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S ET/OUT 2016 #18 R$ 10
por
mariana bertolucci
IVAN MATTOS Grace Gianoukas: humor gaúcho brilha na TV
ruy carlos ostermann
Sábio, sereno e inquieto, um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro fala sobre filosofia, a beleza da vida e suas eternas dúvidas
FABIANA FAGUNDES Flavia Araújo Santos, bom gosto e charme francês
FLAVIO MANSUR Estreia na Bá direto de Pelotas
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Tem novidade no Iguatemi: Aninha Comas Express. 2º PISO, EM FRENTE À ENTRADA DO PRÉDIO GARAGEM.
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Bá, que viagem
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Bá, que delícia
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cinema
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Bá, que imagem
Direção
Mariana Bertolucci marianaabertolucci@gmail.com Editora
Mariana Bertolucci Editor de arte
Auracebio Pereira Produção gráfica
Zottis Comunicação Revisão
Daniela Damaris Neu Comercial
Denise Dias denisebcdias@gmail.com Fone (51) 9368.4664 Editora do site da Bá
www.revistaba.com.br Letícia Heinzelmann leca_he@hotmail.com Marketing e redes sociais
Astral Marketing por Julia Cappellari Laks julia@astralmarketing.com.br Colunistas
Ana Mariano Andréa Back André Ghem Aline Viezzer Carla Leidens Carlos Mânica Claudia Tajes Cristiane Cavalcante Buntin Cristie Boff Fernando Ernesto Corrêa Flavio Mansur Heloisa Medeiros Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro Júlia Fleck da Rosa Lígia Nery Livia Chaves Barcellos Marco Antônio Campos Orestes de Andrade Jr. Silvana Porto Corrêa Tina Menna Veronica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno
Emoção e maioridade
A Revista Bá 18 acaba de nascer, mais responsável e independente do que nunca. Atingiu sua edição da maioridade fazendo jornalismo consciente, ético, colorido e feliz. Em nossa 18ª edição, festejamos a chegada de três novos colaboradores. Júlia Fleck da Rosa vai mostrar em sua coluna o que é indispensável para um verão cheio de charme e por dentro das tendências. A nutricionista gaúcha Tina Menna, radicada há anos em São Paulo e agora moradora de Vancouver, ensinará aos leitores da Bá que é possível emagrecer, se alimentar bem e ainda ser feliz. Flávio Mansur desembarca com sua requintada e atenta crônica social mostrando um pouco do que acontece de mais bacana em Pelotas e região. Nosso multitalentoso favorito, o arquiteto, publicitário, designer Henrique Steyer acaba de estrear no sedutor mercado das publicações impressas, ao lado da também autora da obra e publicitária Sílvia Koch. A dupla lança, no próximo mês, Uau!, um apanhado da obra e carreira do nosso estiloso colunista que vai encher os olhos de todos que gostam de design, emoção e experiência. Emoção e experiência não estão faltando nesta nova edição da sua Revista Bá. Sem temer as palavras e em uma narrativa tocante, Fernando Ernesto Correa volta à tenra infância e ensina que o amor tem diferentes dimensões. Não menos emocionante, a escritora e poetisa Ana Mariano também solta suas amarras em forma de lindos versos na página 26. Já de olho no calor, enchendo de alegria tropical e cores minimalistas, a Bá exibe um editorial de moda que respira conceito e transgressão. Obrigada, Edén José e Kauê Uminski, pelo styling e o make. Clarissa Londero pelas imagens de Guilherme Brenner, e Otávio Brod pela arte. Boa leitura. Mariana Bertolucci
Ilustração
Graziela Andreazza a revista bá não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos assinados. elas são de responsabilidade de seus autores. todos os direitos reservados. 6|
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foto da capa: tonico alvares
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tonico alvares
Capa
inspiradora
inquietaç Mariana Bertolucci fotos tonico alvares
Nascido na primavera de 1934, em São Leopoldo, Ruy Carlos Ostermann é um multimídia autodidata desde anos antes de a expressão existir. No extenso currículo estão projetos marcantes, duradouros e sempre exitosos em rádio, jornal, TV e na literatura. Com a mulher e professora de História, Nilse Wink Ostermann, teve os filhos Cristiane, Fernanda e Felipe e os cinco netos.
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ção
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Capa
Ainda não tinha tirado as calças curtas e já gostava de ouvir. Muito. Porque ouvindo percebeu que aprendia. Ele cresceu acompanhando o pai no Café Comercial, em São Leopoldo. Metia-se nas mesas dos grandes e ficava ouvindo: “Me impressionava com os assuntos. Percebi cedo que as pessoas têm limites e que algumas, que gostariam de fazer coisas com alta qualidade, não conseguem. Essa limitação, a exemplo, da dúvida, é outra qualidade humana que me parece decisiva”. Atento às pessoas, foi natural o caminho do reflexivo e curioso aluno do Colégio Sinodal das mesas dos adultos para o trabalho de repórter na Folha da Tarde. “Eu escrevia no café do meu pai e as pessoas achavam que tinha qualidade”. Os amigos adultos de ambos incentivaram Ruy a trabalhar no jornal em Porto Alegre. O candidato à vaga nunca tinha usado uma máquina de escrever ou entrado numa redação: “Era jovem e não sabia nada. O Maneca, que era o secretário da Folha da Tarde Esportiva, me disse: ‘Vai chegar um jogador de tal lugar e tu tens que pegar uma notinha com ele’”. Tempos em que o fotógrafo era álibi da informação. A foto do repórter ao lado do entrevistado era fundamental para acreditarem que a entrevista tinha mesmo ocorrido: “Falei com o jogador, voltei para a redação e comecei a catar milho. Terminei e ele me disse: ‘Tá contratado’. Fiquei perplexo. Esse foi meu início. Então fui sendo dominado pela redação e nunca mais parei”. Em 1962, entrou na Caldas Júnior, e na empresa trabalhou na Rádio Guaíba, 10 |
Folha da Tarde, Folha da Manhã e Folha da Tarde Esportiva. A ida para o Grupo RBS foi em 1978. É difícil que quem tenha nascido antes da década de 1980 e que tenha sido ou seja minimamente informado nas últimas cinco décadas não reconheça com facilidade o suave e límpido timbre da voz do Professor. A primeira cobertura de Copa do Mundo foi em 1966, pela Guaíba, na Inglaterra. Em 2014, cobriu seu 13° mundial. Nos anos 1970, tinha um comentário em horário nobre, pouco antes do Jornal Nacional, chamado 2 Minutos de Esporte. Em 2007, estreou como comentarista no programa Bem Amigos, apresentado na época por Galvão Bueno no SporTV. Durante 33 anos ininterruptos, comandou o Sala de Redação, sendo seu mais longevo âncora. A convite de Pedro Simon, foi eleito deputado estadual pelo Rio Grande do Sul duas vezes, nos anos de 1982 e 1986. No último mandato, foi secretário de Ciência e Tecnologia, e da pasta da Educação, no governo Simon. O cidadão honorário de Porto Alegre recebeu o apelido de Professor quando trabalhava na Folha da Tarde. Não apenas pelo impecável uso da língua portuguesa e pela clareza nos comentários, mas também por ser formado em Filosofia e ter dado aula no Colégio Israelita. Além de comentarista esportivo, âncora do Sala de Redação, cronista de Zero Hora, o jornalista também comandou por anos o Gaúcha Entrevista, programa diário e ao vivo da Rádio Gaúcha com personalidades da cultura. De 2004 a 2013, esteve à frente do projeto da Signi,
comandada pela filha Cristiane. Em uma década do talk show aberto ao público, Ruy entrevistou figuras como Eduardo Galeano, Ziraldo, Zuenir Ventura, Luis Fernando Verissimo e Deborah Colker. O resultado deste projeto está publicado em oito volumes da série Encontros com o Professor – Cultura Brasileira Entrevista. Amante da literatura, autor de 11 livros e patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, em 2002, Ostermann é um dos grandes nomes da geração de ouro do jornalismo nacional. Aos 54 anos de carreira, e 82 de vida, ele honra o apelido e ensina a cada lúcida resposta que você
lerá a seguir. Disserta prazerosamente sobre o papel do comunicador e as fraquezas humanas: “O comunicador tem que gostar do que diz e de si próprio quando fala. Não ficar surpreso que tenha pensado algo fora de propósito. Pelo contrário. Tem que se surpreender consigo próprio. Avançar. Isso é uma qualidade das pessoas e nem todas sabem fazer isso. Porque é muito difícil viver. Tentar se harmonizar a si mesmo. Com todas as veleidades, precariedades, problemas e insatisfações. Me parece que aí reside a sabedoria. Que não é saber coisas demais. É saber de si próprio”.
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Capa
E por falar em si próprio, quando pergunto sobre um possível livro de memórias, ele responde à risca como manda a própria cartilha, questionador e naturalmente flexível às mudanças de percurso: “Não. É justamente o que quero evitar. Acho pretensioso, sabe?”. Eu sorrio do excesso de modéstia do meu entrevistado. Ele me conta que está organizando um material escrito
e eu pergunto insistente: “Quem sabe mesclar esses escritos com a própria história, teacher?” Ele me devolve com a sábia dúvida: “Sinceramente. Não sei, pode ser que acabe fazendo. Ou quem sabe esse livro seja também de memórias. De qualquer modo, eu estou retomando gradativamente essas atividades”. Obrigada, Professor!
Revista Bá – É tempo... hein, professor? Sensação de dever cumprido total? Ruy Carlos Ostermann – É muito tempo. Olha, te confesso que muitas vezes tive dúvidas a respeito disso. Porque eu sempre fui exigente. E comigo tive um tipo de exigência que até me fazia bem, sabe? Me deixava orgulhoso de sempre achar que eu podia fazer melhor. E isso necessariamente me levou em uma direção surpreendente, às vezes, em que eu tive que explorar um pouco as circunstâncias, tive que me valer delas, impor algumas situações diferentes. Muitas vezes, eu tive que me submeter a uma situação contrária. E isso é exatamente a experiência profissional. Isso é a qualidade da experiência profissional. É tu saberes qual é o limite de um lado e de outro. E há sempre dois limites.
ção nas conversas das pessoas e gostava de sentar com os adultos e ouvi-los. Isso durante muito tempo parecia que era uma pequena extravagância razoável. Mas, por outro lado, depois eu notei que era uma exigência que eu tinha. Eu queria mesmo era não ficar conversando qualquer coisa, ouvir sobretudo as pessoas com qualidade pessoal e que pudessem imediatamente me alertar para alguma coisa. Então essa qualidade, digamos, de ficar alerta à realidade, isso é um traço da intelectualidade que eu gosto muito. Porque é exatamente onde tu estás com os elementos básicos da filosofia – por exemplo, a dúvida. A dúvida é essencial, né? Tu não podes ter certezas. As certezas são passageiras, substituíveis, e algumas são absolutamente desprezíveis. Então tu não podes te valer disso, mas por outro lado tu não podes deixar de passar por isso. É fundamental que tu entendas que tu estás te relacionando com uma coisa que te escapa ao controle e que, portanto, tu não tens certeza sobre ela. Essa incerteza é uma qualidade intelectual muito boa. Muito forte. As pessoas que não têm dúvidas são categóricas, são autoritárias e são
Em rádio, televisão e jornal, falando sobre futebol e cultura, isso te caracterizou como um comunicador muito eclético. Fala sobre isso. Eu sempre fui assim. Essa é uma característica que eu tinha desde menino. Eu tinha curiosidade, prestava aten12 |
menores. Tem que ter dúvida. E a dúvida muitas vezes é um atraso, porque, se tu não tivesses a dúvida, tu terias feito tal coisa. No entanto, tendo a dúvida, tu travaste antes e pensaste. E isto é exatamente a qualidade: pensar. Voltar atrás, dar uma volta. Ganhar tempo e, sobretudo, levar em conta as premissas, as alternativas que se colocam para a gente. Nunca entender que uma coisa é uma coisa. Uma coisa é uma coisa, e mais outras coisas, e outras tantas coisas. Isso me parece ser a grande qualidade que a gente tem que preservar sempre. E desde menino eu era assim. Foram esses amplos e diversos interesses aliados a esse temperamento curioso e interessado no humano que te levaram a buscar a filosofia? Sim, o primeiro curso superior foi a Filosofia. Jornalismo eu não fiz. Sou autodidata. Mas a filosofia muito cedo me chamou a atenção de que, se em algum momento eu pudesse de fato aumentar a qualidade da minha relação com as pessoas em geral, era certamente por essa linguagem que a filosofia oferecia. Com essa pergunta que ela propunha com naturalidade e com a exigência da linguagem que ela fazia. Tanto que, durante muito tempo, eu me lembro, algumas pessoas quando se referiam a mim diziam que eu era empolado. Eu sempre falava. Um querido amigo meu dizia: “O Ruy é a única pessoa que diz manteiga”. Ou seja, o “i” desaparece. Mantega, é claro. Mas eu não. Isso poderia parecer pretensioso. Uma tentativa de falar melhor, falar direito, mas sempre foi a característica que eu tive. E eu vivi sempre assim. Eu me relacionei com a primeira namorada assim, me relacionei com os meus primeiros amigos assim e segui minha vida depois, no jornalismo, exatamente assim. Ou seja, com curiosidade, com discrição e também com muito respei-
to. E isso exigiu de mim, por exemplo, muito mais do que eu poderia dar normalmente. Essa carência, digamos assim, foi exatamente o que me deu forças, me deixou insatisfeito. A incompletude das coisas, elas não se completam, elas ficam em aberto. E, por ficarem em aberto, elas são suscetíveis de tu as pensares mais. Tu não consegues ficar satisfeito com a resposta. A resposta é precária. E essa precariedade da resposta é exatamente o elemento motor do conhecimento. E sobre a primeira pergunta, do dever cumprido. É essa exigência pessoal que te faz eterno insatisfeito, no bom sentido? Sabe, a minha experiência nesses últimos anos é muito difícil. Primeiro porque eu me aposentei. E sentiu falta, né? Claro. Me aposentei, e esse é um erro que todos praticam, e eu já tentei fazer uma pequena investigação, sem dizer que estava investigando isso. Mas para verificar como as pessoas procederam dentro dessas circunstâncias. De ter de parar. A maioria não sabe fazer isso. A maioria fica procurando alguma coisa e não a encontrando e por consequência entristecendo, diminuindo de qualidade e assim por diante. Ou então reduzindo as suas relações. No entanto, é isso, e tão somente isso, que faz com que uma pessoa progrida, porque se ela se sentir satisfeita... Pergunta básica é a seguinte: satisfeita com o que, amigo? Com tudo? Todas as coisas? Não. As coisas não satisfazem. O mundo é incompleto, as relações são incompletas. As afirmações são imprecisas. Os deslocamentos das pessoas em relação a um assunto ou acontecimento são inevitáveis. Quer dizer, tu não estás no mesmo lugar sempre. Tu mudas sempre. Essa é a qualidade que eu acho mais importante. | 13
De que hábitos na rotina de trabalho tu sentes mais falta? O fato é que tu tens sempre uma dívida, digamos assim, sempre falta. Tu tens uma falta de alguma coisa. Às vezes, tu não sabes nem expressar completamente: “O que é mesmo que está me faltando?”. Mas algo está faltando. Há uma coisa incompleta, uma coisa que não se completa. É um ciclo da vida que vai mudando. Quando tu vês, tu estás metido numa situação que tu não sabes que tu serias capaz de enfrentar. E tu te obrigas a enfrentar. E isso é uma qualidade que o tempo dá. A pessoa fica, assim, não diria experiente, mas fica apta ao enfrentamento da dificuldade. Ela se sente bem. Ela não fica assustada com a situação e encara. O medo, por exemplo. O medo é uma vitalidade humana que tem que ser pensada. Muitas vezes, ele é imobilizador. Muitas vezes, ele joga a pessoa para fora. Mas, na maioria das vezes, o medo faz um alerta. Cria uma atenção especial. Tu percebes, por exemplo, que as coisas estão incompletas e podem ficar piores, mais incompletas ainda. Ou incompletas no sentido que tu não imaginas. Isso tudo é a experiência humana. Isso é rico. Isso é fantástico. Eu, por exemplo, quando comecei a estudar filosofia, me dei conta de que eu estava lidando com uma dimensão de mim mesmo que eu desconhecia. Eu não tinha noção disso. O fato de prestar atenção na conversa dos adultos e perceber que algumas coisas que eles diziam só eles eram capazes de dizer, e eu não, eu era só capaz de ouvir. Com o tempo, eu fui gradativamente incorporando essas indagações, digamos, vamos admitir, filosóficas em que eu não pensava simplesmente: a porta abre e eu vou. Não, não: por que a porta abre? Uma, tu já tens uma situação totalmente diferente. E ela abre para quem? Ainda mais. Essa humanidade que a cada instante a dúvida ressalta, traz de volta, põe a tua disposição e te exige. Isso é a qualidade que me parece que seja 14 |
essencial ao desenvolvimento intelectual e moral. As pessoas crescem dentro disso. Porque elas são exigentes e insatisfeitas. E a satisfação que elas têm é exatamente ter alcançado uma parte, mas elas têm plena compreensão de que é apenas uma parte. As outras virão. É uma espécie de postura humilde diante de si mesmo. Exatamente, porque há muitas pessoas aparentemente sábias, e que aparentemente conhecem quase tudo, ou viveram quase tudo. Mentira. Elas estão encenando para elas mesmas e para os seus amigos uma paródia. Alguma coisa que elas gostariam que fosse assim, mas não é. Essas incredulidades, digamos, que a cada instante tu tens que encarar, elas acabam determinando também o teu grau de maturidade, o teu crescimento, a tua grandeza. Eu gosto muito das pessoas que reconhecem as coisas. “Isso aí eu não sei”. Ótimo! É um ponto de partida. Não é um ponto final. É um ponto de partida. E tem verdade também, né? Claro. Então isso é uma conquista que o ser humano faz na sua vivência intelectualmente forte, e moralmente válida. Um ser humano que é devotado a si próprio, ele é devotado aos outros na mesma medida. E tanto valoriza nos outros qualidades quanto tenta de várias formas valorizar em si essas mesmas qualidades. Então isso é um crescimento da humanidade, é o crescimento da vida. Tantas entrevistas e gente que compartilhou histórias contigo. Tens lembranças de entrevistas e personagens que mais marcaram? Geralmente a entrevista tem várias frentes, ela se define de várias formas. Uma delas é a entrevista em si mesma, em que tu trocas opinião e observações, satisfazes e ponto final. A outra é a entrevista
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que tu tentas, que não fica completa e que fica pulsando. Como um dado incompleto. Que vai te exigir em algum momento. E tu terás que voltar atrás e tratar dele. Um dado da entrevista. E assim há vários tipos. Acho que o que mais me marcou ao longo do tempo foi o fato de que eu prestei atenção nas pessoas, compreende? Mesmo quando era uma frase ou duas, ela tinha a intenção de esclarecer alguma coisa. As coisas que eu pretendi fazer, as coisas que me meti a fazer, participei da feitura e assim por diante, elas todas têm em si uma qualidade, que não é nada de excepcional também, mas é a qualidade da atenção, do cuidado. E, sobretudo, da valorização. Eu já fiz muitas entrevistas que nem eram entrevistas. Numa noite, fui visitar a Mafalda e o Erico Verissimo. Fui levar algumas coisas que o Luis Fernando tinha que desenvolver e não tinha feito. Cheguei lá e ele estava dormindo. Aí olhei para a Mafalda e disse: “Mafalda, eu vou embora”. E ela disse: “Não, entra”. Sentamos na sala e o Erico me disse: “Ruy, fala do meu filho”. E eu respondi: “Mas, Erico, tu és a pessoa que mais conhece o teu filho”. E ele: “Não, eu às vezes fico em dúvida, eu às vezes acho que ele é outra pessoa e que eu que gostaria que ele fizesse aquilo ou assim”. Digo: “Olha, Erico, vou te dizer algumas coisas que eu penso: primeiro, ele vai fazer a vida dele, de acordo com os valores que ele tem, certo? Isso ele fará. Por outro lado, ele não vai imitar quase nada do que tu fizeres, por uma questão de respeito e de orgulho”. E ele concordava. Segui: “Por outro lado, ele vai ser um sujeito que vai pensar coisas importantes, mas não vai te dizer todas. Não é do jeito dele falar muito. É do jeito dele ficar quieto”. A Mafalda ria. E aí nós ficamos, eu, o Erico e a Mafalda, conversando uma noite toda sobre o Luis Fernando. Sem que a gente pudesse avançar muito mais do que isso aí. Porque o Luis Fernando sempre foi 16 |
enigmático, fechado, não abria muito. E é meu querido amigo. Estava lembrando disso agora que estávamos conversando. É uma lembrança que veio dessa nossa conversa. Acabei me expondo a uma curiosidade de pai que eu, até então, não tinha imaginado. Existe alguma maneira de se expressar dentro da comunicação que te fazia brilhar mais o olho? Vou fazer uma observação pretensiosa. Eu sempre gostei muito de falar. Eu tinha o prazer de me ouvir e sobretudo em ver o efeito do que eu dizia junto às outras pessoas e em mim mesmo. Isso é uma qualidade que muita gente tem. Tem que ter um timbre de comunicação globalizado. Como tu és diante das pessoas. Estou falando contigo como eu falo com os outros. O assunto pode mudar, mas o tom com que eu vou falar, o grau com que eu vou me comprometer, é necessariamente, mas invariavelmente, o mesmo. Tem que ser. Porque, na verdade, as aventuras da linguagem são interessantes. Por exemplo, as pessoas muitas vezes formulam uma frase e aí se dão conta da audiência que ela tem, do grau de repercussão que ela tem. E até ficam um pouco embevecidas de terem chegado até lá. Isso é uma constatação da fala para frente. Das pessoas que eu conheci e com que lidei e com as quais eu tive que conviver necessária e agradavelmente. As principais são aquelas que têm a oralidade, que têm a presença física nítida, isso é muito importante. E aquelas que necessariamente passam por uma reeducação gradativa dessa relação, compreende? Gradativamente tu te educas mais para o contato com os outros. Nivelar por cima... Exatamente. E tu percebes que tu estás aquém de uma proposta. Tu estás abaixo do nível proposto. E tu não chegaste lá. E que tu nem sabes como chegar lá. Essa inquietação é maravilhosa.
