Revista Empoderar Você: #7

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VOCÊ SABE O QUE É

VIOLÊNCIA ONLINE?

MEU CORPO É

MOVIMENTO!

VOCÊ É SUA E DE MAIS

NINGUÉM!

QUANTAS

MULHERES ESCRITORAS VOCÊ CONHECE?

VOCÊ ESTÁ SEGUINDO OS

INFLUENCIADORES CERTOS?

PLAYLIST

EMPODERAR VOCÊ #7 Fot

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EDIT ORI AL

Finalmente a nossa sétima edição da Empoderar Você está no ar, e eu não poderia estar mais ansiosa para dividir ela com vocês! Nesta edição entrevistamos a escritora Paraibana Débora Gil Pantaleão, que falou um pouco da sua trajetória na escrita e na divulgação dos seus livros, assim como na criação da Editora Escaleras. Também temos colaborações de Michelly Santos - que já é conhecida por aqui - e de Gabs Ferreira, que já chegou chegando, escrevendo um texto incrível, bem pessoal, mas super necessário. Também vamos conhecer a criadora de conteúdo Carol Figueiredo, que é lá do Interior de Pernambuco, mas está construindo sua história aqui em João Pessoa, pertinho da gente. E, por fim, mas não menos importante, trocamos uma ideia muito importante com a psicóloga Letícia de Mélo Sousa, que nos explicou um pouco sobre a violência virtual, um crime que pouco é falado, mas que acontece mais do que imaginamos. Nossa, tá massa ou num tá? Além de uma playlist top, né? Espero que curta e obrigada por estar aqui mais uma vez!


SUMÁRIO 06

PLAYLIST EMPODERAR VOCÊ #7

10

SERÁ QUE VOCÊ ESTÁ SEGUINDO OS INFLUENCIADORES CERTOS?

07

13 20 22

VOCÊ É SUA E DE MAIS NINGUÉM

QUANTAS MULHERES ESCRITORAS VOCÊ CONHECE? MEU CORPO É MOVIMENTO

VOCÊ SABE O QUE É VIOLÊNCIA ONLINE?


EXPEDIENTE

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RAQUEL DUARTE

Jornalista; 23 anos; Canceriana; Paraibana arretada; LGBTQIA+; Muito dançarina de funk; Feminista; Ovolactovegetariana; Tentando finalizar todos os livros de Dan Brown; Fã da DC e da Marvel; Doida por litrão barato.

GABS FERRERA

25 anos; Pessoense; Criadora de Conteúdo Estudante de Administração e Jornalismo; Viciada em games/animes/doramas; Ariana; Amo uma cerveja gelada.

MICHELLY SANTOS

Estudante de jornalismo; 23 anos; Geminiana; Pernambucana de corpo e alma; Amante da fotografia e das sensações que ela proporciona; Bolo de rolo e frevo me representa mais do que carnaval e futebol.

LUCAS CAMPOS

Jornalista; Designer Gráfico; 24 anos; Geminiano; LGBTQIA+ and Proud; Sonhando acordado com um mundo justo e igualitário; Constantemente fã de cultura pop.

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UM CORPO NO MUNDO

CANTO DA REVOLUÇÃO

MULHERES

DANDARA

NINA OLIVEIRA

RESPEITEM MEUS CABELOS, BRANCOS

FALSA ABOLIÇÃO

LINDA E PRETA

A CARNE

NEGA BRABA

LUEDJI LUNA

NARA COUTO

DORALYCE

XÊNIA FRANÇA

ELZA SOARES

DORALYCE

PRETA RARA

LELLÊZINHA

ESTA PLAYLIST ENCONTRA-SE DISPONÍVEL NO SPOTIFY! CLIQUE AQUI PAR ACESSAR E SE EMPODERAR!

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COLUNA

GABS FERRERA

VOCÊ É SUA E DE MAIS NINGUÉM 7


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Antes de qualquer coisa, preciso te lembrar: fica em casa!

Centenas de profissionais das áreas de saúde e serviços essenciais estão se arriscando diariamente, para que nós ainda continuemos saudáveis, dentro do possível.

Eu lembro da minha expectativa de vida

aos 18 anos: destemida e faminta por independência. Tudo para mim, naquela época, era sair de casa. Afinal quem não passa por essa transi-

ção? Eu nunca gostei de depender de ninguém,

nem mesmo da minha própria família. Mas, desde pequena fui condicionada a ser uma mu-

lher dependente e ao mesmo tempo dar conta de tudo: eu precisava de alguém - mais especificamente de um homem – que me prote-

gesse e cuidasse de mim, e eu deveria garantir que ele vivesse em um lar perfeito, para que

assim fosse valorizada, visto que somente isso

Como consequência do meu péssimo compor-

tamento, fui maltratada e posta de lado. Fui castigada com desdém e desprezo. Me culpei e

chorei copiosamente durante o relacionamento muitas noites. Obviamente essa relação não estava saudável para ninguém e o rompimento foi inevitável.

Me vi solteira e infeliz aos 20 anos, ida-

de onde teoricamente eu deveria estar noiva, comprando uma casa financiada e sonhando com uma vida à dois. Eu não compreendia a ra-

zão do meu sofrimento, pois segui à risca todas as orientações exigidas pela sociedade: eu me

silenciei várias vezes, não usei roupas curtas, aceitei agressões verbais e até físicas, fiz coisas

que não queria ter feito e ainda assim fui deixada, descartada, abandonada.

A culpa então foi minha, não foi? Eu

me colocaria em um relacionamento duradou-

aprendi que o comportamento era correto,

acredita que uma pessoa nas minhas condi-

mulher, afinal, fui treinada para aparar qual-

ro. Agora eu te faço a seguinte pergunta: você

ções, seria independente e livre? Como pensar em mim, se eu estava sendo educada a fazer justamente o oposto? O resultado disso foi o início de uma fase adulta frustrante.

Eu me tornei uma pessoa dependente,

ciumenta, controladora e possesiva. Eu fui sim

abusiva. Aos 17 anos, dei início a um relacio-

namento em pleno término de ensino médio.

mas deveria ter previsto o meu fracasso como quer aresta pré-matrimonial. Me mudei para um apartamento escolhido à dedo, já que meu orçamento era apertado demais para meus planos desfeitos e então aquele desejo ado-

lescente dos 18 anos aconteceu. Me tornei in-

dependente, não foi da forma que imaginei na época, mas ele chegou.

