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Resumo. Este trabalho tem por objetivo resgatar, reproduzir e apresentar alguns brinquedos e brincadeiras de cunho popular que fizeram ou fazem parte da infância de cada criança da região, trazendo também uma abordagem sobre seu funcionamento e os princípios relacionados com a Física. Os brinquedos populares, não apenas pelo seu caráter lúdico e estético, mas, sobretudo pela carga cultural e simbólica que representam, são potencialmente relevantes para uma inserção no ensino de ciências. A partir das intervenções na escola ou em espaços informais de educação, será possível ao professor avaliar o alcance da proposta, identificando nos diálogos e nas argumentações dos envolvidos, traços característicos que sugiram posturas e atitudes científicas diante dos fenômenos e questões suscitadas.
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1. Introdução Quando um jovem ou adulto interage com um determinado brinquedo, mais que brincando, muitas vezes sente-se estimulado a buscar respostas de como funciona aquele brinquedo - neste momento ele, segundo Paulo Freire, está cultivando uma “curiosidade epistemológica”. A ludicidade despertada pelo “Pião”, por exemplo, é acompanhada por uma visão crítica, onde , utilizando de seus conhecimentos prévios, seja do senso comum ou da ciência, a pessoa tenta explicar o que acontece com aquele brinquedo (Figura 1) que apesar de sustentado apenas emu ma pequena ponta, permanece equilibrado, mantendo a posição quase vertical enquanto gira em torno de seu próprio eixo.
Figura 1. Pião Fonte: http://www.deusaindafala.com/wp-content/ uploads/2016/09/pi%C3%A3o.jpg
O ato de brincar propicia aprendizados. Na brincadeira, o indivíduo vivencia regras sociais, éticas e das ciências naturais. Interage com leis, conceitos e fenômenos físicos, ainda que os desconheçam cientificamente. Ramos e Ferreira (2004, p. 120) afirmam: [...] quando se aprende a andar de bicicleta estão em “jogo” habilidades físicas (equilíbrio, coordenação motora,...) e intelectuais (controle da força, controle do freio, controle da direção,...). Aprende-se na prática a conviver com o momento angular das rodas e o torque para realizar curvas, sem que nenhum desses nomes apareçam. Não se fala “que tal aprender a brincar com o momento angular e o torque?”, fala-se “que tal aprender a andar de bicicleta?
As experiências com utilização de brinquedos podem levar os alunos a uma nova visão sobre as ciências, em especial sobre a Física. Utilizar a ludicidade presente nos brinquedos para despertar a curiosidade e, por conseguinte, propiciar um aprendizado útil e eficiente é uma das opções disponíveis aos educadores. Porém não é trivial, nem fácil sua implantação - requer vontade e ousadia para se deparar com dificuldades operacionais e até rejeições (inclusive de uma parcela de alunos), afinal a metodologia oriunda de aulas tradicionais encontra-se presente em nossas escolas há décadas e todo processo de mudança gera crítica e precisa de tempo para ser assimilada pela comunidade educacional. 2. Materiais e Métodos Este trabalho foi desenvolvido em abril de 2016 por alunos da segunda série do Ensino Médio do Colégio Estadual Governador João Alves Filho, no município de Areia Branca, e tem por objetivo resgatar, reproduzir e apresentar alguns brinquedos e brincadeiras de cunho popular que fizeram ou fazem parte da infância de cada criança da região, trazendo também uma abordagem sobre seu funcionamento e os princípios relacionados com a Física, disciplina lecionada pelo professor orientador do projeto. As atividades de pesquisa, preparação e confecção dos brinquedos foram realizadas no contraturno durante três meses; e apresentadas posteriormente durante duas semanas, no mesmo turno das aulas. Inicialmente foi proposto aos alunos a construção de dois brinquedos: a Perna de Pau e o Carrinho de Rolimã. Posteriormente, resolvemos comprar outros três, tendo em vista a complexidade da construção: Pião, Ioiô e Pipa. Cada aluno ficou responsável por pesquisar e anotar informações sobre a origem e funcionamento de cada brinquedo. Durante a execução das brincadeiras, foram apresentados conceitos trabalhados em sala de aula pelo professor. Os alunos formaram grupos e, aos poucos, fomos distribuindo os brinquedos, um a cada momento, para que analisassem como estes se movimentavam interagindo com o chão ou, se estes se chocavam, como ocorria a interação entre eles. Utilizamos em nossa aula o Carrinho de Rolimã, a Perna de Pau, o Pião, o Ioiô e a Pipa.
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A partir das intervenções na escola, foi possível ao professor avaliar o alcance da proposta, identificando nos diálogos e nas argumentações dos envolvidos, traços característicos que sugeriram posturas e atitudes científicas diante dos fenômenos e questões suscitadas. 3. Resultados e discussão Os alunos mostraram-se bem à vontade ao manipular os brinquedos e a interagir com seus colegas, atestando, como descreveu Levinstein (1982, p.359), que o interesse dos alunos por Física aumenta quando se tratam de brinquedos como objetos de estudo visto que “[...] os alunos se relacionam bem com eles”. Ao entregarmos um determinado brinquedo aos grupos de alunos deixamos, a princípio, que estes o manipulassem, que brincassem. Após algum tempo, provocamos os grupos pedindo que observassem detalhes da interação que realizavam. Em conjunto fizemos análises qualitativas destas interações, sem nos prendermos à quantificação detalhada das medições de cada interação. A seguir transcrevemos os textos abordando a origem e o funcionamento destes brinquedos pelos alunos. Como aprender física com carrinhos de rolimã? Nem sempre é fácil sair da inércia e entender as Leis de Newton. Quando a Física parece complicada demais, o jeito é apelar para a tecnologia e aprender brincando. A ideia é aplicar os conceitos das Leis de Newton na hora de montar um carrinho de rolimã. Para fazer o brinquedo se mover, é preciso considerar as grandezas envolvidas, como massa, coeficiente de atrito e forças. Dá até para usar essas informações para fazer um protótipo real. Não se sabe ao certo a história do mais radical dos brinquedos das crianças da década de 70 e 80 da região sudeste do Brasil. Pode-se dizer que os primeiros exemplares foram construídos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, no final da década de 60, começo da década de 70. O principal material, as rodas, eram rolamentos conseguidos em oficinas de manutenção de automóveis. Os rolimãs eram descartados em oficinas para consertar as antigas latas velhas e zero quilômetro também, que já apresentavam proble-
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mas com as ruas esburacadas e falta de vias apropriadas para o tráfego de veículos. Engraçado que carrinho de rolimã era brinquedo dos meninos mais pobres ou com menos condições que não podiam ter uma bicicleta, mas tornou-se o pai, hoje avô dos brinquedos radicais no Brasil. Os carrinhos de rolimã eram levados às ladeiras asfaltadas e igualmente somente se popularizaram com a urbanização das cidades, o que novamente confirma a época aproximada do surgimento deste brinquedo.
Figura 2. Carrinho de Rolimã Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_WtrAd3bfpGk/TS38JauPhLI/ AAAAAAAAAck/I17v2w6ELBc/s1600/1248871290.gif
Quanto maior o diâmetro dos rolamentos, menos aceleração e mais velocidade, quanto menor mais aceleração e menos velocidade (Relação com o raio do rolamento). Geralmente essas corridas de carrinhos ocorrem em ruas de bom asfalto e pouco movimentadas, podem ocorrer também em parques onde situam-se locais (pistas) apropriadas. Nesta brincadeira são colocados dois ou mais carrinhos de rolimã, um ao lado do outro, para saber qual deles chegará primeiro ao final da pista. Dessa forma, é importante compreender os conceitos de velocidade e as leis que regem o movimento do carrinho. Conforme o modelo de pista ou de roda o coeficiente de atrito poderá ser diferente. Deverá levar-se em conta a massa do piloto, a massa do chassi de seu carrinho de rolimã, a força que será aplicada no momento do empurrão do carrinho de rolimã.
Equilíbrio na Perna de Pau Num sentido amplo, a Perna de Pau é uma modalidade circense onde os praticantes alteram sua estatura normal utilizando basicamente um aparelho também conhecido como perna de pau. No entanto, não se exclui
Figura 3. Perna de Pau Disponível em: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/09n3/07Bortoleto.pdf
a possibilidade de utilizar outros aparelhos ou objetos materiais que permitam estas modificações de altura. De maneira geral, ao praticar a modalidade de Perna de Pau, os participantes realizam ações motrizes de equilíbrio instável e dinâmico, ou de “desequilíbrio constante”. Ou seja, dada que a base de sustentação da perna de pau é bastante pequena, ocupando normalmente uma décima parte do tamanho de um pé adulto, significa que se manter em equilíbrio estático é praticamente impossível, somente observado em pessoas com muita experiência e em momentos concretos. Por isso, torna-se necessário estar constantemente regulando o equilíbrio. O equilíbrio de uma pessoa sobre uma perna de pau é bastante diferente de quando não está sobre ela, principalmente porque a orientação visual (distância do solo, tamanho e altura dos passos, ângulo de visão) e a falta de informação direta referente ao solo
(cinestesia) são drasticamente alterados em um espaço de tempo muito breve. Também temos que considerar que, ao não existir contato direto dos pés com o solo (chão), todo o mecanismo proprioceptivo relacionado com o equilíbrio sofre importantes alterações, sem falar dos aspectos afetivos referentes à altura. Contudo, depois de uma certa prática, pode-se afirmar que o equilíbrio tende a ser restabelecido em pouco tempo. Este período pode variar de alguns dias até algumas semanas, pois muitas são as variáveis (físicas, psicológicas, etc.) que influenciam neste processo de adaptação. É certo que atualmente já existem modelos de pernas de pau que utilizam superfícies de apoios maiores, iguais ou superiores ao tamanho de um pé adulto, que permitem alcançar ou manter-se em equilíbrio estático (estável) com mais facilidade. No entanto, esta tecnologia ainda representa uma pequena parte da prática desta modalidade, principalmente pelo alto custo. Deste modo, além de desenvolver o equilíbrio e estimular positivamente a cinestesia (propriocepção) do praticante, a prática da Perna de Pau pode ser uma importante ferramenta para alcançar outros objetivos pedagógicos, como o desenvolvimento de algumas qualidades físicas (força, resistência, flexibilidade), habilidades motoras (coordenação, rítmo), afetivas (autoestima, capacidade de superação, confiança), sociais (trabalho em grupo, colaboração, respeito), e conceituais (segurança, progressão técnica e estética e de montagens coreográficas). Pião, corpo que gira sobre sua ponta Fazê-lo girar é um desafio, e para os mais hábeis, uma arte. Sua história, como a de outros brinquedos, acompanha as origens da humanidade. Prova científica está nos vestígios de piões de argila, datados de 4000 a.C que foram encontrados na beira do rio Eufrates (atual Iraque). Gregos, troianos e romanos também se divertiam com eles, além de citá-lo em vários textos. Para Platão, por exemplo, o pião servia como metáfora do movimento, além disso, em culturas do oriente, como China e Japão, ele era manejado com tamanha habilidade, que era exibido em espetáculos, equilibrados em fitas, tábuas, ou como nossas crianças até hoje fazem, na palma da mão, girando, girando...
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Figura 4. Pião Disponível em: http://1.bp.blogspot.com/-NM27LIN8ZBY/TfkdDYm21jI/AAAAAAAAA7U/2j22F9ZjQg8/s1600/spinning+top.gif
O segredo de suas órbitas fascinantes está nos princípios da física. O pião é um corpo que gira sobre sua ponta, seu centro de gravidade, de forma perpendicular ao eixo (ângulo) de giro, equilibrando-se sobre ele graças à velocidade angular, que permite o desenvolvimento do efeito giroscópico. Esse efeito permite que se mantenha sobre sua ponta até que o vetor peso (massa x gravidade) termine por se inclinar em relação ao eixo, provocando uma variação na localização do centro de gravidade. Isto provoca variação na trajetória de giro, que começa a descrever círculos até a queda do pião. Assim, a queda é diretamente proporcional ao mencionado ângulo e ao vetor peso, e inversamente proporcional à velocidade de giro. O atrito com o ar e sobretudo com a superfície em que está, faz o giro ir se enfraquecendo com o passar do tempo e o centro de gravidade começa a se tornar mais instável, o pião começa a girar descrevendo círculos mais curtos, até perder o equilíbrio e cair. Ou seja, física e matemática. Quem disse que ciência não é brincadeira? Todos os peões trabalham por esse princípio, independente da forma ou do material de que são feitos. Mas não se engane este não é um jogo chato, há mil maneiras de arremessar, manobrar e conseguir efeitos com eles. Do mesmo modo, ele teve as mais variadas formas e mecanismos para lhe dar rotação, como à mão-livre, a transmissão de força por corda e os mais
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modernos, mecânicos, com engrenagens, como a cremalheira dentada do pião beyblade, astro e acessório de um desenho japonês. Alguns ainda possuem luzes ou chocalhos, voltados para as crianças pequenas. Mas voltando ao tradicional pião de corda, que é encontrado em todos em quase todos os continentes, no Brasil ele se incorporou a cultura como herança portuguesa. Considera-se que o seu corpo, ou o pião propriamente dito, mede cerca de seis centímetros de altura, por quatro centímetros de raio no seu diâmetro maior, sendo de madeira, com uma ponteira de ferro, feito ainda hoje quase artesanalmente. É preciso compreender que o brinquedo não é constituído apenas pelo pião, mas também por seu acessório, a corda, cordel ou fieira. A acompanhante inseparável do pião tradicional é nada mais do que um barbante, geralmente tendo entre 30 centímetros e um metro. Algumas trazem um pedaço de madeira ou moeda, que amarrada à mão, confere ficar mais firmeza à hora de ser atirada. A corda serve não apenas para dar o impulso no pião, quando enrolada nele, como também para fazer uma série de malabarismos, de acordo com a habilidade de quem maneja, criando muitas possibilidades de jogo, individual e em grupo. Pode se fazer um paralelo entre suas acrobacias e as que os craques de futebol ou basquete fazem quando brincam com a bola. Como outras brincadeiras tradicionais, o pião está desaparecendo, levado pelos modismos e pela revolução tecnológica. Mas ainda que vez por outra reapareça sobre outras formas, modificadas, como o pião mecânico beyblade, que se utiliza de formas de jogo baseadas no tradicional e uma cremalheira de plástico que nem de longe tem a versatilidade da boa e velha corda, o velho pião vai deixando saudades no peito de quem já puxou desafiadoramente uma fieira em uma estridente roda de moleques. Não se trata de nostalgia do passado, uma brincadeira como essa, relativamente barata e empolgante, merece ser preservada e apresentada aos nossos jovens, como alternativa ao vídeo game, ao computador e a televisão. Também é ótima para a socialização das crianças, dado que se ainda que gere disputas, também promove a integração, pelo interesse em aprender seu manejo, suas manobras, trocar modelos etc. E ainda devido à beleza e
a plástica das suas acrobacias - semelhantes ao Io-Iô- esta brincadeira devia ganhar um lugar entre os esportes.
Porque as pipas voam?
Ioiô: como funciona? Em algum momento da sua vida você certamente já brincou com um ioiô, certo? Ele é um dos brinquedos mais antigos da humanidade, o Ioiô pode ter surgido na China ou outras regiões do Oriente, mas seus primeiros registros são de 500 a.C. na Grécia. Mas quando criança, você provavelmente não parou para pensar nas leis físicas que agem sobre esse brinquedo, que inclusive são várias, olha só: Basicamente, pode-se explicar o funcionamento do ioiô pelo princípio de conservação de energia. No entanto, para ficar mais claro, é melhor explicar o que acontece em cada etapa desta brincadeira. • Ainda na mão: enquanto você segura o ioiô ele possui
Figura 5. – Ioiô Disponivel em: https://gartic.com.br/imgs/mural/ma/manelbm/ioio.png
certa quantidade de energia potencial. • Na descida: na hora em que o brinquedo é solto, a força da gravidade puxa ele para baixo, realizando os movimentos de rotação e transação. Conforme ele desce, a energia potencial é convertida em energia cinética. • No ponto final: quando o ioiô chega ao ponto extremo do cordão, ele sofre uma força para cima devido ao fio ter acabado e então fica girando no mesmo ponto por alguns segundos. Neste momento, ele possui apenas energia cinética rotacional. Por causa da inércia, ele tende a ficar girando neste ponto até que alguma força externa atue sobre ele. • Na subida: é então que ele sofre um puxão, fazendo com que o eixo do ioiô volte a subir pelo cordão. Conforme ele sobe, passa a ter novamente energia cinética de translação, que vai diminuindo até que volte a ter energia potencial e chegue à sua mão.
Figura 6. – Pipa Disponível em: http://dicasmiudas.com.br/wp-content/uploads/2013/01/pipa-massa.jpg
Papagaio, pandorga, arraia, cafifa ou, simplesmente, pipa. Não importa o nome que receba esse brinquedo, feito com varetas de madeira leve, papel fino e linha: qualquer pessoa tem tudo para se encantar com ele! Pudera: colocar uma pipa para bailar no ar é a maior diversão! E sabia que, na sala de aula, a pipa tem muito a ensinar? Não se sabe quem empinou o primeiro papagaio da história. Mas um grego chamado Arquitas, lá pelo ano 400 antes de Cristo, fabricou um brinquedo parecido com uma pipa. Ainda na antiguidade, no ano 200 antes de Cristo, as pipas eram usadas pelos povos orientais não só como brinquedos, mas por motivos religiosos e místicos. Algumas pipas eram feitas com desenhos de dragões que, para eles, atraíam a felicidade. A pipa também foi usada por alguns cientistas e inventores para ajudar em seus experimentos. Veja só: em 1752, o americano Benjamim Franklin fez importantes descobertas sobre a eletricidade utilizando uma pipa e inventou o pára-raios. Já em 1906, nosso conhecido “pai da aviação”, Alberto Santos Dumont, se inspirou em um modelo de pipa – em forma de caixote – para construir o dirigível 14 Bis. Se empinarmos uma pipa sem vento, ela cai, devido à força da gravidade. Uma pipa solta, sem linha, empurrada pelo vento, acompanha o movimento da corrente de ar. A força aplicada pela linha impede o movimento da pipa a favor do vento, ao mesmo tempo que lhe dá a inclinação adequada. Esta deve ser exata para que o vento empurre o conjunto obliquamente para cima, aplicando uma força, contrária ao efeito do peso e da força tensora da linha, resultando num equilíbrio ideal.
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Nada mais melancólico do que uma pipa no chão. Para que ela alcance alturas celestiais, é preciso que algumas leis da física deem a sua contribuição. A relação entre a força do vento e a tensão da linha é a condição determinante para se empinar uma pipa. Os vetores formados pela corrente de ar e a linha têm como resultado o movimento vertical ascendente que faz a pipa subir. 4. Conclusão Concluímos que os brinquedos podem ser bons recursos instrucionais no ensino de Ciências (Física), podendo colaborar como alternativa inovadora às aulas tradicionais. Sua utilização é viável, como destacou o professor Levinstein (1982, p.359): “a maioria tem vantagens sobre os equipamentos das demonstrações convencionais: o relativo baixo custo e o fato dos alunos se relacionarem bem com eles”. É necessário, pois, mais pesquisas que testem os brinquedos como ferramentas facilitadoras da aprendizagem. Com quais brinquedos, por exemplo, despertaríamos nos alunos o gosto de aprender quando fôssemos ensinar calor, óptica, ondulatória, eletricidade ou Física moderna? Como viabilizar a montagem de uma brinquedoteca para o ensino de Física que pudesse assistir a várias escolas? O desafio está colocado. Referências FREIRE, P., SHOR, I. Medo e Ousadia – O Cotidiano do Professor. Tradução de Adriana Lopez. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido . 43ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. LEVINSTEIN, Henry, The physics of Toys, The Physics Teacher, p. 358-365. Setembro, 1982.
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Resumo: As paródias de canções despertam o lúdico no público leitor, pois possibilitam atrelar aspectos musicais, linguísticos e literários, incrementando, ainda, temáticas socioculturais. Objetivou-se, neste trabalho, enfatizar a confecção de paródias musicais e estimular à criatividade, à iniciativa e à construção de cidadãos críticos, reflexivos e transformadores do meio que os circunda. Este projeto foi desenvolvido com turmas do Ensino Médio Regular do Colégio Estadual Almirante Barroso–Muribeca/SE. A pesquisa, de caráter qualitativo, norteou-se mediante as habilidades de leitura, compreensão, debate, produção e reescrita textual, associadas à vivência sociocultural, visando contribuir na formação leitora, escritora, social e crítica do educando.
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1. Introdução A paródia visa modificar a estrutura de determinado enredo, seja um poema, filme ou canção, mantendo correlações com o esboço original, por exemplo, o ritmo e a rima, no caso de músicas. Sua finalidade é provocar, criticar, informar, denunciar, etc. Nesse processo de (re)criação, lida-se com o jogo da intertextualidade, logo, faz-se necessário que o receptor carregue conhecimento tanto do enredo parodiado quanto da temática retratada para se inteirar de maneira eficaz. Corroborando com tal colocação, Andreetta (2007) afirma que o texto é o resultado da colagem de outros textos e que as fronteiras entre um texto e outro não são bem delimitadas. Assim, é importante perceber que a ideia de intertextualidade, no caso da paródia, ocorre por relações de semelhanças e diferenças. Segundo Silva (2009), a paródia pode ser definida como um texto parasitário, pois sua existência depende de um texto anterior, o qual é subvertido, além disso, está tão ligada ao dia a dia que já se pode considerá-la como sinal da receptividade do homem contemporâneo. Isso se reverbera, inclusive, na legislação brasileira (Lei nº 9.610, Art. 47) em que se assegura a livre confecção de paródias, desde que não sejam reproduções fidedignas da obra original nem lhe acarretem descrédito. As paródias de canções, especificamente, despertam o lúdico no público leitor, uma vez que possibilitam atrelar a linguagem musical e o eixo linguístico-literário, incrementando, ainda, a exploração de temáticas contidas no meio sociocultural vivenciado pelos educandos. Assim, é um gênero de texto que exerce um papel sociocomunicativo relevante, uma vez que não se atém, tão somente, à uniformidade composicional e estrutural, mas prevalecem abordagens atreladas à vivência social, isto é, à funcionalidade. Nesse sentido, a paródia musical enquadra-se de maneira salutar nas definições de Marcuschi (2005), ao afirmar que os gêneros textuais caracterizam-se muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades linguísticas e estruturais. São de difícil definição formal, devendo ser contemplados em seus usos e condicionamentos sócio-pragmáticos caracterizados como práticas sócio-discursivas (MARCUSCHI, 2005, p. 20).
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Nessa perspectiva, torna-se inescusável o desenvolvimento de atividades, nas aulas de Língua Portuguesa, que envolvam o gênero textual mencionado, visto que exerce proeminente papel na formação social do discente. Portanto, o objetivo norteador deste trabalho foi enfatizar a confecção de paródias musicais e estimular à criatividade, à iniciativa, ao conhecimento das peculiaridades da língua materna e à construção de cidadãos com saber crítico, reflexivo e transformador para com o meio que os rodeia, através da função sociocomunicativa de um gênero de texto que se dobra sobre si mesmo e traz novas contribuições. 2. Materiais e métodos O presente trabalho foi desenvolvido por discentes do 1º ano A e D e 3º ano B do Colégio Estadual Almirante Barroso – Muribeca/SE, totalizando aproximadamente 110 alunos contemplados. As atividades transcorreram no intervalo de três semanas de aula, considerando desde os primeiros momentos, motivacionais e introdutórios, até a conclusão, com apresentações orais. O desenvolvimento das atividades favoreceu a interação entre todos os envolvidos nas ações desempenhadas, tornando apreciável o desenrolar metodológico adotado. Inicialmente, definiu-se e se exemplificou gênero textual, tipologia textual, verso, estrofe, rima, ritmo, além de aspectos da linguagem musical. Sequencialmente, introduziu-se a caracterização, exemplificação e análise composicional do gênero paródia numa abordagem global. Em seguida, optou-se por adentrar, especificamente, no gênero paródia musical. Após conhecimento minucioso acerca das paródias de músicas, as aulas posteriores foram utilizadas para propagar debates sobre temas sociais que circundam o universo vivenciado pelo público-alvo do projeto. Diversas temáticas foram exploradas, tais como a violência, meio ambiente e sustentabilidade, racismo, política, uso de entorpecentes, desigualdade social, relevância da educação na sociedade, gravidez na adolescência, etc., com a finalidade de provocar a tríade sensibilidade, reflexão e criticidade nos educandos e enriquecer o repertório de conhecimento a ser utilizado no instante da produção textual.
