Revista Empoderar Você: Edição #9

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CARTA ABERTA:

PARA TODAS AS MULHERES DA MINHA VIDA TODOS POR

ARATU!

PLAYLIST

EMPODERAR VOCÊ #9 FILMES

PARA EMPODERAR VOCÊ #9

EMPREENDEDORISMO MATERNO

O MAIOR

MONSTRO PRODUÇÃO DE CONTEÚDO E A

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GERAÇÃO DE INSATISFEITOS



EDITORIAL Tinha alguém ansiosa pela nova edição da Empoderar Você? Acredita que chegamos a nona edição? Parece que foi ontem que a primeira revista foi ao ar, de uma forma simples, didática e com muita vontade de ganhar o mundo. Chegamos ao mês de maio, com a segunda edição de 2021, trazendo assuntos importantes para que possamos aprender e debater. Caso você ainda não tenha lido as outras publicações, quando finalizar essa, corre para ler porque todas são incríveis. Mais uma vez temos nossa playlist, com músicas empoderadoras, nossas indicações de filmes e muita colaboração com mulheres fodas. Dessa vez trouxemos duas entrevistas que, apesar de diferentes, se conectam quando falamos sobre força e persistência. Além disso tem assunto sobre redes sociais, a importância da rede de apoio entre mulheres e muito mais. Obrigada mais uma vez por estar aqui, espero que goste e boa leitura!


QUEM SOMOS

RAQUEL DUARTE

ana beatriz rocha

Jornalista | 23 anos | Lutando por um feminismo interseccional | Empoderando mulheres através da informação| Paraibana | Canceriana | LGBTQIA+

Comunicadora oral e escrita | Paraibana | Constrói narrativas em vídeos, áuidos mas, principalmente, em linhas | Ativista negra pela justiça social | Amefricana que vê o mundo sob a ótica interseccional | Andarilha desbravando o jornalismo

@raqueldcn

colaboradores

@anabeatriz_pr

beatriz de alcântara @???

Estudante de Jornalismo | 24 anos | Geminiana | Pernambucana de corpo e alma | Amante de fotografia | Bolo de rolo e frevo representa mais do que carnaval e futebol

23 anos | Jornalista e podcaster | Leonina com lua em Peixes | Recifense acolhida pela Paraíba | Viciada em filmes, séries, livros e bolo de rolo | Gosto musical formado pela MTV 2000 | Fã de cultura pop e da oportunidade de contextualizar produções com questões sociais

GABs FERRERA

LUCAS CAMPOS

Estudante de administração e jornalismo | 25 anos | Criadora de Conteúdo | Viciada em Games/Animes/Doramas | Ariana | Ama cerveja gelada | Pessoense

Designer gráfico e jornalista | 25 anos | Pós-graduando em User Experience | LGBTQIA+ | Acredita que o design pode andar de mãos dadas com causas sociais

Michelly santos @michellysantoss

@gabsferrera

@luscverse // behance.com/lucasffc


SUMÁRIO 05

PLAYLIST EMPODERAR VOCÊ #9

08

CARTA ABERTA: A TODAS AS MULHERES DA MINHA VIDA

06

11 15

LEITURAS PARA EMPODERAR VOCÊ #9

TODOS POR ARATU!

A ARTE IMITA A VIDA: QUANDO O DEBATE ULTRAPASSA OS LIMITES DA 4A PAREDE

19

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO E A GERAÇÃO DE INSATISFEITOS

26

O MAIOR MONSTRO DE TODOS OS TEMPOS

22

OS DESAFIOS DO EMPREENDEDORISMO MATERNO


BEAUTIFUL

SOU MULHER LILIAN

BRUNA CARAM

LEVANTA MINA MC CAROL

INSUBMISSA

MAIRA BALDAIA

LAMBE-LAMBE

PERDÃO

GIRL FROM RIO

CANTO ÀS VADIAS

CHRISTINA AGUILERA

MARIA

ANITTA

SOBERANA

ANA CAÑAS

MARIANA DEGANI

ESCUTE AGORA NOSSA PLAYLIST NO SPOTIFY. PESQUISE “EMPODERAR VOCÊ” E CONHEÇA MAIS MÚSICAS


FILMES PARA

EMPODERAR VOCÊ

Indicação: Michelly Santos Filme: Dumplim O filme vai abordar a história de Will, adolescente gorda que é criada por uma mãe que é ex miss e trabalha com concurso de beleza. Will para desafiar os padrões desses concursos, juntamente com as amigas, se inscreve e mostra muita personalidade. O filme é cheio de críticas e empoderamento.

Indicação: Ana Beatriz Rocha Filme: Harriet Uma obra sobre coragem e mulheres que abrem caminhos. O filme Harriet (2020) conta a história de uma mulher negra escravizada no sul dos Estados Unidos antes da Guerra Civil. Após fugir da fazenda onde era explorada com a família, Harriet inicia um caminho de volta para resgatar da escravidão todos os seus familiares e amigos. É um filme sobre a bravura de uma abolicionista que nunca desistiu da liberdade. Indicação: Beatriz Alcântara Filme: O ódio que você semeia O filme acompanha Starr Carter, interpretada por Amandla Stenberg, que presencia o assassinato do seu melhor amigo por um policial branco. A narrativa do filme traz questões raciais em diversos âmbitos e é focada na mudança de percepção de realidade de uma jovem negra depois de presenciar um ato brutal de racismo. Indicação: Gabs Ferrera Filme: Eu me importo O filme faz uma crítica através da protagonista Marla Grayson (Rosamund Pike), uma Curadora que rouba seus clientes idosos e ricos, alegando para o Estado que eles são incapazes de cuidar de si mesmos. Indico esse filme porque, além de trazer essa temática, te prende do início ao fim e possui um final surpreendente.

Indicação: Raquel Duarte Filme: A felicidade por um fio A comédia romântica tem todos aqueles clichês que já estamos acostumadas, mas, ao mesmo tempo, traz assuntos relevantes que nos fazem pensar sobre a vida. Se eu pudesse resumi-lo em apenas uma palavra seria: autoconhecimento. É exatamente sobre isso que o filme fala. Um processo lindo e libertador.

