ANDY WARHOL CONSTANTIN BRANCUSI JAUME PLENSA LUCIA LAGUNA GUNGA GUERRA
DIRETORA Liege Gonzalez Jung CONSELHO EDITORIAL Agnaldo Farias Artur Lescher Guilherme Bueno Marcelo Campos Vanda Klabin REDAÇÃO André Fabro PUBLICIDADE publicidade@dasartes.com DESIGNER Moiré Art
Capa: Andy Warhol, Superman, 1961. Cortesia DC Comics. Superman © and ™ DC Comics. All rights reserved. © The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. / Artists Rights Society (ARS) New York.
SOCIAL MEDIA Thiago Fernandes SUGESTÕES E CONTATO dasartes@dasartes.com APOIE A DASARTES Seja um amigo Dasartes em recorrente.benfeito ria.com/dasartesdigital Doe ou patrocine pelas leis de incentivo Rouanet, ISS ou ICMS/RJ
Lucia Laguna, Jardim (Manguinhos) n. 39, 2017. Cortesia Galeria Fortes D'Aloia & Gabriel. Foto: Eduardo Ortega.
Contracapa: Gunga Guerra, Crash Test Dummies n° 1, 2017.
LUCIA LAGUNA
12 JAUME PLENSA
6 De Arte a Z 68 Livros 70
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CONSTANTINI BRANCUSI
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Coluna do meio
ANDY WARHOL
GUNGA GUERRA
RESENHAS
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DE ARTE A Z Notas do circuito de arte
A VEZ DE DOROTHEA TANNING A pintora americana, ofuscada em sua vida por seu famoso marido, Max Ernst, ganhou uma grande retrospectiva, em Madri, no Reina Sofia, e em Londres, no Tate Modern. A retrospectiva conta com mais de 150 obras e apresentam suas pinturas de representações surrealistas da dor das mulheres e suas últimas esculturas em tecido da década de 1960.
1 MILHÃO DE VISITAS NO TOKYO MUSEUM
ALERTA NOVOS IMPOSTOS
teamLab
Sobre vendas de arte
Em Miami
Em apenas cinco meses desde que o coletivo teamLab abriu o primeiro museu de arte digital, no Mori Building de Tóquio, o espaço já recebeu um milhão de visitantes. Em uma cerimônia especial, a milionésima visitante, uma australiana chamada Nikky Parker, recebeu um passaporte sem fronteiras, que dá acesso livre a todos os eventos do teamLab Borderless.
Atualmente, as vendas interestaduais de arte não estão sujeitas ao imposto sobre vendas do Estado importador, mas isso pode mudar com uma nova decisão da Suprema Corte dos EUA. As concessionárias expressaram ansiedade sobre a questão e o ônus pode recair sobre galerias menores que não podem pagar pela perícia legal durante esse complicado período de transição.
O efeito KAWS está tomando conta de Miami Beach. Durante a abertura da feira ArtBasel, formou-se uma fila de colecionadores, no estande da Pace Prints, para adquirir uma edição do novo tríptico “Last Time, Alone Again e Far Far Dawn” do artista do Brooklyn. A obra estava sendo oferecida por US$ 65 mil. Houve tanto “hype” que a galeria decidiu fazer uma loteria para decidir quem iria conseguir uma cópia da gravura.
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NOVA ONDA KAWS
GIRO NA CENA CONCURSO GARIMPO 2018/19 Votação aberta até 28/12 A Dasartes agradece as centenas de inscrições e parabeniza a todos pela qualidade na produção artística para o Concurso Garimpo 2018/2019. Selecionamos dez finalistas para o voto popular com frentes diversas de atuação e produção. Vote em seu preferido pelo Facebook Dasartes Brasil, por meio de curtidas e reações, e em nosso site. O mais votado pelo público será contemplado com uma matéria na edição #80 de janeiro/2019. Resultados dos votos dia 10/01/2019.
Gravuras históricas no Itaú Cultural Com um recorte de 100 gravuras da coleção Itaú Cultural, cuja narrativa são as diferentes técnicas e temáticas utilizadas nesse tipo de arte do século 15 ao 20. A mostra “Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural” tem curadoria de Marcos Moraes e apresenta nomes como Pablo Picasso, Edvard Munch, Eugène Delacroix, Francisco Goya, Edouard Manet e Honoré-Victorien Daumier. Até 3/02/2019.
Para protestar “Todos aqui estão profundamente preocupados com a liberdade desses artistas – e seu paradeiro – e apoiamos calarosamente seu direito de expressar suas ideias livremente.” Frances Morris, diretora do Tate Modern, de Londres a respeito da prisão da artista e ativista Tania Bruguera e seus colegas ativistas detidos em Cuba durante uma performance.
Azulik Uh May Um centro de artes ecologicamente correto abre na floresta de Yucatán. O fundador de um resort de luxo perto de Tulum, na península mexicana, acrescentou um espaço de arte ao seu complexo ecológico. Eduardo Neira, mais conhecido pelo nome de Roth, desenhou o Azulik Uh May, que abriga obras dos brasileiros Ernesto Neto, Paulo Nazareth e Oskar Metsavaht.
GIRO NA CENA COMBATE À FALSIFICAÇÃO
Morre Robert Morris O escultor americano, artista conceitual e escritor Robert Morris, um dos fundadores da escultura minimalista, morreu em Kingston, Nova York, de pneumonia, aos 87 anos. Em 1962, ele encenou a performance “Column” no Living Theatre em Nova York. A partir disso, ele se interessou pela cena artística da cidade e desenvolveu um estilo chamado minimalismo.
Na França, o Museu de Arte Moderna de Lille e a Biblioteca Científica Nacional conduzirão estudos abrangentes ao longo de dois anos para o projeto intitulado "Modigliani and his Secrets". Modigliani é muito frequente para falsários e a esperança é a construção de uma base sólida de conhecimento para ajudar a capturar falsificações e evitar escândalos, como aconteceu ano passado quando 20 pinturas falsas, que estavam sendo expostas no Palazzo Ducale, foram apreendidas.
Novo projeto Regina Parra Na exposição “Eu me levanto”, a artista investiga o erotismo e a vulnerabilidade como meios para criação de novas potências. Parra é a terceira artista contemplada pelo edital de ocupação da Fundação Marcos Amaro, em Itu. Curada por Galciani Neves, a mostra empresta o título de um poema da escritora, poeta e ativista norte-americana Maya Angelou (Still I rise) e reúne trabalhos sobre um tema constante na pesquisa de Parra: o corpo feminino. De 15/12/2018 a 9/3/2019
8 DE ARTE A Z
VISTO POR AÍ
Shirley Chisholm, primeira congressista negra da América, ganhará uma escultura no Brooklyn. Chisholm será apenas a quinta estátua em Nova York que representa uma mulher histórica. A estátua ficará na entrada do Brooklyn Prospect Park.