Destarte, detendo-se do saber teórico e constitutivo do gênero em estudo, solicitou-se a formação de grupos e a elaboração de paródias musicais que englobassem os temas debatidos e retratassem um contexto com perspectivas projetadas para uma transformação social. Vale mencionar que a seleção do gênero/estilo musical ficou a critério dos alunos, possibilitando um repertório musical diversificado, como o forró, pop-rock, MPB, axé, etc. Após as produções, os grupos fizeram análise do texto produzido e alterações cabíveis. Por fim, o texto fora apresentado (cantado) mediante melodia e harmonia musical, impregnada pela composição original. Salienta-se que as etapas citadas nortearam-se nas orientações contidas nos PCNs (1998), mediante as habilidades de leitura, escrita, escuta e reescrita textual das paródias de canções, atrelando aspectos musicais, linguísticos e literários. Além disso, o ato de retratar temas que estão diretamente na vivência familiar dos educandos teve como intuito contribuir, efetivamente, na formação leitora, escritora, social e crítica do educando. Por conseguinte, no que tange ao material pedagógico utilizado, destaca-se que é de simples e fácil acesso ao docente que objetive desenvolver esta proposta, como textos fotocopiados, vídeos, reprodução de áudio de canções, ferramentas tecnológicas, etc.
-aluno-produtor, influenciado por elementos linguísticos, literários, musicais e, sobretudo, por temas socioculturais, com vistas à construção de um ser politizado. Vale lembrar que as análises, esmiuçadas neste artigo, partiram de fragmentos do texto parodiado e de apenas algumas paródias, dentre uma vasta produção. Ao se observar a paródia subsequente (figura 01), evidencia-se a presença de considerações em torno do cenário político que permeia a sociedade brasileira, a qual se encontra inflada por candidatos políticos que fazem das palavras compromissos supérfluos, que provavelmente não serão cumpridos, e ludibriam o cidadão comum. Por isso, é feito um alerta à população “São candidatos fazendo promessas / E o povo caindo na enrolação”, ademais, o autor se posiciona e desvincula a ideia estereotipada do voto como objeto de compra e venda, ao afirmar “Então eu disse: - Senhor político / Deixa de ser um fanfarrão”. De tal maneira, mostra-se sensível e analítico frente aos assuntos cotidianos. Essa capacidade é aflorada tendo em vista que “Hoje, a paródia está tão ligada à vida cotidiana que [...] consideram-na como um dos traços marcantes da sensibilidade do homem contemporâneo” (SILVA, 2009, pág. 105).
3. Resultados e Discussão As produções das paródias musicais centraram-se na valorização dos mecanismos imbricados num ensino significativo da língua materna, isto é, retratando habilidades e competências inerentes à leitura, à escrita, à oralidade, à escuta e à reescrita, bem como no pressuposto desenvolvido por Silva (2009) que valoriza o modo de intervenção social da paródia. Atrelado a isso, tais produções pautaram-se em inúmeras temáticas sociais que afetam diretamente esse público-alvo, levando-os à formação crítica, produtiva e atuante. Neste sentido, Colbachini (2007) afirma que ler e escrever é reconhecer o sujeito e a ação deste, pois é através da leitura e escrita que o ser humano interage com o outro. Desse modo, passemos a depreender e analisar as paródias confeccionadas e a atuação desse sujeito-
Figura 1. – Paródia da música “Asa Branca”. Fonte: Elaborado pelo discente Diego Teles Barros, 3º ano B do CEAB.
A paródia da música “Que país é esse?” (figura 02) retrata o posicionamento crítico do sujeito-escritor ao problematizar um assunto em voga na contemporaneidade: o racismo. Em vista disso, é feito um traçado apontando que o preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a uma etnia diferente, considerada inferior, ainda se encontra enraizado em diversas sociedades mundiais, “Nas sociedades, em todo mundo / Preconceito pra todo lado / [...] No Brasil, na África”, e
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que, apesar das leis assegurarem garantias e criminalizar atitudes racistas, há indivíduos que perpetuam esse gesto de afronta à dignidade humana, tornando as leis em vigor simples coadjuvantes no processo de respeito mútuo, “Pois o racismo anda solto / O mundo criando leis, alienados fiéis”. Nesse contexto, segundo Andreetta (2007), a paródia cumpre a função de inaugurar um novo paradigma, isto é, rompe barreiras perpetuadas historicamente, constrói a evolução de um novo discurso. Figura 3. Paródia da música “Camarote?”. Fonte: Elaborado pela discente Silvanete dos Santos Andrade, 1º ano A do CEAB.
4. Conclusão
Figura 2. Paródia da música “Que país é esse?”. Fonte: Elaborado pelo discente Cristian Matos Araújo, 3º ano B do CEAB.
A paródia musical seguinte (figura 03) abarca algumas temáticas, como: a violência e o uso das drogas. “Como é que a gente pode viver num mundo assim tão violento? [...] Diga não ao vício e diga não às drogas”. Esse excerto dá luz ao protagonismo do sujeito-escritor frente às adversidades oriundas do meio social que o rodeia, bem como o trecho “Eu quero um mundo diferente pra morar / [...] Queremos mudar nossa história, esse mundo / Construir os sonhos e um dia vencer / Quer saber? Esperança vamos ter!”. Além disso, percebe-se a atuação crítica e reflexiva, demonstrada pela proposta de a educação ser crucial para a conquista de melhorias: “A educação é a chave pra mudar o nosso mundo [...] / Pra aprender que educar é a melhor vitória!”.
Ressalta-se que os objetivos almejados neste projeto foram alcançados, o que se comprova através dos resultados obtidos, com vistas a um ensino de Língua Portuguesa que priorize o desenvolvimento das habilidades e competências no que tange à leitura, escrita, fala, escuta e reescrita textuais. Tais resultados surgiram através da produção do gênero paródia musical, o qual viabiliza ao texto “aplicações mais criativas” (PCN, 1998, pág. 76), associado a temáticas oriundas da vivência social e cultural do público-alvo, revelando, ainda, que “a paródia liga-se à própria necessidade de o homem moderno afirmar seu lugar [...] em um processo de desconstrução e reconstrução” (SILVA, 2009, pág. 111). Destarte, evidencia-se, nas produções analisadas, que o ensino da língua materna, através dos gêneros textuais, possibilita o despertar de um saber crítico, reflexivo e transformador para com o meio inserido, promovendo a formação de leitores e escritores socialmente ativos, por intermédio da manifestação artística, cultural e linguística. Referências ANDREETTA, Sandra Goret Sauthier; SIBIN, Elizabete Arcalá. A paródia como recurso estilístico em Dalton Trevisan. Paraná: SEED-PR, 2007. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/ artigo_sandra_goret_sauthier_andreetta.pdf>. Acesso em: 10 set. 2016. BARBOSA, Alessandra de Carvalho. Gêneros textuais em sala de aula: a relevância da paródia na educação básica no ensino de língua portuguesa. In: CONGRESO INTERNA-
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CIONAL ASOCIACIÓN DE LINGÜÍSTICA Y FILOLOGÍA DE AMÉRICA LATINA, 17., 2014, João Pessoa. Anais eletrônicos... João Pessoa: ALFAL, 2014. Disponível em: <http:// www.mundoalfal.org/CDAnaisXVII/trabalhos/R1143-1. pdf>. Acesso em: 05 set. 2016. BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 20 fev. 1998. Disponível em: < http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em: 05 set. 2016. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Brasília: MEC/ SEF, 1998. 106 p. COLBACHINI, Eloíza Perpétua de Oliveira; DIAS, Luciana C. F. Gênero textual canção, em sala de aula, provocando o despertar do leitor crítico. Paraná: SEED-PR, 2007. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/ arquivos/909-4.pdf>. Acesso em: 15 set. 2016. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro, RJ: Editora Lucerna, 2005. cap. 1. SILVA, Florita Dias da. Paródia: gênero ou estilo? Revista Desenredos - ISSN 2175-3903 – Piauí, ano I – nº 1, p. 105 – 118, julho/agosto de 2009.
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Resumo. O presente projeto se propõe em levar a poesia às escolas do alto sertão sergipano, buscando despertar o desenvolvimento de cada estudante para este universo que muita das vezes é marginalizado por conta do preconceito machista enraizado na nossa cultura ou por ser de difícil compreensão por conta da linguagem literária. Propiciamos um momento de interação entre os estudantes, o poeta e a poesia, possibilitando uma análise e reflexão das produções realizadas no período do Modernismo brasileiro que servirão para o ENEM. Assim, selecionamos alguns poetas. Com os dados em mãos, montamos as apresentações e escolhemos os poemas que são analisados juntamente com o público ouvinte.
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1. Introdução Com o passar do tempo estamos percebendo que o universo da poesia está sendo esquecido no espaço escolar, pois os estudantes estão perdendo o gosto pela literatura, então por que não levar a poesia a este espaço? Assim, no ano de 2013 a FAPITEC/SE (Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe) lançou um edital de popularização da ciência e o professor Carlos Alexandre Nascimento Aragão enviou a proposta do projeto “A Poesia indo à Escola”, que logo foi aprovada tanto neste edital quanto no de 2015. O projeto tem como objetivo levar a vida e obra de poetas modernistas para as escolas do alto sertão sergipano, possibilitando aos estudantes uma maior interação com o gênero. Tal projeto surgiu a partir do projeto de extensão “Poetas Modernos na Escola” desenvolvido pela professora Drª Christina Bielinski Ramalho da Universidade Federal de Sergipe, campus de Itabaiana. A princípio trabalhamos com os poetas: Augusto Frederico Schdmit, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Guilherme de Almeida, Oswald de Andrade e Vinicius de Moraes. Na atualidade, estamos apresentando a vida e obra de: Augusto dos Anjos, Clarice Lispector, João Cabral de Melo e Mário de Andrade. A escolha dos poetas modernistas deve-se ao ENEM cobrar em sua prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias obras de escritores desta escola literária. Assim, além de incentivarmos o interesse pela poesia conseguimos ajudar aos adolescentes na hora das análises dos textos nas provas do ENEM e incentivamos a produção de poemas. 2. Materiais e Métodos Inicialmente, apresentamos os poetas modernistas aos estudantes envolvidos. Após todos terem acesso aos nomes dos poetas e a uma breve biografia dos mesmos dividimos as equipes para que cada uma pudesse buscar materiais que falassem sobre o poeta em destaque. Esta atividade foi desenvolvida em sala de aula durante a reunião semanal do grupo. Em seguida, os grupos saíram com a tarefa de pesquisar a vida e obra do poeta em questão que seriam apresentadas
no encontro seguinte. Durante o encontro posterior, fizemos uma triagem do material pesquisado para que não houvesse repetição e todas as informações fossem passadas com fidelidade, pois pensamos em uma troca de conhecimento e também em um incentivo para os nossos futuros ouvintes criarem gosto pela poesia. Ao analisarmos os materiais coletados, começamos a construir os slides que serviriam para as apresentações de forma dinâmica e prática. Essas apresentações foram realizadas nas escolas públicas e privadas do nosso alto sertão sergipano. Vale ressaltar que cada atividade era desenvolvida semanalmente no período de duas horas. 3. Resultados e discussão O projeto vem apresentando bons resultados não só a interação com os estudantes das escolas visitadas, mas, também, com os componentes do próprio grupo. Estudantes, que participam do projeto, vêm conhecendo e entrando cada vez mais no mundo não só da poesia, mas da literatura. O projeto vem revelando talentos, poetas, cronistas, ou seja, descobrindo jovens escritores. O jovem Rafael de Souza é um desses jovens. A partir do momento da sua participação no projeto sentiu-se atraído pela poesia e hoje é um poeta premiado em alguns concursos locais e regionais, como foi o II Concurso Literário da Loja Maçônica em 2015. Segue o poema do jovem: Meu eu sem você Viciei em seus beijos Em suas carícias Viciei em você E no meu peito Essas marcas do seu ser Marcas de um amor passageiro De um amor traiçoeiro De um amor verdadeiro? Onde nasce esse sentimento Que se chama amor?
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Tem ele a mesma origem Da minha platônica dor? Talvez esse amor perdido dentro De mim Nunca, nunca tenha um fim. Até a brisa que me toca Faz-me lembrar de você E a cada novo amanhecer A saudade me sufoca Amá-la foi fácil, não exigiu sacrifício Fazê-la sorrir era meu vício Até que veio a tempestade E me jogou no abismo
Figura 1. Apresentação da Equipe sobre o poeta Mário de Andrade no Colégio Estadual Nelson R. Albuquerque no Povoado São Mateus – Gararu-SE.
Hoje sou uma música Que ninguém quer ouvir Porque só sei falar de amor De você e do gosto que A vida deixou Enfim, sigo o meu caminho Arrependido Cansado Sozinho Esperando para ver O verdadeiro sol nascer Trazendo-me de volta O coração que perdi. Assim, observamos que o projeto vem proporcionando novos horizontes para os jovens envolvidos diretamente e também para os estudantes das escolas visitadas, pois o diálogo entre os próprios estudantes é que movem a essência do projeto. A imagem construída de um professor ou de uma pessoa adulta para apresentar os poetas é desfeita no momento em que estudantes assumem esse papel. Nesse sentido, os ouvintes percebem-se que também são capazes e podem colaborar com a sua sociedade. Vejamos as imagens abaixo:
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Figura 2. Apresentação da Equipe sobre o poeta João Cabral de Melo Neto no Colégio Estadual Nelson R. Albuquerque no Povoado São Mateus – Gararu-SE.
Figura 3. Estudante Matheus Alves Barros do Colégio Estadual Nelson R. Albuquerque no Povoado São Mateus – Gararu-SE.
Figura 4. Membros do Projeto “A Poesia indo à Escola II” e docentes do Colégio Estadual Nelson R. Albuquerque.
As imagens acima foram capturadas no dia da apresentação no Colégio Estadual Nelson R. Albuquerque no Povoado São Mateus em Gararu-SE. Percebe-se que os estudantes interagem entre si, expõem as suas produções e se encantam com a poesia. 4. Conclusão Diante do exposto, concluímos que através do projeto os estudantes estão desmistificando o universo poético e se inserindo neste mundo até então desconhecido. Além dos jovens realizarem a exposição da vida e obra de poetas consagrados da nossa literatura, eles produzem os seus próprios poemas com o desejo de expor o seu texto para os leitores/ouvintes, criando um laço mais estreito entre o gênero literário e a sua vida. Alguns desses jovens já foram premiados em diversos concursos literários do nosso estado. Nesse sentido, enfatizamos que é preciso dar oportunidade aos estudantes das escolas públicas para que eles possam ter novas perspectivas e construam um futuro brilhante. Referências JOSÉ, Elias. A poesia pede passagem: um guia para levar a poesia às escolas. São Paulo: Paulus, 2003. MARTINS, Wilson. A literatura brasileira: o Modernismo: 1916-1945. São Paulo: Cultrix, 1977 PINHEIRO, Helder. Poesia na sala de aula. 2ª. ed. João Pessoa: Ideia, 2002.
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Resumo. Este trabalho apresenta técnicas para o ensino e a aprendizagem de algoritmos que resolvam problemas de matemática utilizando o software VisuAlg. Este trabalho foi realizado no Colégio Estadual Vitória de Santa Maria por alunos do terceiro ano do ensino médio da modalidade integral em Aracaju/SE. Verificou-se que as técnicas de elaboração de algoritmo se apresentaram como potencial recurso-didático para o estudo dos operadores aritméticos através da resolução de problemas de matemática relacionados ao cotidiano. 22 | Revista Feira de Ciências e Cultura
1. Introdução Atualmente se discute metodologias pedagógicas para o ensino de matemática na educação básica, e especificamente, no ensino médio. Mas, algumas perguntas são recorrentes: como motivar os alunos nas aulas da referida disciplina? As técnicas de elaboração de algoritmo podem contribuir com o ensino e a aprendizagem de matemática? É notório que o uso da tecnologia pelos alunos dentro e fora da sala de aula, como por exemplo: os celulares e seus aplicativos, os tablets, os notebooks etc. Assim, Miskulin (2010, p. 153) destaca que “As tecnologias da informação e comunicação (TICs) pressupõem novas formas de gerar, dominar e disseminar conhecimento”. Ainda, a referida autora enfatiza que “trata-se de formar os indivíduos para “aprender a aprender”, ou seja, de prepará-los para a contínua e acelerada transformação do conhecimento científico e tecnológico.” Miskulin (2010, p. 154) Lima, Fonseca e Souza (2014, p.249) salientam que é imprescindível o alinhamento no tocante a utilização do recurso tecnológico agora como recurso pedagógico, ou seja, “O uso de ferramentas computacionais no ensino de matemática pode ser um recurso didático importante para o aprendizado de matemática”. Para os autores Borba, Malheiros e Zulatto (2008, p. 101) o ensino e a aprendizagem de matemática com a utilização da tecnologia para a resolução de problemas do cotidiano através da modelagem. “Nessa perspectiva, que privilegia a investigação e a exploração, consideramos que a Modelagem está em sinergia com as TIC”. Nesse sentido, os documentos oficiais do Ministério da Educação como os Parâmetros curriculares nacionais caracterizam as tecnologias da informação como recurso pedagógico que apoia o trabalho docente e assim uma ferramenta para o desenvolvimento de habilidades nos alunos através de suas produções. (BRASIL, 2001) Assim, as Orientações curriculares para o ensino médio estabelecem dois viés em relação à tecnologia e a matemática “a matemática como ferramenta para entender a tecnologia, e a tecnologia como ferramenta para entender a matemática”, e com isso, o aluno atua como protagonista na construção do conhecimento. (BRASIL, 2008, p. 87)
Esse trabalho tem por objetivo: O estudo dos operadores aritméticos através da elaboração de algoritmos pelos alunos que resolvam problemas de matemática do cotidiano utilizando o software VisuAlg. 2. Materiais e Métodos Diante do interesse pelos alunos da tecnologia, hoje vivemos na era da informação através de todas as facilidades de acesso aos meios computacionais tais como celulares, tablets entre outros dentro e fora do ambiente escolar. Foi elaborado o projeto de pesquisa onde seria utilizada uma ferramenta computacional de criação de algoritmo que enfatizasse o desenvolvimento do raciocínio matemático através da resolução de problemas concretos do cotidiano. O projeto foi executado na Escola Estadual Vitória de Santa Maria, localizada no bairro Santa Maria em Aracaju/SE na turma do terceiro ano do ensino médio da modalidade integral. Essa pesquisa foi desenvolvida nas aulas de iniciação científica no período de cinco messes (maio a setembro) para estudos e execução. A ferramenta utilizada como Ambiente Integrado de Desenvolvimento (Integrated Development Environment ou IDE) foi o VisuAlg. Para Souza (2009, p. 2) “O aplicativo seria dirigido especificamente para alunos iniciantes dos cursos de programação e seus professores”. O referido autor define a interface e as funcionalidades do software, O VisuAlg é um aplicativo que fornece aos estudantes que se iniciam nas disciplinas de programação ferramentas para digitar, executar e depurar o pseudocódigo para resolver problemas propostos nas aulas e em exercícios, fornecendo também aos professores vários recursos didáticos para que expliquem como os programas funcionam, tais como execução passo a passo, visualização do conteúdo das variáveis, exame da pilha de ativação no caso de subprogramas, contador de execuções de cada linha do programa, etc. (SOUZA, 2009, P.3)
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3. Resultados e discussão Dos estudos relacionados às técnicas e desenvolvimento de algoritmos para solução de problemas de matemática, foi enfatizado nesse contexto os operadores aritméticos que são utilizados para modelar as expressões matemática, assim, os operadores estão elencados na tabela 1. Tabela 1. Operadores aritméticos
Figura 1. A interface do VisuAlg. Fonte: (SOUZA, 2009, p. 3)
O VisuAlg é disponibilizado pela empresa Apoio Informática que foi fundada em 1991 com o objetivo de desenvolver sistemas informatizados para pequenas e médias empresas da região sul-fluminense. O programa pode ser utilizado de forma livre para o ensino de programação em escolas e empresas de tecnologias e pode ser baixado no site http://www.apoioinformatica.inf.br/produtos/visualg acessado em 25/05/2016. Além da ferramenta computacional citada, foi utilizado o laboratório de informática e todos seus equipamentos para pesquisa, estudos, desenvolvimentos e execução dos algoritmos. Nesse sentido, Menéndez (2014, p. 22) esclarece que “Na ciência da computação dá-se o nome de algoritmo ao conjunto de instruções para resolver um problema”. Para Plotze (2014, p. 10) “Um algoritmo representa a sequência organizada de instruções que deverão ser realizadas para a execução de uma determinada tarefa”. Por fim, Após discussão acerca do objeto de pesquisa para esclarecimentos dos desafios a serem enfrentados e dos possíveis resultados almejados, o procedimento adotado foi disponibilizar textos que tratava do conteúdo da pesquisa com as teorias, exemplos e exercícios, os computadores do laboratório de informática educativa da escola com o programa instalado e também foi ensinado como instalar o software nos computadores dos alunos em suas casas. O professor com papel de orientador propôs que os alunos programadores, depois de familiarizados com a linguagem de programação VisuAlg, pensassem em um problema real do cotidiano e desenvolvesse um algoritmo para solução do problema.
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Operador
Função
+
Soma
-
Subtração
*
Multiplicação
/
Divisão
%
Módulo (resto da divisão inteira)
^
Potenciação
Fonte: http://www.apoioinformatica.inf.br/produtos/visualg/linguagem/item/9-operadores. Acesso em 01/06/2016.
Os operadores aritméticos é a base matemática do processamento dos dados na elaboração de um algoritmo e obedecem as precedências das operações matemática tradicionais em uma expressão numérica. Assim, as operações módulo e potenciação tem precedência sobre as operações: divisão, multiplicação, subtração e soma, por sua vez, as operações de divisão e multiplicação tem precedência sobre as operações de subtração e soma. Para alterar a ordem das operações citadas anteriormente se usa os parênteses. Os alunos elaboraram cinco algoritmos, o primeiro calcula a média da nota do Enem. A figura 2 é a tela do resultado de uma simulação.
Figura 2. Simulação da media da nota do ENEM. Fonte: Os autores
No segundo algoritmo calcula o índice de massa corpórea (IMC), a figura 3 é tela da simulação.
Figura 3. Simulação do IMC. Fonte: Os autores
Os outros três algoritmos são: Um jogo de perguntas e respostas nas áreas de exatas e humanas, Calcular o valor de um estoque e calcular o valor de um produto sabendo o peso e o preço por quilo.
nilha eletrônica como aplicativo para o ensino de matemática na 1ª série do ensino médio. In: SOUZA, D. N.; SILVA, V. A. (orgs) O ensino de ciências e matemática e seus protagonistas. Curitiba, PR: CRV, 2014. MENÉNDEZ, A. I. M. Introdução à programação. Aracaju: UNIT, 2014. MISKULIN, R. G. S. As potencialidades didático-pedagógicas de um laboratório em educação matemática mediado pelas TICs. In: LORENZATO, S. (org) O laboratório de ensino de matemática na formação de professores. Campinas, SP: Autores associados, 2010. PLOTZE, R. O. Laboratório de programação. Batatais, SP: Claretiano, 2014. SOUZA, C. M. VisuAlg – ferramenta de apoio ao ensino de programação. Revista TECCEN, volume 2, número 2, setembro, 2009.
4. Conclusão Nesse caminho, as tecnologias da informação se apresentaram como um potencial recurso didático-pedagógico para o ensino e a aprendizagem de matemática no ensino médio. A prática da elaboração de algoritmo para solução de problemas concretos do cotidiano dos alunos desencadeou a motivação necessária para alcançar o objetivo pretendido, ou seja, o estudo dos operadores aritméticos através da resolução de problemas de matemática. Assim, as indagações iniciais foram respondidas, sabendo que esse projeto é o ponto inicial nessa temática no referido estabelecimento escolar. Essa pesquisa servirá de base para o projeto de criação do laboratório de programação da escola em nível de ensino médio. Referências BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática. Brasília: A Secretaria, 2001. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica. Orientações curriculares para o Ensino Médio: Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: A Secretaria, 2008. BORBA, M. C.; MALHEIROS, A. P. S.; ZULATTO, R. B. A. Educação a distância online. Belo Horizonte; Autêntica, 2008. LIMA, G. B.; FONSECA, A. J. S.; SOUZA, D. N. Uso de pla-
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Resumo. Nas últimas décadas a humanidade tem se preocupado cada vez mais com as questões ambientais, e de modo particular com a problemática dos combustíveis fósseis. A compostagem orgânica é um produto obtido por um processo biológico que nesse projeto é visto como uma das soluções para o problema em questão. O trabalho tem como objetivo apresentar a facilidade de construção e operação de um biodigestor caseiro em que é possível acompanhar diariamente a produção do biogás, entender a relação entre variáveis climáticas e observar a quantidade do biogás produzido e no final do processo observar também a formação do gás metano e biofertilizantes. 26 | Revista Feira de Ciências e Cultura
1. Introdução O lixo é responsável por um dos mais graves problemas ambientais de nosso planeta. Seu volume vem aumentando nos grandes centros urbanos e rurais, atingindo quantidades as vezes impressionantes. As cidades e os povoados nas zonas rurais vêm crescendo, reduzindo o tempo disponível dos cidadãos e os produtos industrializados passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Com isso, são geradas quantidades imensas de embalagens, sacos plásticos, caixas, isopor, sacolas, latas, garrafas e muitos outros materiais que demoram muito para se decompor - quando consegue. O biodigestor tem sido visto como uma das alternativas muito interessantes para as questões ambientais, pois utiliza resíduos que seriam dispensados como lixo para a geração de energia renovável e cujo índice de poluição é baixo quando comparado aos combustíveis fósseis. O uso do biodigestor através da compostagem orgânica como um projeto interdisciplinar e multidisciplinar em uma escola ou colégio situado no meio rural pode contribuir para a formação de uma visão crítica e ambiental dos alunos sobre o assunto. O presente trabalho tem como objetivo apresentar as facilidades de construção e operação de um biodigestor caseiro em que é possível acompanhar diariamente a produção do biogás, entender a relação entre variáveis climáticas, como a temperatura, com a quantidade de biogás produzido e no final do processo observar a formação de gás metano e biofertilizantes, favorecendo a reciclagem principalmente do lixo orgânico. 2. Materiais e Métodos O projeto foi desenvolvido por alunos do 1º Ano do Ensino Médio e teve início com a construção e montagem do biodigestor caseiro para a produção de gás metano e fertilizante natural. A construção deste biodigestor foi desenvolvida pensando em sua aplicação como conteúdo escolar de caráter multidisciplinar, nas disciplinas de Química, Biologia e Geografia, onde o tema da geração de energia limpa e renovável foi tratado de forma ampla na escola através de aulas nas citadas disciplinas bem como exposição do protótipo para a comunidade escolar.
