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MARIANA BERTOLUCCI
JAN/FEV 2017 #20 R$ 10
FERNANDA GENTIL
Bonita e talentosa, a jornalista esportiva fala do amor pelos filhos, pela profissão e pela vida
AS PATRíCIAS Moda e sustentabilidade coletivas
IVAN MATTOS Alice Urbim: Estilo e talento
PING Lica Tito lança o primeiro disco
PAULO GASPAROTTO O maior colunista social da Região Sul estreia na Bá
imรณveis extraordinรกrios para pessoas extraordinรกrias
*vista obtida no local
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Bá, que delícia
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Paola Deodoro
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As Patrícias
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closeDe olho
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Cristie Boff
Cinema
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Fabiana Fagundes
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Bรก, que viagem
Bรก, que imagem
Direção
Mariana Bertolucci marianaabertolucci@gmail.com Editora
Mariana Bertolucci Editor de arte
Auracebio Pereira Produção gráfica
Zottis Comunicação Revisão
Daniela Damaris Neu Comercial
Denise Dias denisebcdias@gmail.com Fone (51) 99368.4664 Editora do site da Bá
www.revistaba.com.br Letícia Heinzelmann leca_he@hotmail.com Marketing e redes sociais
Astral Marketing por Julia Cappellari Laks julia@astralmarketing.com.br Colunistas
Ana Mariano André Ghem Aline Viezzer Angélica Kalil As Patrícias Carla Leidens Carlos Mânica Claudia Tajes Cristie Boff Fernando Ernesto Corrêa Flavio Mansur Heloisa Medeiros Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro Marco Antônio Campos Lígia Nery Livia Chaves Barcellos Paola Deodoro Paulo Gasparotto Regina Lunkes Dihel Silvana Porto Corrêa Tina Menna Veronica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno
Águas de março
A Bá 20 está inundada de boas novas. Começando pelo alto-astral da nossa personagem de capa. Carismática, sincera, talentosa e corajosa, Fernanda Gentil abre seu enorme coração na entrevista exclusiva que você lerá a seguir. E duas Alices formadoras de opinião também embelezam nossa edição de fim de verão: a Urbim, divina, estilosa e autêntica no perfil de Ivan Mattos, e a Ferraz, uma das cem personalidades mais influentes da moda mundial. Sem frescura e com muito trabalho, a dupla de Alices construiu trajetórias de muito sucesso e respeito na comunicação brasileira. Sobre sucesso e respeito, depois de repetidos convites, outro ícone do jornalismo brasileiro estreia sua coluna nesta vigésima edição. Por aqui, Paulo Gasparotto, que iniciou há pouco novo e ousado desafio em sua plataforma digital, vai escapulir da agenda social gaúcha e dividir conosco seu olhar culto e sempre pontual sobre a vida. As jornalistas Angélica Kalil e Regina Lunkes Diehl também estreiam no time da Bá. Entre Porto Alegre e São Paulo, Angélica, além de ser a minha querida primeira melhor amiga, é roteirista e tem um trabalho incrível no canal do YouTube Você é Feminista e Não Sabe, que me enche cada vez mais de orgulho. Certa de que necessitamos falar sobre consumo consciente e sustentabilidade, com exemplos e práticas, para estimular nossa mudança de mentalidade, novos tempos da economia verde e influenciar as novas gerações, Regina também chega para somar. O belo editorial de moda cheio de cores, flores e amores é assinado por Roberta Ahrons e Frederico Antunes. São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração... Pronto, roubartilhei do Tom! E fui. Boa leitura! Mariana Bertolucci
Ilustração
Graziela Andreazza a revista bá não se responsabiliza pelas
opiniões expressas nos artigos assinados. 6elas | são de responsabilidade de seus autores. © todos os direitos reservados.
foto da capa: globo/sérgio zalis
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Capa
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natural Mariana Bertolucci
fotos globo/sérgio zalis
Espontânea, feliz, bonita e corajosa, a jornalista Fernanda Gentil atrai olhares, simpatia e admiração por onde passa. Desde sua estreia na Globo, o noticiário esportivo da emissora é só alegria e puro talento
Ela é daqueles seres humanos raros que vibram com cada instante da própria vida e com a trajetória da vida dos outros. Sua persona pública ultrapassa os limites que o telejornalismo convencional não impõe claramente, mas acaba seguindo. Dona de carisma e humor desconcertantemente naturais, Fernanda chamou atenção assim que apareceu na TV. Da mídia, dos telespectadores e, para nossa sorte, da Rede Globo, que apostou sem medo de errar no talento da moça. Seu jeito informal e risonho de levar as notícias esportivas aos lares de 200 milhões de brasileiros simplesmente arrebatou o país. |9
Capa
Carioca nascida no dia 23 de novembro, há 30 anos, sob os cuidados amorosos dos pais Mauricio Gentil e Martha Machado, Fernanda é e sempre foi exatamente como a vemos aos domingos: natural, engraçada, atenta e muito gentil. Quando perguntam sobre o sucesso da amiga famosa, se ela é “assim” ou “assado”, os amigos repetem: “Gente, qual a novidade, ela sempre foi assim”. Fernanda cresceu solta em um condomínio do Rio Janeiro, subindo em árvore, catando fruta, vendendo paçoca, jogando bola, soltando pipa e andando de skate. Segundo ela, o temperamento bem-humorado, sapeca e agregador foi importante na sua formação: “Me ajudou a ser mais natural, mais próxima das pessoas, enérgica. Sou extrovertida. Essa molequice moldou também minha personalidade”. O interesse pelo esporte foi uma das consequências desse estilo de vida livre e leve de brincadeiras na rua: “Nunca fui de brincar em casa, videogame, essas coisas. Sempre pratiquei esportes e me interessei por esse universo saudável, astral, de histórias maravilhosas, de dedicação, disciplina, esforço e saúde. Desde cedo, eu sabia que não queria me afastar disso”. Aos 15 anos, surgiu a curiosidade sobre o jornalismo esportivo. Foi quando começou a assistir mais TV, ler, ouvir e acompanhar notícias de esporte. Curso escolhido, os estágios vieram já no início da graduação na PUC-Rio, primeiro em assessoria de imprensa, rádio, e então TV. Nessa época, fez vários cursos e trilhou um caminho voltado para o telejornalismo esportivo. A estreia foi na TV Esporte Interativo, como repórter e apresentadora. Logo foi chamada para o SporTV. Em 2012, foi convocada para apresentar o Placar da Rodada, um quadro do Jornal da Globo. Também 10 |
apresentava eventualmente o Globo Esporte. Em 2013, depois de cobrir ao vivo a Seleção Brasileira, foi eleita a musa da Copa das Confederações. No ano seguinte, comandou o programa Rumo à Copa, com a colega Cristiane Dias, antecipando as novidades do maior evento do futebol mundial. Foi quando faturou prêmios como o Melhores do Ano, como Melhor Repórter de Jornalismo, e o Prêmio Extra de Televisão, como Personalidade do Esporte, por seu trabalho no Globo Esporte. Grávida do segundo filho, em 2015, estreou o quadro Mamãe Gentil no Esporte Espetacular. No mesmo ano, assumiu a edição carioca do Globo Esporte, no lugar de Alex Escobar, que migrou para o Esporte Espetacular. Meteórica em sua ascensão na emissora brasileira mais poderosa do país, a graciosa e competente Fernanda apresentou o Globo Esporte em São Paulo e no Rio, onde ficou até setembro de 2016, quando assumiu a tradicional atração dominical Esporte Espetacular ao lado do ex-judoca Flávio Canto. Anos antes de iniciar a enxurrada de promoções e posições alavancadoras do Ibope da Globo, em 2009, ela recebeu um desafio bem maior que todos esses: aos 22 anos, adotou Lucas, filho de seu tio, que perdeu a mãe em seu primeiro ano de vida. Da relação com o ex-marido e namorado da adolescência, o empresário Matheus Braga, com quem foi casada de 2013 a 2016, nasceu Gabriel, em agosto de 2015. Desde julho do ano passado, namora a jornalista mineira radicada em Porto Alegre Priscila Montandon. Na profissão, quer seguir sendo desafiada. Novo quadro, programa, matéria ou entrevista: “Tenho conseguido me manter motivada, e para 2017 espero isso. Aceitei todos os diferentes convites que recebi na
carreira porque gosto de desafios. Sempre tive convites que me movimentassem, né? Me mantém viva, ativa, gosto de me sentir útil e produzindo. Fui convidada também para escrever um livro e escrevi. Espero isso de 2017. Continuar recebendo convites”. Sobre o intenso 2016, do alto de sua
simples sabedoria de vida, comenta o que já sabemos: “Foi um ano de muita mudança, muita adaptação, muito bafafá em torno da minha vida. Em 2017, quero que a poeira baixe e quero só viver”. Viva Fernanda muito Gentil! A audiência só tem a agradecer. MB
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Capa
O esporte, em especial o vôlei de praia, é uma paixão antiga. Como foste fisgada pelo jornalismo? Trabalhar com jornalismo e esporte sempre foi um sonho ou aconteceu? Sempre pratiquei esporte. O vôlei de praia foi o que eu mais pratiquei. Competi. Mas aí chega um momento em que você tem que escolher entre continuar em uma carreira de atleta ou estudar. Infelizmente, no Brasil ainda é assim. Ou uma coisa, ou outra. E minha mãe nunca me deu oportunidade de escolher. Sempre me dizia: “Ó, vamos fazer faculdade”. E acabou sendo a melhor coisa que eu fiz, porque eu não tinha talento para ser uma grande atleta, e o jornalismo esportivo me manteve em contato com o esporte de alguma maneira. Não paro de falar, de estudar, de ler sobre, então consegui juntar os dois. Qual o momento do trabalho que mais te dá felicidade? Antes, durante ou depois? O momento do trabalho que me dá mais felicidade não é nem antes, nem durante, nem depois. É quando eu sinto que eu consegui passar uma mensagem boa em massa. Acho que o lado bom da fama é a gente conseguir falar em massa. Eu tento sempre passar mensagens positivas. E o esporte me dá muitas mensagens positivas, exemplos maravilhosos, de superação, emoção e garra. Então, quando tem uma boa história que o esporte produz, eu ser meramente uma porta-voz disso e transmitir essa mensagem me deixa muito realizada. Acho que é um bem, um serviço muito legal que consigo prestar para quem está vendo. Tem algum dos teus grandes momentos profissionais que marcou mais? Entre outros, falamos em uma Copa do Mundo e Olimpíada no nosso país. Alguma história ficou gravada aí dentro de uma forma especial? Em relação a Copa do Mundo e Olimpíada, eu fiz Copa da África e do Brasil e Olimpíada no Rio. Sem dúvida nenhuma, esse ciclo de coberturas em casa foi muito 12 |
especial. Eu nunca me imaginei, primeiro cobrindo Olimpíadas, Copas, segundo estando em uma emissora como estou e terceiro, e menos ainda, no coração de tudo. Na Copa, cobrindo a Seleção Brasileira. Na Olimpíada, ali no centro do Parque Olímpico, meio que vendo de perto tudo o que estava acontecendo. Inclusive, eu nem sei se merecia tanto, mas já que aconteceu, vamos aproveitar, né? E eu aproveitei, viu? Eu me preparei, engoli aquilo ali, eu mergulhei naquela história toda. E fiquei completamente envolvida. Um trabalho que eu acho que qualquer jornalista esportivo sonha em fazer. Comigo não era diferente. Eu realizei esse sonho e levo comigo no meu coração. Foi o trabalho em que eu cheguei mais perto de cumprir 100%. Eu sou muito exigente e muito chata comigo mesma, então óbvio que tenho que melhorar, que aprender ainda. Mas foram as duas coberturas das quais saí muito orgulhosa de mim. Tu és uma dessas pessoas que transcendem a carreira. Tens um carisma que faz de ti uma personalidade diferente e que surge muito raramente entre os nossos colegas... Tens essa percepção ou isso é apenas a Fernanda de sempre e que hoje todos conhecemos e sabemos um pouco como ela é? Primeiro, obrigada pela introdução. Adorei as suas palavras. Mas acho que é bem isso. Você matou a charada. Essa é a Fernanda de sempre. Eu ouço muito dos meus amigos: “Gente, qual é a novidade? Ela sempre foi assim”. Mas agora eu acho que tenho um canhão nas mãos. Trabalhando onde estou, não tem como, digamos, ter pouca visibilidade, além de ser uma forma natural de fazer televisão, né? Que é dessa forma que eu tento fazer, que é a forma que eu acredito que dá certo. Verdadeira, natu-
ral. Errando, sim, mas pedindo desculpas. Chorando, sim, no ar, e chorando de novo se tiver que chorar, porque aquilo ali é verdadeiro. Eu acho que tem muito do prazer que eu sinto fazendo o que eu faço. Todo dia, eu vou para o trabalho com aquele gostinho de estar realizando um sonho. Então isso, inevitavelmente, transcende. Isso passa da televisão, da tela e chega à casa das pessoas. Eu vejo muito pelo retorno que eu tenho. Eu ouço muito: “Ah, você fala com brilho nos olhos. Dá para sentir que você faz aquilo ali com muito amor. Que você está se divertindo e curtindo”. E é bem isso, é aquele famoso ditado, trabalhe com o que você gosta e não tenha que trabalhar nenhum dia. É isso. É um prazer enorme. Eu não sou melhor nem pior do que ninguém, mas eu quis muito chegar aqui onde eu estou. Então só a minha família e Deus sabem do que eu tive que abrir mão, o que eu passei, o que me esforcei. Eu faria tudo 15 vezes de novo se nas 15 vezes eu tivesse certeza de que eu chegaria onde cheguei. Foi estranho gradualmente tu te tornares uma personalidade queridíssima e muito conhecida nacionalmente? Ou esperavas e/ou sempre desejaste isso? Não, não foi estranho. Foi natural, eu fui aos poucos percebendo que a visibilidade aumentava, consequentemente o interesse na vida pessoal, os paparazzi, críticas, assédio. Enfim, acho que quando você escolhe trabalhar com isso, em televisão, você sabe o pacote que vem por aí, mas eu não tenho do que reclamar do meu pacote. O retorno sempre foi muito positivo, sempre com muito carinho, muito calor das pessoas. O saldo é muito positivo. Eu realmente não tenho do que reclamar. Foi um processo muito natural. Acho que é estranho e novo para aquelas pessoas | 13
que convivem comigo que não escolhem isso. Elas pegam esse assédio e essa visibilidade, interesse na minha vida pessoal, de rebarba. Acaba respingando nelas, tipo meus pais, meu irmão, meus amigos. Talvez possa ser mais novo e estranho para eles. Mas para mim, quando você está dentro do negócio e em contato com pessoas que também passam por isso, vai indo. Isso é a consequência de um bom trabalho que você faz, eu acho. O que é o mais legal de tudo isso, a fama, o reconhecimento, o carinho do público? E o que é a parte chata de ser hoje uma pessoa pública? O mais legal é sem dúvida nenhuma você perceber que está no caminho certo. E eu graças a Deus percebo isso porque o retorno que eu tenho é muito positivo, seja em redes sociais, pessoalmente, mandando e-mails para a Globo para quem trabalha comigo. O retorno que eu tenho, de uma maneira geral, é muito positivo. Nada pode me provar mais que eu estou no caminho certo do que o feedback de quem está me vendo. A gente faz televisão para quem assiste a gente. Então, se as pessoas estão gostando, está tudo certo. E o chato, eu não digo chato, porque eu não sofro com isso. Eu não dou espaço e nem tempo para me preocupar com essas coisas. Mas o chato seria se eu me incomodasse, ou perdesse tempo, ou me estressasse com essas coisas de entrar na minha vida pessoal. Eu acho que é natural. Você trabalha em televisão e as pessoas querem saber da sua vida e a notícia rende. Enfim, o paparazzo vai ganhar dinheiro com a foto que ele tirar. E, desde que eu não esteja fazendo nada de errado, eu não tenho com o que me preocupar. Eu tenho uma teoria de que quanto mais a gente recua, mais a pessoa monta. Então, se você parar de sair para o lugar de que você gosta, parar de ir ao pagode de que você gosta, parar de tomar o chope que você curte, parar de ver as pessoas de quem você gosta, 14 |
aí você não vive mais, concorda? E as pessoas vão chegando cada vez mais em cima do seu mundo. E foi o que eu nunca fiz. Eu nunca recuei, trabalhando em televisão ou depois, da visibilidade toda. Eu continuei frequentando os mesmos lugares, usando as mesmas roupas, saindo com as mesmas pessoas, ouvindo as mesmas músicas e bebendo o que eu gosto de beber. Isso me ajuda muito. E aí, se eu sou flagrada nesses lugares, eu não posso impedir ninguém de ir ali tirar uma foto. Eu também não posso reclamar. Acho que invasão de privacidade é chato. Tirar foto de você na sua casa ou na sua intimidade não é nem chato, é crime. Mas em relação ao assédio é levar a vida normal, até porque eu sou uma pessoa normal. Tu te sentiste assustada quando percebeste que estavas atraída por outra mulher? Assustada não, porque gostar de alguém não me assusta. Mas confusa. Isso não dá para negar. Passa pela tua cabeça que, por seres famosa e conhecida em todo o Brasil, possas estar incentivando outras mulheres a serem mais corajosas e menos machistas? Não. Eu não elaborei racionalmente, concretamente, o que eu poderia estar causando com isso. Eu não quero levantar bandeira. Eu não quero defender causas. Eu quero viver e ser feliz. Eu sei que, pela visibilidade e trabalho que eu tenho, isso pode e vai atingir as pessoas, e talvez de uma maneira mais forte e diferente. Mas eu só espero que atinja de uma maneira boa, positiva, para o bem. É só isso. Em tudo o que eu faço, não só em relação a namoro e relações, mas as minhas atitudes em geral, eu busco causar o bem, influenciar positivamente de uma maneira leve, boa, saudável. Então, inevitavelmente, eu vou atingir muita gente, namorando uma mulher ou não. Eu só espero que isso sempre seja de uma forma positiva.
