EMPODERARVoce v
discutindo questões de gênero
“Se não fosse o feminismo, eu não teria sobrevivido” entrevista exclusiva com a Vereadora de João Pessoa, Sandra Marrocos.
EDIÇÃO #4
Edit Ori al
O ano está quase acabando e finalmente a quarta edição da revista Empoderar Você saiu. Óbvio que eu queria que rolasse mais edições esse ano, mas nem tudo é como planejamos, ne? 2019 não tem sido um ano fácil. Muitas mortes, mulheres sendo silenciadas, um governo que não pensa no coletivo e muita violência contra o meio ambiente. Porém não dá para desistir. Que cada obstáculo que a gente enfrente nos torne ainda mais fortes e cheias de garra para lutar. Já falamos que estamos no Spotify, né? Essa edição tem mais uma playlist marotinha de mulheres maravilhosas, com letras fortes para você ouvir. Então já aproveita pra seguir e ouvir todas as músicas. Também contamos com uma entrevista top top top com a Vereadora de João Pessoa, Sandra Marrocos, que nos recebeu tão bem, e nos deu uma aula de conhecimento e sabedoria. Além da nossa editoria “Você sabe?” que nos acompanha em todas as edições e um texto falando um pouco da trajetória de Maria da Penha. Obrigada por acompanhar nosso trabalho, sua presença aqui é muito importante. Nossa intenção é gerar conhecimento e discussões a respeito da pauta das mulheres, e que 2020 seja um ano melhor, cheio de conquistas importantes. Fique aqui não só esse ano, mas no próximo também <3
SUMÁRIO Quem somos?
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DÁ O PLAY NA MULHERADA
RAQUEL DUARTE
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VOCÊ CONHECE MARIA DA PENHA?
- Jornalista; - 22 anos; - Canceriana; - Paraibana arretada;
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ENTREVISTA: SANDRA MARROCOS
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VOCÊ SABE O QUE É GASLIGHTING?
- Viciada em Grey’s Anatomy; - Muito dançarina de funk; - Feminista; - Ovolactovegetariana; - Tentando finalizar todos os livros de Dan Brown; - Fã da DC e da Marvel.
LUCAS CAMPOS - Jornalista; - Designer Gráfico; - 23 anos; - Geminiano; - LGBT e com muito orgulho. - Vegetariano; - Fã alucinado de cultura pop; - Treinador pokémon; - Nas horas vagas desenho, escrevo e jogo; - Fã na empresa Empoderar Você.
Expediente IDEALIZADORAS Nathália Cruz Raquel Duarte
EDITOR GRÁFICO Lucas Campos
DÁ O PLAY NA MULHERADA De todas as épocas e ritmos, resistindo através da música 01
Lalá, Karol Conká
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Pagu, Maria Rita e Zélia Duncan
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Maria da Vila Matilde, Elza Soares
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Sisters Are Doin’ It for Themselves, Eurythmics
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Respeita, Ana Canãs
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Mulher, Ana Canãs
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Survivor, Clarice Facão
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Mother’s Daughter, Miley Cyrus
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Respeita as Mina, Kell Smith
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Preta da Quebrada, Flora Matos
“DÁ O PLAY NA MULHERADA” ENCONTRA-SE DISPONÍVEL NO SPOTIFY. NÃO DEIXE DE OUVIR!