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michelly santos

carta aberta

a todas as mulheres da minha vida 8

Foto: Unsplash // Priscilla Du Preez

8


Desde a minha infância eu fui cercada

////////

Dona Lene, minha mãe, trabalha

de mulheres. Minha mãe, o exemplo que te-

desde os doze anos, em uma granja de avi-

de mim todos os dias de manhã com o beijo

minha mãe e meu pai trabalhavam o dia

nho mais forte na minha cabeça, se despedia

na bochecha. A marca de batom vermelho que ela deixava no meu rosto, era uma mensagem: tô indo, mas de tarde eu chego.

cultura, no interior de Pernambuco. Como todo, mainha me deixava na casa de dona

Fátima, que morava em frente à nossa casa.

Dona Fátima me acolheu em sua

Antes da despedida matinal, ela acor-

casa como filha. Também tive a companhia

preparar o café e se arrumar. Em alguns des-

ceição. Passava boa parte do meu tempo

dava às 5h da manhã, ligava o rádio, para ses dias, eu ia até à frente de casa esperar

ela sair. Entre uma notícia de morte e outra, muitas vezes de mulheres assassinadas, o rádio voltava à programação de música.

Muitas das nossas despedidas mati-

nais foram ao som de Velocidade da Luz, música do grupo Exaltasamba.

Não tenho nada a pedir,

também não tenho nada a dar

Por isso é que eu vou me mandar vou-me embora agora

das filhas de Fátima; Kátia, Juliana e Conconvivendo com elas e não tenho do que reclamar da minha infância e adolescência. Na escola, também tive muitas profes-

soras. Mulheres que sempre me incentivaram quanto ao meu desenvolvimento escolar e me encorajaram nos meus planos futuros.

Foi também na escola, mais especi-

ficamente no ensino médio, que encontrei minhas amigas de longa data, quase dez

anos. Heloísa, Ana Karla, Duda, Thainan,

Gabriela, Taty e Tayane. O ensino médio, com todas as suas dificuldades, foi um mo-

mento de suporte mútuo entre nós. Lembro

dos nossos planos, sonhos e desejos. De um 2013 de dúvidas em relação ao vestibular,

Vetor: Freepik / rawpixel.com

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////////

das nossas idas ao Recife para fazer as pro-

nua porque entendeu que a comunicação

sempre houve respeito, ajuda e torcida.

de tudo que as aprisionam.

vas. Nunca houve competição entre a gente, Na faculdade, tive medo do que iria

pode informar mulheres de seus direitos e Então eu quero agradecer a cada

encontrar. Mas sabe aquela história de que o

uma. Pelas palavras, pelo apoio, pelos

do você menos espera. Bom, eu prefiro acre-

perceberam, mas eu contei um ciclo de

universo vai trazer o amor da sua vida quan-

ditar que o universo me mandou mulheres que me deram amor da forma mais ampla. Foi na universidade que encontrei Ana, Iasmin, Sofia, Natália, Thaís e Ada.

Cada uma de sua forma me apre-

sentou acolhimento. Foi e está sendo uma fase em que preciso bater de frente

com diversos sentimentos acumulados. E a presença de cada uma me fez sentir que eu valia a pena. Eu valia à pena como

gestos mesmo intencionais. Não sei se ajuda. Ajuda feminina. Ajuda de dona Fátima com minha mãe, das minhas professo-

ras e das amigas que conquistei na escola e na faculdade.

Esse ciclo de ajuda é muito forte. É tão

forte que deixa muita gente preocupada.

E se preocupa é porque estamos no

caminho certo.

profissional, como futura jornalista, como

fotógrafa, como uma mulher que precisa lutar contra uma sociedade que é tão violenta com a gente.

Também encontrei Raquel, que

me deu a oportunidade de ser

dito. Raquel faz um trabalho de uma equipe, um

trabalho que não é

financeiramen-

te remunerado, mas ela conti-

10

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fora o que eu acho

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RAQUEL DUARTE

Todos pelo aratu! Foto: Arquivo Pessoal

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Foto: Arquivo Pessoal

PROJETO SOCIAL “TODOS PELO ARATU” AJUDA FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE POBREZA EM COMUNIDADE DE JOÃO PESSOA Mesmo com a pandemia, o projeto segue ativo levando acolhimento, solidariedade e ajuda Renata Medeiros Martins de 43 anos,

é a grande idealizadora do projeto social “To-

ografia e Estatística (IBGE), divulgou uma

março de 2019 ajudando diversas famílias.

viam cerca de 52 milhões de brasileiros na

dos pelo Aratu”, que está desde o dia 08 de Iniciando em uma data importan-

te, que representa a história e resistência das mulheres, o projeto traz em si a força

e união de 50 mulheres, que juntas, for-

mam o “Guerreiras do Aratu”. Essa equipe está dividida entre vários grupos que ficam

responsáveis pelo gerenciamento e acolhimento as famílias, desde as visitações, até as distribuições das doações.

12

Em 2020 o Instituto Brasileiro de Ge-

pesquisa onde mostrava que em 2019 hapobreza. Esse índice mostra a realidade de

desigualdade em que vivemos, e foi vendo

essas situações acontecendo ao seu redor, que Renata, atualmente trabalhando como

Supervisora Escolar, resolveu criar o projeto.

“A ideia surgiu quando percebi a necessidade de “organizar” e socorrer as pessoas em situ-

ação de extrema vulnerabilidade na comunidade do Aratu”, disse Renata.


Segundo ela, projetos so-

ciais e ações de responsabilidade

////////

social sempre foram primordiais e representam uma maneira

positiva de atuar no desenvolvi-

mento e na melhoria da sociedade como um todo.

A Comunidade Aratu, que

está localizada no bairro de Man-

gabeira, é uma das maiores ocupações de João Pessoa, na Paraí-

ba, com aproximadamente 4 mil famílias.

Apesar do grande índice

de pobreza mostrado pelo IBGE, o período de pandemia, que se

iniciou no começo de 2020 pode ter levado mais famílias a situa-

ções precárias. Só nesse período, segundo Renata, foram doadas 3.182 cestas básicas, assim como

medicações, produtos de higiene

pessoal, roupas, livros e brinquedos. Além dessas doações, toda

a equipe ajuda pagando contas

de energias que foram cortadas,

encaminham as demandas jurídicas, doam enxovais de bebês e tudo que estiverem precisando.