Na construção do biodigestor (Figura 1), procurou-se utilizar materiais de sucata ou que fossem facilmente encontrados em qualquer comunidade. Os custos são relativamente baixos e a montagem é simples. Desta forma qualquer escola ou colégio tem condições para construir e operar este biodigestor. O recipiente utilizado para servir de biodigestor foi um galão de 20 litros de água mineral, onde foram acopladas saídas para recolher o gás produzido e também para drenagem dos fluidos. A montagem do Biodigestor – O primeiro passo foi a lavagem do galão de 20 litros. Depois de limpo o próximo passo foi fazer dois furos, um furo em baixo para acoplar um flange onde ficará a saída do biofertilizantes e outro na arte de cima onde colocamos uma torneira de jardim por onde vai passar o gás metano. O furo original na parte superior do galão foi introduzido um cano de 40 mm e 40 cm de comprimento com tampa, por onde vamos introduzir os restos de comidas e casca de frutas. Utilizamos também dois pedaços de mangueira por onde vai ser canalizado o gás metano, sendo que um sai diretamente do recipiente do biodigestor (galão) para um filtro que vai purificar os odores da mistura, e a segunda mangueira acoplada na outra parte do filtro por onde vai sair o gás metano até o seu destino final que foi um pequeno fogão como forma de testar o experimento. 3. Resultados e discussão O presente trabalho foi realizado no Colégio Estadual Benedito Barreto do Nascimento, localizado na cidade de Umbaúba/SE e foi desenvolvimento no período de abril e maio de 2016 por alunos do Ensino Médio. A partir da construção do biodigestor foi possível apresentar o projeto para a comunidade escolar através de uma feira de ciências, onde a produção do gás metano pode ser comprovada, mostrando possíveis aplicações práticas para o produto. No Brasil os biodigestores são, em sua grande maioria, utilizados em ambiente na rural para lidar com a questão dos dejetos animais. A intenção deste trabalho foi mostrar a viabilidade do uso de um biodigestor em um ambiente rural, onde as necessidades são claramente distintas. Nos meios rurais a população enfrenta
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problemas como o descarte de resíduos de cozinha e de lixo doméstico bem como esterco de animais. O uso de um biodigestor como um projeto multidisciplinar em uma escola ou colégio na zona rural contribui, de forma significativa, para a formação de uma consciência crítica a respeito do uso racional de energia, bem como mostra que existem caminhos eficientes para a solução de vários problemas. O biodigestor utiliza o lixo para a produção de energia, evitando assim acúmulos de material orgânico nos aterros sanitários, sem contar o fato de que a energia gerada ser renovável e bem menos poluente do que a energia vinda dos combustíveis fósseis.
4. Conclusão No cenário de uma escola pública, a qual estamos inseridos, a criação de um projeto multidisciplinar, ainda que na forma de mural com apresentações verbais, tratou-se de uma prática pedagógica válida no sentido de incentivar os alunos a ler e a escrever interagindo a prática com a teoria. Embora tenha havido todas as etapas para a produção de gás, não foi possível observar gás combustível. Isso não quer dizer que não houve a produção de gás metano. Uma sugestão de projeto pode ser de se utilizar o biodigestor para demonstrar a produção de biogás, como ocorreu com este projeto, e também de se criar uma mini horta e aplicar o biofertilizante coletado no final do processo nos quintais das casas no Povoado Botequim – Zona rural de Umbaúba, área destinada à experimentação e aplicação desse projeto. Fizemos algumas tentativas colocando a biomassa no biodigestor e esperarmos a sua decomposição orgânica, para depois dessa última etapa, observar e constatar a produção do gás metano e o biofertilizante natural para serem utilizados nas residências e nos quintais respectivamente, o que ocorreu. Referências
Figura 1. Biodigestor construído (Fonte: Acervo pessoal, 2016).
Este projeto mostrou também que a construção de um biodigestor pode ser implementada a baixos custos por qualquer escola ou colégio, pois os materiais utilizados são materiais de sucata ou facilmente encontrados nas comunidades. A operação é bem simples. Uma vez que os cuidados com a matéria-prima tenham sido observados (triturar os resíduos vegetais, evitar carne, gorduras e sangue, misturar um pouco de esterco bovino, não utilizar água clorada, etc.), depois de carregado o biodigestor basta aguardar o trabalho das bactérias, para que o resultado seja logo observado. Com o desenvolvimento deste projeto pudemos demonstrar a importância da busca e utilização de fontes de energia renováveis para o futuro do planeta. Por ser um tema prático, os alunos se envolveram totalmente com a pesquisa e construção do protótipo facilitando assim a aprendizagem.
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COLDEBELLA, Anderson; SOUZA, Samuel N. M.; FERRI, Priscila; KOLLING, Evandro M. Viabilidade da geração de energia elétrica através de um motor gerador utilizando biogás da suinocultura. Informe Gepec, v. 12, n. 2, Jul./Dez. 2008 POMPERMAYER, Raquel de S.; JÚNIOR, Durval R. de P. Estimativa do potencial brasileiro de produção de biogás através da biodigestão da vinhaça e comparação com outros energéticos. An. 3. Enc. Energ. Meio Rural 2003 SOARES, J. Construção de biodigestores didáticos e estudo da biodigestão de co-produtos do biodiesel. Disponível em www.enerbio.ind.br/wp-content/uploads/2011/05/Construcao-de-Biodigestores-Didaticos.pdf. Acesso em: 05/07/2013. TEIXEIRA, V. H. Biogás. 1. Ed. Minas Gerais: Universidade Federal de Lavras, 2005. 93 f.
Resumo. Neste artigo, apresentaremos resultados adquiridos a partir da execução do projeto CuidAids! – a informação é o melhor meio de se prevenir, desenvolvido em turmas do nono ano. Esse projeto buscou motivar o estudante a refletir-interagir-agir com textos de divulgação científica sobre o tema AIDS. Além de reconhecerem esse gênero textual, os alunos utilizaram as informações na confecção de textos pertencentes a outros gêneros, como cartazes, a fim de divulgar o conhecimento sobre o HIV, formas de transmissão e prevenção contra essa doença. Além disso, aplicou-se questionário para diagnosticar a possível inserção de alunos pertencentes aos grupos de risco de contaminação. Revista Feira de Ciências e Cultura | 29
1. Introdução No contexto da escola pública, percebe-se que os alunos ainda necessitam de leituras que possam lhes trazer informações científicas. Diante dessa carência, o projeto CuidAids! – a informação é o melhor meio de se prevenir foi desenvolvido sob a perspectiva da proposta de sequência didática, com o objetivo de trabalhar, principalmente, com textos de divulgação científica. Além de refletir-interagir-agir, identificando características estruturais desse gênero em suportes variados, o desafio foi o de os alunos reelaborarem as informações e produzirem textos, compartilhando-as com outros alunos. Como a dúvida move a ciência, também moveu nossa investigação. Surgiu, pois, a necessidade de conhecermos mais sobre a vivência do nosso aluno em relação ao tema proposto. Embora muito jovem, ele já tem vida sexual ativa? Estes conhecimentos servem apenas no campo teórico para ele ou vai mais além, alertando-o sobre a importância da prevenção? Para elucidar essa problemática, aplicamos um questionário sobre essas questões. Responderam às questões propostas 138 alunos, cuja idade variou entre 11 e 17 anos. Verificamos, através da análise das respostas, que uma boa parte deles já tem uma vida sexual ativa, principalmente, na faixa de 14 a 16 anos, e que já se previnem. Trazer o texto científico para a comunidade escolar, debater e refletir sobre a importância da prevenção contra a AIDS, doença que ainda atinge parcela significativa da população, foi muito importante para incentivar a cultura da prevenção. Os textos produzidos pelos estudantes serviram, portanto, de instrumento de conscientização. Acrescentando-se a isso, a partir da leitura de verbetes de enciclopédia e textos de divulgação científica sobre esse tema, estabeleceu-se o lugar e o tempo de outros gêneros textuais que seriam trabalhados em sala de aula: os gêneros secundários que figuraram no projeto foram definidos pelo próprio tema. Dessa forma, os alunos lidaram com verbetes de dicionário, biografia e estatísticas acerca do universo tratado, compondo na parede da sala de aula um mural informativo. Em suas pesquisas coletadas e produções textuais, a maioria deles demonstrou empenho e espontaneidade. Outro dado constatado foi a presença
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marcante da gramática internalizada dos alunos. Este é outro desafio para o professor de língua portuguesa, não aprofundado, entretanto, aqui: levar o aluno à prática da linguagem formal, esta que encontramos nos textos científicos. Este, todavia, é motivo para continuidade do projeto em outro momento. 2. Materiais e Métodos Esse trabalho de pesquisa foi desenvolvido com estudantes do 8ºD e nonos anos do período matutino do Colégio Estadual Pres. Juscelino Kubitschek, em Nossa Senhora do Socorro, Sergipe, no período de 25 de julho a 25 de setembro. Para colocarmos em prática o trabalho com sequência didática envolvendo os gêneros textuais artigo de divulgação científica e verbete de enciclopédia, fizemos uma sondagem entre eles para a escolha do tema. A partir do tema AIDS, suscitado por eles, utilizamos texto de sensibilização através da música Ideologia, de Cazuza. Como prática discursiva, confeccionaram textos a partir de palavras presentes na composição como sonho, prazer e ideologia, e, a partir daí, compuseram em grupo verbetes de dicionário. Num segundo momento, os estudantes assistiram a um vídeo informativo do Dr. Dráuzio Varela sobre a Aids e a outro com depoimentos de soropositivos. Também foi proferida uma palestra com o prof. de Ciências da escola sobre o assunto. Depois dessa exploração, trabalhamos em sala de aula com artigo de divulgação científica e verbetes de enciclopédia impressos e encontrados na internet. Os estudantes efetuaram pesquisa bibliográfica em grupos acerca de subtemas: textos científicos sobre a Aids, formas de prevenção e contaminação; biografias de pessoas famosas que contraíram a Aids; cientistas que estudam a cura; estatísticas da doença no planeta. Com esses textos, confeccionaram cartazes compondo mural para que as informações fossem compartilhadas. Aplicamos, também, questionário. Um corpus de 138 alunos dos nonos anos participou, respondendo às questões para sabermos se poderiam estar inseridos nos grupos de risco de contaminação. Por fim, foi realizada atividade teórico/prática sobre quadrinhos, charges e cartuns com artistas plásticos sergipanos a fim de elaborarem cartazes.
3. Resultados e discussões
se mostrou o instrumento mais eficaz para os objetivos dessa etapa de trabalho (Figuras 01 e 02).
O lugar da prática: o gênero textual a serviço da conscientização Para se levar adiante o projeto de ensino da língua materna, o professor se depara com várias pedras no meio do caminho. Uma delas é o desafio de formar leitores competentes que dominem diversos gêneros textuais, aliando-os a uma prática sociocomunicativa eficiente. Por outro lado, dentre os variados textos que nossos estudantes têm à disposição virtualmente, ler aqueles científicos ainda carece de maior motivação. Sob essa perspectiva, encontramos no trabalho com gêneros textuais, através da proposta de sequência didática, um meio para eles interagirem com textos de divulgação científica. Por isso, valemo-nos de pesquisa bibliográfica; leitura e debate para refletirem sobre a linguagem utilizada nesses textos; percepção dos diferentes suportes em que são publicados e, na prática enunciativa, agirem em direção ao compartilhamento das informações com a comunidade escolar. Verificamos em anos anteriores que o tema abordado no livro didático não atraía os estudantes para o estudo dos textos de divulgação científica. Daí que o tema AIDS surgiu a partir de sondagem da fala deles, em sala de aula. Esse tema permitiu muitas possibilidades discursivas, além de permitir um envolvimento maior dos alunos nas atividades propostas. Constatamos que o sucesso do trabalho com gêneros em sala de aula perpassa pelo grau de envolvimento dos discentes em relação às propostas colocadas. Quando eles se reconhecem nelas, encontramos maior abertura para o desenvolvimento do trabalho. Logo, buscamos aliar, aos objetivos expressos nos PCN’S (4) de Língua Portuguesa, a transversalidade ao relacionarmos o tema Aids ao estudo dos gêneros textuais artigo de divulgação científica e verbete de enciclopédia. Desse estudo, observamos a necessidade de textos que ampliassem e disseminassem informações. Identificamos também a importância do suporte de publicação que poderíamos utilizar e dos mecanismos materiais dos quais dispúnhamos para a concretização do projeto. Constatamos que a confecção de cartazes
Figura 1
Figura 2
Vale ressaltar também a importância da sensibilização para introduzirmos o tema abordado. Para este fim, a composição Ideologia, de Cazuza, foi bem explorada. A partir dela, desconhecida até o momento pelos estudantes, houve um debate acerca da percepção da sonoridade e da letra da música. Surgiram dúvidas a respeito do significado de algumas palavras e esse gancho nos permitiu explorar a utilização do dicionário. Em seguida, expomos o contexto em que ela foi produzida,
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em contraponto ao atual no que diz respeito aos aspectos relativos à doença, que teve seu auge na década de 80, bem como a luta desse compositor em busca da cura. Essa fase foi extremamente produtiva, visto que as turmas foram divididas por palavras-chave da composição. A escolha dessa composição foi extremamente acertada a partir do momento que passou a permear o estudo dos outros gêneros (Figuras 03 e 04).
Figura 4
Figura 3
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Nesse momento, ainda não partimos para a reflexão linguística, pois o objetivo era trazer os alunos para o texto. Expusemos as ideias deles tais como elaboraram, como exemplificamos nas figuras 3 e 4. A cada etapa do projeto, os alunos, divididos por temáticas, liam textos e debatiam as informações coletadas sobre o tema proposto. Só depois criavam seus textos baseados nas propostas que colocávamos para eles. Verificamos em suas enunciações a presença constante da gramática internalizada, como podemos observar nas reproduções das palavras e suas variantes ideologia/idiologia e significado/siguinificado, presentes na figura 4. O tema abordado também guiou os caminhos enunciativos. Em princípio, planejamos a confecção de quadrinhos e fôlder para distribuição na comunidade. Devido ao tempo dedicado ao projeto e a recursos escassos de material, tal proposta, porém, foi substituída por breve curso de charge e cartum, no qual os estudantes confeccionaram cartazes (Figura 05). Por outro lado, a reflexão linguística acerca das produções merece destaque na continuidade do projeto. Encontrar formas de diminuir a influência da gramática internalizada sobre o domínio da linguagem formal por parte dos discentes se torna um desafio instigador para análise e prática linguística.
e o debate sobre elas se fazem presentes, é papel da escola servir de instrumento de divulgação e de informações que levem a comunidade a se conscientizar sobre seu papel importante e ativo na busca da prevenção da AIDS. Por conta dessa posição, e para termos uma noção mais clara sobre a possível inserção dos alunos em grupos de risco, aplicamos uma pesquisa quantitativa a respeito da vivência sexual deles (Figuras 6 e 7).
Figura 5
O seu prazer é um risco de vida? É público que os jovens se inserem cada vez mais cedo no campo da sexualidade. Durante o desenvolvimento do projeto, ao mesmo tempo em que muitos apresentavam curiosidade a respeito da Aids, os conhecimentos detectados em suas exposições eram ora vagos, ora confusos. As informações apresentavam-se desorganizadas e não fundamentadas no discurso científico. A AIDS, síndrome da imunodeficiência adquirida, é contraída através da infecção do vírus HIV. Uma vez no organismo, esse vírus destrói as defesas do corpo humano e torna-o presa fácil para qualquer doença oportunista. Sua contaminação pode ser feita através de relação sexual sem preservativo, transfusão de sangue ou compartilhamento de seringas injetáveis. Uma vez contaminada, a pessoa se torna soropositiva. Apesar de já haver remédios que permitam ao portador do vírus uma sobrevida maior, ainda não se encontrou a cura para ela. A pessoa contaminada passa a viver através da ingestão de um coquetel de remédios. Essa doença pode não se manifestar por um período de até dez anos. Portanto, se um jovem começa sua vida sexual aos 14 anos, é bem provável que, se não detectar que está infectado, contamine outras pessoas até os 24. Em Sergipe, por exemplo, Nossa Senhora do Socorro figura entre os quatro municípios com maior incidência dessa doença. Segundo estatísticas do governo estadual, 4,1 mil casos de AIDS, em Sergipe, foram notificados, de 1987 a 2015. Enquanto ambiente onde a circulação de ideias
Figura 6
Figura 7
Essa pesquisa foi feita com 138 alunos, com idades de 11 a 17 anos. Eles responderam a um questionário escrito sobre se já tinham vida sexual ativa. Destes, 55% responderam que sim e, em sua maioria, jovens entre 14 e 16 anos. Outra pergunta foi sobre a utilização de preservativo durante o ato sexual. Embora
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a maioria tenha respondido que sempre utiliza preservativo durante o ato sexual, existe uma parcela que nem sempre o utiliza. Dessa forma, constatamos que o tema serviu diretamente para a conscientização dos estudantes sobre a importância da prevenção, ao mesmo tempo em que introduz a perspectiva de continuidade da proposta. Portanto, se não houver políticas públicas que invistam na prevenção contra a propagação dessa doença, o crescente número de casos de AIDS pode levar a uma epidemia. Alertamos, porém, que, uma discussão mais aprofundada sobre os resultados do questionário, neste trabalho, desviar-nos-ia de nosso objetivo principal que é o trabalho com os gêneros textuais. Conclusão Consideramos, assim, que a efetivação deste trabalho foi de extrema importância, porque obtivemos o resultado almejado no papel interlocutivo entre os estudantes e os textos de divulgação científica. Outrossim, levamos o conhecimento científico através de cartazes para a escola, detectamos que existem alunos em situação de risco através de questionário aplicado e trouxemos o debate e reflexão sobre formas de se prevenir contra a AIDS. De forma mais abrangente, as informações alcançaram os leitores da comunidade escolar através de cartazes confeccionados pelos alunos após pesquisa bibliográfica. Assim, o projeto estimulou o interesse dos discentes pela pesquisa sobre o HIV, conscientizando-os também sobre como se prevenirem da contaminação da Aids. Por outro lado, praticaram escrita de textos, já que produziram outros gêneros textuais partindo das informações adquiridas. Isso possibilita aliar à prática pedagógica a teoria científica, levando informação de utilidade pública à comunidade. Referências DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Os gêneros escolares – Gêneros orais e escritos na escola: Considerações psicológicas e ontogenéticas. Campinas: Mercado de Letras, 2004. EDUCAÇÃO, Ministério da. Programa Gestão da Aprendizagem. Gestar II. Língua Portuguesa: Caderno de Teoria e
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Prática 2 – TP2: análise linguística e literária. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2008. EDUCAÇÃO, Ministério da. Programa Gestão da Aprendizagem. Gestar II. Língua Portuguesa: Caderno de Teoria e Prática 3 – TP3: gêneros e tipos textuais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2008. PCN de Língua Portuguesa.In: http ://portal.mec.gov.br/ seb/arquivos/pdf/portugues.pdf. pp. 45 a 104. Acesso em 23/08/2016 http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2015/06/sergipe-registrou-mais-de-quatro-mil-casos-de-aids-no-periodo-de-28-anos.html Acesso em 23/08/2016 http://www.lagartonoticias.com.br/2016/06/07/lagarto-esta-entre-os-municipios-com-maior-incidencia-do-virus-hiv/ Acesso em 23/08/2016 http://www.renascebrasil.com.br/f_aids2.htm Acesso em 23/08/2016 http://www.giv.org.br/ativismo/artigo01.htm Acesso em 23/08/2016
Resumo. A experimentação é uma importante ferramenta no processo de ensino-aprendizagem em Química, pois o aluno estabelece uma dinâmica e indissociável relação entre teoria e prática. Algumas escolas públicas da Rede Estadual de Ensino de Sergipe não apresentam laboratório de Ciências, o que dificulta a utilização de experimentos no Ensino de Química. Uma alternativa para tal fato é a busca de experimentos com materiais alternativos e de baixo custo. Para auxiliar nessa pesquisa, o projeto tem como objetivo divulgar experimentos presentes nos livros didáticos adaptados com materiais alternativos. Os experimentos adaptados são divulgados no blog: www.quimicacegjaf.blogspot.com.br.
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Search 1. Introdução
2. Materiais e Métodos
As aulas experimentais despertam forte interesse entre os alunos. Este tipo de atividade tem caráter motivador, aumentando a capacidade de aprendizado, pois envolve os discentes nos conteúdos científicos. Apesar das contribuições da experimentação, sua utilização nas aulas ainda não é o desejado. Para tal, tem escolas em que o laboratório foi transformando em sala de aula ou depósito, professores que não apresentam segurança para realizar aulas práticas, docentes com carga excessiva de trabalho, sem tempo para pesquisar e preparar as apresentações práticas. Além disso, existem os educadores que temem o acontecimento de acidentes com os alunos e eles tenham que responder judicialmente pelo caso (BARATIERI et al, 2008; LISBOA, 2015). A experimentação no Ensino de Química é fundamental para o entendimento de conceitos científicos. A presença de experimentos nos livros didáticos desperta o interesse do aluno para realizá-los e analisá-los. No entanto, alguns destes ensaios requerem reagentes e vidrarias não disponíveis em algumas escolas da rede pública do Estado de Sergipe devido à falta de Laboratório de Ciências. Diante deste cenário, há a necessidade de adequação das atividades presentes nos materiais didáticos à realidade escolar. Os laboratórios de Ciências são construções que geram elevado custo, exigem técnicos para seu funcionamento, os alunos precisam se deslocar até o local, as turmas devem ser pequenas, os materiais tem que ser frequentemente substituídos e renovados, entre outras implicações. Talvez, devido a isso os laboratórios e as aulas experimentais de Química se tornam cada vez mais escassas (BENITE e BENITE, 2009). Uma alternativa para estas dificuldades é a experimentação de baixo custo, pois diminui a despesa operacional e gera menor quantidade de lixo químico. Para tal proposta, o professor leva o material necessário para os experimentos ou instrui aos alunos sobre como obtê-los (VIEIRA et al, 2007). O objetivo deste projeto é adaptar experimentos presentes nos Livros Didáticos de Química do Ensino Médio com materiais alternativos presentes no cotidiano dos estudantes. Além disso, os experimentos adaptados foram divulgados num blog para conhecimento da comunidade em geral.
Para o desenvolvimento deste projeto, bolsistas PIBIC JR do Ensino Médio do Colégio Estadual Governador João Alves Filho foram selecionados. Este foi desenvolvido em etapas pré-definidas, tais como: * Seleção de materiais - Livros Didáticos de Química; * Pesquisa de experimentos nos livros escolhidos; * Seleção das atividades adequadas para a adaptação dos materiais alternativos; * Proposta por parte dos alunos de mudanças; *Análise e discussão das sugestões entre os sujeitos do projeto; * Testes dos experimentos – sob a orientação do docente responsável - com os novos materiais; * Construção do blog com as informações necessárias para a realização das experiências, dentre elas: materiais utilizados, procedimento para a realização. Para que os resultados deste trabalho tenham ampla divulgação, além das apresentações em eventos científicos, foi criado um blog com endereço eletrônico www.quimicacegjaf.blogspot.com.br.