MARINA MONUMENTAL A Marina da Glória recebe a terceira edição do projeto Marina Monumental com o tema “A Arte Delas”. Com curadoria de Marc Pottier, a mostra reune vinte e uma obras exclusivamente de artistas mulheres com trabalhos inéditos criados para o evento. O objetivo é dar visibilidade à produção das mulheres nas artes e mostrar como elementos centrais do cotidiano estão intimamente ligados à construção da identidade da mulher, como a luta por direitos, meio ambiente, corpo, violência, silenciamento e empoderamento. Para mostrar a infinidade de temas explorados pelas mulheres em seus trabalhos, Marc Pottier procurou artistas com estilos diversos. Um dos destaques da edição é a variedade de expressões artísticas da mostra, que contará com instalações, 10 AGENDA
esculturas, grafites, experiências interativas e performances - todas estabelecendo uma interação com a arquitetura e o local. A exposição vai contar com trabalhos criados exclusivamente para o evento, pelas artistas, Amalia Giacomini, Ana Holck, Ananda Nahu, Anna Paola Protasio, Ana Vitoria Mussi, Claudia Jaguaribe, Claudia Melli, Claudia Sehbe, Gabriela Gusmão,Gabriela Maciel, Marcela Grosman, Janaina Mello Landini, Janaina Tschäpe, Liana Nigri, Maria Laet, Maria Lynch, Maria Fernanda Lucena, Nathalie Nery, Panmela Castro, Rosangela Dorazio e Simone Cupello.
Marina Monumental • A Arte delas • Marina da Glória • Rio de Janeiro • Até 6/01/2019
Paisagem n. 101 (Penha), 2017.
A vizinhanรงa de
LUCIA LAGUNA
MASP PROPÕE UMA AMOSTRA DA PRODUÇÃO MAIS RECENTE DA ARTISTA CARIOCA LUCIA LAGUNA E SEU INQUIETO OLHAR SOBRE A PAISAGEM
POR ISABELLA RJEILLE
As pinturas de Lucia Laguna são inseparáveis do local onde foram feitas: o ateliê-casa da artista e os arredores do bairro de São Francisco Xavier, zona norte do Rio de Janeiro, que podem ser vistos pela janela de 14 DESTAQUE
seu estúdio. Laguna começou a pintar após se aposentar como professora de Literatura Portuguesa e Latina, e frequentar os cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, nos anos 1990. A artista
buscou em sua janela, os modos de vida, construção e arquitetura do subúrbio para definir o que seria sua maneira de pintar: Eu estava tentando encontrar um caminho em que eu me sentisse segura e dissesse: vou desenvolver isso. E eu só encontrei isso quando olhei para minha janela, para as empenas dos prédios [...]. Estou na frente do morro da Mangueira, deixa eu olhar isso de uma outra maneira [...]. Então eu disse: isso é um assunto para mim. Esse lugar onde eu moro vai me trazer uma riqueza de coisas das quais eu me sinto capaz de falar, porque eu moro aqui. Eu sou do subúrbio. A exposição "Lucia Laguna: vizinhança" reúne uma seleção de 21 obras de sua produção recente (de 2012 a 2018) e dos três principais temas trabalhados pela artista: "Jardins", "Paisagens" e "Estúdios". Grande parte da mostra é composta pelas "Paisagens" que Laguna realizou a partir dos bairros Mangueira, Benfica,
À esquerda: Paisagem n. 103 (Vila Isabel), 2017. Abaixo: Paisagem n. 99 (Ramos), 2017. Todas as Fotos: Eduardo Ortega. Cortesia MASP.
À direita: Paisagem n. 104 (Benfica), 2017.
Por meio da memória afetiva de quem caminha e anota mentalmente suas cores, Laguna propõe outro imaginário do subúrbio.
Manguinhos, Penha, Ramos, Caju, Vila Isabel e Madureira, localizados no Rio. Por meio da memória afetiva de quem caminha por esses e anota mentalmente suas cores, Laguna propõe outro imaginário do subúrbio. Nestas "Paisagens", Laguna expande sua "vizinhança" para os espaços das instituições de arte. Com o mesmo movimento centrípeto que caracteriza seu processo, a artista absorve o espaço de seu ateliê, de seu jardim, do MASP e da coleção da instituição para a tela "Paisagem nº 114" (2018), na qual se veem diversas referências a obras do museu. Nessa pintura, um pequeno fragmento da estampa florida de "O vestido estampado" 16 LUCIA LAGUNA
Paisagem n. 100 (Mangueira), 2017.
(1891), de Édouard Vuillard, confundese com as plantas do jardim da artista; o "Autorretrato com marreta" (1914), de José Pancetti, encontra-se com "O lenhador" (1910), de Ferdinand Hodler, ambos trabalhadores, seja da arte ou do campo; o desenho sintético de uma vista lateral do edifício feito por Lina Bo Bardi convive com o guardião chinês de 618-907 d.C., uma das 20 LUCIA LAGUNA
primeiras esculturas que avistamos ao entrar no segundo andar do museu; distribuídas pelo quadro, "Ar-Cartilha de superlativo" ("circa" 1967-72), de Rubens Gerchman, e as pequenas figuras chorosas de "O velório da noiva" (1974), de Maria Auxiliadora – que, espalhadas, parecem interagir com outros personagens de obras e tempos distintos. Todo o quadro é, por
Paisagem nº 114, 2018. Foto: Eduardo Ortega. Cortesia da artista e Fortes D'Aloia & Gabriel.
fim, seccionado por linhas que aludem às bordas dos vidros dos cavaletes de Bo Bardi, que marcam sua presença fantasmagórica no espaço. A relação de Laguna com a história da arte também não poderia deixar de ser um assunto presente na obra realizada para o MASP. Quem visita seu ateliê percebe a extensa lista de artistas que pende de um painel de cortiça, no qual
constam nomes como Paolo Uccello, Rogier van der Weyden, Kitagawa Utamaro, William Turner, Paul Cézanne, Henri Matisse, Pablo Picasso. Ao defini-los como sua "família" e viver diariamente com essas referências em sua casa-ateliê, Lucia Laguna traz esses "vizinhos" para conviver com o morro da Mangueira; com o barulho do trem que passa
Paisagem n. 105 (Madureira), 2017.
próximo à sua residência; com os muros de contenção nos pés da favela; com a artemísia que cresce no jardim e a trepadeira que invade o estúdio; com os passarinhos que entram livremente pela janela do estúdio – sem vidros ou grades, apenas com um toldo; com toda essa simultaneidade de camadas abertas em frestas, em eterna transformação, que é o subúrbio e é a natureza do quadro de Lucia Laguna. 22 DESTAQUE
Isabella Rjeille é curadora independente e curadora assistente do MASP. Desde 2015, é co-editora do jornal Nossa Voz / Casa do Povo.
Lucia Laguna: Vizinhança • MASP • São Paulo • 14/12/2018 a 10/3/2019
Firenze II, 1992.
“A escultura é a melhor maneira de fazer uma pergunta.”