Sentiste ou viveste algum tipo de preconceito depois da tua revelação, fora da loucura das redes sociais? Absolutamente não. Não um tipo de preconceito ou comentário desagradável, infantil, ou brincadeirinha. Ou situação chata no meu mundo. O que me surpreenderia e decepcionaria muito, porque, modéstia à parte, eu tenho um núcleo que envolve família e amigos mais próximos e parentes em geral que eu não sei o que eu fiz para merecer tanto. São os grandes tesouros da minha vida. Nenhuma dessas pessoas me decepcionou, só me surpreenderam positivamente. Se não fosses jornalista, o que gostarias de ser? Jornalista esportiva, não sei fazer mais nada além disso. Nossa profissão passa por uma crise, pelo menos a mídia impressa e digital, com muitas vagas a menos. Acho que nosso ofício nunca foi tão necessário em meio a tantos “pretensos formadores de opinião” da web. Concordas? Achas que essa reinvenção do formador de opinião passa por onde? Eu concordo. Acho que é ótimo sair da zona de conforto, inventar novos caminhos de comunicação, desafios diferentes. É isso que essa reinvenção e essa mudança rápida de tecnologia, de consumo de notícia, causam. A gente tem que dançar conforme a música. Isso é ótimo para a gente sacudir a poeira e não se acomodar. Eu tenho pavor de acomodação. Eu tento sempre reinventar, sempre estar em dia com o que está acontecendo, principalmente no jornalismo e na forma de comunicar. Acho que esse é o segredo. Acho que a internet e os formadores de opinião da internet nos obrigam a criar um grande filtro, não dá para acreditar em tudo o que você vê, ou em tudo o que você ouve. Tem que cada vez mais filtrar bastante, ver de onde está vindo, como está vindo. A forma de dizer, de 16 |
criticar. Tudo isso diz muito sobre as pessoas. Eu sou a favor de novas mídias, plataformas e maneiras de comunicar e sempre me obrigo a estar alinhada com as novidades. Muito jovem, de um momento muito triste, às pressas e ainda assustada, assumiste a maternidade do Lucas. Que importância isso teve na tua vida naquela época e o que mudou? E de um para dois filhos, com a chegada do Gabriel? Mais mudança? O Lucas foi um furacão de amor na minha vida. Me virou do avesso. De ponta-cabeça. Eu tinha 22 anos. Auge da adolescência, digamos assim. Solteira, saindo com as amigas, veio uma criança que perdeu a mãe, que era minha grande amiga. E isso me fez renascer. Ele abriu todas as portas para mim, me fez entrar na linha, focar no que eu queria. Porque eu entendi que a partir dali eu ia dividir com ele e com o pai dele as responsabilidades todas, e eu queria aquilo. Queria para mim. A partir do momento em que olhei no olho dele e entendi que aquele era o nosso caminho, o nosso destino, que a gente se encontrou ali. Então ele me botou no eixo totalmente e me abriu as portas de todos os sentimentos melhores que eu tinha aqui e que eu nem sabia. O tal do amor incondicional, você tirar força de onde não tem. Achar tempo para o que acha que não tem. Aí veio o Gabriel e me deu tudo isso em dose dupla. Mais amor, infinito. Mais força. Uma força que não se mede no músculo. Que se mede no amor. Me provou que era tudo isso mesmo. Gabriel chegou e disse: o Lucas é seu filho mesmo e agora você tem tudo isso em dobro. Totalmente inexplicável. Um sentimento que eu agradeço todos os dias por poder sentir duas vezes. Tens uma logística de mãe e assistente para dar conta de tudo. Conta um pouco como é uma rotina normal de vocês? Eu me obrigo muito a não delegar as funções das crianças porque senão daqui a pouco não
estou fazendo mais nada, né? Sem hipocrisia nenhuma, tenho condições de pagar alguém para cuidar da casa, outra para cuidar do Gabriel e ajudar com o Lucas e acabou, se deixar eu acordo e faço as minhas coisas e nem encosto neles. Mas minha filosofia é outra. Eu quero participar, eu quero botar a mão. Eu quero sentir o cansaço do filho. O suor, a exaustão. Porque isso é consequência de muitas horas de brincadeiras, de carinho, de troca, e disso eu não abro mão. Então eu me viro em mil e uma, agora separada com os dois. Acordo cedo, acordo com o Gabriel. Levanto o Lucas para ir para o inglês. Armei a natação de nós três juntos, então eu tô numa piscina com o Lucas, o Gabriel está na outra do lado. E já acaba todo mundo junto. Arrumo todo mundo e volto para casa. Quando posso, levo e pego. Mas também, quando não posso, conto com muita gente que me ajuda. Eu faço a papinha todo dia à noite para o Gabriel. Eu atualizo o quadro com as comidas deles. O que vão comer e o que vão lanchar todos os dias. Então é uma função que acho que botar no mundo é fácil. Criar é que é o mais gostoso, você criar um ser humano, passar os valores. Esse é o lado rico da maternidade. Isso que eu tento fazer com eles e só consigo fazer se eu tiver tempo com eles. Em 2013, veio a Caslu, um projeto lindo, que tem teu carinho e atenção diretamente. Isso deve ter mudado outro bocado na tua vida, fazer a diferença na vida de tanta gente que precisa... A Caslu, depois dos meus filhos, foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. Me deu uma nova noção de sofrimento, de dor, de problema. Que na verdade eu achava que tinha um monte e não tenho quase nenhum, graças a Deus. Me fez gastar só o tempo necessário que cada problema me exige e me mostrou que vários problemas que eu achava que tinha não eram tudo isso. Porque você vai a um orfanato, a um abrigo
desses, e chega lá e vê uma criança recém-nascida com o braço quebrado, a outra que chegou na caixa de sapato, a outra que foi abusada pelo pai, a outra pela mãe. E você estava gastando tempo e estresse com a conta que deixou de pagar, com o dinheiro que faltou nesse mês – se você economizar um pouquinho no mês seguinte, vai ter. Com aquela dor que você sentiu nas costas. Uma viagem que queria fazer. Não. Isso não é problema. Problema é o que essas crianças passam, e esses problemas podemos resolver. É só fazer um pouquinho a nossa parte. Não é querer salvar o mundo, não. É só fazer minimamente a nossa parte. E não precisa ser só pela Caslu. Pode ser comprando a nossa camisa, pode ser ajudando uma criança de rua ou doando comida a um asilo. Da maneira que for, a gente pode resolver. Porque a gente tem às vezes uma ilusão de que esses males nunca vão nos atingir. Isso aí a gente não vai sofrer. Um abuso, um estupro, um abandono. Talvez realmente não vá. Mas essas crianças que sofrem isso são iguaizinhas às nossas crianças. Você chega lá e o olhar é o mesmo. A brincadeira é a mesma, o pedido de colo é o mesmo. Não tem como você não levar isso para a sua casa, não pensar “putz, podia ser o meu filho nessa situação, podia ser o meu sobrinho, o meu afilhado”. Então é humano isso. Você levanta a bunda da cadeira e na
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hora vai fazer alguma coisa por elas, entendeu? A Caslu me deu muita vida, muita força, muito mais tempo. E me exige muito esforço. Porque eu tô no dia a dia, eu recebo os pedidos, eu embalo as camisas, eu mando nos Correios, eu respondo os e-mails. Eu agito toda a produção das ações da Páscoa. Tem outros fundadores, que são grandes amigos meus também, o Patrick, o Felipe, o Matheus, o meu ex-marido, que me ajudam também na parte braçal, mas eu fico na linha de frente. Porque não sei... isso me limpa a alma. Acha que o Brasil agora vai tomar jeito ou a Lava-Jato é fogo de palha e logo está todo mundo metendo a mão no dinheiro público de novo? Eu acho que infelizmente não vamos ver um Brasil do jeito que queremos. Nossos filhos também não, mas podem começar a sentir o cheiro. E os nossos netos talvez comecem a ver alguma manifestação disso. Mas de alguma maneira tem que começar, né? Seja com Lava-Jato, seja com qualquer outra operação contra corrupção, seja com o povo na rua. O início foi dado, a largada foi dada. Não vai ser na nossa geração, nem na dos nossos filhos. Talvez os nossos netos comecem a enxergar alguma mudança. Mas, para eles enxergarem alguma mudança, para os nossos filhos sentirem o cheiro da mudança, temos que começar. O que queres ensinar ao Lucas e ao Gabriel? (Suspiro) O que eu quero ensinar... Tanta coisa, mas tanta coisa, que ao mesmo tempo só se resume em uma. Eu quero ensinar para eles que o ser humano pode ser terrível. Eles vão ver, o Lucas já vê. Vão ler e vão ouvir coisas lamentáveis. Mas ele foi feito para ser incrível. Dentro da gente, a gente tem o gatilho e a capacidade de fazer coisas maravilhosas, e é isso que temos que aflorar dentro deles. É esse lado que eu 18 |
quero que eles exerçam muito. Que eles sejam seres humanos incríveis. No lado profissional, pessoal, no dia a dia, em relação às outras pessoas, ao próximo. É isso que eu quero que eles sejam. Eles têm que saber que dentro de casa eles não têm exemplo de nada. Ninguém vai ali dizer para eles que é melhor que qualquer pessoa, que faz o certo ou faz o errado. Eles têm pessoas dentro de casa que se esforçam todos os dias para serem também seres humanos incríveis. E aí eles vão ver com o que concordam, com o que não concordam. Eles vão olhar e vão ver o que deu certo em mim e vão repetir. Eles vão olhar o que eles podem fazer ainda melhor e vão melhorar. E é isso que eu quero que eles entendam. Que eu não sou exemplo de nada, eu só tento fazer o meu melhor todos os dias para dormir com a consciência tranquila. E se eles concordarem com os meus valores, vão fazer igual e melhor. Se não, vão fazer da maneira deles também, que eles acharem melhor. E que eles entendam isso. Aprendam os valores corretos. Quem é Fernanda Gentil e o que deseja da vida? Fernanda Gentil é o que vocês veem, né? É a profissional, a jornalista. Mas a Fernanda Gentil tem tempo, tem validade. Daqui a pouco, a fama passa e chegam outras Fernandas Gentis aí, melhores ainda. O que eu me importo é com a Fernanda mesmo, a Fernanda que era antes da fama, que continua mais forte ainda durante a fama, e que vai seguir depois da fama. Uma pessoa que se esforça muito para ser correta, honesta, que vive para os filhos e para ajudar quem conseguir ajudar. E se eu não conseguir ajudar, eu vou pedir para todo mundo comprar a camiseta da Caslu para ajudar também. O que eu quero da vida é isso. Eu quero sair daqui leve. Eu tenho conseguido isso ao longo dos anos, ser leve, estar leve. Principalmente pelas minhas
crianças. Eu crio dois seres humaninhos maravilhosos que eu tive a bênção e o presente e a oportunidade de ter nas mãos, e eu não vou desperdiçar isso. Eles limpam a minha alma todos os dias. Eu quero sair daqui com a certeza de que deixei o meu melhor para eles e consequentemente para quem eu puder atingir. O que é uma delícia de domingo para essa carioca da gema? Delícia de domingo é família reunida. Todo mundo junto acordando na cama, fazendo bagunça, gritando. Que essas crianças, nunca vi, não tem voz, tem um megafone na garganta. Pula na cama e o outro quer brincar de cabaninha. A outra quer fazer café. E vamos tomar café da manhã. É isso. O domingo ideal é o que começa com a bagunça na cama e aí o resto dele vai ser maravilhoso por consequência. Uma palavra? Paz. Uma pessoa? Minha mãe. Minha grande e eterna amiga. O que mais gostas de fazer quando não estás trabalhando? Gosto de relaxar, e aí varia muito. Pode ser chamando gente lá para casa, fazer um programa com as crianças, tomar um chope em algum lugar, ver o sol se pôr. Ouvir um sambinha, um pagode. Tem várias opções. Noite ou dia? Atualmente dia. Mas já fui muito de noite. Te arrependes de ter feito algo? E de não ter feito? Não. Falo isso de coração. Acho que, se eu tivesse me arrependido de ter feito, ou de não ter feito, viria logo à minha cabeça. Eu tô parando aqui para pensar e eu não vejo nada que eu quisesse voltar atrás. Nada muito gritante. Graças a Deus, né? Si-
nal de que eu estou no caminho certo. Eu sempre penso em como eu estou hoje, trabalhando com o que eu amo, com dois filhos maravilhosos, amando enlouquecidamente. Eu não posso me arrepender de nada, né? Eu tô feliz. Se eu tô feliz, eu não me arrependo. Tens algum sonho ou projeto pessoal ou profissional diferente para 2017? Não. Nada específico. Pessoalmente falando, quero continuar com os meninos encaminhados, educação, formação. O Lucas não me dá trabalho nenhum. O Gabriel, no máximo, mordeu um amiguinho uma vez. São dois amores. Profissionalmente, desejo sempre ter desafios novos, um quadro, um programa, uma matéria, uma entrevista. Isso eu tenho sempre. Tudo muda muito rápido. Então eu tenho conseguido sempre me manter motivada, e para 2017 eu espero isso. Eu quero viver. 2016 foi um ano de muita mudança, muita adaptação, muito bafafá em torno da minha vida. Em 2017, quero que a poeira baixe e quero só viver. Já pensaste em atuar ou protagonizar um projeto diferente? Já não recebeste algum convite diferente ou inusitado? Não. Muito diferente não. Mas os convites todos que recebi eu aceitei por isso, porque eu gosto de desafios. Recentemente, fiz Mamãe Gentil no Esporte Espetacular, quando eu estava grávida. Quando cheguei à Globo, já assumi o Placar da Rodada. Aí depois vieram Copa do Mundo, Copa das Confederações, Olimpíada, Globo Esporte no Rio. Mudança para São Paulo para fazer o Globo Esporte no lugar do Tiago Leifert, e agora o Esporte Espetacular. Sempre tive convites que me movimentaram. Isso me mantém viva, ativa, eu gosto de me sentir útil, produzindo. Fui convidada também para escrever um livro, que escrevi. Espero isso. Espero continuar recebendo convites. | 19
FOTO: RAUL KREBS - ESTÚDIO MUTANTE
4 Sessões 45 minutos Semanal
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Bento Gonçalves, 387
54 | 3519.0030 Dr. Rafael Perin Arpini Cremers 29523
Fernando Ernesto Corrêa
Meu amigo Teori Minha amizade com o Teori estreitou-se há menos de 15 anos, mas foi muito intensa. Aconteceu quando ele passou a viver com a Maria Helena Castro, que morreu em 2013, com somente 50 anos. Esta foi uma vitoriosa. Superou enormes dificuldades na infância e adolescência e, já separada do seu primeiro marido, criou de forma exemplar sua filha Mariana e chegou a ser juíza federal. Bem, mas nesta coluna ela é coadjuvante; o protagonista é o Teori. Faço essa conexão porque explica como e quando fiquei fraterno do Teori. A Maria Helena foi colega de aula no Americano da minha Silvana e de Bettina Becker e Úrsula Costa. Terminado o segundo grau, separaram-se e foram viver suas vidas. Quando ela, que fora juíza em Santa Catarina, voltou para Porto Alegre já casada com o Teori, restabeleceram-se os laços entre as amigas de juventude. Aconteceu, então, o que é uma regra sem exceção. As mulheres passaram a se reunir com frequência e os maridos foram junto de cambulhada. Lipe, Paulo e eu (já amigos) passamos a conviver com o Teori nos encontros por elas determinados. No início, eu pensava que essa proximidade seria um saco, pois aquele sujeito, então ministro do STJ, deveria ser um chato. De poucas palavras, contido, discreto demais, vestido de forma conservadora, não tinha nada a ver comigo, que sou uma pessoa informal, bagunceira, que fala alto e que gosta de dizer palavrões. Tirando o gremismo comum, eu o achava um peixe fora d’água. Em pouco tempo, percebi que estava completamente enganado. O Teori não era uma mala, pelo contrário, era uma 22 |
figura singular: inteligente, participativo, espontâneo, bem-humorado, piadista, bom de copo e apreciador de um cubano. Ele era mais do que torcedor do nosso Grêmio. Daí que nós quatro formamos um grupo harmônico e integrado. Em relação aos contatos pessoais, eu tive uma vantagem sobre os outros dois, porque me encontrava com o Teori aqui e em Brasília, para onde eu ia com razoável frequência. Logo adiante, o Teori passou a fazer parte da confraria machista que eu coordeno e que tem 24 integrantes. Nos últimos cinco anos, pleiteava que a confraria se reunisse nas datas em que pudesse estar em Porto Alegre. Assim foi feito e ele nunca mais faltou aos nossos encontros. Nesses, ele não era apenas um a mais, era um dos principais. Tomava vinho e fumava um bom charuto, apartava com inteligência, contava anedotas picantes e até falava coisas pessoais, pois estava em busca de uma nova companheira, três anos após o falecimento de sua segunda mulher. O problema nesse tema é que o Teori, que estava longe de ser um Brad Pitt, queria alguém que fosse moça, do bem e bonita... Era o primeiro a chegar (geralmente comigo) e um dos últimos a sair. Cumpria rigorosamente os dois mandamentos da confraria: não elogiar a mulher atual e não abordar assunto profissional (nunca falamos na Operação Lava-Jato). Para nós, a presença do Teori era importante. O que não sabíamos é que a confraria era mais importante ainda para ele. Convenci-me disso no seu velório. Apresentei-me à ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, dizendo que eu era um dos grandes amigos locais do Teori e que, em nome de
todos, queria agradecer a maneira dedicada e carinhosa como estava acompanhando a tragédia que a todos enlutava, fazendo-se presente desde o primeiro momento até o enterro. Ela perguntou meu nome e quando declinei me surpreendeu dizendo: “Você é o Fernando da Confraria do Charuto, sobre a qual ele não cansava de falar?”. É claro que fiquei emocionado. O Teori era uma pessoa especial. Dou um exemplo bonito de sua grandeza e bom caráter. A Mariana tinha oito anos quando ele passou a viver com a Maria Helena e com elas foi morar. Com o falecimento da mulher, ele continuou a morar com a Mariana, já uma mocinha, como se sua filha fosse, sem deixar em segundo plano seus três filhos biológicos. Ele era um craque na arte de repartir harmoniosamente sua atenção e carinho com todos os amigos e familiares. A Mariana, aliás, ficou e é muito próxima da Silvana e de mim, especialmente depois da perda de sua mãe. Esse fato deixava o Teori muito tranquilo e agradecido, pois passava a maior parte do seu tempo longe da enteada, lá em Brasília. Enfim, ele era uma enorme pessoa, um ser privilegiado que, por baixo de sua capa de juiz competente, discreto, retraído, afas-
tado da mídia, era uma companhia agradável, informal, gozadora, boa de papo, participativa e solidária. Era bem conectado com suas raízes gaúchas. Sabia muito bem o que acontecia por aqui. Lia e comentava a Bá, criticando as matérias e opiniões (inclusive a minha). No último encontro que tivemos, 36 horas antes da sua morte, fez um justificado elogio à recente entrevista do Ruy Carlos Ostermann na revista. Falávamos sobre qualquer tema e sobre todos tinha uma contribuição a dar. Por acordo não escrito, o que estava sob seu julgamento no Supremo era um não assunto. Faço essas menções a fatos e situações do cotidiano, coisas simples do dia a dia da vida real, para ressaltar que o Teori era um homem muito maior do que ser o relator da Lava-Jato, condição que lhe deu notoriedade. Aliás, não posso esquecer que ele marcou sua presença no STF de forma indelével, como um dos seus melhores juízes de todos os tempos. Mas essa análise deixo para a história. Aqui, neste espaço, minha intenção é transmitir uma pálida ideia da enorme dimensão do ser humano que foi o Teori. O que eu sinto, ao concluir, é uma bruta falta desse baita cara.