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3. Resultados e discussão A aula prática não deve ser realizada apenas com aparato experimental sofisticado, mas que possibilite a interpretação dos fenômenos químicos e a troca de informações entre os alunos. Alguns fatores devem ser considerados nesse tipo de aula: instalações da escola, material e os reagentes requeridos e as escolhas das experiências. Desta forma, este trabalho apresenta experimentos adaptados para realização em sala de aula. Os bolsistas estiveram inseridos no ambiente de pesquisa dos experimentos, análises para adequações das vidrarias por materiais alternativos disponíveis em seu cotidiano, construção de procedimentos/ descrições para a realização da experimentação com os novos materiais. Todo o processo de desenvolvimento do projeto estimula o estudante a desenvolver suas práticas, como também, poderá incentivar outros alunos a prestigiarem as atividades em sala de aula. Os Livros Didáticos escolhidos como materiais de pesquisa para a adaptação dos experimentos foram os seguintes:
LISBOA, Júlio Cezar Foschini (coord.) Ser Protagonista Química. Volume 1,2 e 3. 1ª Edição. São Paulo: Editora SM Ltda. MORTIMER, E. F.; MACHADO, A. H. Química, volume único: ensino médio. São Paulo: Scipione, 2005. SANTOS, W. L. P.; MÓL,, G. S. (coord.). Química Cidadã: Volume 1, 2 e 3, ensino médio. São Paulo: AJS, 2013. REIS, Martha. Química 1, 2 e 3. 1ª Edição. São Paulo: Ática, 2013. Após a escolha dos Livros Didáticos, os experimentos selecionados foram organizados de acordo com o volume do livro em que está inserido. Assim, os experimentos são divididos em 1º Ano, 2º Ano e 3º Ano, deixando claro que as atividades podem ser utilizadas em outras séries do Ensino Fundamental ou Médio. A Tabela 1 apresenta os experimentos adaptados neste trabalho. Tabela 1. Experimentos adaptados de Livros Didáticos do Ensino Médio. 1º Ano Papel Indicador ácido-base Fenômeno Químico ou Físico? Cromatografia Densidade do ovo de galinha Teor de álcool na gasolina Tabela Periódica Lei de Lavoisier e de Proust Modelo Atômico de Dalton Modelo Atômico de Thomson Modelo Atômico de Rutherford Modelo Atômico de Bohr 2º Ano Eletrólise da água Balança para reações Torre de Materiais Como congelar rápido Efeito Tyndall Por que a vela apaga? Termodinâmica Controle de reações 3º Ano Biodiesel Cola de Leite Sabão Plástico Biodegradável
O blog foi produzido para a divulgação destes experimentos testados. A Figura 1 exibe a página inicial do blog. Neste, são demonstrados os procedimentos experimentais e resultados obtidos, além disso, fotografias das experiências são apresentadas para facilitar sua a reprodução por outros docentes e discentes.
Figura 1.Página inicial do blog quimicacegjaf.blogspot.com.br
Neste blog, o material está dividido por série do Ensino Médio para facilitar a pesquisa de experimentos por alunos e professores. A escolha da produção do blog para a disseminação do conhecimento produzido deve-se a facilidade na construção e por ser um serviço gratuito. Além disso, no blog há a possibilidade de interação entre o autor e o visitante/leitor através dos comentários no material divulgado. Dentre as dificuldades impostas ao ensino experimental, uma que apresenta destaque é a falta de equipamento ou laboratório nas escolas da Educação Básica. Os professores consideram a experimentação fundamental para melhorar o ensino de química, no entanto, lamentam a carência de condições para tal (LISBOA, 2015). Com esta ferramenta digital, os professores poderão ter uma fonte de pesquisa de experimentos simples que podem ser utilizados em sala de aula e melhorar o processo de ensino-aprendizagem. 4. Conclusão O presente projeto apresenta dados interessantes para os professores e alunos da Educação Básica. Os procedimentos experimentais apresentados são de conteúdos científicos presentes no currículo dos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio e pode também ser utilizado no 9° Ano do Ensino Fundamental.
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share Os materiais utilizados são de fácil acesso e os procedimentos de fácil manuseio, sem necessidade de Laboratório de Ciências ou vidrarias e reagentes não disponíveis nas escolas. Os resultados são divulgados no blog: www.quimicacegjaf.blogspot.com e em eventos científicos. Os alunos participantes pesquisaram formas de alterar o procedimento contido nos livros e aprimorar de forma prazerosa e divertida o conhecimento da disciplina química. Assim sendo, o projeto contribui para os bolsistas e também para os professores e estudantes que apresentam as mesmas dificuldades de falta de estrutura física das escolas.
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Referências BARATIERI, S. M.; BASSO, N. R. S.; BORGES, R. M. R.; FILHO, J. B. R. Opinião dos estudantes sobre a experimentação em Química no Ensino Médio. Experiências em Ensino de Ciências, 3, 3, 2008. BENITE, A. M. C.; BENITE; C. R. M. O laboratório didático no ensino de química: uma experiência no ensino público brasileiro. Revista Iberoamericana de Educación, 48, 2, 2009. LISBÔA, J. C. F. QNEsc e a Seção Experimentação no Ensino de Química. Química Nova na Escola, 37, 2, 2015. VIEIRA, H. J.; FIGUEIREDO-FILHO, L. C. S., e FATIBELLO-FILHO, O. Um Experimento Simples e de Baixo Custo para Compreender a Osmose. Química Nova na Escola, 26, 2007.
Resumo. O presente artigo descreve trabalho realizado com a população da cidade de Umbaúba/SE, que teve como objetivos: verificar o conhecimento que os moradores da cidade de Umbaúba/SE possuem a respeito das plantas medicinais; gerar um banco de dados acerca das espécies de plantas medicinais que são comercializadas e utilizadas na cidade; verificar se os herbolários atuantes na cidade de Umbaúba/SE oferecem aos usuários as informações necessárias para a utilização correta das plantas medicinais.
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1. Introdução Dentro da biodiversidade de nosso planeta, as plantas sempre ocuparam um lugar de destaque no processo de desenvolvimento e continuidade de quase todo tipo de vida existente. O uso de plantas com fins medicinais para tratamento, cura e prevenção de doenças, muitas delas cultivadas no fundo do quintal, é uma das formas mais antigas de prática medicinal da humanidade (BOLZANI & JUNIOR, 2006). Na cidade de Umbaúba/SE, as pessoas mais idosas representam uma rica fonte de conhecimento popular sobre plantas medicinais e, por isso, são frequentemente consultadas pelos mais jovens sobre o uso de ervas para a cura e tratamento de muitas doenças. Além do cultivo nas próprias residências, essas hortaliças podem ser encontradas em lojas específicas e nas feiras livres, que constituem um espaço privilegiado na expressão cultural de um povo. Dessa forma, nos questionamos: Como são comercializadas e utilizadas as ervas medicinais na cidade de Umbaúba/SE?. Os objetivos desse trabalho foram: verificar o conhecimento que os moradores da cidade de Umbaúba/SE possuem a respeito das plantas medicinais; gerar um banco de dados acerca das espécies de plantas medicinais que são comercializadas e utilizadas na cidade; verificar se os herbolários atuantes na cidade de Umbaúba/SE oferecem aos usuários as informações necessárias para a utilização correta das plantas medicinais. 2. Materiais e Métodos A pesquisa foi realizada por alunos do 2º e 3º Anos do Ensino Médio do Colégio Estadual Benedito Barreto do Nascimento, localizado na cidade de Umbaúba/SE, durante o segundo semestre de 2015 e início de 2016. O trabalho iniciou com o levantamento das espécies de plantas medicinais que são comercializadas na feira livre da cidade, que acontece dia de segunda-feira, e em lojas especializadas na venda destes produtos. Os comerciantes, feirantes e pessoas da comunidade que possuem conhecimentos sobre plantas medicinais, aqui denominados herbolários, foram entrevistadas individualmente com base em um questionário pré-elabora-
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do com perguntas sobre a indicação das plantas medicinais e os cuidados do seu uso. Também foi aplicado questionários com a população da cidade de Umbaúba, visando verificar o conhecimento dos moradores sobre as ervas medicinais. 3. Resultados e discussão Foi realizado um levantamento de todas as ervas medicinais comercializadas na cidade de Umbaúba/ SE, na feira livre e em lojas especializadas. A feira livre da cidade ocorre todas as segundas-feiras e é considerada uma das maiores da região Centro-Sul do Estado, sendo possível encontrar os mais variados tipos de alimentos, artigos de vestuários e objetos diversos. Além desses itens, a feira oferece grande variedade de ervas medicinais. Na cidade também podemos encontrar ervas medicinais em algumas lojas especializadas, em farmácias e supermercados. Foi realizada entrevista com 6 pessoas denominadas herbolárias por possuírem conhecimentos relacionado com indicação de ervas medicinais. Essas pessoas são fontes de consulta da população, que as procuram em busca de tratamento e cura de enfermidades. Em relação aos dados sociodemográficos dos entrevistados, podemos destacar que 66,7% residem na zona urbana, 83,3% são do sexo feminino, 66,7% possuem idade acima de 70 anos, 50% são viúvos, 66,7% são naturais de outro município de Sergipe, enquanto 33,3% são naturais de Umbaúba, 100% são católicos, 66,7% nunca estudaram e 33,3% possuem o ensino fundamental incompleto. Em relação ao tempo de atuação como herbolário, 50% dos entrevistados possuem mais de 50 anos, 33,3% possuem entre 20 e 30 anos de atuação, contra 16,7% com um tempo de trabalho entre 5 e 10 anos. Sobre a aquisição das ervas, 100% dos herbolários disseram que cultivam suas próprias ervas e, quando necessário, adquirem-nas em lojas ou na feira livre da cidade, e todos eles também disseram que não comercializam as ervas, apenas as indicavam. Perguntou-se aos herbolários acerca da recomendação de resguardo, ou não, para os seus clientes pós o uso de ervas medicinais. A partir dessa ação, observamos que 83,3% dos entrevistados disseram que
não é necessário realizar nenhum resguardo, pois acreditam que as plantas medicinas não fazem mal nenhum à saúde das pessoas. Também questionamos se havia alguma erva capaz de intoxicar o usuário ou causar algum efeito colateral, mas 100% dos entrevistados disseram que não. Em relação ao aconselhamento dos clientes a consultarem um médico, 50% responderam que não recomendam, demonstrando a convicção dos herbolários do poder das ervas medicinais e a ausência de possíveis efeitos colaterais. Por fim, listamos as ervas recomendadas pelos herbolários entrevistados e a sua indicação medicinal.
Realizamos ainda um levantamento bibliográfico da indicação das ervas citadas na literatura científica. A tabela 1 apresenta alguns dos resultados. Também foi aplicado questionário em 280 residências da cidade de Umbaúba/SE, sendo 150 na zona urbana e 130 na zona rural. Inicialmente, questionamos se utilizavam ervas medicinais e 61,8% dos respondentes disseram que sim. Em relação à confiança que os entrevistados possuíam no poder de cura das plantas, 78,5% afirmaram confiar, enquanto 21,5% disseram que não confiavam nas plantas medicinais. Esse percentual se aproxima do encontrado pela Organização Mundial da Saúde, segundo a
Tabela 1. Nome e indicação de uso das ervas Nome popular Alecrim Babosa Cajueiro Casca de cebola Espinheira santa Eucalipto
Nome científico
Indicação popular
Indicação científica
Rosmarius officinalis
Dores abdominais, dor de cabeça e dor de dente. Câncer Inflamação
Anti-hipertensiva e digestivo (AGRA et al., 2007). Cicatrizante (TAKZARE et al., 2009). Hipoglicemiante (ARDUÍDO e SOARES, 1951) Hipoglicemiante (HUTCHINSON et al., 1923). Antineoplásico e antimicrobiana (MING et al., 1998). Anti-hiperglicêmico (GRAY e FLATT, 1998) Anti-inflamatório (CANUTO, 2007).
Aloe vera Anacardium occidentale Allium cepa
Cólicas menstruais
Maytenus ilicifolia
Cicatrizante
Eucalyptus globulus
Gripe e sinusite
Imburana de cheiro Jurubeba Malva
Commiphora leptophloes Solanum paniculatum Malva moschata
Dor de cabeça
Manjericão
Ocimum basillicum
Gripe e tuberculose Infecção, gastrite, inchação e inflamação. Gripe e dor de cabeça.
Mastruz
Dysphania ambroseoides Bauhinia variegata
Inflamação, ferimentos, gastrite e verme. Colesterol
Phyllanthus niruri
Problema nos rins Diabete
Romã
Abelmoschus esculentus Punica granatum
Sene
Cassia angustifolia
Sucupira
Pterodon emarginatus
Pata de vaca Quebra pedra Quiabo
Inflamação na garganta e gripe. Colesterol Diabete e dor na coluna
Anti-vital (GUTIERREZ, 2002). Anti-inflamatório e antimicrobianas (TORRES et. al., 2000) Antiespasmódico, antisséptico intestinal, diurético (VENÂNCIO, 2006). Antirreumático, antipirético, cicatrizante, auxilia a digestão (CUNHA, 2007). Diabete tipo 2 (LINO et al., 2004). Tratamento ou prevenção da urolitíase (BARROS et al., 2003). Antiparasitose, inflamação estimada (BAZÁN, 2006). Antibacteriano (MACHADO et al., 2002). Aumento a perestaltes (ROCHA e ROCHA 2000). Anti-inflamatório (NUNAN et al., 1982).
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qual, 80% da população mundial depende, ou confia, nas plantas medicinais. Os gráficos a seguir mostram as respostas das demais perguntas do questionário.
Figura 1. Eficiência das ervas medicinais segundo a população.
que atualmente é uma das bebidas mais consumidas do mundo (Figura 2). Observando a procedência das plantas medicinais utilizadas, podemos concluir que 80% dos entrevistados obtêm as plantas medicinais a partir do cultivo em casa, indicando que o cultivo doméstico é essencial para a preservação e transmissão do conhecimento etnobotânico (Figura 3). Sobre a fonte de conhecimento para a utilização das ervas medicinais, observamos que 64,3% aprenderam a usar as ervas com seus familiares, transmitindo assim o conhecimento de geração a geração. Podemos destacar ainda que 3,5% disseram que aprenderam com os herbolários da cidade e 28,5% disseram que não possuem conhecimento, portanto, usam as ervas prescritas por outras pessoas, sem nenhuma precaução. 4. Conclusão
Figura 2. Forma de uso das ervas medicinais segundo a população.
Preservar a sabedoria popular é uma forma de conservar o patrimônio cultural e o conhecimento das comunidades. A pesquisa permitiu agregar conhecimento sobre os tipos de ervas medicinais e sua indicação para a cura e tratamento de doenças, comparando as atividades indicadas pela cultura popular com as atividades comprovadas cientificamente, correlacionando o conhecimento de botânica e de química de produtos naturais, através das substâncias presentes nas plantas relatadas na literatura. Referências
Figura 3. Procedência das ervas medicinais utilizadas pela população.
A maior parte dos entrevistados afirmou que os remédios de laboratório agem mais rapidamente do que as plantas medicinais, por isso acham que as plantas medicinais são menos eficientes (Figura 01). Dentre as formas de uso das plantas medicinais, observa-se uma predominância de chás (67,3%),
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Resumo. Radiações eletromagnéticas estão ao nosso redor a todo o momento. O arco-íris, o forno de micro-ondas e a luz do Sol são exemplos de fenômenos que envolvem esse tipo de radiação. Com a intenção de aprofundar os conhecimentos sobre ondas eletromagnéticas e despertar a curiosidade dos alunos com respeito à Física, Química e Astronomia foi ministrado um minicurso que abordou temas relacionados à radiação eletromagnética, espectros de radiação e espectroscopia de fontes terrestres e astronômicas. Com base nesses temas foi feita uma oficina onde os alunos construíram seus próprios espectroscópios, tornando os conteúdos aprendidos mais próximos e significativos.
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1. Introdução
2. Materiais e Métodos
Radiações eletromagnéticas estão ao nosso redor a todo o momento. O arco-íris, o forno de micro-ondas, a luz do Sol, das estrelas e de diversos outros corpos celestes são exemplos de fenômenos que envolvem esse tipo de radiação. Incrivelmente tais fenômenos podem não parecer estar correlacionados para olhos despreparados. Para entendermos estas radiações devemos estar familiarizados com conceitos de ondulatória como frequência, período e com o significado de cor, que basicamente é a interpretação que nosso cérebro dá a diferentes frequências da luz que nossos olhos recebem. Com a intenção de aprofundar os conhecimentos sobre ondas eletromagnéticas, e com o interesse de despertar a curiosidade dos alunos com respeito à Física, Química e Astronomia um minicurso foi desenvolvido para estudantes de qualquer série do Ensino Médio abordando tema de ondulatória, radiação eletromagnética, conceito de cor, daí passando para temas discutidos em Química com espectroscopia e Leis de Kirchoff, até chegarmos aos espectros de corpos celestes, muito utilizados na Astronomia para identificar a composição química destes corpos. Uma oficina que ensinava a construir um espectrógrafo caseiro fez parte deste minicurso. Os alunos puderam obter fotos de espectro de diferentes fontes luminosas através de seus celulares, o que tornou possível fazer um comparativo das linhas de seus espectros com as de espectros de fontes semelhantes, extraídos em laboratório. Este trabalho teve como objetivo esclarecer como ocorrem fenômenos tão próximos de nós e igualmente obscuros ao nosso entendimento. Como exemplo clássico disso temos o arco-íris. Após a oficina e obtenção dos espectros foi destinado um momento para captar as percepções e sugestões dos alunos quanto às atividades executadas. Registramos também a contribuição dos alunos em forma perguntas acerca do tema, fato esse que forneceu indícios que o minicurso associado à oficina tornou a aprendizagem mais participativa e, portanto, mais significativa, ajudando a difundir entre os alunos que a ciência é algo bem mais acessível do que eles geralmente pensam.
Para execução do projeto foi feito um cartaz anunciando o minicurso aos alunos do Ensino Médio. Foram abertas 40 vagas, os alunos interessados deveriam inscrever-se. O minicurso foi realizado no auditório do colégio, onde também foram confeccionados os espectroscópios. O material utilizado foi: um caixa (de sapato, cereal ou fósforo), CDs, fita adesiva, tesoura (com ponta), régua, caneta e fita adesiva preta (Figura1).
Figura 1
A primeira parte do minicurso ocorreu na forma de palestra, onde foi solicitado aos alunos que anotassem possíveis questionamentos, depois foi destinado um momento para perguntas a respeito do tema. Num segundo momento foi realizada a oficina de construção dos espectroscópios.
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3. Resultados e discussão 3.1. Montagem do Espectroscópio Pegue a caixa de sapato ou qualquer outra caixa (podemos usar também rolos de plástico filme). No lado menor, no meio, faça um corte, de aproximadamente 4 cm usando apenas uma das pontas da tesoura. O ideal é que ele fique comprido e estreito (Figura 2). Figura 3
Figura 4 Figura 2
Retire a película do CD com a fita adesiva (Figura 3). Pegue o CD-R e corte-o com a tesoura como na figura 4. No lado oposto ao primeiro corte (comprido e estreito) fixe um pedaço de cartolina ou papelão de modo a formar uma base com um ângulo de aproximadamente 60º com a lateral da caixa., Nesta base fixe o pedaço do CD com fita adesiva, (Figura 5).
Figura 5
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Na tampa da caixa, logo acima de onde fixou o CD, faça um pequeno furo retangular, de forma que não deixe entrar muita luz (Figura 6). Feche a caixa e passe fita para tampar os eventuais orifícios que existam ao seu redor. Dentro da caixa deve ficar bem escuro. Apenas o filete cortado na lateral deverá permitir a entrada de luz (Figura 7).
Este procedimento foi feito pelos alunos. A seguir eles fotografaram os espetros com seus aparelhos celulares (Figura 8). Foram disponibilizadas lâmpadas incandescentes, fluorescentes e velas para que fosse possível observar a diferença entre os espectros. Também ficaram disponíveis fotos de espectros extraídos em laboratório (figuras 9), para comparação com os dos alunos.
Figura 8 Figura 6
Figura 9
3.2. Palestra e perguntas
Figura 7
A palestra abordou temas relacionados à ondulatória, radiação eletromagnética, conceito de cor, Leis de Kirchoff, e como espectros de corpos celestes são utilizados na Astronomia para identificar a composição química destes corpos. Ao final surgiram perguntas com: - Porque se usa o CD para gerar a difração? Em quais outras situações pode-se usar a espectroscopia?
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4. Conclusão O projeto abordou temas relativos ao conteúdo da 2° série doEnsino Médio. Apesar disso o minicurso foi aberto a todos os alunos do Ensino Médio, com o intuito de trazer os temas abordados de forma simples e acessível. As especificações de cada conteúdo foram dadas posteriormente em sala de aula. Após as discussões sobre a palestra os alunos relataram que o fato de construir seus espectroscópios e “ver com os próprios olhos” os diferentes espetros, favoreceu a aprendizagem. Foi possível notar que este tipo de oficina auxilia os alunos a manterem o foco na atividade, diferentemente de uma aula puramente expositiva. Referências FERRAZ NETTO, Luiz. Espectroscópio. Disponível em: <http://www.feiradeciencias.com.br/sala09/09_21.asp >. Acesso em: 25 de agosto de 2016. <http://astro.if.ufrgs.br/rad/espec/espec.htm >. Acesso realizado de 01 a 30 de agosto de 2016. <http://w3.ufsm.br/rogemar/fsc1057/aulas/aula19_espectroscopia.pdf>. Acesso realizado de 01 a 30 de agosto de 2016. <http://stoa.usp.br/clovisdsn/files/-1/10258/Montando+um+espectrosc%C3%B3pio.pdf>. Acesso em: 25 de agosto de 2016.
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Resumo. Este projeto teve como objetivos contribuir para o desenvolvimento da competência escrita dos alunos e conscientizá-los da necessidade de respeitar as diferenças e de conviver com elas harmonicamente. Para tanto, foram realizadas atividades como debates, análise de histórias em quadrinhos (HQs), produção das histórias, avaliação e reescrita dos textos, levando em consideração o papel do professor como mediador. O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Presidente Juscelino Kubitschek, localizado em Nossa Senhora do Socorro, com os alunos das três turmas de 6º ano do Ensino Fundamental, nas aulas de Língua Portuguesa e de Artes.
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1. Introdução A aprendizagem da produção de textos é essencial para o sucesso nos estudos e para a inserção do sujeito na sociedade. Desse modo, é necessário proporcionar ao aluno, com maior efetividade, atividades que desenvolvam sua habilidade de produzir textos eficazes, que cumpram sua função sociocomunicativa. Assim, este projeto teve como objetivo desenvolver a habilidade na produção de histórias em quadrinhos, ampliando a competência discursiva do aluno e, assim, contribuir para o desenvolvimento da competência escrita, a fim de possibilitar-lhe não só seu crescimento estudantil, como também uma participação mais efetiva na sociedade. O projeto Histórias em quadrinhos: reinventando a convivência com as diferenças levou os alunos a produzirem HQs com o tema “Convivendo com as diferenças”. O estudo do gênero HQ foi fundamentado nas teorias de Ramos (2012) e na abordagem que o livro didático Todos os textos, 6º ano, de Cereja e Magalhães (2007) faz sobre as HQs. O trabalho de produção foi pautado nos estudos de produção de texto como processo, de Passarelli (2012). A escolha do gênero HQ ocorreu devido ao seu caráter multimodal, o que o torna mais interessante para o aluno, além de exigir dele o envolvimento não só com o texto verbal, mas também com o não verbal na produção de sentidos. A fim de fundamentar o trabalho com a multimodalidade, recorreu-se aos postulados de Kress e Van Leeuwen (2001). A prática educativa, como diz Libâneo (1990, p.124), “consiste em garantir a todas as crianças, sem nenhuma discriminação de classe social, cor, religião ou sexo, uma sólida preparação cultural e científica, através do ensino das matérias”. Assim, ao abordar a temática do respeito às diferenças com os educandos, os educadores trabalharam um tema importante no processo de aprendizagem, possibilitando ao aluno refletir sobre as diferenças e levando-o a perceber que é necessário respeitar o outro para que se alcance uma sociedade mais harmônica e igualitária.
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2. Materiais e Métodos 2.1 Lócus onde foi realizado o projeto: a instituição, o alunado Este trabalho foi realizado no Colégio Estadual Presidente Juscelino Kubitschek, localizado no conjunto João Alves, município de Nossa Senhora do Socorro – SE, com as três turmas do 6º ano do Ensino Fundamental do turno matutino, no período entre agosto e setembro de 2016. O 6º ano A é constituído por 30 alunos, o 6º anos B por 31 e o C, também, por 31 alunos. Os discentes encontram-se na faixa etária entre 9 e 17 anos e apresentam dificuldades na leitura e na escrita, mas são bastante participativos na realização das atividades. 2.2 Descrição das atividades A fim de se alcançar os objetivos pretendidos, as turmas foram divididas em grupos compostos por cinco alunos cada um, pois o trabalho em regime de colaboração pode ser bastante produtivo, uma vez que “a criança é sempre capaz de fazer mais e resolver tarefas mais difíceis em colaboração, sob direção ou mediante algum tipo de auxílio do que independentemente” (VYGOTSKY, 1987, p. 209). Em equipe, um ajuda o outro, superando dificuldades e contribuindo para o aprendizado dos envolvidos no processo. Na primeira aula, foi realizada uma conversa informal com os alunos sobre o trabalho a ser desenvolvido; em seguida, leitura livre de histórias em quadrinhos com o intuito de motivá-los à produção das HQs. Na segunda aula, promoveu-se uma discussão para levantar as características do gênero, levando em consideração o conhecimento prévio do aluno e a leitura da aula anterior; depois, realizou-se uma aula expositiva, a fim de sistematizar as características do gênero. Em outro momento, foi realizada uma oficina de HQ, ministrada pelo artista plástico Bené Santana e um cartunista do Jornal O Dia. Na etapa de planejamento, as atividades realizadas foram: definição do tema para a produção, recurso motivador (apresentação de um vídeo e discussão das ideias abordadas nele), definição do ambiente em que acontece a história e personagens, cria-
ção do traço- identidade do ilustrador, pesquisa sobre as cores, formas, elementos e tipos de HQ’s (Figuras 1, 2 e 3). Na etapa de produção, os grupos criaram suas HQs, em seguida, procedeu-se à etapa de leitura e avaliação do texto (levando em conta as características do gênero, adequação da linguagem, interlocutor pretendido, bem como os aspectos gramaticais) e reescrita do texto (quantas vezes se fizeram necessárias).