Foto: Jeremy Bishop
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Você conhece Maria da Penha? Texto: Raquel Duarte Maria da Penha Maia Fernandes, natural de Fortaleza – CE, nasceu no dia 1 de fevereiro de 1945. Se formou na Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal do Ceará, tendo concluído em 1977 o mestrado em Parasitologia em Análises Clínicas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Vítima de violência doméstica, e ficado entre a vida e a morte, Maria da Penha, transformou sua história em superação e luta para outras mulheres. Autora do livro “Sobrevivi... posso contar”, de 1994, também é fundadora do Instituto Maria da Penha, criado em 2009, em funcionamento até os dias de hoje. Maria da Penha fala sobre o que passou, dá palestras, e luta diretamente para que as impunidades contra as mulheres acabem. Não é à toa que carrega uma lei com o seu nome. Foi no ano de 1983, que Maria da Penha foi vítima de feminicídio pelo seu então marido, Marco Antonio Heredia Viveros. Para quem não conhece a história, Marco Antonio 05
Foto: Arquivo Pessoal/Internet
zado, e seu ex-marido foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão. Mais uma vez a sentença não foi cumprida. Imagine uma mulher, que passou anos de humilhações, agressões e risco de morte, ver seu agressor saindo impune mais uma vez. Em 1998, o caso ganhou dimensão internacional, mas mesmo assim o Estado brasileiro permaneceu omisso. Quantos traumas uma mulher precisa viver para se sentir protegida? Será que os advogados, os juízes, as promotorias, o Estado, o Governo e a polícia estão preparados para defender uma mulher? A história de Maria da Penha, foi só uma entre milhares de outras que acontecem todos os dias. Algumas denunciam, conseguem se livrar, mas
mostrou sua verdadeira face. Eles se conheceram na Faculdade, enquanto Maria da Penha concluía o seu Mestrado, e ele fazia pós-graduação em Economia. Se aproximaram, começaram a namorar, casaram e logo em seguida tiveram a primeira filha. Tudo seguia perfeitamente bem. Marco era carinhoso, amável, gentil, e agradava a todos. Foi só após a mudança da família, de São Paulo para Fortaleza, que tudo mudou. Um relacionamento abusivo não começa na parte ruim. Há sempre um homem disfarçado de bom, carinhoso, pensando sempre no melhor para sua companheira. E só após intimidade e tempo, que de fato as máscaras começam a cair, por isso, observe os sinais. O primeiro julgamento de Marco Antonio aconteceu após 8 anos do crime. Mesmo sendo sentenciado a 15 anos de prisão, saiu do fórum em liberdade. Em 1996, um segundo julgamento foi reali-
muitas ainda vivem com o silêncio e falta de amparo. Em 7 de agosto de 2006, o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei N. 11.340. A lei Maria da Penha. Tudo isso só se deu pela luta insistente de Maria da Penha, e de outros grupos de mulheres que se juntaram a essa história e puderam mostrar a violência doméstica como uma questão de gênero, ou seja, as mulheres são violentadas pelo único fato de serem mulheres. Por isso não só a lei, como o feminismo no contexto geral é muito importante para a libertação de uma sociedade que ainda vive a margem da falta de informação e diariamente silenciada pelo dominador.
Foto: Instituto Maria da Penha
deu um tiro em Maria da Penha enquanto ela dormia, como consequência, ficou paraplégica, além de desenvolver vários traumas psicológicos. Marco Antônio mentiu para a polícia, e declarou que havia ocorrido uma tentativa de assalto dentro da residência deles. Depois de quatro meses no hospital, Maria da Penha retornou para casa, e foi mantida em cárcere privado por 15 dias, sofrendo uma tentativa de eletrocussão no banho. Foi através do apoio de familiares e amigos próximos, que Maria da Penha conseguiu apoio jurídico e assim foi possível a sua saída de casa, sem que essa atitude fosse considerada abandono de lar, não havendo riscos de perder a guarda das filhas. Mas não pense que Marco Antonio sempre foi um cara agressivo e ignorante e que de cara já
PARA CONHECER MAIS SABRE OS PROJETOS DE MARIA DA PENHA, ACESSE: HTTP://WWW.INSTITUTOMARIADAPENHA.
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MATÉRIA DE CAPA
Sandra Marrocos Formada em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), veio do Alto Sertão da Paraíba, da cidade de Curral Velho, no Vale do Piancó para construir um futuro em João Pessoa. Mãe de dois meninos e uma menina, Sandra luta, através da política, como Vereadora, para trazer ainda mais espaço e libertação para as mulheres. Texto: Raquel Duarte
Foto: Equipe Empoderar Você
Foto: Reprodução/Instagram
Filha mais nova de Jandira Marrocos e Zé Lacerda, logo cedo percebeu como o machismo se estruturava dentro das famílias, e como as lutas coletivas eram importantes para se ter um mundo com mais oportunidades para as pessoas. Desde 2008 na política, Sandra busca, através da sua voz e das oportunidades que lhe foram dadas, dar ainda mais espaço para as pautas das mulheres e demais minorias, que juntas, são a maioria no nosso país. A Revista Empoderar Você teve o prazer de conversar um pouquinho com ela sobre sua trajetória como mulher, mãe e política e você confere as perguntas e repostas abaixo. EV: Em que momento você se reconheceu como uma mulher feminista?