Sobre os motivos que le-

vam essas pessoas a viverem em lugares como a Comunidade Aratu, Renata é direta: “Falta

de oportunidade, desemprego, falta de renda. Muitos sequer

tem acesso à ajuda do governo federal como bolsa família e cartão alimentação.”

Foto: Arquivo Pessoal

Para ela, o Governo ajuda a invisibilizar essa população, quando

não garantem políticas públicas efetivas, que visem diminuir e tirar es-

sas pessoas da pobreza. Vale lembrar que todo cidadão tem o direito a educação e saúde de qualidade, mas, na prática, isso não acontece.

Para a Comunidade Aratu, essas feridas estão abertas de diversas formas. Segundo Renata, muitas crianças não puderem continuar os es-

tudos na pandemia devido à falta de celular e internet, não há Programa Saúde da Família (PSF), nem agente de saúde que faça visitações as famílias. Não há creches, nem escolas na comunidade, e muitas não

conseguem ir às instituições de ensino mais distantes. Outro fato é a falta de coleta de lixo, fazendo com que muitos moradores queimem,

enterrem ou joguem a céu aberto os seus lixos, o que acaba gerando muitas doenças, como problemas respiratórios. Também há falta de

água e saneamento básico, crianças com doenças sem tratamentos, além de desemprego e fome, que é o mais presente na vida dessas

pessoas. Por isso o projeto se torna tão necessário, estando na linha de frente tentando combater e minimizar essa desigualdade.

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////////

Foto: Arquivo Pessoal

Hoje o projeto tem uma organização

instagram: @todospeloaratu, ou pode entrar

social dos moradores, e uma equipe especia-

83 98777.4623. O projeto aceita doações pelo

própria, ondem elas organizam uma ficha lizada realiza visitas e listam as necessidades

mais urgentes de cada família, dessa forma elas conseguem saber como destinar cada

doação, que ocorre de forma rápida, sendo repassada assim que chega.

A desigualdade não é um mito ou um

exagero, ela é presente e faz parte da realidade de muitas famílias, que lutam diariamente pela sobrevivência e para serem

em contato direto com Renata pelo número

PIX (89310942487 - CPF) e também alimentos, medicações, roupas, brinquedos e etc. Por fim, Renata deixa um recado:

“Divulguem e compartilhem nossas

ações para que a sociedade civil e o poder

público nos reconheça enquanto pessoas, porque nós existimos!”

vistas e amparadas.

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ct

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em ajudar, basta seguir no

k/

pc

sobre o projeto, e tiver interesse

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Quem quiser conhecer mais Ve to r : Fr e e p i


beatriz de alcântara

A arte imita a vida:

quando o debate ultrapassa os limites da quarta parede

Foto: Reprodução / Sony

15 15


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A série Grey’s Anatomy usa o espaço

encerrado e sempre me pego emocionada

cismo e combater o negacionismo ligado à

ela conseguiu, mais uma vez, resgatar mi-

na tv aberta americana para falar sobre rapandemia do novo coronavírus.

Me tornei consumidora de filmes e se-

riados televisivos ainda muito nova. Ir à locadora de fitas vhs (sim, ainda!) e dvds era uma

das melhores coisas do meu dia durante a infância e tive a sorte de morar em uma rua que

tinha uma dessas logo na esquina. Desde então, cresci imersa nesse universo. Sigo uma apaixonada e, cada vez mais que conheço

técnicas e linguagens de bastidores, menos

me apego a isso. Continuo mantendo acesa

em mim a chama de se encantar por histórias e personagens, por vivências, e que os planos e enquadramentos me perdoem…

De muitas das minhas paixões entre

tantas coisas já assistidas nesses mais de 20 anos de idade, Grey’s Anatomy é um caso antigo. Uma relação meio conturbada, com

altos e baixos, que já jurei a mim mesma ter

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ao fim de um novo episódio, sentindo que nha atenção e relembrar ao meu coração o porquê chegamos até aqui. Em 17 anos de

série, uma temporada após outra, Grey’s se

mantém dedicada em registrar o máximo de verossimilhança com a realidade em suas te-

las e talvez essa seja a sua receita de sucesso.

Sendo assim, em 2020, no início das gravações da décima sétima temporada, não seria

difícil de imaginar que o seriado optaria por levar ao Grey-Sloan Memorial Hospital o drama da covid-19, mas não somente.

Em uma sequência de episódios arre-

batadores, expondo a realidade dos médicos

e enfermeiros em linha de frente, trazendo de volta personagens amados pelo público e

debatendo a questão racial ligada à covid-19, o episódio 12 da temporada atual conseguiu ir ainda mais além. A narrativa em cena desta

vez girou em torno do paralelo entre os pro-

testos ligados ao caso de George Floyd e a dinâmica do dia a dia do hospital da série, lo-

Foto: Reprodução / Sony


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calizado em Seattle. Antes de te contar mais

ideais médicos de Miranda Bailey, cirurgiã

tualizar um pouco… Vamos lá!

ultrapassam as telas e chegam até nós, nos

sobre o episódio em questão, preciso contexO caso de George Floyd chocou os Es-

tados Unidos e o mundo em maio de 2020 quando escancarou - mais ainda - o racismo

policial vivido pelos cidadãos negros estadunidenses. Na ocasião, George Perry Floyd Ju-

geral do hospital. Na verdade, os dilemas

fazendo questionar até que ponto é possível

desacreditar, ou melhor, acreditar em teorias da conspiração com relação a algo que leva, diariamente, milhares de vidas e sonhos.

Contudo, a verdade é que o mais arre-

nior foi brutalmente assassinado em Minnea-

batador do episódio pra mim está diretamen-

Michael Chauvin, que ajoelhou no pescoço

Lives Matter e o racismo policial. Seguindo

polis, sendo estrangulado pelo policial Derek de Floyd durante uma abordagem, após acu-

sá-lo de usar uma nota falsa de vinte dólares em um supermercado. Chauvin não parou até a vítima ficar incons-

the” (“Eu não consigo

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gritando “I can’t brea-

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te, vir a óbito. Mesmo

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ciente e, consequentemen-

d ro

Son o/

respirar”, em português), George Floyd

não foi ouvido e,

assim como ele, ou-

tros milhares morrem

diariamente vítimas do

racismo. (No dia 20 de

abril, Derek foi finalmente

condenado pela Justiça dos EUA

pelos crimes que cometeu). Trazendo os

números para o Brasil, dados da Rede de Observatórios da Segurança de 2020 demons-

tram que os negros representam 75% das vítimas de violência policial no país.