Morando sozinha, dei início a uma pro-

Me agarrei naquela pessoa como se fosse um

funda jornada de autoconhecimento, aceita-

privei várias vezes de curtir a sua vida, direito

tante estar em solitude e finalmente me

troféu conquistado. Impedi meu parceiro e o dele e de qualquer pessoa. Eu fiz isso certa de que era a coisa certa, garanti de mantê-lo perto

de mim o máximo de tempo possível, me certifiquei de que estava suprindo todas as necessi-

dades dele que eu julgava como imprescindíveis e no processo, eu esqueci de mim e do

meu amadurecimento. Meu objetivo de vida era construir uma linda família ao lado do meu

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cresça, reproduza (com um homem) e morra.

namorado, pois foi isso que eu aprendi. Nasça,

ção e aprendizado. Conheci o quão é impor-

conheci, soube meus gostos, minhas prioridades e objetivos. Entendi que não precisava de nenhuma figura masculina para dividir a vida,

que se o fosse feito, seria priorizando a minha

mais fiel felicidade. Estudei e trabalhei como nunca houvera feito antes. Compreendi razões

as quais me transformaram em alguém tão fragilizada emocionalmente e pude enxergar a forma que desloquei minha felicidade para os


ombros de outra pessoa, sem ao menos saber

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Nos impulsiona a sermos maduras jovens de-

o que me fazia feliz. Fui cruel, extremamente

mais e prolonga este mesmo processo para os

sabilizada pelo patriarcado. Ele sim, foi o cul-

nas costas o amadurecimento deles, pois seus

cruel comigo. Eu não tinha como ser responpado pelo meu desamor para comigo e por co-

locar meu parceiro em posição de privilégio e

conforto. Minhas ações e comportamentos não eram legítimos. Eu senti na pele o preço por ser

homens, porque assim poderemos carregar

erros são esperados, normalizados, neutralizados e precisamos lidar com isso...

vítima de uma sociedade machista, que teceu

...O patriarcado te prepara para suprir to-

fase da vida, estas se tornaram cada vez mais

homem, de forma que isso vai te consumir e

finas linhas desde a minha infância e a cada fortes. Moldaram minha personalidade, so-

nhos, atitudes e perspectivas acerca do mundo. Distanciou-me de mim mesma e por muitos e muitos anos me tirou o amadurecimento,

ao mesmo tempo que me cobrou. Me fez doar mais do que receber e a ser grata por isso.

das as necessidades físicas e emocionais do você vai se ver numa competição com outras mulheres, para decidir quem exercerá a melhor performance e será escolhida como “a mulher para casar...

...Ele te objetifica, cria e demoniza seus

defeitos físicos, que deveriam ser normais, mas

Foto: Unsplash / chloe s. (@chloesimpson)

transforma-os em desprezíveis, inaceitáveis. E você acredita, você se transforma e se reforma

várias e várias vezes, porque isso é tudo que te

resta, é teu objetivo de vida. A consequência

disso é uma mulher frustrada, incompreendi-

da, dependente, ciumenta, silenciada, abusada, assassinada e machista. Sim, mulheres podem ser machistas, assim como eu fui.

Meu momento de ruptura com o patriar-

cado foi o momento mais doloroso da minha

vida e também foi o mais libertador. Eu entendi

como não havia escolha para mim, naquele tempo, mas entendi que posso compartilhar minha

experiência com outras mulheres, para que essa quebra de padrões ocorra o mais cedo possível.

Você precisa se colocar em primeiro lugar,

antes de qualquer coisa mesmo. Ouça o que têm O patriarcado está em todos os lugares

e é o maior responsável pelo adoecimento de mulheres. Ele impõe que sejamos heteronor-

mativas. Nos ensina que precisamos de um homem que nos proteja, pois somos frágeis.

a dizer e jamais se deixe diminuir para caber em um espaço que não te condiz. Você não precisa

saber cozinhar, nem lavar roupas ou pratos. Não precisa ter o corpo perfeito para ser amada, não precisa de um homem. Você precisa de você.

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TEXTO:

RAQUEL DUARTE Fo

to :

Bru ir na Ca o

CAROL FIGUEIREDO

A CRIADORA DE CONTEÚDO QUE VOCÊ PRECISA CONHECER!

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SERÁ QUE VOCÊ ESTÁ SEGUINDO OS INFLUENCIADORES CERTOS? Criando conteúdo desde 2015 através dos

seus vídeos no Youtube, Carol Figueiredo, de 20 anos, é referência quando o assunto é influência

digital. Natural de Pernambuco, Ca, pros mais íntimos, foi abraçada pela Paraíba e aqui constrói histórias, assim como amizades.

Vetor: Freepik / pikisuperstar | Foto: Bruna Cairo

Estudante de Jornalismo pela Universida-

de Federal da Paraíba (UFPB), Carol é nasceu em Recife, mas desde nova morou em Serra Talhada,

no interior do estado. Acostumada com a calma-

ria que o interior proporcionava, se assustou com a vida agitada da capital pernambucana. Motivo que a fez escolher João Pessoa como o lugar para ficar. Ficou e conquistou a todos.

Somando mais de 25 mil seguidores no

Instagram e mais de 5 mil no Youtube, Carol se tornou a influencer que todo mundo quer co-

nhecer e seguir.

Se você pensa que Carol tinha tudo pla-

nejado na hora de começar a criar conteúdos na internet, está muito enganada. O espaço co-

meçou como um diário, onde ela compartilhava

pensamentos e acontecimentos do seu dia a dia.

“Gostava de falar sobre coisas que vivia, de uma forma mais cômica. Com o tempo, fui amadure-

cendo e começando a falar sobre outros assun-

tos, como aceitação, militância, autoestima e bem-estar”, complementou ela.

Sem entender todo o crescimento, Carol

contou que ainda está se acostumando com tan-

tas pessoas a seguindo e curtindo todos os seus

trabalhos, “acho que o ponto chave desse boom foi recentemente, em um concurso cultural que

participei. Muita gente me apoiou, gente que eu nem fazia ideia que me seguia e me admirava”.

Apesar de todo reconhecimento e de

diariamente conquistar novos seguidores, Ca-

rol também se vê em um momento de mais cobranças e medo, pois sabe que junto ao crescimento também virão mais responsabilidades. Mas só quem a acompanha sabe

que ela consegue tirar tudo de letra. É através da sua sin-

ceridade, de repassar para os seus seguidores quando

está bem e quando não está, que ela cria um laço de intimidade com todos que a acompanham. “Recebo diver-

sos directs de pessoas - principalmente mulheres - que me falam que o que as fazem ficar no meu perfil é que elas se identificam muito comigo”, contou.

O que mais chama atenção em tudo isso, é o quão

verdadeira Carol é no seu trabalho. Posta stories sem maquiagem, mostra bastidores do seu dia a dia e não tem medo de

levantar suas bandeiras, falar e lutar pelo que acredita. Mas para ela nem tudo é tão fácil quanto a gente pensa. “Acredite,

ainda é muito difícil para mim aparecer básica nos stories.