SM: O feminismo é uma escolha, uma descoberta, né? Porque mesmo as mulheres que têm atitudes feministas, elas têm que se sentir feministas, né? Eu sempre tive atitudes feministas, porque desde sempre questionava as relações,
“sou feminista da minha casa ao meu fazer político” morando no sertão a coisa é muito mais forte do patriarcado, do machismo, e sempre fui me questionando, mas a minha descoberta, enquanto feminista, se dá em uma transição que eu chego perto do movimento de mulheres e feministas. Eu estava terminando o curso de serviço social na Universidade e já dialogava com o feminismo há muito tempo, mas aí eu me descubro feminista nesse momento, no momento que passo a atuar no centro da mulher, já havia várias conquistas, mas foi aí que eu disse eu sou feminista. EV: Como o feminismo te ajudou como mulher? SM: Se não fosse o feminismo eu não teria sobrevivido, lógico que o empoderamento e o fortalecimento das mulheres sempre foi muito
forte, mas essa descoberta do feminismo, de me sentir feminista, eu me casei bem novinha, eu tinha 19 anos e logo em seguida tive Jana, chegar junto ao feminismo mesmo, eu estava saindo de um relacionamento, aliás, foi o feminismo que me fez ter a coragem de romper com aquele ciclo. Desde então, o movimento feminista pra mim é uma atitude de vida. Eu decidi que ser feminista não é só defender e construir politicas públicas de empoderamento e fortalecimento para mulheres das diversas áreas. Como você está falando de mim, o feminismo para mim é sobrevivência. EV: Há quanto tempo você está na política? SM: Política de uma forma geral, desde bem novinha, né? Desde o 08
Foto: Reprodução/Instagram
minha história, o que me levou a ser vereadora foi a construção coletiva, Sandra não decidiu ser vereadora, a vida me levou. EV: Como você ver a política hoje em relação a pauta das mulheres? SM: Eu acho que avançou muito, a gente teve o mistério das mulheres, a delegacia da mulher, mas para mim, esse momento é um dos momentos mais desafiante, da pauta feminista e da pauta das mulheres, porque a todo momento algo que você lutou, construiu, concretizou tem tentado te tirar, sabe? Esse momento atual ele é um momento de grande dificuldade para pautas progressistas, para as minorias, para a mulher, apesar de ser a grande maioria, toda relação patriarcal, machista e cultural, termina colocando a gente nesse papel de minoria. O terreno atual não está fértil para a democracia, o estado democrático de direito nesse momento está em xeque, ne? Sendo ameaçado fortemente. No caso, a cidadania das mulheres em termos de políticas públicas ela se dá nesse viés do fortalecimento da democracia, a gente começa a ter que reafirmar a delegacia, o centro de referência, a Lei Maria da Penha, além da gente reafirmar todas as políticas públicas que a gente já avançou, a gente precisa lutar para garantir o que se tem e ir além, então assim, é um momento desafiante mas é um momento de reafirmação, quando você ver, por exemplo, uma mulher que eu tenho sororidade e até piedade, como Damares, assumir um Ministério das mulheres, dentro daquele viés que é colocado, ou seja, é um momento desafiante para nós mulheres. EV: A gente sabe que a política ainda é um meio bastante masculinizado, ainda se tem muito essa ideia de que homem tem mais voz e poder, diante disso, você já sofreu preconceito dentro da câmara municipal por ser mulher?