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Isso é a dúvida, a dificuldade. Que faz com que a pessoa cresça. Todo aquele que se diz satisfeito morreu. Todo aquele que se diz insatisfeito está começando. Porque exatamente isso deve ir até o fim. Porque não tem outro modo de tu valorizares a tua relação com as pessoas, e valorizar sobretudo a tua presença diante das pessoas, senão através desse reconhecimento. De que tu és uma peça importante, mas não a única. E que as outras peças são importantes, mas não as únicas. E que tudo isso que está incompleto, é isso que é a vida. A curiosidade com as pessoas é a parcela melhor da tua formação? Eu nunca me satisfiz em fazer outra coisa. Sempre ou fiz palestras, fiz ou dei entrevistas. Ou simplesmente passei conversando com os meus amigos animadamente. Isso é uma coisa. A outra é que o prazer e o interesse pela linguagem me fizeram como eu sou. Eu sempre procurei a oralidade. Eu sempre procurei o efeito disso sobre as pessoas e tentar identificar esse efeito. Eu sempre procurei de todas as formas estar à altura das outras propostas, fazendo sempre esforço de compreensão. E não me satisfaço nunca. Tanto é que eu, às vezes, acordo à noite tendo sonhado alguma coisa sem propósito e me dou conta, por exemplo, de que de algum modo, em algum momento, eu já tinha pensado naquilo. Daí eu fico com dois sentimentos que são ótimos e que são contraditórios. Um é de que eu talvez esteja me repetindo. Até no sonho... É. Repetindo. E isso não me deixa muito satisfeito, porque eu gostaria de avançar. Por outro lado, essa exigência que eu me coloco logo depois me satisfaz bastante. Ou seja, eu não estou acomodado à situação que está agora. Eu quero outra, mais adiante. Isso é fundamental. Eu acho que tu consegues viver melhor, na medida 18 |
em que tu fazes isso, tu também ficas mais humano, mais próximo do erro. Mais próximo do acerto, mais próximo do início, mais longe do fim e assim por diante. Essas qualidades caracterizam um ser humano, como eu me considero, ou seja, um sujeito que consegue se expressar e que procurou usar todos os recursos dele. Viste muita coisa mudar, da máquina de escrever para o computador e o celular. Tens alguma nostalgia de tempos atrás? Sim, vi muitas mudanças. São muitas coisas. Uma das coisas que vez por outra me deixa parado, observando, é a letra. Escrever à mão. Lá pelas tantas, eu vejo que estou fazendo um poema. Digo: mas vem cá, que que estou bobeando com poema? Mas na verdade eu estou exercitando a letra. E a letra é uma coisa muito própria, próxima. Parece que assim sai de ti. Ao contrário de uma coisa que seria mecânica, distante. Não, ela é próxima. A letra na mão. Bem na frente. E não porque ela exige, porque esta é a condição. E coisas que te fazem pensar “que bom que estou nesse mundo para ver isso”. Algo que mudou para melhor... Dentro dessa experiência toda que relatei para ti, me leva na direção de valorizar algumas coisas importantes, que ao longo do tempo foram se consolidando. Uma delas é a letra, a palavra. A outra, por exemplo, é toda a escrita sobre as mais variadas formas. Ela significa um prolongamento de ti pelos teus dedos, pelo teu olhar. Pela tua voz. E isso exatamente me parece ser também a possibilidade que tu tens de fato de superar limites habitualmente claros. Então presentemente eu noto que os jovens estão lendo menos e estão vendo mais caracteres nos seus equipamentos. E isso não é bom. E o jovem vai ter que descobrir isso. Essa é a descoberta
dele. Eu duvido que uma escola seja capaz de levantar essa dúvida e persistir com essa dúvida. Porque ela é extremamente audaciosa e voraz. Não dá para fazer isso assim com facilidade. Tem que se fazer com calma. Então eu acho que à medida que as pessoas vão se dando conta de que algumas coisas são definitivas e outras não. E que as definitivas parecem ser definitivas, mas nem todos têm certeza. Sempre gostaste de compartilhar conhecimento. Como nasceu o apelido de “professor”? Eu fiz vestibular para Filosofia. Aliás, fui terceiro colocado na UFRGS. Fui estudar filosofia e já lecionava, então o apelido de professor foi natural. De toda a redação, talvez eu fosse o único que dava aula. Iniciei no jornalismo. Depois que fui fazer vestibular. A descoberta pela filosofia foi bem circunstancial. Sempre tive muitos amigos e sempre convivemos muito e era muito divertido. Com eles eu mantinha uma conversação intensa, eu gostava, e a exigência da conversação é que levou aos assuntos que normalmente faziam o grupo se associar. Isso é uma coisa de que nem sempre as pessoas se dão conta. Tu és muito a tua formação próxima, tu és muito o que de algum modo tu convives. Eu ficava muito satisfeito de conversar e de ouvir. Sobretudo de ouvir. E a filosofia, como foi escolher e o que mudou na tua vida? A filosofia para mim é fundamental, e eu tenho até hoje uma relação de parentesco com ela. Com a filosofia, recuperei a linguagem e suas exigências maiores. Defini assuntos que de outro modo eu não cogitaria. Mesmo o cinema, para dar o exemplo de uma das primeiras experiências, ele ficou numa tonalidade diferente tendo em vista a filosofia. Passei a ter uma exigência da concepção de mundo, das relações humanas que a filosofia exigia. E eu, em
consequência, tive que dar respostas. E isso foi uma coisa que me ajudou a vida toda. Eu, toda a vida, fui assim. Eu sempre falei como estou aqui falando contigo. Sempre. Eu nunca falei menos do que estou falando contigo, talvez tenha acrescentado algumas coisas. No geral, a exigência da linguagem, se é que se pode dizer assim, sempre foi a mesma. E isso eu devo à filosofia. Ela foi indispensável. A filosofia te deu mais respostas ou mais dúvidas? As duas coisas. Tanto as respostas aumentaram quanto as indagações aumentaram. É normal. Eu ainda fiquei muito insatisfeito com a minha relação com o mundo à medida que eu compreendi que ele era assim ou assado. Eu não podia admitir, por exemplo, que certas coisas as pessoas entendessem como definitivas, e elas na verdade eram transitórias, precárias, simples. Isso era importante recuperar a cada instante. E isso a filosofia tinha me ensinado. E nunca me deixou de ensinar. Mesmo com os meus netos, por exemplo. Eu, vez por outra, me dou conta de que eu estou falando de alguma coisa que remete para a filosofia. Não que seja a filosofia, isso não. Mas que remete para a filosofia. O Vitor, por exemplo, que é um dos meus netos, ele tem uma cabecinha privilegiada. Então eu sento com ele aqui e ficamos conversando, e ele lê jornal e quer conversar comigo a respeito de uma ou outra coisa. Eventualmente, ele põe a cabeça na minha perna aqui, fica como se estivesse dormindo, mas na verdade conversando comigo. Isso, exatamente, é uma qualidade que eu soube desenvolver, eu soube valorizar e sobretudo eu cuidei de que ela realmente estivesse sempre à disposição das pessoas. Não só de mim. Das pessoas. E isso a convivência acabou registrando. Hoje eu sou amigo dos meus amigos, é apenas uma compreensão do mundo mais acentuada. | 19
Voltando para o futebol, que absorveu a maior parte da tua carreira. Como foi isso? Era uma situação de dupla face, né? Primeiro era a exigência que faziam para mim. E segundo porque de fato eu entendi que ali eu podia dar uma contribuição boa. Hoje, por exemplo, se alguém disser que eu sou um cronista esportivo, ele não deixa de ter razão, mas acontece que eu não sou só isso, né? Pelo contrário, a condição de ser cronista esportivo me remeteu para um universo todo das relações. Como te sentias, filósofo e culto, no meio de futebol todo esse tempo? A exigência para dar nível a uma conversação de qualquer gênero, não só sobre futebol, ela tem que ser feita. Ela não nasce naturalmente. Eu gosto muito de conversar com pessoas a respeito do futebol porque é surpreendente o que elas pensam. Elas na verdade não chegam a pensar, elas se deixam emocionar. Isso é diferente. Uma coisa é ter emoção de alguma coisa. Formidável. Mas é só isso? O que está faltando? Está faltando o grau de compreensão que isso determina. Mas não a compreensão pretensiosa em que tu intervéns e travas uma conversação para colocar ali alguma coisa mais reflexiva. Não. A reflexão tem que nascer naturalmente das coisas que tu estás conversando. E isso no futebol, por exemplo, é talvez a grande carência hoje. Hoje e há tempos. Uma reflexão sobre ele mais calma e que determine tanto seus limites quanto suas grandezas e estabeleça a distinção desta atividade e de outras, e que fique no fenômeno humano do jogo. Para colocar ali dentro exatamente o fenômeno das grandes exigências pessoais. Isso não é fácil. E isso é o que tem que ser feito, porque, se tu tiveres essa compreensão, avança muito. Sentiste necessidade de escrever mais sobre outros assuntos que não futebol? Isso 20 |
é uma possibilidade e eu cheguei a exercitar isso. As entrevistas que fiz na rádio com personalidades da cultura, sobretudo, e da política. Ali era uma tentativa de ir adiante da entrevista. De ir adiante, ir ao limite da conversação. De colocar uma questão mais de fundo. Eu me lembro que vários amigos meus que, depois de conviverem comigo no rádio e trocando ideias e conversando e tal, eram capazes de revelar uma coisa bem simples, mas para mim maravilhosa: “Eu não tinha falado disso antes”. Ou seja, suscitou-se, deu-se possibilidade numa conversação de que o outro lado, que normalmente não aparece, também viesse e fosse surpreendente. Isso é uma coisa maravilhosa. Porque essa é uma conquista, né? Não é um acréscimo, não é uma subtração, é uma conquista, é um avanço. Uma saudade da rotina antiga? Estou procurando retomar essas coisas todas de uma forma mais aberta. Mais eu mesmo diante das coisas. E não tanto eu correspondendo ao que estão me pedindo, isso ou aquilo. E isso é difícil. Porque tu tens que preterir certas coisas. Chegaste a te arrepender em algum momento e achar que deverias ter adiado a aposentadoria? (Risos) Não, não. Eu também fiquei doente, não é? Tive um problema cardíaco relativamente sério e tive que parar. E a parada coincidiu com a aposentadoria. Então aí as duas coisas se combinaram. Não é a melhor combinação. Porque, na verdade, uma deficiência minha eu acabei colocando como uma circunstância. Não devia ter feito isso. A gente é escolhido e tem que responder. Essa é toda a questão. A resposta é uma exigência que a vida faz para a pessoa. Quem fica aquém disso não se intromete nas coisas, não quer saber, acha que não é bem o padrão de preocupação que ela deve ter. Essa pessoa está vivendo menos e vai viver cada vez menos, e isso é ruim.