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É uma pressão que, acredito que toda mulher

mentiu, pois só quem a acompanha sabe que

passe, mas o fator negritude atenua. Como sa-

ela não parou de nos proporcionar conteúdos.

bemos, é bem mais fácil para blogueiras bran-

Mas afinal, o que faz um influenciador?

cas serem reconhecidas. Ainda fico com isso na

Falamos o texto inteiro sobre essa profissão, mas

cabeça e isso meio que me cobra estar sempre

não deixamos claro como tudo funciona, né? Se-

arrumada, maquiada etc. Mas, ainda sim, eu

gundo Carol, um influenciador digital é uma per-

não escuto essa cobrança mais e só faço isso

sonalidade que conquista a confiança dos seus

quando de fato estou afim”, enfatizou.

seguidores e usa essa confiança para influenciar.

Como muher preta, Carol sabe a impor-

Ela ainda acrescenta que para ser um bom in-

tância dessa representatividade e o racismo que

fluenciador, você precisa ter princípios e se

encontra no meio digital. “Ser influenciadora

importar com as pessoas que te seguem.

digital e negra é estar sempre sendo questio-

É, parece que ela sabe bem como in-

nada sobre o que faço. Sempre sendo cobrada

fluenciar, né? Mas não ache que por isso ela

a falar sobre tal assunto que envolva negritu-

aceita qualquer trabalho não. Tudo sempre está

de. É também ser questionada quando eu não

alinhado com o que ela acredita, então para que

falo sobre isso. É muito mais difícil para pesso-

uma marca seja divulgada por ela, é preciso es-

as pretas, assim como em qualquer área”, co-

tar bem conectada com suas bandeiras.

mentou. Ao ser questionada se já sofreu racismo,

Apesar de sempre se questionar se está

ela diz que escancarado não, mas consegue vi-

fazendo o certo, e se, de fato, está sendo rele-

sualizar o racismo velado de marcas que sempre

vante para as pessoas, ela não pensa em parar

desvalorizam ou ignoram os seus e-mails e insis-

nem tão cedo.

tem em contratar as mesmas blogueiras brancas, ou quando a convidam apenas em momentos

estratégicos, como perto do dia da consciência

“Eu procuro levar meu conteúdo até as pessoas

negra ou recentemente no blackout Tuesday.

de forma sutil. Meu sonho é poder ser um “sa-

Com a chegada da pandemia e isola-

fe-place” para as minhas seguidoras e segui-

mento social, o conceito de influenciador digi-

dores. Quero criar e proporcionar um momento

tal foi se transformando. As publis mudaram, já

legal às pessoas que escolhem me assistir e

não se podia mostrar as viagens, ou ir às lojas

consumir os meus posts. Influenciar com res-

utilizar o provador. Foi preciso reinventar, e

ponsabilidade - é esse o meu objetivo”.

com Carol não foi diferente, todo seu trabalho precisou passar por transformações, mas, ape-

sar de tudo que estava acontecendo, foi nesse

Vale a pena ou não vale

período que ela se viu como uma melhor pro-

conhecer um pouco mais

dutora de conteúdo.

o trabalho de Carol? Aproveita e a segue

“Ter que me encarar todos os dias, bus-

no

car estratégias para trazer um bom material

instagram

@carolfigueiredd.

aos meus seguidores me ajudou a enxergar que eu sou bem mais do que provadores, via-

gens e selfies em lugares bonitos. Eu, minha câmera e minha parede branca demos conta

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do recado”, disse Carol, que obviamente não

Ve

to

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pik

no

/ p c h .v e c t o r


CAPA

RAQUEL DUARTE

Foto :

Bru

na

Di

a

s

Quantas mulheres escritoras vocĂŞ conhece? 13


///////

Q

uantas mulheres escritoras você já leu? E quantas eram da Paraíba? Essas perguntas

são muito importantes de serem feitas, para que

possamos repensar sobre nosso consumo de lei-

Confere nosso bate-papo e não deixa de

conhecer mais o trabalho dela nas redes sociais @ deboragilpantaleao e @editoraescaleras:

tura. Pensando nisso, conversamos com Débora

O QUE TE MOVE A ESCREVER? A ESCRITA SEM-

formada em Letras, mestre e doutoranda em Estu-

QUENA, OU VOCÊ FOI SE APROXIMANDO QUAN-

Gil Pantaleão. Natural de João Pessoa, Débora é

dos Literários pela Universidade Federal da Paraí-

ba. Autora de 7 livros, Débora sabe da importância

PRE ESTEVE PRESENTE COM VOCÊ DESDE PEDO MAIS VELHA?

Eu escrevo desde criança, no sentido

da leitura para o nosso conhecimento e da falta de

mais de que a literatura me interessava já desde

sando nisso, criou a Editora Escaleras, um lugar in-

romance no meu caderno de desenho da escola,

incentivo que muitos escritores encontram. Pendependente e aberto para apoiar todos os autores que querem levar sua escrita para o mundo.

Escritora, Editora, Professora, Vegana,

Feminista, Antirracista, Anticapitalista, LGBT-

QIA+ e Geminiana. São tantos adjetivos ma-

ravilhosos, que teria que fazer uma edição só para ela e para todo esse trabalho lindo que é a Escaleras (Menos o “geminiana” que aí já mexe com meu mapa astral hahaha).

Todo ano o Instituo Pró-Livro lança um ma-

terial com os índices de leitura no Brasil, desde a

quantidade de livros que é lido em média no ano,

até os gêneros mais conhecidos pela população.

Esses dados são bem importantes para termos uma melhor noção de como o País tem trabalhado essa cultura da leitura.

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Foto: Valter Pedrosa

pequena, de escrever poemas, ter começado um

ao invés de desenhar, pegar o livro e começar um romance e tal. Desde a época que já tinha aquelas lan houses, de imprimir meus poemas e mostrar

para minha mãe, pra um primo, enfim… então isso ocorria bastante e sempre escrevi, mas tive um período disso se enfatizar na minha vida, que foi de 2015 para cá. De ter publicado o primeiro

livro, de sempre ter algum projeto de escrita, aca-

ba um já tá em outro e por aí vai... E sobre o que

me move a escrever, eu acho que principalmente as coisas que me deixam indignadas, sabe? Em relação ao mundo e as pessoas. As opressões

com as pessoas negras, LGBTs, com os animais, então isso tem me movido. As opressões de clas-

se são questões que perpassam esses textos que

eu já escrevi de uma forma que talvez se enfatize nos meus textos mais novos. De agora em diante é algo que vai acabar se enfatizando, já tinha, mas que vai se enfatizar mais.


COMO É O SEU PROCESSO DE ESCRITA? HÁ UMA PREPARAÇÃO OU AS IDEIAS VÃO SURGINDO ALEATORIAMENTE?

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DO QUE SE TRATA SEU PRIMEIRO LIVRO “SE EU TIVESSE ALMA”? FALA MAIS SOBRE ELE.