SM: Olha só, todos os dias, por mais sutil que seja, se alguém escutar isso vai dizer ‘como Sandra, uma mulher empoderada passa por isso?’ Eu sou empoderada, eu me fortaleci, e desejo que todas mulheres cheguem nesse mesmo patamar de empoderamento. Vou te contar uma, que você percebe que acontece
por ser mulher, mas teve um dia que foi terrível. Eu fiz parte de uma comissão que revisou o regimento interno, de verdade, Raquel, quando diz assim ‘todos’, não me sinto contemplada, é como se eu não estivesse no local, e nós votamos e aprovamos que toda linguagem das peças da câmara teria a linguagem gênero, chamar vereador de vereador e vereadora de vereadora. E aí foi horrível, porque em uma outra reunião, vereadores que não estavam na votação começaram a questionar, fiquei super chateada, sai da comissão, sabe? Depois fiz algo radical, mas faria de novo, inclusive a imprensa tentou me desqualificar por isso, o que foi que aconteceu? Se incomodaram tanto, criaram uma confusão tão grande que eu comecei a chamá-los de vereadoras. Vereadora Dr. Luiz Flávio, Vereadora Bruno Farias, Vereadora Tibério, e você não tem ideia de como isso foi forte, ali, naquela casa legislativa foi o pico do preconceito, mas foi ótimo. EV: Você tem uma voz muito ativa, e apoia pautas que incomoda outras pessoas, você já sofreu ameaças por isso? Seja de pessoas da própria política ou de fora. SM: Eu nem otimizo essas coisas, sabe? Primeiro, quando você assume uma pauta, você tem que estar pronta para as consequências, e todos os dias eu sou fortemente xingada.
A Lei Marielle Franco (13.566/2018), é de autoria da vereadora Sandra Marrocos (PSB), e visa levar ensinamento básico sobre a Lei Maria da Penha no meio escolar, impulsionando a reflexão crítica entre estudantes, professores e professoras, técnicos administrativos e famílias, sobre o combate à violência contra a mulher. Também aborda sobre a necessidade de registro nos órgãos competentes das denúncias de casos de agressão, bem como a adoção de medidas protetivas. 09
Teve uma pauta, não lembro qual exatamente, mas eu fazia a defesa e Luiz Couto era Deputado Federal e fazia exatamente a mesma defesa, a gente usava inclusive palavras muito parecidas, ate minha filha de 28 anos ficou indignada, quando você vai vendo as postagens (nas redes sociais), em nenhum momento Luiz Couto é desqualificado por sua condição de gênero. Teve algo horrível que foi dito, a respeito da defesa dos adolescentes em situação de pobreza, eu estive a frente da política de socioeducação, e me disseram assim “leve pra casa, era bom que sua filha fosse estuprada, era bom que lhe pegassem e lhe estuprasse”, foi horrível. Quando tentam me violentar, me agredir e me ameaçar, a violência sexual vem muito presente nos comentários. Teve um dia que foi bem desafiante, que eu fiquei bem assustada, mas deu tudo certo. Estava fazendo uma fala, acho que era contra a história do título de Bolsonaro e de repente a gente escuta um tiro, não era pra mim, aí eu desci, ou seja, mataram um cara em frente a câmara. Olha só que coisa absurda, nesse mesmo dia, eu saio de lá e a gente vai para outro lugar fazer uma pauta, uma reunião de equipe que não era em casa, então me ligam “Sandra, estão dando tiro em frente a sua casa”, mas também não era pra mim. Foi um momento que me assustou bastante, porque foi muita coincidência. Então, assim, se você me perguntar, eu sofro sim, dizem sempre “vou lhe pegar”, a maioria é nas redes sociais e com contas fakes.
“se não fosse o feminismo, eu
EV: Você acha que o Estado está preparado para lidar com a pauta das mulheres?