Algum projeto? Eu estou tentando organizar um livro. Um livro em que faço experiências de texto e também algumas experiências existenciais minhas. E a tua passagem pela política. Te desencantou ou apenas o jornalismo falou mais alto? Aceitei o convite do Simon para concorrer. Fui eleito, reeleito e secretário de Ciência e Tecnologia. Depois substituí um amigo na pasta da Educação. Foi uma experiência muito dura, difícil, áspera, ácida. Eu fiz o que pude. Tu tinhas dom de gestão? Sim. Sempre tive. Mas é que é uma situação tão ambígua, que, se hoje tu prestares atenção, como é que está a educação? Nós estamos há muito tempo em uma situação de deficiência, numa situação deficitária. Então tu vais ser secretário numa área dessas, como é que tu vais fazer? Tu não consegues alterar basicamente o que está sendo feito. Tu não consegues acrescentar um dado inteiramente novo. Tu tens de certa forma que repetir. Isso é frustrante. Me desgastou e voltei para minha carreira. Como tu percebeste todo esse processo de impeachment? Estamos vivendo um ano político muito difícil. Tivemos a experiência do Lula. Duas gestões dele e mais duas da Dilma, e com isso o PT e a sua experiência básica, que era uma tentativa de participação da comunidade menos favorecida nos processos todos. Isso tudo ficou muito difícil e complicado e acabou redundando em um grande erro geral. E nós estamos vivendo esse erro agora. Estamos em um governo sem recursos, estamos com uma perspectiva muito escassa pela frente. Os partidos políticos praticamente perderam a sua palavra. Hoje, na campanha eleitoral, omite-se o partido. Com toda a crise que se está vivendo, o partido acaba derrubando. Fico com
uma pena brutal de quem está chegando agora para começar a tomar as suas decisões pessoais, porque não tem um critério. Não tem uma situação favorável. Há uma precariedade geral e moral e isso é o momento político. Este é um momento em que todo mundo está se perguntando: o que se pode fazer? E, de uma certa forma, nada. Do que sentes mais falta da juventude? Sinto da ingenuidade. Perdi. Fui perdendo e isso é a falta que eu tenho. A gente fica, digamos assim, esfolado. Esfolado é bem a palavra. E o que é bom do amadurecimento? Muitas coisas. Temos uma maior compreensão das coisas. Uma maior velocidade de intervenção dos processos. Entendemos tudo com mais naturalidade o que está acontecendo e basicamente ficamos com a vantagem de poder viver com intensidade sem nenhum remorso. Algum fato marcou mais em todas as coberturas de Copa do Mundo? Em Roma, na Itália. Eu fui levado a um saguão. E todos estavam em torno de mim e eu não estava entendendo bem o que era. O Luis Fernando Verissimo foi o designado para falar comigo. Faltavam uma ou duas rodadas da Copa da Itália. E ele me comunicou que minha mãe tinha morrido. Eu tinha levado meu filho Felipe comigo. Tive que abraçá-lo, consolá-lo e dizer que ele ficaria e que eu voltaria. No dia seguinte, eu estava no aeroporto viajando de volta. Essa foi uma experiência de Copa do Mundo. Cheguei depois do enterro. A carreira de jornalista sacrifica a vida pessoal. Que avaliação tu farias de como tu conseguiste te dividir entre carreira e família? Não consegui ser o que eu imagino que devesse ser. Me esforcei e até certo ponto me deixei levar por circunstâncias. Procu| 21
rei ser justo. Isso me parece uma qualidade das pessoas que elas não devem perder. O sentimento da justiça. Capaz de ser justiceiro. Eu não fico com tristezas e nem alegria, claro, porque ao longo do tempo da vida em que ela percorre uma longa tradição, que é o meu caso, por exemplo, ela vai te marcando fortemente e tu ficas assim, na verdade. E tu ficas reconhecido como um cara que faz isso, faz aquilo, e assim por diante. Ou seja, tu reconheces os teus limites e tentas conviver com eles. E fazes deles exatamente a tua orientação, o teu norte. Isso é muito difícil de fazer. Mas, ao mesmo tempo, só quem tenta fazer que tem direito a falar disso. Caso contrário, a maioria das pessoas tem fracassado e esse fracasso decorre do fato de que elas não conseguem ser o que deveriam ser. O que achaste das Olimpíadas no Brasil? Nós tínhamos uma situação extremamente complexa e até certo ponto assustadora, que era o fato de algum atentado ocorrer. E nossa situação sempre foi muito aberta. É preciso reconhecer que as autoridades foram exemplares. Não tivemos nenhum episódio dessa natureza. Nós tivemos tranquilidade para fazer as coisas. E isso inegavelmente é uma conquista. Eu fiquei orgulhoso pelo lado da conquista, da tentativa de superação daquele que habitualmente é brasileiro. Sem jeitinhos. Não. Dessa vez, as coisas foram feitas com critério e com segurança. E isso nos devolveu o orgulho outra vez. Será que vamos aproveitar todo esse legado? Espero que sim. Sim, se olharmos todas as vitalidades nas competições, percebemos que são setores ainda muito precários. A escola não aparece. Fiquei surpreso que os militares compareceram. São ganhos reais. Tudo isso à medida que se consolidar 22 |
um ganho da população, um ganho do Rio de Janeiro, aí já melhora um pouco. E aquilo que falam de que a Seleção Brasileira está de salto alto, não joga mais com alma? O futebol mudou muito, né? O que é preciso entender é essa mudança e em que direção ela vai. Então hoje, por exemplo, o grau de responsabilidade é muito alto, e o grau de resposta tem que ser também alto. E tem a questão da profissionalização. Ou seja, em que esses jovens são requisitados para os países mais variados, mais surpreendentes, a China, por exemplo. Então isso tudo vai ter que conciliar em um achado em que o futebol fique valorizado e que as novas gerações encontrem nele o grande fato importante de realização, o que muitas vezes escapa, porque são tão solicitados. É tanta exigência, que eles acabam perdendo um pouco. Trabalhar com o esporte faz com se perca o apego a um clube? As pessoas sempre te perguntam qual teu time? Sempre. E faz muito tempo que isso não se colocou como uma questão para mim. Dizem que perde a preferência? Não, não. Isso não é verdade. Isso é justificativa de quem quer ser torcedor. Mas se tu vais ser profissional dessa área, a primeira qualidade é equidistância. Tu tens dois, um e o outro. E eles estão separados. O que o jornalismo te ensinou? Me ensinou a viver. A compreender as relações. Avançar sobre mim mesmo. Me tornar mais razoável. E sempre me ensina mais. Eu não creio que estejamos vivendo uma crise no jornalismo. Não. Pelo contrário. Há uma situação no jornalismo que se renova intensamente, e as pessoas têm que estar à altura de saber para que lado essa mudança está ocorrendo e o quanto ela é importante.
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3414.3108 / 51 3307.3594 / 51 9227.2815 eduardo@dududascaipiras.com.br www.dududascaipiras.com.br
Fernando Ernesto Corrêa
A dimensão do amor Está na moda medir-se estatisticamente tudo ou quase tudo. Os economistas e psicólogos estabelecem para qualquer problema ou situação uma escala que vai de 0 a 10, de 1 a 5 etc. Para o amor, contudo, essa medição não é aceita. É o amor, ponto! Sem adjetivos. Ele não tem medida; existe ou não existe. Eu discordo dessa simplificação e afirmo que também para o amor há uma avaliação quantitativa e qualitativa. Como não tenho mais idade para ser cínico, vou tentar explicitar essa posição que pode parecer ousada com exemplos marcantes de minha vida. Admirei mais meu pai do que minha mãe. Gostei mais da tia que me criou do que do seu marido. Afeiçoo-me mais com um irmão do que com os outros. Amo profundamente, mas de maneira diferente e em dimensão variada, os meus queridos quatro filhos e acho que eles sabem disso. Prefiro conviver com alguns amigos do que com outros. Todas as pessoas que amo começam com um 9, mas algumas poucas alcançam o 10. É isso mesmo, não admitir essa realidade é hipocrisia ou covardia. Por incrível que possa parecer, gostei mais da minha cachorrinha Gucci, que morreu recentemente, com a qual convivi por mais de 12 anos, e que me escolheu como seu “dono”, causando uma certa inveja na Silvana e no Ramiro, do que de certos seres humanos que me cercam. Aos três anos, a Maria, minha mãe, emprestou-me para sua irmã Fifina, que não tinha filhos, para passar com ela um fim de semana. Só saí da casa 24 |
dela 20 anos depois, já advogado. É evidente que esse fato marcante alterou profundamente minha relação com os meus pais biológicos. Criei-me afastado do seu dia a dia. Essa circunstância fez com que eu visse a Maria e o Ernesto de uma maneira diferente. Tive no meu pai um ídolo. Ele era culto e brilhante. Os presentes que me deu eram livros, especialmente de história antiga e filosofia. Embevecia-me com os artigos fantásticos que escrevia no Diário de Notícias. Minha mãe, por sua parte, vivia atarefada cuidando da casa e dos meus quatro irmãos. Como poderia eu não reverenciar mais meu pai? Em contrapartida, a tia Fifina zelava por mim como um cão de guarda. Tudo fazia para me proporcionar conforto e afeto no limite do possível. Meu tio Jones, entretanto, era um bom dentista, mas de pequena cultura. Era um simplório. Poderia eu deixar de amar mais a Fifina do que meu tio? A verdade é que, pela condição especial de criação que tive, dividi o amor de mãe com a tia que me abrigou, mas não dividi o amor de pai com o marido dela. Tive quatro irmãos (as duas irmãs já faleceram). O mais moço, Faveco, mandou-se daqui com menos de 30 anos, constituiu sua família e sua carreira vitoriosa na propaganda no Rio e em São Paulo. De lá não mais voltou. Lia, a mais velha, há mais de 40 anos foi para o Rio, acompanhando seu marido, Edgar, importante diretor do Grupo Gerdau. Há pouco, morreu lá. A outra irmã, Helena, casou-se jovem com um fazendeiro e
foi embora para São Borja. Voltou 30 anos depois, abandonada pelo marido e com cinco filhos. Chegou gravemente doente e morreu em poucos anos. O Paloca, por sua vez, acompanhou-me desde a infância de forma ininterrupta e carinhosa. Ensinou-me a ser gremista doente. Com ele joguei futebol e futsal por 30 anos. Aliás, jogávamos muita bola. Como ele tem problemas de visão, não mais vai à Arena, e com ele assisto na TV, sempre que posso, os jogos de nosso imortal Tricolor. Seria possível eu não amar um pouco mais essa doce figura humana e puro coração que é o Paloca do que meus outros irmãos? Nas diversas definições do Aurélio, há uma que diz que amor é o sentimento que pressupõe alguém a desejar o bem de outrem. Serve como uma luva na minha relação com os amigos. Eu tive e tenho vários amigos de quem gosto. Todavia tive um, o Mauricio Sirotsky, que eu amei mais que todos os outros no passado, no presente e no futuro. Ele era uma figura humana incrível e um companheiro excepcional. Ele é, ao lado do Ernesto, o meu outro ídolo. Por que estou aqui abrindo meu coração, praticamente desnudando
sentimentos que mantive encarcerados no meu íntimo? Porque tenho certeza de que vocês também possuem uma hierarquia quanto aos seus sentimentos de afeto, mas têm o mesmo constrangimento natural de senti-la. Não estou querendo que vocês digam a um filho que o amam mais do que a outro. Isso não é necessário e nem conveniente. O que desejo transmitir-lhes é que vocês não devem se sentir culpados por terem mais afeição, mais empatia, melhor relacionamento, mais amor em última análise, por um dos membros do mesmo grupo de pessoas. Isso é da vida real. Não há regra social que faça alterar nossos sentimentos. Aliás, ao contrário da expressão “amor, ponto!”, ele precisa ser alimentado pelo objeto de nossa afeição. A reciprocidade é um fator importante na sua gradação. Somos humanos, não somos máquinas que, adequadamente mantidas, geram sempre o mesmo produto. Temos nossas individualidades e idiossincrasias que merecem respeito. Não devemos deixar que convenções sociais aprisionem nosso coração. Aceitem essa verdade como eu, agora, a estou reconhecendo. Não é pecado ter uma escala para o amor.
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Ana Mariano escritora
Espera Num dia de azul e vento, desses que fazem setembros, nem sei mais há quantos anos, envolto em poncho de sonhos, partiste, buscando o teu justo. Preciso ir, tu falaste. Se mais tua boca não disse, teu jeito fez o pedido, e na meia-água da casa, no galpão de estrela e zinco, perdida de tua presença, olhando a curva da estrada, pensando em ti, sigo a lida. O tempo que tudo apaga nunca mexeu na saudade. Pergunto a todos que cruzam se não viram o teu semblante, e como se fosse uma cuia morna, de mão em mão, o acaso, cheio de baldas, vai me alcançando teus traços. Sei que caminhas descalço, sem teu poncho de vermelho. Farrapo, te chamam agora, na intenção de ofender.
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Mal sabem eles, vaidade é só penacho de pena. Do quero-quero a vontade se mostra mesmo é no grito, mas coragem é também quietude, no olho do furacão. A vida, velha carreta pesada de devaneios, há de trazer-te algum dia. Vivo ou morto, não importa, vais encontrar teu cachorro esperando na porteira. Perdoa se entretida na lida que me deixaste, assim, de primeira feita, eu nem te ponha reparo. É que embaixo do vestido, no coração que levaste, eu te carrego bem vivo, igual não tivesses ido.
CRÉDITO: CARLOS SILLERO
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bá, que delícia
Doce acaso Essa história começa quando Amanda fez um tour pela Europa. O visto expirou e, para não voltar para o Brasil, decidiu se matricular na faculdade de Gastronomia. Nunca tinha passado pela sua cabeça se dedicar a essa área. Por acaso, caiu de amores pela confeitaria: “Sofri para aprender, os franceses são duros e não esperam nada menos que o seu melhor. Era difícil alcançar notas altas e nada do que eu fizesse estava perfeito. Eles sempre queriam mais”. Foi assim que a aprendiz de doceira aprendeu diariamente a se superar. Se não imaginava dedicar-se aos doces, sempre foi apaixonada por eles: “Era curiosa para saber como os franceses conseguiam fazer os doces de vitrine, chegar naquelas formas, cores e texturas. Precisava aprender!”. E aprendeu. Todos os dias, Amanda estudava, pesquisava e tentava entender o mundo da confeitaria. Testando, fazendo e errando, e tentando de novo, como em tudo na vida: “O macaron foi o maior desafio. Levou quase três anos para chegar à receita que apresento hoje, usando ingredientes naturais atrás do melhor sabor”. Na opinião da chef pâtisserie, o de bergamota é sua maior miniobra de arte, porque a fruta tem tudo a ver com a região. Amanda divide com a Bá o aprendizado de um dos mestres, o Chef Fillat, que dizia que pâtisserie francesa se faz com produtos feitos pelo próprio confeiteiro. Fugir das essências artificiais nem sempre é fácil, mas Amanda não abre mão de colher e congelar a bergamota, para, quando não for a época da fruta, a matéria-prima não faltar. “Usar a fruta para intensificar um sabor é um processo mais difícil. Ao invés de abrir um pote de creme de 30 |
avelã e rechear um macaron, faça sua pasta de avelã. É assim que eu vivo a confeitaria. Procuro criar sabores que marquem mais do que o açúcar ou o leite condensado, que mascaram a delicadeza das frutas”. De volta ao Brasil, escolheu Canela. Cidade natal e onde aprendeu muitas coisas. Assim nasceu há quatro anos a Holic Pâtisserie. Em 2016, depois de encantar os turistas e cair no gosto dos locais, a loja foi ampliada, mantendo seu charme em mais espaço. Oferece pâtisserie em tamanhos mini, individuais e tortas de tamanhos variados. Além dos macarons, existe um mix de doces elaborados para festas e eventos sociais, com design moderno e sabores para diferentes paladares. O cardápio ganhou recentemente opções de salgado, como éclair de salmão defumado com limão siciliano ou tartelete de queijo branco com rúcula e tomate cereja no mel. A qualidade dos insumos faz a diferença. A farinha de amêndoa da Holic, por exemplo, é importada da Califórnia. “Usando produtos bons, o resultado é um doce inesquecível”, comenta Amanda. Esses detalhes são percebidos pelos clientes. Assim como a fava de baunilha. O doce de vitrine é bonito, então a estética é uma preocupação, que deve sempre ser aliada ao sabor. Olhos e paladares agradecem.
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thiane vecchio
Tina Mena Barreto nutricionista
Povo segue tentando emagrecer Quando eu era criança, em Porto Alegre, nos anos 1980, já ouvia as pessoas falando sobre dieta. A da lua e a do abacaxi são as de que eu mais me lembro. Já formada em nutrição e morando em São Paulo, duas décadas depois, vivenciei a era dos shakes emagrecedores e milagrosos em forma de gostosuras. Sem contar que a dieta dos pontos estava a mil pelo Brasil. Hoje, cheia de filhos e vivendo em Vancouver, no Canadá, tenho lido bastante sobre cardápios low carb e sobre jejum intermitente, entre tantas outras novidades que os estudos no mundo todo mostram. Emagrecer, emagrecer e emagrecer. Sempre e em qualquer lugar. O tempo todo. Então isso quer dizer que há mais de 30 anos tudo que aparece não tem funcionado tanto assim. Algo está errado quando a grande maioria das pessoas emagrece com algum modismo novo, mas não consegue manter o peso perdido. E é aí que está o problema: a manutenção de peso. Saber manter os quilinhos (mesmo nunca os amando) é quase uma dádiva, que poucos têm. Como nutricionista, ex-gordinha e apaixonada por cozinha, tenho como certo que deve existir muita coerência entre emagrecimento e vida normal. 32 |
E eu garanto que existe uma luz no final desse longo, escuro e arredondado túnel. Quem me conhece e me segue nas redes sociais sabe como sou repetitiva e insistente quando prego (ou defendo) a retirada de refinados e principalmente das farinhas dos nossos dias. Eles que nos engordaram e que não nos deixam emagrecer. E, enquanto tapamos esse sol com as tantas peneiras e modinhas que aparecem, nossas cinturas não param de aumentar. Aqui na revista Bá, quero explicar direitinho essa história. Fruto saboroso de uma longa jornada na profissão mais maravilhosa do mundo. A minha! Um beijo e até a próxima edição, Tina ; )
Decor Bá Fabiana Fagundes
arquiteta | mude@fabianafagundes.com.br
Gaúcha com sotaque francês Dona de um largo sorriso, ela é a simpatia em pessoa, mas suas qualidades vão além. Flavia Araújo Santos de Mello já é dona de uma história de vida que atravessa fronteiras, pois foi lá do outro lado do Atlântico que desenvolveu seus dons e encontrou-se profissionalmente. Ela cresceu assistindo encantada a sua mãe, Zelia França de Araújo Santos, misturar cores para tingir a lã com a qual confeccionava tapetes. Formada em Belas Artes e professora de tapeçaria, foi ela a grande inspiração de Flavia. Prima-irmã de Hugo França, artista que dispensa comentários. Perdeu sua mãe cedo e foi estudar fora. Teve uma agência de viagens, mas foi em 1991 que achou seu rumo na vida. Conheceu o português José de Mello e decidiu dividir a vida com ele em terras portuguesas. Vendeu sua agência no Brasil e lá iniciaram uma bonita história. Contratados por um grande grupo hoteleiro francês, em 1993 mudaramse para a França, onde dirigiram até 20 hotéis do grupo. Nos últimos 10 anos, ainda nesta empresa, o casal, que teve Rafael (15), esteve em uma unidade de Cherbourg. Ali perto, na mesma região, eles depararam com um pequeno “pedaço do paraíso” no coração de Cotentin Barneville Carteret, na costa noroeste da França, famosa região da Normandia. Flavia e José chegaram à conclusão de que ha34 |
via chegado o momento de alçar voo solo. Em 2004, compraram dois hotéis, o Hôtel des Isles e o Hôtel des Ormes. Compartilhando os conhecimentos de hotelaria, turismo e restaurante, eles transformaram os hotéis em referência de charme, bom gosto e qualidade na região. Ali Flavia deixou fluir o dom adquirido na infância com a mãe: brincando com propriedade com as cores e texturas, ambientou os hotéis dando a cada espaço seu devido conceito. O sucesso foi inevitável, os hóspedes se transformaram em clientes e desde então Flavia viu sua carreira como decoradora de interiores decolar – ela tem exportado projetos para o mundo inteiro, de Tel Aviv a Paris, de Lisboa a Porto Alegre. Seu apurado olhar vem cruzando fronteiras e encantando com seus ambientes de sonho. A demanda é tanta, que em 2012 a empresária abriu também a La Maison des Ormes, uma loja de objetos de decoração e também papéis de parede, tecidos e pintura para abastecer a clientela. Em frente à maison, Flavia tem seu bureau, onde faz seus projetos e dá consultorias. Sua característica principal são as combinações inusitadas e harmônicas de cores, que surgem não só em paredes, mas em texturas e objetos. Sua capacidade de detectar tendências e combinar os objetos mais ecléticos com extremo e refinado bom gosto é admirável.