JAUME PLENSA
COM OBRAS DO FINAL DA DÉCADA DE 1980 ATÉ O PRESENTE, A MOSTRA DE JAUME PLENSA EM BARCELONA PROPÕE UMA JORNADA POR SEU DIÁLOGO ENTRE A REPRESENTAÇÃO DA FIGURA HUMANA E A ABSTRAÇÃO
POR FERRAN BARENBLIT "Firenze II", de 1992, é um enorme ponto de interrogação que se apoia na parede. Estamos diante do interrogatório em si. O sinal "?" nos lembra que, toda vez que o usamos, uma afirmação se torna uma questão. Não é precisamente uma das funções da escultura? Mantendo a incerteza, comemorando a imprecisão? Gerando 26 DO MUNDO
perplexidade, hesitação, insegurança? Suspeita inspiradora, aumentando a incredulidade, semeando o ceticismo? Dotado de uma imensa capacidade de produção, Plensa continua a construir uma maneira de olhar o mundo que serve para explorar suas relações internas. Com certeza da capacidade de seu trabalho para transformar, ele
Plensa continua a construir uma maneira de olhar o mundo que serve para explorar suas relações internas.
À esquerda: Matter-Spirit, 2005. Foto: Miquel Coll. Abaixo: Wilsi’s Dream, 2018.
argumenta escrupulosamente suas conclusões. Em todos os momentos, mostra que está agindo livremente. Dialoga sem medo com o conceito de beleza, que ele nem sempre procura, mas, quando o faz, é com a máxima convicção. Não demonstra um otimismo ingênuo, expressando, antes, a confiança de que tudo é possível. Em suas obras, ele assume a força do volume, da imagem, da palavra ou do som, sem temer as contradições. Sua jornada de quase três décadas de produção oferece muitas maneiras de apresentar seu trabalho, esse desdobramento corresponde à maneira de trabalhar do próprio artista, alternando sempre a ocupação de espaços internos e externos com notável destreza. O inesperado muitas vezes surge das tensões geradas entre os opostos: peso e leveza se combinam na presença material de um metal que aspira à ausência de peso, às vezes descansando em um único ponto, e em outras sequer tocando o chão.
Como todas as esculturas do artista, ela não só ocupa um espaço quanto gera outro, e o faz por meio da pressão e da distância trazida pelos objetos. Abaixo: Mémoires Jumelles, 1992. À direita: A Silent Witness, 2014.
Essa tensão por meio da oposição surge com força em "Mémoires Jumelles" (1992), obra composta de 11 suportes de andaime, ajustes metálicos presos horizontalmente entre duas paredes, que suportam objetos do cotidiano, provavelmente do ambiente de trabalho do próprio artista, moldados em bronze e dispostos para que o espectador passe por baixo. O conjunto é retido pela tensão, pela força da própria escultura. Como todas as esculturas do artista, ela não só ocupa um espaço quanto gera outro, e o faz por meio da pressão e da distância trazida pelos objetos. Da mesma forma, o som e o silêncio são opostos e alternados. Se o som acompanha a visita à exposição, o som é criado pela oscilação do material, escultura que vibra e penetra na mente do público através dos ouvidos. Em "MatterSpirit" (2005), é o visitante que atinge a peça com um martelo. Dessa forma, não só eles a ativam, mas também anunciam sua presença para outros na galeria. Como contraponto, outras peças falam com o poder da ausência de som. "Silence" (2016) oferece um espaço onde não é necessário falar. Seu protagonista opera a partir de um lugar de extrema serenidade e convida o espectador a fazer o mesmo, em um belo equilíbrio que encontra seu lugar natural na tranquilidade. 29
O trabalho de Plensa oculta numerosas referências à poesia, música, ciência e à própria arte: da tradição clássica à conceitual, da Renascença aos movimentos históricos de vanguarda. Algumas, como a Duchamp, são bastante evidentes. Plensa dialoga com a arte e os artistas do passado, assumindo como herança seu legado intelectual e formal. Mas, ao mesmo tempo, também é um artista que analisa a história social e cultural, a fim de lançar luz sobre os indivíduos e as sociedades. Ao longo de sua carreira, tem se engajado em um diálogo permanente com a história das ideias, especialmente com a modernidade como o momento em que se estabelece o tempo presente. A grande história era sólida, sem rachaduras e, no seu auge, projetava ao mundo todo a ordem europeia e priorizava o individualismo em detrimento do coletivo, baseado na definição de uma aparente paridade e igualdade de oportunidades que foram, em última 30 JAUME PLENSA
instância, promessas não cumpridas. É nesse contexto que devemos entender "Dallas? Caracas?" (1997), que questiona todas as modernidades possíveis por meio do contraste entre duas cidades com histórias quase paralelas que se tornaram símbolos quase opostos. São cidades que acreditaram nas promessas da modernidade e propuseram aos seus habitantes um horizonte de progresso graças à extração de petróleo. E, também, são cenários de decepção com o fracasso de suas expectativas. Plensa as apresenta por meio de duzentas fotografias tiradas em cozinhas domésticas. Não há pessoas nelas. Apenas móveis, utensílios e alguns alimentos. Acredita-se que é possível distinguir quais são tomadas em cada cidade. Eles compartilham o básico: o lugar onde a comida é preparada, o mesmo alimento que mais tarde se tornará parte do nosso organismo.
À esquerda: Vista da exposição. Foto: Miguel Coll. Acima: Dallas? Caracas?, 1997. Abaixo: Dante’s Dream, 2003.
O corpo como representação do humano está constantemente presente. O coração das Árvores.
O corpo como representação do humano está constantemente presente no trabalho de Plensa. Primeiro, com suas próprias medidas. Este não é um tema novo na arte. A arte grega apresentou seu cânon. Leonardo da Vinci desenhou o "Homem Vitruviano" como um estudo das proporções ideais do corpo, estabelecendo as relações entre as várias partes da anatomia que poderiam ser projetadas metaforicamente para o mundo inteiro. Le Corbusier, o arquiteto que acreditava na modernidade, propôs seu Modulador. Plensa propõe Plensa. Ele prefere o simples e o honesto. A altura de "Mémoires Jumelles" é a do artista com braços erguidos; é o seu corpo que é descrito nos "Continentes I e II", 2000; "O Coração das Árvores" e o "Coração dos Rios" mostram o artista agachado, abraçando árvores cujas dimensões são ideais para o seu corpo. Mas a presença do indivíduo, de seu corpo e alma, vai muito além. Está presente em todos e cada um dos seus trabalhos; se tivéssemos que definir Plensa de uma só maneira, poderia ser isto: o escultor do humano. 33
O jardim tribunal, 1874-84. Todas imagens: Cortesia Tate Britain.
Glückauf?
A referência ao humano também aparece radicalmente em "Glückauf?", com o texto literal da Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pelas Nações Unidas, em 1948. Inspirada pela Revolução Francesa de 1789 (a modernidade cruza novamente nosso caminho), alude a uma grande "família humana". Ainda hoje, o texto é uma inspiração promissora e distante. Ele mostra a humanidade em sua aspiração mais fundamental: a defesa de sua dignidade e o respeito por todo o seu potencial. A Europa de hoje, uma Europa que está mergulhada em contradições, entre a ascensão do fascismo e a resistência de um grande setor da sua população (o mesmo setor indignado quando as pessoas que tentam atravessar o Mediterrâneo 34 DO MUNDO
podem morrer), é obrigada a exigir cumprimento dos direitos humanos em todo o mundo. Aqui ocupam um espaço, chamando-nos com o seu som, forçando o espectador a ler, compreender e tomar consciência da sua declaração.