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Ana Mariano escritora
Frestas do desconhecido Algumas pessoas (meu querido professor Moreno entre elas) são imunes à superstição. Sinceramente, não sei como conseguem escapar a esse vício que, sem pesquisar no Google, me arrisco a dizer é tão antigo quanto o homem. Assim como usamos certa camiseta ou não trocamos de lugar durante um jogo de futebol porque temos a certeza de que disso depende a vitória do nosso time, talvez os homens das cavernas também precisassem fazer alguma coisa para que o raio não caísse na sua cabeça. Não tenho medo de passar sob uma escada (morre a mãe e a minha já morreu), ou de quebrar um espelho (sete anos de azar), ou de abrir o guarda-chuva dentro de casa (essa vem do Egito), e também não evito o número treze. Mas bato três vezes na madeira pra evitar má sorte, se derramo sal atiro alguns grãos sobre o ombro esquerdo (quem sou eu pra contestar coisa tão antiga) e jamais entrego o saleiro na mão de quem o pediu para não cortar a amizade. Uma vez eu li sobre a origem dessa terceira superstição, teria surgido na Inglaterra e tem algo a ver com o rei e o lugar que ocupavam à mesa os súditos, mas como nunca mais encontrei o que eu li, talvez não tenha lido e só inventei.
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Na medida certa, desde que não me paralisem, gosto de superstições. Penso nelas como frestas por onde o desconhecido me espia. Freud dizia que as pessoas procuram a magia quando a realidade fica pesada demais. Concordo com ele, é consolador acreditar que nem tudo depende de nós, que há forças maiores das quais não conseguimos fugir não importa o quanto nos esforcemos. Einstein costumava dizer que a curiosidade e a imaginação são mais importantes do que o conhecimento porque este tem um limite, vai até certo ponto. Para poder descobrir o novo, é preciso dar um salto no desconhecido, ir adiante sem garantias, sem provas, confiando apenas na intuição. Evidente, ele não falava especificamente em superstição, mas o que ele dizia tem a ver com as frestas de que falei mais acima, aquelas por onde o não conhecido espia, tem a ver com acreditar no que não se sabe, tem a ver com a coragem de seguir adiante sem nada que nos garanta. Lidar com o que não sabemos, saber que não temos o controle de tudo, nos deixarmos levar apenas pela intuição é, convenhamos, um pouco assustador. Pra enfrentar isso, custa dar três batidinhas na madeira ou jogar uma pitada de sal sobre o ombro?
Verônica Bender
dermatologista
Suor e cuidados Estamos no final do verão, momento de cuidar dos estragos causados em nossa pele e cabelos, como manchas claras e escuras, ressecamento e falta de viço, comuns após tanta exposição a sol, piscina, vento e mar. Temos boas novas para a pele, pois uma renomada marca internacional de cosméticos dermatológicos traz para o sul do país sua linha profissional para cuidados da pele. São combinações de máscaras e séruns específicos para cada necessidade, como hidratantes, clareadores, antiacne e antioleosidade, antioxidantes e antienvelhecimento. Com o calor e o sol, aumenta a transpiração, mecanismo regulador da temperatura corporal, mas estima-se que de um a três por cento da população sofra de hiperidrose. Nestes casos, o volume de suor é excessivo e pode ser
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generalizado, em todo o corpo, ou focal, em áreas específicas, como axilas, palmas das mãos, rosto, couro cabeludo, sola dos pés e virilha. Pode ser causada por alterações hormonais, uso de medicações ou primária. A sudorese excessiva pode causar prejuízo à qualidade de vida das pessoas afetadas, comprometendo atividades pessoais e profissionais. Existem opções terapêuticas que vão desde terapia tópica, com o uso de antitranspirantes, medicações orais e aplicação de toxina botulínica (botox) nos locais com excesso de suor, até intervenção cirúrgica, em casos mais extremos. É imprescindível a avaliação médica para a correta identificação do problema e introdução do tratamento adequado para cada caso, a fim de diminuir o desconforto físico e emocional provocado pela hiperidrose.
Gasparotto
Caminhos amorosos Uma motivação que me entusiasma assinala meu primeiro comentário para a Bá: os textos de Ivan Pedro de Martins. Trata-se de um dos escritores que li muito cedo, e suas descrições da campanha gaúcha nunca se apagam na minha lembrança. Ao lado de alguns dos meus preferidos, como Machado de Assis e Raymond Radiguet, seus textos, logo nos primeiros parágrafos, me fazem participante dos enredos. Durante recentes conversas com Claudinho Pereira, surgiram os temas de um dos livros de Ivan Pedro, Caminhos do Sul, no qual um dos personagens, cuja atividade era percorrer com sua carroça os corredores do interior gaúcho no início do século 19, vive uma inesquecível cena de amor. Ao cruzar com uma dona de casa numa cidade da zona sul, fica arrebatado pela figura e, no seco linguajar dos pampas, diz que voltará no final da tarde para levá-la com ele. Seguem-se descrições que mostram a indecisão da figura feminina, bem casada com um marido tranquilo a quem resiste deixar. Mas, ao final, abandona a casa e a família e segue seu destino com a destemida figura. O relato se completa com a primeira noite de amor do casal, sobre os pelegos jogados debaixo do carroção, cujo fundo, com rachas e falhas, permite o luar iluminar o corpo da amada. Esta cena lida no período da juventude inflamou a minha imaginação. Uma das minhas indagações, depois das infinitas conjeturas eróticas, sempre foi como um mineiro – tribo a que devoto a maior admiração em todos os sentidos – poderia descrever uma cena tão gaúcha,
pelos temperamentos extremados e fortes, além da peculiaridade de se passar numa situação muito particular do nosso povo da campanha. Desafiei Claudinho com os comentários a respeito da cena, acreditando que ele não a conhecia. Recebi uma resposta certeira. Ele me devolveu com um cartaz de um filme de Fernando de Barros, que eu desconhecia, com a participação de Maria Della Costa e Tônia Carreiro interpretando personagens do discutido texto. Pouco depois, durante um encontro com Jayme Monjardim, falávamos de cenários e temas gaúchos. O cineasta tem especial entusiasmo com o pampa e está colocando em evidência a Vila Flores, do bairro Floresta, com seu filme O Avental Rosa. Comentei os textos de Simões Lopes Neto e Ivan Pedro de Martins, e naturalmente os relatos de Caminhos do Sul, cujo exemplar, encontrado na bem provida Traça Livraria e Sebo, já passei às suas mãos. Ivan Pedro de Martins foi casado com outra talentosa intelectual, Elsie Lessa, paulista que também brilhou pela beleza no Rio de Janeiro nos mesmos tempos de outra figura fascinante, Adalgisa Nery. Agora, junto com um grupo de amigos que consegui motivar com a literatura de Ivan Pedro, cuja segunda edição tem comentário de Carlos Jorge Appel, da editora Movimento, que relançou a Trilogia da Campanha, ciclo romanesco composto de Fronteira Agreste, Caminhos do Sul e Casas Acolheradas. Sobre a editora Movimento, este será o ano de comemorar suas cinco décadas de atuação. | 27
Bá, que delícia
Sabor com sotaque Não foi só o coração que trouxe o chef Alban Rossollin para terras brasileiras, ele também se encantou pelos sabores e a criatividade tropicais. Nascido em Papeete, no Taiti, em 1980, seus pais são naturais de Marseille, no sul da França, e se mudaram para a Polinésia Francesa em 1978. Mesmo pedaço de paraíso que inspirou o artista Paul Gauguin no final do século 19. Embora fosse bom aluno, aos 17 anos Alban só queria saber de sol e surfe. O encanto pela gastronomia vem de mãe e avós cozinheiras de mão cheia. Antes de sair do Taiti, onde passou uma encantada e inesquecível parte da vida, ele trabalhou no restaurante de um amigo. Foi quando sentiu que se realizava dando prazer às pessoas e que ficava feliz vendo-as relaxarem enquanto ele trabalhava. Velejar sempre foi outra paixão por ele cultivada durante todo o tempo em que viveu no Taiti, e em Nova Caledônia, para onde se transferiu para estudar gastronomia. Enquanto estudava na Auguste Escoffier School of Culinary Arts, a vela ganhava cada vez mais espaço na rotina do jovem multitalentoso. Aos 22 anos, decidiu viver na França para dedicar-se mais ao esporte, já que os principais campeonatos aconteciam na Europa. Destacou-se e venceu inúmeras provas com vários tipos de barco, sempre multicasco. A vela, aliás, foi a responsável por ele ter conhecido a mulher e sócia gaúcha, a publicitária e empresária Letícia Loeff, motivo de ele ter escolhido Porto Alegre para viver e abrir as charmosas portas da boulangerie Alban Rossollin l’Artisan. Os dois se conheceram disputando o Mundial de Vela nas Ilhas Fiji. Focado no campeonato, ele acabou vice-campeão, e durante a festa de encerramento, além do troféu, ganhou beijos da 28 |
gaúcha. Cada um voltou para o seu país e um ano depois, em 2008, quase milagrosamente, se reencontraram nas redes sociais. Após um ano de bate-papo a distância e em inglês, em 2009, começaram a namorar e Letícia foi morar com Alban em Marseille. Em 2013, o jovem casal decidiu viver na terra natal dela. Já radicados em Porto Alegre, em 2014, o experiente campeão foi convidado para dar aula de vela no Jangadeiros e no Veleiros e treinar os brasileiros que estavam pleiteando uma vaga na Olimpíada, já que na França treinava e competia no barco Oceânico. Dois deles, Samuel Albrecht e Isabel Swan, garantiram classificação nos Jogos do Rio 2016, na Nacra 17, classe estreante. Missão olímpica bem-sucedida e Alban decidiu parar com as aulas, já que a boulangerie em terras gaúchas já estava nos planos. Onde funcionaram por anos o restaurante Chicafundó e a loja Refúgio Urbano, estreou em 2016 a cheia de graça Alban Rossollin l’Artisan, servindo croissant e cannelé de comer suspirando. Sabores clássicos, receitas tradicionais com fortes raízes francesas e de influências vividas em países como a Austrália, Taiti e Nova Caledônia. Logo na entrada do lugar, uma placa homenageia a Rue de Provence. Às 4h da manhã, Alban já está na cozinha preparando as delícias fresquinhas que serão servidas ao longo do dia: baguetes, croissants, quiches, cannelé, pains au chocolat e tartes. O lugar é pequenino, cheio de charme, alma e sabor. Alban aposta na praticidade e nos segredos da terra natal. As baguetes deliciosas saem pelo menos duas vezes por dia, dependendo do movimento. Um genuíno tesouro francês instalado em plena Bordini. Délicieux! Vive la France! MB
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fotos alessandra pinho
Paola Deodoro jornalista
Moda para meninxs A cada temporada, a moda se renova estimulada pelas mudanças sociais de comportamento. A saia na altura do joelho, as cores pálidas, a barriga de fora, a assimetria, o jeans rasgado, a estamparia pesada e todas as principais sugestões de estilo que se revezam nas passarelas e vitrines (ou na tela do e-commerce) estão ali por algum motivo, refletindo um desejo coletivo, um momento histórico. Por isso, não é de se impressionar que a grande – e talvez a mais genuína – novidade dos últimos tempos seja a moda genderless. Mais do que uma reunião de peças unissex, as coleções sem gênero ecoam uma vontade do mundo de parar de classificar as pessoas em categorias, de acreditar realmente que a liberdade é uma das principais armas para construir estilo (e amor) próprio. Diferentemente do cross-dressing, a questão no genderless (ou gender neutral) não é usar o visual para afirmar uma determinada identidade. A ideia é mesmo descategorizar, colocando
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todas as peças, todos os formatos e todas as cores a serviço de todas as pessoas. Então você vai pensar que essa não é uma grande novidade, já que as mulheres usam calça e os homens usam cor-de-rosa. Pode ir mais além e lembrar que Marlene Dietrich usou smoking nos anos 1930 e que nos anos 1970 os homens usavam camisa de renda. Ainda assim, na teoria, é uma mulher usando roupa de homem e um homem usando roupa de mulher. E, por mais que pareça uma disputa de espaço entre a saia e a gravata, a discussão entra de um jeito bem mais profundo no closet. A ideia é pensar no estilo desvinculado de gênero já a partir do momento da criação. Novos designers, impregnados de uma visão muito mais fresca sobre o indivíduo, estudam caminhos democráticos de estrutura de corte e silhueta, onde apenas o gosto pessoal define a escolha, e nada mais. Mas isso funciona para o varejo? O consumidor já está preparado? Em teo-
ria, começamos a ver esse movimento na apresentação das coleções de verão 2016 com a aplaudidíssima campanha da Louis Vuitton, com Jaden Smith usando saias, e os desfiles únicos de JW Anderson, Burberry e Gucci (que, aliás, virou benchmarking) na mesma temporada. Algumas lojas de departamentos também já lançaram suas estratégias pontuais, apresentando peças sem gênero aqui e ali. E agora, a partir de março, a Selfridges, gigante de departamentos britânica, lança a Agender, uma área de três andares (ainda em formato pop-up) de gênero neutro, em que as peças não são divididas em seções, para estimular o trânsito de homens e mulheres entre todas as peças. Pois é, ao que tudo indica, o jogo já começou!
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Fabiana Fagundes
arquiteta | mude@fabianafagundes.com.br
Galeria em casa Mesmo os mais sóbrios apreciadores de arte estão se rendendo a paredes abarrotadas de quadros. Juntar fotografia contemporânea, fotos de família com pinturas e colagens de artistas urbanos pode ser o pulo do gato que faltava na sua sala. Há registros antigos com galerias de arte repletas de obras até o teto, ao contrário do estilo “cubo branco” a que estamos mais habituados na arte contemporânea. Às vezes, um registro banal de estrada, à la Instagram, quando bem valorizado, passa a ser a “janela” mais importante de um espaço. E são muitas e simples as formas de impressão hoje em dia, com custos baixos em tempos digitais. Na composição do artista Régis Duarte em exposição no Instituto de Artes Visuais, o designer integra retratos que vão desde sua mãe jovem até ícones da cultura pop, como a Marilyn Monroe com um alvo,
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passando por Nara Leão e mães de grandes amigos. A ideia, como esta das paredes da galeria Mascate, mistura diferentes molduras e artistas renomados com as gravuras e experimentos de artistas emergentes. Os cartazes de políticos desgastados pela intempérie das ruas ganham molduras antigas na obra do fotógrafo Gustavo Diehl. As baratas que devoram anúncios de moda, de Magna Killing Sperb, causam impacto com tamanhos de outdoor, perfeitas sobre um sofá de veludo alemão, mas impróprias para uma sala de jantar. Ou seja, tudo sempre é uma questão de bom senso e um pouco de humor. Dizem que começar uma pequena coleção de arte é como fazer uma tatuagem, sempre cabe mais um quadrinho. Outra dica indispensável é a iluminação, que deve ser cálida e pontual, conferindo ao ambiente a tão desejada luz indireta que acalma e aconchega. Luzes nas obras e pontuais para leitura, afinal, quem deve brilhar são as paredes. Nada como acordar de manhã e tomar um café enquanto os olhos viajam por nossa própria galeria. “Mi casa es su casa”, mas na minha sou eu mesma a curadora.
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Angelica Kalil
A história das mulheres Uma exposição da Camille Claudel em Paris justo quando eu estava lá, em novembro de 2013. Reservei um dia inteiro só para visitar o Museu Rodin. Quando cheguei, uma surpresa. Não muito boa. A mostra que marcava os 70 anos de morte dessa artista impressionante ocupava apenas um cômodo. As obras foram organizadas em uma das salas do antigo hotel que foi oficina de Auguste Rodin, célebre ainda em vida. O escultor francês tinha entre seus vários assistentes homens uma jovem, Camille – brilhante como ele. Discípula e mestre se envolveram e a simbiose foi tão intensa, que não se sabe ao certo até onde vai a influência de um na obra do outro. Eu estava começando a entrar a fundo em pesquisas pessoais sobre a invisibilidade das mulheres na história. E aquele momento foi muito simbólico. Esperava ver as esculturas dela espalhadas por todo o museu, que tem um acervo incrível também exposto a céu aberto em um jardim maravilhoso. Mas elas estavam em um quartinho. Assim como estava em um quartinho a artista quando morreu, aos 78 anos, em 1943, esquecida e amarrada na cama de um hospício. Havia sido internada três décadas – três décadas! – antes pelo irmão mais novo, o famoso escritor Paul Claudel. Nunca recebeu visitas nem dele, nem da mãe, que criticava duramente a filha desde a infância, quando o talento em criar formas com argila começou. Escultura era coisa do 34 |
mundo masculino. Mulher tinha que casar, ter filhos e viver à sombra da família, o que Camille nunca fez. Conhecendo um pouco sua biografia, fica fácil entender por que foi considerada louca e segregada da sociedade parisiense da época. Ela rompeu com o lugar que estava destinado ao seu gênero. Era um exemplo de não submissão para suas iguais. E, mais do que tudo, ameaçou ofuscar o nome de homens importantes para a arte da época, inclusive o de Rodin. Camille criou uma obra carregada de inteligência, dramaticidade e poesia, mas é sempre lembrada como a ex-amante paranoica que não aguentou o rompimento com um homem conhecido, mais velho e casado. A história é mesmo escrita pelos vencedores. É hora de assumirmos nosso próprio discurso. Por mulheres como Camille Claudel, por nossas antepassadas, por nós mesmas, por nossas filhas e netas.