“Se eu tivesse alma” é o primeiro livro de

Sobre o processo de escrita dos livros, eu

poesia. Trata de diversos temas, de morte, de

ficidade. O primeiro livro, por exemplo, teve um

traz temas que me interessavam ali ainda jovem.

acho que acaba que cada um teve a sua especi-

processo que talvez nenhum outro tenha mais,

que foi isso de coletar alguns poemas que eram

interessantes para mim. Os outros já vieram como projetos fechados. O “vão remédio para tanta mágoa” eu pensei nessa coisa de o livro ser dividido

em duas partes. Um primeiro momento em que

amor. Então foi meio que um primeiro livro que Foi lançado em 2015, em formato ebook, em 2016

no formato impresso pela editora Benfazeja e ano passado saiu pela Escaleras. Então é isso, o “Se eu

tivesse alma” foi esse trabalho que abriu portas para os outros livros saírem, digamos assim.

esse eu lírico estava em uma relação, no segundo

ATUALMENTE, QUANTOS LIVROS VOCÊ TEM

livro mais pop, tratando de um amor de uma for-

Eu tenho 7 livros publicados, que são: Se

momento não estaria mais. Eu sabia que seria um

PUBLICADOS?

ma mais acessível, não sei se a palavra melhor é

eu tivesse alma, o Vão remédio para tanta mágoa,

“Causa morte”, que atualmente está sendo tradu-

jeto ar, Sozinha no cais deserto e Repito coisas que

porque foi o meu primeiro texto mais longo em

Estou aguardando um pouco para editar mais,

essa. A primeira novela que eu publiquei, que é o zido para o grego, teve um processo interessante

prosa. O livro que eu lancei ano passado (2019), o “Repito coisas que não lembro”, a ideia surgiu depois de ter lido uma novela chamada “Morreste-me”, de José Luís Peixoto que é um escritor português, e o tema é o luto de um pai, aí surgiu a par-

tir da ideia de escrever sobre amor, e depois esse amor foi tomando várias raízes, assim indo para ódio, também para a raiva, para as opressões so-

ciais, então acaba que surgiu essa mulher negra,

trancada no quarto, pensando a vida e a merda,

como a própria personagem diz “pensar o amor e a merda” em algum momento. Desde 2017 eu te-

nho ideia de um romance, e aí teve um processo

já diferente desses outros livros, que foi uma entrevista com a minha mãe. De lá para cá fui cons-

truindo algumas coisas, fiz alguns rascunhos ano passado dos primeiros capítulos, mas só esse ano

mesmo que eu sentei para escrever, então acaba que rola um pouco de obsessão, de ficar traba-

lhando muito naquele mesmo projeto até que ele saia, para depois ir para outro por exemplo, então tem essas diversidades aí no processo.

Nem uma vez uma voz humana, Causa morte, Ob-

não lembro. Atualmente eu finalizei um romance.

mexer mais e ver o que vai acontecer com ele, quando será publicado e tudo mais. Eu publiquei

também um livro chamado “Prosas de oficina” em 2018. Foi uma organização minha, de textos

em prosa de alunos que estiveram em oficinas e

cursos de escrita comigo, que ministrei em 2016, 2017 e 2018. Foi uma seleção de textos que saíram nessas oficinas. Dentro de tantos outros esses fo-

ram os escolhidos para estar no “Prosas de ofici-

na”. Foi bem legal porque a gente conseguiu publicar muita gente, primeiros textos dessas pessoas, então fiquei muito feliz.

NESSE PROCESSO DE ESCRITA, QUEM SÃO SUAS REFERÊNCIAS?

Eu acho que as principais referências para

mim são as pessoas. Não são os livros, não são os

filmes, eu acho que são as pessoas, as coisas que eu escuto, as histórias. Mas referências mais buro-

cráticas, digamos assim, enquanto eu escrevia, eu

acho que atualmente também, me influencia muito o que eu estou estudando academicamente.

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Mas eu acho que o que mais me influencia, para

além das vidas das pessoas e o que eu vejo nas notícias e tal, é a dramaturgia, que é algo que eu estudo desde a graduação. Estudei na graduação,

no mestrado, doutorado, essa coisa da imagem,

da cena, é muito forte para mim. Minha graduação é em língua inglesa então tenho muitas refe-

rências lá e literatura brasileira acabo lendo mais contemporâneos mesmo.

VEZ OU OUTRA VOCÊ ABRE OFICINAS DE ESCRE-

VER CONTOS, UM TIPO DE ESCRITA QUE POUCO

OUVIMOS FALAR. QUAL A SUA INTENÇÃO EM MINISTRAR ESSAS OFICINAS?

Sobre as oficinas e os cursos, eu já minis-

trei diversos. Já tiveram cursos mais voltados para

teoria e com prática, e outros mais de oficina, de eu trazer só algum elemento ali rapidamente te-

órico e já ir para prática. Esse ano eu propus qua-

tro oficinas chamadas “escrever contos”. A gente viu muita teoria, leu textos e trabalhou exercícios

de escrita para pensar o conto. Um trabalho com romance, por exemplo, eu estou conseguindo

acompanhar agora que propus dois cursos, chamado projeto cais. Eu estou na segunda turma,

que é para acompanhar os livros que eles estão escrevendo. Muito legal.

TEM VISTO ESSE CENÁRIO NO BRASIL E AQUI NA PARAÍBA?

Sobre o hábito de leitura no Brasil e valo-

rização dos escritores é um problema político. Eu acho que não há um interesse por parte dos nos-

sos representantes de ter uma população inteli-

gente. Eles não querem nos dar oportunidades, não querem nos dar o que a gente precisa que é

educação, casa... Livros que a gente está suando

para vender acaba que alguém já pode ter encontrado em PDF, às vezes até nas bibliotecas públi-

cas online tem livros disponíveis legalmente para o pessoal ler, mas não há um incentivo à leitura. Muita gente reclama que no Brasil não tem leitor

porque os livros são caros, não acredito nisso. Muitas vezes disponibilizei meus livros gratuitamente para quem quisesse baixar, e o retorno foi

muito pequeno, mesmo gratuito. Eu acho que ainda é através dos livros que a gente tem infor-

mação. Claro que tem outras ferramentas hoje

em dia, tem documentários, filmes, que a gente pode aprender muito, mas a maior parte do que

tem sido pensado sobre teorias, sobre sociedade é através dos livros. Eu acho que tem uma junção de coisas. Primeiro o incentivo do Governo, ter o

incentivo dentro de casa, ter políticas públicas, editais para adquirir livros, bibliotecas que sejam

interessantes, que os jovens possam ir lá. Ao invés de ir para shoppings ir para um espaço assim. Às vezes eu vejo muitas pessoas querendo que a arte seja mais acessível no sentido de ser entregue, de

ser didática, mas eu acho que não é por aí. Não é sobre a arte se simplificar para alcançar a mas-

sa, é mais sobre essas pessoas terem educação o

suficiente para poderem ler o que quiserem, de poderem alcançar textos mais complexos mesmo Vetor: Freepik / pch.vector

