqui em Porto Alegre. Isso era 1975. Quando conheci o Felício, me apaixonei. Eu já o conhecia, ele tinha sido namorado de umas amigas minhas, e a gente começou a se ver com frequência. Eu estava solteira, e aí um dia a Cidinha Campos veio a Porto Alegre e nós saímos para jantar. Nós nos apaixonamos. Em 1975, começamos a namorar, e só fomos nos casar em 1981. Namoramos loucamente, ele morava aqui do lado, neste edifício ao lado da nossa casa hoje, e resolvemos nos casar e ter um filho, porque ele não tinha filhos. Aí nasceu o Diogo. Coisa mais adorada, mais amada do mundo. E aí víamos pela janela do edifício este terreno, ao lado, que era um buraco, e decidimos fazer a casa. Nós construímos a casa juntos.

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MB – Ele é muito complementar teu, né, Tânia, ele é médico? É, e eu acho ótimo ele não ser do meio. Ele é muito calminho, nós nos encantamos um pelo outro, para fazer uma vida de família. Nós dois somos Capricórnio. Eu de 25 de dezembro e ele de 13 de janeiro. Uma coisa linda é que ele me pediu em casamento, eu e o Fabiano. Ele é apaixonado pelo Fabiano, e o Fabiano por ele. Ele foi o pai do Fabiano. IM – Ele te deu uma tranquilidade... É, é sim. Ele é um sonho de criatura. Um parceiro e tanto. Quando eu fazia o Guaíba Feminina ao vivo, ele ficava com o Diogo recém-nascido em casa. Resolvia almoço, levava para a creche, essas coisas. Até hoje é ele quem faz o supermercado aqui em casa.


IM – O Guaíba Feminina foi um marco na história da TV local. Ele reuniu cinco mulheres completamente distintas em um programa diário, um Saia Justa dos anos 1980. Como era fazer aquele programa? Era maravilhoso, era na TV2 Guaíba, dirigido pelo Sérgio Reis. Antecedeu o TV Mulher, da Rede Globo. Foi bolado pelo Sérgio Reis. Éramos eu, Liliana Reid, Marina Conter, Aninha Comas e a Magda Beatriz. A Aninha cozinhava, com os cabelos lindos, soltos, palpitando sobre todos os assuntos. A Magda era a séria. A Marina fazia aquelas entrevistas de senhoras e eu era um pouco âncora, mas todas eram âncoras. Nós nos divertíamos muito fazendo aquele programa. IM – É impressão minha ou toda vez que pensavam em um programa novo tu esta-

vas na lista dos apresentadores? Verdade. Eu estive no primeiro Jornal do Almoço, no Portovisão, no Guaíba Feminina, na TVE, no Câmera Dois e depois na TVCOM, no Falando Abertamente e no Café TVCOM. Eu e o Tatata (Pimentel) formamos uma dupla incrível. Depois da TVCOM, eu não podia fazer mais nada. Aquilo foi o máximo, o ápice. Com o fim da TVCOM, acabou uma era de apresentadores de TV, o Lasier, o Lauro Quadros, o Tatata, Cláudia Nocchi. Acabou. IM – Na tua passagem pela TVE, tu tiveste um problema com a secretária de Educação da época. Aquilo foi um tipo de censura? Foi, ela queria que eu fosse do partido dela, e eu não queria ser de partido nenhum, até porque não pega bem, porque eu quero ser independente.

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MB – Até porque ser de partido é uma fria, né? Que partido? Existe algum partido? Existem interesses. Mas partido, não. IM – Pelas minhas contas, são 45 anos de trabalho. E tu continuas no rádio? Sim, continuo na Rádio Gaúcha, faço meus comentários sobre livros que eu leio e só indico o que eu leio e do que eu gosto. Às vezes, leio, odeio e tenho que pegar outro correndo para ler, porque daquele eu não gostei e não vou indicar. Eu leio dois, três livros por semana. E no rádio eu faço de casa, de camisola, pijama, adoro. Fico aflita quando não consigo dizer alguma coisa. MB – O que mais te somou em termos de aprendizado nestes anos todos de profissão? A Editora Abril me somou muito, ter viajado somou à beça na minha vida. Ter trocado de emissora, de TV, entender a cabeça

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dos padres da Difusora, e depois do pessoal da TV2 Guaíba, porque cada um era uma mentalidade diferente. Depois a RBS, quando voltei para a TVCOM. Me deu um prazer enorme ter voltado para lá, a ponto de não querer fazer mais nada de TV depois. Agora eu me manifesto na internet, no site do Ivan (Mattos). No primeiro ano depois que eu saí da TVCOM, fiquei muito mal. Eu ia para o cinema e ficava com uma vergonha de as pessoas estarem me vendo no cinema às quatro da tarde... IM – É que tu sentias que ainda tinhas muito para dar... E de repente eu estava vagabundeando... MB – Abstinência, Tânia. Na verdade, é aquilo que fizeste a vida inteira, com tanto amor. Mas agora não dá para fazer mais nada em televisão. Eu não tenho mais TV


para ir. Quando a direção (da TVCOM) me chamou para conversar, encontrei o Tatata e ele me disse: “Carvalho, tem alguma coisa muito estranha acontecendo. Te chamaram?”. Eu disse: “Chamaram”. “Eu também”, ele disse. Eu falei: “Ah, eu acho, Tatata, que vão me chamar para me dar uma promoção. Te juro por Deus. Para ser coordenadora de alguma coisa, mas eu não vou aceitar” (risos)... MB – Tu terias este dom de gestão? Claro que nãoooo! Eu falei: “Eu não vou querer, porque eu estou trabalhando agora só uma vez por semana”. Eu fazia o Café TVCOM e o Gurias de Quinta. Alguém de lá odiou o Gurias de Quinta. MB – E dá muito trabalho... Tu teres que te montar, feito uma drag, tu pintas o olho, arrumas o cabelo, te vestes toda... Enfim, eu achei que estavam me dando um upgrade... Quando me demitiram, eu disse: “Eu não acredito. Tu tens coragem de me demitir?” (risos). Falei para o Geraldo Corrêa... E o Tatata a mesma coisa. Ele passou muito mal, ele morreu de mágoa... Eu tenho a minha família, o meu marido, os meus filhos, meus netos... MB – O Tatata era mais solitário... Ele já não tinha mais a universidade... Um cara que formou gerações. TC – Ele era o meu Google... Tudo eu perguntava pro Tatata. Ele não tinha nada que ter morrido. (Neste ponto da entrevista, ela nos con| 21


vida para mostrar um pouco da sua história através da galeria de fotos que ocupa as paredes na parte íntima da casa. No caminho, obras de Iberê Camargo, Lou Borghetti, Elton Manganelli, um retrato dela feito por Darcy Penteado, quadros de Juarez Machado, Soriano, Nelson Jungbluth, Baril, Magliani, Glauco Rodrigues, Siron Franco, Volpi, Fuhro. Pelas paredes, fotos do casamento deles em Gramado, do casamento do Fabiano, do Diogo, da mãe, Maria Carvalho, dos netos, dos inúmeros amigos, Ibrahim Sued, Tatata Pimentel, dos programas de televisão, fantasiada de espanhola em festas temáticas, Eduardo Conill, Chacrinha – ela foi entrevistada quando esteve no programa dele. Em suas muitas viagens, como candidata ao Glamour Girl, entrevistando Fernando Collor, no Câmera 2, Festival de Gramado, ela na Disney, com Raul Cortez, Xico Stockinger, Nara Leão, Paulo Gracindo, Adriana Calcanhotto, Paulo Gasparotto, recortes de jornal enquadrados, fotos do Grillo, com os cachorros, Doroty e Boni.) MB – Tu tens saudade de alguma coisa, Tânia?? Chôrro (apelido carinhoso do Felicinho), do que eu tenho saudade, me ajuda... Eu tenho saudade dos meus filhos pequenos. Agora estou matando a saudade com os netos. Essa coisa de conviver com infância, com bebê, eu gosto muito, então a Marina, o Bernardo e o Francisco são três amores nossos. Pura paixão. (Neste ponto do tour, Felicinho nos acompanha e diz: “Aquela paixão que tu tinhas por mim... Disso é que tu tens saudade” (risos). 22 |

TC – E transformou-se em amor eterno... (risos). MB – E as crianças ficam aqui com vocês? Ficam, o Francisco ainda não, mas a Marina e o Bernardo ficam. Eu monto uma cama enorme pra eles dormirem aqui, adoram ficar aqui. É uma farra.


MB – Ao longo desses anos, teve alguém que tu querias muito entrevistar, mas acabou não rolando? Não, não, eu entrevistei muita gente, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Gloria Menezes, Tarcísio Meira... IM – Tu sempre circulaste entre todos os grupos sociais, inclusive entre a alta sociedade gaúcha que ainda existia. Como era o teu comportamento, mudava alguma coisa? Eu sempre fui a mesma pessoa, nunca mudei nada, só me imito às vezes, fico me imitando no passado. Mas não. E eu era chamada para tudo, daí num determinado momento pensei assim: “Será que eu sou recreacionista dessa gente?”. Eu era sempre bem-humorada, bom astral, nunca fui chata, eu era a alegria da torcida. Então eu sempre organizava uma coisa, fazia uma

fantasia, vamos jogar alguma coisa, daí eu enchi, não quis mais ser recreacionista (risos). E me enchi o meu saco. Desde sempre eu organizava a função. MB – Agregadora. E quando foi que tu viraste o fio da mágoa de ter saído da TV, que tu foste te abastecendo de outras coisas profissionalmente? Foi quando começaram a me convidar para ir a outros programas. Nem morta. Deus me livre. Só para dar audiência? Bem capaz. Daí eu percebi que tinha sido um ciclo que tinha terminado. E aí foi a paz no meu coração. Aí comecei a me envolver com internet, comecei a fazer coisas, a me dedicar realmente à leitura, principalmente depois do que a Lu Villela, da Bamboletras, me disse, quando eu fui indicar um livro. Ela disse: “Tu leste? Não. Então não dá, tu tens que ler”. Daí eu entendi

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a importância do “confesso que vivi”. De ter vivido aquele livro. MB – Tem algum lugar onde tu gostarias de morar que não fosse Porto Alegre? Eu gostaria de morar em Lisboa. Eu gostei muito de Portugal, eu amo Portugal. Tenho muitos amigos lá, e no Porto a gente tem a Paula Macedo, neta da Helena Beatriz, que mora no Porto. O marido dela e ela são nossos amigos queridos. Cada vez que a gente vai, se encontra com eles. Eu amo viajar... Quando fui para o Japão, por aquela rota que ia lá pelo Polo, eu me deitei no corredor de tão cansada. Eram vinte horas de voo, todo mundo se deitou no chão, e a aeromoça pisava na gente pra fazer massagem... Mas eu não me canso. MB – Conhecendo tanta gente, de tantas esferas sociais, o que é que te incomoda mais no ser humano? A falta de educação. Nem é caráter, que caráter não pega na hora, mas falta de educação é horrível, mau tratamento, aquelas pessoas que tratam mal gente mais simples, isso é uma coisa que me deixa doente. Fico louca. Nós, o Tatata e eu, quando a gente chegava na TV, o pessoal do pátio gritava pra gente: “Tâniaaaa Carvalhooooo, Tatataaaaa...” (abrindo os braços e imitando as vozes). E era uma festa. Outro dia, eu tive que ir lá no banco e um deles gritou: “Eu não acredito, a nossa rainha!” (risos). IM – Um ícone voltando ao seu local de trabalho. As pessoas têm uma adoração, isso faz parte da tua vida. Faz, faz parte. Ainda hoje, quatro ou cinco anos depois que 24 |


eu saí da TV, as senhoras me encontram aqui no Moinhos Shopping e dizem: “Te vejo sempre na TV!”. Isso é amor. IM – É que já virou inconsciente coletivo, não importa se tu estás lá ou não, elas se habituaram com a tua presença. Continuam te enxergando. Tem gente que me encontra e diz: “Tu fazes muita falta... Eu tenho muita saudade de ti. Tu vais voltar?”. Eu digo: “Não, eu não vou voltar, nunca mais”. Digo porque eu tenho certeza. Juro pelos meus filhos, realmente foi um ciclo que se encerrou. Deu. Sabe que eu ainda brinquei: “Que pena que vocês vão me demitir justo agora, porque eu vou fazer 70 anos, 40 de televisão, seria uma boa hora para vocês me darem um troféu...” (risos). Eu fui muito feliz na televisão. No último dia em que o Tatata e eu apresentamos o Café TVCOM, ele me disse: “Carvalho, nós encerramos aqui um ciclo da televisão”. Está gravado lá. MB – Tu lembras de alguma gafe no ar? Eu sempre tirei as gafes de letra. Quando eu errava, eu reconhecia. Já disse “porra” no ar e remendei dizendo “vírgula”, e segui. Uma das coisas que eu sabia fazer era improvisar no ar. Outra coisa, vamos combinar a entrevista, que combinar o quê, não existe isso. O que é que tu vais me perguntar? Pode parar. IM – E um segredo, para um jornalista que está começando, em meio a esta crise tão grande. O que tu dirias? Tem que ter algum talento, paixão, um norte, curiosidade. Se tu não tens temperamento, não dá. E tu saberes quem é quem, quem escreveu o

quê. Por exemplo, eu passava a Feira do Livro inteira dentro da feira. Às vezes, eu passava a noite lendo um livro porque no outro dia eu ia entrevistar um cara que eu ainda não tinha lido o livro. MB – Tu chegaste a sentir algum tipo de preconceito por seres mulher? Não, não. Jamais. Never. Quando eu cheguei a Porto Alegre, em 1970, divorciada, as minhas amigas ficaram um pouco estranhadas... Um pouco “contigo en la distância”. Mas eu não queria nada com aqueles maridos delas, Deus me livre. Mas foi muito boa, muito divertida a minha vida, porque eu vivi tudo intensamente. Agora estou vivendo a “avó”, e achando o máximo. Não tenho nenhum arrependimento. Talvez de não ter conhecido mais meu pai, de não ter ido atrás, de ter levado tão a sério a história da família de que não se davam. Depois fiquei sabendo que, no dia do meu casamento, ele esteve na igreja olhando escondido, eu quase enlouqueci com isso. MB – A tua mãe te dava muita força? Para ela, eu era a mulher mais linda do mundo, não tinha outra igual. Uma vez, foi ótimo, ela comprava na Mesbla, e tinha um comercial da Mesbla no ar com uma atriz famosíssima, e ela chegou lá e disse: “Me chama o gerente”. E ela disse que era a última vez que ela estava entrando ali: “Porque vocês fizeram um comercial e não chamaram a Tânia”... Era um comercial nacional... (risos). “Por que vocês chamaram a Maitê Proença? Ela vai comprar aqui na Mesbla?” (risos). Eles tinham que explicar tudo para ela. Uma figura. | 25


