Dia Internacional da Mulher - Revista Business Portugal

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“EXERCER A MINHA ARTE COM CONSCIÊNCIA E DIGNIDADE”

Fátima Lima, Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia

DIA INTERNACIONAL DA MULHER EXCLUSIVO TERESA GUILHERME DECISÕES E SOLUÇÕES MULHERES NA LIDERANÇA REAL VIDA SEGUROS MARTA GRAÇA FERREIRA ESCOLHA DO CONSUMIDOR PRODUTO DO ANO 2023
Fev.

DIA INTERNACIONAL

O Dia Internacional da Mulher é comemorado, todos os anos, no dia 8 de março. Este dia foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975, com o propósito de celebrar os direitos que as mulheres conseguiram conquistar até aos dias de hoje, de forma a relembrar o caminho para a igualdade.

Apesar de estarmos no século XXI e já termos percorrido um longo percurso, no que diz respeito à igualdade de direitos entre homens e mulheres, há muitas mulheres, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, que ainda não têm liberdade total de escolha e de ação, nem acesso a muitos dos direitos “básicos” do ser humano. Pelo facto de esta realidade ser inaceitável, defender causas como o direito ao voto, a igualdade salarial, a maior representação em cargos de liderança, entre outras, continua a ser extremamente importante.

Antes de o termo “feminismo” ser debatido, abertamente, na sociedade, como sabemos, as mulheres eram submissas aos maridos ou ao seu pai. Atualmente, uma grande parte das mulheres, já é empoderada e representa um papel muito mais forte e de destaque na sociedade. São mais valorizadas pelas suas qualidades e pelas mais-valias que podem trazer, como por exemplo, para o mundo dos negócios

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DA MULHER

ou para a política. É por estes motivos que, felizmente, há cada vez menos preconceitos para com o sexo feminino, nos dias que correm.

Ainda assim, é essencial assinalar e celebrar o Dia Internacional da Mulher, porque este também nos permite refletir acerca do progresso que já foi feito, ao nível dos direitos humanos, e honrar a coragem e determinação das mulheres que ajudaram e continuam a colaborar para redefinir a história de todas, de forma local e global.

A Revista Business Portugal orgulha-se de, em todas as edições, homenagear várias mulheres que ocupam lugares de destaque enquanto líderes, empresárias, mães, e em muitos outros papéis, e que, acima de tudo, continuam a lutar, a trabalhar e a dedicar-se, para evoluir e para construir uma carreira de sucesso. São, também, exemplos como os que temos o prazer de salientar, que permitem inspirar outras mulheres a concretizarem os seus objetivos, de cariz pessoal e profissional.

Para terminar, gostaríamos de deixar alguma inspiração, através de uma frase de Simone de Beauvoir, que foi uma importante escritora, intelectual, ativista política e feminista francesa: “Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância”.

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“AS MULHERES PODEM SER EXATAMENTE AQUILO QUE QUISEREM”

Teresa Guilherme, Atriz e Apresentadora

Teresa Guilherme é uma das caras mais conhecidas e queridas do público português. Ao longo de várias décadas, provou o seu valor em diversas áreas, como a apresentação, representação, produção ou ensino, e quase que a podemos chamar de “Mulher dos Sete Ofícios”. Em entrevista à Revista Business Portugal, falou sobre a evolução da sociedade, da televisão e daquela que é a sua visão para o futuro.

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER | TERESA GUILHERME

A Teresa é, sem dúvida, a maior referência nacional na área da comunicação associada ao entretenimento. Sendo este um mundo de egos, acredita que é mais difícil para as mulheres fazerem-se ouvir e alcançarem um lugar de destaque?

Como produtora e apresentadora, sempre trabalhei com homens que estavam sentados na cadeira do poder, mas as minhas capacidades de trabalho, de organização e de concretização dos projetos, fizeram com que me tornasse numa profissional respeitada. Continuamos num mundo onde os homens é que mandam, mas devagarinho, passo a passo, há cada vez mais mulheres que se destacam em várias áreas. Acredito que estamos a caminhar para a igualdade entre homens e mulheres.

Na sua ótica, quais as características que distinguem uma liderança no feminino da liderança no masculino? Acredita que o poder de argumentação, aliado à sensibilidade do sexo feminino podem ser fatores preponderantes para o sucesso das empresas?

Considero que as mulheres são mais organizadas e focadas nos objetivos que querem alcançar, talvez porque vivemos numa sociedade em que estas mulheres têm de provar, constantemente, que são capazes. Mas concordo que o poder de argumentação e a sensibilidade feminina são fatores que as tornam boas líderes.

A Teresa já apresentou uma enorme variedade de programas, com diferentes formatos, na televisão portuguesa. Se tivesse de escolher apenas um, qual é que diria ser o seu preferido?

É muito difícil escolher apenas um, porque cada um deles tem as suas particularidades e todos me deram prazer fazer, como apresentadora ou produtora. No entanto, se tivesse de escolher um, talvez fosse o “Eterno Feminino”, que foi o primeiro que apresentei e acaba por ser uma referência para mim. Naquela altura, não haviam programas que tivessem as mulheres como temática e o público feminino ainda não tinha sido completamente descoberto. Por esse motivo, gostei muito de fazer esse programa.

Além de produtora, apresentadora e atriz, ainda organiza palestras e cursos de comunicação como, por exemplo, “PALAVRAS VISTAS”. No seu ponto de vista, é importante partilhar a sua história e conhecimento com os mais jovens? Os alunos têm por hábito pedir-lhe conselhos?

Após fazer o “Eterno Feminino”, comecei a receber convites para discursar em universidades, organizar cursos ou dar palestras, e sentia que, daquela forma, podia ajudar aqueles jovens, que tinham o sonho de ser apresentadores. Portanto, ao longo dos anos, dei muitas aulas e masterclasses, acabando por juntar o “útil ao agradável” e concretizar um desejo que tinha desde criança, que era ser professora.

Nos meus cursos, tenho tido centenas de alunos que pensam que comunicar é só falar, mas, na verdade, comunicar é falar e ser ouvido. Um dos principais problemas que as pessoas enfrentam, no que à comunicação diz respeito, é o medo de falar em público e, felizmente, tenho visto resultados fantásticos na evolução dos meus alunos. Eles conseguem ultrapassar esse medo, vencê-lo e alcançar o sucesso nos seus negócios.

Depois de tantos anos a marcar presença nos “ecrãs” e na vida dos portugueses, o que é que o público ainda não conhece sobre si?

Eu sempre me mostrei ao público como sou: a rir, a chorar, a mostrar as minhas emoções. Nunca escondi aquilo que sou e, enquanto profissional, acho que há pouca coisa que ainda não saibam sobre mim.

Se há algo que sempre se mostrou ser, é uma mulher sem tabus e, ultimamente, tem abordado temas como a sexualidade feminina nos seus espetáculos (“Monólogos da Vagina” e “Agora é que São Elas”). Acredita que é cada vez mais importante debater estes assuntos, de modo a desmistificar algumas ideias pré-concebidas da sociedade?

Não faz sentido que, em 2023, o sexo ainda seja um tabu. Com os “Monólogos da Vagina”, têm acontecido episódios muito engraçados. Inicialmente, as pessoas mostram-se um pouco envergonhadas, mas depois, quando eu desço para a plateia e atiro perguntas como: “A que deve cheirar uma vagina?”, o público solta-se e dá respostas totalmente inesperadas e muito divertidas. Isto só prova que é importante falar destes assuntos sem qualquer espécie de preconceito.

Com mais de 30 anos de experiência em televisão, a Teresa foi acompanhando a evolução do meio. Com a transformação digital e o aparecimento das plataformas de streaming, por onde é que poderá passar o futuro da televisão?

A televisão deixou de ser só a “caixinha mágica” que mudou o mundo, e a forma como as pessoas veem e usufruem da televisão começou a alterar-se quando nos deram a opção de “puxar para trás” e gravar programas, quase como se fosse um direto que podemos ver quando quisermos. Sinto que já não se olha tanto para a televisão como uma companhia e as plataformas de streaming contribuíram para isso. Atualmente, vemos televisão em vários dispositivos e cada pessoa cria o seu próprio canal, com os programas que quer ver, e faz a sua própria programação. No entretenimento, há muito tempo que já não aparecem coisas novas. É sempre a cópia, da cópia, da cópia. Ou então, repetem vezes sem conta os mesmos formatos, é uma programação horizontal. Não diria que a televisão poderá acabar, mas talvez se possa tornar numa plataforma.