O HÁBITO DA LEITURA AINDA É MUITO POUCO NO BRASIL E CONSEQUENTEMENTE MENOS

VALORIZAÇÃO DOS ESCRITORES. COMO VOCÊ

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sabe? E obviamente isso vai culminar nessa valorização ou desvalorização dos escritores. Acaba que

envolve muito gênero, raça, classe, localização geográfica, quem vai ser mais valorizado. Mesmo quando eu vejo as matérias tratando de escrito-

res negros, por exemplo, são os escritores negros


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do Sul, do Sudeste que eles estão vendo primeiro

de algumas oficinas e vi como funcionava as dinâ-

da Paraíba, do Maranhão, sei lá então é bem mais

como escritora, então eu comecei a me interessar

para depois ver os escritores negros do Norte ou complexo.

PUXANDO AINDA PARA ESSE ASSUNTO DE VALORIZAÇÃO, COMO FOI O PROCESSO DE PU-

BLICAÇÃO DO SEU PRIMEIRO LIVRO? COMO VOCÊ BUSCOU TRABALHAR A DIVULGAÇÃO

E SE HOUVE PERRENGUES NO CAMINHOS, QUAIS FORAM?

A forma que eu encontrei foi o seguinte:

Eu publiquei um ebook em 2015 e para conseguir esse dinheiro do ebook eu joguei no Facebook

que eu estava recebendo materiais de doação tipo CD’s, DVD’s, livros, roupas. Então fiz uns três bre-

chós ali na Praça da Alegria na UFPB e consegui a

grana para publicar. O lançamento foi no Espaço

Mundo, o pessoal de lá foi super parceiro para nos receber. As divulgações que eu fiz sempre foram assim. Tentava algum jornal, mas nem sempre os

jornais abrem as portas para as nossas propostas.

Depois do primeiro livro comecei a ser. chamada

para fazer falas em eventos, fui em escolas estaduais e municipais, amei demais.

micas, a minha formação em Letras, o meu olhar por isso da seleção de originais, do que uma Edito-

ra precisa fazer. De 2016 para 2017 fiquei pensando, fazendo listas de nomes. Eu escolhi Escaleras, que é um nome espanhol, que quer dizer escadas

e muito em base no desejo de em algum momento poder me comunicar com outras autoras e autores da América Latina. Tem a ver com as escadas

de Escher, que é um artista que tem um trabalho que reflete, que pensa sobre a metaficção, de uma

ficção que se auto reflete que pensa sobre o seu próprio fazer. Surgiu principalmente de publicar

autoria feminina, mas estamos abertas a todas as

autorias. Temos esse interesse de botar no mundo autoras mulheres.

HÁ MUITAS PUBLICAÇÕES DE ESCRITORES INI-

CIANTES NA ESCALERAS, E SEMPRE VEMOS ABERTURA PARA PESSOAS APOIAREM FINANCEIRAMENTE O LANÇAMENTO DESSES LIVROS.

QUANDO ESSAS PESSOAS APOIAM, O QUE TEM POR TRÁS DE TODO O PROCESSO NO QUAL O DINHEIRO VAI SER INVESTIDO?

Já publicamos muitos autores que esta-

HOJE VOCÊ TEM A ESCALERAS, COMO SURGIU

vam no seu primeiro livro, outros que já tinha

A Editora Escaleras surgiu em 2017 de fato,

zende. Eu mesma já tinha publicado antes, mas

ESSA IDEIA DE CRIAR UMA EDITORA?

enquanto ter CNPJ, ter as primeiras publicações, que foram os meus dois livros e o livro de Maria

Valéria Rezende, depois outras publicações só em 2018. Mas a ideia da Escaleras surgiu em 2016, um

ano antes ou um pouco mais quando eu estive em São Paulo. Troquei muita ideia com a Editora Ben-

fazeja, conheci Eduardo Lacerda da Editora Patuá,

conheci Ana Rusche, conheci outras autoras que tinham os seus selos para auto publicação, então

começou com esse interesse de me auto publicar, mas logo eu vi que isso não me satisfazia e come-

cei a ver que eu tinha desejo de publicar outras pessoas. Eu já tinha participado como uma aluna

uma experiência anterior, como Maria Valéria Re-

tem muitos autores que estão começando e a

gente está bem aberta aos primeiros livros. De início, a gente bancava com todo custo, mas depois, com o baixo retorno das vendas dos livros vimos

que não estava funcionando. Teve um período que eu só conseguia publicar se o autor compras-

se alguns exemplares com desconto para reven-

der. Esse incômodo que a gente sente por não

ter incentivo do governo, não tem tanta demanda, ainda tem os 10% para direitos autorais. Dos

100 exemplares, passamos 10 para o autor e os 10%, além de desconto para os autores quando

eles querem adquirir em pré-venda. Uma forma

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que está sendo interessante para gente esse ano,

com Danielle Sousa que está para lançar “Do ho-

alguns exemplares, tem sido o financiamento via

ela pudesse ver a qualidade que tinha os textos

para tentar evitar que o autor tenha que comprar

catarse, que na verdade é uma pré-venda de fato. O valor que a gente coloca, é o valor do livro que

dela e botar para o mundo.

vai entrar no site da Escaleras. Só que é o valor

PARA QUEM DESEJA ESCREVER UM LIVRO UM

com super descontos dos livros já publicados da

AJUDAR ESSE PROCESSO DE CRIAÇÃO?

do livro sem o frete e também tem vários combos Editora, então tem sido uma forma também de

DIA QUAIS CONSELHOS VOCÊ DÁ QUE POSSA Olha é bem comum eu ver pessoas nas

ajudar a circular os livros que já foram publica-

minhas oficinas querendo mais publicar um livro

mos retorno nenhum dos livreiros ou porque não

tão o conselho que eu dou é: tenha uma história

dos. Às vezes deixamos nas livrarias e não obte-

compraram ou porque eles não dão retorno de fato. É uma coisa muito complicada isso de distribuição. O catarse tem sido legal, acaba funcio-

nando como essa livraria online. Os leitores estão comprando com super descontos, frete grátis

e acaba fazendo circular alguns livros. Fazemos

poucos combos, para não ficarmos no prejuízo, mas é uma boa forma de circular.

O catarse sempre pede para colocarmos lá

o que é que tá sendo gasto para dar aquele total.

Então a gente tem a edição do livro, o valor da gráfica, o valor do design gráfico, o valor da assesso-

ria de imprensa, da diagramação. Então tudo isso está lá no catarse e quem adquire o livro está sabendo o porquê tá pagando aquele preço.