IM – E como foi a relação dos teus filhos com a mãe sempre sob os holofotes? Ah, eles sempre levaram numa boa. O Fabiano tirava de letra quando perguntavam: “Ah, tu és o filho da Tânia Carvalho?”. Ele desconversava e dizia: “Nada a ver” (risos). O Diogo também, até hoje, quando eu vou em algum evento dos Destemperados, ele me agradece, diz que tem muito orgulho de ter a mãe aqui... O Fabiano é muito emotivo, qualquer coisa ele chora... Outro dia, ele disse (imitando

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choro): “Mãe, eu encontrei uma senhora e ela disse que tem muita saudade de ti na televisão” (risos). “Ela lembrou daquele comercial da Masson, onde eu dizia: ‘Masson, joalheiros há 104 anos’. E tu corrigias: ‘105, Fabiano!’” (imitando a entonação do comercial antigo) (risos). Já a Marina, uma vez eu fui levá-la na escola, e ela me disse: “Tá, vovó, me deixa aqui”. Eu disse: “Mas, Marina, eu vou te levar até lá dentro”. E ela disse: “Ai, vovó, todo mundo sabe que tu és a Tânia Carvalho, que mico” (risos)...


FOTO: RAUL KREBS - ESTÚDIO MUTANTE


Fernando Ernesto Corrêa jornalista e advogado

Será que o luto morreu? Tenho dito aqui que não sou saudosista, pois “o homem só envelhece quando as memórias do passado são mais fortes do que os sonhos”. Eu sonho muito. Porém, tenho cogitado sobre alguma coisa que está me coçando e que não pode ser abordada sem uma certa nostalgia. É que estamos vivendo num mundo online. Os recursos da informática são infindáveis e seu desenvolvimento é exponencial. Que descoberta! Não há dúvida de que esse fenômeno afasta as pessoas. Ninguém visita ninguém, a não ser em datas marcadas: nascimento, aniversário, Natal e outros poucos eventos menos cotados. Não se conversa mais olho no olho. É tudo pelo celular, pelo WhatsApp e pelas redes sociais. Claro que isso não é novidade, mas o que desejo dizer é que esse formidável e inevitável avanço tecnológico modificou não só o ir e vir das pessoas (que ainda sofrem pela insegurança que nos cerca) como também o seu próprio comportamento. Volto ao passado. Criei-me visitando e sendo visitado por parentes e sabia bastante quem eram e o que faziam. Eram da minha intimidade. Já que não cozinho na primeira fervura, lembrome do fumo na lapela que os homens usavam por, no mínimo, três meses quando falecia algum parente próximo. As mulheres, nem se fala, mantinham 28 |

luto fechado e só vestiam negro caso morresse um filho (a) ou o marido. Algumas não abandonavam o preto nem no seu caixão. Agora, algumas viúvas e viúvos já saem dos enterros de olhos voltados para quem poderá substituir aquele que se foi. Aliás, há pessoas que se acasalaram poucos dias após o falecimento de seu companheiro (a). E nem conheciam a pessoa antes do desaparecimento da parceria. Sei de casos de filhos (as) que adoravam seus genitores, mas que foram se esbaldar em festas antes da missa de 30 dias que outrora era simbólica e sagrada. Outros saem para gozo da vida logo após os atos fúnebres de parentes em primeiro grau. Vale um exemplo que não está longe da realidade. Se você mandar um Whats para sua tia-avó que mora sozinha e como resposta receber um emoji da mão horizontal com o polegar para cima, será o máximo. Tem o significado de um alvará com validade mínima de 15 dias. E quando foi a última vez que você viu e tocou nessa tia? Não se lembra bem, talvez há uns cinco anos... Penso que o comportamento e até mesmo os sentimentos mudaram para pior, ou seja, não têm mais o significado de outrora. Se o WhatsApp, com sua frieza intrínseca, substitui o relacionamento pessoal, por que devemos derramar lágrimas e sofrer


nossas perdas se estas passaram a se constituir em fatos desimportantes? Estou plenamente convencido de que estamos ficando insensíveis e relegando o ser humano a uma simples condição de objeto: servia, tudo bem, não serve mais, troca por outro. Não há dúvida de que estamos presenciando a coisificação das relações humanas. Tristeza e sofrimento, aliás, são muito importantes. Quem imagina passar por aqui numa existência lotada de alegria e felicidade está longe da realidade. A sabedoria é compartilhar todos esses sentimentos aparentemente avessos. Não há como escapar desse somatório. Peço-lhes que

façam um exame de consciência. Sou exagerado? Generalizo? Até pode ser, embora convicto de que o que ora digo reflete a maioria irrefutável das situações modernas. Nesse caso, inclino-me a considerar que a virtude está no meio. Nem me posiciono a favor do exacerbado luto fechado por um ano, nem tampouco concordo com o imediato esquecimento de nossas íntimas perdas. Aliás, precisamos reconhecer que a humanização, com o seu significado civilizatório, é o que nos distingue das demais espécies que habitam o universo. Perdê-la nos reduziria ao nível dos outros animais. Pensem nisso.

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Ana Mariano escritora

Quem esquece, segue adiante Deixe a vida fazer, certamente o fará melhor, me ensinou uma professora de ioga. Em espanhol, como ela me disse, fica mais poético – deja la vida hacer que seguro lo hará mejor –, mas é igualmente verdadeiro em português. Largar-me na corrente, sem remo e sem barco? Nunca pensei. Mas um dia eu resolvi tentar, e não é que funcionou? As coisas foram se acomodando, novas oportunidades surgindo e o ruim ficou para trás. Tudo o que precisei fazer, além de não me afobar, foi ficar atenta e forte. Outro conselho que me dão é esquece, deixa pra lá, tira da cabeça. Sou abençoada por uma péssima memória. Uma parte considerável da minha vida é zona nebulosa que recordo por fotografias. Não é tão ruim quanto parece. Quando invejo (e invejo) os que se lembram de tudo, um conto do escritor argentino Jorge Luis Borges chamado Funes, O Memorioso me serve de consolo. Nesse conto, em razão de uma queda, Funes, o personagem, passa a ter uma memória prodigiosa. É capaz de lembrar a forma de todas as folhas de todas as árvores que viu em sua vida. Sabe dizer a cor e o desenho das nuvens num amanhecer de um ano qualquer e consegue compará-las

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aos veios de um livro encadernado em couro que viu somente uma vez e às linhas da espuma que um remo levantou no rio numa tarde qualquer. Recordar todos os detalhes de tudo o que se viu um dia é algo complicado até de se imaginar. Porque dormir é distrair-se do mundo, Funes só conseguia dormir se virasse o rosto para onde ele sabia terem sido construídas casas que ele nunca vira. Porque nunca as vira, não podia lembrar-se delas e então as imaginava como sombras negras e isso o acalmava. Pensar é esquecer muitas coisas, é abstrair. Funes não conseguia pensar, pois, no abarrotado mundo que era a sua memória, não havia lugar para nada além de uma longa série de detalhes e pormenores. Andam falando sobre a necessidade de se apagar a memória dos computadores para que, no futuro, não fiquemos enterrados sob um mundaréu de informações pouco importantes e até contraditórias. Se isso é verdade quanto a computadores, é muito mais em relação aos homens. Se não esquecermos, não podemos prosseguir. Esquecer é mais do que perdoar. Quem perdoa não esquece a ofensa, apenas tenta ver-se livre do ressentimento. Quem esquece, segue adiante.



Paulo Raymundo Gasparotto jornalista

www.paulogasparotto.com.br

Meu estilo de fidelidade * Conversando com o cineasta Zeca Brito, diálogo rápido de respostas sem tempo para muita elaboração, falei nos curtas-metragens em exibição no Santander Cultural para a exposição Paulo Gasparotto – Certas Pequenas Loucuras... Zeca dirigiu as gravações em que abordei minhas atividades e maneiras diversas de encarar o dia a dia, mencionando meu estilo de fidelidade. Sou fiel à manicure – tive a mesma por quase seis décadas –, dentistas e perfumes, entre outros que não lembrei na ocasião. * Leitor da coluna de Leandro Karnal, no jornal O Estado de S. Paulo, saboreei o recente texto de título “História à Mesa”, com referências ao tão prestigiado estrogonofe, ao coquetel de camarão e ao fondue, que deixaram saudade... mas não são mais solicitados. Mais do que os sabores, que também suscitam minhas boas recordações, os perfumes me fazem lembrar de bons momentos e personagens de várias épocas. * Eugenia de Montijo, a última imperatriz da França, usava preferencialmente perfume de violetas, que não figura entre os solicitados pelo grupo feminino. É dos mais atraentes para colocar nos lençóis e travesseiros, proporcionando sonhar com a suavidade e o carinho feminino. * As elegantes de outras fases escolhiam Bandit, lançado pela perfumista Germaine Cellier, ou Fracas, da mesma criadora. Muguet du Bonheur, de Caron, é outra das essências esquecidas. 32 |

* Não afirmo que Greta Garbo, a incomum diva do século 20, cultivasse este tipo de fidelidade, mas entre suas fragrâncias teve especial fascínio por L’Heure Bleue, perfume da Maison Guerlain. O nome poético recorda o período entre o dia e a noite, quando predomina no céu um azul mais profundo do que o diurno. Os franceses costumam designá-lo como entre chien et loup, expressão, no meu entender, muito instigante, pois pode ser entendida como a “hora quase perigosa”, numa livre interpretação. * Os perfumes da grife Guerlain, em sua maioria, provocam fantasias poéticas. Entre outros, Apres l’Ondee, cujo significado é “depois de uma rápida chuva”, definido como um perfume oriental floral feminino. Jacques Guerlain foi o responsável pela essência, lançada em 1906. Sem esquecer Mitsouko, Shalimar e outros tantos que sumiram dos estabelecimentos especializados pelo mundo, inclusive dos freeshops dos mais variados aeroportos. * Não considero menos atraentes as essências dos criadores contemporâneos, talvez um pouco ácidas e marcantes demais. Entretanto, mantenho o encantamento pelas criações de Guerlain e estou revivendo um sonho de infância com o perfume Arsène Lupin Voyou, lançado em 2010 pela tradicional maison francesa. Fui e ainda sou leitor incansável das aventuras de Arsène Lupin, o ladrão de casaca, personagem criado pelo escritor Maurice Leblanc. Nada mais fascinante do que usar uma fragrância que lembre o personagem sem pudores e de elegância ímpar.