Figura 1
Figura 2
Figura 3
3. Resultados e Discussão Com este trabalho, esperávamos que os alunos produzissem textos eficazes, apresentando as características específicas do gênero história em quadrinhos, adequação da linguagem à situação sociodiscursiva, linguagem não verbal complementando ou ampliando os sentidos da linguagem verbal. A primeira versão dos textos apresentou problemas na pontuação, na ortografia, na construção das frases, início de frases com letras minúsculas. Mas todos os textos se enquadraram no gênero HQ, apresentando uma história sequencial, com o tempo no interior do quadrinho, as falas das personagens em balões, confirmando a afirmação de Ramos (2012) de que na história em quadrinho: O espaço da ação é contido no interior de um quadrinho. O tempo da narrativa avança por meio da comparação entre o quadrinho anterior e o seguinte ou é condensado em uma única cena. O personagem pode ser visualizado e o que ele fala é lido em balões, que simulam o discurso direto (RAMOS, 2012, p. 18). As produções também apresentaram adequação entre linguagem verbal e não verbal, além de atenderem ao princípio da narração, tipologia na qual se enquadram as HQs. O tema também foi compreendido por todos os grupos, que produziram histórias com relevantes situações de respeito às diferenças. Nas produções, foram abordadas diferenças provocadas por dificuldades motoras, deficiência visual, síndrome de down, além de orientação sexual e religiosa. Foi possível perceber, através dessas histórias, que houve uma sensível mudança na forma de ver essas diferenças, pois todas apresentaram interações harmoniosas e de profundo respeito às particularidades de cada indivíduo. Essa mudança no pensar se estendeu para a convivência entre eles, visto que as brincadeiras de mau gosto, relacionadas à cor, ao uso de óculos, à orientação sexual, entre outras, diminuíram. Compreendendo o texto como um processo, os alunos foram levados a avaliarem seus textos, a fim de verificarem se estes se enquadravam no gênero HQ, se a linguagem estava apropriada à situação de comu-
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nicação e ao interlocutor pretendido, se apresentavam textualidade e se a ortografia e a pontuação estavam adequadas. Para tanto, eles seguiram um barema, elaborado pelas professoras, com os principais elementos a serem observados nas produções. Possibilitou-se, dessa forma, uma melhora sensível dos textos. Além dessas orientações gerais entregues a todos os grupos, as professoras acompanharam cada equipe, observando problemas específicos, levantando questionamentos e sugerindo mudanças. O trabalho de produção de texto como processo mostrou-se bastante produtivo, pois houve relevante avanço na produção da última versão em relação à primeira, ratificando a concepção de Passarelli (2012) de que o texto deve ser entendido como processo. Segundo essa autora, é preciso planejar o texto, escrever uma primeira versão, avaliá-la e proceder à reescrita até chegar ao texto desejado. A mediação do professor foi imprescindível, visto que suas observações, questionamentos e sugestões contribuíram para que eles refletissem sobre seus textos e movessem estratégias para melhorá-los. Isso confirma as declarações de Suassuna (2011) sobre a importância do papel do professor como mediador. O trabalho com HQ foi importante, já que o desenho traz elementos internos do discente, inclusive como ele vê e vivencia o mundo. Foram criadas histórias em quadrinhos com a temática “Convivendo com as diferenças” e os alunos abordaram várias temáticas com o viés citado, passando pelo âmbito de respeito ao próximo e convívio social. Através das HQs, tornou-se possível desenvolver as habilidades de leitura pictórica e verbal. Já a produção de texto mostrou-se produtiva na ampliação da competência discursiva dos alunos, uma vez que eles produziram textos eficazes que atenderam às características do gênero. Os alunos se deparam em seu cotidiano com uma infinidade de textos multimodais, ou seja, textos com vários recursos semióticos: palavra, som, imagem, símbolos, etc. Esse projeto foi importante, porque não apenas a escola os preparou para a leitura desses textos, como também para a escrita. O gênero HQ mostrou-se bastante útil na contribuição dessa preparação, uma vez que esse gênero pode ser constituído de diferentes recursos semióticos: verbal, imagético, símbolos, etc. Dessa forma, promover uma oficina de HQ foi
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uma experiência positiva como exercício para as produções, pois os ministrantes apresentaram várias formas de se representar uma ideia, por meio de desenhos. Os alunos puderam observar que, partindo de um traçado básico, como um coração ou um laço, podem-se criar várias outras formas, dando-lhes características diversas, de acordo com a mensagem que o desenhista quiser passar. Isso coaduna com a concepção de Kress e Van leeuwen (2001) de que o posicionamento das imagens, — esquerda/direita, centro/margem, posição superior/posição inferior —, numa produção visual, gera diferentes significados, manifesta a valoração que é dada à imagem ou à informação por ela representada. Com a oficina, os alunos não só aprenderam técnicas, como também adquiriram matéria prima para a criação de seus desenhos. Além disso, ela contribuiu para deixá-los mais confiantes, uma vez que os ministrantes procuraram respeitar a produção deles, cumprindo uma função mediadora durante a realização dos desenhos. Portanto, essa atividade ainda os estimulou para a produção de suas HQs, pois além de deixá-los mais seguros foi bastante interativa e prazerosa. O resultado disso foram alunos sem receio de produzirem seus desenhos e mais seguros do que queriam criar. Dessa forma, produziram desenhos pertinentes com a temática abordada, ampliando os sentidos do texto verbal. Isso confirmou o que Kress e Van Leeuwen (2001) afirmam sobre o fato de a imagem ser a própria informação. Além dos elementos mencionados anteriormente, os textos também apresentaram onomatopeias e interjeições, mostrando que os alunos compreenderam que esses recursos ampliam os sentidos do texto e “acrescentam sonoridade às imagens” (CEREJA; MAGALHÃES, 2007, p. 101). Diante do que foi exposto, pode-se afirmar que o projeto Histórias em quadrinhos: reinventando a convivência com as diferenças foi bem-sucedido, pois os objetivos pretendidos foram alcançados, uma vez que os textos produzidos atenderam às características específicas do gênero.
Conclusão O projeto representou uma oportunidade importante para que os alunos exercitassem e demonstrassem de forma mais atuante e satisfatória as habilidades referentes à produção textual, especificamente do gênero HQ. Em concomitância, percebeu-se que houve um despertar do potencial artístico, conferindo-lhes a capacidade de autoria, mediante a produção deste e possivelmente de qualquer outro gênero. Além disso, foi uma boa oportunidade para que o aluno refletisse sobre a convivência com as diferenças e percebesse que é necessário respeitar o outro, independente de classe social, raça, religião, sexo, opinião e tantas outras diversidades que tornam cada ser único. Referências CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Todos os textos. 6º ano: São Paulo, 2007. KRESS, Gunther.; VAN LEEUWEN, Theo. Multimodal Discourse: the modes and media of contemporary communication. London: Arnold, 2001. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Editora Cortez, 1990. PASSARELLI, Lílian Ghiuro. Ensino e correção na produção de textos escolares. São Paulo, Cortez, 2012. RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2012. SUASSUNA, Lívia. Avaliação e reescrita de textos escolares: a mediação do professor. In: ELIA, Vanda Maria (Org.). Ensino de língua portuguesa: oralidade, escrita e leitura. São Paulo: Contexto, 2011. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
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Resumo. Ter um corpo bonito e saudável é um sonho constante para muitos jovens. Principalmente em um mundo onde a imagem é cada vez mais valorizada e corpos idealizados brilham diariamente nos anúncios de televisão e nas redes sociais. Entretanto, essa procura pelo corpo ideal, muitas vezes pode levar o indivíduo a atravessar o perigo limite entre estética e saúde. Diante desse cenário lastimável, tornou-se viável expor para os jovens as consequências do uso abusivo de substâncias tais como: anabolizantes, termogênicos e suplementos; algumas dietas malucas e o uso do hidrogel, utilizados para adquirir massa corporal e um corpo perfeito.
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1. Introdução A procura pelo corpo perfeito, beleza a qualquer custo e culto a estética; termos em alta citados pelo público jovem que visam um padrão de beleza inalcançável. Mas é ai que mora o perigo; o problema não é focar nesses objetivos e sim como alcançá-los. Alguns jovens procurando o corpo perfeito e a vaidade pessoal, infelizmente utilizam algumas substâncias consideradas proibidas, a exemplo dos esteroides anabolizantes, termogênicos e suplementos para obter massa muscular e/ ou perda de gordura corporal. Outros jovens fazem uso de dietas malucas consideradas milagrosas, exercícios físicos em excesso, cirurgias plásticas, aplicações de hidrogel e uma série de cosméticos que tanto prometem e idealizam o físico. A culpa desses excessos de vaidade entre os jovens vem da mídia, quando colocam pessoas com corpo perfeito, estampados em revistas e atores com corpo escultural nas novelas. Em virtude da luta incessante de muitos jovens por padrões pré-estabelecidos pela indústria cultural da beleza, a mídia; é necessário realizar uma ação voltada para a conscientização e prevenção acerca dos malefícios causados pelo uso abusivo dessas substâncias que poderá ocasionar em problemas graves e irreversíveis à saúde ao longo do tempo. Sabemos que há alguns casos de problemas de saúde onde se recomenda o uso de esteroides anabolizantes, mas sempre com controle e prescrição médica. Um dos objetivos da pesquisa é conhecer e expor os malefícios provocados pelo uso contínuo dessas substâncias, incentivar a prática de exercícios físicos baseado no bem estar, e jamais na insatisfação corporal, bem como procurar alternativas nutricionais e atividades que possibilitem desenvolver de modo saudável, a aparência. 2. Materiais e Métodos Este trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica sobre o tema como também, uma pesquisa de campo com aplicação de um questionário objetivo semiestruturado com os alunos do 9º ano, de natureza qualitativa e quantitativa. Foram entrevistados 23 jovens, com idade entre 14 e 16 anos. Além do questionário, houve a coleta e a exposição de algumas amos-
tras das substâncias mais consumidas com a distribuição de panfletos na escola, contendo informações sobre as consequências do uso abusivo desses esteroides. O questionário foi aplicado na turma do 9º ano da escola municipal Jorge do Prado Sobral, situada no município de Santa Rosa de Lima- SE. O preenchimento foi feito pelo próprio entrevistado, tendo em vista a privacidade e o anonimato na hora de responder as questões. Na organização das questões elaboradas abordamos assuntos relacionados ao uso abusivo de substâncias para ter um corpo perfeito, a exemplo dos (anabolizantes, suplementos, termogênicos) e a aplicação de técnicas para melhorar a estrutura física do corpo; demos ênfase à prática de atividades físicas e a importância de se ter uma alimentação equilibrada e balanceada para que possamos evitar possíveis patologias que possam vim a prejudicar a nossa saúde ou até mesmo levar-nos a morte. Foi confeccionado um questionário o qual possuía 10 questões objetivas. As perguntas foram: (1) Com que frequência você fica perturbado (a) com suas preocupações com a aparência? (2) Você se considera uma pessoa dentro dos padrões de beleza, como aponta a mídia? (3) Você pratica algum exercício físico? (4) A prática dos exercícios é constante? (5) Quando está com pouco tempo costuma recorrer a alimentos de preparo rápido? (6) Em sua opinião, trabalho, escola e outras atividades atrapalham uma alimentação balanceada? (7) Você já ingeriu qualquer tipo de droga legal ou ilegal para adquirir musculatura, perder peso ou melhorar sua aparência de alguma forma? (8) Conhece alguém que fez alguma cirurgia ou aplicação para melhorar o desenvolvimento do corpo? (9) Como é composta a sua alimentação? (10) Já sofreu alguma patologia grave, devido á má alimentação e ao uso abusivo de alguma substância? Para a análise e interpretação dos dados obtidos por meio da pesquisa de campo, foram feitos gráficos de comparação a respeito das respostas fornecidas pelos entrevistados de acordo com o gênero. 3. Resultados e discussão Para cada uma das dez perguntas do questionário, foram observadas as respostas dos entrevistados, de acordo com o gênero. Segue abaixo os resultados obtidos.
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1. Com que frequência você fica perturbado (a) com suas preocupações com a aparência? Verificou-se que a preocupação com a aparência é mais frequente entre os alunos do sexo feminino, embora seja uma preocupação rara, de 89%, enquanto entre os alunos do sexo masculino seja de 72%. (figura 01)
melhorar seu porte. Os jovens afirmaram que não usam nenhum tipo de droga para adquirir musculatura. Podemos notar que eles estão acostumados com alimentos de preparo rápido sem dá importância a uma alimentação de qualidade. Observamos que alguns dos alunos do sexo masculino têm conhecimento de pessoas que se utilizou de cirurgia e aplicações para melhorar o desenvolvimento do corpo, embora não tenha obtido grande sucesso com a sua prática. 3. Como é composta a sua alimentação?
Figura 1
2. Foram analisados neste item os seguintes questionamentos: (1) Você se considera uma pessoa dentro dos padrões de beleza, como aponta a mídia? (2) Você pratica algum exercício físico? (3) A prática dos exercícios é constante?(4) Quando está com pouco tempo costuma recorrer a alimentos de preparo rápido? (5) Em sua opinião, trabalho, escola e outras atividades atrapalham uma alimentação balanceada? (6) Você já ingeriu qualquer tipo de droga legal ou ilegal para adquirir musculatura, perder peso ou melhorar sua aparência de alguma forma? (7) Conhece alguém que fez alguma cirurgia ou aplicação para melhorar o desenvolvimento do corpo?
Figura 2
Constatou-se nos itens da figura 02, que os alunos (as) afirmaram está fora dos padrões de beleza que a mídia impõe a todos os telespectadores; induzindo os meninos e meninas a buscar por um corpo inalcançável. Como podemos observar a clientela do sexo masculino, adotaram a prática dos exercícios físicos para
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Figura 3
Por meio da figura 03, podemos avaliar o quantitativo dos alimentos consumidos por meninos e meninas de 14 a 16 anos como podem verificar os alimentos que foram citados em grande proporção foi o consumo de refeições variadas e de água pelos jovens do sexo masculino, as meninas abusaram das refeições variadas e do consumo de sucos naturais. Podemos observar que esses jovens estão com uma alimentação pouco saudável, podendo futuramente contrair uma grave patologia. 4. Já sofreu alguma patologia grave, devido à má alimentação e ao uso abusivo de alguma substância? De acordo com a figura 04, as patologias descritas são a anemia e a obesidade, ambas podem ser provocadas pela má alimentação ou ingestão de substâncias alheias; não podemos deixar de expor o fato dessas patologias também ser causadas por fator genético. Podemos observar que apenas uma minoria dos meninos sofrem dessas enfermidades.
Figura 4
Conclusão Diante da pesquisa realizada e da análise dos dados obtidos por meio do questionário aplicado com os alunos do 9º ano do ensino fundamental, da Escola Municipal Jorge do Prado Sobral, pode-se concluir que os alunos não fazem uso de nenhuma substância ilegal ou legal para desenvolver a massa corpórea; notei que muitos não tinham conhecimento dos esteroides anabolizantes e nem dos termogênicos. Pudemos conhecer as consequências do uso abusivo dessas substâncias citadas, além de despertar para a prática de exercícios físicos e um olhar com cautela para a nossa alimentação. Portanto, devemos ter um maior cuidado com a nossa saúde, com o nosso corpo; pois conhecendo nossas limitações poderemos desenvolver com discernimento e responsabilidade inúmeras atividades em nosso cotidiano, sem nenhum prejuízo. Referências CAMARGO, Orson. “Mídia e o culto à beleza do corpo”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/a-influencia-midia-sobre-os-padroes-beleza.htm>. Acesso em 18 de setembro de 2015. CUNHA, Fabio Aires do Artigo a busca do corpo perfeito. Disponível em: www.fcunha.com.br/artigo/A%20busca%20do%20corpo%20perfeito.htm. Acesso em 18 de setembro de 2015 EVANS, Luciane. Em busca do corpo ideal, cresce o uso de substâncias como anabolizantes suplementos e termogênicos. Disponível em: http:// sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2013/12/11/noticia_ saudeplena,146798/em-busca-do-corpo-ideal-cresce-o-uso-de-substancias-como-anabolizante.shtml.Acesso em 18 setembro de 2015.
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Resumo. A reciclagem é um tema que deve ser explorado na Educação Básica, visto que o crescimento da indústria elevou a quantidade de resíduos orgânicos e inorgânicos. A produção de uma bateria com materiais reciclados, como latas de alumínio, é uma excelente maneira de explorar conceitos em sala de aula. O objetivo deste trabalho é mostrar a produção de energia elétrica a partir de uma reação química com materiais reciclados. Nesta atividade foram discutidos os conceitos de eletroquímica, reciclagem e produção de energia elétrica com participação ativa dos discentes no processo de ensino-aprendizagem.
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1. Introdução A busca por sustentabilidade e qualidade ambiental integrada as inovações tecnológicas é objetivo das organizações em todos os setores corporativos com o intuito de agregar valores aos seus produtos e/ou serviços. Desta forma, a reciclagem encontra abertura no mercado evidenciando a necessidade de reciclar e conservar o meio ambiente. A diversidade de materiais e resíduos sólidos a ser reaproveitado é grande e necessita de investimentos tecnológicos neste setor. Neste sentido, a reciclagem torna-se uma atividade cada vez mais importante para a manutenção do planeta. O crescimento da indústria elevou a quantidade de resíduos orgânicos e inorgânicos. Assim, é interessante promover o estudo da reciclagem de resíduos sólidos na Educação Básica (SANTOS et al, 2011). Baterias produzidas com materiais alternativos como latas de alumínio é uma excelente maneira de explorar circuitos simples na sala de aula e apresentar a produção de energia com materiais reciclados. Atividades como estas são úteis, pois os alunos estão familiarizados a estes sistemas, mas tem poucas oportunidades para experimentar a produção de energia elétrica. Além disso, esta atividade pode ser usada para discutir a produção de energia a partir de materiais descartados no cotidiano do discente, aprender processo de produção de energia e como é formada durante a reação química e aprimorar os conhecimentos sobre conceitos científicos envolvidos na construção da bateria. Neste trabalho, alunos dos 2º e 3º Anos do Ensino Médio do Colégio Estadual Governador João Alves Filho, localizado em Areia Branca-SE, produziram uma bateria com latinhas de refrigerante, água, sal de cozinha e fios de cobre demonstrando a produção de energia elétrica com resíduos deixados pela ação do homem. Neste experimento, a bateria foi usada para carregar um aparelho de telefone celular.
• Cloreto de sódio (NaCl); • Papel toalha • Água • Multímetro • Carregador para celular Para preparar a bateria, a solução salina é preparada. Para tal, 20 g de NaCl foram misturados com 400 mL de água. Nesta proporção, tem-se uma solução 5% de sal por massa. Neste ponto, o professor pode comentar sobre concentração de soluções e discutir como calcular os valores de concentração de soluções em distintas unidades.
Figura 1. Materiais para construção de uma bateria de latas de alumínio.
Os fios de cobre são cobertos com o papel toalha, que serve como isolante. Este procedimento pode ser explorado pelo professor, discutindo que outros materiais isolantes poderiam substituir o papel toalha e o porquê não utilizar um material condutor de eletricidade.
2. Materiais e Métodos Para a construção da bateria, foram necessários os seguintes materiais (Figura 1): • Fios de cobre; • Latas de Alumínio;
Figura 2. Baterias em série.
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A lata de alumínio deve ser lixada no seu interior e retirada sua tampa superior. No canto superior, um pequeno furo deve ser feito. Dentro da lata, adiciona-se a solução salina 5%. Nesta solução, coloca o fio de cobre coberto com o papel toalha, o fio de cobre não pode tocar no alumínio da lata. Para aumentar a voltagem resultante, podem-se ligar em série outras latas de alumínio. Para tal, liga-se o polo positivo de uma bateria com o polo negativo da outra. O polo negativo desta bateria é a lata de alumínio e o polo positivo é o fio de cobre. Desta forma, ficará um fio de cobre e uma lata de alumínio, no final, sem conexão (Figura 2). Nestes dois pontos conecta-se o multímetro para verificar a voltagem obtida ou um material elétrico (Figura 3).
Figura 3. Bateria produzindo energia elétrica.
O multímetro deve registrar uma corrente, caso apresente valor negativo, inverte-se os polos. Nesta atividade pode-se investigar a produção de energia com a adição de baterias em série e testar a utilização destas baterias para aparelhos eletrônicos, como carregar um celular. 3. Resultados e discussão A energia elétrica pode ser gerada a partir de uma reação química. No experimento apresentado, ocorre entre o alumínio da lata, o oxigênio do ar e a água, com sal e cobre como catalisadores da reação química. Neste processo, além de discutir os conceitos de eletroquímica, pode-se explorar concentração de solução, propriedades periódicas, cinética química e produção de energia.
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O funcionamento da bateria deve-se a uma reação química em que o metal mais reativo, com maior tendência a ceder elétrons, doa elétrons para o menos reativo de forma espontânea. Neste experimento, o cobre é mais eletronegativo do que o alumínio e recebe os elétrons. No circuito externo, o fluxo de elétrons é o do alumínio para o multímetro, deste para o cobre e por fim para o oxigênio dissolvido. Porém no interior da solução, os elétrons seguem o seguinte fluxo: cobre (cátodo) → alumínio (ânodo) a fim de completar o circuito e repor os elétrons perdidos pelo alumínio. É interessante o professor questionar e destacar aos discentes que quaisquer dois metais diferentes funcionaria como eletrodos. O grafite pode ser usado, produzindo uma bateria com alumínio/grafite/sal de cozinha, o NaCl atua como um condutor, transportando carga através da solução. Porém, outras soluções podem realizar este papel de condutora, como suco de frutas, vinagre, embora em geral quanto maior for à condutividade, maior será a corrente (CHASTEEN et al, 2008). Dentro da célula apresentada neste trabalho, o cobre serve como uma fonte de elétrons (o cátodo). Este metal passa elétrons do circuito externo, depois de terem fluído através do multímetro. O oxigênio (dissolvido em água) é reduzido por estes elétrons, conforme semi-reação abaixo (HOARE, 1985): O2 + 2H2O + 4é → 4OH-, E° = 0,82 V
(1)
Ao longo do tempo, a corrente diminui, pois a os íons hidróxidos (OH-) formam-se na região próxima ao eletrodo e esta região fica sem oxigênio. Porém, com pequena agitação da célula, a corrente é restituída, pois volta a ter oxigênio disponível para a reação. Outro fator que reduz a corrente, após o tempo, é a oxidação do metal, este fica revestido com óxidos e outros subprodutos. No ânodo, a alumínio da lata é oxidado segundo a semi-reação (PARK, 1985): Al + 3OH- → Al(OH)3(S) + 3é, E° = 2,30 V (2) O alumínio e os íons hidróxidos são consumidos por esta reação para produzir hidróxido de alumínio, Al(OH)3, um precipitado branco de Al3+. Neste ponto, o professor pode exemplificar que latas de refri-
gerante e barcos de alumínio são deteriorados pela água salgada no oceano, produzindo Al3+. Uma observação a ser feita pelo docente aos seus alunos é que os íons hidróxidos apresentados na equação 2 não são os produzidos na equação 1. Neste processo, o sal é importante. Os íons Na+ fluem para neutralizar os íons OH- produzidos no eletrodo de cobre. Da mesma maneira, os íons Cl- tendem a substituir os íons OH- usados na equação 2. Estes íons OH- são provenientes de OH- livres na água. Desta forma, tem-se o movimento dos elétrons do cobre para o alumínio. Combinando as semi-reações 1 e 2, obtém-se estequiometricamente a reação global da bateria (LITTAUER et al, 1984): Al+3/4 O2+3/2 H2O →Al(OH)3(S), Eº=3,12 V (3) Esta reação resume a participação dos elementos químicos na produção de energia elétrica. O cobre participa da reação como catalisador, permitindo a redução do oxigênio. O NaCl também participa da reação como catalisador. A corrente não depende fortemente da concentração deste sal, apesar do aumento da condutividade em soluções salinas mais fortes. A condutividade da água salgada tem seu máximo para uma solução a 12% em massa. Neste trabalho, utilizaram-se soluções 5% em massa, porém com concentrações menores de sal a reação ocorre. Um teste com água da torneira foi realizado e a bateria funcionou, porém com baixa corrente. Aumentando a quantidade de sal aumenta a condutividade, mas a velocidade de reação é limitada pela quantidade de oxigênio na solução. Cada célula eletroquímica produziu em torno 0,7V. Quando as células são colocadas em série, em agem como uma pilha voltaica e consegue-se atingir valores de até 5 V. Neste experimento, células foram ligadas em série a fim de produzir energia necessária para carregar um aparelho de telefone celular (Figura 4). Este desafio foi proposto, visto que a população utiliza-se esse aparelho eletrônico e esta foi uma forma de demonstrar a produção de energia elétrica de maneira alternativa com ausência de gases poluidores, baixo impacto ambiental e com materiais que são descartados pela população em geral.