QUAL O PRAZER EM VER TANTAS PESSOAS PUBLICANDO SEUS PRÓPRIOS LIVROS E VOCÊ SENDO UMA PONTE PARA QUE ESSES LIVROS CHEGUEM NAS CASAS DAS PESSOAS?

Eu sabia que eu ia me sentir muito feliz po-

dendo publicar outras autoras que tiveram dificuldade de achar uma editora, de ter acesso, e outros

autores também paraibanos e não paraibanos. Já

do que de fato ter uma história para contar. En-

para contar, e a publicação vai surgir em algum momento. Trabalhe nesse texto, não tenha ape-

go, tenha pessoas que você confie para mostrar. Hoje em dia a gente tem profissionais que trabalham com isso, com revisão literária, de você po-

der mandar e ter um feedback profissional dessas pessoas ou, se tiver grana, faz isso, manda para

um profissional que você acha massa, receba

esse feedback e veja o que pode mudar, o que não pode mudar, não mande texto para quem vai só

elogiar, eu acho que é um conselho que eu dou. Eu não mando texto para quem eu sei que só vai

me elogiar, que não vai ter algo a acrescentar ou a me questionar. Claro que pode elogiar também,

mas acho que dá para entender o sentido que eu

tô falando. Então é isso, é desapego, trabalho, ver a literatura como trabalho, por mais que a maioria

das vezes seja um trabalho não remunerado, mas é isso, não deixa de ser um trabalho mesmo.

VOCÊ ESTÁ EM PRODUÇÃO DE ALGUM LIVRO?

SE SIM, PODE NOS CONTAR MAIS ALGUMA COISA SOBRE ELE?

Estou sim em trabalho novo, eu estive tra-

publicamos autores de vários lugares do Brasil, do

balhando no meu primeiro romance, agora eu

bastante, gosto disso. Fico muito feliz em poder

pegar nele e ver qual vai ser e talvez exista a pos-

Paraná, do Rio Grande do Norte, da Paraíba tem estar junto, incentivar. Aconteceu muito isso com

Isabor Quintiere, que lançou “A cor humana”, e

18

rizonte, a terra” que eu incentivei muito para que

estou deixando ele dar uma esfriada para depois

sibilidade de publicação no final do ano ou ano

que vem mesmo. Ele é um texto que foi inspirado numa entrevista que eu fiz com a minha mãe em


2017 e a partir dessa entrevista ela virou avó da

minha personagem. Minha mãe real acabou viran-

MULHERES NA LITERATURA

ria da narradora, uma adolescente de 13 anos. Se

passa em João Pessoa, tem essas personagens e a

Segundo o infográfico publicado

adolescente que está escrevendo um romance

dos derivam do GELBC usando um

convivência dessas mulheres. É basicamente essa

no site Ponto Eletrônico, cujos da-

para escola dela lá no IFPB. A professora de lite-

ratura passa essa atividade anual, que os alunos

têm que escrever esse romance, e essa adolescen-

te resolve escrever sobre a avó dela. Acaba que tem também personagens indígenas e se passa muito nesse espaço João Pessoa, Baía da Traição e uma cidade chamada Ibiara, que é também na Paraíba. Estou bem animada em relação a ele.

E POR FIM, COMO AS PESSOAS PODEM

APOIAR O SEU TRABALHO ALÉM DE COMPRAR OS LIVROS?

Às vezes a pessoa gosta do meu traba-

período de coleta de 14 anos (1990 ~ 2004), podemos constatar que:

• O escritor brasileiro enquadra-se no perfil

de homem (72,7%) branco (93,9%). Ou seja, apenas 27,3% dos escritores brasileiros são mulheres e apenas 7,1% são negros.

Dessa forma, apenas 37,8% dos per-

sonagens são mulheres. E não apenas: somente 1,6% das obras não tem perso-

nagens importantes do sexo masculino,

enquanto que, em 15,9%, não existem personagens femininos importantes.

lho, disso que estou fazendo no catarse, de

• Quando mulheres estão no papel de auto-

crita, ou dos escritores na Escalera, de certa

ninas. Quando homens estão no papel, ape-

colocar as pessoas nessas experiências de es-

forma trabalhando na cultura paraibana, na cultura brasileira, na cultura nordestina, mas

não sabem o que podem fazer. Tipo, muita gente não tem interesse em ler os livros, então

ras, cerca de 52% das personagens são feminas 32,1% das personagens são mulheres.

• Nos 258 livros estudados, apenas 3 protagonistas eram mulheres e negras.

eu acho que essas pessoas que não tem inte-

• Em 56,6% dos romances não existe sequer

tilhar, podem indicar para outras que possam

dos personagens são negros e 56,3% são re-

resse em ler os livros de fato, podem compar-

ter interesse. Atualmente os compartilhamen-

1 personagem não branco - apenas 7,9%

tratados como dependentes químicos.

tos são muito importantes para gente, divulgar

um livro. Mesmo que você não vá, mas indica

femininas tem uma relação familiar com o

minhas oficinas, divulgar que estou publicando

para alguém, joga no grupo. E isso vale para tudo. Não precisa ser no feed, pode ser só nos stories, marca a editora. Eu recebo muitos fe-

edbacks, pessoas que postam alguma página do meu livro que estão lendo. Essas pequenas coisas fazem muita diferença.

Fontes: https://www.blogs.unicamp.br / Tinyurl.com/b7hvwkl / Tinyurl.com/aezwyfh

do a minha avó da personagem que conta a histó-

////////

25,1% das personagens mulheres são

donas de casa e 88,9% das personagens protagonista - 44,8% são conjuges e 35% são filhas.

É importante destacar que a maioria

dos personagens que não são homens e/

ou brancos encontram-se nos papéis de coadjuvantes.

19


COLUNA

MICHELlY SANTOS

meu MEU corpo CORPO éÉ movimento MOVIMENTO 20


Meu corpo veio do movimento. Meu cor-

po gosta do movimento. Meu corpo é movimento. Lembro-me de quando era pequena e ensi-

nava a coreografia da banda Rouge para minhas

amigas, nesse tempo ainda não tinha tido con-

////////

A casa ficava fechada, o DVD ligado e uma

toalha sempre por perto. Todas as vezes que

chegava alguém sorrateiramente em casa eu me

desesperava. Pegava minha toalha pra enxugar o

suor rapidamente e fingia estar assistindo. Mas o

tato com o bullying na escola e meu corpo gordo

bafo quente do ambiente me denunciava rapida-

ESSE TEMPO PASSOU.

VONTADE

ainda era visto pelos meus familiares como fofo.

A censura e a vergonha do meu corpo co-

meçaram a ser construída. Na escola já ganhava

mente.