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Bá, que delícia

Perfeita sintonia Até os 16 anos, Cristina Zinelli era uma guria “do Alegrete”, que cuidava da horta e vivia solta pela fazenda dos pais. Tempos em que já comia bem e se interessava pelo universo da beleza. Veio para a Capital estudar Nutrição e, formada, aos 20 anos, foi morar por dois anos em Londres, época em que também trabalhou como modelo. De volta ao Brasil, fez pós-graduação na área de Oncologia e iniciou carreira na Santa Casa, onde, dos 23 aos 28 anos, dedicou-se aos pacientes do SUS: “Era recompensador, mas muito difícil para mim. Não me realizava, a doação era muito grande para os pacientes”. A nutrição funcional logo chamou sua atenção. Segundo Cris, tem a ver com prevenção e com pensar fora da caixa no que diz respeito a alimentação saudável e qualidade de vida. Quanto mais natural for a comida, melhor. O ramo novo, que está despertando o interesse das pessoas com pequenas mudanças e mais qualidade nos alimentos, trabalha com individualidade bioquímica. Cada indivíduo é único, e o nutricionista funcional tem a habilidade de ver o efeito que cada alimento proporciona no corpo do paciente. A reeducação alimentar funcional é sempre anti-inflamatória, melhora a estética e devolve vitalidade e disposição. “A pessoa ganha um corpo mais bonito e, de brinde, uma saúde de ferro”, brinca a profissional. Além das mil e uma dicas na ponta da língua para melhorar a qualidade de vida, Cris é seu mais belo e poderoso cartão de visitas. Ela conta ter sentido os efeitos dos hábitos saudáveis no próprio corpo. Quando carreira e vida pessoal andam de mãos 34 |

dadas e em perfeita sintonia, a nutricionista musa é seguida por 30 mil interessados em seu estilo de vida fitness e saudável. Se escapa da dieta de vez em quando? “Sim, amo doce de figo, de abóbora, esses mais caseiros, da vovó. Mas não é qualquer doce que me tira do foco”. Em breve, ela lança seu site para divulgar ainda mais suas propostas de alimentação. Espia as dicas da Cris:

Inimigo nutricional

Refrigerantes são péssimos. Os diets têm adoçantes e substâncias nocivas. Os normais são carregados de açúcar e aditivos. Não podem estar em nenhum plano alimentar, pois o valor nutricional é nulo.

Glúten

Cerca de 1% da população é intolerante a glúten. Hoje está na moda tirá-lo da dieta, só que as pessoas o substituem por alimentos pobres, como farinha de arroz, polvilho ou refinadas, todas sem nutrientes. O problema está relacionado a ele ser transgênico, para aumentar produtividade e resistência. O organismo não reconhece o trigo geneticamente modificado e o entende como um intruso (alergênico), e o sistema imunológico acorda. Nesse processo, muitas manifestações alérgicas e inflamatórias podem ocorrer, causando diversas doenças.

Crianças

A facilidade dos alimentos prontos resulta em refeições mais gordurosas e açucaradas. Evite bolachas recheadas, salgadinhos de pacote, nuggets, refris, bolos prontos e sucos industrializados de caixinha. O resultado do esforço será notado em todos os


aspectos da vida dos filhos. Facilidade no aprendizado, melhor desenvolvimento do corpo e do sistema imunológico.

Diet e light

adriana franciosi /pixelpress agência

São a maior furada. Pobres em nutrientes. Calorias vazias, cheios de artificialidade, que adoecem de forma silenciosa. Comida de verdade é sempre melhor. Tentar não adoçar e sim sentir o gosto do alimento natural. As melhores opções são stévia, xilitol e até as naturais tâmaras. MB

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Fabiana Fagundes

arquiteta | mude@fabianafagundes.com.br

Projetos Fabiana Fagundes Coletivo Arquitetos

Arquitetura do Pampa Falar sobre o campo, para mim, é mais do que um prazer. É voltar lá aos meus primeiros anos e sentir o cheiro da terra molhada quando se anunciava uma chuva, quase sentir o gosto do leite morno vindo em baldes ou tarros lá dos lados do galpão. Lembrar do sol se pondo no horizonte e se confundindo com a planície. É falar também sobre as noites mais estreladas e claras, quando aprendi a achar as Três Marias e o Cruzeiro do Sul e a esperar a lua cheia no colo do meu pai. Foi lá também, nesse lugar cheio de belezas naturais, que aprendi a enxergar além, a

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fotos renan matheus

reconhecer nossas riquezas, a madeira sentida nos pés, o couro, elemento que equilibra o peso das pedras brutas, e tantas outras. Criar lugares lá requer, sem dúvida, um pouco de poesia e conhecimento. Buscar repertório no próprio terreno é necessidade e objetivo na hora de projetar uma casa no campo. Saber da origem das pessoas que ali vivem, da história das famílias que por ali passaram, entender um pouco do quanto se produz nesse lugar e do envolvimento de tantas pessoas é essencial para que essa casa “converse” com seu entorno e seus moradores.


Nosso objetivo sempre é um só, fazer com que esses lugares pareçam ter nascido ali, pertençam àquelas pessoas e àquele ambiente. Fora isso, a arquitetura contemporânea de casas no campo mudou um pouco seu programa de necessidades no decorrer dos anos. Uma casa no campo hoje precisa ser prática, extremamente integrada. Sala, cozinha, lareira, churrasqueira são itens que conversam entre si, pois as pessoas querem estar juntas, o tempo para conviver hoje é precioso. Uma casa com conforto, que seja fresca no verão e quentinha no inverno, com boa iluminação natural e aberturas bem-posicionadas para aproveitar o vento, que não é pouco por aquelas bandas. Quanto mais sus Projeto Mario Quintana Escritório de Criação

reinaldo alves

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fotos renan matheus

tentabilidade, melhor, pois lá não tem escassez nem de sol, nem chuva, sendo obrigatório o bom uso desses recursos que a natureza nos dá de presente. Uma casa no campo exige uma varanda, pois este é sem dúvida o lugar mais requisitado por seus moradores. Quem está lá quer “olhar para longe”, enxergar o que a cidade nos tirou através da sua urbanização desenfreada. Um fim de tarde na varanda, quando o olho se perde no horizonte, é um colírio para os olhos e um descanso para a alma. Existe hoje, no Rio Grande do Sul, uma infinidade de estâncias centenárias, algumas já catalogadas em belos livros, e estas dispensam comentários devido à beleza e à história que carregam. No entanto, queremos ressaltar que a arquitetura contemporânea de nossos projetos rurais tem conseguido manter a memória viva, mas com a visão ampla de que o hoje tem seus encantos e que, quando bem elaborados, se tornam clássicos, assim como o nosso Pampa Gaúcho.


reinaldo alves

reinaldo alves

Projeto Mario Quintana Escritório de Criação

reinaldo alves

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Angelica Kalil

jornalista e roteirista youtube.com/voceefeministaenaosabe

Somos filhas das bruxas que não conseguiram matar Existe apenas uma mulher retratada entre os 21 filósofos de Escola de Atenas, obra do pintor renascentista Rafael Sanzio (1483-1520): Hipátia de Alexandria. Matemática, astrônoma e filósofa, viveu por volta do ano 400 e era filha de Téon, diretor da Biblioteca de Alexandria. Desde muito cedo, Hipátia mostrou a que veio. Criou instrumentos usados ainda hoje, como o hidrômetro e o astrolábio. Levantou a hipótese de que a Terra não girava ao redor do Sol de forma circular, mas sim elíptica – quando ainda nem se tinha certeza de que a Terra girava ao redor do Sol. Atraía estudantes que vinham de longe em busca do seu conhecimento. Foi uma professora carismática e muito próxima dos alunos. As cartas que trocou com um deles, o filósofo Sinésio de Cirene, fazem parte dos documentos que revelam aos pesquisadores sua genialidade, já que não sobrou nenhuma obra dela para contar história. Outro aluno, Orestes, tornou-se prefeito de Alexandria e aconselhava-se com a mestra antes de tomar decisões políticas importantes. Era muita ousadia para uma mulher que, ainda por cima, recusava qualquer dogma religioso. Acusada de bruxa pelo então bispo Cirilo, hoje considerado santo pela Igreja Católica, foi assassinada por uma multidão enfurecida e seu corpo foi destroçado com conchas, esquartejado e queimado. Voltando ao quadro de Rafael. Encomendado pelo papa Júlio II e pintado entre 1509 e 1511, o afresco mostra figuras 40 |

históricas que moldaram o pensamento da humanidade. Os escritos que eles deixaram sobre as mulheres me aterrorizam: A mulher pode ser definida como um homem inferior – Aristóteles (412-322 a.C.) Há um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem. E um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher – Pitágoras (580-500 a.C.) O homem é a medida de todas as coisas – Protágoras (490-420 a.C.) Oxalá todas as árvores produzissem tais frutos (ao ver uma mulher enforcada em uma árvore) – Diógenes (412-323 a.C.). Como Hipátia foi parar ali ao lado de todos eles? Sua presença foi proibida, claro. Mas Rafael a retratou mesmo assim, sem deixar clara a identidade da figura altiva e com olhar desafiador para sempre presente na parede da instituição responsável por sua morte. O fim trágico dessa grande mulher anunciava um período negro que viria a acontecer cerca de mil anos depois: a caça às bruxas da Idade Média. Ainda não suficientemente estudado, esse genocídio do sexo feminino exterminou mulheres que ameaçavam o poder masculino. Médicas, botânicas, astrônomas, líderes comunitárias queimadas em praça pública, assim como Hipátia de Alexandria. Dizem que somos filhas das bruxas que não conseguiram matar. Mas as que sobreviveram precisaram calar para continuar vivas. Coragem é o que eu desejo a todas nós.


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Objetos e desejos Henrique Steyer arquiteto e designer

Sotaque uruguaio com perfume inglês

Recentemente, descobri um cantinho muito charmoso no Uruguai, mais precisamente na Praia Montoya, caracterizada pelo clima tranquilo de florestas de pinheiros. A proximidade com o mar e centros comerciais de La Barra e Manantiales permite desfrutar o que há de melhor em Punta del Este. Trata-se de um hotel boutique chamado Ordet, nome inspirado no filme homônimo de Carl Dreyer, filmado em 1955. A partir do nome, os proprietários começaram a delinear a inspiração do clima do local, com espaços ecléticos, que vão desde a estética dos antigos armazéns de campo até os clubes de cavalheiros ingleses do século 19. A pequena pousada está aberta desde dezembro de 2016 e tem apenas quatro 42 |

fotos divulgação

quartos. A sensação é de que estamos sendo recebidos na casa de amigos, onde guarda-sóis, cadeiras de praia e bicicletas ficam à disposição de todos. Cada quarto tem uma decoração diferente, incluindo cama com dossel, banheiro com ar retrô e vista para o mar. O café da manhã é servido na varanda, onde os hóspedes podem interagir entre si e com os proprietários. Na trilha sonora, uma caprichada seleção de jazz e blues completa o clima charmoso do local. Aqui é possível compreender o quanto o Uruguai sabe ser sofisticado sem arrogância. Não há ostentação nem frescura exagerada, mas há capricho, bom gosto e carinho, o que nos faz pensar no quanto é fácil ser feliz com pouco. Pouco e bom. Muito bom.


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ping

Simples beleza Rafaela Souza foi uma menina calma, obediente, extrovertida, carinhosa, mas que não gostava de ser contrariada. Apaixonada por música. O primeiro contato com a maquiagem foi pela mãe, que sempre usou máscara de cílios e o inseparável batom vermelho: “Não lembro de vê-la sem batom vermelho. Me chamava a atenção, gostava de ver tutoriais, seguia blogueiras e comecei a me interessar na época em que tinha loja de roupas com a minha mãe”. Foi com a blogueira e maquiadora Alice Salazar que aprendeu o essencial no curso de automaquiagem. A facilidade da aprendiz foi tanta, que Alice a incentivou a investir na carreira. Era o empurrãozinho de que a talentosa jovem precisava: “Alice foi a motivação para eu ser maquiadora. Não queria fazer outra coisa, fiquei obcecada, me maquiava toda hora. Uma amiga conta que ela pensou que eu fosse louca, pois eram 14h e eu tava lá megamaquiada, com glitter, cílios postiços”. Desde então, Rafa dedicou-se a se aperfeiçoar, investiu em produtos profissionais, mergulhou no universo das blogueiras, em cursos, congressos. Foi seduzida pelas cores, brilhos, beleza e alegria: “Vou de cabeça no que acredito! Sou firme mas acredito na bondade das pessoas e gosto de me doar para elas. Me sinto humana, humilde e simples”. Rafinha só comemora o novo trabalho no Mirage Menino Deus, salão especializado em noivas. Aos 25 anos, trocou Passo Fundo pela capital gaúcha e se casou: “Estou em paz, grata e pronta para o que vier, otimista e adorando morar aqui”. MB 44 |


estúdiuo da casa

Um sonho? Ser mãe e conciliar com minha arte. Um ensinamento... Ser otimista e sorrir! Uma vida bem-sucedida é a que obedece a um bom ânimo. Uma palavra de otimismo e um sorriso operam mudanças transformadoras. Defeito e qualidade? Ciumenta até com as amigas e generosa. Uma inspiração? Deus, acima de tudo. A maquiadora Pat McGrath e o cantor Bruce Dickinson são criadores competentes, sem igual. Que tipo de make tens mais prazer em fazer? Todos os trabalhos são prazerosos, mas tenho um amor especial pelas noivas. Recentemente, foi marcante maquiar a jornalista Mauren Motta para o seu casamento. Pequenos prazeres? Ficar em casa, ouvir música, cantar, cuidar das flores, dos cachorros, da casa e do jardim.