Ferran Barenblit é diretor do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona desde 2015.
Jaume Plensa • Museu de Arte Contemporânea de Barcelona • 01/12/2018 a 22/4/2019
CONSTANTIN
BRANCUSI
Dois Macacos, 1562. Foto: © Staatliche Museen zu Berlin, Gemäldegalerie / Christoph Schmidt. Abaixo: A conversão de Saul, 1567. © KHM-Museumsverband.
O MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA YORK CELEBRA AS INOVAÇÕES DE CONSTANTIN BRANCUSI NA ESCULTURA E SUA ABORDAGEM SINGULAR DE UMA GAMA AMPLA DE MATERIAIS
POR PAULINA POBOCHA
Constantin Brancusi (1876-1957) exibiu pela primeira vez sua escultura em Nova York, no Armory Show de 1913, ao lado de obras de Marcel Duchamp, Henri Matisse, Pablo Picasso e outros artistas de vanguarda. Essa apresentação da arte moderna internacional foi recebida com fanfarra e as esculturas de Brancusi foram posteriormente destacadas pela revista "Vanity Fair" como "perturbadoras, tão perturbadoras que alteraram completamente a atitude de muitos novaiorquinos em relação a um ramo inteiro da arte". Nascido na Romênia rural, Brancusi chegou à arte por meio de uma imersão no artesanato. Em sua juventude, aprendeu técnicas de entalhamento, ganhando habilidade na lida com a madeira. Em 1904, mudou-se para Paris, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes e trabalhou brevemente como auxiliar de Auguste Rodin. Como Rodin e a maioria de seus colegas, fazia escultura modelando argila e fundindo-a em bronze, mas rapidamente abandonou essa técnica, optando por esculpir em pedra e madeira. Com um vocabulário de formas simplificadas, criou trabalhos visualmente simplistas, que evocam, em vez de reproduzirem, os temas nomeados em seus títulos, levando a forma ao limiar da abstração.
FLASHBACK
Acima: Fish, 1930. À direita: Maiastra, 1910-12 e Bird in Space, 1928.
Com calcário, travertino e outros mármores, Brancusi fazia obras que transmitiam suas referências através de meios mínimos: um ovoide com uma crista estilizada, por exemplo, poderia sinalizar uma cabeça. Enquanto a fundição em bronze permitia a produção de edições idênticas, Brancusi trabalhava cada escultura de forma única; às vezes alterando sutilmente o molde entre fundições; em outras, polindo os trabalhos resultantes para alcançar uma ampla gama de acabamentos. Em 1914, Brancusi acrescentou madeira, um material familiar para ele desde sua primeira formação em artesanato na Romênia. Usando tanto madeiras 38 CONSTANTIN BRANCUSI
A abordagem do pedestal é mais uma demonstração do caráter revolucionário da criação de Brancusi.
novas quanto recuperadas, ele procurou melhorar suas propriedades inerentes, deixando alguns trabalhos rudemente cortados e lixando finamente as superfícies de outros. Brancusi construiu o ambiente de seu ateliê na Travessa Ronsin, em Paris, com muito cuidado. Além de esculturas, preencheu esse espaço com objetos funcionais que ele mesmo fez, como assentos, lareiras, bancos e pedestais para suas esculturas, que ele esculpia em madeira, calcário e mármore. A abordagem do pedestal é mais uma demonstração do caráter revolucionário da criação de Brancusi. Compostos em grande parte de formas geométricas, desempenhavam dupla função, servindo simul-
taneamente como componentes das obras de arte e como suportes. Muitos foram criados para esculturas específicas, e alguns foram construídos a partir de esculturas existentes. Por exemplo, na base de "Maiastra", o artista incorporou a escultura "Double Caryatid", que representa duas figuras. Em outras ocasiões, Brancusi fez pedestais que podiam suportar uma variedade de esculturas em vez de uma obra em particular. A altura dos pedestais buscava apresentar suas esculturas de maneira que possibilitassem reconhecer seus temas. Assim, seu "Bird in Space" trabalha muito acima da cabeça, muitas vezes em bases tripartidas elevadas; seus retratos são tipicamente
À direita: Endless Column, 1918 e Young Bird, 1928.
posicionados ao nível dos olhos; e as cabeças de crianças e mulheres adormecidas tendem a viver no chão. A importância sem precedentes que Brancusi conferiu às suas bases transformou a relação da escultura com o espaço que ela habita e, por extensão, com o mundo em geral: se uma base é parte da arte, nada difere a arte de seu entorno. Embora Brancusi tenha feito centenas de esculturas em sua vida, ele limitou seu tema a pessoas e animais, com apenas algumas exceções. Preferia especialmente retratos de mulheres como visto em "Mlle Pogany" e "Blond Negress II", cabeças de crianças como em "The First Cry" ou "The Newborn" e pássaros, como "Maiastra" e "Bird in Space". Relacionamentos parecem emergir entre seus temas favoritos - mãe e filho, pássaro e ovo. A mais abstrata das esculturas de Brancusi é a "Endless Column", cuja forma evoluiu da versão de 1918, feita de carvalho para uma colossal variação de aço erguida em Tîrgu-Jiu, Romênia, em 1937. A importância da escultura está no uso de geometrias repetitivas - uma qualidade formal que compartilha tanto com arte popular romena e arte africana - e em sua sugestão de infinito através de uma forma finita. Além de esculturas, Brancusi fez desenhos, fotografias e filmes, os quais podem ser entendidos como extensões de seu trabalho em três dimensões. No papel, Brancusi estendeu os assuntos que ecoavam em sua escultura. Além de desenhar mulheres, retratou objetos reunidos em seu estúdio, entre eles obras de arte. Não produziu muitos desenhos, e os poucos que fez foram executados com qualquer material que estivesse à
40 FLASHBACK
Vista do estúdio do artista, 1918.
mão. Muitas das obras acabadas revelam uma indiferença alheia à sua cuidadosa prática escultórica. Por outro lado, sua relação com a fotografia foi sustentada e deliberada. Tirava muitas fotografias de suas esculturas, muitas vezes capturando como elas foram instaladas em seu estúdio. Embora algumas de suas fotografias sejam representações diretas, muitas obscurecem em vez de revelarem seus assuntos. Imagens abstratas e ocasionalmente fora do foco capturam o jogo de luz e sombra nas superfícies das obras do artista. Os experimentos menos conhecidos de Brancusi são revelados no cinema, um meio ao qual ele foi apresentado pelo artista surrealista e amigo Man Ray. Embora poucos dos filmes de Brancusi tenham sobrevivido, a maioria deles demonstra seu interesse no
movimento de objetos através do espaço e indicam o desejo de que trabalho seja experimentado por seu entorno. Confira em nosso site uma extensão desta matéria com detalhes sobre algumas das principais obras de
Paulina Pobocha é curadora associada do Departamento de Pintura e Escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York, desde 2008.
Constantini Brancusi: Esculturas • MoMA • Nova York • 22/7/2018 a 18/2/2019
ANDY WARHOL
DE A B para
E VICE-VERSA
Auto-retrato, 1964. Todas as Fotos: © The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. / Artists Rights Society (ARS) New York.