mulher aqui tem um monte, tudo bem, então imagina como isso é absurdo. EV: Tem vários projetos de Lei seus que foram aprovados e sancionados, e recentemente teve o seu projeto mamãe coruja. Queria que você falasse o que significa esse projeto. SM: Olha só, eu fiz a escolha da maternidade e não seria feliz como eu sou se não fosse mãe. Esse meu estado não seria tão forte se eu não fosse mãe. A maternidade pra mim é muito forte, é muito presente na minha vida. Partindo do individual para o coletivo, eu não optei por ser mãe solteira, nunca, eu nunca engravidei solteira, mas eu fiquei só todas as vezes que tive filhos e filha. De Jana e de Flávio eu fiquei só, e de Gabriel eu também fiquei só. Os cuidados com Gabriel são mais tranquilos, porque tem Jana, tem Flávio, já tem uma estrutura financeira melhor, que na época de Jana e Flavio, não tinha. Quantas vezes eu sai, passei o dia inteiro trabalhando, depois ia para a UFPB e voltava para a casa só depois da aula. O tempo inteiro eu ficava angustiada porque eu não tinha condições de pagar uma empregada. A vida me deu uma sorte, eu tive Cida, que está trabalhando conosco há 16 anos, mas antes não tinha, ne? O projeto mamãe coruja é um projeto completo, ele é direcionado a crianças de 6 meses a 5 anos e 11 meses, que é justamente pra primeira infância, fortalece se o pai ou a mãe trabalham ou estudam à noite, elas vão deixar seus filhos e filhas em um espaço com segurança. Deixando claro que é uma politica da família, é uma política que protege a criança, que guarda ela com segurança, para que os pais e as mães tenham condições de terminar um curso, de trabalhar a noite, e falando de mim, ne? Quantas mães solteiras não tem por aí? É um projeto direcionado pra família, lógico que as mulheres absorvem muito fortemente. Se a criança já estiver matriculada na pré infância, porque a partir dos 4 anos, começa dentro da lei de diretriz de base a questão da alfabetização, do processo de ensino da criança, então o pai e a mãe que for usar a creche noturna, tem Foto: Reprodução/Instagram
SM: Em termos de política pública é aquilo que eu já te contei, a gente reafirma direto, se você perguntar “Sandra, no caso de enfrentamento a violência contra a mulher, você tem uma cadeia de políticas públicas?” Sim. Você tem as delegacias especializadas, você tem a casa abrigo, você tem o centro de referência, você tem a casa de acolhida, você tem, no caso de João Pessoa e da Paraíba, a Secretaria de Mulheres, além de tudo, ela é simbólica porque ela é cultural, todos os dias a gente desconstrói algo pra construir algo novo e agora tá um momento de ódio, as pessoas estão colocando pra fora o que tem de pior, e assim, não é pequeno quando um presidente da República ataca duas minorias, que são maiorias, mas ele ataca dois segmentos. Ele diz que o Brasil não pode ser conhecido como o país de gays, mas que se quiser vir comer
não teria sobrevivido”
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“O terreno atual não está fértil para a democracia, o estado democrático de direito está em xeque.” que apresentar a matricula da criança ou na parte da manhã ou na parte da noite, a criança não pode passar mais de 10 horas dentro do ambiente escolar, porque a convivência familiar também é muito importante, ou seja, pra mim é uma grande vitória, né?
esse mandato, esse perfil, a minha voz, a simbologia que esse mandato representa, na garantia e na quebra da hipocrisia. Foto: Reprodução/Instagram
EV: Você pretende criar outros projetos de lei? Já tem algum em andamento? SM: Se você pegar os projetos de nossa autoria você vai ver que tem todas as linhas, a Lei Marielle Franco, que é o enfrentamento a violência doméstica, você tem a Lei das músicas ofensivas, que nenhuma banda, que em sua letra ou musica ou coreografia desqualifique as mulheres, ou incite a violência, seja pago com pelo Município de João Pessoa. Eu não estou falando de mim, pode tocar do paredão, ao mpb, só não pode fazer isso. Então tem uma que está tramitando na câmara hoje, que eu espero que em breve seja aprovada, que é a Lei de combate ao assédio sexual dentro dos transportes coletivos. Essa Lei vai dialogar com a musicas ofensivas, e é mais uma ferramenta de enfretamento a violência doméstica, a violência sexual. A gente tem outro projeto que é a feira itinerante