Para terminar, uma vez que nos aproximamos do Dia Internacional da Mulher, gostaria de deixar algumas palavras às mulheres que ambicionam traçar um percurso de sucesso?

Nas últimas décadas, a atitude, quer dos homens, como das mulheres, tem mudado e é notória a evolução da sociedade, e é muito bom assistir a isso. As mulheres, que antes teriam de abdicar de uma parte da sua vida, normalmente o trabalho, hoje podem dedicar-se a várias facetas da sua vida viver num equilíbrio. Principalmente as gerações mais jovens, demonstram uma enorme determinação e vontade de provar o seu valor. Agrada-me ver que as mulheres já são membros da sociedade a tempo inteiro e podem ser exatamente aquilo que quiserem.

Para aquelas que ambicionam um percurso de sucesso, tenho três palavras: trabalhem, trabalhem e trabalhem. Este tem sido o meu mote. Sou muito exigente comigo mesma e sei que consigo sempre fazer melhor.

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TERESA GUILHERME | DIA INTERNACIONAL DA MULHER

“EXERCER A MINHA ARTE

COM CONSCIÊNCIA E DIGNIDADE”

Fátima Lima é Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia e construiu uma carreira notável na área da anestesiologia, ao longo dos anos. À Revista Business Portugal, falou sobre a importância desta especialidade e do compromisso que assumiu, enquanto médica, de colocar sempre a saúde dos seus doentes em primeiro lugar, mantendo e respeitando a honra e as nobres tradições da profissão que escolheu abraçar.

Fátima Lima, Presidente
DIA INTERNACIONAL DA MULHER | SPA 8 // REVISTA BUSINESS PORTUGAL

Quem é Fátima Lima enquanto mulher e profissional? Em que momento descobriu a sua vocação para a Medicina?

Em toda a minha vida como mulher e como médica, sempre caminhei de “mãos dadas” com as raízes que me formaram, que me sustentam e que me mantêm, quer como cidadã, quer como médica, no meio hospitalar, que é um local de acolhimento, diagnóstico e tratamento de doentes, sem jamais esquecer o que um dia jurei.

Acima de tudo, exercer a minha arte com consciência e dignidade, jurei que a saúde do meu doente seria sempre a minha prioridade. Jurei manter, por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica, não permitir que considerações de gênero, religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interpusessem entre o meu dever e o meu doente e, mais importante, jurei livremente e sob compromisso de honra.

Assim me mantive e agi, quer nos atos lineares de decidir e partilhar informações de grande responsabilidade aos meus pares, quer nos atos mais complexos e em momentos de delicada e frágil condição humana, relativamente aos doentes tratados. Quanto mais aprendemos, mais sabedoria temos para ser o tipo de pessoa que toma decisões acertadas e os resultados serão seguramente os melhores.

Como mulher, sigo a bondade, integridade, a humildade e a generosidade. O caminho deve ser sempre pautado pelos nossos valores, convicções e princípios.

Enquanto médica, digo-vos que devemos fazer sempre um bom trabalho. Este deve ser o mais correto e não o mais fácil e só assim vamos conseguir atingir a mestria nas áreas fulcrais da nossa vida.

Descobri a minha vocação para a medicina, quando percebi que a minha missão é cuidar dos doentes. A relação com os meus doentes é a relação mais bem alicerçada ao longo de toda a minha vida como profissional de saúde.

Porque é que optou pela especialização em Anestesiologia? Considera que esta especialidade é um pilar de segurança no tratamento dos doentes?

Escolhi a especialidade de Anestesiologia porque é uma especialidade transversal, com a envolvência dos seus colaboradores em múltiplas tarefas e funções, na maioria das vezes multidisciplinares, o que nos obriga a ter uma visão holística do ser humano, assim como a necessidade de aquisição de vastos conhecimentos científicos integradores e competências técnicas em diversas áreas da ciência médica.

Tudo isto, torna o anestesiologista no médico que mais zela pela segurança do doente. Ou seja, por outras palavras, os anestesiologistas são os motores dos hospitais, pela insubstituível intervenção na Medicina Hospitalar.

O dar a conhecer, junto aos seus pares, o seu saber e, junto dos doentes, a sua proteção, converte a especialidade de Anestesiologia num pilar de segurança.

Como bem escreveu Albert Einstein: “A alegria de ver e entender é o mais perfeito dom da Natureza”.

Explique-nos que trabalho tem desenvolvido enquanto Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia-SPA? Que desafios acarreta um cargo desta dimensão?

Enquanto Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, para o mandato 2022-2025, a Sociedade que presido atingiu, nos últimos anos, uma dimensão robusta como Associação de Saúde, da qual todos os anestesiologistas portugueses se orgulham, exigindo a esta uma nova Direção e um compromisso de dinamização crescente, mantendo, desde logo, credibilidade como entidade parceira da decisão, em muitos aspetos do panorama da saúde em Portugal.

Todo o trabalho que procuro desenvolver durante o presente mandato prende-se com a necessidade crescente em avançar com novos projetos, de forma a contribuir, em tempo real, para a formação dos futuros líderes de Anestesiologia, unindo toda uma vasta equipa de anestesiologistas. “ Because together we are stronger”

A Anestesiologia é uma especialidade em ampla expansão, nas últimas duas décadas, adquirindo novas competências e assumindo novos desafios, acompanhando a evolução da ciência médica em geral. Logo, o meu maior desafio é garantir que a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia vai continuar a constituir um espaço que promove a melhoria da atividade individual e coletiva no âmbito da nossa especialidade.

Quer eu, como Presidente, quer a Direção, pretendemos fazer da nossa Sociedade Científica um vetor de mudança, onde cada anestesiologista aumente o seu “empowerment”

Qual é, no fundo, o verdadeiro objetivo desta Sociedade? Quantos sócios a compõem atualmente?

Como Presidente, como já mencionei, pretendo que a Sociedade constitua um espaço que promova a melhoria da atividade individual e coletiva da Anestesiologia e tudo o que os sócios queiram protagonizar no âmbito dos seus estatutos.

A Sociedade Portuguesa de Anestesiologia é uma organização devotada à promoção da saúde e à defesa e concertação dos médicos anestesiologistas em Portugal.

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realizar,

março de 2023,

Nova de Gaia,

Fiel à sua essência inovadora, dinâmica e visionária, que inspirou a sua génese, há mais de 60 anos que esta Sociedade continua e continuará comprometida com o desenvolvimento da especialidade em todas as suas dimensões: profissional, clínica, académica e social.

De acordo com os estatutos, existem, atualmente, 1562 sócios. Contudo, para o triénio 2022-2025, esta nova equipa que dirijo acredita que, no final de 2025, seremos muitos mais, ao transformar esta Sociedade Científica num vetor de confiança e de mudança, onde cada anestesiologista sinta o desejo de aumentar o seu potencial clínico.

Enquanto a Sociedade se mantiver coesa, terá todas as condições para servir os seus sócios, proporcionando a formação e os meios de divulgação científica essenciais a uma prática clínica de excelência e cumprindo a sua principal missão.

“Empower Yourself” é o mote para o Congresso SPA 2023, a realizar-se entre os dias 24 e 25 de março. Quais são os temas em destaque?

No sentido de elevar os standards da Anestesiologia, a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia vai realizar, nos dias 24 e 25 de março de 2023, na cidade de Vila Nova de Gaia, o seu Congresso Anual.

Para além de ser um dos principais compromissos desta nova Direção, este evento permite reunir um painel alargado

de especialistas nacionais e internacionais.

O painel de especialistas vai apresentar temas de áreas em que a Anestesiologia é perita, tais como:

• Medicina peri-operatória - “developing guidelines”; “perioperative medication reconciliation”;

• Medicina intensiva - “paliative care in critical patient”;

• Medicina da Dor - “education and certification in chronic pain”;

• Educação contínua em Anestesiologia - “continued medical education-entrusted professional activities”

O envolvimento das Secções e Grupos de Trabalho da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia neste Congresso foi absolutamente necessário e pertinente quando, diariamente, se enfatiza a Anestesiologia como um pilar de segurança no tratamento dos doentes.

O mote do Congresso 2023, “Empower yourself” atinge-se com a participação e o entusiasmo de todos os participantes.

Também exerceu funções, quer de Direção Clínica, quer de Direção do Serviço de Urgência. Que cunho procurou imprimir na sua liderança? Alguma vez se sentiu menos ouvida por ser mulher?