Muitos dizem que Flavia tem suas origens brasileiras evidenciadas em seu trabalho. Nós por aqui adoramos o elogio. A mistura do contemporâneo com cores clássicas, atmosferas aconchegantes e lugares que não dão vontade de ir embora são outras características dessa gaúcha que vem deixando um rastro de bom gosto pela Europa. Como todo artista, Flavia é inquieta e está sempre procurando novos desafios. Já estamos à espera dos próximos capítulos dessa bela história sobre amor, arte e vocação. | 35
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Objetos e desejos Henrique Steyer
Uau! Entre a paixão e a razão Sabe aquele UAU! que tantas vezes exclamamos quando vemos algo diferente e inusitado? Isso pode acontecer quando vemos coisas boas ou coisas não tão boas assim. Cresci ouvindo a expressão “bah”, que pode ser usada nas mais diversas situações. Seja um “Bah, o fulano morreu” ou um “Bah, o sicrano ganhou na Mega-Sena”, tudo tem os dois lados da moeda. Nessa ótica, o design ganha mais vida quando nos rouba um sorriso fácil e surpreende pelo ineditismo. É o caso do arquiteto e designer Fabio Novembre. Ele desenhou coleções para grandes marcas italianas como Cappellini e Driade. Criou o par de cadeiras Him & Her para Casamania, uma releitura incrível da tradicional cadeira Panton, porém, sua versão tem nas costas a representação de corpos humanos nus. Isso é mais que releitura, é quase reinventar a roda! É Uau! Novembre me cativou mesmo quando visitei sua exposição na Triennale de Milão em 2009. Um trabalho cheio de emoção e sensualidade decodificado através do uso de simbologias e representações lúdicas. A exposição era dividida em dois estágios. Na
entrada, assumíamos o papel de espectadores de uma enorme flor, dividida em diversos espaços em um salão enorme. O resultado disso é quase um teatro onde podemos “assistir” aos demais visitantes circularem por dentro da obra ao longo do salão. No segundo estágio, nós assumimos o papel de personagens daquele teatro. Ao nos permitirmos entrar na obra e mergulhar no mundo de Fabio Novembre, percebemos que aquela enorme flor também pode ser interpretada como uma grande vulva, com seus pequenos lábios, grandes lábios e tudo mais que faz parte da anatomia do corpo feminino. Em meio a isso tudo, projeções de imagens e peças desenhadas por ele nos dão passagem para interpretar a obra das mais diversas formas possíveis. Aquilo não era uma simples apresentação de projetos por Fabio Novembre. Os diferentes espaços nos faziam, literalmente, penetrar naquela gigante vagina e conhecer um pouco de seu mundo, de seu processo criativo e de suas emoções. Novembre é um dos personagens mais interessantes do cenário italiano, sendo digno da atenção e reverência de todos que gostam do que é novo e repleto de conceito.
Ao mudarmos
o enfoque,
a perspectiva,
será
que a
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e a
paixão
razão...
mudam
... de lugar? Mas nem só no design de mobiliário se vê isso... Há artistas que constroem suas carreiras como um verdadeiro projeto de design estratégico, transformando aquele fato sobre o qual todos pensaram “Bah, que droga” em um ato digno de dizer “Uau!”. Sabe a expressão “Dar uma tapa de luva”? Nada a representa tão bem como a atitude do cantor George Michael no final dos anos 1990. Em 1998, ele foi preso em um banheiro público de Los Angeles depois de ser flagrado em atos libertinos com outro homem. Na verdade, o que ocorreu naquele banheiro de Beverly Hills foi uma armadilha montada por um policial à paisana, que visava prender homens que utilizavam o banheiro para encontros amorosos. O pulo do gato ocorreu seis meses depois, quando, após cumprir sua pena,
George Michael lançou o hit Outside, com videoclipe que mostra diversas cenas de pessoas com atitudes pederastas em locais públicos como se fossem imagens de câmeras de vigilância. Paralelo a essas imagens, são exibidas cenas de George Michael vestido com um uniforme da polícia dançando em um banheiro decorado como uma boate. No final do vídeo, dois oficiais do sexo masculino, pensando que não estão sendo observados, compartilham um beijo apaixonado. A música foi um dos maiores sucessos da época, e nos faz lembrar a letra de Freedom, tema símbolo da sua careira:
“I just hope you understand, Sometimes the clothes do not make the man” Bah, isso sim é Uau! |
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Repetindo o movimento Imaginei a cena toda quando ela contou que aos sete anos foi baliza no desfile do 7 de Setembro. De malha de ballet, pequena e altiva, repetindo o movimento: estrelinha, estrelinha, estrelinha, espacato: “Ali já sabia que era isso que queria para minha vida”. Encorajada pelos pais a seguir a própria essência, a educadora física e life coach Carla Lubisco festejou em 2016 os 40 anos de carreira. Pura essência e movimento. Entre um espacato e uma estrelinha, ela segue toda energia, sonho e determinação de dar inveja. Melhor, de dar exemplo. Foi criada livre. Pai artista, mente aberta e alma inquieta, a incentivou a buscar a felicidade e a enfrentar tudo de cabeça erguida. A mãe trabalhou com decoração e a irmã é a ex -bailarina e coreógrafa Anete Lubisco. Nessa cênica e criativa família, cresceu Carla. No curso de Educação Física, a olhavam torto. Até a alimentação saudável incomodava as pessoas em uma época em que os termos life coach, personal trainer ou fitness nem existiam por essas bandas: “Na hora é difícil, mas tive personalidade e acreditei nas minhas escolhas. Fazia sanduíche natural para lanchar e me chamavam de ‘chinelona’, pois o cool era comprar no bar da faculdade. Tudo me fortaleceu”. A rotina é dividida entre Porto Alegre, onde fica a maior parte do tempo, e o Rio de Janeiro. Além de divulgar em outras cidades o projeto Rota da Qualidade de Vida, em que dá dicas saudáveis que você pode espiar no @carlalubisco. Ávida por alta performance, ela não para: “Amo o que faço. Acordo pensando em novos projetos e nos meus alunos”. Sorte deles! MB
Trocaria Porto Alegre por... Já morei no Rio e concilio o trabalho aqui e lá. Trocaria por NY: astral, cosmopolita, com oportunidades e iniciativas bacanas na área da saúde e bem-viver. Define teu momento. Plenitude, o melhor de todos. Quase não consigo definir. Tenho equilíbrio, liberdade, saúde e o respeito das pessoas. Uma conquista suada. Sou grata e feliz. Sonho? Atingir mais pessoas, ajudá-las a se inspirar e a ter qualidade de vida. Um ensinamento? Meu pai me ensinou que temos que fazer bom uso de tudo. Do dinheiro, das pessoas, das informações e das oportunidades, sempre com ética. Fala da tua atividade? É maravilhoso participar da mudança. Me renovo a cada oportunidade que tenho de tocar as pessoas e de ajudá -las a mudarem. É o que me move, e ainda sou remunerada. É uma bênção. Um marco? No fim dos anos 1980, fui uma das responsáveis por trazer para o Brasil a cultura do personal trainer, a partir de vivências nos EUA. Criei uma das empresas pioneiras de saúde multidisciplinar no país, a Equipe Carla Lubisco. O que fazes no teu tempo? Preparo minha comida, medito, leio, tomo café com os amigos, visito a minha mãe. Coisas simples que me deixam feliz. Adoro viajar, comprar minhas coisas e descobrir novas culturas. Ações que mudam a vida? Diminua o ritmo, se conheça melhor e se respeite sempre. Tudo vai refletir na saúde e no estado de espírito. O que você come, pensa e as pessoas com quem convive. Opte pelo que te faz bem. Movimente-se. Existe atividade mais indicada para quem não gosta muito de exercícios? O indicado é cercar a pessoa de informação e ajudá-la a descobrir o que dá prazer, um olhar novo para o exercício. Um gesto simples e rápido para viver bem? Meditar. Por cinco ou 10 minutos. Ficar concentrado no presente. Respirar deixando os pensamentos passarem sem dar energia para eles.
pong
Além do som No casarão da Dinarte Ribeiro, onde hoje fica o Puppi Baggio, sob os carinhos da avó e dos tios músicos, professores e escritores, Ramiro Neves Macedo enterrava versos no jardim para transformá-los em tesouros arqueológicos. Filho da fotógrafa Liane Neves e de Tonico Macedo, a influência artística foi natural. Adolescente, só queria saber de skate e de rap, mas, depois de ganhar o primeiro Yamaha, o guri não largou mais a viola. O primo apresentou a bossa nova, mas o marco foi quando aprendeu Black Bird, dos Beatles: “Parece bem mais difícil do que é. Quis compor”. As primeiras criações misturaram acordes de Tom Jobim e palavras de Mario Quintana: “Comecei plagiando os dois (risos). Voltei a compor aos 17 anos, e aos 20 vi que era o que eu mais gostava de fazer – compor, tocar e escrever”. Depois de sete anos de música, há dois, ele criou o Pássaro Vadio, um projeto autoral com banda, e está saindo do forno o disco de estreia sob a chancela de Alê Siqueira. Hoje cidadão encantado pela Terra da Garoa, Ramiro é do time dos que têm certeza de que existe amor em SP: “Tem uma cumplicidade estrangeira e uma convergência para que os projetos aconteçam. Aqui somos mais momento e encontro, que ganham proporções maiores”. Embora sinta falta do surfe no mar, o talentoso artista pega uma onda intensa de música em solo paulista. É assíduo no Centro Cultural São Paulo, no Sesc Pompeia ou pelo Bixiga e a Vila Mariana, onde mora: “Quero ir além do pop e criar algo singular, com vida, pronto para encontrar o ouvido de cada pessoa”. Já foste além. Voa, Ramiro! MB
Inesquecível? O mês que passei na Indonésia em 2013 foi o mais feliz. Com pouco dinheiro e sem saber nada do país, conheci as ilhas de moto, comendo barato, dormindo em portos, balsas, nos lugares mais incríveis que já vi. Sampa? Senti um estranho conforto em SP. Vi shows incríveis de graça, conheci músicos, artistas, nômades. Entendi o que é ter acesso a metrô. Cada vez que saio de casa, posso me perder ou ser surpreendido, ou as duas coisas. POA? Sinto falta de não ter medo. Em 2014, havia serenatas iluminadas no cais e nos parques. Gosto de caminhar pelo bairro em que nasci e cresci, o Bom Fim. Desejo? Ter meu canto, quem sabe em SP, com estúdio, para produzir, compor e gravar. Levar meu trabalho autoral para a estrada. A música? A música, como a arte, é uma experiência de reflexão do tempo e do espaço, de expurgar traumas, amenizar dores. É vibracional. Junta-se com as experiências pessoais de quem ouve e ganha novos sentidos. Defeito e qualidade? Às vezes sou egoísta, mas também sou crítico comigo. Ídolo? Sou fã dos haicais do meu tio Paulo Neves. Ele é também um grande ensaísta, tradutor e letrista. Em 10 anos... Quero estar tocando. Pela Islândia, com uma banda incrível, com vista para montanhas de gelo. Ou no México ou no Bixiga, com a mesma paixão. O que seduz no teu trabalho? A honestidade das canções. Adoro refrões e música pop, e também música de músico. Sem gênero. Da neopsicodelia australiana ao Dominguinhos. Sintetizador e baião. Viva o tropicalismo. Mudança? Reforma no sistema político brasileiro e eleições, para tirar esse governo corrupto e golpista do poder. Que as pessoas entendam que ter acesso à cultura faz de nós mais críticos e evoluídos. O processo criativo é... Solitário e envolve insônia. Sou notívago, mas amo o sol da manhã. Produzo melhor à tarde, à noite e de madrugada. Se não bater aquele arrepio honesto ao tocar a canção, ela vai para o limbo das mais de 400 gravações de celular em que um dia farei uma triagem. mariana moraga
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Júlia Fleck Blogueira
Prazer, sou Júlia Fleck, blogueira de Porto Alegre fascinada por moda, beleza, viagens e gastronomia. Na coluna desta edição, divido com vocês algumas tendências e
Roubando a cena com glamour Quem está roubando a cena entre os talentosos estilistas gaúchos é Eduarda Galvani. A Duda tem se destacado na criação de vestidos de noiva e de festa. O estilo das peças costuma ser romântico, com flores feitas à mão, pedrarias, pérolas, rendas e bordados. Além das composições sob medida, a Duda tem roupas ready to wear no seu atelier. Para seguir: @ eduardagalvaniatelier
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lançamentos que vão bombar no verão. Me segue no insta @juliafleck e acompanha o blog www.juliafleck.com.br. Tem novidade todo dia!
Pompons por todos os lados Eles estão por todo canto! São os pompons, febre entre as fashionistas e sucesso na coleção Primavera/Verão 2016 da Dolce & Gabanna. Eles podem vir em bolsas, brincos, sandálias, chapéus, colares e dão aquele ar boho e descontraído para os looks. Indico os chapéus da Yosuzi, marca venezuelana queridinha de Anna Dello Russo, editora da Vogue Japão. Réveillon em Punta Del Este É lá que vão rolar duas super e badaladas festas. Famoso por reunir muita gente linda de todo o Brasil, o Réveillon Unique está na 4ª edição e ocorre na Praia Mansa. Já a 300 Al Mare Sunset Party (30/12) rola no Parador O.V.O Beach do Hotel Conrad. Para quem gosta de agito e bons drinques, a dica é imperdível.
Top hits do verão Além da super-reforma, o Press renovou o cardápio e está com uma carta de drinques simplesmente incrível! Separei um dos meus preferidos para vocês: o Violet Martini, receita da Carla Tellini. Ele é feito com: Licor de violeta (no Press é usado o monin, sem álcool) Suco de limão siciliano Gin Bombay Vermut Noilly Prat A bebida é servida gelada, com uma flor violeta, em taça tradicional de Martini.
Princesas contemporâneas Uma das mais tradicionais festas da sociedade gaúcha, o Catálogo de Brotos, do qual sou uma das organizadoras, completou 62 anos com uma edição mágica no Porto Alegre Country Club, em setembro. Após uma programação agitada de atividades durante o ano, as 27 catalogadas desfilaram
Laser Testei e aprovei: laser para tratamento do rosto. Estimula o crescimento de novas fibras de colágeno e funciona como um peeling profundo, renovando as camadas da pele. Ajuda no tratamento de manchas, poros, vasos, pelos e cicatrizes. É importante buscar um profissional qualificado. Minha escolha foi a médica Fernanda Nichelle, da Clínica MAC.
lindos vestidos na passarela do Country, cercadas por amigos e familiares. Como tudo que é bom, as gurias 2016 vão deixar saudade, mas sei que a amizade construída ao longo dos meses vai continuar, pois esse é o espírito do Catálogo, que deve sempre ficar vivo. Que venha a festa de 2017!
Loiro do verão by Jorginho Goulart Ficam em alta o loiro platinado, quase branco, e o loiro dourado. Outra moda são as mechas claras que contornam o rosto para iluminar a face, criando um jogo de luz para valorizar o rosto. Tudo isso sem raiz.
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Bá, que legal Carla Lendens de Gramado fotos cibele peccin
Containner Bistrot
Localizado em um ponto privilegiado, no coração da cidade de Canela, ao lado da Catedral de Pedra e junto ao Galpão Mãos do Mundo, o Containner Bistrot tem as cores e os sabores do verão. A característica marcante de sua cozinha criativa está presente em um cardápio leve e diversificado. Risotos, sucos e hambúrguer fazem companhia a um irresistível camarão thai, saladas e petiscos, que podem ser saboreados no final da tarde em um agradável deck. Durante a semana, o restaurante fecha às 19h, mas é um lugar superagradável para o almoço. Às sextas e aos sábados, a pedida é mesmo o fim de tarde. Vá sem pressa, escolha uma das mesas com cadeiras coloridas ou então aconchegue-se nos charmosos sofás colocados no deck. Uma cerveja especial gelada, um chope ou um espumante, tudo vai bem com os palitos de berinjela com queijo parmesão, que vêm em uma cestinha bem charmosa.
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Bistrô da Lú
Luciana Diehl Forti tem um sorriso daqueles que preenchem um ambiente. Gosta das coisas simples da vida. Em 2005, formou-se em Gastronomia pela Castelli Escola de Hotelaria, em Canela, e começou sua carreira sendo a “pupila” de Floriano Spiess. Por cinco anos, esteve ao lado de Floriano aprendendo tudo o que fosse possível sobre a cozinha de autor. Há cinco anos está à frente do Bistrô da Lú, um pequeno lugar na entrada da cidade de Canela. O restaurante é charmoso e os pratos são o diferencial. Clientes assíduos dividem as mesas e reservam lugares com antecedência, sabendo que ali será disputada a melhor gastronomia da região.
Primavera na Serra
divulgação
Com a primavera, a Serra Gaúcha fica ainda mais bonita. As ruas estão floridas, o sol demora mais a se pôr e as pessoas sorriem mais. Engana-se quem pensa que somente o frio e o inverno encantam os turistas. Os parques são uma boa pedida para quem vem nos visitar. Uma bela caminhada pelas ruas, ar puro, sol e calor e os restaurantes com mesas na calçada dão um charme especial ao final de semana. Visite Gramado e Canela, venha saborear as delícias das nossas cidades.