Flávio Ilha jornalista
A beleza que não é só minha Reza a lenda que, quando dois talentos se encontram, o reconhecimento é imediato. Foi assim com Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em 1956 – há exatos 61 anos. Vinicius, então um conhecido poeta e intelectual que se aventurava pelo mundo da música popular, precisava de um maestro para musicar a adaptação do mito grego do Orfeu para a realidade brasileira – mais especificamente do Rio de Janeiro, então capital federal – dos anos 1950. Tom, um pianista já conhecido na cena carioca como um talentoso arranjador, aceitou o desafio e a peça Orfeu da Conceição foi um sucesso, virou filme, venceu o prestigiado Festival de Cannes e, de quebra, deu início à mais bem-sucedida parceria da Bossa Nova. São da dupla o LP inaugural do movimento, Canção do Amor Demais, gravado por Elizeth Cardoso, e a canção mais conhecida do movimento, Chega de Saudade. Tom e Vinicius adotaram um modelo de trabalho muito simples: cada um emprestava seu imenso talento particular, sua genialidade, sua bagagem cultural e artística para impulsionar um projeto comum. Vinicius era essencialmente um poeta: leitor de Dickens, Proust. Mas quem garante que muitas das melodias da dupla não tiveram sua participação, inspiradíssima? Tom, por outro lado, era conhecido por ser um músico extremamente talentoso, influenciado por Debussy e Ravel. Mas quem é capaz de ignorar seu dom para a poesia, gravado em canções como Águas de Março e Wave? Colaboração sem hegemonia. Parceria sem chefe. Troca de admirações. Pode parecer paradoxal migrar da cultura para a economia, e de fato é. Tom e Vinicius, e muitas outras parcerias em áreas tão díspares como música e ciência, mostraram como os conceitos de colaboração horizontal sem dúvida podem – e devem – estar presentes num cenário contemporâneo de desafios empreendedores, em que o talento, a criatividade e a ousadia
são características decisivas. Quando a reunião de talentos busca um conjunto de benefícios comuns, como no caso do Projeto Iguaçu. – É como numa dança: quem conduz? Não importa. Importante é que alguém, em algum momento, dê o primeiro passo – explica o arquiteto Ricardo Ruschel, parceiro do também arquiteto Márcio Carvalho na Smart Arquitetura para a Vida Contemporânea. Exemplo de parceria bem-sucedida no conceito de habitar, que congrega não apenas elementos funcionais, mas percepções envolvendo bem-estar, pertencimento e responsabilidade social, o ateliê de desenvolvimento imobiliário se caracteriza desde sua criação por apostar em projetos colaborativos, sustentáveis e conceituais. Os seis projetos assinados pela Smart em oito anos de atividade se caracterizam pela ousadia das propostas. A maioria batizada com o endereço do empreendimento, outra marca registrada da incorporadora butique. No caso do Projeto Iguaçu, a ousadia deu um passo adiante: além dos itens funcionais de uma moradia, a Smart revestiu o empreendimento de arte. Painéis executados pela artista gaúcha Heloísa Crocco dialogam com os valores locais. Parceria que se estendeu aos móveis da Saccaro, que junto com as obras de Crocco ilustram um showroom modelo montado na loja da tradicional fabricante em Porto Alegre. Uma maneira de aproximar arte e arquitetura, não apenas como contemplação, mas na condução de todo o processo criativo, como salienta o arquiteto Márcio Carvalho. – Estamos comunicando: não queremos mais a cultura doentia da ostentação, mas o prazer de nos sentirmos bem. Nossa ideia é mais Barcelona e menos Los Angeles – destaca Carvalho, em alusão às diferenças urbanas entre duas cidades diametralmente opostas. | 35
Objetos e desejos Henrique Steyer
A alma casa Muitas pessoas me pedem dicas para dar um upgrade em suas casas de forma prática e fácil. Para mim, o conselho mais importante é: seja você mesmo. Não há nada mais sem graça do que uma casa com cara de showroom de loja de móveis. Fuja desta solução enquanto é tempo. É lindo quando entramos em um lar e conseguimos enxergar no ambiente a personalidade de quem mora ali. Gosto da frase que diz: “Cante sua música e todos vão querer dançá-la”. É disso que estamos falando... Descubra quem você verdadeiramente é, e deixe isso aflorar, invadindo sua casa. É em casa, na hora em que estamos mais desarmados, que choramos nossas maiores derrotas e comemoramos nossas maiores conquistas. Vale a pena investir nisso para vivermos melhor. Nossa existência por aqui é tão curta. Então, que seja leve ;) Quando uma mulher se produz para uma festa, ela deve caprichar no colar e maneirar nos brincos. Ou talvez pesar na roupa e aliviar nas joias. Em uma receita bem resolvida, temos os ingredientes principais e os temperos, pensados para realçarem o sabor do prato. Sempre teremos papéis principais e papéis secundários no elenco. Na arquitetura e no design, a regra é a mesma. Escolha quem será o astro principal e torne-o o ponto focal para brilhar no ambiente. Permita que outros itens peguem um papel secundário. Não tente fazer com que tudo seja importante demais, isso só vai resultar em ruído visual e parecer um carnaval. Seu ponto focal pode ser uma cor irreverente, uma obra de arte inusitada ou uma peça fora de escala. Acho incrível objetos que parecem estar fora do seu lugar original. Isso gera im36 |
pacto. Gera aquela sensação de Uau! Seja o que for, escolha algo bom para chamar atenção. Não queremos que seu ambiente se pareça com aquela perua em noite de festa. Por último, para dar aquele toque final na produção, lembre que todos nós temos objetos de decoração enfiados dentro de alguma caixa escondida embaixo da cama ou em algum canto da casa. O que você acha de resgatarmos essas caixas e darmos uma mudada na look da casa? Antes de correr para as lojas, dê uma boa olhada no que você já tem, veja o que seus pais têm em casa também. Você vai se surpreender com o que pode fazer com aquilo que já tem em casa. Mas lembre-se sempre do que Coco Chanel uma vez disse: “Antes de sair de casa, olhe no espelho e tire alguma coisa”. Em se tratando de design, não é diferente, é essencial saber a hora de parar. Good luck!
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Lilianzinha, a terrível “A Lilianzinha era terrível”, conta a mãe, Eneida. Todos dormiam na casa dos Tito e ela pedia mais uma canção. A música corre nas veias de Lilian Carolina Tito desde bebê. Pai DJ e dono de boate, mãe professora que criou com esforço Lica e a irmã Ana, com quem ela cruzava a Redenção serelepe para o Instituto de Educação em uma aventura entre árvores e sons da natureza: “Era lindo. Cresci com uma vida simples, via alegria em todos os momentos. Estar com amigos me fazia feliz”. Aos cinco anos, tia Gisela perguntou: “Lilianzinha, o que você vai ser quando crescer?”. E ela: “Cantora!”. A tia devolveu: “Cantora não, cantora vai para a Playboy”. Ela encerrou: “Tudo bem, tia, de dia vou para a Playboy e de noite eu canto”. O tempo passou sobre skates e patins, imitando Michael Jackson ou Rosana nas reuniões dançantes do prédio, onde montava o som, bolava os convites e era DJ. As férias eram em Imbé e Tramandaí, onde o pai teve várias boates, como a Viver a Vida. Aos 14 anos, viu um jogador de futebol dizer que se não fosse jogador seria frustrado. Entendeu ali que precisava cantar. Conheceu o rap e transformou suas letras em música. Aos 18 anos, em uma festa do DJ Hum, ela venceu
a promoção em que o melhor rap ganhava um CD com instrumentais: “Nesse dia, conheci outros rappers e comecei a cantar em festas e festivais de hip hop. Vieram a Groove James, banda do coração, e a La Bella Máfia, que fez história no rap feminino”. Em seguida, comandava um programa de rádio comunitária e dava oficinas na Febem e para professores. Já abriu shows do Ja Rule e Beastie Boys e dividiu o palco com Marcelo D2 e Afrika Bambaataa, o pai do movimento hip hop: “Ele faria show em São Paulo, mas eu não tinha dinheiro e não conhecia nada. Vendi umas coisas em brechós e fui. Da rodoviária direto para a Galeria do Rock. Dali fui para uma rádio e conheci o Max B.O., que ia cantar nesse mesmo evento. De repente, eu estava no palco cantando com Afrika Bambaataa!”. Entre as muitas parcerias bacanas de Lica está a com o multi-instrumentista Günter Fetter, que compôs, gravou e produziu seu primeiro disco, The Best of Até Agora, lançado no Rio recentemente e que no dia 6 de abril será lançado no Ocidente, para em seguida pegar a estrada. “Nunca fui uma musicista que ama estar no estúdio, minha parada é no palco”. Brilha o olho, Lilianzinha! MB andré tavares
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Saudade gaúcha? Amigos, família, Redenção, Mercado Público, roda de chimarrão, sotaque. De viver a cena musical da cidade, que está tão rica. Acompanho os amigos. Encantos do Rio? O calor convida para a rua, conhecer gente e fazer amigos é fácil. Adoro a Floresta da Tijuca, a praia, sentar em Santa Teresa e fazer sarau. Assim conheci metade dos meus amigos cariocas. É um momento de... Amor e muito trabalho! Estou feliz há três anos e ele me apoia muito nessa vida inconstante da arte independente. Quem é Lica e o que deseja da vida? Sou uma idealista que acredita que um mundo melhor é possível. Tudo que nos acontece, bom ou ruim, é responsabilidade nossa. Levamos nossa vida para onde quisermos, para onde devemos. Fica um “desejo” de que todos descubram sua missão. A música é... Transformadora. Já achei que a música era minha, que eu era a minha voz. Quando perdi a voz, descobri que sou apenas um canal para ela existir. Isso me faz querer ser melhor todos os dias. Qualidade e defeito? Ansiedade é um defeito, quero as coisas para ontem, mesmo sabendo que tudo tem seu tempo. Sou otimista e alegre. Artistas que te inspiram? Erikah Badu, Missy Elliott, Destiny’s Child, Aaliyah, Timbaland, Amy Winehouse, Elis Regina, Tim Maia e Jorge Ben, Céu, Ultramen, Criolo e Simone Mazzer. Mudar em 2017? Os políticos do Brasil, né? Mas como só conseguimos mudar a nós, quero me exercitar mais, comer e dormir melhor e compor muito. Uma música? Para dançar: Long Time, do Mayer Hawthorne. Para pensar: Por que é Proibido Pisar na Grama, do Jorge Ben. Que artistas têm feito a tua cabeça recentemente? Escuto muito o Mayer Hawthorne, Rael, Criolo, Rihanna, Sharon Jones, Lívia Cruz, The Internet, SBTRKT e Tonho Crocco. | 39
rochele zandavalli
pong
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Adorável mutante
Raul Krebs e os irmãos cresceram sem grades e correndo pelas ruas do bairro Petrópolis: “Aos 30 anos, meus pais tinham quatro pestinhas, uma verdadeira confusão. O quinto elemento é mais jovem”. Primogênito de cinco meninos, criado livre e encantado pelos avós intelectuais, ele se lembra com saudosa magia das férias entre o Petrópole Tênis Clube, Tramandaí, Floripa e Garopaba. Depois no Rosa ou no Rio com os amigos, de carona ou de ônibus. Bom era sentir o pé na estrada e a mochila nas costas nos anos 1980 e 1990. No Rosário, no Campus do Vale, onde cursou Sociologia, ou na Famecos, quando fez Publicidade. A comunicação audiovisual já era afeto do avô paterno, sociólogo e também documentarista: “Com 13 anos, ajudava o ‘professor Krebs’, que produziu um acervo de 10 mil fotos e 68 documentários em Super8 que está sendo digitalizado”. Aos 18 anos, queria ser redator. Entrou na Escala, onde aprendeu e fez amigos. Por cinco anos, foi assistente de um fotógrafo que tinha feito moda em Paris e Milão: “Fui abduzido pela fotografia, a simpatia e o profissionalismo do Reinaldo Cóser”. Além disso, muito show de punk, cinema, Oswaldo Aranha e Ocidente. Festas estranhas com gente esquisita a bordo do Fusca azul: “Quis ser punk, pichei muro e vadiei pelo Bom Fim. Também curtia surfar na praia e comida natureba. Sou um ‘multivíduo’ mutante e desejo continuar mudando sempre”, conta o talentoso artista e pai dedicado e apaixonado do lindo Pedro. MB
Uma história do Raul? O meu estúdio não é Mutante por acaso. Um amigo me apelidou porque dizia que eu tinha um cabeção e que mudava muito. Fui cabeludo, hard rock, careca, usei mullets, franjão rockabilly e cabelos verdes. Trocaria Porto Alegre? Todas as vezes em que vou para um lugar bacana, penso em passar mais tempo. Consegui voltar para cidades de que gostei, como Amsterdã e Paris, onde estudei portrait. Curto demais sentir a calma das ruas de Montevidéu. Aqui perdemos a calma. Um sonho é... O de todo fotógrafo: viver do próprio trabalho e produzir imagens marcantes na vida das pessoas. Se essa produção contribuir para um olhar mais crítico e um mundo mais culto e aprazível do que o atual, melhor. Um ensinamento? O Nenung, do Darma Lóvers, me ensinou sobre o budismo tibetano e que “tudo é impermanente”. Uma verdade que traz serenidade para a vida. O meu amigo Zico Farina dizia “fazer é libertador”. A prática do fazer liberta de muitas amarras. Mas o maior ensinamento é ser pai. O que te inspira? A curiosidade por tudo que vejo. Não pode faltar prazer de fotografar porque o terreno é pedregoso. O fotógrafo tem que saber o que quer fazer e fazer com prazer, curiosidade, alguma excelência técnica, certo arrojo criativo, inquietude produtiva e envolvimento. Defeito e qualidade? Talvez o que mais me incomode seja uma ansiedade acima da média. Mas prefiro vê-la como uma inquietude que pode transmutar em propulsor da curiosidade e gerar movimento. Ídolos? Mudam com o tempo. Ando ligado em fotógrafos cercanos, como Alejandro Almaraz, Pedro David, Gabriela Mo, Marco A.F., Fabio Del Re e Rogério Reis. Alguns amigos, como a Rochele Zandavalli, que fez meu retrato. Ídolos são os Beatles, Ramones, Bukowsky, Bowie, Helmut Newton, Otto Stupakoff, Joel-Peter Witkin, Cindy Sherman, Francesca Woodmann. Arrependimentos? Momentaneamente, talvez algumas coisas. Tudo é parte de uma experiência grandiosamente curta que é viver. Não há tempo pra arrependimentos. Em 10 anos... Quero estar fotografando, ensinando o que aprendi e sendo um bom pai. Talvez tomando um Cosmopolitan do Vini (Groovaholic) ou da Nani (Capone). O que te seduz na fotografia? Adoro trabalhar com imagem e pessoas. Ter objetivo e alcançar com plenitude. Todos os projetos com impacto social positivo são marcantes para mim. O que mudar em 2017? Essa vibração belicosa e ruim que está nas pessoas. Queria vê-las mais positivas, leves, acolhedoras e amigas. O mundo anda duro, feito de ferro e pedra. Se conseguíssemos fazer mínimas mudanças, todos os dias. Hoje penso assim, mas amanhã o que penso pode mudar. | 41
Claudia Tajes
Chegaram as contas Não sei na sua casa, mas na minha esse papo de que o ano só começa depois do Carnaval já não cola há muito tempo. E nem aqui na nossa revista, que fechou esta edição enquanto os primeiros foliões já dançavam na Cidade Baixa... É logo nos primeiros dias do ano que a gana faturatória dos nossos governantes, em todas as instâncias, ataca com tudo. É preciso trabalhar duro para pagar a conta. Enquanto o pessoal se distrai com finais de semana na praia e samba na avenida, o que não falta é imposto na caixa de correio. ... Quando criança, eu não entendia por que os meus pais voltavam tão apertados das férias. Agora tudo faz sentido. Depois do Carnaval, é também a maldita
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hora de juntar os papéis para o Imposto de Renda. Uma piada portuguesa diz: não se esqueça de colocar o governo como seu dependente na declaração de rendimentos. Pura verdade. A diferença é que os dependentes naturais retribuem com amor e alegrias. No caso dos impostos, o que a gente ganha mesmo? ... Tentando resolver pendengas (que nem existiam) na Secretaria da Fazenda de Porto Alegre, tive a primeira – e talvez única – iluminação da minha já longa vida. A loja para tratar de IPTU, ISSQN e outras siglas tão simpáticas quanto fica na Travessa Mário CINCO PAUS. Só pode ser porque apenas UM seria pouco demais para cravar no contribuinte. Bota endereço bem escolhido nisso.