Durante o meu percurso profissional, fui várias vezes chamada pela tutela, para ocupar cargos de liderança, nomeadamente, como Diretora do Centro de Formação do INEM – Porto, entre 1998 e 2001, Diretora Clínica do CHVNG/E,EPE, entre 2015-2016, e Diretora do Serviço de Urgência e Emergência Médica do CHVNG/E,EPE, entre 2014 - 2017.

Não foi fácil o período em que exerci funções. Foi sempre uma preocupação minha que este fosse pautado por um elevado desempenho nestas funções. Nestes cargos de liderança, vivi dias difíceis, desafiantes, de construção e de debate, de mudança e resolução, de busca de alternativas, quando as soluções existentes a curto prazo eram escassas ou até inexistentes, e só o meu caráter determinado e perseverante, bem como o meu extremo empenho nas funções de liderança, foram determinantes para a gestão dos obstáculos que surgiram, diariamente, e que tinham de ser ultrapassados com rigor e competência, quer ao nível da Direção Clínica, como na Direção do Serviço de Urgência Polivalente, que é a principal entrada de qualquer hospital, em termos de prestação de cuidados de saúde e salvação de vidas humanas. Como mulher, médica e líder, nunca permiti que considerações de género se interpusessem entre o meu dever e o meu doente. Reitero que o nosso caminho deve ser sempre pautado pelos nossos valores, convicções e princípios. Devemos seguir o caminho correto e não o mais fácil pois, só assim, conseguimos atingir a excelência nas áreas fulcrais da nossa vida.

Terminou, recentemente, o Curso de Especialização em Administração Hospitalar. Acredita que o investimento na formação é fundamental, ainda para mais quando se trata da medicina, uma área que está constantemente a sofrer atualizações?

Concordo em pleno, quando diz que o investimento na formação é fundamental, dado que, durante toda a nossa vida, o investimento na formação é algo que é intransmissível.

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“No sentido de elevar os standards da Anestesiologia, a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia vai
nos dias 24 e 25 de
na cidade de Vila
o seu Congresso Anual”

Quando era Diretora Clínica, percebi que havia competências que tinha de adquirir para desempenhar este cargo com mestria, principalmente em áreas que estavam fora da minha “zona de conforto”.

Quanto mais aprendemos, mais sabedoria teremos para ser o tipo de pessoa que toma decisões acertadas e os resultados obtidos serão seguramente os melhores. Tendo subjacente este princípio, concluí com sucesso, em 2022, o Curso de Especialização de Administração Hospitalar ministrado pela ENSP-UNL.

Do seu ponto de vista, que características é que as mulheres devem possuir para conseguir singrar no seio institucional?

Para conseguirmos singrar no seio institucional, temos de estar motivados, ter disponibilidade para abraçar desafios, muitos deles repletos de “espinhos”, respeito e bons relacionamentos interpares, capacidade de adaptação a mudanças, dialogar e saber fazer um planeamento estratégico a curto, médio e longo prazo.

Atinjam as metas pela excelência do vosso trabalho, mesmo

quando estão perto da exaustão e não se deixem levar pelas palavras de conforto. Escolham o caminho correto e não o mais fácil.

No próximo dia 8 de março assinala-se o Dia Internacional da Mulher. Sendo a Drª Fátima um exemplo de uma mulher que lutou para alcançar a carreira de sucesso que tem atualmente, que palavras gostaria de deixar àquelas que ambicionam fazer um percurso semelhante?

“Never give up”.

A nível profissional, o que ainda lhe falta concretizar? Como é que olha para o seu futuro?

Gostava de terminar com um Doutoramento em Ciências Políticas, porque é uma área totalmente desconhecida e acrescentaria, seguramente, muito valor à minha formação académica de base. O dia de amanhã brilhará mais do que o dia de hoje e a esperança embeleza sempre o meu futuro.

www.spanestesiologia.pt

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A Sandra, para além de psicóloga clínica, é neuropsicóloga, formadora, investigadora, e especializada em diversas componentes da psicologia. Como é que concilia uma atividade profissional tão abrangente com a sua vida pessoal? O que diferencia a Sandra psicóloga da mesma enquanto mulher?

Nem sempre é fácil conciliar [risos], mas tento estabelecer limites e horários relativamente definidos para o trabalho, para que depois possa desfrutar da minha vida pessoal. Quanto ao que diferencia a Psicóloga da Mulher, não há diferenciação. Na verdade, considero que a Psicóloga faz parte da Mulher e vice-versa. Enquanto Psicóloga, sou a mesma Mulher, com os mesmos valores e ideais, como a solidariedade, o cuidado com o outro, a compreensão, a entreajuda. Curiosamente, costumo dizer que não fui eu que escolhi a profissão, mas ela é que me escolheu, pois desde sempre senti que algumas das características essenciais ao papel do Psicólogo já existiam em mim, como a empatia e a capacidade de me preocupar com os outros.

Recentemente, adquiriu formação adicional em áreas como o Apoio à Vítima, Intervenção Psicológica com a população LGBTQI+, Igualdade de Género, entre outros. Uma vez que estes são temas que estão, cada vez mais, na ordem do dia, qual é que é o papel dos psicólogos junto das pessoas que precisam de ajuda neste âmbito?

O papel dos Psicólogos nestes âmbitos é, acima de tudo, o papel

Sandra Santos tem uma vasta experiência e formação na área da Psicologia. Em entrevista, confessa que características essenciais de um Psicólogo, como a empatia e a entreajuda, sempre fizeram parte da sua essência.

de ser o elemento empoderador, aquele que permite à vítima adquirir estratégias e ferramentas que ajudam a lidar com a situação e sair da mesma, com um reforço na sua autoestima e autoconfiança. É aquele que concede a alguém LGBTQI+ um contexto seguro, de acolhimento e de aceitação, que permite criar espaço para o coming out. E é aquele que permite a homens e mulheres refletirem sobre os seus papéis e formas de pensar, reagir e sentir, permitindo-lhes, apenas, serem humanos em todo o seu espectro de emoções e comportamentos, sem rótulos e sem estereótipos.

Ao longo dos anos, tem vindo a desenvolver um percurso de sucesso na sua área, o que pode ser um exemplo a seguir, por parte de outras mulheres com a mesma ambição. Que conselhos daria àquelas que ainda estão a dar os primeiros passos neste caminho?

O melhor conselho que posso dar é que tracem objetivos, concretos e alcançáveis. Que planeiem bem os passos a dar, sejam cautelosas, mas com ousadia, para que isso lhes permita dar passos seguros. Ter uma rede de suporte boa, colegas com quem possam partilhar ideias e angústias. E o mais importante, confiar em si mesmas!

Quer a nível pessoal, como profissional, como é que olha para o futuro? Quais os objetivos que ainda pretende concretizar?

Confesso que não perco muito tempo a pensar nisso, tento viver no momento. Contudo, existem sempre algumas ideias em mente. Com todo o contexto social, geopolítico e económico que vivemos, os próximos anos serão, certamente, muito desafiantes a todos os níveis. Como pessoa, fico apreensiva com aquilo que o futuro possa reservar, pois, como qualquer mãe, quero proporcionar o melhor à minha filha e à minha família. E quando digo o melhor, não me refiro a extravagâncias, mas a poder dar-lhe aquilo que é o essencial, roupa, comida, casa, supervisão, paciência e tempo de qualidade. Enquanto profissional, a apreensão prende-se com a avalanche de problemas de saúde mental que irá continuar a surgir. Por isso, o que pretendo concretizar é poder continuar a prestar um serviço de qualidade a quem me procura, continuar a adquirir e atualizar conhecimentos para melhor poder responder às necessidades dos meus utentes e, quem sabe, até poder aumentar e formar uma equipa que permita responder a todas as solicitações que me vão chegando.