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pong

Novos hábitos Observador, curioso, tímido e alegre, o nutricionista André Luiz da Silva lembra da infância solto no sítio dos pais, andando a cavalo, colhendo fruta do pé no mato, ovo no galinheiro, e de gostar de ver a mãe, Ana, cozinhar. Natural de Florianópolis, ele também lembra das brincadeiras simples na praia e da paixão que tinha pelo mar. De temperamento forte, foi na fase de rebeldia da adolescência que se sentiu sem encaixar em nenhum grupo: “Andava com os alternativos, nerds ou sozinho. Sempre fui gordinho e, nessa época, despertei para a nutrição e a saúde com ajuda da minha mãe. Perdi 25 quilos com novos hábitos, experimentando diferentes alimentos, e vi que isso podia ser legal. Não fácil, mas com resultados incríveis”. André acredita que, por ser uma ciência nova, a nutrição está conquistando cada vez mais espaço nas prioridades das pessoas, já que prestar atenção no que comemos está totalmente associado ao nosso desempenho e bem-estar. Sobre o momento atual, o apaixonado profissional conta: “Sou feliz e grato pelo reconhecimento do meu trabalho, pelas palestras em congressos na área de nutrição, os convites para ministrar aulas, entre outros projetos. Adoro disseminar saúde, fazendo o que amo e trocando conhecimento com as pessoas”. MB 46 |


CARLA CABELLO

Quem é André e o que deseja da vida? Um cara persistente, dedicado e de coração bom. Desejo sucesso fazendo o que amo, assinar produtos em um espaço para cursos e degustação de criações gastronômicas saudáveis. Sonhos? Ter uma cozinha maravilhosa, uma casa com vários temperos plantados para colher na hora de cozinhar. Viajar mais, para ter mais cultura e experimentar novos sabores, cheiros e inspirações. Um aprendizado? Com os tropeços da vida, aprendi que temos que confiar em nós, na nossa força e talento, e não esperar que alguém faça isso por nós! O que incluir e o que cortar na lista de alimentos? Incluiria hortaliças preferencialmente orgânicas e vetaria açúcar refinado e seus derivados na forma de xaropes etc. Defeito e qualidade? Oscilação de humor e persistência. O mito do momento é... Que na dieta low carb carboidrato não pode ser consumido e que bacon e embutidos podem ser consumidos à vontade. Arrependimento? Já me arrependi de respostas impulsivas. Onde queres estar e o que queres estar fazendo daqui a 10 anos? Não estou preso em Florianópolis. Quero estar coordenando uma equipe de produção com produtos assinados por mim, viajando para palestrar e lecionar, realizando consultorias, com livros lançados e quem sabe em algum programa na TV ou canal no YouTube bombando de views.

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Claudia Tajes

escritora e publicitária

Uma história em cada esquina O senhor com o pente de plástico no bolso de trás da calça. A moça apressada atravessando a rua no meio dos carros. A mãe com uma criança em cada mão. O rapaz tatuado que escreve uma letra de música no verso do folheto com ofertas de imobiliária – ou seria uma carta? O menino com o uniforme do colégio todo limpinho. A menina com uma mancha de molho no uniforme do colégio. O vendedor de cachorro-quente esperando o fim da aula. Uma bicicleta. Duas bicicletas. Três bicicletas. O motorista impaciente xingando todas as bicicletas do mundo. A loira falsa com o salto que vai trancando nos paralelepípedos. O sorriso com poucos dentes do bebê no carrinho. O adolescente que lê as revistas de mulher pelada da banca de jornal – deve ter ficado sem 4G. Dois irmãos pequenos tentando vender panos de prato. A babá falando no celular. Um bando de guris pedindo um troco. O casal que se beija. O casal que briga. A turma na saída do colégio. O recruta com os olhos vermelhos, quem sabe chorando pelo cabelo recém cortado. A velha senhora com o seu velho cão, um mais cansado que o outro. O mendigo que quer cigarro. Dois rapazes de mãos dadas. Um padre. Um rabino. Duas freiras. E, de repente, alguém incorpora um santo. A família na sorveteria. O carregador da empresa de mudanças. O torcedor diante da TV do bar. As namoradas abraçadas. O pai preocupado com as contas que já vão vencer. O gato que fugiu. A guria chorando atrás do gato que fugiu. O rapaz lendo um livro no ônibus. O som da cama de alguém ar48 |

ranhando o piso no apartamento de cima. O filme repetido pela centésima vez na TV a cabo. A reprise de um jogo em que o seu time perdeu. O som de uma festa entrando sem ser convidado no quarto do bebê que acabou de dormir. Um senhor ficando cada vez menor na UTI do hospital. A professora acordando às cinco para chegar a tempo na escola. O estudante que não sabe sequer uma questão da prova. O menino que carrega um violino. O cachorro que arrasta a dona pela calçada. O sorvete derramado na calçada. Mais uma árvore cortada. O parque vazio depois das seis da tarde. A vaga que sobrou depois que o carro foi roubado. O carteiro que entrega uma encomenda. O funcionário que não recebe o salário. Outra família sendo despejada. Os Ray-Bans falsificados na banca do camelô. A garota demitida. O imigrante que procura trabalho. O guri chorando porque não ganhou um brinquedo. Um show no meio da rua. O argentino que faz malabares ao lado de um menino cor de prata. O moço espremendo laranjas na lancheria. O homem varrendo as folhas na calçada. O sol que desaparece. A senhora fechando a loja no fim do dia. Os carros parados na avenida. O casal na fila do cinema. O pai cansado. A mãe cansada. A criança que não quer deitar. Nossa cidade é uma história para ser contada diferente a cada instante. E, apesar de tantos pesares, é essa a graça de quem nasce aqui continuar gostando dela.



Milena Fischer jornalista

Coragem! A infância terminou Amor é coragens, escreveu João Guimarães Rosa. E são várias as coragens necessárias para estar no mundo como mãe. Coragem para enfrentar o desconhecido, quando o filho é o primeiro, coragem de amar sem poréns, coragem de receber tanto amor irrestrito. De atravessar o escuro das noites de febre alta e desconectar de tudo para receber a luminosidade dos sorrisos generosos. Na infância, que juridicamente vai até os 12 anos incompletos, todas as coragens e amores apontam para nossa urgência de dar norte. De guiar. De formar a tal base para um adulto, ao menos, sólido – ainda que ele vá, muitas vezes, se liquefazer em dúvidas e dores e amores. Não muito tempo atrás, olhei para uma foto da minha filha, Manuela, e registrei: “Só sei amar: o brilho, a honestidade, a coerência, a crença”. A infância da Manu chegou ao fim em setembro do ano passado, e agora percebo que as coragens que esse amor demanda são de outras ordens, mas, curiosamente, semelhantes. É nesse momento que a gente acaba tendo um insight, como aquela história do filme das nossas vidas passando em segundos pela mente. Mesmo a infância chegando ao fim, mesmo com a adolescência apontando, mesmo com os desconfortos que a vida vai trazendo, percebo que ela mantém as individua-

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lidades que na última década foram sendo construídas. Por ela. Com meu olhar, minhas pausas, minhas intenções. Ela segue com seu olhar terno e perspicaz, um princípio de ironia sempre bem colocado, o rosto rosado no fim do dia da escola, a gentileza e a profunda, eu reforço, a profunda capacidade de perceber o outro. E respeitar, mesmo quando a fere. Não sei da minha filha o todo, pois não é minha propriedade (e nem que fosse de mim, quando sabemos nós sequer o que somos?). Mas o que sei e vejo e aprendo me apazigua e conforta. Sem sobressaltos ou estardalhaços. Nesse momento de transição, memórias tão intensas quanto delicadas se tornam um presente para o nosso presente. O meu e o dela. Que bom poder ver um filho alcançando o que antes não parecia possível. Crescendo e se mantendo fiel ao que sempre foi. Amor é coragens. E as coragens a gente busca, constrói, reinventa. Porque, depois da infância, os degraus vão exigir uma variedade delas. De outras ordens, com inúmeras responsabilidades e malícias. Há dias em que meu ombro ainda serve de apoio, outros em que o refúgio no quarto é mais autêntico. O recado de coragens que deixo para ela a partir de agora, da pré-adolescência, dos bons segredos e das dúvidas? Seja autêntica. Busque a vida. E, quando duvidar, volte a você.


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OutBá

Bela obra Primogênito de três irmãos, Rafael Vogt Maia Rosa nasceu em 1974, filho do casal de artistas plásticos Dudi Maia Rosa e Gilda Vogt. Cresceu no ateliê dos pais na zona sul paulistana, em meio à efervescência das artes plásticas na década de 1970. A Escola Brasil foi um centro de experimentação artística protagonizado pelos pais e colegas. Estavam também ligados à comunidade antroposófica, educada com os princípios livres da Escola Waldorf, que acredita que o desenvolvimento de cada aluno é diferente e que o ensino deve considerar essas características. Foi onde Rafael se iniciou na música, nos trabalhos manuais, tecelagem, escultura, pintura e marcenaria. Na música, escolheu o violoncelo e foi discípulo do mestre polonês Zygmunt Kubala. Tanto, que ainda na escola foi à Alemanha num intercâmbio para dedicar-se ao instrumento. Uma lesão no braço por esforço repetitivo o obrigou a interromper os estudos, o que o fez mudar o foco e partir para uma intensa visitação de museus durante a viagem. Nunca mais parou. Antes disso, Rafael já tinha excursionado o Brasil tocando as Bachianas de Villa-Lobos. Experiência única para um garoto interessado em pensar a cultura brasileira e suas fontes de riqueza, transversalidades e contradições. Passeando pela tríade escrita, artes plásticas e crítica, Rafael dedicou 52 |

a maior parte dos seus 42 anos a pensar a arte brasileira, seus criadores e questões. Construiu uma exitosa carreira acadêmica e voltou seu atento olhar tanto aos estudos de semiótica, psicologia e literatura quanto às vivências artísticas extraclasse. O caminho para a escrita teatral também foi natural – por seis anos, integrou o círculo de dramaturgia do centro de pesquisas teatrais coordenado por Antunes Filho, e publicou Banhistas, sua primeira peça – para o multicriador, já que dramaturgia, música, artes plásticas e literatura se encontram em cena em um palco: “Sempre gostei e fiz essa intersecção entre as artes. Comparava muito com a música. Eu via as artes brasileiras como uma produção única nesse sentido”, observa Rafael. Não por acaso, seus textos, ensaios, curadorias e pesquisas sempre envolveram o criativo nacional, especialmente nos instigantes e efervescentes anos 1960. É graduado em Linguística, doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP e duas vezes foi pesquisador e artista convidado na Yale University, em 2010 e 2013. Foi curador de diversas exposições de arte e fotografia, entre elas Retratos, exibida recentemente na Galeria Millan, em São Paulo. Escreveu seu primeiro texto crítico para o Catálogo da 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1996, onde também atuou


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como monitor. É autor de ensaios, textos e entrevistas com os maiores craques da arte contemporânea brasileira, vivência que possibilita que ele, desde 2001, organize ciclos de palestras sobre a história da arte brasileira em instituições como o MAM/SP, Instituto Tomie Ohtake, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Sesc e Instituto Ling. De 1998 a 2000, foi repórter de cultura da Folha de S. Paulo e lecionou Teoria das Artes Plásticas na Faculdade Santa Marcelina. Em 2014, apresentou a performance The False Begginers no Movement Research, em Nova York: “Os americanos não separam o artista da academia. Tive professores que foram cineastas e escritores de séries atuais de TV”. Seu pós-doutorado em Yale University foi um vídeo feito a partir de uma peça de teatro de sua autoria e produção muito bem recebida por lá. Essa foi a mesma época em que conheceu Tunga na terra do Tio Sam: “Fui entrevistá-lo e ele me convenceu a voltar para o Brasil para pensar a cultura brasileira e fazer o meu teatro.