Santho Aroma
A Santho Aroma é uma boutique de aromas que há mais de 10 anos trabalha a alquimia dos cheiros. Criar um perfume é como uma dança. Encontrar a alquimia dos aromas é como um namoro com as notas olfativas e encontrar as combinações aromáticas perfeitas é entregar-se às emoções. Foi batizada de Ares de Gramado uma embalagem especial com os aromas que simbolizam as emoções que os turistas de todo o país vêm buscar em nossa cidade. O cheiro do inverno, o inconfundível aroma do chocolate, o cheiro gostoso da nossa flor símbolo, o cheirinho do outono e também a temporada de Natal, que tem um aroma todo especial. | 47
arte Ivan Mattos jornalista
Um dínamo chamado Grace Gianoukas
Vestida de aeromoça, Grace Gianoukas acolhe seu público à entrada do teatro para mais uma apresentação de Terça Insana – Grace Gianoukas Recebe, em Porto Alegre, distribuindo balas e desejando uma boa viagem. Poucos instantes antes, ainda no camarim, onde me recebeu para esta entrevista, a atriz de 52 anos parece em paz com sua profissão, sua vida pessoal e seu trabalho. Conheço Grace Gianoukas há pelo menos 30 anos. E o que sempre me impressionou em sua personalidade foram a alta voltagem de suas emoções e seu imenso talento como atriz. Trabalhamos e viajamos juntos, vivemos bons momentos em cena e fora dela, em conversas, mesas de restaurantes e na vida real em minha temporada paulistana. E posso garantir que, apesar de todo o humor e toda a graça, ela é uma dona de casa exemplar e mãe das mais convencionais. Tanta inquietação levou Grace a criar seus próprios personagens, seus textos e até seus espaços de representação. Se não houvesse um palco, Grace o criava, mesmo que fosse o exíguo vão de uma vitrine em uma porta giratória de um bar badalado na Alameda Franca, o Ritz. Grace desconhece empecilhos para se expressar. Tudo vira desafio e incentivo. O minúsculo palco do Espaço Off, em São Paulo, abrigou toda uma nova vertente de 48 |
gal oppido
humor genuinamente paulistano que emergia nos agitados anos 1980, tendo Grace ora como protagonista, ora como proponente dos espetáculos. Assim a atriz gaúcha, nascida em Rio Grande, estabelecida em São Paulo, foi ganhando fama e recolhendo aplausos e gargalhadas por onde passava. Foi Caio Fernando Abreu quem primeiro detectou o talento da amiga e enxergou o poder da pequena pônei, como a chamava, devido a sua baixa estatura. Caio espalhava artigos e crônicas pela imprensa paulistana antevendo tudo o que Grace se tornaria. A exemplo do escritor, Grace sempre circulou pelo lado underground da vida. Preferia a liberdade de escolha, o poder de criticar
e colocar o dedo em pontos nevrálgicos de temas polêmicos e distantes da mídia. Foi uma das primeiras a falar sobre as drogas e os vários vértices do problema, em um espetáculo que rodou o país chamado Não Quero Droga Nenhuma. Seu poder de observação extrapolava a simples denúncia. Grace ia mais fundo no tema, abordando a rede que amparava produtores e consumidores de drogas, conseguindo aliar humor e crítica feroz na mesma cena. Ela diz que esta sua característica vem da infância, como a filha mais nova de uma grande família, e que se achava sem opinião sobre as coisas. Cresceu observando, vendo tudo acontecer ao seu redor, e acabou devolvendo na forma de um dínamo de criatividade e humor corrosivo. Casou, teve um filho, descasou, viveu uma vida sempre entre os holofotes e o recolhimento criativo. Em 2001 se reinventou e criou uma nova maneira de fazer humor com o Terça Insana, projeto humorístico em que selecionou os melhores atores/comediantes de São Paulo e abriu caminho para todos os stand up comedies que viriam a assolar o país depois. Grace revolucionou a cena com personagens em forma de esquetes teatrais que variavam toda semana, durante mais de dez anos lotando teatros e rendendo muito trabalho para ótimos atores. Junto com ela vieram Marcelo Mansfield, Angela Dip, Ilana Kaplan, Otávio Mendes, Graziella Moretto, Roberto Camargo, Luis Miranda, Marco Luque, Patrícia Gaspar, entre tanta gente mais que hoje segue carreira no teatro e na televisão. Personagens divertidos e inesquecíveis, como Aline Dorel, Santa Paciência, Seu Merda, Xica da Silva Xavier, Betina Botox, Dona Edith, Vovó Arlinda, Irmã Selma, Madame Sheila, enfim, um elenco estelar de grandes personagens e criações que marcaram uma época. À sátira aos estereótipos e tipos humanos comuns, mesclavam-se assuntos
polêmicos, como drogas, tabagismo, alta sociedade e decadência, consumismo, modismos e toda a sorte de assuntos do cotidiano que se revezavam a cada semana. O trabalho era tanto, que Grace não tinha agenda para os constantes convites para atuar na televisão, aceitando apenas participações especiais. Em 2015, um convite para um teste na TV Globo e a proposta para reviver Teodora Abdala, em Haja Coração, atual cartaz das 19h, na Rede Globo, finalmente encontrou Grace em um período em que foi possível encaixar a exaustiva rotina de gravações de uma telenovela e a dedicação ao projeto com tranquilidade. Tranquilidade não é bem uma palavra que se adapte a Grace Gianoukas. Quando me recebeu para conversar no camarim do Teatro Bourbon Country, aproveitou para se maquiar, resolver problemas da produção, me apresentar seus novos companheiros e seu atual parceiro, Paulo Marcel, cinegrafista e produtor. Há dez anos, partilham amor e trabalho com a mesma intensidade e maturidade. Refere-se ao casamento anterior como “uma paixão quase adolescente”. “Paixões não dão certo, paixões são projeções”, complementa. “O sucesso também te traz muita solidão.” Com Paulo foi diferente. “Ele é um grande parceiro, um pai para o meu filho, um cúmplice, em uma relação de verdade, inteira”, arremata. Misturar trabalho e amor pode dar certo? Ela garante que sim. “Hoje ele é meu sócio e produtor na Terça Insana Produções, estamos em uma fase mais madura do projeto. Eu percebi que é possível amar um amor calmo, um amor de continuidade, não de matar a sede na saliva, descobri que existe paz no amar”. Grace parece ter se despressurizado. Menos agitada, mas sempre intensa, complementa o bate-papo que parece não ter fim. “A maturidade é ótima. Eu sou louca, mas eu convivo muito bem comigo”, conclui. | 49
eutenhovisto.com Jaqueline Pegoraro
Inverno suíço A montanha mais central da Suíça tem atrações para toda a família. Esqui e snowboard em mais de 82 quilômetros de pistas de todos os níveis, com 12 quilômetros de descida, motos de neve, snow park com atividades para todas as idades, tobogã e até um Igloo Village, uma opção de acomodação no meio da neve, fazem parte das atrações do Monte Titlis, localizado no charmoso vilarejo de Engelberg, na região do Lago Lucerna. A montanha, que transforma-se em um resort de esqui no inverno, fica a 40 minutos da cidade de Lucerna, a uma altitude de 3,02 mil metros. A subida para Titlis tem uma nova gôndola, chamada de Xpress, que faz o primeiro
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trajeto, de Engelberg até a estação intermediária Trübsee, onde fica o lago de mesmo nome. Essa é a etapa mais longa, que dura 30 minutos. Ao chegar em Trübsee, os visitantes pegam o bondinho giratório, que durante o percurso de cinco minutos até o topo gira 360 graus em seu próprio eixo, permitindo ter vistas espetaculares dos Alpes Uraneses! O Monte Titlis é legal para família, grupo de amigos, casal ou mesmo sozinho. Não faltam opções e atrações. No local, há uma edificação de cinco andares com lojas de souvenires e de chocolates, estúdio fotográfico, restaurante com deliciosas opções de comida típica e internacional e uma vista deslumbrante das montanhas nevadas.
Claudia Tajes
Tia X Moça Ah, se o homem que tenta há anos me vender um agulheiro na esquina soubesse que a tarefa seria, senão exitosa, ao menos mais fácil se a técnica dele fosse outra... Independente de eu não costurar por completa incompetência e de manter intactas as agulhas e linhas com que minha mãe um dia me presenteou (porque todo mundo precisa de um agulheiro para emergências, ela dizia), o homem já poderia ter me vencido pela insistência. Quando eu paro no sinal, mesmo que haja um Porsche ou uma Mercedes na rua, o vendedor me escolhe. Devo ser um desafio e tanto, nunca comprei um agulheiro, apesar dos milhares, talvez milhões de oferecimentos que me fez. O homem caminha meio caubói, pisando pesado, os braços ao longo do corpo. Nas mãos, os agulheiros em embalagens que imitam uma cestinha de costura. Encosta no carro e intima: – Vai uma agulha aí, tia? Somos da mesma idade, talvez ele um pouquinho mais vivido, para usar de um eufemismo. Desde que eu me lembro, esse homem sempre me
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chamou de tia. E vai ser muito difícil um adulto que nasceu na mesma década que eu me vender qualquer coisa assim. Água no deserto, talvez. Gasolina no meio da estrada. Um pastel na hora da fome. Mas não um agulheiro. – Vai uma agulha aí, tia? Não vai, meu filho. E fica aqui uma ideia. Ao se dirigir a prováveis clientes, tenham elas 30, 40, 50, 60 ou mais, procure usar os seguintes tratamentos: – Vai uma agulha aí, moça? Ou então: – Vai uma agulha aí, senhora? E ainda: – Vai uma agulha aí, companheira? E para garantir a venda mesmo: – Vai uma agulha aí, minha jovem? Com exceções, que elas sempre existem, as clientes não gostam de ser chamadas de “tia” por quem já saiu da infância ou da adolescência. É um cuidado simples mas eficaz, que talvez garanta mais sucesso nas vendas. Porque nos negócios, como na vida, tudo é uma questão de encontrar a abordagem certa. Ou, como se diz em português: de approach.
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Bá, que viagem
Docemente louca Multicriativa, ágil e atrevida, Brenda Bandeira tem 19 anos, é cantora, redatora e compositora. Faz dos seus dias comuns, especiais. Estuda na Famecos, trabalha na agência Morya. Entre os muitos desejos, o maior é ser e fazer feliz Embora seja difícil de acreditar, “Benda” um dia foi uma boneca calma e quieta. Se não estava comendo, estava dormindo. Ou vice-versa. Na adolescência, aflorou um rebelde espírito de liderança. Envolvida em várias causas na escola, não tinha um professor que não soubesse seu nome. Pelo bem ou pelo mal. Você também poderá ouvir falar dele: ela se chama Brenda, Brenda Band. “Fui bem rebelde. Levei bastante xingão e sabia de cor o caminho da sala do diretor. Mas era ótima aluna, mesmo com as idas diárias à diretoria”, recorda Brenda. De todas as histórias, a de que mais gosta é sobre o dia da morte da Cássia Eller. Assim que soube que a cantora havia morrido, a mãe de Brenda, Pitty de Oliveira, rezou para que ela protegesse a filha: “É dessa maneira que me sinto todos os dias, protegida por essas duas mulheres. Minha família se chama Mamãe, e ela é incrível. Desde pequena, conversa comigo o que a maioria dos pais guarda consigo. Sempre me colocou frente a frente com o mundo, com a realidade, sem censura. Essas conversas foram importantes para a formação do meu caráter e personalidade”. Pergunto como a música entrou em sua vida, ela responde com mais uma história dela e da mãe: “Ela pediu a um amigo para passar a tarde comigo, porque ela tinha uma reunião. Ele se chamava Eduardo Coelho e me levou para passar a tarde em um estúdio. Lá surgiu minha primeira canção. Depois dali, tudo que eu escrevia vinha com ritmo, har56 |
monia, nota e, na maioria das vezes, rima”. Aos 18 anos, começou a trabalhar na Loop Reclame, descoberta por meio de vídeos que postava na internet. Em janeiro deste ano, lançou o primeiro EP, intitulado Fofolk. O segundo se chamará Música Francesa. Sapeca, ela já adianta que a inspiração vai além do idioma cantado. Respira batida e referências musicais do país: “Não, não tem nenhuma música em francês” (risos). Docemente louca ou loucamente doce. Tanto faz. Assim vem acontecendo a carreira dessa talentosa jovem que se lançou mais como uma artista “virtual” do que nos palcos: “Não que eu não queira palcos, mas minha carreira vai além do musical. Estudo publicidade e trabalho em agência. Meus dias precisam de mais horas”, explica, bem -humorada Sincera e alegre, a vida já ensinou para a ousada menina que de um relacionamento pode nascer uma compositora e que compor ou ouvir música a faz sentir-se leve e livre. Ah, ensinou também que, se ela liga para as pessoas na madrugada, no dia seguinte, sente-se beeeem arrependida. Daqui a 10 anos, no inverno, pode estar perfeitamente em uma sacada de Paris. De olhos fechados. Com alguém incrível do lado. As amigas ou outro amor. O verão poderá ser em Nova York e o outono talvez em Porto Alegre, mas será ao lado de quem ela ama. Com o violão em uma mão e o papel e a caneta na outra. Cartagena das Índias é o lugar mais lindo
fotos lenara petenuzzo
que Brenda já visitou. Ela dá a dica: “Pegue uma Shiva, que são os ônibus de entretenimento. Nesses transportes, eles te levam aos pontos turísticos e tu vais dançando. É muito alegre, muito bom! Eles só querem saber de música e de te mostrar lugares incríveis”. Nas horas vagas, a multiguria escreve. Já tem um livro pronto, que chama de Doenças Crônicas e só as amigas leram. O que mudaria? A cor do cabelo? Empolgada e plena com o momento que vive, Brenda está realizada, cercada de projetos e pessoas interessantes em 2016, que
considera seu ano de mais conquistas. O coração dessa pequena grande sonhadora é dividido entre a música e a criação publicitária. Quando pergunto quem é Brenda e o que deseja da vida, lá vem ela: “A Brenda é tudo que ela quiser ser. Deseja estar sempre rodeada de amigos, com a cabeça funcionando direitinho. Brenda quer ser cantora, compositora e instrumentista reconhecida. Mas também uma redatora premiada. Quer ser uma grande amiga e uma filha maravilhosa. Espero que nada tente me parar”. Nós também! Go, Brenda Band. MB | 57
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Crônica Mariana Bertolucci
Sábias dúvidas Ouvir em silêncio as divagações de Ruy Carlos Ostermann sobre o frágil andar da vida humana foi um grande ensinamento. Uma aula aos ouvidos e ao coração no mês em que se homenageiam professores, crianças e mulheres lutando contra o Câncer. Sortuda que quase sempre fui, em extensa parte da minha carreira tive o prazer e a honra de dividir cafés, sorrisos, ideias e até mesa de bar com o teacher como carinhosamente o chamávamos. Agradável e exímio contador de histórias. Alguém que você admira pensando e sentindo o mundo de um jeito muito parecido com o seu. A essa identificação podemos chamar de exemplo e se formos adiante nessa gostosa sensação que é o aprendizado, a transformamos na recompensadora certeza de que valeu a pena. Porque o seu aluno deve estar tão aceso dentro de você como sua dúvida. Ávidos por novas respostas. É assim que temos que preencher o tempo
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enquanto vivemos. “Todo que se diz satisfeito. Morreu. Todo que se diz insatisfeito, está começando. Porque exatamente isso deve ir até o fim”, me comentou o insatisfeito Ruy. A minha professora de português da 4ª Série se chama Mara Monteblanco. Durante todo o feliz ano que estivemos próximas, ela nunca deixou de repetir o quanto eu era caprichosa, criativa, amorosa e esforçada. Nunca! Nem quando eu fiquei adulta e nos reencontramos em um ônibus e mais tarde, nas redes sociais. Ela nem sonha o quanto, mas meu
coração esquenta e meu sorriso pula da boca cada vez que vejo um recadinho dela. Mais mocinha (eu não ficava nunca, a menstruação veio aos 15 anos), aprendi que é inútil ficar obcecada por ter cabelo liso, se o seu cabelo é crespo. Que não tem como a gente serrar as canelas para ser mais baixinha e que mentir nunca vai ser uma boa opção. Que para ser espontânea, engraçada e popular basta ser criativa e generosa. Pessoas alegres e boas só atraem outras pessoas alegres e boas. Pelos 17, entendi, bem a contragosto, que gurias que ficam ou transam com vários guris são galinhas. E olhem que falta de coincidência e que injustiça, os guris que ficam ou transam com várias gurias são os garanhões. Alguns desses garanhões se acham ainda mais bacanas se transam a força ou agridem de outras formas as mulheres. Ter uma única melhor amiga é muito sem graça. Pois só coloca na mesma criatura a responsabilidade de dar as melhores risadas do mundo junto com você e uma panela de negrinho. Tive certeza nesse tempo todo que toda a nossa segurança (Todinha da Silva! Nas provas, na vida, no jogo de vôlei, na coreografia de ballet, na entrevista de trabalho e no sexo) depende do conhecimento, do incentivo e do amor que recebemos dos nos-
sos pais e dos nossos educadores. Chegou na hora de querer mudar o mundo, escolhi escrever para transformar. Idolatrei e persegui meu ofício. Escolhi fazer jornalismo feliz e consciente. Sem alegria, nossa profissão é pó. Rígida e áspera como pedra. Perdi a vontade de casar de branco, e de qualquer outra cor, quis muito ser mãe. Fui. Entendi que é melhor falar de menos do que demais e que nem todas as pessoas pensam e sentem da mesma forma que nós. Nas mudanças, encontrei recomeço. Nas pessoas, aconchego. Na realidade, desesperança. Nas palavras, desabafo. A maturidade, como diz o teacher, nos rouba lentamente a pureza e atravanca o metabolismo, mas nos ajusta cada vez mais a mira para as dúvidas. Sábias dúvidas.
tonico alvares
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Cristie Boff
Designer e Artista Plática
Entre arte e moda O Museu Salvatore Ferragamo apresenta uma mostra que aborda o tema “A moda é arte?”, analisando a complexa relação entre esses dois mundos: contaminação, sobreposição e colaboração. Um projeto interessante, com vários estilistas que se inspiraram na vanguarda artística do século 20. Mas hoje a pergunta é se ainda se pode falar de dois mundos diferentes ou se estamos lidando com um movimento fluido e recíproco. A exibição é em Florença, no museu Salvatore Ferragamo, até o dia 7 abril de 2017.
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Andréa Back
publicitária e jornalista
As mãos do Brasil
Fazer com as mãos: o alimento, a moda, o objeto. O domínio da técnica, a produção autoral, o uso da matéria-prima local, o produto único, a relação pessoal com o consumidor. A sociedade reconhece cada vez mais esses valores, e diferentes iniciativas país afora vêm transformando o handmade em desejo e dando visibilidade ao artesanato brasileiro, graças a gente criativa, comunidades, redes e eventos. Rede Manual Uma plataforma digital, criada pelas paulistas da Floristas Produções, reúne artistas, designers, artesãos, pequenos produtores, propiciando negócios e informação. Mas com uma linguagem afetiva, conhecendo suas histórias, conectando pessoas. 62 |
Patricia Toledo, uma das sócias da iniciativa, destaca a diferença entre um produto feito de forma independente e pessoal e aquele industrializado: “Quando a gente fala em mostrar o valor do trabalho manual, falamos em consumir com consciência. São produtos feitos por pessoas que colocam um pedaço delas naquilo que fazem. Se você se identifica com o produto, não vai se desfazer dele daqui a alguns meses”. Além da rede digital, as meninas da Floristas, em parceria com o Museu da Casa Brasileira, realizam semestralmente o Mercado Manual. Um evento já consagrado, meio festival, que reúne oficinas, venda dos produtos e atrações musicais e para as crianças. Tudo com o objetivo de incentivar o empreendedorismo criativo e o fazer artesanal.