Já retomando o enredo do episódio,

Grey’s Anatomy desenvolveu em primei-

ro plano uma sequência em torno de um paciente que não acreditava no vírus da

covid-19, mesmo testando positivo para a doença. Ao se negar a receber o tratamen-

to necessário para conter os sintomas da

covid, o paciente vira de ponta a cabeça os

te ligado à segunda trama destacada, o Black o contexto do caso de George Floyd, as dis-

cussões seguem por dois caminhos. Enquanto em Seattle, personagens se

dividem em participar de protestos e em compre-

ender a importância

de se lutar nas ruas por uma causa; do outro lado, entre

Boston e Seattle, o médico Winston

Ndugu, cirurgião

cardiotorácico

envolvimento

e

afe-

tivo da personagem

Maggie Pierce, é aborda-

do por uma viatura policial

no meio da estrada - e vale ressaltar

que ele estava respeitando os limites de velocidade e as demais leis de trânsito.

Sobre esse segundo ponto, é angus-

tiante e devastador a forma como o episódio apresenta a abordagem policial. Winston, que estava em ligação com Maggie até então, é

obrigado a desligar a chamada e daí entramos no desespero da cardiologista ao não conseguir entrar em contato com o amado. Sim, a

angústia quebra a quarta parede, quebra as pernas do espectador e o coração também. A

arte imitando a vida choca e incomoda, prin-

17


cipalmente àqueles mais ligados ao contexto

No episódio, Winston consegue re-

retratado. Sempre sofro ao ver cenas de ra-

tornar as ligações de Maggie e explica o que

tocam em um lugar muito íntimo e subjetivo,

nagem destaca que não está bem depois do

cismo. Sejam na ficção ou na realidade. Elas

elas mexem com uma empatia ancestral, se é

que isso existe. Elas trazem à tona memórias

minhas e dos meus. Elas são gatilhos, profundos e dolorosos, de situações que não neces-

sariamente vivi, mas coexisto entre o medo de que vá vivê-las - me entende?

Grey’s encerra o arco do episódio re-

forçando o discurso da necessidade de fazer mais pelas causas que se acredita - e no caso em questão, com relação ao racismo. Mas,

também mostra que existem diversas formas de se lutar por algo, sem necessariamente es-

tar na linha de frente de um protesto. O fato é que, para eu estar aqui hoje, dando minha

opinião com tanta liberdade em um espaço

que, acima de tudo, me enxerga e me respeita, outras tantas mulheres e pessoas negras

precisaram ‘lutar diversas lutas’ e possibilitar

aconteceu. É realística a forma como o perso-

que houve. Ele foi questionado, revistado e invalidado. Por ser negro. Por existir. E assim que se passaram os quarenta e poucos mi-

nutos de cenas, lá estava eu em lágrimas. Ao

mesmo tempo que me sentia acolhida pelo abraço de Maggie em Winston quando ele chega em Seattle em segurança, também era

inundada pela dor que ali estava presente. Reconhecida - e grata - por tantos privilégios e repensando também esse lugar em que

estou e o que posso fazer quanto a isso. São tantas perguntas, respostas, insights e sensações que só me resta, por hora, escrever. Colocar no papel e passar adiante.

Se a vida imita a arte eu não sei, mas

toda vez que a arte imita a vida, eu me quebro e me reconstruo um pouco mais.

isso. E as coisas que escrevo hoje, que vivencio, que defendo e luto, serão responsáveis por abrir mais portas, caminhos e janelas para outras mulheres negras mais à frente. Esse é o ciclo. Tudo conta, nada é em vão.

CONHEÇA A SÉRIE GÊNERO: Drama médico

SOBRE: Protagonizado Dra. Meredith Grey, residente do hospital Seattle Grace, o mais rígido programa

cirúrgico de Harvard. A série é focada nela e mostra as dificuldades pelas quais ela e os colegas passam no trabalho.

ONDE ASSISTIR: Netflix.

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ana beatriz rocha

Produção de conteúdo e a geração de insatisfeitos

As redes sociais fantasiam um ideal de liberdade, mas o capitalismo não dorme Foto: Unsplash / Sara Kurfeb

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As luzes da cidade já se apagaram há

algumas horas, lá fora só resta o silêncio in-

terrompido em grandes intervalos de tempo com pneus que cantam a pressa do entre-

gador para encerrar o dia de serviço, pôr a

roupa de dormir e descansar da exploração interminável. Aqui me resta uma luz única, da

tela que me transporta para casas de outros tantos que eu não seria capaz de contar.

Quantas vidas consumimos num só

dia? Quantos deixamos que entrem nas

nossas sem pedir licença? Não tem sido um problema, até porque só vemos e dividimos recortes, só expõem as partes desejadas e

desejáveis aos olhos do mundo. Venho me perguntado se o que nos conecta é real ou fantasia pós-moderna aprendida em carro-

ceis de posts que indicam as soluções para parte dos nossos problemas.

Não me leve a mal, eu reconheço a im-

neja para nossos levantes e, insistentemente, tenta nos vencer pelo cansaço.

VÁRIAS VIDAS NUMA SÓ REDE Vamos ao Instagram, a rede social que

é uma das preferidas dos brasileiros, e a cada ano que passa tem reunido mais funções e se

tornado uma super rede. O Instagram é capaz

de centralizar usos como relacionamentos, empreendedorismo, produção e consumo

dos mais diversos conteúdos e muito mais.

Desde 2012 a rede pertence ao Facebook, uma plataforma tão famosa que tem se en-

volvido nos últimos tempos em recorrentes polêmicas de vigilância, coleta e distribuição de dados pessoais dos usuários para fins políticos e propagandísticos.