Bá, que show Ivan Mattos jornalista
Alice que toca na banda
Quem não conhece Alice Urbim, com sua figura marcante e personalíssima, sempre de roupas pretas, o cabelo curto com a franja característica caindo sobre o rosto de pele alva e óculos com molduras únicas, pode até se intimidar ao primeiro contato. Principalmente quando se sabe que ela é, há mais de 30 anos, um dos nomes referenciais da televisão gaúcha, por trás da gerência de programação da RBSTV e uma das mulheres mais influentes no cenário da cultura local. Ela já foi assistente de produção, produtora, coordenadora de produção, supervisora visual, chefe de reportagem, gerente de produção, tudo isso na RBSTV. Mas ela é muito mais do que seus cargos. Alice Urbim, com nome e sobrenome, também foi professora de crianças, lecionou na Famecos/PUC, onde também se formou e coordenou as cadeiras de Televisão, foi uma das criadoras do projeto Caras Novas, produziu e divulgou teatro e cinema e formou boa parte dos profissionais que hoje estão no vídeo gaúcho. Curioso é ela nunca ter passado para a frente das câmeras. “Nunca, só dei aula, ensinei muita gente a fazer entrevista e a apresentar telejornal e previsão do tempo. Sempre tive prazer em transmitir conhecimento, em democratizar o saber”, arremata. Uma das pioneiras em um ambiente predominantemente masculino, Alice foi conquistando seu espaço no mundo da televisão operando uma metamorfose em sua voz e até em seu jeito de vestir. “Eu fui me transmutando sem perceber. A história da roupa preta, ou do pretinho básico, foi por comodidade! Não dirijo, nunca tive carro, saio de manhã, volto à noite com diversos compromissos. É mais
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fácil escolher o que combina com preto, é o preto, não é? Perde-se menos tempo e estamos sempre bem-vestidos. Vestir preto faz um estilo com a negação das outras cores. Forma uma identidade. Sou muito branca, quase uma Mortícia! Gosto do batom vinho e aí já faz o estilo com uma franja cultivada, cabelo bem curto e óculos com molduras únicas. Ninguém me disse que eu ficaria bem assim, eu fui curtindo o estilão e hoje só um bom psiquiatra para tirar o preto da minha vida. Faz parte de mim! Não me reconheço sem vestir preto”, sentencia. Alice passou por todas as mudanças tecnológicas dentro da televisão. Começou nela ainda em preto e branco, ao vivo, com os telespectadores se comunicando apenas por telefone, sem os atuais links ao vivo, contatos por e-mail, redes sociais, chegando até o desligamento do sinal analógico da TV. Ela destaca que a TV nunca perdeu a característica de ser importante na vida do brasileiro, aquela famosa luz azul no centro da sala. “Hoje a televisão é on demand, por escolha, está no celular, nos tablets, no computador, foi isso que mudou, a mobilidade do sinal, o conteúdo humano é o mesmo. O programa Encontro, da Fátima Bernardes, por exemplo, ainda é o mesmo TV Mulher, dos anos 1980, que fazíamos, até as perguntas sobre sexo são as mesmas”. Sobre o futuro da televisão, ela responde assertiva como sempre: “O cinema foi para dentro da TV. A televisão está ao alcance da mão. Foram as conexões que se alteraram. Hoje nós temos vários programas no ar, as redes sociais se encarregaram de fazer este serviço. Hoje todos são produtores de conteúdo, apenas o que muda é a credibilidade de cada um, a con-
fotos tonico alvares
fiabilidade que determinadas pessoas têm ou não. E a grande questão é como monetizar estes conteúdos, esta é a questão de 1 milhão de dólares, a grande interrogação. Quem paga esta conta?”. Costumo dizer que eu conheci uma Alice faceira! Competente, divertida, atilada,
de raciocínio rápido, focada. Capaz de reunir amigos das mais diversas latitudes em sua casa pelo simples prazer da convivência. Sua casa, aliás, que é um pequeno museu, abriga uma infinidade de lembranças de viagens, quadros, fotografias, móveis, brinquedos e objetos pessoais que encantam adultos e | 45
crianças. Circular por seus ambientes merecia o pagamento de um ingresso, como diria a amiga/atriz Suzana Saldanha, tal a diversidade de objetos que captam a atenção. Essa casa tem uma bela história. Foi ali que, recém-instalada, após o rompimento de três anos com o marido, o escritor Carlos Urbim, ela reatou o casamento, que durou até a morte dele, em 2014. Apaixonada pelo professor, Alice se casou com o mestre e teve os filhos Emiliano, também jornalista, e Glauco, que é produtor de cinema. Ela enxerga nos dois traços positivos e negativos que eles herdaram dos pais e fica curiosa por identificar a mesma coisa no pequeno Miguel, o neto que é outra de suas alegrias. Com Urbim, ela aprendeu muito, leu muito, correu atrás para acompanhar o escritor. E assim formaram uma das duplas mais festejadas de Porto Alegre, em todos os âmbitos. A amiga e colega Tânia Carvalho confirma essa paixão. “Sempre fiquei muito impressionada com a sua dedicação à vida profissional. Quando ficou doente, mesmo nos dias de quimioterapia, ela vinha trabalhar. Mandou fazer uma peruca igual ao seu cabelo e morria de rir, dizendo ser mais bonita que o natural. Ela só parou quando Carlos Urbim ficou doente. Sempre foi apaixonada por ele”, conclui. A jornalista, que constantemente integra júris de concursos de filmes e peças de teatro, se diz uma consumidora de cultura. “Eu me alimento de teatro, show, palestra, evento. Gosto de fazer parte do cenário da cultura de Porto Alegre independente de ser repórter da área ou jurada de prêmios. Sinto necessidade de estar próximo das pessoas que fazem 46 |
arte! No ano passado, participei da Escola de Espectadores, sob a batuta do jornalista Renato Mendonça. Senti necessidade de ter mais teoria de teatro, já que minha formação é de jornalista. Às vezes acho que sou meio arroz de festa do teatro, gosto de ir a tudo ou quase tudo! É a tal da reciclagem sustentável. Eu preciso disso para viver”, relata. Alice através do espelho. Quem tu vês hoje? “Eu me vejo enfrentando a vida sem mimimi, sem muita dor. Eu adoro estar viva, quem já teve uma sentença de morte com um diagnóstico de câncer sabe disso. Do outro do lado do exame está a palavra morte, porque tu não sabes a extensão, não sabes o desenvolvimento da doença”. Mas, graças aos cuidados médicos aos quais ela continua atenta, aos exames constantes, a saúde está em ordem. Página virada. Alice se enxerga uma pessoa realizada. Rodeada de amigos, dos filhos, do neto, do trabalho, da arte e da cultura local. Hoje ela é a agente literária de Carlos Urbim. O acervo e a obra do autor de Um Guri Daltônico, Piá Farroupilha e Uma Graça de Traça, entre tantos outros, permanece vivo e encantando adultos e crianças. A Biblioteca Virtual Elefante Letrado segue alimentando as novas gerações de leitores que também adoram o contato físico com os livros nas andanças do Projeto Kombina, com as três kombis pelos shoppings e praças da cidade: a Kombi Karlos, a Kombina e a Kombi Alice com o Minimuseu do Brinquedo. Ninguém morre nesta história. Seu lema de vida: “Tem gente que escolhe ver a banda passar ou tocar na banda. Sempre resolvi tocar na banda!”. E Alice segue faceira.
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OutBá
O olhar de Alice Alice Ferraz teve uma criação bem enraizada nas tradições da maior cidade da América Latina. Filha do meio da família Ferraz do Amaral, tem nove irmãos por parte de pai, que lutou na II Guerra, seis deles por parte de mãe. Pequena, movimentava a vizinhança criando, exibindo e vendendo pulseirinhas de miçangas pela rua. Usava os conjuntinhos que fazia e as pessoas encomendavam igual. Ninguém a levou a sério quando começou o interesse de verdade pela moda: “Eram todos médicos e advogados e achavam moda uma bobagem. Gosto de produto, da roupa, do tecido. De ir a fundo nisso”. Antes de virar empresária de moda, tecnologia e CEO da F-hits, Alice fez aulas de dança, etiqueta, aprendeu alemão e se casou aos 20 anos na Igreja Nossa Senhora do Brasil, ao som do Instituto Baccarelli. Aos 26, com o nascimento de seu único filho, Gabriel, algo mudou: “Eu não podia nada. Casei para sair de casa. Tive uma crise e me dei conta de que eu não era aquela pessoa e de que queria fazer a minha vida”. Foi o que fez. Deixou para trás a mocinha de família quatrocentona e foi trabalhar com moda: “(Risos) A pessoa não é formada, é patricinha, não faz nada. Quer trabalhar com moda?”. Apareceu uma oportunidade na Forum. Da Forum foi para a Mappin e Mesbla, onde comandou equipes e estratégias de marketing. Depois das duas experiências apaixonantes e exitosas com grandes marcas dos 26 aos 32 anos, chegara a hora de Alice voar solo. A Alice Ferraz Comunicação assina estratégias de comunicação e marketing 48 |
e a F-hits surgiu desse peculiar olhar de Alice, afiado e certeiro no produto: “Faço a comunicação por meio do produto. Em um momento, só com as estratégias de comunicação, eu já não estava dando o resultado que dava há dois anos. Por quê? Porque o mundo digital tinha começado. Fui entender essa comunicação e o que me encantou foram justamente a tecnologia e o digital”. Alice foi definida no Vale do Silício como uma profissional de moda e tecnologia em uma palestra que deu há alguns meses e que, segundo ela, pode ter sido o momento mais importante da carreira até hoje. Também foi considerada uma das 100 personalidades mais influentes da moda no mundo por uma premiação inglesa: “Pego a minha bagagem de moda e olho para essas meninas que são o canal e levo o conteúdo dentro da verdade delas”. Antes era só o anúncio da marca que falava com o consumidor. Conduzir esses conteúdos sem virar ou formar vítimas massificadas é o desafio: “Olho para elas e vejo um canal de mídia, estou falando com a audiência delas, não com garotaspropaganda ou celebridades. Elas têm uma voz enorme e atingem milhões de pessoas. Têm a verdade delas e transmito a elas o que entendo, de produto, tendência e moda. Elas melhoram e eu também. Sou um funilzinho; elas, um megafone”. Essa fértil descoberta se iniciou há seis anos e ela jura que não se lembra do nome da primeira blogueira que chamou sua atenção durante um desfile da Calvin Klein em Nova York: “Eram poucas. Me encantei com o jeito de uma. Daí entrei em vários
canais e fui observando o jeito como elas falavam. Eu já era muito ligada na maneira de comunicar das pessoas”. Desse estalo, nasceu a F-hits. Uma empresa de curadoria e gerenciamento de blogueiras que revolucionou o mercado da moda brasileira. Na fila de mais de 10 mil e-mails, milhares de meninas lindas e graciosas desejam ser blogueiras. Sua primeira empresa, a Ferraz Comunicação, cuida das carreiras das meninas, divulgando as marcas que nelas apostam. São mais de 50 chanceladas pela F-hits. Uma curte e compartilha a outra e juntas elas viralizam: “É uma nova maneira de falar. O jornalista de moda tem que continuar existindo porque precisamos da visão crítica, técnica, profunda de moda, contar a história. Preciso ler a Suzy Menkes e ver o que ela acha. A blogueira entrou no lugar de espelhar, ocupou o que talvez fosse o espaço dos editoriais”. Alice não pensa em sair de São Paulo, mas gostaria de passar metade do tempo em Londres. Gosta da educação e da seriedade | 49
inglesa, da liberdade de vestir, de ousar, de ser careta: “Você pode o que quiser lá e aqui em São Paulo, você consegue se perder, ser várias vocês. Essa liberdade é linda”.
Moda
A moda e a tecnologia trazem liberdade. Cada mês é uma coisa nova. Não pode ter preconceito. Tem que ser aberto.
Maternidade
Ele tem 20 anos, espero voltar para casa. Ele dirige, não avisa. Dei limites, fui brava, é quem mais amo na minha vida. Um amor desesperador. Prefiro que ele não me ame tanto e seja um grande homem do que um bundão que a mãe protege.
A brasileira
A brasileira quer saber sobre moda e beleza 78% a mais do que as outras mulheres. Somos o país mais conectado do mundo com uma das piores redes de internet. Não termos herança de moda foi um dos motivos do sucesso da F-hits. As mulheres são vaidosas, se cuidam e são sedentas de informação.
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Dom
É chato alguém falar “isso não vai dar certo para você”. Eu acredito muito que o caminho é mais importante do que o final. No caminho se aprende tanta coisa.
Defeitos e qualidades
Tenho um monte de defeitos que quero mudar, estudo a Kaballah. Quer dizer que preciso mudar muita coisa. O ego tem que ser menor, quero ser menos brava e crítica.
Nada se cria...
Sempre tem algo novo. Eu sei que não é novo, mas sou daquelas pessoas que vão desde os cinco anos para o mesmo hotel em Paris e sempre que chegam no quarto ficam felizes. Falo Paris porque é legal, mas pode ser esse momento aqui ou o banho gostoso. Sou um vibrador ligado. Não me angustia tudo já ter acontecido antes. Isso de “ai, não sei, já conheço, não gosto mais, enjoei” é muito buraco para pouca pessoa. Temos que ser mais preenchidas e felizes”.
Nova onda
O YouTube. Para moda, vai ser vídeo, mas ainda tem um tempo. O blog ainda é. A internet não é tão boa, e moda no YouTube ainda é difícil de fazer. Não é como make. O YouTube ainda é jovem como audiência. Estamos no instahistories.
Gaúchas
O forte são os couros e sapatos e a mulherada é linda, quer informação. Um mercado com potencial. São bairristas. É difícil se misturar com vocês. O gaúcho é sério no que diz e no que sabe. Vocês querem as coisas, desejam. É gostoso isso. Essa vontade de querer. MB | 51
As Patrícias aspatricias.com.br
Coletivo 828, elo de estilo e sustentabilidade Uma das delícias para quem ama moda é desvendar espaços que fujam ao lugar-comum. Melhor ainda quando o ambiente não traz uma, e sim nove interpretações do design contemporâneo produzido localmente, mas com qualidade e estilo para encantar exigentes olhares além de qualquer fronteira. Outra vantagem? Esse baú de tesouros ainda fica no Quarto Distrito/Floresta, bairro que está se consolidando como referência de moda, arte e design em Porto Alegre, repleto de outros ambientes que merecem uma visita imediata. Com tudo isso, impossível não se apaixonar pelo Coletivo 828 e fotos otaviano augusto
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suas grifes cheias de charme. No Coletivo 828, todas as marcas integram um movimento que a cada dia conquista mais adeptos, resgatando o real valor da moda: o slow fashion. Ao contrário da profusão de novidades descartáveis do fast fashion, o slow, como o nome antecipa, defende a sustentabilidade ambiental, social e econômica, na qual todos são responsáveis pelo que produzem e consomem. No Coletivo 828, encontram-se peças raras que têm uma cobiçada assinatura verde. A começar pela label que reuniu a turma toda, a PP, que dá nova vida ao couro de descarte.
A PP, que ocupa a loja principal, no primeiro andar, fascinando já ao primeiro olhar, tem curadoria minuciosa de peles excedentes da indústria calçadista – elas seriam desperdiçadas devido às dimensões restritas e por serem tão únicas, que não servem para as grandes escalas industriais. Com essa matéria-prima nobre, as peças são feitas à mão, em um ateliê, assumindo modelagens atemporais e shapes minimalistas, que tornam as criações da PP, principalmente as bolsas, um desejo em todo o Brasil. “A gente teve a ideia de reunir essas marcas que têm um trabalho muito semelhante ao nosso, fugindo ao imediatismo em prol de uma preocupação social e ambiental”, comenta Amanda Py, uma das sócias da marca e arregimentadora desse time verde. Confira as outras marcas que você encontra no Coletivo 828, que fica na Rua Visconde do Rio Branco, 828.
A Ada traz vestidos veganos e de visual minimalista produzidos à mão. A grife, que não trabalha com coleções, é também simpatizante do feminismo e titula cada uma das peças com nomes de mulheres importantes para o movimento de alguma forma. Tudo muito bacana. A Brisa assina uma alfaiataria de extremo requinte com tecidos orgânicos e tingimentos totalmente naturais, como tanino, urucum, casca de cebola. As peças têm um visual leve e fresco, que celebra o elo do conforto com elegância. A Côté produz acessórios com madeira e outros materiais de descarte da indústria, imprimindo um novo significado a essas matérias-primas. O resultado é inusitado e repleto de um desejado requinte contemporâneo.
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Impossível não suspirar com as peças da Cria, que faz decoração para bebês com matéria-prima totalmente orgânica. As mantas e almofadas são a coisa mais querida do mundo. O nome Sall já antecipa a essência da label, que utiliza apenas fibras naturais de seda, algodão e linho em suas criações. As peças são casuais, deliciosas de tocar e lindas de usar. Para apaixonados por dois clássicos do closet, as camisetas e os blusões, o Coletivo oferece a Shieldmaiden, que produz tudo com tecidos orgânicos e sustentáveis. A marca ainda tem mantas. Joalheira de mão cheia, Valéria Sá assina joias contemporâneas com prata reciclada e outros materiais. Até mesmo vidro de garrafas de cerveja é usado para produzir acessórios totalmente autorais. Para quem quer ir além do closet, o Coletivo tem a Mezas, com belos móveis contemporâneos em madeira, aço e concreto em showroom permanente por lá.