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“NÃO FUI EU QUE ESCOLHI A PROFISSÃO, ELA É QUE ME ESCOLHEU”
Sandra R. Santos, Psicóloga Clínica
Conhecemos bem o peso das suas responsabilidades Avenida de França, 316, 5º, Edifício Capitólio, 4050-276 Porto Rua Duque de Palmela, 37, 3º, 1250-097 Lisboa MKTRV_INST_02_0223 Seguros de Vida, Saúde, Acidentes Pessoais, Investimento e Poupança Somos a Seguradora da sua Vida realvidaseguros.pt Siga-nos

“O DESAFIO É ACRESCENTAR VALOR EM TUDO O QUE FAZEMOS”

Licenciou-se em Economia, mas o seu percurso profissional tem sido pautado pela Gestão de negócios e equipas de vendas na Indústria Seguradora. O que apaixona verdadeiramente nesta área? Como qualquer jovem que conclui uma licenciatura, era difícil ter certezas sobre qual a indústria ideal para trabalhar. No meu caso, tive várias propostas de emprego, mas a minha opção foi pela indústria seguradora, talvez porque os conhecimentos que adquiri no meu percurso académico estivessem mais relacionados com esta área. Desde muito cedo, na minha carreira, tive oportunidade de desenvolver negócios e coordenar equipas. O que me apaixona é promover o crescimento das pessoas das minhas equipas, sendo muito gratificante vê-las evoluir profissionalmente. O mesmo acontece com o desenvolvimento de um novo canal de vendas, ou um novo modelo de negócio e acompanhar e observar o respetivo crescimento. Acredito que o sucesso dos negócios está muito associado à motivação e ao desenvolvimento das pessoas, e ambos têm de fazer parte da equação. Questiono: Como é possível criar uma nova área de negócio se as pessoas que a estão implementar e a desenvolver não se sentem motivadas, envolvidas ou não percecionam o crescimento profissional que vão obter com aquela experiência? Em todos os cargos de liderança que exerci, nos últimos 17 anos da minha carreira, tive sempre uma forte orientação para os resultados, assente no racional da rentabilidade do negócio, mas dificilmente concebo um modelo de gestão de sucesso sem equacionar o desenvolvimento das pessoas.

Está na Real Vida Seguros há mais de sete anos. Explique em que consiste este projeto e quais as suas principais áreas de atuação. Este projeto foi encarado por mim como a reconstrução de uma nova Seguradora. Quando cheguei, a empresa tinha acabado de ser privatizada, depois de um período de quatro anos de estagnação. A seguradora tinha um passado muito orientado para venda de produtos financeiros, como o PPR e produtos de investimento, através do canal bancário. Os seguros de vida para proteção pessoal e familiar não eram uma prioridade. Desde 2014 até 2021, a minha principal área de atuação foi a área comercial. Era necessário nutrir o canal de mediadores, através da angariação de novos parceiros, orientados para a comercialização de seguros de vida. Mais tarde, surgiu a necessidade de criar novos canais de vendas para diversificar a oferta e ter outras formas de chegar ao cliente final. Foi quando nasceu o projeto da nossa “rede cativa” que são agentes com uma ligação exclusiva à Companhia e, posteriormente, desenvolveu-se o canal de parcerias. O meu foco era o de posicionar a Real Vida Seguros como uma seguradora de referência na área da proteção pessoal e familiar, cujo produto âncora seria o seguro de vida, delegando para um segundo plano a comercialização de produtos financeiros. Com esta estratégia de criação de novos canais e o impulsionamento dos já existentes, passamos de uma carteira de vida e acidentes pessoais de 9 milhões euros para 46 milhões de euros em oito anos (sem produtos financeiros). Resumindo, as minhas áreas de actuação até 2021, centraram-se na criação de novos modelos de negócio, em conciliação com o desenvolvimento das pessoas e equipas,

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Marta Graça Ferreira, Chief Executive Officer

elevando ao máximo o seu potencial. Naturalmente, hoje em dia, a minha função está mais focada no modelo de governação da seguradora e menos nas questões operativas, mantendo a mesma visão estratégica de posicionar a Real Vida Seguros como uma seguradora de referência na área proteção individual e familiar.

Foi nomeada presidente da Real Vida para o triénio 20222024. Que cunho tem procurado imprimir na sua liderança e que desafios acarreta um cargo desta dimensão?

Tenho um gosto especial pela área de desenvolvimento dos recursos humanos, pois são o ativo mais valioso que temos. Desta forma, faço questão de realçar que o crescimento da empresa, nos últimos oito anos, foi realizado em grande parte pelos colaboradores, que já constavam antes da privatização e, naturalmente, todos os outros que se juntaram à equipa. Acresce a forma como essas pessoas foram desafiadas para esta nova etapa de renascimento da seguradora e como responderam a este desafio com uma enorme entrega e motivação, porque acreditavam num futuro próspero para a empresa.

Procuro muito extrair o melhor das pessoas, desafiando-as a fazerem mais e melhor, elevando os níveis de performance que, em alguns casos, os próprios nunca acreditariam que seria possível atingir. A gestão das equipas tem sido sempre muito inclusiva, explorando o feedback de todos, com a premissa que todos fazem parte da solução e nunca será um trabalho de one man show. Por tudo isto, tem sido uma liderança mais aberta, disponível para o diálogo e de proximidade junto dos nossos colaboradores. Como Presidente do Conselho de Administração, procuro acompanhar todas as áreas. É um cargo que requer uma total dedicação, assim como fortes competências de liderança e comunicação, e que, simultaneamente, exige ter uma visão estratégica com base no profundo conhecimento do mercado. Impõe ainda a coragem de tomar decisões difíceis, acautelando uma gestão sã e prudente, defendendo os interesses da empresa, dos colaboradores e dos acionistas. Em suma, ser presidente da Real Vida Seguros é o desafio de criar condições, para que o sucesso da companhia seja a consequência natural do sucesso da sua equipa, assumindo a responsabilidade última por todas as decisões e em especial no que corre menos bem.

Qual é a sua opinião sobre a paridade de direitos entre homens e mulheres atualmente em Portugal? Considera que, no mundo empresarial, as mulheres têm mais dificuldades em fazerem-se ouvir do que os homens?

Entendo que ainda não existe plena paridade, e a prova é o facto deste tema ainda ser alvo de muitas notícias nos media, de estar presente em vários estudos, e de ser tema de vários eventos de sensibilização. Confesso que gostaria de ter uma opinião diferente, num contexto onde existe maior igualdade entre homens e mulheres, mas infelizmente não é o caso, e pelo contrário assistimos ao agravamento dessas diferenças durante e no pós-pandemia. As mulheres foram as mais atingidas pelo desemprego, por trabalharem mais nos sectores ligados ao consumo, que foram os mais afetados com confinamento. O relatório Global Gender Gap Report, do World Economic Forum (WEF) sobre a igualdade de género, publicado em 2022, coloca Portugal na 29.ª posição, num universo de 146 geografias, que compara com o ano anterior, onde o nosso país estava em 22º. Descemos sete lugares no ranking. Esta descida deveu-se ao facto de termos tido menos mulheres eleitas no Parlamento, nas últimas eleições legislativas (de 39,7% em 2019, passámos para 37% 2022), e também devido ao facto de, no

mundo empresarial, as mulheres terem mais dificuldade em fazer-se ouvir do que os homens. Deste modo, assistiu-se a um decréscimo da participação das mulheres no mercado de trabalho e em lugares de poder. Acredito que, se tivéssemos mais mulheres no mundo das empresas e em cargos de liderança, naturalmente, também existiriam mais e melhores oportunidades de carreira aproveitando o talento feminino existente.

Sendo que, no próximo dia 8 de março, se comemora o Dia Internacional da Mulher, que palavras gostaria de deixar às mulheres que a veem como uma inspiração?

Felizmente, existem já alguns casos de mulheres que são uma referência para todas nós, destaco a falecida juíza do supremo tribunal dos EUA, Ruth Bader Ginsburg, autora da famosa frase “Women belong in all places where decisions are being made”. Quanto às minhas palavras, sugiro que nunca tenham medo de arriscar e de aceitar desafios, principalmente aqueles que vos façam sair da vossa zona de conforto. Partilhem a responsabilidade da gestão familiar com os vossos parceiros para um maior equilíbrio entre o casal. Diria que nunca devem menosprezar as vossas capacidades. Na realidade, só fora da vossa zona de conforto é que terão a verdadeira consciência do que realmente conseguem atingir. Não tenham medo de errar com receio da recriminação ou juízos de valor, só não erra quem não tenta, ignorem por completo os estereótipos, pois isso só vos fará vacilar. Acreditem em vocês próprias, no vosso talento e definam objetivos para conseguirem realizar os vossos sonhos. Procurem ser “independentes”, pois a necessidade aguça o engenho, sendo a força que nos faz mover, particularmente, nos momentos mais difíceis. Para aquelas que têm filhos, estes tornam-se a razão maior que nos, impede de desistir ou de deixar de lutar, para que no final nada lhes falte. O mais gratificante, ao longo deste processo de crescimento, é que eles reconhecem e admiram o nosso esforço e são eles os nossos fãs nº1. Se com o meu percurso já consegui inspirar alguma de vós, então já valeu a pena percorrê-lo!

Como é que perspetiva o futuro da Real Vida Seguros?

E relativamente a si, o que podemos esperar?