Conclusão Neste trabalho, foi apresentada uma bateria produzida com materiais alternativos. A produção desta bateria é uma atividade rica em conceitos da química e física. A bateria foi usada como fonte de carga elétrica para carregar um aparelho de telefone celular, tornando o experimento mais atrativo, visto que a maioria dos discentes tem um aparelho eletrônico. A partir deste experimento, o docente pode discutir vários conceitos científicos, além de explorar temas geradores, como a reciclagem, produção de energia elétrica e conservação do meio ambiente. Os alunos participaram ativamente do processo de ensino-aprendizagem, com a pesquisa, desenvolvimento, execução do experimento e discussões sobre os conceitos e temas em sala de aula.
Figura 4. Aparelho de telefone celular carregando com a produção de energia da bateria.
Referências CHASTEEN, S. V., CHASTEEN, N. D., DOHERTY, P. The Salty Science of the Aluminum-Air Battery. The Physics Teacher, 46, 2008. HOARE, J. P. Oxygen. Standard Potentials in Aqueous Solution, IUPAC, 1985. LITTAUER, E. L., COOPER, J. F. Metal air batteries, Handbook of Batteries and Fuel Cells, 30,1, 1984. PARK, S. M. Boron, aluminum and scandium. Standard Potentials in Aqueous Solution, IUPAC, 1985. SANTOS, P. T. A., LIMA, V. E., OLIVEIRA, M.J, NETO, L. J. A., CELESTINO, V. Q. Lixo e reciclagem como tema motivador no Ensino de Química. Eclética Química, 36,1,2011.
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Resumo. A contaminação das águas está em níveis críticos, tendo como principais fontes os resíduos industriais e esgotos sem tratamento. Uma maneira de evitar o desperdício é o reaproveitamento pelas indústrias que necessitam de grandes quantidades em seus processos. Um procedimento de tratamento é a eletrocoagulação. Este trabalho tem o objetivo de apresentar um experimento para abordar o estudo de eletroquímica através de tratamento de água contaminada com óleo. A partir deste experimento, os conceitos de eletroquímica e preparo de soluções são abordados com um tema social e ambiental, a contaminação das águas por óleo.
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1. Introdução A poluição ambiental é uma ameaça potencial para as condições de vida na terra. O aumento da população resultou na maior utilização dos recursos naturais que preparou o caminho para o aumento da poluição no meio ambiente. A conservação da água é uma área que requer uma atenção significativa. No dia-a-dia a água é poluída de muitas maneiras. Indústrias são uma das principais fontes de poluição. Altos níveis de poluentes presentes em águas residuais industriais junto com diferentes metais e não metais, óleo e graxa tem contribuído em grande medida para a poluição da água. O impacto do teor de óleo em água é vista com preocupação por cientistas e a separação de óleo da água, portanto, tornam-se altamente importante (RINCÓN e LA MOTTA, 2014; HARINARAYANAN et al, 2016). As técnicas convencionais têm sido utilizadas para retirar poluentes da água, tais como adsorção, filtração por membrana, e precipitação eletroquímica. Embora a precipitação eletroquímica seja a técnica mais comum aplicável, este método sofre de alguns inconvenientes, como a poluição secundária causada pela adição de substâncias químicas e seu custo operacional. A partir desse ponto de vista, pode-se utilizar a técnica de eletrocoagulação. Esta é uma técnica de tratamento de águas residuais que funciona através desestabilizadores suspensos ou dissolvidos num meio aquoso através da introdução de uma corrente para o meio de geração de coagulante e in situ por oxidação eletrolítica de um material do ânodo apropriado. A vantagem mais importante da eletrocoagulação é evitar qualquer adição de substâncias químicas, portanto, reduzindo a possibilidade de poluição secundária; a dose de coagulante depende do potencial da célula. Outras vantagens são o equipamento simples, exigindo, portanto, menor manutenção e uma fácil automatização do processo. Também é compatível com o ambiente, a energia eficiente e de baixo custo. Além disso, as bolhas de oxigênio e de hidrogênio formados aumentam a eficiência do processo de separação por meio de eletroflotação (LAKSHMI e SIVASHANMUGAM, 2013) Este trabalho tem o objetivo de apresentar um experimento para abordar o estudo de eletroquímica através de tratamento de água contaminada com óleo.
Os materiais utilizados para tal procedimento são simples e presentes no cotidiano dos alunos, sendo uma experiência que pode ser realizada em sala de aula. 2. Materiais e Métodos Neste trabalho é apresentado um experimento discutido em sala de aula com os alunos do 3º Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Governador João Alves Filho, localizado em Areia Branca-SE. O experimento é a remoção de óleo da água por eletrocoagulação. Para realizá-lo são necessários os seguintes materiais (Figura 1): • Béquer de 250 ml produzido com uma garrafa PET, • Água, • Óleo comestível, •Solução aquosa de cloreto de sódio (NaCl), • Detergente, • Seringas para medição do volume dos líquidos, • Clipes para papel ou grafite, • Fonte externa – carregador de celular, • Papel de filtro, • Funil simples.
Figura 1. Materiais necessários para a realização do experimento.
Para iniciar o experimento, a solução aquosa de cloreto de sódio 0,1 mol.L-1 deve ser preparada. Neste momento, o professor pode discutir o preparo de soluções e cálculo de concentração de soluções a partir do preparo da solução na desejada concentração. A célula eletrolítica é composta por um béquer de 250 mL ou copo feito com garrafa PET. Dois clipes para papel podem ser utilizados como eletrodos. A fonte de energia é usada para aplicar o potencial gerado pela fon-
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te entre o ânodo e o cátodo. Esta fonte pode ser adaptada com um carregador de bateria de aparelhos celulares. Na célula eletrolítica, adiciona-se 90 mL da solução aquosa de NaCl 0,1 mol.L-1. A esta solução, 1,0 mL do emulsificante ou detergente é adicionado e em seguida acrescenta 11 mL do óleo de cozinha com vigorosa agitação. Após o passo da emulsificação, conecta-se a fonte de energia aos eletrodos. Neste ponto, a discussão em sala de aula pode ser sobre misturas homogêneas e heterogêneas, além de explorar o conceito de coloide. Após a coagulação e flotação o material pode ser filtrado com funil simples e papel de filtro. Além da discussão dos conceitos de eletroquímica, o docente pode discutir os métodos de separação de misturas neste momento da experimentação. 3. Resultados e discussão A Eletrocoagulação tem uma longa história como um método de tratamento de águas residuais, usado principalmente para remover os materiais orgânicos e suspensos a partir de vários tipos de efluentes. Nesta técnica, um metal como o ferro (Fe) ou alumínio (Al) é geralmente utilizado para a passagem da corrente contínua em águas residuais resultando na sua dissolução. Este processo gera íons metálicos a partir do eletrodo que conduz à formação de hidróxido, este se agrega e absorvem as partículas em suspensão, poluentes dissolvidos e precipitados. Neste processo gera in situ os adsorventes ativos (tais como óxidos de ferro hidratados ou hidróxidos de alumínio) pela dissolução de ferro ou de alumínio no ânodo. Estes adsorventes neutralizam as cargas eletrostáticas sobre adsorbatos para facilitar a aglomeração ou coagulação e a separação resultante a partir de água. Enquanto isso, nas reações catódicas ocorre liberação de H2, causando flutuação dos absorventes (PAJOOTAN, ARAMI, MAHMOODI, 2012; LAKSHMI e SIVASHANMUGAM, 2013). Neste experimento para a remoção de óleos emulsionados, um eletrodo de ferro (clipe para papel) é usado para fornecer íons metálicos para a formação de um hidróxido de ferro (II ou III) pouco solúvel responsável pela adsorção do óleo presente na emulsão. A Figura 2 apresenta o processo de eletroagulação que também
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pode ser realizado utilizando grafite como eletrodo. Bolhas de gás hidrogênio são produzidas no cátodo, que arrastam alguns dos flocos formados pelo hidróxido e ajudam no estágio de separação. A partir deste momento, o ânodo da célula começa a ser lentamente dissolvido por oxidação, enquanto que sobre o catodo bolhas de hidrogênio serão produzidas e o pH aumentará ao seu redor (Figura 2).
Figura 2. Início da eletrocoagulação.
Para discutir a eletrocoagulação a equações das reações ocorridas no experimento são demonstradas abaixo (HAMDAN e EL-NAAS, 2014). A partir destes dados, os conceitos de oxidação, redução, agente oxidante, agente redutor e eletrólise são trabalhados. Reação no ânodo: Fe(s) → Fe2+(aq) + 2eFe2+(aq) + 2 OH-(aq)→ Fe(OH)2(s) Reação no cátodo: 2 H2O(l) + 2e- → H2(g) + 2 OH-(aq) Reação global: Fe(s) + 2 H2O(l) → Fe(OH)2(s) + H2(g)
O cloreto de sódio foi utilizado como eletrólito. Na literatura, há estudos comparativos entre distintos eletrólitos, tendo o NaCl com maior eficiência (YANG et al, 2016). A diferença deve ser atribuída à passivação de eletrodos. A imersão de ferro metálico em solução aquosa de circuito aberto levou a película de óxido férrico impenetrável passivo que afetou a dissolução anódica de ferro. No entanto, íons Cl- poderiam diminuir a passividade dos eletrodos, destruindo a camada de óxido de passivação formada na superfície do eletrodo, devido à sua ação catalítica. Assim, enquanto usando NaCl como eletrólito, mais flocos de Fe poderiam ser gerados em comparação com outros sais. Além disso,
durante a eletrocoagulação, uma oxidação eletroquímica, provavelmente ocorre se a solução contém Cl-, que será descarregado no ânodo para gerar Cl2. Em seguida, ele vai ser imediatamente dissolvido em solução, quimicamente convertidos em ClO-, que pode oxidar rapidamente o íon ferroso em íon férrico. Íons Fe3+ podem formar coagulantes mais fortes, tais como Fe(OH)3(s) ou FeOOH do que com íons Fe2+. Desta forma, explica a maior eficiência do NaCl como eletrólito na eletrocoagulação (YANG et al, 2016). Após a eletrocoagulação, o material é removido por filtração simples com um aparato produzido a partir de materiais alternativos. Para este procedimento, utiliza-se uma garrafa PET e papel de filtro, conforme a Figura 3. Neste ponto, há a discussão com os alunos sobre a reciclagem de materiais descartados.
Referências HAMDAN, S. S., EL-NAAS,M. Characterization of removal of Chromium (VI) from groundwater by electrocoagulation. Journal of Industrial and Engineering Chemistry, 20, 2014. HARINARAYANAN, N. M. G. et al. Control of Electrocoagulation Batch Reactor for Oil removal from Automobile Garage Wastewater. Procedia Technology, 24, 2016. LAKSHMI, P. M., SIVASHANMUGAM, P. Treatment of oil tanning effluent by electrocoagulation: Influence of ultrasound and hybrid electrode on COD removal. Separation and Purification Technology, 116, 2013. PAJOOTAN, E. ARAMI, M. MAHMOODI, N. M. Binary system dye removal by electrocoagulation from synthetic and real colored wastewaters. Journal of the Taiwan Institute of Chemical Engineers, 43, 2012. RINCÓN, G. J., LA MOTTA, E. J. Simultaneous removal of oil and grease, and heavy metals from artificial bilge water using electro-coagulation/flotation. Journal of Environmental Management, 144, 2014. YANG, B. et al. Efficient removal of perfluoroalkyl acids (PFAAs) from aqueous solution by electrocoagulation using iron electrode. Chemical Engineering Journal, 303, 2016.
Figura 3. Aparato de filtração simples.
4. Conclusão O experimento de remoção de óleo da água por eletrocoagulação é uma interessante alternativa para inserção de conceitos básicos de eletroquímica, tais como: oxidação, redução, agentes oxidantes, redutores e eletrólise, facilitando a compreensão por parte dos estudantes sobre as reações redox, um conteúdo de difícil assimilação por partes dos alunos de ensino médio. A partir desse experimento pretende-se abordar alguns conteúdos químicos, com relevância em temas sociais e ambientais, com o objetivo estimular a consciência centrada em princípios científico-tecnológicos os quais presidem a população moderna.
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Resumo. O projeto “Sons da Capoeira: instrumentos musicais afrodescendentes” foi desenvolvido com os discentes da 1ª etapa “A” da Educação de Jovens e Adultos - Ensino Médio (EJAEM), no Colégio Estadual Benedito Barreto Nascimento, situado na sede do município de Umbaúba/SE, entre os meses de maio e junho/16. O objetivo do projeto era sensibilizar a comunidade escolar sobre a importância cultural da capoeira e o combate ao preconceito, através do estudo dos instrumentos musicais da capoeira e dos seus respectivos sons.
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1. Introdução A capoeira era uma manifestação artística que envolvia dança, luta e música, representava uma forma de socialização e resistência física e cultural ao sistema escravocrata brasileiro. Em 1967, Cascudo escreveu que “sempre nos faltou a informação africana sobre as origens da Capoeira no Brasil. Aqui ela se desdobrou e recebeu a colaboração de muitas técnicas. Desenvolveu-se ao passar dos tempos, dos pátios das senzalas para as praças das cidades” (CASCUDO, 1967, 183). Atualmente a capoeira é praticada em vários países e vem ganhando cada vez mais espaço e abordagens na academia, mas há muito a ser explorado, devido ao seu imenso potencial para o esporte, a educação, a história e a cultura do Brasil. Em 2008 foi reconhecida pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como patrimônio cultural imaterial do Brasil, através do registro das Rodas de Capoeira no Livro de Registro das Formas de Expressão e do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro de Registro dos Saberes. A Roda de Capoeira é formada pelos capoeiristas que respondem aos cânticos com coro e palmas ritmadas – batidas de mão – utilizando típicos instrumentos percussivos, na qual, ao seu centro, ocorre a disputa corporal entre dois capoeiristas [...] (SILVA, 2012,12). O IPHAN justificou a inscrição da Roda de Capoeira definindo-a como “um elemento estruturante de uma manifestação cultural, espaço e tempo, onde se expressam simultaneamente o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais de herança africana - notadamente banto - recriados no Brasil”. Os toques ou sons produzidos pelos instrumentos musicais dão ritmo às rodas, criando assim, condições para o seu acontecimento e contribuindo para o fortalecimento da cultura afro-brasileira. Os sons da capoeira são produzidos com o uso dos seguintes instrumentos musicais: o berimbau, o atabaque, o caxixi, o agogô e o pandeiro. A exemplo do berimbau, considerado o principal instrumento musical da capoeira, o IPHAN pontua que o ele é quem dita como será o jogo, nas rodas de capoeira angola não se muda o estilo de capoeira, mas há variação de toques, como o jogo de dentro, “um dos toques mais rápidos e bonitos da capoeira angola”.
Em virtude de tamanha importância da capoeira para a cultura brasileira e da necessidade de sensibilizar os alunos para a preservação deste patrimônio cultural, realizamos esse projeto com discentes da 1ª etapa da Educação de Jovens e Adultos - Ensino Médio (EJAEM), no Colégio Estadual Benedito Barreto Nascimento (CE BBN)-Umbaúba/SE. Ressaltamos que o tema foi sugestão de alguns alunos, a princípio era apenas a capoeira, em discussão a turma decidiu delimitar a abordagem aos instrumentos musicais da capoeira. Logo, o objetivo do projeto era sensibilizar a comunidade escolar sobre a importância cultural da capoeira e o combate ao preconceito, através do estudo dos instrumentos musicais da capoeira e dos seus respectivos sons.
2. Materiais e Métodos O projeto Sons da Capoeira foi desenvolvido com os discentes da 1ª etapa, turma “A”, da EJAEM do CEBBN em Umbaúba/SE, entre os meses de maio e junho/16. A turma era composta por 26 alunos na faixa etária entre os 18 e 46 anos, com maioria do sexo feminino e moradora da zona rural. As ações do projeto foram desenvolvidas nas aulas das disciplinas de História e Língua Portuguesa, abordando os seguintes conteúdos: a Escravidão e resistência africana no Brasil, a Cultura afro-brasileira, a Capoeira, os instrumentos musicais da capoeira, o Patrimônio Cultural e a Tradição Oral.
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Para isso, a atividade inicial foi a revisão bibliográfica feita pelos alunos sobre a capoeira e os instrumentos musicais; em seguida, a apresentação aos alunos do vídeo de divulgação do IPHAN para o registro da capoeira enquanto Patrimônio Cultural, intitulado “Inventário para Registro e Salvaguarda da Capoeira”; e por último, uma palestra do capoeirista e professor Tiago Camilo. A partir daí, os estudantes, sob a orientação das professoras, realizaram atividades em sala de aula, a exemplo de: produção textual, atividades escritas e orais, representação artística dos instrumentos musicais (desenho) e confecção de murais. É válido ressaltar que a turma foi dividida em grupos de trabalho, e os dez alunos que constam nesse artigo são representantes dos grupos. Quanto aos materiais utilizados, além do bibliográfico e imagético, foram explorados os instrumentos musicais (o berimbau, o atabaque, o caxixi, o agogô e o pandeiro) em sala de aula e para a prática da capoeira na escola.
de capoeira, composta por alunos participantes do projeto, pois alguns deles são capoeiristas, e por capoeiristas convidados.
3. Resultados e discussão O reconhecimento pelo IPHAN de bens e expressões representativos da diversidade cultural do Brasil vai além da atribuição do título a um determinado elemento cultural. Representa, principalmente, a produção e divulgação de conhecimento sobre esse bem. Dessa forma, a documentação produzida por essas ações podem servir para fins de pesquisa e como referencial do passado, que por consequência fortalece as mobilizações em defesa da preservação do bem cultural (IPHAN, 2007, 20-23). A capoeira está presente na comunidade umbaubense e os alunos perceberam a necessidade de conhecimento mais aprofundado e crítico sobre essa manifestação cultural, a fim de contribuir para a redução dos preconceitos em relação às influências culturais africanas no Brasil. Estimulados pela familiaridade com o tema, os alunos desenvolveram esse trabalho que proporcionou a participação da turma na Feira de Ciência e Tecnologia (FECINTEC) organizada pela referida escola. Na oportunidade, os discentes apresentaram à comunidade a importância dos sons e da música para a realização do jogo da capoeira, através da exposição e exploração de cartazes e, da apresentação de uma roda
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Durante o desenvolvimento e apresentação do trabalho os alunos ressaltaram a importância da sensibilidade do capoeirista para uma clara percepção das mensagens e ordens contidas na música e nos sons, sem perder de vista o ritmo, os movimentos e a expressão cultural. Destacaram os instrumentos musicais que fazem os sons e ditam o ritmo da roda de capoeira, a maioria deles oriundo da África e inseridos na musicalidade brasileira desde a chegada dos africanos no Brasil:
• AGOGÔ: reverbera o som com a vibração do corpo do próprio instrumento ao bater com uma baqueta, que pode ser de madeira, nas “bocas”, também chamadas de campânulas. Ele é composto por uma alça de metal com um cone metálico em cada uma das pontas. Outro recurso sonoro ou articulação é o choque entre as próprias “bocas”. O agogô tanto é encontrado na capoeira, quanto no candomblé, no samba, entre outros ritmos;
• ATABAQUE: de origem africana, feito de madeira em forma cônica. Na parte superior do instrumento é colocado o couro de boi. É o atabaque, juntamente com o pandeiro, que acompanha o solo do berimbau;
• BERIMBAU: originário da África e muito usado no candomblé e na capoeira. Consiste num arco feito de madeira com as pontas unidas por um arame e com uma cabaça na extremidade. Tem um timbre característico produzido pelo toque de uma vareta de madeira no arame, enquanto pressiona o mesmo arame com uma pedra ou moeda, sendo a cabaça utilizada como caixa de ressonância. É tocado junto com o caxixi para
este ser sacudido entre os toques. Porém, apenas o berimbau comanda uma roda de capoeira, dita o ritmo e determina o estilo do jogo (angola, regional, etc.), pois esse é o instrumento essencial para a roda acontecer;
• CAXIXI: pequeno chocalho feito de palha trançada com base de cabaça, cortada em forma circular e a parte superior reta, terminando com uma alça da mesma palha, para apoiar os dedos durante o toque. Em geral esse instrumento tem de 10 a 15 centímetros de altura, cerca de 6 centímetros de diâmetro na base e no seu interior há sementes secas ou pequenos seixos, pedrinhas ou pequenos búzios que ao sacudir emitem o som;
• PANDEIRO: é considerado um instrumento de percussão completo, pois oferece os timbres graves, médios e agudos. No Brasil, o pandeiro entrou por via portuguesa e era usado para acompanhar as procissões reli-
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giosas. Feito de madeira, couro de cabra e cinco platinelas. Quanto a sua origem, encontramos divergências nas fontes consultadas, uns apresentam que esse instrumento é originário da África e outros afirmam ser da Índia.
mais significativo. A verificação do baixo percentual de evasão dessa turma, bem como a perspectiva de formação de um grupo de capoeira na escola, exemplificam bem os resultados do trabalho desenvolvido. Referências
Na etapa final do projeto, alunos e professores puderam avaliar as dificuldades encontradas e as contribuições significativas proporcionadas ao grupo. Nessa etapa, os alunos levaram à direção da escola a sugestão de formação de um grupo de capoeira composto por alunos da escola e a continuidade de participação da EJAEM em projetos escolares. Conclusão Este projeto contribuiu para incentivar a prática da capoeira, a diminuição do preconceito contra essa expressão cultural através do conhecimento da história dos negros e da capoeira no Brasil, o aprimoramento das habilidades de expressar-se em público e o fortalecimento da identidade cultural dos participantes. Porém, de todas as contribuições, destacamos a questão da autoestima dos alunos, pois, como se sabe a modalidade de EJA apresenta características diferenciadas, tanto na organização da grade curricular quanto na configuração da clientela, são estudantes trabalhadores que não concluíram a educação básica na faixa etária adequada e que enfrentam diversas dificuldades em frequentar a escola. Com isso, um dos grandes desafios é promover a permanência desse alunado na escola. Dessa forma, além de contemplarmos a inclusão dos conteúdos da cultura africana na sala de aula, contribuímos para o fortalecimento da identidade cultural brasileira, para a melhoria da autoestima da turma e o sentimento de pertencimento ao promovermos maior socialização entre eles, e deles com a comunidade escolar, tornando o processo ensino-aprendizagem
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CASCUDO, Luís da Câmara. Folclore do Brasil: Pesquisas e Notas. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura S/A, 1967. FEIRA DE CIENCIA & CULTURA. Revista CIENART: Feira Estadual de Ciências e Tecnologia e Artes de Sergipe. Volume 3,nº 3, abril de 2016. FRUNGILLO, Mário D. Dicionário de percussão. São Paulo: UNESP, 2003. IPHAN. Patrimônio cultural imaterial: para saber mais. Brasília: IPHAN, 2007 SILVA, Andreza Barroso da. Dançaeira: a capoeira como procedimento para a construção de um processo criativo em dança contemporânea / Andreza Barroso da Silva; Orientador Cesário Augusto Pimentel de Alencar; Belém, 2012. 121 f Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências da Arte – ICA - Universidade Federal do Pará, Belém, 2012. Disponível em: http://www.ppgartes.propesp.ufpa.br/disserta%C3%A7%C3%B5es/2010/Andreza%20Barroso%20-%20 DAN%C3%87AEIRA%20-%20a%20Capoeira%20como%20 procedimento%20para%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20um%20processo%20criativo%20em%20 Dan%C3%A7a%20Contempor%C3%A2nea.%20~1.pdf em 24/09/2016 http://portal.iphan.gov.br/videos/detalhes/33/inventario-para-registro-e-salvaguarda-da-capoeira-como-patromonio-cultural-do-brasil/ disponível em 20/05/2016 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/66 disponível em 20/05/2016 https://paulokayma.files.wordpress.com/2015/02/dicionario-de-percu-kayma.pdf disponível em 20/05/2016 http://www.percussionista.com.br/instrumentos.html disponível em 20/05/2016. http://contramestrealberi.blogspot.com.br/2011/02/berimbau-pandeiro-atabaque-reco-reco.html
Resumo. Diante do novo modelo socioeconômico, que preza pelas relações interdependentes entre indivíduos, organizações ou mesmo Estados, em que hipermobilidade e comunicação em tempo integral são elementos-chave para competir em escala global, um novo perfil profissional capaz é exigido, perfil este que apresenta como uma de suas características a fluência em língua inglesa. Sob a luz de estudos sobre “o bom aprendiz de línguas”, “aprendizagem autônoma” e “tecnologias computacionais na Educação”, este trabalho investigou as contribuições da Computação Móvel à aquisição de uma segunda língua bem como especificou e implementou um ambiente virtual que suporte os critérios identificados para o êxito no processo de aprendizagem. Revista Feira de Ciências e Cultura | 71
1. Introdução A interconectividade, hipermobilidade, colaboração e competitividade em nível global são alguns dos vários aspectos presentes na sociedade contemporânea que descrevem o atual fenômeno da globalização (CASTELLS, 2008). Assim, novos perfis profissionais são demandados pelo mercado, capazes de lidar com a grande quantidade de informação, interpretando-a e manipulando-a segundo propósitos específicos. Schneider (2012) denomina tais novos perfis profissionais de “Engenheiros do Conhecimento”, tendo como uma de suas competências exigidas a fluência em idiomas estrangeiros, mais especificamente a língua inglesa. Assim, aqueles que desejam disputar espaço nesse novo mercado e alcançar todo o seu potencial profissional devem compreender a importância da aprendizagem de línguas estrangeiras (MOURA FILHO, 2005; SCHNEIDER, 2012). Segundo Moura Filho (2005), a aprendizagem autônoma, isto é, aquela gerida pelo próprio aprendiz, pode apresentar melhor eficiência para o mesmo, entretanto diversos fatores podem afetar (positiva ou negativamente) os resultados dessa abordagem, dentre eles a motivação, autoconfiança, estratégia de aprendizagem, mecanismos para monitoramento e avaliação, recursos empregados e aspectos culturais (MARTINS e MACIEL, 2010). Com tal propósito, pode ser adotada a Computação, mais especificamente por meio de seus recursos para aprendizagem web e móvel, como mediadora e catalisadora do processo de aprendizagem autônoma de línguas estrangeiras (SANTOS et al., 2015). Dessa forma, este trabalho explorou o papel da Computação Móvel na aprendizagem autônoma de línguas estrangeiras bem como modelou e implementou uma arquitetura de software multiplataforma capaz de oferecer suporte à mesma. 2. Materiais e Métodos Esta pesquisa, aplicada de caráter exploratório, empregou como procedimentos técnicos a revisão bibliográfica, modelagem da arquitetura e implementação do software.