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eutenhovisto.com Jaqueline Pegoraro O Eu Tenho Visto estava de olho no Carnaval da Sapucaí. O camarote Allegria, dos sócios Tunico Almeida, André Barros e Gui Vianna, estava instalado no setor 11, pertinho dos arcos. Os RP Diógenes Queiroz e a
gaúcha Fran Hochmüller foram os anfitriões das seis noites de festa, que reuniu convidados como Arlindo Cruz e Bel Marques. O chef Pedro Benoliel e o japonês Tenkai foram os responsáveis pelas delícias do camarote. Andrea Froener, Jaqueline Pegoraro, Zilá Ferraz, Laura Bier Moreira e Sandy Ponzi
Leandro Rodrigues e Luana Matte
Marco Pigossi
Rafaela Sperotto Vianna
Milena Toscano
Debora Tessler e Maicon Corrêa | 55
Crônica Mariana Bertolucci
A beleza e o caos Se tem algo de que não se pode reclamar na largada de 2017 é de frio e de marasmo político. Como costumam ser os verões brasileiros, os primeiros meses do ano foram quentes e agitados. Tive a sorte de passar pela primeira vez os primeiros dias no olho desse controvertido furacão: a Cidade Maravilhosa, de altas temperaturas, que neste verão foram além dos desconcertantes mais de 40ºC dos termômetros digitais de rua (aliás, alguma empresa poderia assumir os nossos aqui de Porto Alegre, não?) e invadiram o Palácio Guanabara. O ex-governador Sérgio Cabral não sai das manchetes e até confessou: “Acho que exagerei”. Usou 15 contas bancárias em sete países para desviar recursos que alcançam mais de US$ 100 milhões, o equivalente a R$ 318 milhões. Sem falar nas quantias em diamantes e ouro, que atingem a marca de mais de US$ 2,5 milhões. É, senhor governador, nós brasileiros temos a certeza de que o senhor exagerou bastante. Os funcionários públicos e a população carioca estão sentindo na carne o seu exagero. Enquanto isso, turistas estrangeiros
seguem sendo baleados, o Exército toma as ruas para tranquilizar a população, seguimos medrosos do Oiapoque ao Chuí e com vontade de morar em Miami. E o povo pula, pula, pula e não deixa de ser feliz na estação mais salerosa do ano, porque é Carnaval no Brasil. Neste último, nem a Marquês de Sapucaí foi poupada do purgatório da beleza e do caos. Exibiu ao vivo em rede nacional as dezenas de feridos graves durante os dois dias de desfile. A culpa, como a de boa parte dos nossos problemas, é do jeitinho brasileiro, de se dar bem, de economizar aqui para levar vantagem ali. Falha H-U-M-A-N-A, falha de caráter e cara de pau. Quesitos em que muitos brasileiros tiram sempre 10! Nota 10. Com direito a estrelinha. Falo sobre o Rio, mas poderia ser qualquer outra cidade brasileira que compartilha dos mesmos problemas de segurança pública e de cara de pau de governantes desonestos. Falo sobre o Rio porque quase nada na minha vida foi tão recompensador e prazeroso quanto ver o sorriso da minha filha descobrindo as maravilhas cariocas. Nem explicar
para ela que meninos da sua idade roubam pessoas na praia com normalidade constrangedora, como quem está fazendo o tema de casa ou acertando as contas com as diferenças do sistema, tirou o brilho do nosso passeio. Falo sobre o Rio porque pensar que a roubalheira da Olimpíada 2016 possa ter começado antes mesmo de a cidade ser escolhida como sede dos jogos me enoja. Se a acusação do veículo francês for confirmada, de novo sentiremos vergonha nacional. Como os pais que sentem vergonha dos filhos ou vice-versa. Um sentimento de dor tão incrédula como dilacerante. Corrosivo e silencioso sobre a nossa consciência cidadã cúmplice e enganada. Com o perdão do bom clichê, falo sobre o Rio porque ele continua lindo, nós, os seres humanos, é que precisamos nos embelezar e nos educar um pouquinho...
Cristie Boff
Designer e Artista Plática
Mario Bellini. Italian Beauty ... É o título da mostra dedicada inteiramente ao arquiteto milanês conhecido em todo o mundo. Uma viagem transversal nos 60 anos de carreira entre design, arquitetura e arte. A retrospectiva dedicada a Bellini tem 30 anos de distância daquela feita pelo MoMa de Nova York, em 1987. Uma homenagem à obra poliédrica do projetista italiano que obteve sucesso em pequena escala, com objetos de decoração ícones que revolucionaram o gosto e estilo, e em grande escala, com museus projetados do Japão à Austrália, dos Estados Unidos à França. O fechamento da mostra se chama Next, porque é sobre os projetos atuais e futuros de Bellini.
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Tina Menna nutricionista
Não engordar é mais difícil do que emagrecer
Bah, como é difícil manter a linha, principalmente no final de semana. A comilança é praticamente abençoada por Deus e instinto por natureza. Mas acho que tudo tem solução, inclusive a pochete que tanto odiamos e que gruda nas nossas cinturas quase que instantaneamente. Comer o que se gosta mas saber o que fazer depois (ou até antes) ajuda muito a não engordar. E já que a gordura não se forma de uma hora pra outra (ufa), temos aí o grande trunfo. É como eu sempre falo, o conhecimento liberta. Quando a gente come muito, principalmente farinhas e açúcares, nosso corpo faz uma reserva de energia. E se a gente usa essa reserva no mesmo dia ou no dia seguinte, fica muito difícil o organismo formar gordura corporal. Isso quer dizer que precisamos programar as refeições “pós-comilança” para não precisar colocar a coitada da segunda-feira em sofrimento, tadinha. Acredito muito que uma refeição possa ser livre (ebaaaa) e a outra refeição, do mesmo dia, possa ser somente proteínas com vegetais pra compensar o estrago e usar a reserva. Uma sopa de legumes, um omelete ou um grelhado com salada, por exemplo. É o que eu chamo de “débito-crédito” da nutrição. Comeu demais, precisa compensar logo. Simples assim. E muito mais eficiente do que se imagina. A gente faz conta o dia todo. Calculamos o tempo que vamos levar para chegar a um lugar, quanto podemos gastar numa compra, quanto tempo falta pra uma viagem... Então, colocar mais essa matemática na rotina não é assim tão difícil. Com essa compreensão, dá para levar a vida de forma gostosa e leve, sem culpas e com o peso estável, que é uma das grandes soluções pra evitar que a obesidade cresça ainda mais. Antes de pensar em emagrecer, é importantíssimo saber como não engordar. Um beijo e uma vida longa com muito sabor e sabedoria pra ti!
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InBá Parador Hampel
Essência serrana Chef Marcos Livi volta à terra natal para resgatar o tradicional Hampel, em São Francisco de Paula Todos os feriados de 2017 já estão reservados na disputada agenda do chef Marcos Livi. Serão dias para curtir a natureza e cozinhar para seus amigos e hóspedes que escolherem São Francisco de Paula para curtir a serra gaúcha. Na ponte aérea São Paulo-São Chico, o proprietário dos bares Verissimo, Quintana, Botica e outras três badaladas cozinhas da capital paulista está realizando um sonho antigo: ver renascer, com todo o charme original, o Veraneio Hampel, hotel aberto desde 1899 em sua terra natal. Para tocar o agora Parador Hampel, Marcos está montando uma equipe de peso. Quer ensinar e fazer história na região. Quando não está na propriedade, a cozinha conta com o chef residente Edu Marques, ex-chef do restaurante Bah, de Porto Alegre, que decidiu acompanhar o amigo Livi desde o começo do novo projeto, com previ-
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são de revitalização do ambiente, incluindo a construção de horta, estufa, academia, sauna/spa, piscina, piscina natural, playground, casinha na árvore, melhoria do acesso às trilhas, nova recepção e um observatório de pássaros, além de reforma em quartos. Quando está no hotel, Livi é uma atração à parte. Gosta de cozinhar na rua, ao redor do fogo de chão, e encantar os hóspedes com seus assados, talento e histórias de gastronomia. Um dos charmes do lugar é também o café da manhã, servido na cozinha aberta e até o meio-dia. – A ideia é quebrar barreiras, aproximar. Queremos que as pessoas conversem com o dono, escolham cardápio, sentem na cozinha e vejam o cozinheiro em ação. Vamos resgatar a simplicidade e muito do bom gosto que se perdeu ao longo dos anos por aqui. As novas formas de consumo trazem
tatiana feldens
as pessoas para o simples e é esta a nossa proposta. Uma experiência completa e acolhedora – diz Livi. Marcos Livi estudou hotelaria na Escola Castelli, em Canela, e deixou São Francisco de Paula há 25 anos. Lidera 220 pessoas que operam em seis empreendimentos. É ligado no 220V e um conceituado estudioso da cultura da cozinha do sul do país – incluindo Santa Catarina e Paraná. Em 2016, além do Parador Hampel, o empresário abriu a pizzaria Napoli Centrale, no Mercado de Pinheiros, onde também tem o Bioma Pampa, um box com produtos do Sul, e, em outubro, inaugurou a Officina, uma padaria, pastifício e empório, no Brooklin Novo.
Uma estrela para os hóspedes
Cada passagem do chef Livi pelo Hampel é uma história para ser contada. No Ano-Novo, serviu o jantar no quintal. Cozinhou ganso defumado, de São Lourenço do Sul, leitão 12 horas, de um produtor orgânico de
São Chico, e preparou um polvo com Linguiça Blumenau, de Santa Catarina. Para a sobremesa, peras com sal grosso assadas no carvão e figos na brasa. Instalado em uma área de 21 hectares, o lugar tem mata virgem, araucárias, xaxins, samambaias e nascentes que formam um lago e cachoeiras. São trilhas e passeios que costumam despertar o apetite dos hóspedes e a criatividade do chef, que adora também providenciar hambúrgueres para a gurizada. – O projeto está pensando muito nas crianças, nos idosos e nos pets. Como os mais velhos vão chegar até a cachoeira? – pergunta. As respostas estão na prancheta do arquiteto Alexandre e estão sendo lapidadas na cabeça do empreendedor apaixonado pelo fogo de chão, pela natureza e por uma boa conversa. O Parador Hampel, como o novo dono, funciona 24 horas e anuncia um novo tempo para o turismo e a gastronomia dos Campos de Cima da Serra. | 63
Andréa Back
publicitária e jornalista
Força da natureza Vivemos uma época de alimentos orgânicos, emoções sintéticas e relações digitais. Quanto mais a sociedade de consumo se aprimora, mais produz consumidores exigentes. Vivemos tempos gasosos até, com opções e urgência infinitas! E estamos transferindo este padrão de exigência para tudo na vida. Não admitimos mais falhas. Defeitos de amigos e familiares saltam aos olhos e à paciência. Filhos precisam ser tão perfeitos, que até a essência do “ser criança” passa a ser questionada. Conviver com eventuais manias dos colegas de trabalho é um favor. Nem nossas humanas imperfeições aceitamos mais (produto para o cabelo que se chama “perfeitamente desarrumado”. Oi?!), medicando a tristeza e criando uma versão simulada do que imaginamos ser nosso melhor para compartilhar com o mundo. E relacionamentos amorosos? Parecem
cada vez mais improváveis. “10 dicas simples para o relacionamento perfeito”, “15 sinais de que sua relação não tem futuro”, “teste do amor – qual é seu par ideal?”. Céus!!!! Projetamos um modelo de relação e/ ou de uma pessoa e exigimos que se encaixe nestas expectativas, assim como esperamos que uma empresa não nos decepcione ao nos fornecer um produto. Caso contrário, ao primeiro “defeito”, devolvemos, quero meu dinheiro de volta. Logout. Só que gostar não tem garantia nem validade. Gente vem com defeito de fabricação. Tesão, amigo precisando de ombro, filho com saudade, não tem cronograma. Apaixonar-se não tem tendência (por sinal, o legal é que é sempre meio brega). Sentimentos são analógicos, transformadores e incontroláveis. Amor, de qualquer tipo, não é produto. É força da natureza.
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Regina Lunkes Diehl
jornalista | regina.diehl@soudoverde.com.br
A bolinha de gude azul Foi em 1972 que os astronautas da Apolo 17 fizeram uma imagem que mudou a visão de mundo que tínhamos do nosso planeta. Apelidada de “bolinha de gude azul”, a foto se tornou imediatamente um dos mais pungentes símbolos do movimento ecológico e até hoje é uma das mais divulgadas de todos os tempos. Nesse mesmo ano, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) publicou o livro The Limits to Growth (Os Limites do Crescimento), estudo que elaborou uma sombria previsão sobre o efeito do desenvolvimento mundial na perspectiva da sustentabilidade, indicando que, se o ritmo do crescimento continuasse inalterado, um colapso global aconteceria em algum momento do século 21, mas dizendo também que seria possível reverter a tendência com medidas adequadas. O livro levantou enorme controvérsia e recebeu vasta divulgação, foi editado em 30 idiomas e vendeu milhões de cópias, com um grande e duradouro impacto nas discussões ecológicas. Constatando que, apesar do aumento na conscientização geral, relativamente pouco havia sido feito pelo ambiente em grande escala, a ONU criou em 1983 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujos trabalhos resultaram no Relatório Brundtland, que enfatizou a íntima associação entre pobreza e subdesenvolvimento e dano ambiental, além de sedimentar o conceito de desenvolvimento sustentável. O relatório também recomendou a convocação de uma conferência internacional a fim de discutir avanços e necessidades não atendidas desde a Conferência de Estocolmo, nos anos 1970 – a primeira reunião internacional a propor uma política ambientalista de aplicação global. Disso resultou, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Rio66 |
92 ou ECO-92, que produziu uma série de documentos importantes, estabelecendo compromissos e metas a serem alcançadas pelos países signatários. Vários outros encontros e acordos seriam realizados nos anos sucessivos, mas repetidamente se alega que os avanços até hoje são insuficientes. Dentre os documentos produzidos, com princípios que continuam essencialmente válidos e atuais, está a Carta da Terra, aprovada pela Unesco em 2000 como um código de ética global, cujo preâmbulo reza: “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo se torna cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações”. É importante assinalar que essas propostas devem ser interpretadas com certa flexibilidade, adaptando-as a cada momento e a cada contexto específico, num processo de prática continuada e reavaliação constante dos resultados. De qualquer forma, a proteção à natureza e a educação ambiental deveriam fazer parte permanente do cotidiano da sociedade, pois este trabalho, enquanto houver vida, jamais estará concluído.
Trama
Celebração constante O porto-alegrense Jacintho Pilla teve uma infância e adolescência saudáveis e felizes. Bom aluno, de temperamento brincalhão, acabou fazendo fiéis e bons amigos pelos colégios por onde passou: o Julinho e o São Judas Tadeu. Adolescente, era ele o escolhido da turma para organizar os eventos e os bailes da escola. Foi representante de classe, escolhia garotas para serem rainha da escola, organizava e apresentava gincanas, bailes, vendia convites para eventos. Experiências que acabou levando para sua trajetória profissional. Tanto que aos 28 anos foi cursar Relações Públicas: “Eu já trabalhava e, cada vez que o Conselho de RP via meu nome no jornal, mandava cartinhas ameaçadoras”. Mais velho da turma de estudantes de 17, 18 anos, era conhecido dos professores na faculdade por já exercer a profissão. Época em que também fez boas amizades. Dois anos antes de entrar na PUC, aos 26 anos, trabalhando com João Satt Filho na Ribalta, Jacintho aprendeu bastante sobre a carreira de RP: “Sou muito positivo, sempre fui correto e meu jeito de ser e tratar os outros diz sobre mim”. Os sessenta anos estão plenos para Jacintho. Festejou com os amigos em uma festa na Merci Casa de Festas, na cidade em que adora morar. Se tivesse que mudar de cidade, seria para o Rio de Janeiro ou para Nova York. “Vivo um novo momento, dono da minha vida, da minha revista, com liberdade de fazer o que realmente desejo. As consultorias que costumava dar foram reduzidas em função dos profissionais da nova geração no mercado. Meu mailing de pessoas com vida social acima dos 40 anos 68 |
é impecável”, complementa o publisher da revista WE. Apaixonado pela década de 1960, seus costumes e gêneros musicais e way of life, Jacintho é bem realizado com o que já conquistou: “Creio que já tive quase tudo que desejei, sou conhecido e respeitado em minha área, moro sozinho com meus dois lindos gatos, viajei bastante e tenho amigos maravilhosos. Até os 45 anos, vivi com meus pais e os perdi já maduros. Procuro ajudar as pessoas. O futuro é o imponderável. Sou feliz”. Entre os ensinamentos dessas seis décadas estão amar ao próximo sem discriminação, não falar pelas costas e estar presente na vida daqueles que ama. Com a certeza de que a comunicação e o bom jornalismo são fundamentais para a sociedade, Jacintho mantém há cinco anos uma publicação impressa, o que considera um trunfo, um desafio e um sonho realizado a cada edição. Que só é possível porque ele gosta muito do que faz. A rotina do publisher é dormir e acordar tarde, por isso ele já costuma marcar toda a agenda de reuniões para o turno da tarde. Os almoços geralmente são em casa e ele evita o excesso de saídas à noite pela falta de segurança e o desgaste: “Nunca imaginei que chegaríamos nessa insegurança. De toda forma, sou feliz em casa, de roupão, vendo um bom filme com meus gatos. Adoro ouvir meus LPs, tenho todos da infância e juventude em meus equipamentos restaurados. Desligo o telefone e descanso”. Entre os clássicos que alegram essas noites relaxantes estão Elizete Cardoso e Ray Conniff, cantores que Jacintho adora. Dono de uma personalidade apimen-
tada com saborosas pitadas de ironia, uma das suas qualidades também é ser perfeccionista. Característica que colocou em prática ao longo de sua carreira e em um dos seus projetos mais marcantes: a inauguração do Teatro do Sesi, capitaneada por ele e pelo amigo Eduardo Bins Ely e uma equipe para receber 1,8 mil convidados. Com direito a orquestra vinda da Suíça, Ospa, Bibi Ferreira cantando o Hino Nacional e Walmor Chagas como mestre
de cerimônia. Relembrando versos de Piaf em Je ne Regrette Rien, ele não recorda de ter se arrependido de ter feito algo. Daqui a 10 anos, o formador de opinião sonha com um país com menos desvios e mais respeito com o dinheiro público, mais investimentos em educação, saúde e segurança para os mais carentes. Além disso, imagina-se tranquilo, festejando os 15 anos da WE: “A vida é uma celebração constante”. MB
jonas adriano
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Bá, que legal Carla Lendens de Gramado e Canela
Verão em Canela O frenesi da Rota do Sol não é o caminho que escolho no final da tarde de uma sexta-feira. Quando o fim do dia chega, tento me encontrar no sol caindo e no clima ameno que faz na Serra. Engana-se quem pensa que por aqui as coisas são paradas no verão. A Serra tem vida, pulsa e há diversas coisas bacanas para se fazer. Nem só de praia vive o verão gaúcho. A cidade de Canela é um lugar tranquilo, com ruas limpas e cidadãos educados. Todos estão acostumados ao ritmo frenético dos eventos e da temporada de Natal, que deixa a maioria das pessoas meio atônitas. Não é para menos, milhares de turistas, de vários cantos do país, desembarcam na re-
gião para celebrar a data – tão famosa, que invade o mês de janeiro. Sim, aqui o Papai Noel vai embora bem mais tarde. Talvez esse ritmo louco explique por que o nosso verão é tão mais calmo, por que as coisas por aqui parecem ter um gosto diferente nesta época do ano. Andamos sem tanta pressa e curtimos a cidade, que parece agora ter sido feita para isso. São mais de 40 empresas no projeto, entre hotéis, lojas e restaurantes, além da cultura local com teatro, música e até cinema na praça. Espetáculos são oferecidos aos moradores e também aos turistas que buscam a tranquilidade dos dias mais quentes longe do agito do Litoral.
