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RELAÇÕES PÚBLICAS

O AMBIENTE DIGITAL modificou a maneira como marcas e organizações lidam com o público. Hoje, já se fala nas mudanças de estratégias, abordagens e até mesmo uma nova compreensão sobre o que é presença. Não importa se uma empresa mantém perfil oficial numa determinada rede social ou não. Se o público dela estiver, a companhia também estará. “Antes, se atingia o público em termos geográficos. Hoje, é global”, explica Carolina Terra, professora da Cásper Líbero. Não existem fronteiras para menções negativas nem para as páginas de um Reclame Aqui da vida — ambos podem ser catastróficos.

Ferramentas de monitoramento como o Buzzmonitor e a Brandwatch permitem que organizações acompanhem comentários e ajam a tempo de proteger sua imagem. Numa crise, pode ser o diferencial entre sair ilesa ou com a reputação manchada - e, às vezes, de forma irreversível. E esse monitoramento traz mais benefícios do que meramente saber quem está falando mal das empresas. “Relações Públicas passa pelo entendimento de onde estão os públicos de uma marca”, complementa Carolina. Mapear a audiência e direcionar campanhas é uma maneira de prospectar o ouro escondido entre vídeos, carrosséis, textos e stories dos bilhões de perfis.

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Não é de hoje que marcas buscam associar sua imagem a um público. O caminho escolhido tem sido o de criar uma identidade adjacente. Mas a coisa pode ir além: construir todo um imaginário em torno de si. Uma aposta crescente é investir na produção de conteúdo. “A Red Bull é uma baita publisher de esportes radicais”, exemplifica Carolina ao lembrar das ações encabeçadas pela empresa. O paraquedista Felix Baumgartner vestia as cores e o logo dela quando fez seu salto supersônico no

“limiar do espaço”, a 39 quilômetros do chão. Os voos de wingsuit do Red Bull Skydive Team também consolidam a ideia por trás da marca. Se não dá asas de fato, a empresa chega muito perto.

Mas será que uma organização precisa carimbar presença em toda e qualquer plataforma digital? Com o sobe e desce de mídias sociais e o consequente vai e vem de usuários, a pergunta tem desafiado profissionais de RP nos últimos tempos. “Do mesmo jeito que o Clubhouse ascendeu, descendeu. Assistimos à derrocada do Twitter. Vai todo mundo migrar para o Koo?”, questiona Carolina Terra ao tratar da efemeridade das redes. O olhar crítico também passa por entender qual o perfil de quem está lá e se faz sentido estabelecer comunicação com os usuários. Outro ponto a ser analisado é a credibilidade que uma plataforma passa.

Paradoxalmente, uma rede que defende liberdade de expressão irrestrita escancara suas portas para desinformação e discurso de ódio. Que tipo de usuário e anunciante se sente atraído por esse ambiente? “O Twitter já foi minha plataforma preferida, mas tem uma liderança ali (Elon Musk) que está descaracterizando a ferramenta ao vender perfis verificados”, exemplifica Carolina. A reputação de empresas pode ser impactada pela poluição do ecossistema onde estão. Uma saída possível? Criar plataformas próprias que não sofram com instabilidades geradas pelo ambiente. A professora casperiana afirma que a prática já é comum entre empresas de varejo, e que a tendência é aumentar: “Isso dá controle sobre os dados dos consumidores e permite um relacionamento mais próximo”. No reino das disputas algorítmicas, onde tudo é passageiro, a briga por consumidores fieis é a única que não envelhece. (GS)

O JORNALISMO ESTÁ INSERIDO no ambiente digital até a medula. As possibilidades são muitas, e muitas ainda estão por serem inventadas. O secular jornalismo precisa se reinventar, com urgência. O que está por vir, contudo, ainda é uma sombra perto da realidade esperada para os próximos anos. As lógicas multimídia e multiplataforma já são realidade nas redações. Porém, ainda padecem de um mal de origem: foram transpostas do analógico para o digital. Para atingir públicos mais amplos e engajados, é preciso aproveitar ao máximo um conteúdo e distribuí-lo de várias formas.

Em entrevista exclusiva para a revista CÁSPER, Mattia Peretti, gerente na JournalismAI, da prestigiada London School of Economics, explica o que pensa sobre o novo no jornalismo. Uma de suas apostas para ampliar o público é a personalização por meio do aprendizado de máquina, hoje ainda sendo testada: “Imagine um artigo ou uma reportagem acessados na íntegra ou em tópicos principais, a depender do usuário. Essas ferramentas deverão ser cada vez mais comuns”, explica.

Outra barreira para a comunicação são as línguas. Quem já tentou assistir a um noticiário estrangeiro sabe: o âncora fala sobre a queda do euro e chama uma reportagem sobre protestos nas ruas de Paris. Dá para decifrar o contexto, mas não passa disso, se não for falante do idioma. No que depender da ferramenta Aloud, esse deve deixar de ser um problema. Ela é um dos principais projetos experimentais do Google (a empresa, de novo!), apostando na dublagem de vídeos de um idioma para outro. Alguns canais do Youtube já testam essa dublagem automática. Faz parte da Area120, setor da empresa que foca em inovações para produtos e serviços antes de chegarem ao mercado.

O que se tem, por ora, é a tecnologia ajudando a otimizar o trabalho jornalístico. Sempre que um repórter faz entrevistas, ele sabe que vai levar algumas horas ou até dias para ter as perguntas e respostas transcritas, se necessário. Mas hoje esse trabalho braçal já conta com uma “mãozinha” da inteligência artificial (IA). Não é perfeita, mas quebra um galho. O auxílio das máquinas resulta em tempo e energia economizados e realocados para outras atividades de maior relevância, como a própria apuração e produção de notícias.

A suíte de aplicações Journalist Studio, do Google, traz um conjunto de ferramentas desenvolvidas para reduzir o esforço dos jornalistas, dentre elas o Pinpoint. Ele é capaz de transcrever material audiovisual e de pesquisar documentos de texto e imagem. O Journalist Studio faz parte do Google News Initiative, que foca em inovação, diversidade e sustentabilidade. “Aplicativos de IA no jornalismo são pensados para auxiliar no processo de coleta de informações, produção e distribuição de notícias”, explica Mattia Peretti.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) não perdeu tempo. Graças ao Pinpoint, publicou a íntegra de 131 lives do ex-presidente Jair Bolsonaro nos últimos dois anos. Alguém pode se perguntar para que o material seria útil. Aí vão alguns exemplos: o número de vezes em que Bolsonaro recomendou o uso de cloroquina pode ser levantado em questão de segundos. Alegações de fraude nas urnas, idem. Também podem ser localizados com facilidade os ataques dele ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “É como ter mil estagiários analisando todos esses documentos para você”, brinca Mattia ao ressaltar a rapidez com que a ferramenta trabalha. (GS) @

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