A Real Vida Seguros tem tudo para ser uma seguradora de sucesso, como tem vindo a demonstrar nos últimos anos, através do seu crescimento. As suas equipas multidisciplinares, constituídas por homens e mulheres de várias gerações, onde o trabalho em equipa, com a conjugação do conhecimento de cada um, têm contribuído para sucesso da empresa. Todos contam e nenhuma ideia pode ser descartada. A seguradora tem uma cultura de inovação e procura estar na linha da frente em tudo que nos permita ser diferenciador, colocando de lado o posicionamento pelo preço. Obviamente, como todas as empresas, não temos recursos ilimitados e por isso temos o engenho, diria o ADN, de fazer muito com pouco. A história da seguradora nos últimos oito anos é a prova viva do que escrevo. No que a mim diz respeito, espero continuar a percorrer sempre o meu caminho, com a mesma paixão que sempre tive e tenho para desenvolver novas áreas de negócio, novos projetos, sempre em conciliação com a gestão e desenvolvimento das pessoas. Hoje sinto-me grata pelo que conquistei, sendo que parte deste sucesso passa por adorar aquilo que faço.Por isso, “agarro” os projetos como se fossem meus, tal como faço na Real Vida Seguros, que me desafia todos os dias, me obriga a reinventar e a questionar o status quo. Como costumo dizer, o desafio é acrescentar valor em tudo o que fazemos!

REVISTA BUSINESS PORTUGAL // 15 REAL VIDA SEGUROS | DIA INTERNACIONAL DA MULHER

RESILIÊNCIA, FORÇA, DETERMINAÇÃO E CONFIANÇA

Patrícia Tenreiro Lopes trabalha na Easy Gest há quase cinco anos, no sector imobiliário, e tem ainda o projeto APAVAM. Sobre a igualdade de direitos entre homens e mulheres, no mundo empresarial, esta acredita que ainda há um vasto caminho a percorrer.

Prestes a completar cinco anos na Easy Gest, uma empresa do ramo imobiliário, qual o balanço que faz desta etapa do seu percurso profissional?

Só posso fazer um balanço muito positivo! Tem sido, sem dúvida, um período de muitos desafios, mas também de superação e sucessos. Foi um grande desafio, inclusive do ponto de vista pessoal, por toda a mudança que envolveu, mas, volvidos quase cinco anos, tenho cada vez mais a certeza que, quer profissional, quer pessoalmente, fiz a escolha certa ao abraçar esta área. Novos desafios surgem diariamente e isso obriga-nos a estar em constante aprendizagem e aperfeiçoamento de conhecimentos. O fator desafio para mim é extremamente importante. E, também devido à situação pandémica que se viveu neste período, com fortes implicações no mercado imobiliário, o desafio foi gigante e continua a viver-se a cada dia. Não me sinto profissionalmente estagnada e isso é fundamental. Todos os dias me desafio e me supero.

O projeto APAVAM – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima de Acidente Motard surge após ter tido um acidente de mota. O facto de compreender perfeitamente o que as vítimas estão a sentir, bem como as suas necessidades, faz com que estabeleça uma relação de maior proximidade com as mesmas?

O fator identificação é, sem dúvida, a pedra basilar da relação diferenciada que tenho estabelecido com as vítimas. A verdade é que, com mais nenhum membro da associação existem relações de tanta proximidade como comigo, isto de parte a parte. Quer porque eu entendo na primeira pessoa as dificuldades pelas quais passam, quer porque para quem nos procura é muito mais fácil “abrir o coração” a alguém com quem se identificam. Eu também faço questão de partilhar as lutas e as vitórias, para que entendam que não são os únicos a sofrer, mas também, e mais importante, que existe sempre possibilidade de melhorar. Tudo depende de nós. Posso dizer que há pessoas que chegaram até mim pela APAVAM e que hoje são amigos. E isso é indubitável quando temos vítimas que um dia ajudámos, a tornarem-se voluntários da Associação.

Que características a definem enquanto mulher e profissional? Do seu ponto de vista, as mulheres têm mais dificuldade em afirmar-se no mundo empresarial, comparativamente aos homens?

Resiliência, força, determinação e confiança são as características que melhor me definem. Sem dúvida que, embora já tenhamos dado passos para a igualdade, a verdade é que as mulheres continuam a ter mais dificuldades em afirmar-se no mundo empresarial. De uma análise superficial, a vários níveis, podermos verificar que a maioria dos líderes empresariais são do sexo masculino. Vive-se ainda uma dificuldade muito grande em apostar nas mulheres em cargos de liderança. Creio que, devido ao facto de antes de sermos vistas como profissionais, sermos vistas como mães e cuidadoras, quando, na verdade, uma mulher tem as mesmíssimas capacidades que qualquer homem. E, como costumo dizer, a mulher pode ser tudo o que ela quiser! A prova de que este pensamento (errado) está ainda incutido é que, em entrevistas de emprego, ainda se questiona às mulheres se estas têm filhos ou se tencionam ter. E quantas vezes essa questão é colocada a um homem? Não conheço nenhuma situação em que tenha sido. Mas a mulheres, conheço várias. É urgente afastar este paradigma!

Dia 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher. Que palavras gostaria de deixar às mulheres que veem em si e na carreira que tem construído, um modelo a seguir?

Gostava de deixar a todas as mulheres as mesmíssimas palavras que, todos os dias, tenho para mim. Nunca deixar de acreditar no nosso próprio valor. E nunca esquecer que nós mulheres podemos e devemos ser tudo aquilo que nós quisermos ser. Afinal, só depende de nós, do nosso esforço, empenho, dedicação e resiliência.

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER | PATRÍCIA
Patrícia Tenreiro Lopes, Advogada
TENREIRO LOPES
REVISTA BUSINESS PORTUGAL // 17

MULHERES AO PODER

A Revista Business Portugal teve o prazer de entrevistar Ana Filipa Jones, a Diretora Coordenadora Regional da Decisões e Soluções, Cláudia Fernandes, Filomena Esteves, Inês Pereira e Cláudia Dias, as responsáveis pelas agências de Cascais, Lourinhã, Sintra e Bobadela, respetivamente. Todas elas demostraram bastante orgulho em fazer parte de uma equipa inclusiva, que valoriza a posição da mulher enquanto líder.

Criada em 2003, a Decisões e Soluções é a maior rede de Consultoria Imobiliária de Intermediação de Crédito a atuar em Portugal, mas, em concreto, que fatores distinguem esta consultora das restantes a nível nacional?

Ana Filipa Jones (AFJ) – Diria que é o facto de disponibilizarmos um serviço completo e integrado aos nossos clientes, o que nos confere uma enorme vantagem comercial ao nível da consultoria financeira. A empresa não se concentra apenas na obtenção de crédito, mas analisa a situação financeira do cliente como um todo. Além disso, a Decisões e Soluções ajuda o cliente a encontrar as melhores opções noutras áreas, como o património imobiliário, por exemplo, que pode não estar adequado às atuais necessidades financeiras do cliente. A empresa também pode ajudar o cliente a ajustar a sua carteira de seguros, o que se irá traduzir num impacto significativo da sua situação financeira geral.

Filomena Esteves (FE) – Gostaria de destacar, igualmente, a nossa proximidade com o cliente. O cliente pode dirigir-se às nossas lojas, pois estão sempre de “porta aberta”. Nesse momento, sentamo-nos com o objetivo de verificar toda a informação e as reais necessidades do mesmo. Ao mesmo tempo, orientamos para que tudo seja feito de

forma a que lhe consigamos dar uma ideia da sua situação financeira atual, é uma mais-valia. É certo que, hoje em dia, tudo se consegue através do digital, mas não podemos descurar a vertente humana que é muito importante tratando-se, nomeadamente, de dados sensíveis que dizem respeito à situação financeira das pessoas.

Esta é uma consultora imobiliária com várias lojas espalhadas pelo país, sendo que muitas delas são dirigidas por mulheres. Do vosso ponto de vista, quais as mais-valias do sexo feminino para o mundo dos negócios?

Cláudia Dias (CD) – Creio que as mulheres possuem uma sensibilidade diferente, quer no que concerne à gestão de equipas, quer no que se refere aos problemas das famílias, até porque, normalmente, é a mulher que gere o orçamento familiar e, por isso, conseguimos compreender melhor o seu ponto de vista.

Inês Pereira (IP) – As mulheres conseguem muito mais facilmente equilibrar o lado emocional e o lado mais racional. Além disso, é de salientar a sua capacidade de multitasking.