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Em 2015, fiz uma espécie de residência artística na casa dele e foi muito forte. Ele foi um grande amigo que valorizou muito a minha produção”, lembra saudoso do escultor, desenhista e artista performático pernambucano falecido em 2016. Denso, intenso, de gestos doces e olhar profundo, Rafael sabe que, para o mercado de arte contemporânea brasileira, a especialização é fundamental. Nem por isso deixa de seguir os conselhos de Tunga de criar dentro e fora da academia. Com a chegada da filha Felipa, que teve há menos de um ano com a mulher, a gaúcha designer de interiores Mariana Kraemer, Rafa retomou uma atividade ligada a suas origens: fazer aquarelas. Pássaros, paisagens e oráculos. L I N D A S! Coloridas, magnéticas, oníricas. Arte inspirada no amor e na delicadeza da vida: “Com a Felipa, mudou tudo em mim. Tenho vontade de desenhar e pintar com ela a toda hora. É maravilhoso estar com ela”, conta o pai coruja sobre sua mais bela obra. MB


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Bá, que viagem Anelise Zanoni

jornalista ane@waycontent.com travelterapia@waycontent.com

Um destino para transformar a alma Por pelo menos três anos, guardei em uma pasta plástica e de elásticos corroídos uma dezena de folhetos sobre o Peru. O material havia sido entregue em uma feira de turismo na época em que era repórter de jornal e, de tempos em tempos, eu abria aquela pasta e ficava viajando só de olhar alguns pontos turísticos peruanos. Planejei viajar ao país pelo menos duas vezes, mas sempre tinha algum empecilho. Até que juntei milhas aéreas e fiz uma reserva com antecedência. Em uma viagem

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de 14 dias, percebi que aqueles folhetos mostravam muito pouco do que é o país. Destino da moda nos dias de hoje, o Peru tem uma riqueza cultural sem fim, mesmo que a pobreza seja uma constante por lá. Minha incursão iniciou-se em Lima, capital às vezes deixada para trás pelos pacotes de viagem e por quem monta o próprio roteiro. Instalada no alto de uma falésia, a cidade tem prédios altos, shopping com vista para o mar, trânsito caótico, gastronomia cheia de sabor e ciclovias que levam


a paisagens que fazem os olhos brilhar. Por falar nisso, foi num passeio guiado de bicicleta que percorri bairros como Miraflores, San Isidro e Barranco. A bordo da bike, vi a imensidão do Pacífico, passei por pontos turísticos, como El Parque del Amor, e por mirantes. A capital já seria um grande destino se fosse a única parada da viagem, mas seguimos para Arequipa, conhecida por abrigar um grande número de monastérios. E foi dentro de um deles que fiz uma das re-

feições mais bacanas: no monastério Santa Catalina. De lá, seguimos a Puno, onde conhecemos melhor as heranças da civilização inca. Na região, destacam-se as islas flotantes – entre elas, a de Uros. Com chão de palha quase dourada, proveniente de uma planta chamada totora, o território do povoado é todo flutuante. Ali as pessoas vivem de forma rústica, com roupas coloridas, sem pressa e contemplando a própria vida. A imersão cultural no país ficou com| 57


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pleta com uma viagem de trem de Puno a Cusco, feita durante um dia inteiro em uma cabine de primeira classe. Com uma taça de vinho na mão e o olhar a se perder pelas paisagens, vivemos as 10 horas do percurso como se estivéssemos em um longo passeio – e não apenas fazendo um deslocamento. Enquanto os vagões cortavam cidades, paisagens despontavam pelas janelas, músicos surgiam nas cabines e tocavam canções. Durante o trajeto, participei até mesmo de uma oficina para aprender a fazer o tradicional pisco sour. Ao descer em Cusco, encontramos uma cidade jovem e pulsante. E foi decisão acertada deixá-la para o fim. As ruas íngremes

de pedra, a praça histórica e os bares completam a atmosfera mística do local, que é ponto de partida para passeios como o Vale Sagrado e Machu Picchu. Sob a imensidão do horizonte, esses sítios arqueológicos nos fazem pensar que estamos colados no céu – devido ao balé constante das nuvens. Em Machu Picchu, as pessoas choram, ficam em silêncio, pensam na vida. Fazem o que chamo de Travelterapia. No dia em que visitamos, fomos acompanhados por uma chuva fina, típica do verão peruano. Só que, em vez de nos atrapalhar, a garoa se transformou em arco-íris duplo. E nos mostrou que naquele país havia um verdadeiro potinho de ouro escondido.

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Crônica Mariana Bertolucci

tonico alvares

Coisa mais linda do mundo

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Lembro da Tânia Carvalho por perto desde que me conheço por gente, nos tempos em que a minha prima Dada tinha medo do Remendão. Eu, que era mais velha e o achava legal, tinha a missão de convencê-la de que o Remendão não era chato. E ele era um barato mesmo, um boneco que fazia o maior sucesso na programação infantil da TV Guaíba, nos anos 1980. Foi bem na época desses encontros, na casa da minha tia Aninha Comas, às vezes com o Remendão entre os convidados, que eu senti pelas primeiras vezes a força audiovisual da

Tânia Carvalho. Entre roupas coloridas, argolas douradas, gargalhadas, babados, xotes e xaxados, ela sempre surgia. Mais ruiva, mais loura, mais morena, falante, engraçada, debochada, atrevida, esfuziante sempre. De conversa fácil, riso frouxo, sonoro e contagiante. Dona de uma coragem incansável de ser essencialmente feliz e transparente. Franca, livre de gestos, bem-humorada e aberta para cada um dos dias que a vida gentilmente lhe oferece. Tânia vai falando. Se pega pesado,


como às vezes acontece, ela coloca a mão na boca, como uma garota sapeca que fez arte. Sem importar-se muito com a opinião alheia. Era ou não era ela a dona da opinião? Atenta e serena. Opinativa e ouvinte. Intensa e dócil. Humilde e raivosa. Firme e maternal. Moleca e sensual. Debochada e perspicaz. Crítica e compreensiva. Como ensinou meu mestre Luiz Antonio de Assis Brasil, antagonizar adjetivos distintos deixa o personagem interessante: “Impactamos o leitor com tamanha estranheza e o deixamos a imaginar que espécie de ser humano é esse”, explicava Assis. Tânia Carvalho é dessa espécie de ser humano que ficamos a imaginar. Por ser contraditória, deliciosamente eclética, hu-

mana, dramática e cômica, é tão interessante. Tão interessante, que ficamos a imaginar o que Tânia diria, como gargalharia, que piada faria sobre esse ou aquele assunto ou filme. Que grito ou palavrão soltaria para explodir em segundos na mais maravilhosa gargalhada. Como se fosse um cacoete nosso imaginá-la reagindo às coisas todas da vida. Não porque ela seja discreta, escorregadia ou misteriosa. Ela é verdadeira e presente. E tem coragem de ser verdadeira e de se fazer presente. Dizendo o que pensa. Vestindo-se como deseja. Gostem ou não das suas verdades, opiniões ou roupas. Porque a sua presença íntima, faceira, leve, forte, risonha e cotidiana está no nosso imaginário. No meu, no seu, no de todos os gaúchos. Por isso sentimos saudade da Tânia. É pelo mesmo motivo que a Tânia sente saudade da gente, do seu público. E a saudade é a coisa mais linda do mundo. Porque, além de a danada existir somente na língua portuguesa, ela é fruto do amor. Do respeito. Da identificação e da admiração que sentimos uns pelos outros. O aniversário é da Bá, mas os aplausos e sorrisos, como sempre, vão todos para você, Tânia amada! | 61


Cristie Boff

designer e artista plástica

Renascimento eletrônico Volto a falar do artista Bill Viola, indiscutivelmente o mestre da videoarte contemporânea. Norte-americano nascido em 1951, é casado com Kira Perov, que trabalha junto com o marido na curadoria das suas obras. O berço do Renascimento, Florença acolhe a mostra Renascimento Eletrônico no Palazzo Strozzi, criando um sedutor diálogo entre o trabalho contemporâneo do artista e as obras de arte de grandes mestres do passado – como Pontormo, Paolo Uccello, Masolino, Cranach – que influenciaram Viola na criação da sua própria linguagem. Resgatando a arte renascentista com um tom moderno, suas obras são atuais, digitais, virtuais, imagens potentes que nos remetem aos fenômenos da natureza, aos ciclos que se repetem sem interrupção, necessários para transcender. A mostra Rinascimento Elettronico pode ser visitada até o dia 23 de julho no Palazzo Strozzi, em Florença, na Itália.

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eutenhovisto.com eu tenho visto Jaqueline Pegoraro blogueira

fotos vini dalla rosa

Amor à carne A paixão pelo assado na grelha é o que move e une os sócios uruguaios Sebastian e Pablo Watenberg e o gaúcho Tiago Fornari. É tendo a carne como estrela principal e a alta seleção dos ingredientes e fornecedores como diferencial que o Vermelho Grill, churrascaria tradicional em Porto Alegre, entrou em 2016 com um novo conceito: “Vermelho Burgers and Steaks”. A casa, que trabalha em parceria com a ABHB ( Associação Brasileira de Hereford e Bradford) oferece aos clientes cortes e hamburguers de Carne Certificada Hereford e tem como lema “do pasto ao prato”. Para valorizar o trabalho do produtor, apenas o sal é acrescido no preparo dos cortes. O Viva Open Mall foi o local escolhido como nova sede e já é sucesso entre os amantes da boa carne na capital gaúcha. O novo espaço Vermelho Burguers and Steaks aposta em um estilo casual de receber, existem opções de pratos vegetarianos, sem glúten e sem lactose. Quem quiser curtir o 64 |

local na companhia dos filhos, pode aproveitar o espaço kids e quem prefere saborear os pratos no conforto de casa, pode contar com o serviço de tele-entrega. Além disso marca seguiu com seu projeto de expansão e inaugurou em sua cidade natal, Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, o Vermelho Beef, um açougue com cortes selecionados, e o Vermelho Express, um fast food especialmente criado para praças de alimentação em shoppings center. Para 2017, mais novidades: Vermelho Burgers and Steaks segue seu processo de expansão para outras capitais do pais.


Flowork Criado a partir da vontade de trabalhar juntos e da percepção de novas tendências de mercado, o Flowork é resultado da união dos sócios Daniel Pocztaruk, Daniel Goldsztein e Lorenço Paiva. O escritório de coworking, que está localizado na Rua Mostardeiro, 777, tem o estilo corporate cool e o alto padrão como diferencial. Tudo começou quando, em maio de 2016, Daniel Pocztaruk e Lorenço decidiram unir forças e viajaram para Nova York para estudar as tendências do mercado americano. – O plano inicial era criar algum novo negócio ou uma franquia. Mas começamos a notar uma grande tendência por lá: o compartilhamento de espaço. Isso nos deu o insight para criar o Flowork – conta Daniel. Com a ideia formada, os dois partiram para outras cidades americanas e, posteriormente, para a Espanha e a Holanda, buscando mais inspirações e fazendo pesquisas corporativas. Ao voltar para Porto Alegre, em agosto de 2016, a dupla passou a estudar os pontos disponíveis na cidade. Foi aí que descobriram o Green Offices, o que também oportunizou a entrada de Daniel Goldsztein na sociedade,

pois Goldsztein estava estudando esse modelo de negócio no mesmo local. Em novembro do mesmo ano, iniciaram-se as obras do 14º andar para que em março de 2017 o local fosse inaugurado. E a receptividade foi muito boa: com pouco mais de um mês de funcionamento, já superou 40% de ocupação. Com internet de fibra ótica, divisórias de vidro duplo e salas de reunião bem equipadas, o espaço também conta com prestação de diversos serviços, como secretária atendendo a linha em nome de cada empresa e cabines de conference call – ideal para quem deseja iniciar seu trabalho sem muita burocracia e com muito conforto e praticidade. Aliás, vem justamente daí o nome Flowork: o flow ou “fluir” parte da ideia de que o cliente entra apenas com seu computador e já inicia o trabalho. E o trio tem novidades: o 15º andar do Green Offices está quase pronto para receber um rooftop com vista para o Parcão e o Guaíba. O local deverá receber eventos e happy hours, aproximando quem está no Flowork com novas oportunidades de network e parcerias para negócios. Além disso, Daniel P., Daniel G. e Lorenço já estudam projetos para trabalhar a expansão da empresa para outras cidades! | 65


Regina Lunkes Diehl

jornalista regina.diehl@soudoverde.com.br

Maria Clara e o consumo consciente Dia desses, assisti com minha filha de sete anos a um filme em que duas crianças, em um orfanato, elaboravam um plano de fuga. Não demorou muito e veio a pergunta: “O que é orfanato, mãe?”. E eu cochichei que é um lugar para onde vão os pequenos sem pai, mãe ou família para cuidar deles. Maria Clara, atenta, observava as personagens preparando seu próprio alimento, lavando pilhas de louça, esfregando o chão. Não crio minha filha única num mundo de princesas encantadas. Ela sabe colocar roupa na máquina, ligar a lavadora de louças, além de ser chamada à vassoura quando faz alguma caca, entre outras obrigações. E guarda feito tesouros ensinamentos como não desperdiçar e dar valor a cada coisa que temos. Desde que ela nasceu, integramos uma rede solidária por meio da qual muita roupinha foi reutilizada e muito brinquedo reciclado, além de termos nos servido, para carregá-la, de um carrinho e de um bebê-conforto azuis do primo Lipe (sim, azuis, sem mimimi). Somos assim, atentos ao lixo ambiental e à pegada ecológica que deixamos no planeta. Nosso lema é evitar comprar se o que temos ou nos é oferecido ainda pode ser usado, cientes de que, para toda produção desenfreada de itens de consumo, há uma contrapartida a ser paga pelos próprios seres humanos, ao custo de vidas e/ou recursos naturais. O que nos serve deve, em princípio, nos bastar. No dia seguinte, ela me apontou para os resultados de sua pesquisa no Google sobre “orfanatos Porto Alegre” e sentenciou: “É para lá que vamos levar meus brinquedos, mamãe!”. Seguiu à risca minha recomendação de doar do jeitinho que gostaria de receber, sem 66 |

nada quebrado ou estragado. Joice, a responsável pelas visitas, nos convidou a entregar naquela tarde os donativos e a conhecer o local, que abriga 20 internos. Emily, 5, é uma das internas que nos saúda com alegria e já convida Maria Clara ao divertimento. Depois de muita gangorra e escorregador, minha filha se despede da amiguinha querendo “voltar logo para contar histórias para as crianças” e comenta: “Mãe, a gente não precisa ter tantas coisas, né? Tem criança sem nada, e tanta coisa virando lixo sem ser lixo!”. Enxuguei os olhos, enquanto guiava para casa me sentindo completa como mãe, certa de que minha filha já faz parte de uma geração que terá um novo olhar para um mundo de desigualdades. No supermercado, a seção de brinquedos não fez nem cosquinhas nela. Ela não doou porque ia ganhar coisas novas, e sim porque, em seu julgamento, o que não lhe era mais necessário poderia, além de ajudar a limpar o mundo, alegrar outra criança. A visão dos pequeninos é simples, sem amarras, recheada de amor. Maria Clara fez algumas crianças mais felizes com os seus brinquedos, ciente de que não ganharia novos. Doar é bonito e faz bem, e comprar menos alegra o bolso, o ambiente e a saúde. Evitamos o desperdício porque achamos importante ensinar desde cedo o valor do dinheiro, como se ganha e como se gasta. Criamos nossa filha com a consciência do impacto ambiental que gera a produção desenfreada de tanta coisa em um mundo carregado de plásticos e metais pesados. Até que algo vá para o lixo certo, com descarte apropriado, qualquer coisa que se tenha em casa pode muito bem servir a um interessado, não é mesmo? O planeta agradece!


