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Tecnologia
Mapas Digitais: informação a serviço das comunidades
Você sabia que o bairro do Icuí Guajará possui 165 igrejas, 289 minimercados (ou mercearias), 52 oficinas mecânicas, 42 padarias e 82 vendas de “chopp” e gelo? Ou que o bairro da Cabanagem não possui nenhuma praça pública? Essas e outras informações estão disponíveis para todos os cidadãos da região metropolitana de Belém, por meio de um aplicativo criado pelo projeto Mapas Digitais.
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O conhecimento detalhado dos territórios assume um papel fundamental nas tomadas de decisão da gestão pública, devendo ser uma ferramenta básica nas mãos dos governos para compreender a diversidade, a complexidade e as necessidades das populações, além de permitir o investimento adequado na potencialidade das cidades e das comunidades de modo geral. E a tecnologia pode ser uma grande aliada nesse processo. Pensando nisso e estando em uma região onde as informações cartográficas estão desatualizadas, surge o projeto Mapas Digitais. Desenvolvido em regime de cooperação técnica e científica entre a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (SECTET) e a Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP) da Universidade Federal do Pará, por meio da Faculdade de Tecnologia em Geoprocessamento do Campus Universitário de Ananindeua, o projeto tem por objetivo realizar a cartografia das questões sociais, econômicas e ambientais mais sensíveis, através de mapas digitais temáticos, dos seguintes territórios da Região Metropolitana de Belém (RMB): bairro do Icuí, em Ananindeua; bairros Cabanagem, Benguí, Guamá, Jurunas e Terra Firme, em Belém, além dos bairros Nova União e São Francisco, no município de Marituba. Trata-se de uma iniciativa que, inicialmente, cartografou nesses territórios os serviços coletivos públicos e privados, como as redes de ensino, rede de atendimento em saúde, associações de bairro e centros comunitários, praças e quadras esportivas; instituições religiosas; indústrias; sistemas de transportes; diversidade do comércio e dos serviços, inclusive os da chamada economia popular e as condições dos logradouros (as vias urbanas; se estavam pavimentadas ou não, se possuíam necessidades de reparos, se estavam obstruídas por vegetação, lixo e entulho, quais seriam os trechos sob risco de alagamento ou inundação e os pontos de descarte irregular de lixo). Todas essas informações foram reunidas e colocadas à disposição da população por meio de um aplicativo chamado “TerPaz Maps”, lançado em outubro de 2021 e que está disponível para download no sistema Android.
Após a etapa de coleta de informações, o projeto foi apresentado para as comunidades das áreas selecionadas e foi iniciado o mapeamento digital, em si, por meio de levantamentos prévios em plataformas de mapas on line e sensoriamento remoto, seguido de trabalhos de campo. “A cartografia, na sua modalidade digital, é ferramenta sine qua non para auxiliar no planejamento e nas tomadas de decisões. O mapa é um recurso estratégico para o planejador e para o gestor, pois a gestão estatal não pode prescindir de informações espacializadas. Nestes termos, a ausência de informações geoespaciais causa sérios problemas de ordenamento do território, de controle ambiental e das questões sociais mais sensíveis. A informação geoespacial é fonte de conhecimento fundamental no atual contexto e possibilita ao gestor atuar com rapidez na tomada de decisões sobre o espaço”, explica
Paulo Melo, professor e coordenador do projeto.
Apesar de a pandemia da Covid-19 ter modificado a forma de atuação nos últimos dois anos, o projeto seguiu com adaptações. “Os trabalhos desenvolvidos na modalidade remota concentraram-se no levantamento documental-cartográfico (IBGE, Open Street Map e Google Earth-Pro), na montagem da base cartográfica dos territórios, na pesquisa bibliográfica, no desenvolvimento do APP Terpaz Maps e preparação de oficinas sobre cartografia e sistemas de posicionamento por satélite (GPS/ GLONASS)”, explica o professor Paulo.
A equipe responsável, composta por oito pessoas de diversas especialidades - dentre elas, bibliotecários, geógrafos, geotecnólogos, cientistas da computação, engenheiros e uma secretária executiva -, conseguiu dar andamento à pesquisa e, ao longo do tempo de execução, conseguiu como resultado mapear 7 bairros, percorrer 1.165 ruas, cadastrar 11.130 estabelecimentos, além de ofertar 20 bolsas de iniciação científica para jovens estudantes. “De-
- Paulo Melo, coordenador do projeto -
vido à natureza do projeto, a equipe é essencialmente multidisciplinar. A participação se dá por afinidade com a temática do projeto e por seleções, envolvendo provas, inclusive. A qualificação envolve o savoir-faire da cartografia digital, dos bancos de dados geográficos, da programação e etc”, comenta o coordenador.
Para que se mantenham ativos e acompanhem a demanda sempre crescente de necessidades e de atualização da gestão pública, projetos de inovação e tecnologia precisam de suporte permanente. A FADESP é uma das parceiras estratégicas do Mapas Digitais. “Como fundação de amparo à pesquisa, [a FADESP] tem papel fundamental, pois realiza a gestão administrativa e financeira do projeto. Nós, pesquisadores, não temos essa expertise, além de que isso nos tomaria muito tempo. Então o fato da UFPA possuir uma fundação do porte da FADESP é algo a ser comemorado por toda a comunidade científica do Estado”, afirma Paulo Melo.
Além do apoio da FADESP, o projeto Mapas Digitais também atua lado a lado com quem mais importa: a comunidade. “O mapeamento contou com a participação direta da comunidade através de lideranças comunitárias e jovens estudantes que participam como bolsistas/ estagiários do projeto. Foram selecionados vinte estagiários oriundos dos bairros objetos do projeto e estes receberam treinamento e participaram como bolsistas de iniciação científica. Assim, este projeto foi desenvolvido de maneira participativa e colaborativa”, menciona o coordenador. O projeto Mapas Digitais tem previsão de duração até o mês de Janeiro de 2023.
Foto: Freepik