AFJ – Na minha opinião, liderar equipas não se trata de liderar

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Cláudia Fernandes, Diretora da loja DS Cascais, Filomena Esteves, Diretora da loja DS Lourinhã, Filipa Jones, Diretora Coordenadora, Inês Pereira, Diretora da loja DS Sintra, Cláudia Dias, Diretora da loja DS Bobadela
DIA INTERNACIONAL DA MULHER | DECISÕES E SOLUÇÕES

pessoas em massa. Trata-se de olharmos para as pessoas como elas são e termos a capacidade de nos adaptar e de sermos flexíveis e, neste caso, as mulheres têm essa capacidade de compreender e adaptarem-se às necessidades e perspetivas de cada elemento da equipa, não só no seu contexto profissional, mas também social, o que é uma vantagem importante para liderar com eficácia e alcançar os objetivos da empresa. Além disso, as mulheres têm uma forte capacidade de comunicação e resolução de conflitos, o que é essencial para o sucesso de qualquer negócio.

O imobiliário é um negócio “de pessoas e para pessoas” onde os seus profissionais todos os dias são confrontados com as emoções e expectativas do cliente. Neste sentido, o lado mais emotivo da mulher pode ser encarado como uma vantagem no meio?

Cláudia Fernandes (CF) – Considero que sim, tendo em conta que temos outra sensibilidade para as emoções e conseguimos demonstrá-las de uma forma diferente, comparativamente aos homens. Penso que, desta forma, se estabelece uma relação de empatia com o cliente e ele, através das suas emoções, consegue transmitir-nos mais facilmente aquilo que pretende.

CD – Enquanto mulheres, conseguimos rever-nos nas dificuldades dos outros e isto acaba por fazer com que haja uma relação de confiança de ambas as partes.

Numa área que exige tanta atenção e dedicação, como é que conseguem conciliar o tempo entre a vida pessoal, social e profissional? É difícil fazer essa gestão?

CD – Não é difícil, é uma questão de organização. Trata-se de saber gerir o nosso dia a dia muito bem e saber separar o tempo para o trabalho, do tempo, por exemplo, para a família.

FE – Temos que saber seccionar muito bem o nosso tempo. Recentemente, estive presente numa formação, onde referiram que primeiro estava a família, depois a saúde e, por fim, o trabalho. Tentamos, ao máximo, conciliar estas três esferas da nossa vida, de forma a não descurarmos nenhuma delas.

AFJ – Entendo que conciliar a vida pessoal, social e profissional é uma tarefa desafiadora. No entanto, acredito que é possível alcançar um equilíbrio saudável entre essas áreas.

Do meu ponto de vista, a chave para a gestão eficaz do tempo é a organização e a segmentação do dia em vários blocos. É importante ter em mente que cada bloco deve ser dedicado a uma atividade específica. Por exemplo, reservar um tempo para estar com a família e/ou amigos, praticar exercício físico, trabalhar e outras atividades que são importantes para nós.

Que conselhos gostariam de deixar às mulheres que ambicionam fazer uma carreira de sucesso no mercado imobiliário?

FE – Eu desafiava todas as mulheres a virem experimentar um negócio em que elas próprias são as donas do seu tempo. Não tenham receio de enveredar por uma área que tem tanto para dar. Não me refiro ao aspeto monetário, mas sim do conhecimento, da experiência, da vivência e da partilha com o outro.

AFJ – Nesta área, não existe um dia igual ao outro. Portanto, é essencial manter a mente aberta e estar sempre disposto a aprender e evoluir. Para aquelas que se sentem estagnadas ou que não são devidamente valorizadas no seu atual trabalho, sugiro considerar a possibilidade de se juntar à Decisões e Soluções. A empresa oferece

um ambiente de trabalho dinâmico e estimulante, que valoriza e reconhece o trabalho de seus colaboradores. Além disso, para as mulheres que enfrentam restrições de saúde ou de horários, a Decisões e Soluções oferece a flexibilidade necessária para conciliar o trabalho com as necessidades pessoais, o que pode ser uma grande vantagem para quem precisa gerir os seus horários de forma mais flexível. Por fim, gostaria de lembrar que, independentemente da área de atuação, o sucesso profissional depende do comprometimento e da dedicação, portanto, é essencial manter o foco e a determinação em alcançar os objetivos, mantendo sempre o equilíbrio e a harmonia entre vida pessoal e profissional.

No caso da Ana Filipa Jones, a Diretora Coordenadora Regional da Decisões e Soluções, ver que existem tantas mulheres a liderar as vossas agências, é motivo de orgulho?

AFJ – Obviamente que é motivo de orgulho a presença de tantas mulheres na liderança de várias lojas, que escolhem a Decisões e Soluções para fazerem o seu percurso profissional e se sentem, efetivamente, felizes e realizadas. Significa que estamos a fazer a diferença na vida dessas mulheres, fornecendo as ferramentas e o suporte necessários para que possam ter sucesso nas suas carreiras. Como Diretora de Expansão e Coordenadora Regional, estou comprometida em garantir que a Decisões e Soluções continue a ter um ambiente inclusivo, onde todas as pessoas, independentemente do seu género, possam prosperar e ter sucesso.

Como é que olham para o futuro do sector?

AFJ – Ao longo destes (quase) 20 anos de existência, já passámos por várias crises, mas a empresa conseguiu crescer e prosperar. Na minha opinião, a chave para o sucesso do sector imobiliário é a capacidade de adaptação às mudanças económicas e sociais. Acredito que, as empresas do sector devem continuar a investir em tecnologia e inovação para melhorar a experiência do cliente, a eficiência operacional e a transparência será fundamental para o sucesso futuro. Acredito que a Decisões e Soluções está bem posicionada para enfrentar esse desafio e continuar a crescer e prosperar nos próximos anos.

CF – Trabalhamos com a intermediação de crédito e, enquanto existir o financiamento por parte dos bancos, o imobiliário continuará a mexer. Os preços podem oscilar, pois isso depende da relação entre a procura e a oferta. Neste momento, temos poucas casas novas e é por esse motivo que o preço das casas usadas acaba por estar bastante inflacionado. Havendo alterações, o mercado acabará por se ajustar.

CD – A crise de que se fala atualmente no ramo imobiliário está associada à subida das taxas de juro. Esta situação, para a Decisões e Soluções, tem que ser encarada como uma oportunidade, pois podemos ajudar as famílias a reduzir as suas despesas, no que diz respeito ao crédito e ao seguro.

IP – É uma questão de nos sabermos posicionar. Costuma-se dizer que em todas as crises, surgem oportunidades. A verdade é que existe todo um trabalho prévio que nos prepara para os momentos mais difíceis. Uma das mais-valias da Decisões e Soluções é precisamente o facto de tentarmos encontrar a melhor solução para ajudar as famílias e, consequentemente, fazer crescer o negócio.

FE – O apoio da nossa Diretora Coordenadora também tem sido fundamental. É ela que nos orienta no sentido de conseguirmos obter os melhores resultados todos os meses.

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DECISÕES E SOLUÇÕES | DIA INTERNACIONAL DA MULHER

A PAIXÃO PELO MUNDO DOS VINHOS

A marca de vinhos Ermelinda Freitas é facilmente reconhecida pelo público português. O que muitos desconhecem, é o rosto que está por detrás da mesma, Leonor Freitas, que “bebeu” da família todos os ensinamentos.

Quando descobriu a paixão pelo vinho?

A minha paixão pelo campo e pelas vinhas surge desde que me lembro da minha existência, pois nasci e cresci no mundo rural. Todas as minhas brincadeiras de criança consistiam em imitar o que os mais velhos faziam, sobretudo, nas vinhas. Aprendi muito cedo como trabalhar a terra e as vinhas. O meu relacionamento com os colaboradores da família era permanente, estava sempre com eles. Saí para poder estudar, mas os meus fins de semana e férias eram passados em Fernando Pó.

A paixão pelo vinho voltou a despertar quando optei por assumir a Casa Ermelinda Freitas, devido à morte do meu pai. Até aí, trabalhei fora, numa área completamente distinta. A minha licenciatura em Serviço Social permitiu-me trabalhar como técnica superior do Ministério da Saúde.