Verônica Bender

dermatologista

Rejuvenescimento e tecnologia

A cada ano, surgem novos cremes, lasers, peelings, preenchedores e outras novidades nos consultórios dermatológicos. Nos últimos congressos, assisti a uma avalanche de produtos à nossa disposição, todos com a promessa de tornar a pele linda e jovem. Cremes com ácido hialurônico, fatores de crescimento, antioxidantes e até a melatonina, que já era usada via oral e agora está nas máscaras para uso facial em casa e no consultório após a IPCA, indução percutânea de colágeno (microagulhamento). Foram abordados assuntos como a relação entre o equilíbrio da flora intestinal e as doenças inflamatórias da pele como um fator muito relevante na piora ou melhora de dermatites, acne, rosácea, entre outras. Lasers para tratamento de fungos nas unhas, para queda capilar, cicatrizes e manchas na face e no corpo foram apresentados com bons resultados. Peelings para melasma também apresentaram melhora significativa no clareamento, com aplicação em consultório e associados a outro de

manutenção para seguimento em casa, que foi lançado como uma promessa de clareamento dessas manchas resistentes. Muito atual e cada vez mais procurado é o rejuvenescimento íntimo, com uso de lasers e preenchimento. Esta área, tão delicada e que também sofre com a ação do tempo, pode ser rejuvenescida com as tecnologias de lasers de radiofrequência e ultrassom, melhorando a qualidade de vida das mulheres, principalmente na menopausa. Além disso, a alopécia fibrosante frontal tem sido frequente em consultas médicas dermatológicas: a queda de cabelo na área frontal com perda de pelos nas sobrancelhas e cílios tem que ser diagnosticada e tratada, pois é irreversível. Enfim, uma das conclusões a que chegamos é que os melhores resultados para rejuvenescimento são obtidos com a associação de tecnologias, preenchedores e toxina botulínica. Sempre com a orientação médica.

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Trama

Inquieto equilíbrio A enfermeira Iolanda Abott Kalil se dedicou à área da saúde até o nascimento de sua caçula, Lucia, com o marido, o médico Renato Kalil. Iolanda, que já era mãe da jornalista Mariana e do arquiteto Conrado, deixou a rotina no hospital para ficar mais tempo com a pequena Lulu, que nasceu prematura em 1979. Com os três filhos maiores, Iolanda, que estava imersa no universo infantil, decidiu abrir uma loja de roupas para crianças. A João e Maria era linda e chegou a inaugurar em quatro outros lugares além da matriz, que ficava na esquina da casa da família. Curiosa, sapeca e muito ativa, Lulu cresceu pela loja. Brincando de empacotadora, em volta da mãe. Entre as marcas da época que a boutique vendia, estava a Bob Blu, grife teen dos donos da Bob Store. Ali começava a segunda história de sucesso da enfermeira empreendedora: a da Bob Store em Porto Alegre. Lucia cresceu e decidiu estudar Direito. Formou-se em 2004, quando a mãe administrava duas Bob Store e a multimarcas de calçados Mari Shoes. Depois de uma temporada na Califórnia, Lucia tirou a licença da OAB e chegou a estagiar na área jurídica, mas ajudar a mãe nas lojas sempre foi muito natural. Tão natural, que a filha nunca entrou em conflitos nem teve dúvidas entre dedicar-se ao Direito e ajudar a mãe a empreender: “Com a Mari Shoes, percebemos um espaço no mercado para uma loja mais jovem, eclética e urbana. Em 2006, abrimos a primeira Convexo no Iguatemi”, lembra Lucia. Um lugar autêntico que reunisse marcas premium com a mesma proposta: um sapato confortável, com estilo e muitas vezes sem sexo ou idade limitados. Pessoas de todas as idades olham as prateleiras sempre descoladas das lojas, onde é possível encontrar os lança68 |

mentos de marcas como Vans, Melissa, Adidas, Crocs, Keds, Perky e Converse, um dos carros-chefe das quatro lojas de Porto Alegre. Mãe e caçula em sintonia e a Convexo só cresceu. Em 2008, mudaram-se para um ponto maior no Iguatemi. No ano seguinte, em 2009, o Praia de Belas recebeu uma Convexo. E em 2011 foi a vez de o Moinhos Shopping ganhar a sua e de a marca estrear na plataforma digital com o e-commerce. Os paulistas lideram nas compras online, os gaúchos estão em segundo lugar e os cariocas em terceiro. Mais recentemente, em 2015, já de logotipo novo, assinado pela Bendito Design, a Convexo abriu suas portas na 24 de Outubro e, em breve, se prepara para estrear no Barra Shopping. “Buscamos sempre ter um ar mais moderno, mas sem assustar muito. Tanto que, por causa do conforto, nossos clientes têm todas as idades”, conta Lucia, que nesse mesmo ano deu à luz João Benício. Ela faz bom uso de seu diploma de advogada para controlar a demanda jurídica da empresa, com cerca de 60 funcionários. O mais recente desafio da Convexo foi criar a própria coleção de sapatos: “Já viemos experimentando, e neste inverno foi nossa maior coleção, com 20 modelos. A ideia é que seja uma coleção cartão de visitas da proposta da loja: casual, urbana, street. O que faz uma multimarcas é a curadoria”. E como é essa parceria de mãe, filha, avó, sócia? “Ela me poda. Sou sangue novo, a mil. Funciona. Fico faceira de ver como crescemos, trabalhando ano a ano em equipe. Vejo como vale a pena nas festinhas de final de ano. Não olho nem muito para trás e nem muito para frente”. Dale, Lulu! Adiante! Segue teu inquieto equilíbrio, sempre guiada pela elegante Iolanda. O momento é mesmo agora. MB


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tonico alvares


Lígia Nery coach

Não apresse o rio, ele corre sozinho Quem nunca teve a sensação de cair em um buraco de cara no chão e de machucar dolorosamente a alma? Hoje em dia, o mundo parece bem malvado... Este momento é escuro e parece não ter fim e nos faz conhecer um senhor muito duro e malévolo, o Senhor Fracasso. Quando ele chega, nos invade e usurpa nossa identidade e nos leva para a escuridão. Em momento algum, no meio deste furacão, nos passa pela cabeça que esta crise é necessária e que é nela que temos a chance de encontrar uma força que nos tornará infinitamente mais fortes. Mas, antes de conseguir chegar a isso, precisamos encarar mais dois malévolos, o Medo o Silêncio. Quando caímos, somos tomados pelo medo, perdemos o chão. Tatear em um solo desconhecido de falhas e imperfeições parece assustador. A grande armadilha que nos alcança é o silêncio. Não compartilhamos nossas falhas, queremos esconder tudo de todos. É um silêncio inquietante e barulhento. Em nosso entorno, todos são tão perfeitos e felizes. Todo mundo parece feliz. Acabamos acreditando que os que nos cercam têm o valor que mostram em relacionamentos fúteis ou redes sociais. Uma compulsão vazia e perigosa, mas que nos soa a verdade.

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Ninguém está imune ao fracasso. É com a aceitação de que erramos e falhamos que se inicia o processo de saída. A partilha com alguém em quem confiamos é o portal para a transformação. Assim começa a abrir-se o espaço para a entrada dos refúgios, que, muito mais do que isto, são as enzimas de energia nova para o espírito e para o corpo. Através do esporte, de uma crença, um hobby, encontramos também aconchego. Quando compartilhamos, nos tornamos humanos e libertamos o outro para que seja. Compartilhe, peça ajuda! Troca curadora... Existe uma quietude boa neste momento para descobrir onde dói e perceber caminhos que se apresentam. Ela é reflexiva. Não apresse o rio, que ele sabe o seu caminho. Existe algo de calma e confiança nessas situações, em que a natureza, também humana, está direcionada ao seu caminho. Existe um propósito amoroso da vida em nossas aprendizagens. Vamos seguir em frente... Crescemos com a crença de que tudo será garantido e de que a segurança não vai faltar. Mas viver é estar exposto ao risco. Sem risco, não há expansão, e a expansão é a própria vida. Os caminhos mais complexos nos trazem força e as nossas inevitáveis falhas serão a inspiração para a inovação.


DEMI-SEC ROSÉ


De Nova York Cristiane Cavalcante Buntin

Gato multitalentos Tom Born Schubert é um amigo de longa data e pelas coincidências da vida, cá estamos no mesmo hemisfério do planeta depois de tantos anos de encontros e desencontros. Tom é gaúcho, natural de Canguçu de onde saiu em 1996 direto para Novo Hamburgo. Dono de vários atributos (traduzindo: um gato, canta bem, exímio ator) e talentos entre eles, dono da voz mais bonita do Brasil. Juro! Ouví-lo, é bálsamo para os ouvidos, chamo atenção para isso, por que sou sensível a sons e vozes. A pessoa pode ser linda, querida e simpática, mas se os meus ouvidos detectarem em vez som, ruído, só sendo excepcionalmente incrível para que eu consiga manter uma relação saudável. Por causa da melodia da voz e da sensação boa que ela causa, não poderia deixar de ser locutor de rádio. E foi, e Novo Hamburgo (I am sure!) foi feliz por um ano. Muito atento, antenado e conectado com a vida, com o espírito e as artes em geral, iniciou sua carreira artística por meio de um anúncio que viu na Casa de Cultura Mario Quintana sobre iniciação teatral. Nunca mais parou. Tom é um guerreiro. Na época em que era modelo, nos conhecemos no set de um trabalho em São Paulo que coincidiu com a sua mudança do RS para lá. Começou a trabalhar numa companhia de repertório dirigida por José Ferro, que trabalhou por anos com Antunes Filho, um dos ídolos de Tom. Éramos um casal na ficção. Iniciou-se uma amizade que ainda nem sabíamos que duraria uma vida. Encontros e depois desencontros, porque eu morava do outro lado do Atlântico, e do Tom nunca mais ouvi falar até os 72 |

anos 2000. A vida mais uma vez não só nos pôs no mesmo caminho, como também na mesma cidade, na mesma classe. Tom foi escalado para a primeira (depois de anos) oficina da TV Globo no Rio de Janeiro pra onde me mudei quando encerrei minha conta com a Suíça. Eu era modelo, e ele locutor de rádio, vendedor, entre outras coisas. Como eu não sou de perder oportunidades, aceitei o desafio de talvez, me tornar uma atriz - o que não aconteceu, claro, mas se eu me diverti? Ah, isso não tem como negar! Tom era meu colega de classe, meu colega de palco. Mal sabia o que tinha se passado na sua vida nesses anos todos em que não nos vimos... Mas a vida, sábia como é, não deixa quem tem foco numa fria. Nunca! Nos tempos da audioteca, a trilha que mais ouvia era a do filme Working Girl que em Português, chama-se Uma Secretária de Futuro (Essas traduções...) pela qual ficou fascinado. O filme se passa em Nova York, e inconscientemente, desejava estar naquele lugar... Talvez já estivesse no seu subconsciente desde a infância, quando juntando as letras que aprendera na escola em cima de um livro de inglês com desenhos do Mount Rushmore, ouviu dizer que aquelas ilustrações eram de um “lugar distante” e que faziam parte de uma “outra língua”. A vida opera por meios misteriosos e tudo é uma questão de tempo. De lá para cá, além de participações na TV Globo em Sandy & Junior, formação em teatro pela HB Studio em New York City, e a espera do lançamento da estreia no cinema do filme Light Withheld. Fluente em espanhol, com


uma companhia porto-riquenha, trabalhou com o público infantil. Estreou nos espetáculos A Verdadeira História de Chapeuzinho Vermelho, O Príncipe e a Cinderela. Outra faceta desse gaúcho é cantar, faz gigs com amigos no Café Wha em Greenwich Village e se diverte a plenos pulmões cantando suas favoritas no palco por onde passaram Bruce Springsteen e Bob Dylan... O mundo dá voltas, a vida acontece e ele nunca perde o tom.