MEGA RETROSPECTIVA NO MUSEU WHITNEY COM MAIS DE 350 OBRAS - A PRIMEIRA ORGANIZADA NOS EUA DESDE 1989 - REVISITA A CARREIRA DE UM DOS ARTISTAS AMERICANOS MAIS INVENTIVOS E INFLUENTES DO SÉCULO 21
POR SAMUEL GRAÇAS "Eles não queriam meu produto. Ficavam dizendo 'queremos sua aura'. Nunca entendi o que queriam." Andy Warhol Esse trecho tirado do livro "The philosophy of Andy Warhol", escrito pelo próprio príncipe da Pop Art possui em seu cerne a forma com a qual Andy enxergava a arte que produzia, além de ser um bom exemplo do intricado jogo de palavras e intenções que o artista costumeiramente fazia quando falava publicamente. É evidente que Warhol entendia que as pessoas com as quais estava lidando ansiavam em obter um objeto impregnado com a singularidade artística quase etérea que que muitos creditavam às obras de arte. Entretanto, essa singularidade se baseia em uma segregação entre a arte dita aplicada e a arte "pura" de exposições e galerias. Tal conceito não encontrava eco na Pop Art, especialmente no trabalho de Andy Warhol, cujos temas e estética tinham como base a bem-sucedida carreira como ilustrador comercial que Andy desenvolveu na cidade de Nova York, nos anos 1950. O Pop de Andy Warhol não apenas se inspirava, mas também celebrava o "American way of life" ao fazer uso de ícones da cultura de massa como a Coca-Cola e a sopa Campbell. O artista tem como ponto de partida o vocabulário visual do americano médio, não obstante, termina por fornecer ao aparato da arte as bases para uma profunda reflexão a respeito do que efetivamente constitui uma obra. Nesse contexto, torna-se importante citar a recriação em 1964 por parte de Warhol das caixas de sabão Brillo como esculturas. Sendo elas idênticas às caixas disponíveis nos supermercados da época, a obra acabou sendo taxada como mercadoria ao ser enviada ao Canadá. Em seu livro "Andy Warhol", o filósofo e crítico de arte Arthur Danto afirma que: "Pode-se dizer que ele foi o motivo de uma profunda descontinuidade na história da arte ao eliminar da concepção usual artística a maior parte do que todo o mundo julgava pertencer à sua essência"
Green Coca-Cola Bottles, 1962
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DO INÍCIO DA CARREIRA ATÉ 1967 Andy Warhol nasceu em 6 de agosto de 1928, em Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia. Era filho de imigrantes da região que atualmente corresponde à Eslováquia. Andy se graduou em design e se mudou para Nova York no verão de 1949. Durante os anos 1950, Warhol desenvolveu uma premiada carreira como ilustrador comercial, tendo executado ilustrações para importantes revistas como "Vogue", "Harper's Bazar" e "New Yorker". Sua primeira exposição foi na Hugo Gallery, em 1952. Entretanto, o artista teria que esperar exatamente uma década para obter reconhecimento como artista visual, algo que aconteceu apenas no ano de 1962, quando a Ferus Gallery de Los Angeles abrigou sua mostra com as pinturas das latas de sopa Campbell. O período compreendido entre 1962 e 1968 foi crucial para a carreira de Andy Warhol. Primeiramente, pelo estabelecimento da "Factory", o badalado estúdio de trabalho do artista cujo nome fazia referência à produção em massa de produtos. Esses seis anos também foram marcados por uma intensa atividade 48 ANDY WARHOL
criativa e pela inovação, visto que Warhol começou a utilizar a serigrafia como técnica de reprodução. Parte considerável das primeiras pinturas nas quais Warhol utilizou esse recurso são representações de famosos como Elvis, Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor. No ano de 1965, Andy anunciou sua aposentadoria da pintura para se dedicar integralmente à produção de filmes. O cinema de Warhol foi quase todo experimental, era comum haver apenas um participante que era filmado de perto realizando uma tarefa simples e relativamente sem sentido. Um bom exemplo é "Sleep" (1963), um registro de cinco horas e vinte minutos de um homem dormindo. Com o tempo, suas produções foram se tornando mais complexas ao incorporar "script", locação e elenco. Aqui podemos citar "Chelsea girls" (1966), filme sobre a vida de várias garotas que moravam em um tradicional local de hospedagem de artistas e escritores.
Esses anos foram marcados por uma intensa atividade criativa e pela inovação. Na página anterior: Marilyn Diptych, 1962. Acima: Sleep, 1963. À esquerda: Chelsea Girls, 1966.
A família, 1988.
DE 1968 ATÉ O FINAL DA DÉCADA DE 1970 Em 1968, a escritora norte-americana Valerie Solanas atirou três vezes contra Warhol, que conseguiu sobreviver. Um ano após o drama causado por Solanas, Andy Warhol embarcou em uma nova empreitada: fundou a revista "Interview" voltada para celebridades. Já em 1972, a prática de estúdio do artista passou 50 CAPA
por uma renovação, Andy retomou o interesse por meios mais tradicionais como pintura, desenho, fotografia. Warhol fez centenas de retratos durante sua carreira, entretanto, essa prática foi uma marca especial de sua produção dos anos 1970. Andy retratou desde amigos próximos a figurões da sociedade como artistas, galeristas, políticos, estilistas, atletas, músicos e atores. Alguns de seus retratos notáveis da época foram:
Truman Capote (1979), Muhammad Ali (1977), Liza Minnelli (1974) e Leo Castelli (1975). No ano de 1975, Warhol publicou "The philosophy of Andy Warhol: From A to B and back again", onde fala sobre suas relações na Nova York dos anos 1960 e 1970, além de temas como amor, sexo, fama, trabalho e dinheiro. Por volta do fim da década de 1970, Andy ampliaria seu campo de trabalho para a TV ao comandar programas na televisão a cabo como "Andy Warhol's Fashion", "Andy Warhol's fifteen minutes" e "Andy Warhol's TV".
À esquerda: Truman Capote, 1979. Abaixo: Senhoras e Senhores (Wilhelmina Ross), 1975 e Mao, 1972.
O pescador, trĂptico (painel central) e (painel da direita), 2005. Š Copyright Paula Rego. Cortesia Marlborough Fine Art.
Flores, 1964.
Abaixo: Zênite, 1985 (Colaboração com Jean-Michel Basquiat) À direita: A última ceia, 1986.