A infância marca-nos para toda a vida, e com a morte do meu pai, por não ser capaz de vender o negócio de família, devido ao amor e afeto que tinha, voltei e tive a consciência da verdadeira paixão pela vinha e pelo vinho. Esta levou-me a plantar novas vinhas, novas castas, construir uma nova adega, criar marcas de vinho, pois a família vendia toda a produção a granel (sem marcas). Nunca mais parei, corremos o mundo, fomos a todos os mercados internacionais, investi o que tinha e não tinha, uma verdadeira opção de vida que só é possível com uma grande paixão por aquilo que fazemos. Como tal, a minha grande afirmação é fazer cada vez melhor, uma vez que, neste momento, também tenho um grande reconhecimento para todos os meus colaboradores e, sobretudo, para com os consumidores que acreditam em mim. Todos os dias agradeço à família que tive, simples, trabalhadora, honesta, que me passou valores morais e sociais, que ainda hoje pautam a minha vida. O sector do vinho, é um sector com vida, em que temos que viver e lutar com as condições climatéricas que não controlamos, mas todas estas adversidades trazem grandes compensações, de poder ultrapassar dificuldades e arredondar os espinhos para podermos conviver e partilhar diariamente o nosso produto que, bebido com moderação, faz parte de uma alimentação saudável. É com o vinho que se celebra uma missa, uma festa, um bom negócio, e eu celebro a minha vida que não posso deixar de dizer, é muito trabalhosa, mas muito cheia e enriquecida por estas emoções. Uma garrafa de vinho é

muito mais do que um simples vinho, contém o trabalho das pessoas, o amor e dedicação à terra, o sacrifício, mas também a paixão de ver nascer e criar um bago de uva que resulta nestes vinhos que tantos prémios nos têm comtemplado.

Que formação tem nesta área e quais as suas primeiras experiências?

A minha primeira “formação”, como já referi, aconteceu naturalmente, ao acompanhar, desde sempre, os meus pais e da convivência com os seus colaboradores que tanta experiência e saber tinham. Sempre gostei de ouvir, desde pequena, as conversas sobre a paixão que tinham pela terra, pela vinha e pelo vinho. Quando vim assumir a Casa Ermelinda Freitas, tinha a formação da afetividade da família, tendo, depois, feito pequenas formações para saber a linguagem da área e poder compreender o que os técnicos me diziam. Posso afirmar que, acima de tudo, o conhecimento foi passado pela família que tive, e pela luta que mantive com toda a paixão e amor para dar continuidade ao que a família tinha, tendo a certeza que não sabia e que tinha de procurar quem sabia.

O que queria ser em criança? Aproximava-se desta área?

Em criança, o meu exemplo de maior sabedoria era a minha professora primária e, talvez por isso, o meu primeiro desejo era ser professora. Esta vontade foi-se alterando à medida que fui saindo de Fernando Pó e entrei em contacto com outros saberes. A dada altura, quis ir para o curso de Regente Agrícola, mas aí houve uma voz que falou mais alto, a do meu pai, que dizia que não era um curso para uma menina e que eu tinha de continuar a estudar, pois era boa aluna.

Quais as primeiras experiências no mercado de trabalho? O que guarda desses tempos? Quais os projetos mais relevantes até ao momento?

Não posso deixar de referir o trabalho enquanto Técnica Superior de Serviço Social, na Administração Social de Saúde, onde trabalhei em equipa, com médicos, enfermeiras, nutricionistas, sociólogas, psicólogas, tendo coordenado a educação para a saúde

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Leonor Freitas, Diretora
DIA INTERNACIONAL DA MULHER | CASA ERMELINDA FREITAS

no distrito de Setúbal. Nunca mais me irei esquecer da experiência tão enriquecedora que foi trabalhar em equipa e o grupo de amizade criado, bem como tudo aquilo que eu aprendi, recebi e transmiti outros saberes. Ainda hoje relembro com saudade…

Tenho a referir que a minha realização pessoal, familiar e profissional, concretizou-se na Casa Ermelinda Freitas que foi, é e será um desafio permanente. Criar um projeto, reciclá-lo, melhorá-lo e ter a colaboração de várias pessoas e da família atual, é algo extremamente enriquecedor. Poder viver com a natureza, tirar partido dela, e todos os dias lutar para fazer melhor e perceber o outro, tem sido a grande aprendizagem da Casa Ermelinda Freitas. Existe também uma grande compensação e autoestima por ser capaz de fazer mais do que pensava e, desta forma, lutar para que o meio rural seja reconhecido, poder dignificar Fernando Pó, local onde a Casa Ermelinda Freitas se situa, e de onde sou natural, podendo assim também ajudar a dar visibilidade aos vinhos da Península de Setúbal, de modo a que possam ser cada vez mais reconhecidos pela sua qualidade, envolvendo, assim, forçosamente, as gentes que o trabalham.

Sem dúvida que o maior projeto da minha vida é a Casa Ermelinda Freitas.

Tem alguma referência (na vida profissional)? Porquê esse nome em específico?

Os meus pais: Manuel João de Freitas Júnior e Ermelinda Do Rosário Pires, pessoas que muito trabalharam, tendo apenas a quarta classe. Ainda assim, demonstraram uma inteligência emocional enorme em querer que eu, a sua única filha, saísse do mundo rural para adquirir outros conhecimentos.

Qual o maior erro que já cometeu? E o que aprendeu com isso?

Com muita modéstia, não me consigo lembrar dos erros. Sou muito honesta comigo própria, estando sempre na luta do futuro e constante melhoria do mesmo. Sinceramente, não consigo lembrar-me de nada que tenha sido grave, e de que me arrependa.

Até ao momento, qual o grande desafio da sua carreira?

Foi ter a noção de que, quando vim para a Casa Ermelinda Freitas, havia coisas que eu não sabia. Tive que procurar as pessoas certas, sendo que, ainda hoje, são meus colaboradores.

Quais as maiores dificuldades em conciliar a vida familiar com trabalho?

A minha maior preocupação foi ser boa mãe! Mas, olhando para trás, com organização e com a ajuda do meu marido que sempre me apoiou, foi relativamente fácil conciliar o trabalho com a família. Todos ao meu redor perceberam que eu estava focada no que queria fazer. Quando sabemos o que queremos, para onde vamos e onde nos encontramos, tudo é possível. Hoje, orgulhosamente, digo que a quinta geração já se encontra a trabalhar na Casa Ermelinda Freitas. Claro que isto é algo a que se chama muito trabalho.

Qual o seu grande sonho nesta área?

O meu grande sonho é continuar a evoluir, divulgar a Península de Setúbal e os vinhos de Portugal, conseguir passar aos meus filhos o testemunho que a minha família me passou, valores económicos, morais e sociais.

Quais os seus hobbies?

O maior hobby é trabalhar! Mas gosto muito de viajar, conviver e, sobretudo, amo a praia, onde gosto de nadar.

Qual o melhor vinho que já bebeu até hoje?

São tantos que sou incapaz de referir um. Depende tanto do que cada um acha um bom vinho, da companhia, da comida, do nosso humor na altura, enfim, existem muitos bons vinhos em Portugal, onde eu incluo alguns da Casa Ermelinda Freitas. Se me perguntarem qual o vinho com mais afeto, tenho que ser sincera, é o Dona Ermelinda, que é uma homenagem ao nome da minha mãe e ninguém pode levar a mal, sendo que o vinho é bom!

Uma experiência que não esquece?

Há um momento que foi marcante na minha vida, logo no início, quando vim para a Casa Ermelinda Freitas, fui à feira de Bordéus para visitar as vinhas, conhecer outra realidade e ter contacto com as novidades. Aí, percebi que não estava a valorizar o negócio que tinha, pois, em Bordéus, o vinho era tratado como uma joia. Na altura, ainda vendia vinho a granel e esta viagem foi de tal maneira forte que vim consciente que tinha de criar marcas, identificar com a tradição que a família tinha deixado e dignificar algo que, quando bebido com moderação, é único: o vinho. Esta experiência levou-me a pensar numa nova adega, numa nova maneira de estar e, claro, começar as primeiras marcas onde se incluí o Dona Ermelinda.

Um olhar sobre o mercado português dos vinhos?

Portugal tem melhorado muito na enologia e, agora, também na viticultura. Só se pode fazer bons vinhos com boas uvas. Mas, hoje, é com orgulho que vamos a feiras internacionais e, provando os vinhos de outros países, chegamos à conclusão de que não estamos atrás de ninguém, cada país possui as suas características. Portugal tem muitos bons vinhos, ainda por cima, falamos de um país pequeno, mas com tanta variedade, que possui uma riqueza enorme e única. Apenas falta uma coisa, ser reconhecido e valorizado como merece no que se refere à grande qualidade que tem. Todavia, estamos num bom caminho. Tenho muita esperança na nossa região, a Península de Setúbal, bem como na dignificação dos vinhos de Portugal.