Dicas para quem vem a NY com kids Tom está em atualmente em cartaz em New York City no Sea Theater com a Peça «A Verdadeira História de Chapeuzinho Vermelho” 107 Suffolk St Ste 202 New York, NY Para quem quiser se perder no tempo no Village, vale conferir o Cafe Wha? que fica na 115 McDougal St NY/NY 10012

Nos dias quentes de verão, nada melhor do que tomar um drink no rooftop do Hotel Standard e apreciar a vista do Rio Hudson Ama andar pelo Central Park e visitar o Bethesda Terrace que para ele, é o coração da cidade. Ah! E tomar um suco de cana em Astoria, Queens, diz ele, não tem nada igual | 73


Lívia Chaves Barcellos

Gaspar Quatre-vingt tonico alvares

Decididamente, o mês de abril teve como destaque Paulo Raymundo Gasparotto. Além de ser seu mês de nascimento, ele foi super-homenageado pelos 50 anos de colunismo social. Duas exposições maravilhosas marcaram a data. A primeira, no Shopping Iguatemi, mostrou muitas fotos de seu tempo como o colunista mais prestigiado do sul do país. Foi muito visitada e já foi encerrada. A segunda, no Santander Cultural, se chama Certas Pequenas Loucuras... e poderá ser vista até 28 de maio. É bom lembrar que bateu recorde de público. Só no dia da abertura, passaram por lá mais de 1,5 mil pessoas. As duas exposições tiveram curadoria de Paula Ramos, que merece aplausos pelo magnífico trabalho. Como amiga dele de longa data, fiquei feliz com os resultados. E, para cumprimentá-lo pelo aniversário, preferi usar o número em francês, porque, realmente, ele está completando quatro vezes vinte. Cada etapa fez com que Gasparotto se renovasse, com toda a garra, inteligência, cultura, bom gosto e aquele... “dom que ele sempre disse que gostaria de ter, e quase consegue ter mesmo, que é a ubiquidade”. Parabéns, querido amigo! 74 |


André Ghem tenista profissional

God bless

Eu e meus amigos começamos a jogar uma partida de futebol. Ao invés de jogarem os com contra os sem camiseta, os dois times tinham uniforme. Um era do Brasil e o outro dos Estados Unidos. Como não era eu que comandava o jogo, apenas fui para o time da direita, que no final das contas ficou com o uniforme americano. Serei eu um “defensor” do time de Donald Trump?! Como zagueiro, defendo. Como cidadão, deixo algumas bolas passarem. No Brasil que vivemos, o que os noticiários mostram nem sempre é o mais importante do momento. Acabo de passar 20 dias nos Estados Unidos, e o país dos caras está voando mais do que nunca. O vigor que nos passam no dia a dia, que nunca soube diferenciar se é

em busca de uma gorjeta maior ou se realmente é ânimo de vida, segue firme. A série House of Cards mostrou muitos passos e jogadas sujas na política da Casa Branca e por algum minuto nos faria pensar que a América é igual ao nosso país. Doce ilusão. Mesmo a arte tentando imitar a vida, nem todas as peças podem completar esse quebra-cabeça. Estradas perfeitas, leis sendo cumpridas, preços sem aumento, todos com seus direitos, cheios de sonhos e de oportunidades. Muitos são aqueles que foram e não querem voltar mais. God bless the United States of America. Visto essa camisa não apenas para uma pelada com os amigos. Visto-a para sempre, se puder... | 75


Carlos Mânica

consultor de empreendedoras

Falta de foco Um mal atinge os brasileiros na atualidade, principalmente os que desejam empreender e mudar suas vidas. Se a brincadeira da doença fosse verdade, o diagnóstico seria “falta de foco”. Está com problemas para melhorar a sua situação profissional? A resposta é clara e simples: comece colocando mais foco em sua rotina! Todos sofrem disso, mas, se você é mulher, sugiro uma atenção ainda maior, pois as mulheres costumam agir de forma “multitarefa” no seu dia a dia e isso contribui para a falta de foco. A maioria das pessoas acaba fracassando em um processo de mudança justamente por perder o foco durante essa jornada. Vivemos em um mundo acelerado, com nossa rotina recheada de atividades, coisas para resolver, demandas, problemas etc. Não é tarefa fácil conseguir dedicar parte do nosso dia ao nosso futuro profissional. Tanto para montar um negócio quanto para reinventar uma carreira, é necessário definir claramente os seus objetivos, a direção para onde deseja ir, e jamais perder isso de vista. Além disso, precisamos resistir para não nos desvirtuarmos para outro caminho durante a jornada, principalmente quando encontramos problemas e dificuldades. O fato é que, sem “foco”, certamente não atingiremos os nossos objetivos. Para tanto, saiba que a tarefa não é fácil, porém é verdadeiramente possível. Busque determinação e esforço para manter-se na direção de seus objetivos. Para quem tem dificuldade 76 |

em focar-se e manter-se concentrado em algo, eu relaciono algumas dicas: · Organize um tempo em sua agenda semanal para definir os seus próximos objetivos profissionais. · Escolha um local calmo para esses momentos. · Defina claramente seus objetivos, metas e resultados pretendidos. · Reflita sobre quais benefícios diretos e indiretos você conquistará quando atingir essas metas e resultados. · Trace um planejamento simples, avalie com calma, tome decisões e defina as ações prioritárias. · Não perca tempo e execute essas ações no menor prazo possível. · Avalie os resultados dessas ações e alinhe-os novamente com seus objetivos. · Se começar a perder o foco ou a força de vontade, volte a olhar os benefícios que você receberá ao conquistar suas metas. Volte a planejar, corrigir, definir ações, executá-las e avaliá-las. Repita quantas vezes forem necessárias até atingir os resultados pretendidos. Essa organização visa tornar a sua jornada mais produtiva e assertiva em um momento de mudança. Quando você conquistar os primeiros objetivos, tenho certeza de que todo o esforço será recompensado com uma imensa sensação de realização. #ficaadica Conte menos com os outros, o mercado, as oportunidades, a sorte, o destino e o universo. Reinvente-se e conte apenas com você para construir o seu futuro!


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Ranieri Maia Rizza e Liane Neves

Personagem viajante Estamos no Chuí – ou Chuy –, e transitando por ambos os lados e arredores da avenida que divide Brasil e Uruguai (chamada de Uruguai no lado brasileiro e de Brasil na parte uruguaia). Quem nos acompanha, a mim e à fotógrafa Liane Neves, é Leonardo Machado, o protagonista de A Superfície da Sombra, longa-metragem que nesta mesma noite outonal terá uma pré-estreia inesquecível em plena rua fronteiriça. Leonardo Machado consegue transmitir por seus olhos em tom verde translúcido a emoção de estar na cidade que ele sugeriu ao diretor Paulo Nascimento para dar vida ao livro homônimo escrito por Tailor Diniz. Mas esse enxergar tem a ver com Leonardo ultrapassar fronteiras, seja de maneira física ou em sua percepção artística, na liberdade autoral que exercita em seus personagens. O olhar de Liane pela câmera refaz alguns trajetos feitos em 2015 pelas câmeras de filmagem do romance fantástico. Nesse roteiro estão o cemitério e a loja que se transformou na Casa das Facas – elementos marcantes na trama – ou um dos marcos, monumentos, que separam os países, ou mesmo um dos quiosques de rua característicos da parte “hermana”. “Quando eu recebi o roteiro das mãos do Paulo (Nascimento) como um presente de aniversário, e comecei a ler, eu disse a ele que a cidade ali descrita era o Chuí, onde tem essa relação de comunidade que está se atravessando culturalmente conforme a obra escrita. E nós viemos para cá estudar as locações e fomos descobrindo a loja que seria a das facas, o marco, o cemitério como era imaginado. Foi mágico. Creio que nunca 78 |

havia sido feito um filme no Chuí, e tivemos um grande carinho por parte da população para nos receber. Foi um aprendizado lindo”, conta Leo, com o entusiasmo de quem mesmo fora de casa se sente em seu habitat. “Nasci em Porto Alegre, na Beneficência Portuguesa, mas muitas pessoas dizem que sou natural de Bagé, onde minha família reside e tem fazenda, e até mesmo do Mato Grosso. Eu acho engraçado e nunca desminto. Sinto-me com várias terras-mães”, diz o canceriano com ascendente em leão e lua em escorpião. E cito essas características astrológicas talvez procurando justificativa para a sua liberdade de espaços e de vertentes profissionais. No carro que nos transporta pela cidade, Leo conta que aprendeu aos nove anos a dirigir caminhões de um negócio pertencente ao pai. Aos 18, veio do Mato Grosso para Porto Alegre buscar sua independência, mostrar para si próprio que podia viver por sua conta, guiou caminhões, veículos particulares e trabalhou em diversos setores. Com 19 anos, participou do concurso The Look of the Year, da Elite Models, e foi contratado pela Ford Models. Modelou por um bom tempo e começou a estudar teatro com o diretor e ator Zé Adão Barbosa, que o descobriu para a carreira de ator. “Fiz muitas campanhas publicitárias, editoriais de moda, e cheguei a desfilar, embora com meu 1m80cm seja considerado baixo para passarela”. Nem chegamos a poder duvidar de que algo o pudesse barrar de ser um top model, pois já chegamos ao pequeno cemitério, localizado na parte brasileira mas que traz um colorido nos túmulos e em flores, muitas delas artificiais, que parece comum


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fotos liane neves


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a outros lugarejos da América Latina. Ali é que o músico Toni, que ele interpreta, vai se despedir da amiga que não via há anos, Adéle. Junto conosco está a atriz Giovana Echeverria, que vive a misteriosa e sedutora adolescente Blanca Lucía. Agora estamos na caminhonete de Leo e ele nos leva para um dos monumentos que dividem as cidades, os chamados marcos. Está entardecendo e a luz natural está magnífica, para felicidade da Lica (Liane). Leo nos diz dessa paixão pela arte de interpretar e produzir (ele produziu esse filme e A Oeste do Fim do Mundo, também do Paulo Nascimento). Como diretor, fez com Paulo e Voltaire Danckvardt a série para TV chamada Fim do Mundo, na qual foi com sua moto Harley-Davidson em uma viagem pela Patagônia e Terra do Fogo. A motocicleta é uma paixão, assim como os cavalos crioulos que cria na fazenda de Bagé. Mas sobre duas rodas se prepara para atravessar em junho os EUA, na série Sonho Americano, na qual, de costa a costa americana, entrevistará brasileiros que lá vivem. A direção é de Paulo e terá na produção a mulher de Leo, a produtora e cineasta Ane Siderman. “No cinema, estive trabalhando na França, Marrocos, Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia... Mas um

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momento marcante foi amanhecer em Paris e filmar na Pont Neuf”, relata ele. Além de estar na peça teatral Fala do Silêncio – Amor, Naufrágio e Rock and Roll, de Patrícia Fagundes, já se prepara para rodar seu 24º filme, Legalidade, de Zeca Brito, quando dará vida ao protagonista Leonel de Moura Brizola. “Uma honra interpretar esse cidadão incrível, que admiro muito, por vários motivos, mas principalmente pela sua luta por educação e pela democracia neste país”. E ainda podemos falar de sua vivência na televisão, em Malhação, Senhora do Destino, Viver a Vida, Na Forma da Lei (par romântico

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com Ana Paula Arósio em seu último trabalho na TV). Mas o sol está se pondo no Arroio Chuí e a Lica está se apressando para concluir fotos incríveis do Leo no cenário do marco. A conversa terá que continuar outra hora. “Essa coisa do viajante é o descobrir. Eu sempre fui curioso, muito falante. Meus avós diziam que eu seria jornalista ou camelô. E eu sou os dois e sou tudo. O ator tem essa síntese, de conhecer lugares, de querer conhecer pessoas. E nada como estar em estado de viagem para conhecer tudo como se fosse a primeira vez”. Adoramos, Leo!