Sempre tive vontade de dançar em uma

quadrilha junina. Além de uma época que eu amo,

“apelidos” maldosos e na convivência com meus

as apresentações de quadrilha sempre me fascina-

já era esperado. O encontro familiar que aconte-

tudo era encantador. Na minha cidade sempre tem

parentes o emagrecimento futuro do meu corpo

cia na casa da minha tia era marcado por pautas

acerca de emagrecimento e magreza. Do meu

emagrecimento e da minha futura magreza. A DANÇA PAROU

Já não ensinava mais a coreografia da

banda Rouge. As palavras de ódio que escutava

nos recreios já me assombravam. Já não coloca-

va meu corpo mais em movimento, ele já nem

era mais dança. Ele Já estava deveras constran-

gido. Não era visto como digno de nada, nem

mesmo do movimento que eu tanto amava. MAS PERSISTI

Era mais forte que eu. Eu amava dançar

e continuei. Mas continuei escondida. Não gos-

tava que os outros me vissem dançar. Aprendia

coreografias de todos os musicais que gostava.

Os DVDs, coitados, logo ficavam arranhados. Me

sentia viva outra vez. Cada passo era o sinônimo

de alegria. Cada nova coreografia era um aprendizado, um doce aprendizado. VERGONHA

A sala da minha casa presenciou todos os

meus espetáculos de dança. Só ela. Apenas ela.

Ninguém podia ver, nem eu mesma. Não conseguia

me ver no espelho dançando. Preferia aprender todos os passos, mas sem me enxergar fazendo os

movimentos, porque no fundo acreditava que meu

corpo não era feito e nem bonito para dançar.

ram. A música, a letra, os passos, absolutamente

apresentação e eu não perdia uma. Infelizmente

não conseguia filmar para aprender depois, mas

tentava reproduzir de alguma forma as que eu ti-

nha visto. Nunca consegui dançar, sempre foi meu

sonho, um dos que foram podados. REPRESENTATIVIDADE

Não via muita gente gorda dançando

na quadrilha. Na verdade, não via gente gorda

dançando em lugar nenhum. Não gostam de

nos ver em movimento. Nos escondem e nós

também nos escondemos. É a realidade. SONHO

Sempre tive muitos sonhos com

a dança. Ela sempre esteve por perto.

Nunca me vi representada nela, mas

eu a amava e ainda amo. Hoje estou

mais velha. Já quebrei alguns

dos meus bloqueios e outros

ainda perduram e sei que

é um processo. Meu maior

sonho é que as pessoas

não repitam a mesma

trajetória que a minha. A

dança gosta de todas as

pessoas, independentemente

de qualquer aspecto físico. A

dança não é preconceituosa,

as pessoas que são.

Vetor: Freepik / teravector

21


TEXTO:

RAQUEL DUARTE

VOCÊ vOCÊ SABE O QUE É VIOLÊNCIA ONLINE? 22

Foto: Unsplash / Victoria Heath (@vheath)


Constantemente estamos conversando

sobre tipos de violência, e é muito comum fa-

////////

larmos sobre principalmente a violência física e sexual. Mas seguindo esse mesmo contexto,

a violência online também está muito presente na vida das mulheres.

Devido a necessidade de entender mais

sobre o assunto, conversamos com a Psicóloga Letícia de Mélo Sousa, que é Mestre e Doutoranda em Psicologia Social, pela Universidade Federal da Paraiba (UFPB), e como pesquisa gênero, violência contra a mulher e violência online.

“Minha pesquisa versa sobre a exposi-

ção íntima online (forma de violência contra a mulher online, mais conhecida sob o ter-

mo “pornografia de vingança”). No mestrado,

meu foco foi sobre os impactos desta forma de violência à saúde mental e vida social das

mulheres vitimadas. No doutorado, investigo

a resposta das políticas públicas de combate à violência contra a mulher à exposição íntima online”, complementou.

A partir disso, fizemos essa entrevista

super importante com Letícia, para conhecer-

mos mais sobre a prática e como isso tem atingido as mulheres.

PARA CONTEXTUALIZAR, O QUE É VIOLÊNCIA ONLINE?

A violência online é toda forma de agres-

são que se utiliza de meios informáticos para

ser praticada e/ou propagada. Consiste em ataques psicológicos, morais ou econômicos

direcionados a um indivíduo ou grupo, realizado através de meios escritos ou audiovisuais e

veiculado através de plataformas informáticas, por exemplo, as redes sociais. Cabe frisar que a

violência online não se restringe apenas ao ambiente informático, podendo representar também ameaça à integridade física das vítimas.

Por que as mulheres são mais atingidas

por essa violência?

As interações sociais realizadas através

dos meios informáticos refletem a organização social do contexto no qual são produzidas. Re-

conhecendo a histórica opressão e dominação à qual as mulheres estão sujeitadas em uma sociedade sexista, tal sexismo é expresso atra-

vés das interações sociais realizadas dentro do meio online tal qual se expressam fora dele. Fe-

nômenos relativos à naturalização da violência contra as mulheres, à exemplo da culpabilização das vítimas de violência, são também observados nos casos de violência online.

Todavia, determinados recursos possí-

23


///////

veis através da internet, como a possibilidade

doméstico ou de lazer, oferecendo risco à sua

permitem que violências sejam praticadas li-

seja acompanhada de agressões e/ou ameaças,

do anonimato ou da viralização de conteúdos, vremente. Desta maneira, agressores se sen-

tem encorajados a expressar abertamente sua misoginia e violentar mulheres por acredita-

rem que não responderão social ou judicialmente por tais atos, uma vez que estão prote-

gidos pelo anonimato ou por acreditarem que não responderão judicialmente por crimes praticados na internet.

QUAIS TIPOS DE VIOLÊNCIA ONLINE? E QUAL A MAIS FREQUENTE?

As principais formas de violência online

contra a mulher são:

1. Exposição Íntima Online: mais conhecida pelo termo “pornografia de vingança”, consis-

te na exposição ou compartilhamento, sem o consentimento da vítima, de materiais íntimos

da mesma (sejam vídeos, fotos, montagens ou relatos escritos ou falados), com objetivos de

usar da sexualidade da mulher para humilhá-la publicamente. Tal forma de violência atin-

ge especialmente mulheres jovens e produz impactos para a sua saúde mental, tais quais o desenvolvimento de Transtorno do Estresse

Pós-Traumático, depressão, ansiedade, poden-

do levar ao suicídio. Nesta forma de violência também incorre o estupro virtual, onde a ameaça de exposição íntima é utilizada a fim de coagir a vítima a enviar material íntimo.