REVISTA BUSINESS PORTUGAL // 21

Empreendedora por natureza, abrir um negócio próprio sempre foi um objetivo que quis concretizar? A sua experiência de vida no Dubai foi também uma inspiração para a criação da Lala Diamonds?

Acho que tenho de agradecer à minha mãe pela “veia empreendedora”. Sempre a vi entusiasmada, mesmo quando algo não corria bem. Eu própria já tive outros negócios que, por variados motivos, não correram bem. Penso sempre neles antes de decidir o que quer que seja nestas minhas aventuras empreendedoras! Eu sou apologista que é tão mais simples sermos empregados (em vez de empregadores), trabalhamos das 9h às 19h, temos noites e fins de semana livres… Por outro lado, um negócio próprio significa: no more freedom! (risos)

Quanto à minha experiência no Dubai… O Dubai é, de facto, um diamante em bruto que é polido todos os dias. Os brilhos e as cores da cidade atraem qualquer um, mas a minha inspiração para a Lala surgiu no início do lockdown. Fechada em casa, sem acesso a quase nada, o mundo passou a ser mais virtual. Pensei muito na frase e no conceito de comprar diamantes online – e criei a Lala! Quis promover a diversidade e empowerment feminino com peças exclusivas, mas acessíveis e com um design clean.

A Lala Diamonds apresenta uma enorme variedade de produtos, para todos os gostos e ocasiões. Como é que se inspira para a criação das peças? Procura imprimir um pouco da sua identidade em cada uma delas?

Cada peça tem, de facto, um bocadinho de mim e da equipa também. Todas sugerimos, analisamos e aprovamos ideias. Há peças tão especiais, que o processo de conceção das mesmas inclui-me a mim no Sri Lanka a fazer sourcing de pedras preciosas. São experiências únicas, admito! Mas, no final do dia, a peça terá a identidade do cliente, a sua vontade e visão. São peças únicas! Não me canso de relembrar: não há duas pedras iguais na natureza.

TÂNIA DOS SANTOS SILVA LANÇA NOVO PRODUTO

PARA MULHERES

O rosto por detrás da Lala Diamonds, a mulher empreendedora que dá cartas no Dubai, o lado de empresária e de mãe, em exclusivo, nesta edição dedicada ao Dia Internacional da Mulher.

A Tânia mostra ser uma mulher determinada, empenhada e empreendedora, que não tem medo de arriscar. Enquanto empresária, quais considera serem os principais desafios de uma liderança feminina? Acredita que as mulheres têm mais dificuldade, do que os homens, em afirmar-se no mundo dos negócios?

Não ter medo de arriscar? Ok, concordo. Já arrisquei e já perdi, já arrisquei e já ganhei. A derrota é a mãe da vitória e a melhor aprendizagem.

Os principais desafios? A constante prova (diária) da nossa capacidade de execução e/ou decisão. Claro que não posso ser generalista, há sempre exceções. No caso da Lala, a equipa é toda feminina e as peças são, também elas, superfemininas - há menos pressão e mais competição! (risos)

Mas, a minha experiência de liderança começou mesmo antes de ser empreendedora - na OPEC, a equipa que liderava era maioritariamente masculina e com uma média de 45 anos. Na altura eu tinha 30.

Em Angola, muitas vezes, liderar significava trabalhar por três para o “trabalho” ficar feito e quase sempre trabalhar fora de horas. Isto tudo para me conseguir afirmar neste mundo ainda tão… masculino. O mundo dos negócios é, muitas vezes,

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER | LALA DIAMONDS
Tânia dos Santos Silva, CEO

um “clube de homens” com regras de funcionamento mais “agressivas” e menos inclusivas. As coisas mudam um bocadinho todos os dias, mas ainda há muito caminho para ser feito. Ser mulher e mãe traz uma lufada de ar fresco e eu gosto de sentir que dou, todos os dias, um pequeno contributo para ajudar a mudar o status quo.

Sabemos que vai lançar um novo projeto: ‘Leak proof bikinis’. O que nos pode contar sobre esta nova aposta?

Chama-se MaiSwim! Já temos Instagram, podem ir ver! O site está quase pronto, será www.maiswim.pt. A equipa é a mesma. Sugestão: “Quando funciona não mexe”!

A Mariana e a Sara partilham das minhas visões e ideias e, sem elas, era impossível levar tal projeto avante. Mas, falando da MaiSwim... é um projeto que me dá “borboletas na barriga” de tão inovador que é. Já se vê imensa roupa interior adequada à menstruação e o sistema para os biquínis e fatos de banho é semelhante: um forro fino e superabsorvente, produzido com

materiais macios e respiráveis, que impedem que o fluxo menstrual passe para a camada exterior do biquíni ou fato de banho. Todas as peças são em econyl, criadas com cuidado, consciência, atenção e dignidade. Estou ansiosa para que esteja no mercado!

Tendo em conta que nos aproximamos do Dia Internacional da Mulher, quais as mulheres que mais a inspiram? Que conselhos gostaria de deixar àquelas que, tal como a Tânia, ambicionam construir uma carreira de sucesso?

Aposto que é um cliché, mas sempre foi e sempre será a Oprah. Eu cresci a ver a Oprah na Sic Mulher - o programa dela esteve no ar de 1986 a 2011. Numa altura em que a palavra influencer não tinha o mesmo reach e significado de hoje, a Oprah já era empreendedora e filantropa, produtora, atriz, escritora, sobrevivente... aprecio e respeito tudo o que ela representa!

Quanto a vocês, que agora me leem, e que chegaram até ao fim desta entrevista, só deixo um conselho: não desistam! Mesmo que errem e percam, tentem sempre até atingirem os vossos objetivos.

REVISTA BUSINESS PORTUGAL // 23
LALA DIAMONDS | DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Mariana Santos Silva, Tânia dos Santos Silva e Sara Salvador, equipa Lala Diamonds e MaiSwim

BREVES NO FEMININO

, Diretora de Marketing da ViniPortugal eleita “Mulher do Ano”

Sónia Vieira, Diretora de Marketing da ViniPortugal, foi distinguida como “Mulher do Ano” nos Prémios W 2022 de Aníbal José Coutinho. Este é um prémio que distingue a personalidade feminina que, através do seu esforço individual e do interesse pela cultura do vinho, mais contribuiu para a valorização nacional e internacional do vinho português.

Conferência Liderança Feminina no Porto

A 9ª edição da Grande Conferência Liderança Feminina vai realizar-se no próximo 23 de março, entre as 9h e as 13h. A Porto Business School vai acolher novamente aquele que é o maior evento de executivas em Portugal. As várias vertentes da liderança feminina serão discutidas por um painel de executivas e especialistas. Terão lugar ainda I sobre liderança tóxica e a importância do storytelling na cultura de liderança.

78% das mulheres portugueses garante ter independência financeira

O estudo da Mastercard “Mulheres e Finanças” destaca como as mulheres em toda a Europa se sentem na gestão das suas finanças e os desafios que enfrentam para atingir a sua independência financeira. 78% das portuguesas inquiridas sente-se financeiramente independente, porque têm os seus próprios rendimentos, dispõem de poupanças ou porque utilizam ferramentas financeiras.

‘BORA Mulheres regressa com a 5ª edição

‘BORA Mulheres regressa com a 5ª edição e impulsiona mais 400 mulheres empreendedoras com o objetivo de promover a inclusão, contestar a desigualdade e apoiar a mobilidade económica. A iniciativa destina-se a mulheres que queiram lançar o seu próprio negócio e que podem beneficiar de mentoria especializada. Este ano, na sua quinta edição, o programa decorre com um bootcamp em formato digital nos dias 3 a 5 de Março.

Fundação Santander lança Bolsas W50 para mulheres em cargos de liderança

Já estão abertas as candidaturas para a nova edição das Bolsas Santander Women/W50 Leadership 2023 – LSE, um programa intensivo, destinado a 50 mulheres que ocupam cargos diretivos e que pretendem desenvolver e melhorar as suas capacidades de liderança. A convocatória para as candidaturas está aberta até 13 de março e a bolsa inclui o custo total do programa, taxas de matrícula e despesas de estadia em Londres, durante a realização.

Dia 8 de março há um evento para ajudar mulheres a atingir cargos de líder

O Ponto Zero é um projeto que tem como missão apoiar as próximas gerações no caminho para o sucesso profissional. Por isso, lança, no Dia Internacional da Mulher, o seu primeiro evento de desenvolvimento profissional, apenas com oradoras, moderadoras e facilitadoras. Mais de 20 profissionais com carreiras de excelência, de algumas das melhores empresas portuguesas e mundiais, vão partilhar as suas experiências e estratégias.

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