Porto Alegre feita à mão Esta cultura de “desindustrializar” está efervescente aqui para estas bandas também. Eventos periódicos como Junção Makers, Mercado Criativo, Feira do Bacano e Open Feira de Design são alguns dos indicativos promissores. Em comum, a exaltação ao consumo consciente, de produtos que contêm histórias e com os quais a gente se identifique. A abertura de espaços para criadores mostrarem seu trabalho e para incrementar a cultura e a economia locais. E a intenção de promover uma opção bacana de lazer, com gastronomia, arte e compras ao ar livre. Para melhorar, os eventos estão “espalhados” pela cidade: o Junção no 4º Distrito, o Mercado Criativo no Bom Fim, a Feira do Bacano na Zona Sul e a Open no Moinhos. A Zona Sul ainda foi agraciada com dois espaços permanentes para a comercialização de produtos desenvolvidos por artistas e artesãos. A Pra Presente trabalha com objetos produzidos a partir de materiais rigorosamente escolhidos e artesanalmente
produzidos. E ainda fica junto ao Iaiá Bistrô, restaurante de comida brasileira cujo cardápio segue esse mesmo critério. E recentemente foi inaugurada a Contextura na Tristeza, um atelier/loja onde se encontram design, artesanato e moda. Confere as fanpages, te agenda, visita e não perde a oportunidade de participar desta buena onda de coletividade, arte e sustentabilidade. Mercado Manual: www.facebook.com/ redemanual/ Junção Makers: www.facebook.com/ events/1199724173425864/ Mercado Criativo: www.facebook.com/ events/1065624533531163/ Feira do Bacano: www.facebook.com/ Feira-do-Bacano-1493235757637329/ Open feira de Design: www.facebook. com/openfeiradesign/?fref=ts Pra Presente: www.facebook.com/ arteprapresente/ Contextura: www.facebook.com/ AtelierContextura/
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OutBá Nova York
Poder e amor em dobro Ao lado do marido, Paulo Uebel, Mariana Pedrini Uebel está morando em Nova York, dedicada ao novo projeto, o blog NY Times Kids, onde divide a experiência de morar em NY e cuidar de Stella e Gabriela, de um aninho Psiquiatra especialista na área infantil, com doutorado em Psiquiatria pela UFRGS e pela Columbia University, como se não fosse demais, além de ser mãe de gêmeas, Mariana continua fazendo pós-doutorado pela Unifesp, onde é pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Neurociências e Cognição. A mudança para a cidade que não dorme foi em função do trabalho do marido: “Com o blog, concilio meus papéis mais importantes: ser mãe e ajudar as pessoas”. As gêmeas nasceram quando o casal de gaúchos ainda residia em São Paulo, e ela retomou parcialmente as atividades no consultório apenas duas semanas após o nascimento das bebês: “Poder passar mais tempo agora com elas, em uma fase tão especial, tem sido fantástico”. Antes de se casarem, de 2011 a 2013, eles já haviam morado em NY, quando ela iniciou o doutorado na Columbia. O bairro escolhido foi o mesmo nas duas temporadas: o delícia Upper West Side. As macarronadas de domingo na casa da nona, ela pequena, acompanhando o pai médico nas visitas ao hospital, o Anchieta e os amigos do condomínio estão entre suas melhores lembranças e maiores saudades: “Quando as amigas marcam encontro pelo WhatsApp, ou nas datas especiais como casamentos e reuniões familiares, a vontade de estar em Porto Alegre fica ainda maior”. No blog, Mariana troca muitas informações e experiências sobre o universo da ma64 |
ternidade: “Aprendo muito com elas e tento relacionar o que observo, nos momentos que passamos juntas descobrindo a cidade, com o que trago da minha formação acadêmica sobre o desenvolvimento infantil”. A ideia de disponibilizar esse prazeroso e abundante conteúdo é que ele sirva de inspiração e ajude os pais no desenvolvimento saudável e feliz de seus filhos. O maior ensinamento vem de dois professores de psiquiatria: “Salvador Célia e Odon Cavalcante me ensinaram que o desenvolvimento dos primeiros anos de vida é decisivo para a criança. Especialmente para a saúde mental, investir em prevenção na primeira infância faz todo o sentido e tem um impacto fantástico para a sociedade”. Organizada e prestativa, um dos desejos de Mariana era ter aprendido italiano. Sobre a animada agenda com as pitocas que já serão naturalmente bilíngues, um dos programas prediletos é levá-las às aulas de música na Escola Hands On e à aula de natação: “Moramos a uma quadra do Central Park, então o passeio sempre acaba por lá, em algum playground ou simplesmente pela grama. Elas amam ver os esquilos, cavalos e cachorros. Para elas é o melhor programa”. No final de semana, a família geralmente vai para outros bairros, como o Brooklyn, o Meatpacking e o Soho. O passeio começa em algum parque da região, seguido de um brunch em algum restaurante. Embora não tenha esse mesmo tipo de preocupação na cidade onde vive, a mudança que Mariana
gostaria de ver ainda em 2016 é que a segurança pública melhore por aqui, em terras gaúchas. Sobre a maternidade em dose fofíssima e dupla, minha xará aprendeu que mães têm prioridades e, só depois de ser uma, passou a dar importância ao que realmen-
te importa e a gerenciar melhor o tempo: “A maternidade dá muito poder à mulher, além da nossa capacidade de amar, que se multiplica. Tipo: se eu fiz uma pessoa, o que eu não consigo fazer?”. Se fez duas pessoas ao mesmo tempo, então! Consegue tudo, Maricota! MB | 65
Flavio Mansur de Pelotas
Curi Hotel Executive: 50 anos
A temporada social em Pelotas teve momento marcante com a comemoração do cinquentenário do Curi Hotel Executive. A matriarca Ida Ismênia Curi Hallal, o filho Jorge e o neto Marcelo, este a quarta geração da família à frente do empreendimento hoteleiro, ocuparam o Salão Nobre da Bibliotheca Pública Pelotense para recepcionar 250 convidados em grande estilo. Na ocasião, foram apresentados a nova logomarca da empresa e um vídeo com todas as reformulações realizadas no tradicional hotel da Princesa do Sul. O prefeito Eduardo Leite e a prefeita eleita Paula Schild Mascarenhas marcaram presença no concorrido coquetel. laureano bittencourt
Marcelo Curi Hallal e Catarina Sampaio Quinto di Cameli na comemoração dos 50 anos do Curi Hotel Executive
Expofeira: 90 anos
Em outubro, o meio rural gaúcho marca presença na cidade com a realização da tradicional Expofeira da Associação Rural de Pelotas. Ana Carolina Issler Ferreira Kessler e o presidente José Luiz Martins Costa Kessler estiveram à frente da intensa programação, que incluiu remates importantes e a estreia do projeto Arte na Rural, levando a arte para o agronegócio, shows e palestras. O Remate Montana, com a liderança de Anna Luiza Sampaio Quinto di Cameli e Adolfo Fetter Júnior, da Estância da Gruta e Granja Santo Antônio, teve o vice-governador José Paulo Cairolli avaliando os animais. Igualmente concorrido o aguardado Remate Santa Eulália, de Joaquim Francisco laureano bittencourt Bordagorry de Assumpção Mello. Anna Luiza Sampaio Quinto di Cameli, agrônoma e produtora rural, proprietária da histórica Estância da Gruta
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divulgação
Ana Carolina Issler Ferreira Kessler e José Luiz Martins Costa Kessler, casal presidente da Associação Rural de Pelotas
Moda e estilo
Patrícia Hermann estará em Pelotas nos primeiros dias de novembro, juntamente com a joalheira e cunhada Betinha Fleck Schultz, para tarde elegante na loja Via Condotti, de Cassia e Laura Antonioli. Patrícia vai montar looks utilizando o mix da loja, dará dicas preciosas para os nomes femininos conhecidos, enquanto Betinha ocupará um dos recantos para apresentar os lançamentos em joias para a primavera/verão. marcel streichel
Ana Rosi e Gilberto Abduch e as filhas Victória e Ana Laura na elegante recepção de formatura de Ana Laura, no Dunas Clube
Brindando a conquista
Ana Laura Abduch estava linda usando modelo da estilista mineira Patrícia Bonaldi, na noite em que comemorou a formatura no curso de Farmácia e Bioquímica da Universidade Católica de Pelotas. Acompanhada dos pais, Ana Rosi e Gilberto Abduch, ele um dos mais prestigiados médicos de Pelotas, a formanda recepcionou os convidados no exclusivo Dunas Clube. A decoração de Simone Mansur Silveira evidenciou as flores amarelas, e o grupo jovem distribuído em lounges foi outro tanto de charme e animação.
A prefeita eleita Paula Schild Mascarenhas e o atual prefeito Eduardo Leite. Beleza, talento e competência são marcas dessa dupla de políticos laureano bittencourt
Consagração nas urnas
Ao vencer, no primeiro turno, a eleição em Pelotas, com 112.358 votos recebidos, a hoje vice-prefeita, Paula Schild Mascarenhas (PSDB), consagra-se como a primeira mulher que vai comandar uma das principais cidades do Rio Grande do Sul e sucede ao prefeito Eduardo Leite (PSDB), eleito em 2012 e o mais jovem a governar o município. Paula venceu a eleição contra outros sete candidatos no primeiro turno. Aos 46 anos, assumirá sua maior responsabilidade política. Será a responsável pela administração dos destinos de quase 350 mil pelotenses e de orçamento estimado perto do R$ 1,2 bilhão para 2017. Eduardo Leite e Paula Mascarenhas foram eleitos prefeito e vice-prefeita com a proposta de renovação da política pelotense. Eduardo era vereador, e Paula, professora universitária, mas com passagens políticas na Assembleia Legislativa, quando assessorou o falecido deputado Bernardo de Souza, e na própria prefeitura. Além disso, também pela juventude, sempre foram apontados como personagens com importantes presenças nos meios políticos e sociais. Quando anunciou que não concorreria à reeleição, por ser contra este instrumento, Eduardo apostou suas fichas, trabalho e credibilidade em sua vice Paula, sendo o seu principal cabo eleitoral. O resultado nas urnas consagra o início de um novo tempo político/administrativo em Pelotas. | 67
Verônica Bender dermatologista
Prepare-se para o verão Durante o verão, todos ficamos mais expostos aos raios solares. O que muitos não sabem é que o mormaço também causa queimaduras, por isso a importância do uso diário e da reaplicação do protetor solar mesmo nestes dias nublados.
Crianças
Cuidados com as crianças: o uso do protetor solar deve ser iniciado a partir dos seis meses de idade, utilizando um produto de preferência adequado para a pele sensível dos pequenos. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, 75% da radiação acumulada durante toda a vida ocorre na faixa dos 0 aos 20 anos.
Cabelos
Use produtos com proteção solar inclusive para os cabelos para evitar que o vento, o calor e a maresia causem danos aos mesmos. Roupas, chapéus e guarda-sol com proteção solar são bem-vindos.
Mais água
Aumente a ingestão de líquidos, como água, durante o verão. A hidratação é muito importante para a sua saúde. No verão, a combinação de areia, sol, praia e piscina eleva o risco de algumas doenças da pele, como micoses, brotoejas, manchas e sardas brancas, além da acne solar.
Grávidas
As gestantes devem ter cuidados redobrados com a proteção solar e a hidratação da pele, pois estão mais propensas a manchas e estrias na pele. Importante conversar com um dermatologista para que sejam indicados cremes específicos que podem ser usados neste período tão especial da vida.
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Fitness
A preocupação com o corpo aumenta no sul do Brasil no verão, e a busca pelo sonhado corpo escultural e sem a indesejada celulite não sai do pensamento da maioria nesta época. Tratamentos dermatológicos, como radiofrequência e subincisão, podem ajudar a melhorar o aspecto da pele nos locais com maior propensão a flacidez corporal e celulite, como glúteos e coxas. Aliados sempre ao exercício físico orientado e à alimentação saudável. Aproveite o comecinho do verão cuidando-se.
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Trama
Equilíbrio em família Tudo começou nos anos 1960, quando Sigismundo e Zenóbia Fürstenau decidiram formar uma família. Nasceram Janice, Jefferson e Juliana. Um dos colaboradores da então concessionária Iwers, o pai com o tempo tornou-se pequeno acionista. O único filho homem o acompanhava no gosto pelas quatro rodas. Aos quatro anos de idade, sabia o nome de todos os modelos de carros. O tino para negócios também já aparecia. Aos 12, vendeu os skates dele e da irmã. Aos 15 anos, era parceiro da primeira namoradinha na criação e venda de coelhos. Eu exclamo: co-e-lhos!?: “Sim. Eu vendia até tênis velho. Maior, tive a Blue Ice, uma loja que vendia roupas que eu trazia de Brusque, em Santa Catarina”. Com ele, não tinha ruim. Indicado pelo pai, ele passou por quase todas as funções na Iwers. Desde lavar carros até entregar peças na boqueta. Depois foi vendedor e gerente de vendas. Em 1991, destacou-se com outros dois entre 800 participantes de um encontro do segmento. Graúdo, bom líder e boa-praça, chegou a ser o capitão da seleção gaúcha de basquete, quando, aos 18, acidentou-se gravemente e levou seis meses para se recuperar. Na época em que cursou Administração de Empresas, conheceu e se casou com a mãe das filhas Amanda e Tatiana. Mesmo período em que a fabricante coreana de automóveis começou a operar em Porto Alegre, em 1992, na Concessionária Kia Sun Motors, na Avenida Ipiranga. Até 1995, a empresa pertencia ao grupo Berto e vendia veículos de carga e transporte de passageiros, como a Van Best(a), a melhor das vans. O governo aumentou o imposto de importação de 20% para 70%, e os gestores decidiram contratar 70 |
o filho do seu Sigismundo para organizar a casa e encerrar as atividades ou aprontá-la para a venda, pois o prejuízo era alto. Em 1997, o próprio Jefferson, que já tinha boa experiência no setor automotivo, adquiriu, com a família, o controle da concessionária. Ainda estudando Administração de Empresas na UFRGS, Juliana começou nas áreas de comunicação, administração e financeira. Instalaram-se em Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Camaquã e em mais uma em Porto Alegre, na Avenida Sertório. Com a expansão da empresa, Janice, formada em Química, veio somar-se à equipe da família Fürstenau na empresa Kia Sun Motors assumindo o RH. Em 2002, a alta do dólar puxou o freio de mão, concentrando esforços na operação de Porto Alegre, na Ipiranga. A KIA opera com 119 lojas no Brasil e 10 no Estado, e a da família Fürstenau, desde 2007, é a campeã de vendas da marca no país. Com negociações iniciadas em uma visita ao Salão do Automóvel de Hong Kong, em 2008, o empresário conheceu a marca chinesa Geely, a qual opera, desde 2014, ao lado da loja da Ipiranga. Há quase três anos, a segunda geração surge devagarinho. Janice é mãe de Ana Júlia, e Juliana, de Davi e Lucas. Tatiana é a caçula de Jefferson. Adolescente, já era uma secretária mirim do pai. Com passagens por Administração e Marketing, hoje Tati estuda Design de Moda no Senac. Depois de passar por várias áreas na Sun Motors, acabou assumindo a área de marketing e o endomarketing dos quase 100 funcionários do Rio Grande do Sul e do Uruguai. Desde agosto de 2015, ela responde também pela Housing, criada para atender demandas de mídia e marketing das marcas. “Me cobro mais, porque sou mais
tonico alvares
cobrada. Tenho que estar aqui”, relata Tati. Se há união e exemplo na família, essa essência é compartilhada nos valores e metas de uma centena de funcionários: “Todos me chamam de Jefferson, e eu conheço suas famílias”. A filial uruguaia nasceu da mostra de carros que reuniu Brasil, Argentina e Uruguai, em Punta del Este, no verão de 2011: “Fiz um bom relacionamento lá. Eles vendem várias marcas e não fazem manutenção. Sou passional nas minhas escolhas. Sempre ajo sob efeito da emoção”. Em 2013, com a irmã Juliana, instalou na Ciudad Vieja da capital uruguaia uma
Kia Sun Motors. “Os dois têm alma sonhadora”, me conta, entre risos, Tati. “Já a minha tia Janice é mais prática e pé no chão”. Como vender carros não é apenas um negócio para a família, é uma paixão, o patriarca continua participando com foco no atendimento de pós-venda da concessionária. Jefferson pede a palavra e encerramos a conversa: “Sou inquieto, tem um momento da vida em que preciso dar uma mexida. Minha família, embora existam conflitos, sempre abraça comigo a direção em que eu vou. Já fico com vontade de montar um outro negócio”. Segura a dupla, Janice! MB | 71
Flavinha Melo chef e dj
Paris e seus mercados! Quando for a Paris, perca-se e se encontre nos perfumes, temperos e sabores de dois lugares: a Feira da Bastilha e o Mercado Les Enfants Rouges – baguetes, queijos, ostras, flores, morangos, vinhos, croissants, aromas e aromas! Uma experiência perfeita para quem ama conhecer os hábitos locais e comer muito bem.
Marché Bastille
O Marché Bastille está localizado no Boulevard Richard Lenoir entre Rue Amelin e Rue Saint Sabin. É um deslumbre para quem gosta de gastronomia. Quantidade e qualidade impressionates. Tudo fresquinho e cheio de charme. Paraíso gastronômico, a Marché de la Création Bastille, como é chamada, oferece ingredientes típicos da culinária francesa com um preço muito acessível. Francês. São mais de 200 comerciantes vendendo peixes frescos, bacalhau, haddock e ostras de altíssima qualidade que podem ser consumidas no local. Mais de 100 variedades de queijos, frutas, legumes, verduras perfeitas, estrelas da charcutaria francesa deixam qualquer um com água na boca. Estão lá também os melhores pães, como a tradicional baguete francesa, croissants, brioche, pain au chocolat, azeitonas e especiarias, foie gras, cogumelos, trufas negras e muito mais. A feira não se resume a gastronomia, tem artesanato local, flores, utensílios de cozinha e bebidas. Vale muito conferir, de quinta a domingo das 8h às 14h. A linha Bastille do metrô é uma alternativa fácil e bem parisiense. 72 |
Marché des Enfants Rouges
Ele está localizado no meu bairro favorito de Paris, o Le Marais, na Rue de Bretagne, 39, e fecha somente às segundas. É o mercado mais antigo de Paris, foi construído em 1615. Além das barracas de frutas, legumes, verduras, peixes, queijos, há as que servem comida. Basta escolher entre marroquina, francesa, italiana, japonesa, além de sanduíches e hambúrgueres. A minha banca favorita é a marroquina, pois amo cuscuz marroquino e lá podemos escolher vários acompanhamentos.