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Bá, quer lugar Guantanamo Bay

Atenta observadora Mãe javanesa de Bandung, pai gaúcho de Caçapava do Sul, embora tenha nascido em Oakland, na Califórnia, por conta da imigração da família materna, Aline Stefani Fagundes cresceu em Porto Alegre. Na PUCRS, cursou Direito, formou-se em 1993 e conheceu o marido, Renato Fagundes. O casal está junto desde o fim do curso. São pais de Artur, 17 anos, e Martina, nove anos, e passam uma temporada nos Estados Unidos. Decidido desde a faculdade, Renato se tornou juiz do trabalho em 2001. “Me ‘contaminei’ com ele e me preparei para o concurso. Em 2005, também tomei posse como juíza do trabalho”, recorda Aline. Além da carreira pública e da educação dos filhos, Mima, como é chamada pelos amigos, antes de morar fora, ocupava parte do tempo com o tênis, como voluntária do projeto WimBelemDon. O esporte é o hobby do coração da juíza, que nos EUA ganhou um torneio da CIWITL – Central Indiana Women’s Indoor Tennis League –, em maio do ano passado. Estudar fora era um projeto do marido. Não estava nos planos de Aline sair do país, deixar família e amigos e se afastar da jurisdição por tanto tempo. Mas Renato soube trabalhar a ideia: “Estávamos hospedando 84 |

um intercambista de Indianápolis. O Landon, nosso terceiro ‘filho de intercâmbio’, era ex-aluno da Universidade de Indiana. Fomos atrás e conseguimos uma bolsa para o mestrado em Direitos Humanos da Indiana University Robert H. McKinney School of Law, em Indianápolis. Viemos de mala e cuia, literalmente, porque chimarrão nunca faltou”. Eles aproveitaram ao máximo tudo o que a faculdade oferecia. E ela oferecia muito mais do que conseguiram aproveitar. Um dos programas é o MCOP – Military Commissions Observation Project (1) –, pertencente ao PIHRL – Program in International Human Rights Law (uma ONG vinculada à faculdade). Mima se aplicou para ser uma observadora e foi nomeada. A nomeação é feita pelo conselho do PIHRL e a indicação é submetida à aprovação do Pentágono. No Pentágono, eles aprovam ou não, sem justificar. Mas a autorização veio e foi comemorada. É provável que ela tenha sido a única brasileira a ir à Base Naval de Guantanamo. A missão? Acompanhar uma audiência contra os acusados de terem planejado o atentado de 11 de setembro ao World Trade Center e ao Pentágono, em 2001. A experiência foi muito mais rica do que ela poderia imaginar. Por causa do furacão Matthew, que atin-


giu o Caribe em outubro de 2016, a viagem foi adiada dois dias para priorizarem a ida de pessoal de manutenção que iria atuar em reparos na ilha. O avião sem banheiro parou duas vezes para abastecer, e a viagem que duraria três horas e 30 minutos levou mais de nove horas. Os observadores foram alojados em tendas, cuja temperatura fica abaixo de 15ºC, com barulho atordoante das máquinas de ar-condicionado. A temperatura é baixa para que as iguanas (elas estão por toda a ilha) não sintam vontade de entrar. A série de restrições com a segurança dava a sensação de que o grupo estava sendo vigiado. E estava. Muito raramente ficavam sozinhos. Dois militares os acompanharam todo o tempo e eles eram sempre alertados de que era proibido tirar fotos em

alguns lugares: “Fiz vídeos usando a câmera frontal do celular. Um militar veio conferir se eu realmente estava com a câmera frontal na tela ou se estaria gravando o prédio das Comissões Militares, que é proibido. Filmei e entrei na tenda para guardar o telefone. Na volta, outros quatro militares me aguardavam para conferir o telefone. Tive que repassar o vídeo para eles”. Os observadores não têm acesso aos campos de detenção. Eles veem os acusados durante a audiência e sentam em um lugar separado por um vidro da sala de audiências. O áudio é transmitido com 40 segundos de delay para permitir a interrupção, caso surja alguma informação confidencial. Nesse lugar, chamado galeria, ficam os observadores das ONGs autorizadas, a mídia, os familiares das vítimas e alguns mi| 85


litares. Mima conta que houve momentos tensos, como quando parte do relatório de tortura foi lido: “A ilha é um lugar de contrastes. Tortura e terrorismo emoldurados por um deslumbrante mar caribenho e um pôr do sol hipnotizante”. A base naval é separada de Cuba por um portão cercado de minas pelo lado cubano (antigamente, tinha dos dois lados), que até 1964 era aberto. Atualmente, há pouquíssimos cubanos (apenas os que ficaram depois do fechamento do portão) e a população civil é preponderantemente de filipinos e jamaicanos. A segunda oportunidade de ir a Guantanamo foi em março. Um dos professores, que é também diretor do programa,

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sugeriu e ajudou na nova visita à ilha para que a aluna tirasse conclusões sobre o Princípio da Transparência, tema de sua pesquisa sob a supervisão do mesmo. A gaúcha foi nomeada novamente para acompanhar a audiência do ataque contra USS Cole em outubro de 2000, supostamente planejado pelo acusado e membro da Al-Qaeda Al Nashiri. No segundo semestre, a aventura de dois anos da família Stefani Fagundes encerra-se em solo americano. Artur, o filho mais velho, fica por lá estudando. Mima, a mamãe observadora e dedicada, volta plena à rotina gaúcha. Com toda a certeza (eu já sou ficha 1 nessa fila de ouvintes, viu Denise Castro?), com muitas histórias para contar. MB


Bacanisses Julia Laks e Vitória Satt publicitárias

ELAS + ELES

Já ouviram falar do termo “genderless”? Significa “não possuir identidade de gênero”. Ou seja, cai bem para todo mundo. A moda já começou a aderir essa pegada, mas a surpresa é a chegada da força nos produtos de beleza. A Chanel foi a percursora para a inovação: está chegando no mercado o perfume andrógeno (como eles denominam) chamado BOY, em homenagem a um dos amores da musa fashion Boy Capel. A ideia é simplificar. Alguém inventou que existia fragrâncias diferentes para homens e mulheres. Mas quem nunca se identificou mais com um perfume dele ou dela? Não adianta fingir que não! A distinção delas e deles está por tudo e vale a pena abrir a cabeça para isso.

#GirlPower

A recém lançada série GirlBoss, produção original da Netfilx inspirada no livro que leva o mesmo nome, da Sophia Amaruso, está agitando as empreendedoras e apaixonadas por moda. Os episódios curtinhos contam a história de uma guria que acaba encontrando uma super sacada de negócios: os brechós digitais. #SemSpoilers, mas vale a pena. Para quem amar e quiser saber mais, o livro é uma ótima pedida!

ON/OFF

Tecnologias e negócios estão andando cada vez mais de mãos dadas. A tendência do momento é ver os negócios on-line se concretizarem fisicamente em pontos físicos. Dois exemplos dessa novidade são a Gallerist e o Tastemade. A primeira, e-commerce super consolidado de moda de alto padrão, foi a pioneira da estratégia, abrindo as portas em São Paulo e depois em Curitiba. Já o Tastemade Café é quentíssimo em São Paulo! A plataforma digital gastronômica ganhou vida fora das telas. As receitas hit do canal estão lá para experimentarmos ao vivo e a cores. A certeza depois disso: o on-line precisa cada vez mais das pessoas para darem sentido e futuro aos negócios. | 87


Moda

Doce tempo


Heloisa Medeiros

De cor e doçura para a estação fria que vem chegando. Cores e paisagens suaves, mas marcantes. Com a força intensa do tie dye, uma das marcas registradas da Fernanda Sica Comfort Clothes, a nova coleção da estilista vem em tons e texturas novas como o verde, o marsala e o plush. Para mulheres que desejam mais aconchego, ternura e liberdade para viver. E para vestir. | 89


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Fotos Heloisa Medeiros Roupas: Fernanda Sica Comfort Clothes, Whatsapp: (51) 99985-0859 www.fernandasica.com.br Modelos: Gabriela Carlotto, Laura Colombo e Victoria Krieger Fonseca


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deuochic.com Vitor Raskin

Amedeo Di San Marzano e Roberta Tellechea Sanchotene casaram na estância da avó dela com festa animada e elegante. Nomes de todas as latitudes estiveram brindando com os noivos no feriado da Páscoa em Uruguaiana. A movimentação iniciou com jantar oferecido por Lila Franco Tellechea em sua residência na noite anterior ao sim. Robertinha usou vestido assinado por Neusa Pereira e evidenciou o broche que ganhou da sogra. 100 |


A bela Karina Titton Herrmann foi presença marcante na festa que movimentou Uruguaiana

Ana Logemann e Manuel Almeida brindaram com os noivos

Ana Lucia Jardim Converso, Ana Helena Jardim e Christina Kessler Tellechea

Querida de todos, a noiva Roberta recebeu com charme e descontração na estância da família

Francisco Martins Bastos Sobrinho e Ana Carolina Chaves Barcellos Bastos na festa que reuniu toda a aristocracia rural do estado

Goia Tellechea Cairolli entre as belas da noite

Maria Izabel Tellechea e sua mãe Lila Franco Tellechea receberam os convidados em Uruguaiana Maria Tereza Marsiaj Pinto de Figueiredo, Claudia Silva e Maria Hilda Marsiaj Pinto

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DEU O  CHIC

Francielly Deon e William Soares casaram na Igreja Nossa Senhora das Dores e receberam mais de 400 convidados na bela festa organizada por Bettina Becker na Casa NTX

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As Agulhas da Noite: Sergio Pacheco assinou o lindo vestido da noiva e João Camargo vestiu o noivo

Leticia Dalpian apareceu de verde

A bela Luiza Conte Jardim chamou a atenção entre as charmosas presenças da noite Valdomiro e Rosimari Soares ajudaram a receber os convidados

O cardápio da noite na Casa NTX teve assinatura dos mestres Lucio Moraes e Marco Behar que capricharam nas escolhas gastronômicas Daniel Cauduro e a lindaPaula Bing Muller Cauduro em noite de festa elegante | 103


Aline Viezzer fotos rafael cavalli

Muitas convidadas prestigiaram a Rosa Carmina Boutique, em Gramado, no evento onde Neca Gonzaga deu dicas de como usar as joias Gold Chic com looks da loja. E ainda as terapeutas Clarice Mandelli e Lisiane Rossi explicaram as técnicas de rejuvenescimento de facelift e da transformação das Barras de Acess. As modelos vestiram peças selecionadas da Rosa Carmina Boutique para quatro situações: casual, trabalho, noite e festa. As joias escolhidas da Gold Chic Joalheria para esses looks ficaram expostas durante o evento.

Lenise Brun

Betina Lovatto apresenta a coleção para Ligia Ruggieri e Eleonora Zetler

Neca de Gonzaga e Mônica Tegner 104 |

Betina Peccin Tatiana Pasquale Juliana Iten e Camylla Pedrosa


Vera Ruschel

Andreia Coletto

Claudia Mejolado da Gold Chic e sua Equipe

Clarisssa Madelli e Lisiane Rossi Aninha e Bruna Oliveira

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Flavio Mansur de Pelotas

Flores brancas

Rafaella Adegas estava muito elegante no modelo assinado pelo estilista Sérgio Pacheco para a cerimônia religiosa de seu casamento com Flávio Tellechea Silva, na Paroquia Santa Teresinha. A recepção para 400 convidados, logo a seguir, ocorreu nos salões do Porto Alegre Country Club, com produção de Renata Hoff, que utilizou profusão de flores brancas nos arranjos, montou bares e lounges para distribuir o grupo jovem e uma maravilhosa mesa de doces de Neiva Buratto entre as escolhas de bom gosto. Maria Cristina Tellechea e Elizabeth Adegas, as mães dos noivos, ambas igualmente vestindo a etiqueta Sérgio Pacheco, eram só sorrisos e emoção. Entre as muitas presenças, Lila Franco Tellechea e a filha Maria Izabel, Giana e Angelo Bastos Tellechea, Maria Carmen e Roberto Bastos Tellechea Filho, Simone e Ronaldo Silveira, Virgínia e Sérgio Tellechea, Maria Luiza e Vinícius Cerqueira, Maria do Carmo Tellechea e Pedro Chaves Barcellos, Cristina e Alfredo Tellechea e outros tantos que brindaram com os noivos.

os noivos Rafaela Adegas e Flávio Tellechea Silva

Renato Nahas e Júlia Tellechea

Cléo Milani Carmen Fichtner e Anna Luiza Medeiros 106 |


Matheus Bortoluci e Tatiana Tellechea Silva

Luiza Castellan e Rafael Tellechea Cerqueira

Jaime Monjardim e Luiza Tellechea

Maria Cristina Tellechea e Elizabeth Adegas

Cristina e Alfredo Tellechea

A beleza de Simone Mansur Silveira | 107


Elas: RENATA SEVERINI, ROBERTA CIRNE LIMA, CELINA LAMBRE e TATIANA NOLL

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LIANE NEVES

por

DUDU NADIA VITORIO

Mariana Bertolucci fotos lenara petenuzzo


CARLA LUBISCO | 109


CLAUDIA e ROBERTA JALFIM

FLAVIA ASPESI SALTZ e CRIS ASPESI

MARIANA SIMÕES, JULIANA PEREIRA e JULIANA DAVIS

TÂNIA CARVALHO salpica uma beijoca

BÁRBARA SUCASAS POZZEBON e PRISCILA NUNES

DAN BERGER, sempre atento

VERA e MAURO LISBOA


RENATA VELLINHO BUSNELLO | 111


FERNANDA SICA

PEDRAM e SUZANA ZAMAN

ANA TOLEDO

ENA LAUTERT

RUI WILLIG

ZILA CASTELLARIN e MARCOS BEYLOUNI

FERNANDO KRIMBERG

JOSÉ ATALIBA ALVARES


DODA BEDIN e ANGELICA MARTINS | 113


Vitรณrio Gheno artista plรกtico

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