2. Perseguição: também conhecida pelo termo inglês “stalking”, consiste na invasão sistemática e repetida de espaços de privacidade da

vítima, através de quaisquer meios de comu-

nicação, sendo na atualidade mais frequente ser realizada por mensagens nas redes redes

sociais e ligações telefônicas. A perseguição também ultrapassa o ambiente online, podendo acontecer da vítimas passa a ser persegui-

24

da em seus ambientes escolar, de trabalho,

integridade física. É comum que a perseguição levando a vítima a intenso sofrimento psíquico. 3. Cyberbullying: sendo este o bullying praticado em meio informático, consistindo na intimi-

dação sistemática da vítima através da prática

de violência psicológica, moral ou econômica. Esta forma de violência é mais frequente entre adolescentes e jovens, especialmente em perí-

odo escolar, objetivando agredir e humilhar a vítima diante de seus pares.

4. Assédio ou importunação sexual: em termos gerais, consiste em constranger alguém com ob-

jetivos de satisfazer lascívia. Na legislação brasi-

leira, o assédio sexual é aquele que é praticado por agente se prevalecendo de sua condição de superior hierárquico (por exemplo, chefe, professor, entre outros). Nos casos em que o agressor não se prevalece de sua superioridade hie-

rárquica em relação à vítima, o termo utilizado é importunação sexual. É realizada principalmen-

te através do constante envio de mensagens,

podendo elas serem sexualmente agressivas (envio de fotos de genitálias, por exemplo).

Em pesquisa realizada por mim no ano

de 2019, da qual participaram 1.028 mulheres de todo o território nacional, a forma de vio-

lência online mais reportada foi o assédio ou importunação sexual.

COMO DENUNCIAR ESSAS VIOLÊNCIAS?

A exposição íntima online é criminali-

zada através das Leis 13.718/18 e 13.772/18, sendo considerada enquanto uma forma de

violência psicológica contra a mulher, contida

na Lei Maria da Penha. O assédio e importunação sexual online são criminalizados através da Lei 13.718/18 e do Código Penal, art 216-A. Por-

tanto, em ambos os casos cabe a denúncia na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), ou na Delegacia comum. A perse-


guição, embora ainda não seja criminalizada, também pode ser denunciada.

O bullying e cyberbullying não são cri-

minalizados, todavia a Lei 13.185/15 institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying), que determina as ações a se-

rem tomadas pelas instituições de ensino em

seu combate. As violências sofridas através do

bullying (agressões, exposições, humilhações) são criminalizadas e podem ser denunciadas.

Em todos os casos, é importante que a víti-

ma e sua rede de apoio recolham o máximo de pro-

vas possíveis da violência, através de capturas de

tela (print screen) e demais materiais audiovisuais, fornecendo tais materiais no ato da denúncia.

QUAIS AS PENAS PARA QUEM PRATICA ESSE TIPO DE VIOLÊNCIA?

No caso da exposição íntima online, a

pena é de detenção de seis meses a um ano e

multa para quem produz material sem o con-

////////

está sujeita a ser violentada. Em minha pesqui-

sa sobre exposição íntima online, me deparei com casos de mulheres que foram expostas por desconhecidos, sem posse de qualquer mate-

rial íntimo das mesmas. Eles apenas decidiram

divulgar as redes sociais delas para grupos de assediadores e estes se encarregaram de inundar as redes sociais delas de mensagens sexualmente agressivas.

Alguns recursos podem auxiliar as mu-

lheres, por exemplo: no compartilhamento de

mensagens íntimas, utilizar aplicativos e plata-

formas que não permitem que as mensagens e materiais sejam salvos (por exemplo, Tele-

gram); não trocar mensagens nem interagir com perfis anônimos ou “fakes”; informar familiares e amigos diante de suspeitas de perse-

guição; diante dos primeiros sinais de violência online, salvar capturas de tela que a comprovem; prestar queixa das violências sofridas.

Todavia, nenhuma ação de fato protege

sentimento da vítima (Lei 13.772/18) e de 1 a 5

a mulher da violência online, afinal a violência

nografia sem o consentimento da vítima (Lei

agressor(es).

anos para quem divulga cena de sexo ou por-

13.718/18). A importunação sexual gera uma

pena de reclusão de 1 a 5 anos, se o ato não constitui crime mais grave (Lei 13.718/18).

As penas para a perseguição e cyber-

bullying dependerão dos crimes praticados em cada caso.

EXISTE ALGUMA FORMA DAS MULHERES SE PROTEGEREM DISSO? SE SIM, COMO?

Vivendo em uma sociedade que natu-

raliza a violência contra a mulher e se utiliza dela enquanto instrumento de dominação,

não existe nenhuma maneira das mulheres se protegerem da violência, em vista de que não são os atos das mulheres que provocam a mes-

ma. Independentemente da maneira como a

mulher se comporte em nossa sociedade ela

não parte das ações dela e sim das ações do(s)

COMO ESSAS SITUAÇÕES PODEM ATINGIR A VIDA DAS MULHERES QUE FOREM VÍTIMAS?

A vivência de violência online pode levar

as mulheres a um intenso sofrimento psíquico, apresentando quadros de ansiedade, depressão,

paranoia, Transtorno de Estresse Pós-Traumático

e ideação suicida, entre outros. O impacto que a

vivência destas violências geram na vida social

da mulher acaba sendo um fator determinante no desenvolvimento de seu sofrimento psíquico, uma vez que, para além da sensação de insegu-

rança e impunidade, as vítimas sofrem com um processo de culpabilização. Elas são, em muitos casos, enxergadas enquanto culpadas pela vio-

lência sofrida, sendo julgadas pela sociedade e pela mídia, impactando sua convivência familiar, escolar, laboral e social como um todo.

25


///////

NO SEU PONTO DE VISTA, O QUE É POSSÍVEL FAZER PARA MUDAR ESSE CENÁRIO?

A conscientização é a chave para o com-

bate à violência online. Já possuímos legisla-

ção que criminaliza tais violências, cabendo, portanto, realizar ações educativas, que infor-

mem acerca dos males causados pela violência online às vítimas e a toda a sua rede social, que também é atingida pela violência, informando acerca da ilicitude de tais práticas e das penas

previstas. A juventude é uma população de alto interesse para tais ações educativas, por estar profundamente envolvida com a interação so-

cial online, sendo também mais vulnerável a se

No cenário internacional, cresce a defe-

sa pela responsabilização das plataformas online pelas violências nelas praticadas. Denun-

ciar para uma plataforma (como o Instagram ou o Twitter, e em especial o WhatsApp) uma

violação de direitos é tarefa árdua, onde são

escassas e insuficientes as opções de denúncia interna. Tendo sido denunciada a publicação, a plataforma demora para avaliar a denúncia e

retirar o material do ar, o que favorece a viralização de seu conteúdo. É necessário, portanto, cobrar maior assertividade das plataformas para lidar com casos de violência online.

Ve t o r : Fr e e p i k

tornar vítima ou agressor.

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