Zabé da Loca, e então a gente traz o nome Zabé da Loca para eternizar essa mulher na cultura e na nossa terra, e o que diz a feira itinerante? Artesãs vão se inscrever, vai ter um cadastro na Prefeitura e a cada semana a Prefeitura montará uma feira itinerante nas praças, em vários bairros da Cidade, cada vezem um local diferente, esse projeto ele cria a sustentabilidade, geração de renda para as mulheres, e também terão apresentações de artistas locais, trazendo mais cultura para a Cidade, e diz ainda que todo evento que for montado em Joao Pessoa a feira Zabé da Loca estará lá. Todas as ações do nosso mandato perpassam pelo feminismo e pelo empoderamento das mulheres, no mais, são essas que estão tramitando por lá. EV: O que você busca usar através da sua voz, da luta e do espaço que hoje você ocupa? SM: Eu busco a coerência, eu sou feminista da minha casa ao meu fazer político e desde que eu entrei na política, os votos que eu tive e que eu terei são consequência da minha história, ela diz minha história e não é uma história só, é uma história muito coletiva, e eu tenho clareza neste momento histórico, a importância do mandato com o perfil que eu represento. Eu acho que a minha fala, o mandato que eu represento, é muito importante. A gente não pode sair da câmara, 11
O Projeto de Lei “Mamãe coruja”, de autoria da vereadora Sandra Marrocos foi aprovado no mês de setembro, por unanimidade, pelo plenário da Câmara Municipal de João Pessoa. O projeto determina um sistema de acolhimento das crianças em creches noturnas para aquelas famílias, pais e mães, que têm atividades profissionais ou de estudos no turno da noite, visando garantir segurança, tranquilidade e bem-estar.
Cena do filme GAS LIGHT (1944)
VOCÊ SABE O QUE É
GASLIGHTING? Texto: Raquel Duarte
Em edições passadas – 1ª e 2ª – falamos sobre termos como manterrupting e mansplaining, e agora trazemos mais uma prática que está presente na maioria dos relacionamentos abusivos. Sabe quando o cara fala que você está imaginando coisas, ou que está louca, ou te culpa pela briga? Tudo isso é considerado gaslighting. Trata-se de um tipo de manipulação psicológica onde o homem busca ter total controle sobre a mulher, a ponto de gerar dúvidas sobre si própria, medos e inseguranças. Normalmente, essa situação ocorre em discussões, onde o parceiro omite informações, distorce a fala e gera culpa na mulher por toda confusão. Falas como “Toda mulher é louca”, “toda mulher é exagerada”, “Você está vendo coisas onde não tem”, faz parte do discurso de uma pessoa que tenta manipular toda a história para se beneficiar. O gaslighting também pode ocorrer no meio familiar, profissional ou na amizade, e chega de forma sutil, caminhando até construir uma relação de dominante e dominador. A pessoa inventa, leva a história para outro lado e a vítima começa a se sentir impotente e pensa que de fato está criando visões erradas na cabeça. Você já passou por isso? Nem sempre é fácil perceber esse jogo, principalmente por ser uma
manipulação psicológica que vai acontecendo dia após dia, até a mulher perder total credibilidade sobre suas ações. E assim, a vítima vai acreditando cada vez mais que a culpa é dela, e isso vai gerando traumas até além do relacionamento. Medo de estar com outras pessoas, medo de discutir, medo de estar sempre errada. Adaptado de uma peça de teatro (1938), o filme “Gas Light” (À Meia Luz), de 1944, estrelado por Ingrid Bergman e Charles Boyer, foi o responsável pelo termo gaslighting. No longa, o marido apaga e acende as luzes de casa, tentando fazer a mulher e as outras pessoas próximas, acreditarem que ela é louca, manipulando pequenas situações do seu dia a dia. Tudo isso porque ele descobre que ficará com todo o dinheiro da mulher, se ela for diagnosticada e internada com doença mental. Entre todas as práticas de abuso, essa é uma das que menos se percebe com facilidade, por envolver a manipulação e a dependência. Em uma discussão, se você ouve frases como essas que foram citadas, ou outras do tipo, você pode estar sofrendo gaslighting. Sair de um relacionamento abusivo não é fácil. Nem todo mundo consegue perceber que está em um. Se atente aos sinais e saiba que a saúde mental vale mais do que qualquer relacionamento “meia boca”.
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