Um conglomerado diretamente do

portância das redes sociais para a dinâmica vi-

Vale do Silício, polo tecnológico localizado

digital e achar que são coisas dissociadas uma

ções pessoais e cria mais e mais ferramen-

gente. Não há como partir o mundo “real” do da outra. Retroalimentação. Quantas vozes se

unem para defender uma vítima de violência cuja história só veio a público graças aos aplicativos de trocas de mensagem e a rede do

passarinho azul? Diversos grupos minorizados se conectam numa rede de apoio que tem

sido capaz de ditar debates imprescindíveis sobre liberdade e justiça social.

nos Estados Unidos, reúne nossas informatas não só para facilitar nossa comunicação cotidiana, bem como para produção de uma infinidade de conteúdos. Da política ao en-

tretenimento, em todo nicho que pensarmos é possível que haja diversas criadoras e criadores destinados a espalhar informação e/ou diversão para que você passe o tempo.

Uma das características muito pesqui-

No entanto, algumas evoluções socio-

sadas acerca do Instagram é o potencial de

minar o sistema econômico que se sustenta

rando o ranking de impactos negativos, de

políticas não foram suficientes (ainda) para pela desigualdade e se alimenta de violências estruturais. Sim, falo do capitalismo. Falo

da selvageria cíclica que não se esquiva de

discussões, nem se anula das agendas que surgiram nos últimos anos. Como um mau

presságio, sempre atento, ele se antecede às

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nossas tentativas de emancipação, ele se pla-

prejuízo à saúde mental dos usuários. Lide-

acordo com um estudo da instituição de saúde pública do Reino Unido, Royal Society for

Public Health, em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, a plataforma é a mais nociva quando o assunto é propensão à ansie-

dade e depressão. Os malefícios disso para


////////

quem utiliza, majoritariamente, de forma

alcance ao passar uma semana sem postar

feitas e o senso de comparação proveniente

experimentando todas as outras possibilida-

passiva tem a ver com a falácia de vidas perda inundação de conteúdos.

Esse debate já vem sendo levantado

há um tempo, e eu mesma já escrevi um ar-

tigo acerca do tema. Mas 2020, com toda sua perspicácia e necessidade de inovação, atro-

pelou todos os planos com uma pandemia devastadora que vem adoecendo muitos,

ceifando a vida de várias pessoas, e tirando todo mundo da zona de conforto. Dores que

seguem latentes em 2021. Mas a quarentena

plantou, em muita gente, a sementinha do “e se eu criasse um conteúdo na internet?”.

Bingo. Equipamentos de áudio e vídeo

sendo vendidos como água, grupos de amigos sentindo o impacto do “divulga meu vídeo, por

favor” dia sim, dia também. E que bom que

estamos criando, que bom que falamos após tanto tempo num silêncio opressor. A problemática surge na esteira capitalista do funcio-

por estar triste, doente, ou ocupada demais des de vida que se tem enquanto humana.

HUMANOS DE MENOS Na ausência de liberdade o sentimen-

to de insatisfação ecoa em um looping, entre

crescimentos e perdas, nunca seremos suficientemente bons, ou daremos conta de cons-

truir nossas vidas entre trabalho, estudo, espiritualidade, exercícios físicos, boa alimentação,

leituras pessoais, relacionamentos, tempo de lazer e ainda produzir o melhor dos conteúdos.

E se pertencemos a grupos minorizados, o que é bem comum numa lógica opressora tão bem estruturada, ainda temos que lidar com os so-

frimentos que esse lugar social nos traz. Se vai dar certo? Não foi feito para dar certo. Da Maisa para baixo vivemos uma geração de produtores. Uma geração de insatisfeitos.

Por entender tudo isso me questiono

namento das redes sociais. Elas não me permi-

se vale a pena, se faz sentido tentar entrar

Inteligência Artificial, exigem de quem produz

já existe, e tentar reproduzir o que já se tem

tem um tempo humano de criação. Na Era da

conteúdo um rendimento robótico e constante, um demonstrativo diário de uma vida inte-

ressantíssima capaz de entreter milhares de

seguidores (que você precisa alcançar, afinal, que tipo de criadora “flopada” é você?).

O que deveria ser celebração da criati-

vidade se tornou ditadura da produtividade.

nesse universo de criadoras nos moldes que na espera de um alcance que talvez nunca venha. E se vier, quanto de mim eu terei deixado pelo caminho? Não acredito que na tro-

ca mercadológica que a tentativa requer eu

esteja disposta a entregar minha subjetividade pelos números prometidos.

Sem despedidas, a virada tecnológica

Num mar de likes e compartilhamentos, a

está posta, e continuaremos usuárias e pro-

cesso que poderia ser tão bonito, se respei-

que seja assim então, que eu utilize as redes

auto cobrança destrói potências, e um pro-

tado na fluidez orgânica, tende a tornar-se exaustivo. Atrelamos as conexões recentes à

liberdade, mas tem pouca coisa de livre em ter que produzir o tempo todo para garantir um engajamento que você mesmo já conse-

guiu, em alguma medida. Não é livre perder

dutoras de algo, quer queira, quer não. Mas nos meus moldes, na minha dinâmica e no

meu ritmo, que eu não seja utilizada por elas. Repensar nossa presença nas plataformas digitais é questionar os mecanismos capitalis-

tas de controle de corpos e de subjetividades no mundo contemporâneo.

21


RAQUEL DUARTE

Os desafios do

empreendedorismo materno

Um papo real sobre dupla função e romantização da mulher que dá conta de tudo com a idealizadora da marca 083 Store. 22

Foto: Arquivo pessoal


////////

Estamos em maio, mês de comemora-

ção ao dia das mães, e pensando nos desafios do empreendedorismo materno, convida-

mos Maryana Simões, dona da loja 083 Store para conversar sobre dupla função e a romantização da mulher que dá conta de tudo.

Segundo o estudo “Empreendedoras

e seus Negócios”, realizado pela Rede Mulhe-

res Empreendedora (RME), 53% das empre-

endedoras são mães, e 68% das mulheres

que tiveram filhos, buscaram o empreendimento como forma de conciliar as demandas que foram surgindo.

Para Marayna, a situação é a mesma.

Aos 25 anos e com 2 filhos, precisou empre-

ender como uma forma de proporcionar

uma vida melhor aos filhos e de estar inserida no mercado de trabalho, já que para mu-

lheres que são mães, as oportunidades são bem menores.