DÉCADA DE 1980 As obras apresentadas por Andy Warhol durante sua última década de trabalho não foram bem recebidas pela crítica. Foi característica dessa fase a revisitação aos temas icônicos dos anos 1960. Como exemplo, é possível citar as embalagens comerciais, os autorretratos, Mona Lisa e Marylin Monroe. Durante os anos 1980, Warhol era uma grande influência para os jovens e proeminentes artistas de Nova York, tendo colaborado com alguns deles, notavelmente, Basquiat e Keith Haring. A série "Last supper", de 1986, fez uma releitura do clássico "A última ceia", de Da Vinci. Warhol utilizou elementos estéticos contemporâneos a ele para interferir em 54 ANDY WARHOL
Warhol era uma grande influência para os jovens e proeminentes artistas de Nova York.
uma das imagens mais conhecidas da cultura ocidental; entre outros recursos estão presentes novas e provocantes misturas de cores, logomarcas de empresas, preços e até mesmo motocicletas. Apenas um ano após a criação das pinturas de "The last supper", o príncipe da Pop Art veio a óbito em decorrência de uma cirurgia de cálculos biliares. Andy Warhol teve por volta de quarenta anos de carreira, contudo, boa parte de suas séries mundialmente famosas foram produzidas no curto período entre os anos 1962 e 1968. Sua carreira foi marcada pela experimentação com praticamente todas as mídias que sua época lhe proporcionava, de forma que seus trabalhos perpassam a pintura, a escultura, a fotografia, o cinema, a televisão, a literatura, a mídia impressa, a publicidade, o design e a música. É justamente esse escopo amplo e multimidiático que a mais recente retrospectiva do artista nos Estados Unidos pretende mostrar ao público.
Samuel Graças é bacharel em historia da arte e criador do canal "Arte na prática" do Youtube.
Andy Warhol: From A to B and Back Again • Whitney Museum • Nova York • 12/11/2018 a 31/3/2019
GUNGA GUERRA POR THIAGO FERNANDES Nascido em Moçambique e radicado no Rio de Janeiro, Gunga Guerra é a escolha da equipe curatorial da Dasartes para o Concurso Garimpo deste ano. Por meio de pinturas e instalações, Gunga trata de temas atuais como conflitos urbanos, manifestações e a crise de refugiados. O artista explora a realidade ao mesmo tempo em que flerta com o surrealismo. Suas criações lançam 56 GARIMPO
mão de metáforas, onde o animal toma o lugar do humano, e dessa maneira se propõe um novo olhar para imagens que são vistas exaustivamente na mídia de massa como confrontos entre policiais e manifestantes, representados nas pinturas "Briga de galo" e "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Nesses trabalhos, a dimensão alegórica é reforçada pelos títulos,
O artista explora a realidade ao mesmo tempo em que flerta com o surrealismo.
Ă€ esquerda: That's all folks !, 2015/16. Acima: Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, 2016 e Briga de Galo, 2016.
que conduzem a experiência imaginativa do espectador diante das intensas cenas construídas nas telas. O artista tensiona os limites entre animal e humano e coloca em xeque a noção de racionalidade. A composição dos quadros de Gunga evoca uma constelação de cenas de batalhas e execuções que atravessa toda a história da arte, sobretudo o século 19, como os famosos fuzilamentos pintados por Francisco Goya e Édouard Manet. Tais formas são reconfiguradas nas telas de conflitos contemporâneos de Gunga onde a linguagem fotográfica, mais especificamente o fotojornalismo, se coloca como referência. Diante de suas pinturas, somos colocados como testemunhas de um embate iminente. Os segundos que antecedem tal colisão são congelados pelo artista, que nos convida a imaginar a cena subsequente. A atmosfera onírica criada por Gunga assinala o espaço urbano como cenário de conflitos, em uma crítica aos dispositivos de poder e à parcela da sociedade que se mantém indiferente diante de cenas de violência e miséria. Essa questão se evidencia em "Travessia", que dá protagonismo a refugiados - estes que
À esquerda: A prisão de uma figura de Bacon, 2017. Acima: Travessia, 2015/16.
aparecem em primeiro plano, em escala reduzida, comparados aos transeuntes que aparecem ao fundo. As figuras maiores, em segundo plano, são retratadas como consumidores, carregando sacolas de compras, seguindo seu percurso sem prestar atenção ao redor. Seus rostos são ocultados pelo artista, o que lhes priva de individualidade. A escala com a qual os refugiados são retratados carrega dimensão simbólica, reforça seu lugar como "o outro" por meio do contraste com as demais figuras. A faixa de pedestres que os imigrantes cruzam, assim como o próprio ato de atravessar a rua, opera como alegorias
desse trânsito e de um não lugar. Além de uma mala, os refugiados carregam um rinoceronte branco, espécie que vem sendo dizimada em Moçambique, terra natal do artista, demonstrando que o trabalho de Gunga também é atravessado por sua história pessoal. Provocativo e sensível, Gunga Guerra desperta nosso olhar crítico acerca das imagens e situações que nos rodeiam.
Thiago Fernandes é Crítico e historiador da arte. Mestrando em Artes Visuais pela UFRJ.
RESENHAS exposições
Abaixo: Obra de Tyna Adebowale. À esquerda: Obra de Riet Wijnen.
Amsterdam Art Week Museus e Galerias • Amsterdã • Países Baixos • 22 a 25/11/2018 POR SYLVIA CAROLINNE
Diversas foram as aberturas ao longo da Amsterdam Art Week. Grandes mestres à venda na PAN Amsterdam, incríveis exposições nos museus, nomes conhecidos nas galerias e uma boa quantidade de eventos ao longo dos últimos dias de novembro. Tudo como manda o figurino de uma temporada como essa. Um dos pontos altos foi o evento Rijksakademie Open, o "open day" de uma das mais antigas residências de artistas, com mais de 30 anos de existência. Quarenta e cinco artistas abriram seus estúdios e apresentaram trabalhos, interagindo com o público e aproximando-o mais. O contato mata um pouco a curiosidade de conhecer por dentro, tornando-se esta grande ferramenta de aprendizado e troca para artistas de múltiplas nacionalidades. Na Rijksakademie, estudaram renomados artistas como Piet 60
Mondrian e Karel Appel, e em tempos de residência já recebeu nomes como Dora Longo Bahia, Raul Cordero e Maurício Limón de Leon, entre outros. A boa organização e a administração do espaço resulta em uma residência de excelência, com todo tipo de apoiadores, tanto no setor público como privado. Dentre os artistas que se apresentaram, certamente veremos alguns deles em feiras internacionais, em um futuro muito breve. A diversidade das experiências culturais e as trocas locais nos
permitem perceber diferentes abordagens aos principais temas em pauta, como sexualidade, consumismo, identidade, ou ainda, ver belos trabalhos seguindo os passos de grandes mestres abstratos. Entre os artistas que se exibiram, a nigeriana Tyna Adebowale apresentou seu "alter ego" usando a herança cultural da terra natal. Além dos desenhos, a artista expôs uma série de vídeos no estilo Nollywood para discutir temas como imperialismo, gênero e identidades periféricas. A obra de Che Onejoon, um documentário, traz-nos a história de Mônica, marcada pela separação e pela fragmentação de si. A beleza da fotografia e o primor da execução não nos deixam esquecer, nem por um momento, o drama relatado e a angústia do desfecho.
Finalmente, no trabalho de Riet Wijnen, podemos ver o desenvolvimento de diferentes teorias de arte por meio de conversações sobre o abstracionismo. Na série contínua de esculturas de madeira, a cor tem seu papel na tradução de contextos, temas e conceitos fundamentais ao código da obra. Enfim, observamos o abstracionismo pela apresentação de um sistema estrutural lógico composto por cores, trazendo certa leveza ao final da visita.
Sylvia Carolinne é artista visual, graduada em engenharia civil e moda e correspondente internacinal da Dasartes.