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Lígia Nery coach
Invictus “Não importa quão estreito o portão. Quão carregado de punições o pergaminho. Eu sou o mestre do meu destino. Eu sou o capitão de minha alma.” Invictus, William Ernest Henley Palavras escritas em 1875 ainda inspirando e influenciando sob medida tantas vidas, situações no mundo. Foram o norte para Nelson Mandela, líder sul-africano símbolo da luta do apartheid, quando aprisionado em Robben Island para trabalhos forçados por tantos anos. Ele encontrou nessas palavras a força para manter-se vivo e com uma chama de esperança acesa. Para levantar-se quando não acreditava em mais nada, buscava nelas o sentido da vida. Nestes momentos duros pelos quais passamos, momentos de diferenças, crenças abaladas, desesperança, esse poema me volta à memória. Nos sentimos presos e inseguros em nossas casas, abandonados e traídos por nossos chefes e líderes, inseguros com nossas possíveis incompetências no trabalho. Relacionamentos frágeis. Tudo tende a nos levar a comportamentos de afastamento, amargura e até de raiva. Mas é impossível não observar que esses comportamentos apenas nos afastam de nosso centro, de nosso propósito, e isto sim Mandela chamava de verdadeira prisão. Todo ato de construir é um ato de pedra a pedra. Quem desiste durante a crise decide que ela será permanente. Não existe chance de vitória sem esforço ou protagonismo com a própria vida. Não existem por certo 74 |
garantias para nada, mas não fazer é uma entrega à derrota. Não tem Fora Dilma ou Fora Temer que nos leve ao ideal. A lógica do poder é o poder, e não o bem-estar comum. Desde que surgiu o Estado, muito antes de Cristo, seu único papel foi extrair o máximo dinheiro e não fazer nada, por isso não adianta culpar ou esperar por político algum, por empresa, por amor algum. Temos que sair da zona de conforto e buscar o amor, buscar o dinheiro, uma vida digna e feliz, sendo agentes de nossa biografia com liberdade. Mandela ainda dizia: “Nosso maior medo não é sermos inadequados. Nosso maior medo é não saber que somos poderosos, além do que podemos imaginar. É a nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos assusta. Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, lindo, talentoso, fabuloso? Na verdade, quem é você para não ser?”
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De Nova York Cristiane Cavalcante
Caminho da conquista Sempre tive curiosidade em saber sobre a vida dos agentes de modelo. Depois de mil anos trabalhando, viajando o mundo e fazendo caras e bocas, desenvolvi amizade com muito poucos bookers, como são chamados. Durante essa vida que levei por mais de vinte anos, tenho um arrependimento: o de não ter feito perguntas. Como se iniciaram nessa vida? Quem são vocês nas horas vagas? Afinal, há um curso preparatório? Uma faculdade? Não que eu saiba. É mesmo pura raça, sorte de principiante e algum talento. Eles são os nossos verdadeiros modelos, pelos quais tenho tremenda admiração. Aguentam nossos ataques de histeria e de rei na barriga, são nossos psicólogos, educadores, e também deseducadores, são pai e mãe quando esses faltam, são nossas calculadoras ambulantes que definem quanto valemos no mercado, brigam por nós quando é preciso, e também conosco. Depois de muito tempo, vim parar em Nova York, e aos 28 anos – relativamente velha para a profissão, embora eu nunca tenho me fixado nessa história de idade, já que na minha cabeça eu nunca tive mais do que 25, diga-se de passagem – assinei contrato com a Wilhelmina Models, uma das maiores agências de modelos do mundo. Lá, fui parar numa divisão chamada Classic. Gostei desse nome e da ideia e também da minha booker, Ginni Conquest – o nome diz tudo. Conquest em inglês significa conquista e foi justamente isso que aconteceu mutuamente. Ginni sempre me inspirou curiosidade. Pela aparência, pelo jeito de falar, sempre muito claro, voz aberta, timbre alto, grave e decidido. Me passava a confiança de que não importava como, o trabalho era meu, já estava 76 |
conquistado. Conversávamos muito, enquanto eu treinava meu inglês e ela aprendia um pouco mais sobre o Brasil. Houve essa troca. Foram cinco anos exatos de convivência profissional, e além do seu nome e significado eu só sabia que ela morava em New Jersey, era casada e adorava cachorros da raça Basset, ponto. Como não soube mais nada? Não deu tempo. A minha partida da agência não foi como eu imaginava. Brigamos por bobagem. Por valores, por diárias. Por ego e disputa. Por competição. Ou seja, por nada. Fast forward: exatos cinco anos depois da minha partida, nos reencontramos nas redes sociais. Fiquei muito feliz, mas confesso que fiquei mais feliz ainda e estarrecida pelo fato de o meu mantra ter dado certo. Havia começado uma semana antes um mantra indiano. Dizia que a diligência me traria um cheque. Eu não paguei para ver, mas fiz e deu certo e veio da fonte menos esperada. Ginni, a mensageira. Ginni, a conquista. Nesse caso, a minha. Os cinco e-mails que trocamos cinco anos depois foram suficientes para estabelecer nosso reencontro. Em 30 minutos de conversa, soube mais dela do que nos cinco anos em que conversávamos diariamente. Ginni queria ser cantora numa banda de rock. E foi. E eu nunca soube disso. Recém-graduada pela Pace University, em Manhattan, em 1983, sem saber muito o que fazer da vida, e como a maioria dos que aqui se formam, arranjou um emprego de booker na agência no verão e veria depois o que fazer no outono. Foi booker da grande Betty Lago, sua amiga e pupila nos idos dos anos 1980, quando o mundo da moda inspirava privilégio, admiração e respeito. Transformou o emprego em uma carreira muito bem-sucedida que
já dura 33 anos. Uma grande conquista. Ginni também é motoqueira, canoísta, voluntária da Mid-Atlantic Basset Hound Rescue, sua paixão são os bassets Rocky e Sammy, que adotou, e é presidente da sua igreja, a Rosary Altar Society, há 11 anos, nas horas vagas. Descobri isso nos primeiros 15 minutos de conversa. Deixou de cantar faz 15 anos e, como diz, “I do miss performing but it was another lifetime ago”. Ama viajar e ama assistir a filmes. Aficionada por Star Trek, teve a chance de conhecer o ídolo, Spock, na própria agência e ainda, de lambuja, levar na sua Star Trek Magazine um autógrafo. Momento inesquecível para ela. Depois de um sonho que teve em novembro de 2015 e um papo informal com uma colega de trabalho, recebeu dela um empurrão para que desse vida a seu primeiro romance. Assim nasceu A Love in Name Only. Os títulos (depois vieram outros) se baseiam em amor, conflitos e finais felizes – triângulo perfeito das tramas reais da vida. Acredito que os
livros tenham enxertos de sua própria vida, especialmente por estar vivendo há 15 anos com Bobby, seu segundo marido – mas isso ela não revela nem sob tortura! Fizemos as pazes sem muito comentar sobre o ocorrido, porque nos distraímos em minutos que pareceram horas com fatos tão mais interessantes que remoer o passado. Para mim, foi um prazer estar com ela, e voltar a falar sobre coisas e pessoas em um bate-papo informal, sem a pressão de estar dentro do peso, com a pele de pêssego e o cabelo volumoso. Soa absurdo e redundante dizer, mas bookers são como nós. Tem seus sonhos e desafios, sua larga e infinita vida fora do mundo em que vivem, produzem na velocidade da luz e são um mundo infinito de possibilidades, erros e acertos. Assim como qualquer um de nós. A todos os bookers, minha sincera admiração. Dicas da Ginni Nova York se conquista a pé. Andar a pé, por todos os cantos, é a melhor forma de descobrir a cidade, segundo ela. Eu assino embaixo! Para saborear autêntica comida italiana, nada melhor do que ir jantar no Becco da superchef Lidia Bastianich. Fica no Theater District e é perfeito antes de assistir a um show da Broadway. Para fazer shopping: “that’s a little difficult”, ela diz, porque tem 1m57cm e é tamanho 12 aqui nos Estados Unidos – o equivalente ao tamanho 48 aí no Brasil. Adora os boyfriend jeans da J.Jill, marca para todos os tamanhos, inclusive plus size, e avisa que, quando algo faz uma pessoa de peso se sentir sexy e maravilhosa, deve-se logo comprar três peças da mesma coisa. Para ler: Love Finds A Way, seu novo romance, lançado em setembro e que estará em breve disponível no Amazon.com. | 77
André Ghem tenista profissional
Música é poesia Bob Dylan foi premiado com o Nobel de Literatura. Uma decisão que deixou muitos grandes escritores indignados. Parece ter uma certa arbitrariedade nessa nominação, mas, na minha humilde opinião, só parece. Um passo foi dado na quebra de um paradigma. Música é poesia, ponto. Vivermos numa época de escassez poética musical aumenta ainda mais a grandeza de suas obras. O fato é que essa escolha pode abrir precedentes num momento em que se tem perdido muitos leitores de livros. Raul Seixas seria minha indicação nacional, porém sua mensagem está cercada pela barreira da língua portuguesa. Traduções ou adaptações não funcionariam, assim como algumas das lendárias que bateram, bateram, bateram na porta do céu mas não convenceram. Nunca gostei de prêmios póstumos. Esperar partir para dizer eu te amo ou quão bom ele era? Depois de perder, de que adianta elogiar? Vive-se no presente e agora o segundo melhor artista da história da música está vivinho da silva e em ótima forma. Nada mais justo que tenha um Nobel na prateleira de casa. E se ele foi ou não foi a Moçambique, que fique a homenagem ao povo hospitaleiro e aprazível de ascendência lusitana e que venham outras “como pedras rolantes” a nossos ouvidos. 78 |
Cinema Marco Antônio Campos advogado e cinéfilo
Tom Hanks: uma história para contar Tom Hanks tem sido seguidamente comentado como sendo o James Stewart ou o Cary Grant moderno. Foram dois atores que, na era de ouro de Hollywood, encarnaram o tipo do americano médio e viveram seus grandes papéis no cinema como personagens típicos da sociedade dos Estados Unidos. Thomas Jeffrey Hanks, esse californiano de 60 anos, merece a comparação. Seu início de carreira mesclava filmes muito promissores (Splash, uma Sereia em Minha Vida e Big – Quero Ser Grande) com títulos indefensáveis (A Última Festa de Solteiro e O Homem do Sapato Vermelho). À medida que a idade e a maturidade foram chegando, Tom Hanks foi escolhendo melhor seus papéis e passou a ser visto, por público e crítica, como esta nova face do cinema americano. Foi uma sequência de filmes de sucesso extraordinário, com comédias românticas (Sintonia de Amor, Forrest Gump – O Contador de Histórias, Mensagem para Você), dramas rasgados (Filadélfia, À Espera de um Milagre, Náufrago), dramas de guerra (O Resgate do Soldado Ryan), filmes baseados em histórias reais (Apollo 13). Nesse período, Hanks trabalhou nada mais, nada menos do que com Steven Spielberg, Jonathan Demme, Ron Howard, Nora Ephron, Robert Zemeckis e Frank Darabont. Sua carreira explodiu artística e economicamente. Ele passou a ser um dos artistas mais bem pagos do cinema. Seu nome 80 |
virou sucesso de bilheteria. Desde então, Tom Hanks tem alternado projetos para crianças (Toy Story e O Expresso Polar) com filmes baseados nos livros do escritor Dan Brown (O Código Da Vinci, Anjos e Demônios e Inferno) e projetos escolhidos a dedo com seus diretores favoritos (Capitão Phillips, com Paul Greengrass; Ponte dos Espiões, com Spielberg; Sully – O Herói do Rio Hudson, com Clint Eastwood). Tom Hanks já dirigiu, escreveu e produziu filmes, mas sempre diz que seu maior prazer é atuar em frente às câmeras. Hanks já tem em seu currículo dois Oscar de Melhor Ator (Filadélfia e Forrest Gump), quatro Globos de Ouro (Náufrago, Forrest Gump, Filadélfia e Big), seis Emmy Awards (Olive Kitteridge, Game Change, The Pacific, John Adams, Band of Brothers e From Earth to the Moon) e Life Achievement Award do American Film Institute por sua obra cinematográfica. Casado desde 1988 com a atriz Rita Wilson, Tom Hanks tem quatro filhos (dois do primeiro casamento). “Eu sou um historiador leigo por natureza. Eu procuro uma reflexão empírica do que é a verdade. Eu meio que quero datas e motivações e quero toda a história. Mas eu sempre senti, inconscientemente, que toda a história humana é a conexão de pessoa para pessoa para pessoa, evento para evento para evento, e da ideia com a ideia.” (Tom Hanks)
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Bá, que imagem Heloisa Medeiros fotógrafa
Aprender a ver A fotografia, enquanto instrumento artístico, pedagógico e principalmente de crítica social transformadora, tem conquistado grande espaço na educação não formal contemporânea. Com o desenvolvimento de novas mídias e a acelerada modernização dos processos de produção da imagem, torna-se cada vez mais abundante o acervo de informações visuais presentes no nosso dia a dia. Vivemos a era da democratização da fotografia, isto é um fato. Porém, a sociedade tem se mostrado pouco apta a acompanhar tais avanços. A produção desenfreada de informações visuais exige do receptor um grau de percepção e absorção cada vez mais apurado. O que se observa são receptores despreparados e, por vezes, desconectados quanto ao poder da linguagem visual, e acabam se relacionando com as imagens de forma superficial, deixando de analisá-las profundamente. Aqui chegamos ao ponto: o mundo hoje está condicionado, irreversivelmente, à visualização. A interpretação da linguagem fotográfica está presente mesmo quando não notamos. Quando vemos uma imagem fotográfica e lhe atribuímos um sentido, estamos lendo aquela imagem. Assim como a linguagem verbal, a linguagem visual é riquíssima e igualmente permeada por obstáculos e convites a percepções. Contudo, esta tem sido tratada com certo descaso. A linguagem visual acaba, por vezes, sendo submetida apenas a critérios de análise subjetiva, frequentemente, determinada apenas pelo gosto pessoal do espectador. Apesar de as novas gerações terem uma cultura imagética intuitiva, ainda há pou82 |
ca interpretação da imagem num sentido mais profundo. Historicamente assistimos na educação a uma função leviana da linguagem visual de depositária de recreação nos currículos escolares. Por que herdamos esta postura? Por que não incentivamos nossas crianças a interpretarem imagens e a refletir sobre elas? É comum a rotulação, mesmo que inconsciente, dos meios de comunicação visual: as pinturas são consideradas “obras de arte” a serem admiradas e com alto valor no mercado das artes, o cinema é diretamente relacionado às grandes produções comerciais de Hollywood, e a fotografia incumbe-se das tarefas de documentação e registro. Essa categorização de “funções” é o ponto em que proponho a reflexão. Ao se encarar a fotografia como passível de apenas um nível de leitura, seja ela documental, sociológica, poética, entre outras, inevitavelmente, acaba-se por empobrecer sua interpretação e subestimar tantas outras sutis informações ali presentes. Proponho uma nova leitura, proponho experimentar a linguagem visual de maneira mais profunda, ou simplesmente desejo que aprendamos a ver sensivelmente.