Sobre essa exclusão no mercado há

um nome: Penalidade materna. Na sexta

edição da Empoderar Você escrevemos um

pouco mais sobre esse termo, que fala sobre como as mães são mais penalizadas do que os pais, e como isso repercute tanto na demissão quanto na diminuição de salários.

A partir dessa ideia, chegamos em

Foto: Arquivo pessoal

um questionamento. A sociedade cobra

EV: COM QUE IDADE VOCÊ SE TORNOU MÃE

empregam quando tem filhos, pois há um

TORNOU MÃE PELA SEGUNDA VEZ?

que as mulheres sejam mães, mas não as

julgamento sobre mulheres que escolhem trabalhar, e um vangloriamento do pai que trabalha. Uma conta que não fecha, e que leva muitas mulheres a empreender.

Maryana Simões faz questão de falar

sobre o empreendedorismo materno nas

PELA PRIMEIRA VEZ E COM QUE IDADE SE

Tive meu primeiro filho aos 22 anos e a

segunda com 25 anos

EV: COMO E QUANDO VOCÊ COMEÇOU A EMPREENDER?

Desde que eu me entendo por gente

suas redes sociais e das dores e alegrias des-

eu sempre tentei de tudo nessa vida pra con-

mais conosco sobre isso.

vendi água na praia, joias, roupas, doces. Já

sa função, e aqui ela conversou um pouco

seguir minha independência financeira. Já

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tentei de tudo um pouco. Mas em 2017, o arte-

desafio, porque no meu ateliê a pessoa res-

sanato me encontrou. Na minha primeira gra-

ponsável por tudo sou eu. Desde a confecção

meu esposo, conseguimos montar o enxoval

vendas depende exclusivamente de mim.

videz eu estava desempregada, assim como do nosso primeiro filho através de doações e

presentes de amigos e familiares. Na busca de encontrar uma renda, junto ao interesse de fazer algo para decorar o quartinho do meu

filho, o artesanato me encontrou. Procurei produtos para decoração em tricotin e fiquei

encantada. Era algo que eu idealizava muito no enxoval do meu filho. Como toda mãe,

sonhava com o quarto dos sonhos. Trazendo aquisição de um produto artesanal para minha realidade, a chance de conseguir comprar era zero, porque a minha única renda eram os brigadeiros que eu vendia na faculdade. Foi quando me veio a ideia de tentar aprender e

fazer. E deu certo. Como era uma tendência, logo surgiram as primeiras encomendas.

das peças, a criação do conteúdo para captar

EV: E COMO É SER EMPREENDEDORA E MÃE AO MESMO TEMPO?

Ser mãe e empreendedora se resume

a: “todo dia um surto diferente”. Brincadeira, mas é verdade. Mas por aqui está sendo sem-

pre um dia de cada vez. Alguns dias as crianças demandam mais que os outros e a gente vai vivendo um dia de cada vez.

EV: COMO VOCÊ CONCILIA SEU TEMPO ENTRE OS FILHOS E O TRABALHO?

Por aqui eu determinei um horário cur-

to de expediente das 14 às 17, que é quando já tem passado a correria de dedicação total

Foto: Arquivo pessoal

as crianças. Nesse horário definido tento otimizar o máximo possível a produção.

EV: VOCÊ ACHA QUE HÁ UMA ROMANTIZAÇÃO DA MULHER QUE DÁ CONTA DE TUDO?

Nossa, demais! E isso frusta muitas

mães reais. Querer dar conta de tudo, pelo

menos por aqui, é algo impossível. Sempre alguma coisa fica a desejar... Seja a roupa suja acumulando, louça na pia. Por aqui, em

época de alta demanda, o foco é o necessário: higiene, alimentação. O resto eu vejo depois que o furacão passar. EV: PRA VOCÊ, QUAL O MAIOR DESAFIO DE EMPREENDER?

Hoje, com a chegada de Catarina, tem

sido desafiador demais conciliar a jornada de mãe de dois, com todas as funções que já são

atribuídas a uma mulher. Todos os dias é um

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EV: VOCÊ JÁ PENSOU EM DESISTIR DE EM-

PREENDER PARA SE DEDICAR 100% AOS FILHOS?

Meu ateliê existe há quase 4 anos. E

nesse meio tempo já fiz algumas pausas para

rever algumas prioridades. Já fiquei ausente


das atividades por cerca de 6 meses para poder me dedicar e me conectar mais com meu

filho. E sim, já pensei muito em desistir. Mas

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marido... Nas duas ocasiões, somos cobradas, e ai da gente se não der conta.

eu digo que é no meu trabalho que encontro

EV: SEU ESPOSO DIVIDE OS CUIDADOS DA

que possuo vem da 083store.

CIONA A DIVISÃO?

tempo pra mim. Só que hoje, a única renda EV: VOCÊ ACHA QUE O MERCADO DE TRABALHO É MAIS DIFÍCIL PARA AS MULHERES QUE SÃO MÃES?

Eu estou me formando em engenharia

civil, uma profissão que por muito tempo foi

masculinizada. Hoje, com dois filhos, eu vejo

que para exercer a minha profissão de formação ainda existe muitos paradigmas a serem

quebrados. A sociedade julga muito a mulher, a mulher e mãe então o combo do julga-

mento é dobrado. Toda decisão que a gente tomar com relação a vida profissional, sem-

pre vai ser associado a cuidar ou não dos fi-

lhos. Consegue entender? E sem falar que ter filhos ou não acaba sendo requisito. Já que

a sociedade sempre associa a figura materna a única responsável pelos cuidados com os filhos. Tipo Aquela pergunta clichê que rola nas entrevistas “e se seu filho adoecer?”.

EV: VOCÊ ACHA QUE HÁ UMA COBRANÇA

DAS PESSOAS SOBRE VOCÊ SER MÃE E TRABALHAR?