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Millôr: Obra gráfica Instituto Moreira Salles • São Paulo • 18/9/2018 a 27/1/2019 POR MICHELE PETRY
"Pois era cinza", a antiga capital do país, a favela, o dia, os anos de chumbo, a arte gráfica de Millôr Fernandes (1923-2012). Grafite sobre papel, desenhos que receberiam cor de lápis, giz, tinta guache, nanquim, recortes e colagens. Esboços sobre páginas de revista, impressos, que receberiam os seus desenhos e textos. Notas a lápis, quase sempre nas margens do papel, indicam o desejo de feitura, curadoria da própria obra: "igual", "flores em azul", "fora-a-fora", "A", "B", "C", "3,5 x 23", "quadro em tipografia", "pelo amor de deus, conservar as côres!", "45,6 cm", "sai fora!", "atenção paginação, quadro em azul, texto deitado" são alguns comentários do artista para a edição de “Pif-Paf”, coluna e revista que concebeu; partes do seu processo criativo, da relação estabelecida entre desenho e lugar de exposição, como também faziam os artistas gráficos do Rio de Janeiro no final do século 19 e começo do 20. Considerada uma arte menor no sentido rabelaisiano do termo, por que mobiliza o baixo, 62
material e corporal, a arte gráfica de humor encontrava nas revistas e jornais uma forma de acessar o público. A exposição de arte gráfica de Millôr no IMS, junto a outras exposições, como as de fotografias de Irving Penn e Maureen Bisilliat, com a curadoria compartilhada entre Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires, coloca a importância tanto do artista quanto desse tipo de arte que tem como potência o traço, o gesto da mão que pensa. Millôr por Millôr, Pif-Paf, Brasil e À mão livre são seções da exposição que deixam o artista à mostra, no divã, em autorretratos de si, em retratos do outro, de um país "descoberto", com suas feridas expostas. As várias assinaturas de Millôr, mais do que várias facetas do artista, indicam o retrabalho constante do ser, a busca de uma identidade ou a fuga dela. Assinava como Vão Gôgo. Mas as referências visuais que chamam a atenção são, principalmente, de Picasso: composições infantis, presença infortuna da lâmpada,
À esquerda: Exposição, 1961. Abaixo: Desenho com autorretrato, 2001. Fotos: Acervo Millôr Fernandes / Instituto Moreira Salles
contornos pesados, inversões de bichos e pessoas. Em 1981, Millôr fez a sua Guernica, "um minuto antes" e "um minuto depois", ele diz: "sem pressentirem os agressores, no céu azul"... Se a quantidade de obras expostas sinaliza, por um lado, o desafio de recorte sobre a sua vasta produção, composta por um acervo com mais de seis mil desenhos, por outro, suscita a experiência de capturar aquilo que é singular no conjunto da obra. Em contraponto à síntese esperada dos desenhos rápidos para publicações diárias ou hebdomadárias, há na exposição uma série de obras que, dispersa nas seções, dialoga entre si. A repetição de formas, incidindo em composições complexas, revela uma espécie de compulsão da escrita, grafia, arte gráfica do artista. Penas de aves em "Desenho para publicação em O
Pasquim" (1973) e "em O Cruzeiro" (1956), folhas nas copas de árvores em "A compensação dos sentidos é muito relativa" (1957) e "O esforço do autor e a indolência do personagem" (1955) ou carros, cabeças e tudo o que mais existe no engarrafamento da cidade, no emaranhado de pensamentos, em "O nascituro" (1977). Essas imagens se esvaziam e enchem os desenhos, linguagem do autor. Millôr, obra gráfica, expressão gráfica de humor, de humores, instiga o público a compreender o tempo presente, as mazelas e misérias humanas, por meio das cinzas, as linhas, que ficaram e sobrevivem.
Michele Bete Petry é historiadora, doutora em Educação pela UFSC e realiza pesquisas na área de artes visuais
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Ser essa terra: São Paulo cidade indígena Memorial da Resistência São Paulo • 24/11/2018 a 22/4/2019 POR MANOEL S. FRIQUES
A exposição "Ser essa terra: São Paulo cidade indígena" oferece um rico retrato das etnias que povoam contemporaneamente a Piratininga de Sampã. Sob a consultoria de Casé Angatu Xukuru Tupinambá, os curadores Marília Bonas e Daniel Kairoz compartilharam suas tarefas com lideranças indígenas, resultando em uma exposição pautada pelo diálogo e pela negociação. O melhor exemplo de tais negociações está na organização do espaço expositivo. A equipe dividiu a sala em três ambientes. Ao centro, observa-se um núcleo circunscrito por tapumes de madeira, sobre os quais se encontram retratos audiovisuais de seis líderes religiosos: pajé Virginia Guarani Mbya, Xeramõi Papa Guarani Mbya, Lidia Pankararu, Paulo Wassu Wassul Cocal, pajé Laguna Cariboca e pajé Guaíra Tupi Guarani. Compostos por sequências de quadros estáticos que recortam e revelam sutilezas dessas lideranças e de seus entornos, 64
esses retratos em vídeo criados por Isadora Brant instauram uma atmosfera fenomenológica à exposição, permitindo que o visitante se desvie de um tempo acelerado de fruição. A área externa a esse núcleo se divide em dois caminhos: de um lado, o caminho dos juruá (dos brancos), formado por uma constelação de frases, citações de documentos históricos e fotografias, que reconstitui, mesmo que não exaustivamente, o violento processo de silenciamento e invisibilização dos povos indígenas catalisado pela colonização. Aqui, o visitante não apenas está diante de rastros de genocídios e etnocídios perpetrados contra os habitantes originários. Ele também pode repensar alguns capítulos dessa narrativa, em especial,
o da migração, por meio de frases como "O sertanejo é antes de tudo um índio", "Todo bandeirante caça um parente no sertão" e "Nem tudo era italiano". Os exemplos indicam explicitamente o desejo da exposição em redistribuir as cartas do jogo histórico, aproximando figuras consideradas até então antagônicas. De outro lado, está a constelação indígena, composta por artefatos, imagens, citações, crenças, narrativas e vozes dos povos Pataxó, Guarani Mbya, Karibokas, Fulni-ô, Pankararé, Pankararu, Wassu-Cocal, Kaimbé, Kariri Xokó, Tupi-Guarani e Tupinambá. Além dos elementos da cultura material e imaterial das cosmovisões indígenas, ganham destaque duas figuras emblemáticas do circuito artístico paulistano: Surubim Feliciano Paixão, músico e artista visual integrante do Teat(r)o Oficina nos anos 1980; e Índio Badaróss, o Basquiat da Cracolândia, cujas pinturas circulam por exposições nacionais e internacionais desde 2014. Os objetos e documentos são dispostos em estruturas que remetem a duas soluções expositivas de Lina Bo Bardi para o MASP: a expografia autoportante em madeira criada por ocasião da exposição "Cem obras-primas de Portinari"; e os
cubos de concreto que servem originalmente de base para os cavaletes de vidro, mas que, nesse contexto, funcionam como suportes do "grid" em madeira. No encontro entre os três segmentos, está um altar religioso criado coletivamente pelas lideranças indígenas. As veredas convergem para a constatação da riqueza dos povos indígenas brasileiros, sendo essa uma iniciativa que reforça a vocação política da produção cultural contemporânea. As constelações de "Ser essa terra: São Paulo cidade indígena" se inserem em uma ampla constelação de manifestações artísticas que questiona os regimes culturais vigentes de visibilidade e de inteligibilidade. Por meio dessa exposição, São Paulo deixa de ser vista sob a égide da propriedade, para ser compreendida sob os signos da re-existência e da relação.