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Lívia Chaves Barcellos
A arte de Cartagena Desde a fundação, no período colonial espanhol, no século 16, Cartagena das Índias foi um dos maiores portos da América. O dia 11 de novembro é feriado nacional em toda a Colômbia, com festa de quatro dias. Foi nessa data, em 1811, que o país declarou a independência da Espanha. Esqueça Cancun, Aruba, Punta Cana com seus hotéis imensos e comércio turístico. Cartagena das Índias é o lado light do Caribe e o oposto disso tudo. Os colombianos são gentis e educados. A cidade se divide em duas partes: o
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Centro Histórico, dentro das muralhas originais da cidade, e Bocagrande, uma faixa que se estende entre o mar e uma lagoa, cheia de edifícios modernos, hotéis, shoppings e restaurantes. A praia em si não é tão bela como em outros destinos do Caribe. Os hotéis são para todos os bolsos em ambas as partes. No Centro, antigos casarões e mosteiros coloniais viraram hotéis boutiques e dividem a cena com hospedagens mais simples. Fora da cidade murada: o Convento de La Popa fica na parte mais alta de Cartage-
na, foi o convento dos Agostinos em 1607. Além da bela vista, abriga a imagem de Nossa Senhora da Candelária. O Fuerte de San Felipe de Barajas é considerado a obra -prima da engenharia militar espanhola na América. Vale percorrer seus túneis, detalhes de arquitetura e ver a vista da cidade. Cidade murada: o melhor é pegar um mapa e flanar pelas ruas, ver o casario e os diferentes bairros. Na Praça Bolívar, o Palácio da Inquisição é um prédio do século 17 que desde 1924 funciona como museu. Percorrer as praças, ruas e o comércio de boutiques de grifes e de estilistas locais também é imperdível. À tardinha, é delicioso ver o pôr do sol nas fortificações coloniais de defesa da cidade. O Café Del Mar (Centro Histórico Baluarte Santo Domingo) é ótimo. Tem vista de 360º para a cidade e o mar do Caribe. Fora de Cartagena: para ver o azul do Caribe e curtir uma praia, há passeios de dia inteiro para as Islas Del Rosario e Baru, que ficam bem perto. Cartagena Social Club: Cartagena é uma cidade musical. Pegue uma mesa no lado de fora do Donde Fidel e curta a música e uma Club Colombia (cerveja colombiana). Mais tarde, vá ao bar do La Vitrola para curtir música. Getsemani: é o bairro histórico fora das muralhas, onde viviam as pessoas mais simples. Está revigorado e virou point de jo-
vens. Uma espécie de Lapa ou antigo Bom Fim de Cartagena. Bares, locais de dança. Inspirado na capital cubana dos anos 1950, o Cafe Havana traz um pouco de Cuba para Cartagena com excelentes shows de música cubana e caribenha. Para comer: há para todos os bolsos e paladares, a comida local é basicamente de peixes e frutos do mar, mas há pratos da culinária colombiana. Sugiro o Santísimo, famoso na cidade desde 1998. La Casa de Socorro fica no bairro de Getsemani, bom almoço frequentado pelos locais. Serve fartas porções de frutos do mar, camarões, caranguejos com arroz de coco e mandioca frita. O La Vitrola é estiloso e o favorito dos colombianos sofisticados. Clima bem cubano anos 1940. Com fotografias de sépia nas paredes, teto alto e ventiladores. A comida é a Nueva Colombiana, tradição misturada com culinária contemporânea. Para comprar: artesanato nativo, objetos em barro e cerâmica, entalhes coloridos, redes e outras peças podem ser encontrados em todos os lugares. Olhe as lojas ao longo da Calle Santo Domingo. Visite uma das duas lojas do Juan Valdez na cidade murada. O café é tratado como vinho, você vai saber dos diferentes buquês, locais de colheitas e decidir qual o mais apropriado a seu gosto. Não deixe de trazer um pouco do melhor café do mundo. | 85
close Silvana Porto Corrêa
Verdadeiro luxo Luiz Alberto Jobim Zambonato, o Beto, nasceu em São Borja e em 1970 veio para Porto Alegre. Cursou por algum tempo Arquitetura e Comunicação Social, mas acabou graduando-se na segunda, em Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. No tempo da faculdade, foi convidado para desfilar na então etiqueta Alfred. Aí iniciou uma carreira de modelo quando fez desfiles para grifes como Rui Spohr, Renner, Lee, entre outras. Nesse mesmo período, foi atrás de um velho sonho: dançar. E conheceu a escola da mestra russa Marina Fedossejeva, a primeira grande figura que lhe ensinou sobre consciência corporal e que trouxe para Porto Alegre a técnica russa do Ballet Bolshoi. Beto tinha 18 anos e acabou agregando esse conhecimento corporal e cênico de showman à sua atuação nas passarelas. Era criação de moda pura no auge dos anos 1980. Os grandes desfiles eram também uma espécie de show. Verdadeiras caravanas que percorriam o Interior e outros Estados para mostrar o melhor da moda gaúcha. Equipes de manequins, músicos, sonoplastas, iluminadores, maquiadores e cabeleireiros: “As experiências e os amigos de todas essas fases serviram para o meu amadurecimento e de base no meu trabalho como produtor de desfiles de moda e de fotografia”. Durante dois anos, visitou muito a Europa a fim de se aperfeiçoar, estudou Sociologia na Universidade Complutense de Madrid. Em um de seus retornos, foi convidado pelo costureiro Rui Spohr para assessorá-lo 86 |
em sua luxuosa grife. Em seguida, assumiu o desenvolvimento da marca Origem Brasileira. Depois dessa experiência, apostou na sua própria marca de couro e camisaria masculina. Um sucesso. Aliás, é a camisaria a sua grande paixão até hoje. Juntamente com a expansão de suas marcas, assinou produções fotográficas de Fernando Bueno e Clovis Dariano. Mais experiências ricas e bem-sucedidas. Com currículo e bagagem profissional ecléticos, Beto foi se consolidando no mercado de figurino, passou a atender demandas do teatro, da música e das artes plásticas e participou de projetos bacanas com Ilana Kaplan, Arthur de Faria, Nei Van Soria e Wander Wildner. Chamou a atenção do Grupo RBS quando trabalhou no figurino da minissérie A Ferro e Fogo, ao lado de Coca Serpa. Foi convidado para assumir a coordenação de figurinos de toda a rede, trabalho que desenvolve até hoje. Beto confessa que seu maior interesse são as pessoas. Sente-se gratificado por ter convivido com tanta gente simples e genial. Há 10 anos, ele iniciou o projeto Pratos Limpos, com a finalidade de restaurar uma das casas do NAR (Núcleo de Abrigos Residenciais). Obra que está sendo finalizada e que contou com o apoio de uma centena dos melhores artistas plásticos do Rio Grande do Sul. Confere esse lindo projeto no www. pratoslimpos.org. “Voluntariado é esse simples movimento de transcender nossas fronteiras pessoais e alcançar o mais distante de nós mesmos”. Pergunto para o Beto: O que é a moda para ti? Ele responde: “Depois de toda essa
tonico alvares
trajetória trabalhando com moda, mantenho uma distância crítica enquanto ela é um sistema cruel e escravagista. Sedutora, mantém consumidores dependentes dos seus interesses de mercado. Para mim, tem a ver mais com arte, desenho, comunicação,
jamais com ostentação. Luxo só como sinônimo de alta qualidade”. Além de modelo fotográfico, foi modelo artístico de Iberê Camargo. Uma experiência única que lhe valeu cachês em obras do artista. Isso sim. Verdadeiro luxo. | 87
Bá, que lugar
vanessa bierhals torres
Arte Alegria Maurício Porto nasceu em uma segundafeira de Carnaval, no dia 10 de fevereiro, na cidade de Elói Mendes, que fica ao sul de Minas Gerais. Publicitário de formação e artista plástico de vocação, depois de longas temporadas no Rio e em Nova York, escolheu a capital gaúcha para viver Desde criança, Maurício desenha incentivado pela mãe, mineira atenta que era e que cedo identificou o talento do caçula dos três filhos homens para as artes. Maurício é um mineiro apaixonado pelo Rio, que visitava durante as férias, no apartamento do avô em Copacabana. A paixão pelo desenho de figuras humanas sempre foi presente. Mais tarde, aos 16 anos, com mais um empurrãozinho da mãe, conheceu a pintura. Ela o inscreveu em um curso de um ano com a artista Maria Augusta Procópio, com quem aprendeu técnicas de óleo sobre tela. Desde então, as habilidades foram desenvolvidas naturalmente com a própria curiosidade, e ele passou a usar também a tinta acrílica. Cogitou cursar Arquitetura, mas acabou optando por Publicidade, de olho no seu lado criativo. O curso foi na Cidade Maravilhosa, onde morou por 14 anos, trabalhou em agências de propaganda e fez trabalhos gráficos para o teatro. A primeira exposição foi em Varginha – sim, na cidade do E.T., que é vizinha da sua –, seguida de coletivas em BH. Em 1997, para aprimorar-se como diretor de arte, foi para Nova York fazer cursos na Parsons School of Design. No ano seguinte, embarcou para mais tempo, seduzido pela Big Apple. Foi lá que conheceu o companheiro 88 |
e nosso conterrâneo, o gaúcho Jorge Veronese, com quem é casado há 17 anos. As artes plásticas voltaram a ganhar atenção do mineiro gentil, de alma carioca e coração gaúcho. Ele expôs em cafés no Greenwich Village, e foi uma galeria do Soho que acolheu a primeira Carmen Miranda. Agradou tanto aos espectadores, que virou uma marca característica de sua colorida obra. Pequenas notáveis em abundância de telas, diversas cores, estampas e motes. Em 2001, fez a mostra Carmen Back On Broadway, na Agora Gallery. Como viver da arte não é fácil em canto nenhum deste planeta, não pensou duas vezes antes de aceitar um estágio na área de produção jornalística na Globo de NY. Acabou participando da cobertura do Oscar de 1999, em Los Angeles, com a equipe da emissora. Em Porto Alegre, a estreia foi em 2000, na Arte Fato, de Décio Presser. Em 2005, já morador da capital gaúcha, ele expôs na Garagem de Arte, sob a curadoria da querida colunista Livia Chaves Barcellos. No início de 2016, dedicou uma mostra com suas telas de Carmen Miranda ao Dia Internacional da Mulher. Sua arte alegra as paredes da casa/atelier onde mora em Porto Alegre. Outras personalidades mundiais e anônimas também inspiram seus portraits. Com fartura de cores, traços e espaços
alegres, ele tem a dose certa de um humor sutil e elegante em seu olhar sobre a figura humana. Entre outras, suas versões de Madonna, James Dean ou Grace Kelly divertem, excitam e marcam. São a bagagem pop rock, cool e cult desse eclético criador e seu olhar detalhado para o ser humano que fazem dele um craque da linguagem estética. Com informação, imaginação e desejo, Porto se diverte pintando e boa parte da sua obra transparece essa leveza feliz, que é como ele encara sua arte. Sem muito drama, porque a
vida real se encarrega disso. Nesse divertido universo criativo, ícones da música dividem o cenário com notas de dólares, um chimarrão de canudinho, de papo na praia com uma garrafa de Coca ou um cão sobre o célebre xadrez grifudo da Burberry: “Amo música. Me inspiro para criar e não pinto em silêncio. Se tiver relação com o tema da pintura, melhor. De MPB a pop rock. Tem que ter letra e tenho que saber cantar na hora de pintar e o volume deve ser alto o suficiente para não ouvir o barulho do pincel na tela”. MB
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Báco Orestes de Andrade Jr. jornalista e sommelier
A Copa do Mundo do vinho brasileiro
A Copa do Mundo do vinho brasileiro acontece todo ano em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Invariavelmente na última semana de setembro, o maior momento do vinho verde-amarelo – a Avaliação Nacional de Vinhos – reúne cerca de mil pessoas. É um local de encontros e reencontros de enólogos, vinhateiros, jornalistas e apreciadores que já participaram de diversas edições do evento e também daqueles que celebram sua estreia na maior degustação de vinhos de uma safra do mundo. Em 24 anos, a Avaliação Nacional de Vinhos já apreciou 5.522 amostras de vinhos. O objetivo é observar empiricamente o desempenho de cada safra. O público reunido no evento já soma 15.467 pessoas. “A Avaliação Nacional de Vinhos possibilita o conhecimento em primeira mão do potencial de uma safra. Para isso, traz experts do mundo inteiro para comprovarem in loco as características, a qualidade e as potencialidades de nossos produtos”, avalia o enólogo da Chandon, Juliano Daniel Perin, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), promotora do evento. 90 |
O privilégio de provar na taça variados sabores e aromas antes de todos os consumidores foi vivenciado neste ano no dia 24 de setembro, no Parque de Eventos de Bento Gonçalves, durante a 24ª edição da Avaliação Nacional de Vinhos, com participantes de nove países (Bélgica, Brasil, Chile, Estados Unidos da América, França, Guiana, Grécia, Reino Unido e Uruguai) e 11 Estados (Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal). A marca da prova foi a diversidade, que, aliás, é um atributo dos vinhos brasileiros. O desempenho crescente em qualidade de um maior número de uvas, além das tradicionais Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, ficou evidente com a consagração entre as 16 melhores amostras de castas exóticas ou menos conhecidas – como as tintas Marselan, Tannat, Tempranillo e Alicante Bouschet. Entre as brancas, destaque para Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscato Giallo e Riesling Itálico.
As 16 melhores amostras de vinhos apresentadas foram selecionadas entre as 75 (30%) mais representativas da safra 2016, classificadas em um cenário de 241 amostras de 46 vinícolas de mais de 10 microrregiões produtoras. A avaliação técnica foi feita por 90 enólogos no Laboratório de Análise Sensorial da Embrapa Uva e Vinho, parceira técnica da ABE. A grandiosidade do evento consolida seu papel de promoção dos vinhos brasileiros,
aproximando profissionais da área, apreciadores e público em geral do universo envolvente da bebida. “Com diferentes solos e condições climáticas, o Brasil tem potencial para cultivar muitas variedades de uva e produzir vinhos diversos. Isso apareceu na multiplicidade de amostras inscritas e se comprova no resultado que apresentamos ao público, pois foi o ano em que a Avaliação classificou a maior diversidade de variedades. jeferson soldi
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Carlos Mânica
Consultor de empreendedoras
Procrastinação, vá para o inferno! Muitas pessoas nunca ouviram falar no termo “procrastinar”, outras já o conhecem. Porém, o que a maioria não imagina é que atualmente o comportamento procrastinador é um dos principais fatores que afastam você dos seus objetivos. Você sabe o significado da palavra “procrastinar”? De forma simples, procrastinar é adiar uma ação, deixar para depois, empurrar com a barriga, achar outra coisa mais importante para fazer antes. O resultado disso é que, na maioria das vezes, nós sabemos exatamente o que precisamos fazer para atingir os nossos objetivos, sabemos até por onde começar, mas, por fim, acabamos procrastinando e não tomamos a atitude necessária para tanto. Quem nunca fez isso que atire a primeira pedra. O pior de tudo é que na atualidade somos “incentivados” pela falta de tempo a procrastinar várias coisas importantes às nossas vidas. Muita coisa mudou desde o tempo de nossos pais, hoje temos mais congestionamentos, mais contas a pagar, mais trabalho, mais compromissos, mais problemas, mais demandas, como redes sociais, WhatsApp etc...
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A única coisa que definitivamente permanece igual ao tempo dos nossos pais é que o dia tem apenas 24 horas. Somos todos procrastinadores, alguns mais, outros menos. O infeliz resultado desse fato é que as pessoas não estão se dando conta de que precisam agir contra isso, caso contrário elas enfrentarão grandes dificuldades para conquistar melhorias em suas vidas e nas suas profissões, podendo assim ficar em estado estacionário ou até mesmo recuar de onde estavam. Mulheres empreendedoras precisam redobrar essa atenção, pois, além de serem totalmente responsáveis pelo seu empreendimento, elas costumam ter outras demandas, como casa, família, amigos, filhos e os cuidados consigo. A sua condição de mulher multitarefa agrega risco de ela procrastinar. Para evitar problemas, são necessários muita organização, foco, planejamento e ação para conquistar os resultados pretendidos. A procrastinação é um mal que assola a humanidade e precisamos estar atentos a esse comportamento. Portanto, fiquem ligadas e vençam a procrastinação!
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Macacão Mara Mac Lenços Blu Man
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Macaquinho e camiseta Alexandre Herchovitch Viseira Lacoste Sandália Marni
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Paletรณ Jorge Kauffmann Camisa e gravata Burberry | 97
Paletó Alexandre Herchovitch colete e calça Zara Colar Elisa Penâ Tênis Alexandre Herchovitch Gravata Zara
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Casaco e camiseta Mattew Williamson Scarf e calça Zara Tênis Alexandre Herchovitch
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fotos:
Clarissa Londero (Cora Produtora)
styling: Edén Jose beleza : Kauê Uminski arte: Otávio Brod
modelo: Guilherme Brenner (Agência Get
It Models MGMT)
Paletó Alexandre Herchcovitch Calça Alexandre Herchovitch Camiseta Zara Viseira Lacoste
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deuochic.com Vitor Raskin
AndrĂŠ Cirne Lima de Lorenzi e AndrĂŠ Brunetto no melhor bate papo
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FlĂĄvio Mansur passou pela cidade antes de viajar para Salvador
Liana MarcantĂ´nio e Ana Regina Wallauer nos brindes de champagne
Leticia SĂĄ entrando no astral da primavera
Karla Johannpeter entre as convidadas
A boa companhia de Isabel de Barros Faria | 103
deuochic.com
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Bebê a bordo: esperando a primeira visita da cegonha a estilista Juliana Sanmartin Ribeiro chamou a atenção
Fernanda Nichelle e Carlos Eduardo Tagliari comemoraram o primeiro ano de sua ClĂnica Mac com festĂŁo reunindo muita gente conhecida Fernanda Sovernigo apareceu de jaqueta Gucci
Convidada Vip: Adriane Galisteu esbanjou charme e simpatia em sua passada pela cidade
Juliana Davis entre as belas presenças da tarde | 105
Vinicius DallaRosa
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EDISON SOARES feliz no seu Sexton e abrindo as portas de um novo projeto na Francisco Trein. O X Studio é como se fosse um braço mais pop do Sexton. Estilo e profissionalismo idênticos e precinhos mais amenos
bá
MARCOS PINTO RIBEIRO e GEORGIANA FAURI
por
Mariana Bertolucci
fotos de lenara petenuzzo e diego larré
PAULA FEIJÓ no Lourival
LUCIANA MUTTI e as lindas filhotas SOFIA e ALICE MORAIS SOARES
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ALINE MOURA e ROGÉRIO MATTEVI
TÂNIA CARVALHO de Bá em punho
PEDRO OLIVEIRA e DIEGO FAGUNDES
NAT PETERSON
Quarteto fantástico: MARIA ELISA MALLMANN, MARTHA MEDEIROS, ANA LUIZA FERRARIA e SUZANA CANOSA
ANDREIA SPALDING e ALINE VIEZZER
Puro estilo: o talentoso RENATO BING
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SERGIO ZURITA e TIAGO CAETANO
Sapeca: ANDRESSA RIQUELME
TATIANA NOLL, EDUARDO LUZ, RENATA SEVERINI e FERNANDO BAGGIO
ENA LAUTERT, EDA FONTOURA e NEUZA DURGANTE
A querida DALVA SILVEIRA
BIBIANA TERRA BARRETO CAMPOS
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Aline Viezzer vini dalla rosa
Maria Eduarda Brenner de Moraes
Vini Netto 112 |
Red Carpet
vini dalla rosa
Um dos weekends mais desejados do ano assinado pelo Grupo Austral trouxe para Gramado um programação exclusiva com mais de 20 Djs entre Loulou Palyers, Phonique e DashDot, em sete eventos, durante o Festival de Cinema de Gramado. Confiram as beldades que por lá circularam.
Jessica Ferragut
Camila Klein
Kalinca Riva e Márcio Coracini
felipe gaieski
vini dalla rosa
Rosa Leal
Pedro Castro
Maciel Brum
Kalinka Silveira
vini dalla rosa
vini dalla rosa
Paulo Dalagnoli
Leticia Kuhn
felipe gaieski
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Vitório Gheno
...eternamente AVA GARDNER!
(série DIVAS DO ECRAN) 114 |
foto /edição : nádia raupp meucci
artista plático
Tonico Alvares
atelier de retratos e fotografia autoral
tonico.alvares@uol.com.br (51) 9116-5686 (51) 3907-5886 rua barao de santo angelo, 299 - poa, rs
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