O que fazer no verão de Canela?
Tem hotéis – Rede hoteleira com descontos. Tem parques – Ecoparque Sperry, Parque do Caracol, Ferradura, Bondinhos Aéreos. Tem gastronomia – Descontos na maioria dos restaurantes – e olha que a gastronomia em Canela está dando o que falar. Magnólia, Galangal, Braziliano, Empório Canela e Containner Bistrot são alguns dos lugares descolados que você deve conhecer também no verão. Tem cinema na praça – Todas as sextasfeiras, às 21h, um filme diferente no Multipalco. É só levar a cadeira, chimarrão ou almofadas e curtir. Tem música boa – Nos finais de semana, diversas apresentações de bandas e artistas locais. Tem orquestra e coral, rock, reggae, country e MPB. Aproveite. Por aqui, o verão vai até o dia 31/03. 70 |
Por aí Flavinha Melo chef e dj
Nos vinhedos com as crianças O dia estava lindo, o céu azul, na estrada as hortênsias enfeitavam as curvas, eram muitos parreirais. Casinhas típicas, pequenos produtores de vinho, restaurantes charmosos. Poderíamos estar na Provence ou Toscana, mas estávamos chegando em Pinto Bandeira. Estava com meus sobrinhos Lorenzo e Nicolas (gêmeos), de seis anos, e minha mãe, Maria de Lourdes, queria fazer com eles coisas de “antigamente”. Fomos direto para a Pousada Don Giovanni, um casarão dos anos 1930. Na entrada tem um piano, e os meninos, que fazem aula de música, logo já tocaram as primeiras canções. O dia foi na piscina e, pelas 17h, fomos caminhar pelos vinhedos, pois nesta época do ano as parreiras cobertas de uvas ficam lindas, perfumadas e saborosas. Caminhar entre elas e poder ensinar os pequenos a fazer sua primeira colheita e comer os primeiros grãos é encantador. Foi uma tarde divertida e de grande aprendizado para eles.
Elas fizeram um minitour na vinícola para aprender como é feito o espumante. Terminamos o dia montando um piquenique com as delícias preparadas pelo pessoal da pousada. A noite era de lua cheia, o céu estava estrelado, e a pousada é fechada e se pode caminhar por entre os parreirais e pelas estradas. Pegamos a lanterna e começamos a juntar grinfas de pinheiro, achamos um local apropriado e fizemos uma fogueira. O brilho do fogo iluminava o olhar e a felicidade das crianças. Na manhã seguinte, caminhamos até o mirante e, para nossa surpresa, dentro da propriedade tem um campo de girassóis. Contei a história do Van Gogh, enquanto olhávamos a bela paisagem. Na volta, também vimos o casal de pavões que teve um filhote. A vida que se multiplica! Fomos almoçar no Caminho das Pedras, no Restaurante Dom Angelo, com comida típica italiana. Atendimento excelente e ambiente agradável. Lá tinha uma fonte e dei uma moeda para cada um jogar e fazer um pedido. Eles me contaram no ouvido... Lorenzo: – Eu pedi para não ter mais bandidos no mundo. E o Nicolas: – Eu pedi para poder ter asas e voar. Para finalizar, eles amaram o passeio da Maria Fumaça em Bento Gonçalves. Com direito a show de música italiana e teatro. O que mais me chamou a atenção é que nesses dias em nenhum momento eles quiseram o tablet, pois estavam tão ocupados com a natureza ou tão cansados das atividades do dia, que se desconectaram. O melhor presente para as crianças é estar presente. | 71
Lígia Nery coach
O que mudaria em sua vida? É isso mesmo que estou perguntando, abrindo a possibilidade de você pensar que somos totalmente capazes de buscar aquilo que nos faz sentir a conexão com o que faz nossa vida ter sentido. Antes de termos esse ganho, temos que olhar sem medo para o que nos acompanha no dia a dia e não tem mais significado, não é mais digerido. Pense num sabor que você detesta e num que o faz salivar de prazer só de lembrar... Pois esse é o presente da vida, nascemos com a capacidade de discriminar com precisão aquilo que nos faz bem, nos agrada e faz vibrar. Temos clareza visceral para perceber o que não nos faz bem, o que não digerimos. Assim é com tudo, projetos, trabalhos, pessoas, lugares... Podemos formatar nossa existência acumulando experiências palatáveis ou
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não. Se formos forçando, nos enganando, disfarçando com subterfúgios aquilo que não “nos pertence”, em algum momento o copo enche e a vida cobra de alguma forma. É como enxugar gelo ou encaixotar fumaça. Diante de cenários mais complexos e cercados de variáveis que não controlamos, esses “desgostos” ficam exacerbados e nos apresentam a conta. A possibilidade de buscar e pensar em novas possibilidades, novas rotas, aromas e entrar em sincronicidade com nossa essência, propósitos e valores significativos faz nascer uma base de força e esperança indescritível. Voltar a acessar essa lembrança visceral, de saber exatamente aquilo que faz seu corpo vibrar, é sim uma possibilidade. A vida é tão fugaz, o que você está esperando para acionar esse projeto? Se você sabe, por que não faz?
Madero Container Av. Ipiranga 6111 PORTO ALEGRE: Shopping Iguatemi | Shopping Boulevard Laçador R. Anita Garibaldi 2303 | CANOAS: Av. Getúlio Vargas 4633 Encontre um dos nossos 85 restaurantes: www.restaurantemadero.com.br
MIAMI BEACH - OCEAN DRIVE, 1412 | 73
De Nova York Cristiane Cavalcante
Arteiras em NY Foi por meio da Bia, uma amiga querida, paulistana nova-iorquina, publicitária de formação e RP informal da galeria, que me aprofundei no assunto. Arte sempre fez parte da minha vida de formas diferentes. Mas foi em Nova York, claro, que artistas e a arte passaram a fazer parte do meu cotidiano. Bia é nora da pernambucana Nara Roesler, que, além de ser a titânide das galeristas de arte no Brasil, abriu a primeira galeria brasileira em NY. Com 23 anos, iniciou sua vida no comércio representando artistas locais. É o que chamo de mulher arretada! Ora, em um Brasil como o nosso, no de hoje e no daquela época, onde arte é de última ordem na agenda (digo, no bolso da maioria dos brasileiros), Nara foi guerreira! Arte não é todo mundo que entende e que aprecia, mas ela se fez presente e ajudou a colocar nomes brasileiros e sul-americanos no mapa da rota artística mundial. Vik Muniz, Cristina Canale, Hélio Oiticica, Tomie Ohtake, Laura Vinci, o nosso Iberê Camargo. Também o hermano argentino Julio Le Parc, Daniel Buren, Xavier Veilhan, entre outros gigantes. A sede fica na Avenida Europa, em São Paulo, a filial brasileira fica em Ipanema, no Rio de Janeiro, e a mais recente fica no Flower District, em Manhattan. Por intermédio da Bia, conheci Alexandra Garcia Waldman, diretora da galeria. Foram quarenta minutos de conversa e um monte de coincidências felizes. Alexandra é mexicana, mas tem cara de suíça. Claro, só podia! Viveu em Genebra durante anos. Fala português fluentemente, porque é casada com um brasileiro. Vive no subúrbio de Nova York, tem um filho de quatro anos, 74 |
ama arte, ama livros... pronto! Empatia imediata e muitas coisas em comum e eu podia ficar horas ali batendo papo. Abriu a sua própria editora, a A&R Press, especializada em publicações de design, arte e arquitetura, na cidade do México. Foi consultora da Sotheby’s em SP e agora é a cara da Galeria Nara Roesler aqui em Nova York, que atualmente expõe Cristina Canale e está prestes a ganhar outro endereço no UES (Upper East Side), 69th e Madison Avenue. Um universo complexo, feito de pessoas igualmente complexas e fascinantes com suas histórias e traços. Me pergunto como
tudo acontece. Enquanto a resposta não me ocorre, fico feliz por testemunhar começos, conhecer novos endereços, vibrar na mesma frequência de pessoas interessantes, pela arte dos encontros, pela arte em si, aqui, aí e em toda parte. Para quem vier a Nova York, é bom reservar uma hora para visitar. Se for por agora, no início de 2017, então melhor ainda, pois a Galeria Nara Roesler já estará no novo endereço, 22E 69th Street, e, de lambuja, de 29 de fevereiro até 8 de abril, o carioca Marcos Chaves estará expondo lá. Vale muito a pena!
Lugares favoritos da Bia
Andar pelo Chelsea e, claro, visitar as mil e uma galerias por lá, hospedar-se no Meatpacking District pela intensa vida noturna e pela proximidade dos bairros que adora, como SoHo e West Village.
Lugares favoritos da Alex
Comida – Sushi Hasaki e Casa Enrique Diversão – Sugar Hill Children›s Museum Arte – McNally Bookstore, The Met Cloisters e Sculpture Cente em LIC (Long Island City) | 75
Lívia Chaves Barcellos
O poeta voador Quem esteve no Rio durante as férias de verão teve oportunidade de visitar a exposição O Poeta Voador, Santos Dumont, no Museu do Amanhã. Logo à chegada estava uma réplica perfeita do 14-Bis, na qual o público podia entrar e interagir. E o Demoiselle, que foi o mais completo projeto do inventor. Foi um sucesso. Recebeu diversos prêmios, entre os quais a medalha de ouro no International Design & Communication Awards. Desde que leu Jules Verne, Santos Dumont perseguiu o sonho de voar. E, ao conseguir realizá-lo, tornou-se um dos brasileiros mais famosos do mundo. Com isso, as viagens se tornaram mais fáceis e rápidas, mas, em contrapartida, o avião também se tornou um instrumento bélico. Por esta razão, ao ver quantas mortes sua invenção vinha causando, ele acabou tirando a própria vida. Há poucos dias, foi feita uma pesquisa para saber quais as coisas que mais incomodam os passageiros nos voos comerciais. Ao lermos a lista, somos obrigados a concordar com todos os itens e até a incluir
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mais alguns. Se viajar de avião foi um prazer durante muito tempo, em companhias aéreas de alto nível, agora virou quase um pesadelo. Cada vez aumenta mais o número de assentos, deixando o ambiente muito apertado e desconfortável para os passageiros. Do jeito que está, deveria ser proibido deitar as cadeiras, porque sufocam quem vem atrás. Os obesos deveriam ser obrigados a comprar duas passagens, porque ninguém merece sentar com uma pessoa que ocupa o seu lugar e o nosso. Bagagem de mão também tem que ter limite. Mas ao contrário, com as novas leis de excesso, quando cobram quase o valor da passagem para transportarmos o estritamente necessário, podem crer que não haverá espaço para acomodar toda a tralha que levam para dentro do ônibus aéreo. Outro triste problema é a alimentação. Quando servem alguma coisa, é impossível comer... Ai, que saudade da Varig! E da Panair, onde serviram a primeira Coca-Cola. (A primeira Coca-Cola foi, me lembro bem agora, nas asas da Panair.)
André Ghem tenista profissional
Desafio da mistura Mexer e mexer, sem parar de mexer, já se passaram mais de trinta minutos e nada de o molho ficar pronto. A floculação e a coagulação são algumas das armadilhas que estão no meu caminho. Meu desafio é a interação de forças de atração e repulsão. Misturar o que não se mistura. Homogeneizar água (vinagre, vinho) com gordura (manteiga). Nem MasterChef nem um novo restauranter da cidade, uma brincadeira levada a sério que não precisa ser rotulada, apenas apaixonada. Na arte de cozinhar, provocar reações químicas entre substâncias, tem dessas coisas. Meu molho é feito com manteiga clarificada emulsionada em gemas de ovos e aromatizado com ervas. De cor amarelo opaco, sabor suave, senta muito bem com carnes vermelhas. Em fogo brando e em banho-maria, busco harmonizar os contrários para pôr sobre a mesa um dos cinco molhos-mães da culinária francesa. Amor, carinho, paciência e dedicação fazem parte do protocolo de qualquer receita daqueles que se entregam na cozinha, no cotidiano e na vida. Encontrar o perfeito equilíbrio e a harmonia entre tantos ingredientes imiscíveis é a minha busca, a busca do chef. E, se o molho não der certo, vou continuar tentando, porém, hoje vou até a esquina buscar uma pizza. | 77
Cinema Marco Antônio Campos advogado e cinéfilo
Johnny Depp. Captain Johnny Depp Johnny Depp é um artista reconhecido por crítica, público e pela indústria cinematográfica. Ao mesmo tempo, seguidamente aparece em tabloides e revistas de escândalos com notícias pouco ortodoxas sobre sua vida pessoal. Completando 50 anos neste ano, Depp voltará às telas como o Capitão Jack Sparrow no quinto filme da franquia Piratas do Caribe, da Disney, A Vingança de Salazar, com lançamento mundial no mês de maio. Seu maior reconhecimento artístico, contudo, vem de sua parceria com outro artista outsider, o cineasta Tim Burton, o que rendeu personagens e filmes inesquecíveis, como Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (Ichabod Crane), Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, A Fantástica Fábrica de Chocolate (Willy Wonka) e Alice no País das Maravilhas (Chapeleiro Louco). Johnny Depp é um dos mais versáteis atores de sua geração. Suas atuações vão do sublimemente doce (Em Busca da Terra do Nunca ou Don Juan de Marco) ao extremamente violento mundo dos gângsteres (Aliança do Crime). Não se pode também esquecer que em seu currículo há trabalhos para cineastas do peso de Michael Mann (Inimigos Públicos), Terry Gilliam (O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus) e Robert Rodriguez (Era uma Vez no México). Ainda foi produtor do belíssimo A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, e dirigiu três filmes, sendo um curta e um documentário. Em sua vida fora das telas, Johnny Depp tem sido um conquistador. Namorou Sherilyn Fenn, Jennifer Grey, Winona Ryder e a modelo Kate Moss. 78 |
Foi casado com Lori Anne Allison e com a cantora e atriz francesa Vanessa Paradis, com quem tem dois filhos. Seu mais recente casamento foi com a também atriz Amber Heard. Embora tenha sido indicado várias vezes para o Oscar e para o Globo de Ouro por suas atuações, Depp somente ganhou um Globo de Ouro por seu trabalho em Sweeney Todd, de Tim Burton. “Sou um romântico? Eu vi O Morro dos Ventos Uivantes (1939) dez vezes. Sou romântico.” “Eu sou tímido, paranoico, qualquer palavra que você queira usar. Eu odeio a fama. Fiz tudo o que pude para evitar.” “Claro, eu acho isso tocante, honestamente, mas prêmios não são tão importantes para mim como quando eu encontro um garoto de dez anos de idade que diz: ‘Eu amo o Capitão Jack Sparrow’... Isso é mágico para mim.” (Sobre o diretor Tim Burton) “O que mais posso dizer sobre ele? Ele é um irmão, um amigo, o padrinho do meu filho. Ele é uma alma única e corajosa, alguém por quem eu iria para os confins da terra, e eu sei, com certeza, que ele faria o mesmo por mim.”
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Bá, que imagem Heloisa Medeiros fotógrafa
O que é a arte e para que serve? Esse questionamento nunca saiu da minha cabeça depois de assistir a um videoarte na 29ª Bienal do Mercosul, em São Paulo, há alguns anos. Como as pessoas reagem diante dessas obras? São realmente capazes de se emocionar? Elas as consideram arte? Essas questões serviram de base para o documental e me acompanham até hoje enquanto artista visual. Na última semana, o tema voltou a me encantar depois de escutar o brilhante relato da poeta portuguesa Matilde Campilho em que ela diz que a arte serve para “fraquejar as pernas”. Então, para que serve a arte? A pergunta é complexa e exige múltiplas respostas. Me incomoda o fato de ter que servir para algo, no sentido utilitário do mundo atual. Se ela existe por si só, já cumpre seu papel, que acredito de emocionar as pessoas trazendo uma experiência humana e sensitiva neste mundo. Parece pouco? Para começar, poderia dizer que ela provoca, questiona, instiga e estimula nossos sentidos. Nos tira do lugar-comum, nos descondiciona, isto é, nos retira de uma ordem pré-estabelecida, nos confronta com nós mesmos e, por fim, nos convida para desfrutar amplas possibilidades de viver e de se organizar no mundo. Na minha opinião, é em pequenas porções de sensibilidade e de humanismo provocados pelas artes que ocorre a transformação. 80 |
Na máxima a arte existe para que a realidade não nos destrua. Nietzsche acreditava que somente a arte poderia oferecer aos homens força e capacidade para enfrentar as dores da vida, fazendo-os dizer “sim” a ela. A arte nos faz mais humanos, nos faz grupo, mas também nos faz indivíduos. Cantamos juntos a mesma música, ouvimos em bando silenciosamente um maestro regendo uma orquestra, em grupo estamos no teatro, no cinema. Nos emocionamos com múltiplas e sutis linguagens, de Almodóvar a Godard. Vamos aos milhões para as ruas nos grandes centros em viradas culturais, mas também nos deparamos solitários, contemplativos diante de uma obra que nos toca. Seja Michelangelo, Egon Schiele, Rembrandt, Vermeer ou algum artista contemporâneo ainda desconhecido. Não importa, se EMOCIONA, é arte e cumpriu seu papel.