Manoel Silvestre Friques é professor de Engenharia de Produção e doutor em História pela PUC-Rio, participa de projetos culturais como dramaturgo e curador.
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Quilombo do Rosário Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea • Rio de Janeiro • 22 a 25/11/2018 POR CHANDRA SANTOS
O artista plástico sergipano Arthur Bispo do Rosário Paes, conhecido como Bispo do Rosário, trabalhou na Marinha e no Departamento de Tração de Bondes da cidade do Rio de Janeiro. Também foi boxeador, biscateiro e empregado doméstico. Em 1938, movido por alucinações, peregrinou por diversas ruas e igrejas, foi detido, fichado e conduzido ao Hospício Pedro II, localizado na praia Vermelha. Desse local foi encaminhado para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, carregando o diagnóstico de esquizofrênicoparanoico, e de lá nunca mais saiu. Foi durante a internação que ele passou a produzir arte por meio de objetos encontrados no lixo. Suas obras foram comparadas com a arte vanguardista 66
de Marcel Duchamp. E durante décadas ele produziu diversas obras, que estão hoje reunidas no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea e espalhadas em diversas coleções de arte particulares e públicas no Brasil e no exterior. Na exposição é apresentada pela primeira vez ao público a obra "África
de Bispo", que estava guardada para restauro no Museu Nacional de Belas Artes desde os anos 1990. Ela coloca em evidência a ancestralidade africana manifestada na produção artística de Bispo, reafirmando-o como uma personalidade negra da história da arte brasileira. Além disso, convida ao debate sobre a questão da arte produzidas por negros e da cultura afro-brasileira. Com curadoria de Roberto Conduru, "Quilombo do Rosário" apresenta obras de artistas contemporâneos em diálogo com as de Bispo. Rosana Paulino, Sonia Gomes, Mulheres de Pedra, Ton Bezerra, Atelier Gaia, Dona Tuca, Jayme Lauriano e Jorge dos Anjos estão entre os artistas que expõem. A exposição conta também com peças
dos internos da antiga Colônia Juliano Moreira, Stela do Patrocínio e Antônio Bragança. A Colônia foi um dos maiores hospícios do país durante o século 20 e hoje serve como instalação para o Museu. Antes do manicômio, no século 17, existia no local o Engenho Nossa Senhora dos Remédios, cujas ruínas resistem ao tempo até hoje.
Chandra Santos é bacharel em Comunicação Social e escreve para a Dasartes e faz assessoria de comunicação e imprensa para artistas e instituições culturais.
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LIVROS lançamentos Beatriz Milhazes: Colagens Org: Frédéric Paul Curador: Ivo Mesquita Editora Cobogó - 240 p. - R$ 125,00 O livro faz parte das comemorações de 10 anos da Editora Cobogó, tem patrocínio do Banco Itaú e apoio do Itaú Cultural. Durante uma residência na Bretanha, em 2003, Beatriz Milhazes ofereceu chocolates e doces para a equipe do centro de arte, pedindo que cada um lhe devolvesse os papéis das embalagens depois de os comerem. Em sua mala, a artista havia levado do Brasil toda uma seleção de embalagens. Foi desse modo que ela iniciou um novo projeto: o de colagens. Para o organizador do livro, o curador do departamento de arte contemporânea do Centro George Pompidou, Frédéric Paul, ao utilizar ingredientes descartáveis para suas colagens, a artista enfatiza a aceleração dos ciclos do gosto artístico.
Arte popular brasileira: olhares contemporâneos Org. e coordenação editorial: Vilma Eid e Germana Monte-Mór WMF Martins Fontes - 372 p. - R$ 149,90 Arte popular brasileira: olhares contemporâneos é um convite à reflexão sobre a chamada arte popular – termo controverso, no Brasil e no mundo, que nomeia obra de artistas autodidatas, aqueles que, apesar de nunca terem frequentado a academia, exercem um talento criativo inato. Este livro, parceria do Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro – IIPB e da Editora WMF Martins Fontes, apresenta as obras de artistas populares a partir de fotografas de coleções particulares, lado a lado com obras de artistas eruditos. E os textos sobre cada artista são de autoria de alguns dos mais respeitados críticos de arte e artistas brasileiros contemporâneos 68
COLUNA DO MEIO Fotos: Paulo Jabur
Quem e onde no meio da arte
Simone Cadinelli, Érika Nascimento, Tiago Sant'Ana, Ludimila Oliveira e Bia Sampaio
Stefan Portnoi, Tiago Sant'Ana, Simone Cadinelli e Eduardo Wanderley
Tiago Sant’Ana Simone Cadinelli Arte Rio de Janeiro Manoel Novello e Jozias Benedicto
Katia Wille e Hans Blankenburgh
Arthur Wanderley, Simone Cadinelli e Eduardo Wanderley
Fotos: Divulgação
Simone Cadinelli e Claudio Tobinaga
Manfredo de Souzanetto, Carlos Muniz, Ana Luiza Rego, Luiz Áquila e Patricia Costa
Miriam Pech, Xico Chaves, Carlos Muniz, Eduardo Mariz e Adriano Mangiavacchi
Carlos Muniz Galeria Patricia Costa Rio de Janeiro Mercedez Masque e Patricia Costa
João Gaspar, Carlos Muniz e Samira Assuf
Izabela Freitas e Eduardo Schuster
Luiz Áquila, Ana Luiza Rego e Patricia Costa
Fotos: Paulo Jabur
Almandrade, Luciana Caravello e Zanini de Zanine
Antonio Manuel e Bia Caillaux
Almandrade Zanini de Zanine Luciana Caravello Rio de Janeiro Renata Aragão e Ronaldo Simões
Bitty Pottier e Vanda Klabin
Ronaldo Simões, Marcela Bartolomeo, Zanini de Zanine e Cristina Alho
Igor Vidor e Luciana Caravello
Hugo França Bolsa de Arte São Paulo Artur Lescher
Guilherme Isnard e José-Spaniol
Hugo França, Marga Pasquali e Egon-Kroeff
Carol Piccin, Max e Maria Petrucci
Fotos: Denise Andrade
Adriana Rede, Ana-Paula Rodrigues e Mariana Lorca
Luciana Bernardina, Hugo França, Myra Arnaud Babenco e Pedro Sedó
Lançada em 2008, a Dasartes é a primeira revista de artes visuais do Brasil desde os anos 1990. Em 2015, passou a ser digital, disponível mensalmente em seu aplicativo para tablets e celulares e no site dasartes.com.br, o portal de artes visuais mais visitado do Brasil. Para ficar por dentro do mundo da arte, siga a Dasartes.
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