Demais. O fardo da maternidade sem-

pre vai sobressair para quem pariu. E essa per-

gunta ela me faz pensar em duas concepções: a primeira é relacionada ao julgamento sobre a mulher que decide se dedicar a sua vida pro-

fissional, e como consequência a gente escuta

sobre estar terceirizando os cuidados com o filho. A segunda é sobre a mulher que “pausa” a sua vida para se dedicar exclusivamente ao

seu filho, que é taxada da que vive as custas do

CASA E DOS FILHOS COM VOCÊ? COMO FUN-

SIM! Graças a Deus meu esposo cumpre

a sua obrigação como pai. Eu sou muito privilegiada por ter essa parceria aqui em casa.

Com relação as tarefas, a gente não divide

as obrigações, usamos sempre o bom senso tanto com os cuidados com as crianças, como

nos afazeres de casa. E como Gustavo sempre gosta de assumir a cozinha, eu geralmente fico com a outra parte, mas nem por isso reali-

zo sozinha... meus filhos têm um pai presente

e isso faz toda a diferença tanto no dia a dia, como na vida da mãe sobrecarregada.

EV: QUAL OS MAIORES DESAFIOS DO EMPREENDEDORISMO MATERNO?

Pra mim, o maior desafio é conciliar

a rotina com as crianças vs afazeres de casa.

Pra fazer um negócio acontecer de dentro de

casa é preciso muita persistência e determinação, primeiro que de companhia vamos

ter sempre o sofá da sala chamando pra pro-

crastinar e segundo que nunca deixaremos de ter os afazeres de casa.

EV: QUAL CONSELHO VOCÊ DARIA PARA QUEM EMPREENDE E QUER SER MÃE?

Bem, para quem já empreende e quer

ser mãe, meu conselho é que construa uma boa rede de apoio. Aos poucos a rotina do

bebê se adequa e as coisas fluem. E para

quem, assim como eu, não tem rede de apoio, é luta por cima de batalha, mas um dia de cada vez e tudo dar certo.

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GABS FERRERA

O maior monstro de todos os tempos 26

Foto: Agência Brasil


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Estamos vivendo tempos cada vez

importar com as consequências e de como

sações é gigantesca, e muitas vezes confesso

casas de show lotadas, bares, lugares clan-

mais difíceis. A mistura de sentimentos e sen-

que sinto um pouco de culpa se algo me traz um sorriso. Nosso país está quase atingindo a marca de meio milhão de vidas perdidas

para a COVID-19, mas será que essa responsabilidade foi só do vírus?

O ser humano é um ser egoísta. Alguns

mais, outros menos, mas todos são. Todos

nós temos nossas prioridades e estas, são

guiadas pelos nossos valores, pelo nosso caráter e por tudo aquilo que acreditamos ser

o certo. Tenho observado que o ser humano

aquilo impacta na vida do outro. Observo

destinos. As pessoas festejam a morte – sim

– pois existe uma razão para elas saírem pela tangente, de “fininho”, “em off”, sem postar

as suas escapadas. Sabem que é errado. Não querem ser rotuladas de Monstros, afinal elas só queriam se divertir. Monstros não fazem

isso, certo? Alguns mais descarados fazem questão de registrar e se confrontados, pron-

tamente reclamam: “você é fiscal da vida dos outros? Morre gente todo dia.”

O ser humano não aprende com o erro.

tende a se afastar daquilo que é sua respon-

Tudo bem, alguns aprendem, mas nem to-

específicas. Por exemplo: seu compromisso

vários delírios, afirmei que não tinha como

sabilidade, das coisas mais básicas as mais diário com a higiene pessoal e do lar. Quantos de nós delegamos essa atividade para

terceiros, apenas por pura preguiça? Quantos de nós realizam isso para exibir um status

de potência financeira? Quantos de nós insis-

tem em não pegar numa vassoura, mesmo tendo condições de se manter em quarente-

na e ainda fazem questão de tirar o outro da

sua residência? E o pior: esses terceiros são

muitas vezes mulheres da periferia, que lutam diariamente para atingir a meta do pão

de cada dia. São pessoas que não podem sonhar, porque o básico lhes falta, o mesmo básico que os que possuem condição, fazem

questão de desdenhar. Pessoas que se contraem o vírus, não conseguem um leito de hospital, não tem plano de saúde, não po-

dem parar de trabalhar. O sonho para elas é conseguir um dia, sonhar de verdade.

O ser humano é um ser lúdico. Tenho

observado que na pandemia, isso se maximizou. Para muitos, o seu divertimento está acima de qualquer outro propósito e o fazem

simplesmente pelo prazer de fazer, sem se

dos. No início da pandemia, em um dos meus

uma pessoa perder alguém para a COVID-19 e ainda continuar apoiando um governo que

faz descaso da saúde pública, que é contra a ciência, que minimiza a pandemia, que é en-

volvido em milícia, que ataca a Constituição, que exalta a Ditadura Militar entre outras mil atitudes – um verdadeiro show de horrores.

Obviamente estava enganada. Nosso país vi-

rou chacota internacional, as pessoas estão

com medo de nós. Fecharam as portas, nos deixaram para morrer. Nosso governo negou 11 propostas para aquisição de vacinas, não respeita o próprio povo. Nosso governo lide-

ra para os poderosos, ou para os lunáticos que, só porque moram em bairro nobre, se

sentem os donos do poder (e nesse contexto, são). Ainda assim, depois disso tudo, existem

pessoas que perdem seus parentes e ainda o defende, ainda aglomeram e saem em pas-

seata a favor da morte, não a vida. Mas estes também não são Monstros, certo? Essas pes-

soas são só sem noção, afinal, a gente aprendeu que o Monstro é aquele bicho horroroso, grande e amedrontador.