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Carlos Mânica
Consultor de empreendedoras
Comportamento empreendedor Nunca se empreendeu tanto no Brasil e no mundo. Mais do que inovar e criar um negócio próprio, o empreendedorismo pode ensinar a todas as pessoas, independentemente do seu perfil, condição ou situação profissional e/ou pessoal. Muito se tem estudado sobre o comportamento dos empreendedores e podemos ver que, em sua grande maioria, eles se diferenciam dos demais por não aceitarem mais sua situação atual e assim partirem em busca de um novo resultado. Costumam ser inquietos, corajosos, gostam de desafios, querem inovar, buscam obter sucesso nas suas aventuras, além de objetivarem proporcionar algo novo e/ou diferente à sociedade. Quando um empreendedor coloca sua ideia em prática, ele sabe do risco que corre com a possibilidade de não ter sucesso, porém, ele também sabe que, se não tentar, dificilmente mudará o seu estado atual. Sendo assim, ele arrisca, reúne todas as suas energias e vai com tudo para a sua aventura com sua ideia de negócio. Esse comportamento corajoso tem sido visto com bons olhos por empresas convencionais, principalmente em momentos de crise, quando muitas organizações precisam reinventar suas operações. Essas empresas têm incentivado seus colaboradores a terem um comportamento empreendedor para
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serem mais produtivos, criarem soluções, sugerirem mudanças, buscarem inovações. Empresários “normais” deixaram de ver as empresas modernas com desconfiança e passaram a admirá-las principalmente com relação à gestão dos colaboradores, que têm maior liberdade, menos regras e muito incentivo para criação, inovação e produtividade. Na vida pessoal, também é possível usar o modo de agir dos empreendedores para criar a mudança necessária e atingir novos objetivos. Por exemplo, quando não admitimos mais viver de forma passiva, aceitando as dificuldades, maus resultados e infelicidade, podemos e devemos promover uma mudança de comportamento, buscando soluções para nossos problemas, adquirindo novos hábitos, nos organizando melhor, sonhando, planejando e agindo de forma efetiva como nunca tínhamos feito antes. Quantas histórias de sucesso são baseadas em mudanças. Um obeso que entrou em forma, um lixeiro que virou milionário, um camelô que montou um império, uma dona de casa que criou uma grande marca, uma mãe de família que empreendeu com sucesso. Isso é comportamento empreendedor. Se você não está satisfeito com a sua vida atual, não espere a sorte ou o destino ajudá-lo.
Close Silvana Porto Corrêa
Quarteto do agito O primeiro evento do quarteto foi um sunset, em março de 2016, na Casa NTX. A ideia de João Felipe Justo, Marcos Paulo Magalhães, Pedro e Rodolfo Becker é agitar. E muito. Sócios do Grupo TE2, João Felipe e Marcos já trabalhavam no ramo do entretenimento, e os quatro juntos perceberam que não havia ninguém trabalhando especificamente com experiências de marcas. Foi dessa necessidade de mercado que nasceu a Business for Fun. A primeira parceira comercial foi a Luxottica, detentora das marcas Ray-Ban e Persol. Os eventos são todos divulgados no relacionamento dos guris e por meio das redes sociais. Nem um ano de vida e a empresa dos jovens empreendedores já aconteceu. Ao longo do ano passado, foram nove eventos, quatro deles de grande porte na NTX e cinco do projeto batizado de Noitada, realizados em casas como o 300 e o Le Club Margot. A festa de Natal veio para fechar o ano com chave de ouro. Os guris se dividem e se complementam nas tarefas. O dono do cofre e responsável pelo financeiro é João Felipe. Marcos Paulo assume a estratégia e logística. Rodolfo cuida do
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relacionamento e das promoções com clientes e amigos, função que divide com Pedro, que também controla a gestão da empresa. Os advogados e administradores (Marcos e Rodolfo formaram-se em Direito e João Felipe e Pedro em Administração) já começaram 2017 cheios de projetos. Realizaram um evento para 900 pessoas em Atlântida com a banda carioca Samba de Santa Clara. Desse evento, surgiu uma parceria com o empresário fluminense André Barros, que acabou levando a B4F para o Carnaval da Sapucaí no camarote Allegria. Além disso, já está agendada uma festa na capital paulistana ainda no primeiro semestre. Pergunto a esses jovens e talentosos empreendedores se não tem muitos amigos pedindo ingressos. Entre risos, eles me respondem que sim, tem, e que eles tentam ser o mais linha dura possível: “Se são nossos amigos, querem o bem do nosso negócio, então têm que comprar o ingresso”, conta Rodolfo. Para a capital gaúcha, eles já têm vários eventos agendados. O primeiro será em abril, um sunset na Casa NTX. Regado a tudo que o animado quarteto preza: serviço, comodidade, segurança e produção impecável.
felipe gaieski
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De olho Marcelo Bragagnolo publicitário e agente
Talentos da moda ganham cena Não raro, o mercado da moda desenvolve talentos que conquistam espaço também na publicidade e na dramaturgia. É o caso dos gaúchos Rafael Desimon e Marcelo Boldrini. Rafael Desimon trocou a sala de aula de um curso técnico em informática por ensaios fotográficos para revistas e desfiles de moda num intervalo de poucos meses, ainda em 2012. A trajetória é parecida com a de outros jovens revelados pelas agências de modelos: uma ida ao shopping, o convite de um olheiro, uma avaliação dos agentes e então as atenções de fotógrafos, produtores e estilistas. Depois de alguns trabalhos e de alcançar o posto de recordista de desfiles em uma edição do São Paulo Fashion Week, embarcou para a primeira temporada internacional, em Nova York. Na volta ao Brasil, resolveu estudar atuação e dramaturgia, em busca de ferramentas para o próprio trabalho como modelo. Cursou o Núcleo de TV e Cinema, da Casa de Teatro de Porto Alegre/Take 04, e a Oficina de Atores, curso itinerante pelo país. Em nova temporada nos Estados Unidos, aproveitou para estudar no Studio4 – James Franco’s Acting & Film School e ao final do curso encenou Space, peça escrita por M.J. Mihalic e inspirada no poema Girl-
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friend in a Coma, de James Franco, no Producers Club Theater, em Manhattan. “Foi minha primeira experiência num palco. O nervosismo em me apresentar pela primeira vez e numa cidade como Nova York aumentou ainda mais o frio na barriga!”. Atribui ao empenho nesse aprendizado a conquista do papel protagonista em Feliz Natal, filme publicitário da rede de supermercados Zaffari e premiado como O Melhor Comercial Regional do Brasil de 2015, pelo SBT. “Ter sido aprovado para o filme foi uma surpresa que me deixou muito feliz! Sempre achei os filmes do Zaffari emocionantes e me senti orgulhoso em fazer parte, especialmente ao saber da premiação!”. Desde então, segue estudando: “Fiz os workshops The Lucid Body, com o preparador de elenco e diretor Thiago Felix, que atua em Nova York, e Personagem e Eu, com a diretora e produtora Laís Werneck”. E agora vive a primeira experiência no cinema: Artur, personagem principal do curta-metragem Sétimo Andar, de Gabriel Rocha, história de dois jovens que se apaixonam à primeira vista e que, ao mesmo tempo, é um alerta para os relacionamentos abusivos. “Fui presenteado com um personagem desafiador, por ter uma personalidade muito diferente da minha”. O filme será lançado neste ano em festivais nacionais e internacionais.
cristiano madureira
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De olho Marcelo Bragagnolo
Marcelo Boldrini já tinha curiosidade em atuar nos tempos de guri, porém a ideia só amadureceu quando decidiu retornar ao Brasil, em 2012, depois de uma década vivendo no Exterior e posando para grandes marcas da moda, como Valentino, Dolce & Gabbana, Armani e Missoni. “É um fruto do meu interesse pela arte em geral e pela fotografia em específico, uma busca por me conhecer e encontrar formas de me expressar”. A partir de então, foi estudar na Escola de Atores Wolf Maya, no Amok Teatro, no LAB de Alexandre Britto, com Luís D’Mohr no D’Mohr Studios, com Daniel Herz e com Amir Haddad, que comanda o grupo Tá na Rua, de que hoje faz parte. No cinema, participou de Coração de Madeira e Almas de Fósforo, curtas-metragens de Léo Martinelli. “Ambos trabalham com elementos externos à realidade – num, a força motriz são as batidas do coração, no outro, o tempo. Filmamos no Rio de Janeiro, tem a minha namorada (a atriz Mariana Cysne) contracenando comigo e estão girando o mundo em festivais pelos Estados Unidos, Europa e China”.
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Na TV, participou de Malhação e da série Lúcia McCartney, exibida pelo GNT: “A história foi baseada nos contos de Rubem Fonseca e adaptada e dirigida por José Henrique Fonseca, com enredo ambientado no início de 1969, logo após o AI5. Interpretei Apolo, namorado do personagem do Álamo Facó, que juntos viviam num mundo de liberdade e libertinagem daquela época. O papel foi pequeno, mas me ajudou e me trouxe mais segurança, além de que contracenar com atores como o Álamo, a Antonia Morais e o Eduardo Moscovis foi incrível”. No teatro, participou recentemente de Shakespeare e os Orixás, adaptação de Erida Castello Branco para A Tempestade, encenada em praças do Rio de Janeiro. Marcelo comemora os presentes do último fim de ano: a abertura de sua exposição fotográfica Menino e Menina, no Clubhouse, no Rio de Janeiro, a participação na série humorística A Cara do Pai, com Leandro Hassum, Alessandra Maestrini e Mel Maia nos papéis principais, e a peça Jumento, de Daniel Herz, em que integra o elenco e estreou nos palcos cariocas em dezembro.
gabriel henrique
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Moda
INSPIRADO NAS DIVINDADES DA BELEZA E DA FERTILIDADE, AS ELFAS REPRESENTAM A CONEXÃO COM A NATUREZA, SOB A TERRA, SERES SENSÍVEIS, IMORTAIS, SÁBIOS & COM PODERES MÁGICOS. Numa explosão de cores, texturas e com a liberdade de infinitas combinações nasce este ensaio, criado coletivamente por As Modistas na direção criativa e stylist, Clube Arte e Flores nos arranjos, Heloisa Medeiros nas fotos, Rô Antunes na beleza e Betina Péterffy da Fun Models Management como elfa.
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Blusa e jaqueta Bo.bĂ´
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Vestido Tigresse para Passeio da Graรงa
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Blusa Tigresse para Passeio da Graรงa, jaqueta e saia Passeio da Graรงa
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Vestido Apartamento 03 para For Woman
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Blusa e shorts Tigresse para Passeio da Graรงa
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Blazer Agilitรก Fabolous para Passeio da Graรงa Camisa Monica Negreiros e saia Essenciale para For Woman
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deuochic.com Vitor Raskin
VitĂłria Satt & Pedro Cesar Bergamaschi casaram com cerimĂ´nia religiosa e festa maravilhosa no Country Club. A lua de mel dos noivos foi sob o sol de Turkcs & Caicos 100 |
Amanda Niederauer Cubas e Rafaela Rojas Barros entre as madrinhas
Betina Behs e Julia Laks participaram do cortejo nupcial
João Satt Filho & Iara Ortiz Satt receberam mais de 450 convidados no Porto Alegre Country Club
Lisette & Paulo Afonso Feijó entre os convidados
Roberta e Iara Jalfim foram responsáveis pela organização da festa
A irmã da noiva Cristiana Satt apareceu radiante com vestido do estilista Sandro Barros
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deuochic.com Vitor Raskin
Donata Meirelles recebeu os convidados ao lado do marido Nizan Guanaes 102 |
FOLIA CHIC A festa mais esperada do ano é sem sombra de dúvida o Baile de Carnaval da Vogue, em São Paulo. Chics e famosos, ricos e celebridades, belas e feras do mundo da moda se encontram no Hotel Unique para a festa que marca o início do carnaval brasileiro. O tema da noite foi LADY ZODIAC e serviu de inspiração para os signos do zodíaco ganharem plumas e paetês. Donata Meirelles, diretora de estilo da exclusiva revista e Daniela Falcão, diretora de redação receberam 1500 convidados na festança que tem como sempre Bruno Astuto como mestre de cerimônia. DeuOChic esteve de olho!
Alvaro Garnero e Caco Johannpeter nos drinks da noite
Maria Mariana Melzer & Zeca Bordon Felipe Goron e Fernanda Leite
Bruno Astuto - o elegante mestre de cerimônias do Baile da Vogue
Beto Pacheco deuochic total de smooking Dolce & Gabbana
A superlocomotiva carioca Patricia Brandão
Sócios e amigos Renata Queiroz Moraes usou look criado por Sandro Barros
Graça Bins Martins usou look criado por Felipe Veiga Lima entre Andrea Conte e Daniela Carvalho
Sob o signo de capricórnio Adriane Galisteu, uma das musas da noite | 103
Aline Viezzer fotos thiago pitrez
O ano já começou animado pelo Uruguay com La Fiesta Punta, onde a festa premium levou Erick Morillo ao palco principal e os convidados tiveram ceia assinada pelo chef Henrique Fogaça e Sushi Seninha, além de open da marca Veuve Clicquot à noite toda. E o verão 2017, reúne uma turma bem especial da serra à capital com a temporada Woods Atlântida e Privilège em Xangri-lá. Sendo atrações nacionais confirmadas até março desde ano, o público da serra é um dos presentes pelo litoral gaúcho.
Raphaela Zonatto no clique do fotógrafo Thiago Pitrez
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Lara Tregnago
Rafaella Weber e Fabio Souza em recente festa comemorativa ao noivado
Ariane Roquete, sempre atenta ao calendário de verão para ativação da sua marca favorita Coca-Cola
Alexandre Schneider, empresário de diversos segmentos do entretenimento é boa pinta disputado no litoral gaúcho
O espaço RhedCo, assinado pela empresária Adriane Cornelius é um dos destaques do verão da balada Privilège em Xangri-lá. Na foto Bruna Tramontina e Sthefanie Maldonado, sendo embelezadas por Willian Teixeira diego larré
O casal de empresários do segmento da confecção Jana Toniazzo e Rafael Caumo, em pausa na cidade de Punta Del Este
Sofia Scherer, na festa famosa do bloco Fica Comigo no litoral
Marcos Paulo Magalhães e Júlia Dias Dal Magro Giovanni Lara e Juarez Dutra
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Prefeita Paula Marcarenhas Flavio Mansur e seu marido de Pelotas Alexandre Bruno Junto ao mar Arraias Uma festa que foi idealizada há 30 anos Durans com o propósito de ter abrangência regional. A cada edição, o Troféu Destaque Zona Sul se consolida como o evento de premiação mais prestigiado e importante da Metade Sul, reunindo os nomes mais expressivos, de diversos segmentos, especialmente do eixo Pelotas/Rio Grande, numa noite festiva para 350 convidados na Sociedade Amigos do Cassino. Políticos, lideranças empresariais, profissionais liberais, datas marcantes e ações que se destacaram ao longo de 2016 mereceram reconhecimento e aplausos.
Noivos de março
Rafaela Adegas vai usar modelo assinado pelo estilista Sérgio Pacheco para a cerimônia religiosa de casamento com Flávio Tellechea, em 18 de março, na Paróquia Santa Teresinha. A recepção, com organização de Renata Hoff, será logo a seguir nos salões do Porto Alegre Country Club. As mães dos noivos, Elizabeth Adegas e Maria Cristina Tellechea, igualmente vestirão modelos de Sérgio Pacheco.
fotos laureano bittencourt
Cristiane e Giuliano Bolzoni s paulo rossi
Núpcias em Punta
Antonio José Quinto di Cameli, Valentina Marsiaj Quinto di Cameli e Catarina Sampaio Quinto di Cameli na internacional praia do Uruguai s paulo rossi
No último sábado de abril, no Hotel Serena, em Punta del Este, Márcia Ormazabal Sastre e Bernardo Ballester Abrantes selam a união. A noiva é filha de Ione Maria Ormazabal Sastre e José Sastre, e o noivo, filho de Neca Ballester Abrantes e Fernando Rafael Abrantes. Convidados de diversas partes serão aguardados na internacional praia uruguaia para o acontecimento nupcial. A Jalfim Eventos assina a decoração.
Renato Bortoncello Nahas e Julia Jardim Tellechea, na movimentação de Punta del Este 106 |
Thierry Rios e Sheila
Idília Leonardo Beatriz Pereira Lima Marques e Cláudia Pereira Lima Lang
A beleza de Carine Lopes Cousin
Anna Luiza Quinto di Cameli, Lauer Santos e Alessandra Skowronsky Simões Lopes
s paulo rossi
Tao Ribeiro Dias e Renan Dallastra marcaram presença nas festas de final de ano em Punta
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LETICIA KLEEMAN e JEAN KRUZE enchem de carinhos RUI SPOHR
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BÁ
LUIS FERNANDO e PEDRO VERISSIMO e GISLAINE RIAL prestigiaram o lançamento da 19ª edição da Revista Bá
por
Mariana Bertolucci fotos lenara petenuzzo
CRISTIANO CRUZ, com sua bela CRISTINA ZINELLI e VITOR RASKIN foram anfitriões no coquetel que marcou a parceria da Bá, do Deu o Chic e da ONE Imóveis de Luxo
Altiva VITORIA ARMINGER CHAVES BARCELLOS
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ANDRÉ HERRMANN e sua sempre elegante BETINHA SHULTZ
MARCOS PINTO e BRUNO SALLES
FLAVIO MANSUR, REGINA WALLAUER, RENATO BING e MARIA CECILIA SPERB
PAULO GASPAROTTO e SERGINHO PACHECO
CARMEN JUCHEM
JANINE GRAF SIROTSKY DVOSKIN e NELSON SIROTSKY DVOSKIN
PAULA e MANUELA CORBETTA LINO
Exuberantemente bela, LEILA LOIFERMANN
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GREICE e CRISTIE MERLIN BOFF
MARCO TARRAGÔ e FERNANDA NICHELLE
ANDREA OLIVEIRA, BELLA VELLINHO e ROBERTA COLTRO
PRITILA e ALICIA IOSCHPE
PAULO GUERRA e MADELEINE MULLER
FERNANDA SICA
VERA SCHNEIDER
ADRIANA KAVIETZ, cheia de graรงa | 113
Vitรณrio Gheno artista plรกtico
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Tonico Alvares
atelier de retratos e fotografia autoral
tonico.alvares@uol.com.br (51) 9116-5686 (51) 3907-5886 rua barao de santo angelo, 299 - poa, rs