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Como primeira atividade, realizou-se a revisão bibliográfica, isto é, uma leitura, reflexão e discussão sobre trabalhos acerca de aprendizagem autônoma de línguas e tecnologias computacionais na aprendizagem de línguas. A partir da leitura dos trabalhos de Moura Filho (2005), Martins e Maciel (2010), Barros (2011) e Salbego (2014) e discussões em grupo, pôde-se analisar a problemática do uso da Computação Móvel no processo de aquisição de uma segunda língua bem como compreender requisitos necessários para o sucesso da mesma em abordagens que tenham a autonomia do aprendiz como foco. Com base nos dados coletados e em critérios definidos, a arquitetura do software Spoken foi modelada, empregando-se nessa etapa conceitos e práticas da Engenharia de Software, como a elaboração de diagramas de casos de uso, modelagem dos dados e prototipagem das interfaces gráficas. A partir dos protótipos de interfaces criados, passou-se então para a fase de implementação do software, em que o mesmo foi codificado, testado e validado, inclusive por meio de testes em dispositivo móvel executando Android. 3. Resultados e discussão Rubin (apud MOURA FILHO, 2005) aponta a importância de compreender as características e estratégias de aprendizagem utilizadas por uma pessoa que logra êxito na aprendizagem de uma nova língua (“o bom aprendiz de línguas”), uma vez que tal reflexão pode ajudar a traçar estratégias para aumentar as chances de êxito daqueles que demonstram mais dificuldades no processo de aquisição de uma segunda língua. O autor supracitado ainda aponta três condições associadas aos bons aprendizes: apresentam uma atitude positiva em relação à aprendizagem de uma nova língua, estão bem motivados e aproveitam-se de cada oportunidade, tanto dentro quanto fora da sala de aula, para aprender ou testar seus conhecimentos. Salbego (2014) aponta alguns benefícios da introdução das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na aprendizagem autônoma: introdução de conteúdos autênticos e atualizados; maior diversidade de atividades interativas; e maior liberdade ao aprendiz quanto ao tempo e espaço para aprendizagem. Assim, a
partir dos trabalhos de Moura Filho (2005), Luz (2009), Barros (2011) e Salbego (2014), foi possível elaborar uma lista de critérios importantes para o êxito da Computação Móvel na aprendizagem autônoma de uma nova língua, sendo alguns deles: • Personalização do estudo quanto a interesses, estratégias e metas de aprendizagem individuais; • Métodos para avaliação inicial de nivelamento, avaliação do nível de fluência e outras formas de autoavaliação ao longo do processo; •Apresentação clara e objetiva do desempenho atual e progresso na aprendizagem; • Mecanismos para identificação do estilo de aprendizagem, fixação do vocabulário, comunicação entre usuários e estímulo do aprendiz; • Disponibilização de conteúdos autênticos e contextualizados, tanto de forma off-line quanto on-line. Uma vez constituída tal lista de critérios, escolheu-se um grupo de aplicativos móveis gratuitos disponíveis na web para aprendizagem de línguas com o intuito de compreender quão bem os mesmos cumprem os mesmos. Os aplicativos selecionados foram Babel, Busuu, DuoLingo, EnglishTown, LinguaLeo, Mon-
dly e WLingua. A partir da análise, percebeu-se que nenhum dos mesmos cumpriu completamente todos os critérios, sendo os critérios mais negligenciados foram a capacidade de personalização do estudo e disponibilização de conteúdos autênticos e contextualizados. O resultado dessa análise comparativa ratifica a importância de modelar, implementar e experimentar um ambiente virtual multiplataforma que atenda todos os critérios. 3.1. O software Spoken Tendo como base as referências quanto ao bom aprendiz, aprendizagem autônoma e uso de tecnologias na aquisição de segunda língua, foram realizadas reuniões de brainstorming, documentação e prototipagem com o intuito de modelar a arquitetura de um aplicativo capaz de facilitar e mediar o processo de aprendizagem de uma nova língua de forma autônoma a qualquer aprendiz. A figura 1 exemplifica três telas (interfaces gráficas) do aplicativo. Com o intuito de facilitar a personalização do aplicativo segundo interesses e metas do usuário, em seu primeiro acesso é exibida uma tela para configuração de diversas informações como seu nome, idioma a ser aprendido (disponíveis no momento Inglês e Espanhol),
Figura 1. Da esquerda para a direita, telas de configuração, painel principal e atividades do aplicativo Spoken. (Fonte: esta pesquisa)
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competências que deseja focar (ler, escrever, ouvir ou falar), nível de fluência desejado, áreas técnicas de interesse (disponíveis no momento vocabulários e textos das áreas Informática, Agronegócios e Construção Civil), e a duração em minutos de cada sessão diária de estudos. Após a configuração inicial do aplicativo, o usuário acessará seu painel principal, uma tela que resume as principais informações quanto a seu desempenho e progresso, quantidade de atividades restantes para cumprir sua sessão diária e atividade recomendada, bem como acesso às configurações, estatísticas detalhadas e às demais atividades. Essa tela possui como finalidade simplificar o acesso às informações e a tomada de decisões por meio de sugestões, entretanto não o limita, uma vez que o mesmo pode escolher qualquer atividade. Caso o aprendiz opte por escolher qualquer atividade por meio da opção “Escolher outra atividade...”, será levado à tela de atividades, onde as mesmas estão reunidas em oito grupos: Lições, Leitura, Escrita, Audição, Fala, Comunidade, Biblioteca e Jogos. Cada grupo de atividade foca em um tipo de competência (ler, escrever, ouvir ou falar) ou em um formato diferenciado de apresentação do conteúdo (lições, interação com outros usuários, acesso à biblioteca multimídia e jogos) de forma a privilegiar os quatro perfis de aprendizagem segundo seus canais perceptivos (DUNN e REINERT apud MOURA FILHO, 2005). Por conseguinte, é muito provável que o usuário encontre atividades com as quais mais se identifique e focadas nas competências de seu interesse. Ao acessar quaisquer dessas atividades, o aplicativo registra o acesso com o intuito de compreender quais atividades mais lhe agrada, possibilitando sugerir posteriormente atividades mais alinhadas com as preferências do mesmo. Além disso, ao lado de cada grupo de atividades há ícones em vermelho, amarelo e verde que indicam quais requerem maior atenção do usuário, possivelmente devido a baixo desempenho ou muito tempo sem acesso. 4. Conclusão Diante do fenômeno da globalização, que transforma a maneira como as relações entre pessoas, organizações e nações acontecem, urge um novo perfil profissional que requer a capacidade de fluência em
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outros idiomas assegurando maior comunicabilidade e capacidade de lidar com os novos conhecimentos. Assim, obstáculos à aprendizagem autônoma de línguas devem ser vencidos e as ferramentas adotadas devem extrapolar os limites da sala de aula, e é nesse cenário que as Tecnologias da Informação e Comunicação, com destaque para aquelas inerentes da Computação Móvel, podem contribuir positivamente quando empregadas seguindo os critérios aqui apresentados. Este trabalho explorou teorias sobre “aprendizagem autônoma de línguas” e “educação ubíqua”, compreendeu a problemática da Computação Móvel na aprendizagem autônoma de línguas estrangeiras e modelou e implementou um aplicativo móvel capaz de oferecer o devido suporte. Tal aplicativo, em sua primeira versão, é executável em Android e iOS, e devido à sua arquitetura requer poucos ajustes para seu funcionamento em ambiente web. Assim, como futura extensão deste trabalho, pretende-se implementar sua versão web e um melhor sistema de recomendação que, baseado nas decisões do aprendiz e suas metas de aprendizagem, recomendará atividades que podem ajudá-lo a alcançar seus objetivos pessoais. Referências BARROS, Júlia Maria Antunes. O ambiente virtual como um espaço para a autonomia na aprendizagem de línguas. 2011. 159 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Universidade de Brasília, Brasília, 2011. CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. São Paulo : Paz e Terra, 2008. LUZ, Emeli Borges Pereira. A autonomia no processo de ensino e aprendizagem de línguas em ambiente virtual (Teletandem). 2009. 231 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2009. MARTINS, Dreison da Silva; MACIEL, Adriana Macedo Nadal. A importância da autonomia para a aprendizagem da língua inglesa. Disciplinarum Scientia. Série: Artes, Letras e Comunicação, S. Maria, v. 11, n. 1, p. 89-110, 2010. MOURA FILHO, Augusto César Luitgards. Pelo inglês afora: carreira profissional e autonomia na aprendizagem de inglês como língua estrangeira. 2005. 281 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada)-Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. SALBEGO, Nayara Nunes. TIC na aprendizagem autônoma de inglês. Revista Educação, Artes e Inclusão. v. 9, n. 1, ISSN 1984-3178, 2014. SANTOS, Christiano Lima; MATOS, E. S.; LUCAS, G. S.; MELO, T. J. S.; SCHNEIDER, Henrique Nou. Reflexões sobre as Contribuições da Computação Móvel à Aprendizagem de Língua Inglesa, X Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, Rio Branco-AC, p. 4340-4346, 2015. SCHNEIDER, Henrique Nou. Perfil do engenheiro do conhecimento. Revista Tecnologia Informação & Negócios Sergipe, ano 2, ed. 9, setembro / 2012.
Resumo. Este artigo discute o projeto de letramento “Uso de drogas na adolescência: como fugir dessa armadilha?”, que foi realizado no Colégio Estadual Poeta José Sampaio com estudantes do sétimo ano do Ensino Fundamental. Desenvolvemos o projeto quatro em etapas: levantamento de conhecimentos prévios dos alunos e pesquisa sobre o tema do projeto; leitura e debate sobre o consumo de drogas por adolescentes; levantamento de historias de vida sobre essa problemática; análise linguística e produção de texto. O produto final deste projeto é uma revista em quadrinhos cujo objetivo é conscientizar jovens e adolescentes a não utilizarem drogas.
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1. Introdução Os conteúdos escolares assim como os objetivos de aprendizagem não devem estar desvinculados da realidade dos estudantes, dos seus interesses e dos problemas que os afetam direto e indiretamente. É fundamental que, na escola, haja um espaço de discussão sobre as demandas da comunidade local. Do contrário, a instituição escolar não cumpre um dos seus papéis sociais: o de contribuir para melhorar o entorno dela. Além disso, quando adotamos um currículo, desconsiderando esse entorno da escola, os saberes e as questões socioculturais presentes nele, tornamos o estudo da língua uma atividade abstrata e o ensino da escrita uma prática “instrumental e funcional”, que não considera o aspecto identitário dos estudantes (KLEIMAN, 2010, p. 376). Nesse contexto, este projeto constitui uma proposta de “práticas de letramento” (KLEIMAN, 2005) cujo tema é o uso de drogas na adolescência, um problema inerente às áreas que circundam a escola na qual desenvolvemos essa proposta. Partindo dessa problemática local, realizamos atividades de leitura, oralidade e produção de texto com estudantes do Ensino Fundamental. 2. Materiais e Métodos O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Poeta José Sampaio entre os meses de Julho e Setembro de 2016. Este colégio está localizado no município de Nossa Senhora do Socorro, Sergipe. Atende a estudantes do Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos. Participaram do projeto em discussão estudantes do sétimo anos do Ensino Fundamental. Desenvolvemos esta proposta de ensino a partir de quatro etapas. Na primeira, fizemos uma sondagem dos conhecimentos prévios da equipe sobre a temática do projeto. Nesse levantamento, percebemos que era necessário aprofundarmos esses saberes dos estudantes da equipe. Para tanto, o grupo realizou uma pesquisa na internet, utilizando a sala de informática da escola. Durante essa atividade, procuramos responder a alguns questionamentos, entre os quais: o que são drogas? Que tipos de drogas existem? Qual é a distinção entre drogas licitas e ilícitas? Por que evitar o consumo de drogas ilícitas?
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Na segunda etapa, realizamos a leitura coletiva de um artigo de opinião sobre as motivações e as graves consequências do uso de drogas na adolescência e na juventude. Em seguida, propomos um debate com a equipe, correlacionando as ideias veiculadas no texto aos conhecimentos que eles já tinham construído sobre o uso de drogas nessa fase da vida dos seres humanos. Durante o debate, os estudantes expuseram seus pontos de vistas sobre a razão pela qual os jovens e adolescentes usam drogas, discordaram do autor do texto e dos próprios colegas de maneira harmoniosa. Na terceira etapa, fizemos um levantamento de histórias reais de envolvimento de jovens e adolescentes com as drogas na comunidade onde a escola está localizada. Como todos da equipe mostraram-se conhecedores dessas histórias, visto que elas são recorrentes nesta comunidade, discutimos brevemente essa etapa do projeto e passamos para a etapa seguinte. Antes, porém de começarmos a produzir a história em quadrinhos, escrevemos coletivamente um enredo, contando a história de um jovem que se envolve com o consumo de drogas, porém depois tenta deixar o vício. A última etapa englobou a produção da revista em quadrinhos. Inicialmente, realizamos uma pequena oficina de histórias em quadrinhos na qual abordamos as características do gênero história em quadrinhos, discutidas por Ramos (2012), depois verificamos as habilidades da equipe para o desenho. Fizemos, coletivamente, um pequeno roteiro com as cenas que comporiam a história em quadrinhos e cada estudante que participou do projeto tentou esboçar essas cenas. Em seguida, o grupo selecionou um dos esboços para orientar a produção da revista em quadrinhos. A equipe definiu o título da revista: “Virando a página” e, depois, reproduzimos digitalmente o esboço selecionado, por meio do Power Point, para conferir forma final à revista em quadrinhos. 3. Resultados e discussão Além dos processos de aprendizagem realizados com as discentes que participaram do projeto, a reprodução e divulgação da revista em quadrinhos podem funcionar como um meio de conscientização de adolescentes e jovens da comunidade na qual a esco-
la está localizada sobre as consequências negativas do envolvimento com drogas. Assim, a instituição escolar pode contribuir para que um fator que pode gerar ações violentas dentro do seu espaço e também fora dele possa ser minimizado. Durante discussão do tema do projeto, os estudantes ampliaram os conhecimentos sobre o conceito e os tipos de drogas. Além disso, também desenvolveram habilidades de pesquisa na internet. Dentre as quais estão uso de palavras-chave para pesquisar um tema; seleção de links e de fontes variadas (textos, imagens e vídeos) para obter informações. Essa atividade foi bastante motivadora para os estudantes, pois eles assumiram o protagonismo na construção e na ampliação de conhecimentos. Isso porque, embora o tema da pesquisa estivesse determinado pelas necessidades do projeto, todos tiveram autonomia para selecionar a forma de conhecer mais sobre essa temática. A etapa de leitura do artigo de opinião propiciou um diálogo entre os estudantes e as ideias do texto, bem como entre os próprios estudantes. Com isso, eles perceberam que ler é uma atividade interacional, englobando o autor, o texto e o leitor. Desse modo, podemos concordar ou discordar das ideias do texto ou ainda ampliá-las, visto que cada sujeito tem seu ponto de vista e a leitura requer mobilização de experiências de mundo. Partindo dessa compreensão, os estudantes se posicionaram contrário a algumas opiniões do autor do texto, outros alunos concordaram com elas. Assim, no debate, trabalhamos a escuta e o respeito a pontos de vista diferenciados. 3.1. Produção da revista em quadrinhos O levantamento das histórias de vida de jovens da comunidade suscitou na equipe o desejo de escrever uma narrativa antes de realizarmos a produção da revista em quadrinhos. As atividades desenvolvidas nessa etapa foram enriquecedoras, pois possibilitaram o ensino e a aprendizagem de vários conteúdos de Língua Portuguesa, de modo contextualizado, em diferentes eixos. No eixo da escrita, os estudantes tiveram a oportunidade de produzir uma narrativa, mobilizaram noções de parágrafos, de pontuação do texto, de discurso direto e indireto, de elementos da narrativa (perso-
nagens, espaço, tempo, conflito, clímax) etc. No eixo da análise linguística, trabalhamos ortografia, concordância entre as palavras, sentido semântico, entre outros. Estudamos também questões de variação e adequação linguística na fala das personagens. Como a escriba da narrativa coletiva foi uma estudante, na medida em que as questões linguísticas surgiam, explicávamos tais questões para o grupo. Na etapa prática da oficina de história em quadrinho, avaliamos coletivamente os conhecimentos apreendidos e as habilidades dos estudantes para desenhar esse gênero textual. Nessa avaliação, a equipe selecionou o esboço representado na figura 1, para orientar a versão final da revista em quadrinhos que iríamos produzir na próxima etapa.
Figura 1: Esboço de personagens da revista em quadrinho
Como um dos objetivos do projeto era produzir uma revista em quadrinhos que fosse replicável, a partir deste esboço, fizemos versões digitais das personagens, utilizando formas e recursos do Power Point, conforme observamos na figura 2. Isso também facilitou a utilização de outros elementos presentes nas histórias em quadrinhos.
Figura 2: Personagens da revista em quadrinhos Virando a página
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Montamos história em quadrinho usando o Word. Nessa montagem, enfatizamos os diálogos das personagens e optamos, na maioria das partes do enredo, pelo não detalhamento de cenário. Em alguns quadrinhos, demonstramos a localização espacial das personagens por meio das legendas que é um recurso textual desse gênero.
Figura 3: Quadrinho da revista Virando a página. Figura 5: Cenas do início do envolvimento de Henrique com as drogas
3.2 O enredo da revista
Figura 4: Os pais de Henrique comunicam ao filho a mudança de cidade
Objetivando demonstrar aos adolescentes e aos jovens os graves problemas gerados pelo uso de drogas, o enredo da revista mostra a história do adolescente Henrique que se envolve com drogas e luta para deixar de ser dependente químico. O conflito da personagem começa quando seus pais se mudam de cidade. Na nova cidade, Henrique faz amizades, algumas negativas, influenciando-o a se envolver com drogas; outras positivas, ajudando-o a se recuperar desse vício. O enredo da revista focaliza a amizade e o apoio familiar como elementos fundamentais para o resgate de Henrique do meio das drogas, conforme podemos observar na figura 6.
Essa etapa foi uma das mais trabalhosas do projeto, pois a construção das personagens e a montagem da história em quadrinhos, por serem atividades muito minuciosas, não permitiram um trabalho coletivo, conforme fizemos nas etapas anteriores. Figura 6: Clarice relata o vício de Henrique aos pais dele
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A figura 7 mostra uma parte do desfecho do enredo, quando a personagem reencontra os amigos, após o período de internação em uma clínica para tratamento de usuários de drogas.
4. Conclusão O desenvolvimento de um projeto de letramento temático tem contribuições significativas para o processo de ensino-aprendizagem. Uma dessas contribuições é a possibilidade de discutirmos problemas sociais do contexto de localização das escolas. Isso pode levar os estudantes a desenvolverem um olhar crítico sobre o lugar onde eles moram e também sobre conflitos e necessidades dos sujeitos que convivem ali. Somado a isso, os conteúdos de Língua Portuguesa podem ser trabalhados de maneira mais contextualizada, partindo das demandas dos estudantes. Percebemos que essas demandas funcionam como fatores de motivação e de facilitação da aprendizagem de conteúdos linguísticos que, geralmente, os estudantes têm dificuldade de aprender. Todavia, um plano de ensino, a exemplo de um projeto de letramento, também apresenta algumas dificuldades. A primeira refere-se ao número de estudantes que podemos incluir neste plano e a permanência deles. Por um lado, trabalhar com muitos estudantes dificulta o andamento das atividades; por outro lado, durante as etapas do projeto, vários alunos podem se desmotivar e sair da equipe de trabalho. Essa evasão foi uma das principais dificuldades que enfrentamos neste projeto. Por fim, a escolha do gênero dificultou a finalização do projeto, já que a história em quadrinhos demandou tempo e habilidades além daqueles previstos no planejamento. Referências
Figura 7: Henrique reencontra os amigos após o tratamento para deixar o vício
Optamos por um final positivo para a personagem Henrique para que a mensagem transmitida pela revista abrangesse um público mais amplo e, assim, conseguisse não só alertar os jovens a não consumirem drogas, mas também demonstrar aos que já se envolveram com elas que há possibilidade de sair desse vício.
KLEIMAN, Angela B. Trajetórias de acesso ao mundo da escrita: relevância das práticas não escolares de letramento para o letramento escolar. PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 28, n. 2, p. 375-400, jul./dez. 2010. Disponível em: < Acesso em: 20 ago. 2016. ______. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever. Campinas-SP: UNICAMP/MEC, 2005. RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2012.
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Resumo. A ciência geográfica é construída pelo trabalho das sociedades humanas, que vivem em diferentes tempos, e suas relações com a natureza. O objetivo do trabalho foi sensibilizar a comunidade estudantil dos valores socioambientais, buscando resgatar memórias antigas associando-as aos novos modos de uso do rio Poxim em Aracaju/Se. Como metodologia foi realizada uma pesquisa bibliográfica; pesquisa de campo e entrevista com antigos moradores. O rio Poxim foi escolhido por concentrar uma área que vem sendo alterada devido aos impactos ambientais decorrentes da urbanização. Como resultado, espera-se que os conteúdos desenvolvidos em sala de aula, sejam convertidos em ações de valorização e melhoria para a qualidade de vida da comunidade local.
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1. Introdução O processo de desenvolvimento econômico e tecnológico nos últimos séculos tem levado à sociedade a um distanciamento cada vez maior de aspectos corriqueiros no seu modo de relacionar-se com o ambiente onde vive, bem como a falta de aproximação entre o antigo e o moderno. O objeto norteador do projeto é o rio Poxim em Aracaju/Se, pertencente à bacia hidrográfica do rio Sergipe, com uma área de 460 Km², tem como afluentes os rios Poxim-Mirim e Poxim Açu, com sua nascente no município de Itaporanga D’Ájuda em Sergipe (Sergipe 2012). Em seu leito inferior que margeia o bairro Jabotiana em Aracaju, o rio Poxim sofre forte processo de ação antrópica, devido à expansão imobiliária que vem provocando uma exclusão da população ribeirinha do seu local de origem, evidenciando “o aburguesamento de determinadas classes sociais e, ao mesmo tempo, a reprodução de uma massa crescente da população condenada à vida precária, no corpo da apropriação”. (DAMIANI, 2004) afetando consideravelmente os valores econômicos, sociais e culturais da comunidade. O Colégio Estadual Professor Joaquim Vieira Sobral, situado no bairro Jabotiana, tem em seu público escolar, moradores no entorno do rio Poxim, que são afetados com as ressignificações do bairro. As identidades culturais da comunidade e a relação com o rio que no passado contribuiu para o desenvolvimento e sustento das famílias ribeirinhas encontra-se ameaçada de esquecimento pelas gerações futuras. Através de aulas interdisciplinares envolvendo as disciplinas de geografia, história e ciências, em atividades extraclasse sobre o espaço escolar e o seu entorno, surgiu a necessidade de estudar sobre a situação em que se encontra o rio Poxim que atravessa o bairro Jabotiana, e sua influência sobre a população local. Após leituras e debates sobre a temática, percebeu-se que o rio tem uma simbologia para os moradores mais antigos do bairro. Foi criado assim o projeto “Poxim – nosso rio tem história”, um projeto voltado a sensibilizar a comunidade estudantil sobre os valores sociais, econômicos, culturais e ambientais, buscando resgatar memórias antigas dos moradores, associando-as aos novos modos de uso e aplicabilidade do rio.