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//////// Foto: Reprodução / Poder 360

O ser humano gosta de rotular o que

se hospeda em muitos de nós, em pessoas

meio que discerne esse arquétipo, também é

até admira. A justiça não condena o Monstro,

tem origem monstruosa e o que não tem. O o que cada um acredita. “Eu sou Ser Humano, jamais colocaria a vida do outro em risco,

não sou um Monstro”. O conservador diz que

um estuprador de crianças é um monstro, o religioso fanático diz que Deus permitiu que uma criança gerasse outra; O Homem de Fa-

mília se declara apoiador da independência das mulheres, mas trai a esposa, lhe inserindo numa relação de dependência amorosa e financeira já que, lhe deu motivos para só ficar em casa “pelas crianças, porque eu cuido

de tudo, meu amor”, mas quando a mulher quer terminar, ele lhe tira tudo; O Pseudo-

desconstruído diz que ama a criatura gay, mas se pergunta em voz alta como uma re-

gião reagiria, caso um homem cis usasse um

vestido; O Homem de Bem diz que o mundo está um perigo, pede a volta de Jesus, mas sonha com o dia de conseguir comprar um 38 de forma legal, parcelado via loja de departa-

mento. Pergunto: nesse contexto, o que seria

o tal Monstro, senão nós, seres humanos? Ele

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que você sequer imagina, pessoas que você a menos que ele seja preto e periférico. Não

que este último seja menos culpado, mas para essa pessoa dificilmente é dado o direito a dúvida, a investigação, a um julgamento

justo. A Justiça está para os ricos. A pessoas

como José Aranha, “Doutor” Jairinho, “Flor de Lis” e muitos, mas muitos outros.

O ser humano é engajado com tudo,

menos consigo mesmo. Nos programas de

entretenimento, são muitos os recordes de votação. Nas redes sociais, são milhões e mi-

lhões de seguidores. Nós sabemos mover

céus e montanhas para deixar os ricos mais ricos ou até mesmo dar a oportunidade para os pobres. Mas esse engajamento se estreita quando chegamos às urnas, quando o benefício é diretamente para nós. Quantos “pipo-

cam” quando o assunto é política? Quantos

dizem “não sou capaz de opinar”, mas depois,

quando o circo tá armado, querem ser formadores de opinião? E onde nós estamos para avaliar as métricas do nosso governo? Onde


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estávamos que permitimos esse shadowban

Quanta dificuldade! Pra quê falar com natura-

O ser humano é falho, hoje mesmo eu

tem, quando eu posso só aceitar 1 como a cor-

chamado Bolsonaro, nas nossas vidas?

falhei – já dizia Negra Li. E eu concordo. Mas também concordo que a gente tende a não

pesar a mão pra gente. Sempre depois do erro, vem o acalanto: “quem nunca errou né? é so-

bre isso e vai ficar tudo bem”. E assim a gente vai passando a mão e o pano pro Monstro que é o Ser Humano. Pare hoje de acreditar que a

nossa essência é Divina, é pura, é só pro bem.

Não é. Dentro de nós tem espaço pra tudo e é nossa responsabilidade fazer a filtragem disso. Pare hoje de se chocar com o que o Ser Huma-

no é capaz de fazer e tirar a responsabilidade dele, jogando para esse Ser Assustador Imaginário. Nós somos capaz de tudo! Tudo real. Mo-

tivados pelo ódio, pela falta de empatia, pela

falta de caráter e de valores, fazemos qualquer

coisa. Guiados pela sua vida lúdica em meio a uma pandemia, nós matamos e morremos.

O ser humano é covarde. Todo dia joga

a responsabilidades e escolhas da sua vida, para uma Divindade. A culpa, a decisão, a escolha, a forma... tudo é sempre Ele. Culpado! Culpado! Cortem-lhe a cabeça?

Eu sou cristã, acredito em Jesus como

uma pessoa que tentou mostrar pra o povo do seu tempo qual era o caminho. Mas se

lidade e respeito das várias religiões que exis-

reta? Pra quê deixar o povo amar quem quiser,

quando eu posso aceitar só 1 forma? Mais fácil né? Pra quê normalizar a beleza dos diferentes corpos e características, se minha indústria não fatura nada com isso? Vou vender o que?

Nesse texto, eu deixo registrado uma

carta aberta a nós, seres humanos.

A gente adora dizer que nunca é tarde,

né? Pois é. Talvez não seja tarde. Mas o número de pessoas capazes de fazer essa virada de

chave, tá diminuindo cada vez mais. Os valo-

res, o respeito, a cumplicidade, a paciência, as oportunidades de viver num ambiente

saudável, as boas relações, tudo isso também tá diminuindo. Mas a nossa fé não pode

morrer junto com a parte boa que a gente tem. Não podemos mais nos distanciar das

nossas responsabilidades. Não podemos de-

legar sempre ao outro, um cuidado que tem

que partir de nós mesmos. Não podemos mais pintar um Monstro, um Bicho Papão, e dizer que não foi a gente que deixou ele nas-

cer. Fomos nós, sim. E o que a gente tá fazendo a respeito?

Fugir não adianta. Fingir que não foi

nem aqueles que viveram com ele, puderam

com você, não adianta. Cobrar e não fazer

mas nunca e jamais responsabilizando ou-

versículo da Bíblia e virar a noite em festa

ser maioria, quem dirá nós? Sigo tentando,

tras pessoas, seres e Divindades pelas minhas decisões, pelos frutos que eu colho, po-

sitivos ou negativos. Qual o sentido da vida, se nós somos peças num tabuleiro? Assuma

as rédeas da sua, porque desde o seu nascimento, ela se tornou sua responsabilidade.

O ser humano é preguiçoso, gosta de

resumir tudo num balaio só. Pra quê debater sobre as várias interseções de um povo?

nada, não adianta. Pregar o amor postando

clandestina, não adianta. Gritar por liberdade de expressão, mas culpar a Bíblia pelo que

você decide fazer, não adianta. Orar todos os

dias, mas silenciar quando vê uma atitude que contribui para os milhares de vidas ceifadas, não adianta. Falar que está cansada da

Quarentena, do Isolamento Social, se solidarizar com as perdas das vidas, mas falar que a

pandemia veio “para nos dar um grande en-

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sinamento”, não adianta. Querer o combate à

COVID-19, mas divulgar fake news, vendendo

dependente da sua crença, sendo religiosa

whatsapp sem nem ser da área da saúde,

vamos conseguir trabalhar juntos por um

remédio sem comprovação científica pelo não adianta. Falar que é contra a corrupção, ser uma pessoa adulta com emprego e renda

fixa, mas tirar o auxílio emergencial da sua mãe desempregada – só porque tá no seu nome, pra gastar com festinha – não adianta.

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A única coisa que nos resta é a fé. In-

ou não, não deixe de acreditar que um dia,

mundo menos fantasioso, criminoso e cruel, para um lugar que valorize mais a vida, como

um direito comum a todos. Sem distinção de raça, cor, gênero e condição financeira.




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