2. Materiais e Métodos A pesquisa envolveu 150 alunos entre o 6º ano do Ensino Fundamental e a 3ª Série do Ensino Médio do turno matutino do Colégio Estadual Professor Joaquim Vieira Sobral, localizado no bairro Jabotiana em Aracaju/Sergipe. A pesquisa bibliográfica consistiu em leitura de textos, jornais, livros e artigos científicos que serviram para construção do projeto. Posteriormente foi feita uma pesquisa de campo pelo bairro para identificação e mapeamento da área de estudo com o intuito de observar as transformações socioeconômicas no bairro e a dinâmica de ocupação imobiliária nas áreas próximas ao rio Poxim. Para fundamentação do trabalho, foram realizadas entrevistas pelos próprios alunos a seus familiares mais idosos, onde foi entregue um roteiro para condução das perguntas aos familiares. Questionamentos como: “idade; tempo de residência no bairro; histórias do contato com o rio no passado; atividade de lazer e uso do rio; lendas e religiosidade envolvendo o rio Poxim” foram levantadas pelos alunos. O material fotográfico foi reproduzido através dos celulares dos próprios alunos, que ao circularem pelo bairro, iam fotografando o que despertava a sua atenção sobre a dinâmica do local e a realidade do rio Poxim, presente em seu dia a dia. Todo o material coletado foi apresentado pelos alunos aos próprios colegas em sala e posteriormente repassados para as demais turmas do colégio, convém destacar que em alguns casos houve uma repetição das respostas por haver parentesco entre alunos envolvidos. 3. Resultados e discussão Através da pesquisa bibliográfica em fontes publicadas envolvendo a temática sobre os impactos socioambientais e socioculturais, foi possível inserir no universo escolar, o que vem sendo pesquisado nas academias sobre as transformações a nível global e trazer para a realidade local onde o aluno está inserido, objetivando trabalhar as diferentes realidades na sociedade urbana com o aluno. “O espaço reproduz a totalidade social na medida em que essas transformações são determinadas por necessidades sociais, econômicas
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e políticas” (Santos, 1978). Ocasionando assim, uma constante transformação no local de morada das populações ribeirinhas, que involuntariamente são adequadas à nova reconfiguração do bairro Jabotiana. O público entrevistado correspondeu à população com grau de parentesco com os alunos (pais, tios, avós, bisavós), totalizando 150. Dentre as informações obtidas sobre a estrutura sócio espacial do bairro, 90% relatou sobre as alterações na paisagem local e o agravamento do aumento da temperatura ocasionado pela construção de condomínios, enfatizando os transtornos que passam as famílias que residem no bairro. A pesquisa mostrou que a relação dos moradores no passado era baseada no uso diário do rio, com a pesca artesanal para suprimento de necessidades básicas. Os relatos destacaram que o lazer ainda persiste em partes do rio Poxim. As lagoas que foram formadas devido à retirada de areia para construções de habitações, deu origem a um lago (popularmente chamado de “areal”) que foi formado com um subafluente do rio Poxim, concentrando diversas famílias nos finais de semana para lazer e rodas de conversas entre amigos. A média dos entrevistados correspondeu à idade de 30 a 60 anos. População que viu o bairro Jabotiana ser transformado em condomínios residenciais e grandes redes de supermercados. Dentre os questionamentos feitos durante as entrevistas, alguns podem ser destacados: “Que mudanças notaram no bairro nos últimos anos?”; “Costumava usar o rio para alguma finalidade no passado?”; “Como o rio Poxim é utilizado atualmente pela população local?”, os relatos são de que no passado a água do rio era limpa e utilizada para banho de toda a família, para uso no cozimento de alimentos e para a pesca diária e uso nas fazendas para utilização com animais. Um dos relatos mais impressionantes refere-se à forma de utilização do rio Poxim na atualidade. Para 40,0% dos entrevistados, o rio não pode mais ser utilizado para uso da população devido o alto grau de poluição em que se encontra, porém 27,0% da população faz uso do rio para a pesca (Figura 2), mesmo afirmando saber que o rio é poluído. Os 33,0% restante afirmaram utilizar o rio para descarte de lixo e esgoto (Figura 1). Quando foram solicitados a definirem o rio Poxim em apenas uma palavra, as respostas foram
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das mais diversas: SUJO, POLUÍDO, IMPRESTÁVEL, RECUPERÁVEL, evidenciando assim a necessidade de projetos educacionais de intervenção no bairro Jabotiana (Figura 3).
Figura 1. Esgoto / Foto: aluno JVS
Figura 2. Pescador / Foto: aluno JVS
Figura 3. A natureza agradece / Foto: aluno JVS
4. Conclusão
Referências
Os impactos ambientais causados na região estudada servem de alerta para situação atual dos rios. A população que dele fazia uso no passado, hoje se encontra refém de uma realidade cruel fruto de “modernização” do espaço geográfico. O reflexo desse fenômeno é percebido pela comunidade escolar. A pesquisa desenvolvida suscitou nos alunos a esperança de recuperação das áreas degradadas, porém os empreendimentos imobiliários ofuscam os ideais dessa juventude. Para tanto é necessário que haja uma integração de projetos socioambientais nos currículos regulares das escolas, oportunizando atividades interdisciplinares com a capacitação de professores para valorização de aspectos sociais, culturais e ambientais na população local. Nesse sentido, as ações possibilitarão oportunidades de aprendizagem acerca da realidade onde a escola está inserida, proporcionando ao aluno um olhar mais reflexivo e crítico sobre o ambiente onde as relações sociais acontecem. Alguns exemplos de práticas cidadãs já começaram a aparecer com o desenvolvimento da pesquisa. Foi criado um grupo de estudos com 20 alunos de diferentes séries, com a participação de professores de geografia, ciências, história, matemática e artes, que regularmente se reúnem para debaterem textos e notícias relacionadas ao bairro Jabotiana, suscitando melhorias para a comunidade. Uma das práticas são as oficinas educativas promovidas pelos alunos para trabalhar de forma lúdica o despertar ecológico na comunidade escolar e a criação e distribuição de panfletos educativos com o objetivo de sensibilizar a comunidade escolar para as práticas sustentáveis no bairro e consequentemente expandir os ideais de resgate e preservação ambiental para além dos muros escolares. Conclui-se que a experiência com o projeto “POXIM – Nosso rio tem história” está dando certo. A pesquisa despertou no aluno um olhar mais crítico do mundo a sua volta e potencializou a tomada de atitudes em benefício não apenas de uma conexão com o seu local de morada, mas despertou o olhar para as necessidades do outro, e percebeu que juntos são capazes de prosperar em benefício de uma causa única – o mundo onde vivem.
BACCI, Denise de La C. – Educação para a água. Disponível em www.revistas.usp.br › Capa › v. 22, n. 63 (2008). Acesso em 30/09/2016. DAMIANI, A. L. Urbanização crítica e situação geográfica a partir da metrópole de São Paulo. In: CARLOS, A. F. A.. OLIVEIRA, A. U. de (orgs.). Geografias de São Paulo; Representações e crises da metrópole. São Paulo: Contexto, 2004.p.19-58. JACOBI, Pedro et al. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de pesquisa, v. 118, n. 3, p. 189-205, 2003. KAERCHER, Nestor André – Desafios e Utopias no Ensino de Geografia. Santa Cruz do Sul – RS. Edunisc, 2010. RODRIGUES, Aníbal et al. É correto pensar a sustentabilidade em nível local? Uma análise metodológica de um estudo de caso em uma Área de Proteção Ambiental no litoral sul do Brasil. Ambiente & Sociedade-Campinas, v. 5, n. 2, p. 109127, 2003. SANTOS, Milton. Sociedade e espaço: formação espacial como teoria e como método. São Paulo: Boletim Paulista de Geografia, n. 54, 1978. SERGIPE. Superintendência de Recursos Hídricos. Atlas digital sobre os recursos hídricos de Sergipe. Aracaju: SEPLANTEC-SRH, 2012. 1 CD-ROM.
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Resumo. O Reino Monera é constituído basicamente por seres procariontes e unicelulares, tendo como principais representantes as bactérias e as cianobactérias. A análise morfofisiológica desses microrganismos é densa e revela uma série de estruturas minuciosas. No Ensino de Biologia, transmitir estes conteúdos é um desafio muito grande, especialmente, no que diz respeito à nomenclatura dessas estruturas. O presente trabalho teve objetivo fomentar a construção de recursos didáticos como agentes motivadores para o processo de ensino/aprendizagem em Biologia. Os resultados apresentados superaram as expectativas, principalmente, pela riqueza de detalhes das estruturas microbiológicas trabalhadas em sala de aula. 84 | Revista Feira de Ciências e Cultura
1. Introdução A atual classificação dos seres vivos coloca o Reino Monera o grupo de seres vivos mais simples que se tem conhecimento no planeta. Basicamente, todos os integrantes desse grupo têm em comum dois aspectos: a unicelularidade e a ausência de uma membrana nuclear envolta do material genético, sendo os mais conhecidos, as cianobactérias (algas azuis) e as bactérias (ROSA; SILVA, 2010). Estas últimas, por sua vez, apresentam uma diversidade morfofisiológica enorme e, muitas vezes, isso constitui em um empecilho muito grande para a transmissão deste conteúdo em sala de aula. Diariamente, os professores de Biologia têm de conviver, dentre outros problemas, com a dificuldade de assimilação, por parte dos alunos, dos termos técnicos que formam as estruturas vivas (KRASILCHIK, 2000). Diante deste cenário, é muito comum, professores de biologia adotarem alternativas didáticas que facilitem a transmissão dos conteúdos em sala de aula e, consequentemente, o processo de ensino/aprendizagem (ORLANDO et al., 2009). O presente trabalho também teve esse objetivo, na medida em que buscou estimular alunos do ensino médio a construir bactérias gigantes, nas quais suas estruturas pudessem ser facilmente perceptíveis. 2. Materiais e Métodos 2.1 Proposta de trabalho O presente trabalho foi realizado com uma turma de 30 alunos matriculados no 2º Ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Professor Gentil Tavares da Mota – CEPGTM, Frei Paulo, Sergipe. Para isso, eles ficaram responsáveis em pesquisar e elaborar um recurso didático que fosse representativo o suficiente para identificar as principais estruturas bacterianas, deixando, assim, um legado para as turmas futuras. Como principais fontes de pesquisa foram disponibilizadas, além do livro didático, a sala de informática da escola, na qual os alunos puderam realizar pesquisas sobre as bactérias mais conhecidas, seus modos de reprodução e mecanismos de ação infecciosa em humanos.
Todo esse trabalho foi acompanhado por professores que sugeriram sites seguros e com informações concisas como: o portal do professor e o domínio público, ambos ligados ao Ministério da Educação – MEC. Numa pré-seleção de imagens, optou-se em representar as estruturas da bactéria E. coli (Figura 1), por ser um modelo didático no qual as estruturas bacterianas são visivelmente identificáveis.
Figura 1. Modelo da bactéria E. coli. Fonte: http://educacao.globo.com/biologia/assunto/microbiologia/ bacterias.html
2.2 Construção dos recursos didáticos Os alunos tiveram autonomia na utilização dos materiais para construção das estruturas bacterianas, contanto que tais materiais pudessem ser facilmente encontrados na escola, na rua ou em casa. Além disso, foi pedido para que eles elaborassem um pequeno roteiro do seu recurso, contendo informações relevantes, como: os modos de fazer, materiais utilizados e a identificação clara das estruturas. 2.3 Avaliação A qualidade do trabalho, o domínio do conteúdo, com clareza nas informações transmitidas e a acessibilidade proposta pelo roteiro, foram fatores determinantes para verificar se tal atividade foi produtiva ou não do ponto de vista do processo de educação científica.
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3. Resultados e Discussão De acordo com as informações obtidas no roteiro produzido pelos alunos, foi possível identificar tanto os principais materiais utilizados para a confecção das bactérias gigantes (Tabela 1), quanto o modo de fazer, descrito passo-a-passo (Tabela 2). Tabela 1. Relação de materiais utilizados para confecção do recurso didático. MATERIAL QUANTIDADE (unid.) Saco de cimento 20 Kg* 01 Areia lavada** 01 balde de 20L Água 05 garrafas de 2L Caixa de massa de modelar 02 Pote de gela para cabelo 01 Tudo de cola silicone 01 Pistola de cola quente 01 Tinta óleo para tecido 01 (verde) Tábua de madeira (1,0 m x 0,50m) 01 Folha A4 01 *Adquirido no valor de R$ 25,00 com recursos da própria escola; ** Adquirida junto a uma obra próxima à escola como doação.
Tabela 2. Descrição das etapas de construção do recurso didático. ETAPAS DESCRIÇÃO Misturam-se o cimento e areia lavada, adicionando água aos poucos, até a massa adquirir consistência. Em 1ª – Preparação do cimento seguida molda-se a célula bacteriana, deixando-a secar por pelo menos 24 horas. Depois da secagem, utiliza-se a tinta óleo para pintura 2ª – Pintura da maquete da região externa da célula bacteriana. Deixando-a secar por pelo menos uma hora. Enquanto a tinta seca pode se moldar as estruturas bacterianas com a massa de modelar. Após a secagem, 3ª – Confecção das estruturas cada estrutura é colada com o auxílio da pistola de cola quente (Figura 2A). Por fim, a célula bacteriana é colocada sob a tábua de 4ª – Identificação das madeira, na qual é adicionada uma legenda estruturas identificando os nomes de cada um dos componentes bacterianos (Figura 2B).
Figura 2. A – Detalhe das estruturas bacterianas internas; B – Resultado final da construção do recurso didático.
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Do ponto de vista do aprendizado, esta atividade mostrou-se bastante eficaz, principalmente, porque ao colocar-se como protagonista no processo de construção do conhecimento, o aluno, tem a oportunidade de perceber que a Ciência não é um produto acabado, mas sim, que a experimentação, os testes, as observações, as repetições, os erros e acertos são meios fundamentais para a construção do pensamento científico (BALBINOT, 2005). Atividades lúdicas conseguem quebrar a monotonia das aulas expositivas ou da maçante leitura do livro didático, contribuem para a alfabetização científica e acabam se tornando pontos de partida para temas transversais dentro assunto (COSCRATO, et al., 2010). Por exemplo, no citoplasma bacteriano, existe um fragmento gênico, denominado de plasmídeo, responsável, dentre outras coisas, pelo aumento da resistência bacteriana a determinados componentes químicos. Nesse ponto, quando conduzida da maneira correta por parte de professor, esta atividade, pode levar a discussões importantes para a saúde pública, como o uso excessivo de antibióticos sem prescrição médica no Brasil e suas consequências negativas para a sociedade. Por tudo isso, nos últimos anos, pesquisadores da área de ensino, tem defendido sistematicamente que para o Brasil alcançar melhores resultados nos índices educacionais, especialmente, na área das ciências, um enfoque na transmissão dos conteúdos baseados no tripé: Ciências – Tecnologia – Sociedade (CTS), deve ser incentivado (PINHEIRO et al., 2007). Sendo assim, a construção da maquete denominada de “Bactéria Gigante”, como recurso educacional do Ensino de Biologia, além de ser um instrumento motivacional, pode contribuir bastante para o processo de ensino/aprendizagem. 4. Conclusão A construção de recursos didáticos como agentes motivadores para o Ensino de Biologia, transforma os alunos em agentes ativos no processo de construção do conhecimento científico e pode ser utilizada como um verdadeiro instrumento de avaliação da aprendizagem significativa.
Referências BALBINOT, M. C. Uso de Modelos, numa Perspectiva Lúdica, no Ensino de Ciências. In: IV Encontro Ibero – Americano de Coletivos Escolares e Redes de Professores que Fazem Investigação na sua Escola, 2005. Lajeado. Anais eletrônicos. Lajeado: UNIVATES, 2005. Disponível em: http://ensino. univates.br/~4iberoamericano/trabalhos/trabalho161.pdf. Acesso em: 14 de abril de 2016. COSCRATO, G.; PINA, J. C.; MELLO, D. F. de. Utilização de atividades lúdicas na educação em saúde: uma revisão integrativa da literatura. 2010. Acta Paul Enferm, v. 23, n. 2, p. 257-263. KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: o caso do ensino de ciências. 2000. São Paulo em perspectiva, v.14, n.1, p. 85-93. ORLANDO, T. C.; LIMA, A. R.; SILVA, A. M. da; FUSISSAKI, C. N.; RAMOS, C. L.; MACHADO, D.; FERNANDES, F. F.; LORENZI, J. C. C.; LIMA, M. A. de; GARDIM, S.; BARBOSA, V. C.; TRÉZ, T. de A. e. Planejamento, Montagem e Aplicação de Modelos Didáticos para Abordagem de Biologia Celular e Molecular No Ensino Médio por Graduandos de Ciências Biológicas. 2009. Revista Brasileira de Ensino de Bioquímica e Biologia Molecular, n. 1, p. 1-17. PINHEIRO, N. A. M.; SILVEIRA, R. M. C. F.; BAZZO, W. A. Ciência, Tecnologia e Sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do Ensino Médio. Ciência & Educação, v. 13, n. 1, p. 71-84. ROSA, S. R. G.; SILVA, M. R. da. A História da Ciência nos Livros Didáticos de Biologia do Ensino Médio: uma análise do conteúdo sobre o episódio da transformação bacteriana. 2010. Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 3, n. 2, p. 59-78.
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Resumo. Nos últimos anos vem aumentando as discussões sobre problemas ambientais, derivados das ações humanas. Crescem as discussões por alternativas econômicas sustentáveis, as quais protejam os nossos recursos naturais para presentes e futuras gerações. O objetivo desse trabalho foi identificar a percepção de alunos de ensino médio em relação à definição de impactos ambientais. Foram realizadas atividades lúdicas com materiais de baixo custo e de fácil acesso na própria escola. Os resultados apontam para uma visão de meio ambiente, ainda preocupada, apenas, com a fauna e flora. Faz-se necessário, incluir discussões sócio-ambientais no processo de ensino/aprendizagem do referido tema. 88 | Revista Feira de Ciências e Cultura
1. Introdução Não é novidade para ninguém que boa parte dos problemas ambientais que presenciamos nos dias de hoje, têm na sua origem ações humanas. Boa parte dessas ações pode ser relacionada ao modo econômico de produção que se instalou na maioria dos países, especialmente, a partir da primeira Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, na Inglaterra (CONTI, 2005). Nesse cenário, a história seguiu seu curso e nunca se falou tanto em aquecimento global, danos às cadeias alimentares, caça predatória, extração ilegal de madeira, incêndios florestais, dentre outras situações semelhantes, como nos dias de hoje. Entretanto, apesar da massiva sensibilização causada pelas mídias sociais e pelos diversos meios de comunicação, ainda, é possível encontrar nos discursos das campanhas publicitárias um apelo voltado exclusivamente para aspectos da fauna e da flora. Não que tais questões sejam insignificantes, no entanto, é preciso também se discutir aspectos sócio-ambientais, como fome, miséria, acesso à educação, condições de higiene e saneamento básico, entre outros. O presente trabalho teve por objetivo identificar as principais percepções de alunos do ensino médio, no que diz respeito às consequências dos impactos ambientais causados sobre a água, o ar e o solo. 2. Materiais e Métodos
três equipes e lançamos como proposta a confecção de maquetes, com materiais acessíveis, as quais, na opinião dos alunos, representassem uma situação hipotética de um impacto ambiental. Para isso, incentivou-se o uso do livro didático e sites específicos, disponíveis na internet. Em seguida, foi montado um cronograma de apresentação para cada equipe, com duração de 20 a 30 minutos. Durante as apresentações, ficou estabelecido que cada equipe deveria enfatizar os seguintes aspectos: o material utilizado para a confecção das maquetes; a descrição do cenário representado e as principais consequências daquele referido impacto. 2.3 Avaliação Como instrumento de avaliação, foi utilizado um diário de campo para anotação das falas dos alunos e dos pontos mais importantes que nortearam suas apresentações. A análise dessas informações indica o método qualitativo desse trabalho, o qual se baseou em literatura específica para realizar as discussões. 3. Resultados e Discussões As maquetes construídas pelos alunos ficaram muito representativas e didáticas, especialmente, pela criatividade e sequência lógica de acontecimentos (Figura 1; Figura 2 e Figura 3
2.1 Público-alvo O trabalho foi realizado com 30 alunos matriculados no 3º Ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Professor Gentil Tavares da Mota – CEPGTM, Frei Paulo, Sergipe. A maioria dos estudantes pertence ao sexo feminino (70%), residentes na zona urbana, apresentando uma média de idade de 17 anos. Tal atividade se deu como parte integrante da nota da 2ª avaliação, estimulando ainda mais a sua realização. 2.2 Proposta de trabalho Antes da transmissão das informações referentes aos conteúdos de Ecologia, dividimos a turma em
Figura 1. A - Extração ilegal de madeira; B - Incêndios florestais; C – Despejo de esgotos em mananciais de água doce.
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Figura 2. Atividade representando a queima de combustíveis fósseis.
Figura 3. Detalhe da contaminação de lençóis freáticos por resíduos sólidos.
Muitos desses materiais utilizados podem ser encontrados facilmente na escola, demonstrando, assim, que mesmo sem recursos financeiros, é possível estabelecer novas práticas docentes no Ensino de Biologia, tornando o processo de aprendizagem mais significativo e prazeroso. No que dizem respeito às apresentações, dois prontos chamaram à atenção: • Ao contrário do que, insistentemente, tem sido propagado no meio educacional, os alunos de hoje tem sim, uma bagagem informações muito grande. Isso ficou evidente pelos conceitos abordados por eles, como: habitat, nicho ecológico, populações, comunidades, gases de efeito estufa, chorume, entre outros; • Há uma sensibilização enorme para as consequências negativas sobre a fauna, a flora e os recursos hídricos dos nossos ecossistemas naturais. Nesse sentido, aqui, surgiram várias idéias a respeito de alternativas sustentáveis para minimizar tais problemas.
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Dessa forma, consideramos que tal atividade transformou o aluno num agente ativo no processo de construção do conhecimento, uma vez que estimulou a pesquisa, a leitura e o debate sobre os principais problemas ambientais do nosso país. No entanto, não foi possível perceber em seus discursos a correlação entre meio ambiente e sociedade. Uma explicação para isso seria o caráter tecnicista e mecânico do livro didático, priorizados na transmissão das informações para o aluno. Segundo Megid Neto e Fracalanza (2003), o livro didático produzido no Brasil, apesar de todos os esforços, ainda trata a Ciência como um produto acabado e não como algo que está sempre em construção. É preciso que eles passem a abordar cada vez mais um enfoque baseado em Ciência, Tecnologia e Sociedade – CTS (PINHEIRO, 2007). No caso do conteúdo de Ecologia, quando falamos de meio ambiente faz-se necessário, também, inserir o homem nesse processo. Não podemos falar em preservação ou conservação ambiental, quando milhões de pessoas pelo mundo ainda passam fome e vivem sob condições subumanas. Sendo assim, a produção do conhecimento nessa área deve contemplar as inter-relações do meio natural com o meio social, bem como os diversos atores envolvidos. (JACOBI, 2003). 4. Conclusão A construção de recursos didáticos como agentes motivadores para o Ensino de Biologia, transforma os alunos em agentes ativos no processo de construção do conhecimento científico e pode ser utilizada como um verdadeiro instrumento de avaliação da aprendizagem significativa. Referências CONTI, J. B. Considerações sobre as mudanças climáticas globais. 2005. Revista do Departamento de Geografia, n. 16, p. 70-75. JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. 2003. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205. NETO, J. M.; FRACALANZA, H. O livro didático de Ciências: problemas e soluções. 2003. Ciência e Educação, v.9, n.2, p. 147-157. PINHEIRO, N. A. M.; SILVEIRA, R. M. C. F.; BAZZO, W. A. Ciência, Tecnologia e Sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do Ensino Médio. 2007. Ciência & Educação, v. 13, n. 1, p. 71-84.
Resumo. O artigo Projeto Jornal César Leite visa apresentar resultados de uma ação desenvolvida com alunos do ensino médio do C. E. Dr. Augusto César Leite, Itabaiana-Se, cujo objetivo geral foi tornar significativas as práticas de leitura e de produção de textos no espaço escolar, valorizando o uso efetivo da língua em seu aspecto interacional, comunicativo e linguístico, ressignificando o sentido do ler e do escrever, de modo a levar o estudante a reconhecer-se como sujeito autor e coautor dos textos veiculados no jornal. Para isso, foram definidos os objetivos específicos: 1) criar um mecanismo de circulação dos textos produzidos pelos alunos para a comunidade escolar: o jornal escolar; 2) envolver alunos de outras turmas e professores na leitura, reconhecimento e produção dos mais variados gêneros textuais publicados nesse veículo de comunicação e informação.
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1. Introdução O Projeto Jornal César Leite foi implantado no C. E. Dr. Augusto César Leite em 2014, sendo a primeira experiência na escola com o uso do jornal impresso. O projeto foi coordenado pelos alunos do 3º ano do Ensino Médio do turno diurno. O recurso a essa ferramenta deve-se ao fato de o jornal possibilitar o trabalho com diversos gêneros textuais, incluindo os gêneros argumentativos, os quais são enfatizados nesse nível de ensino; estimular o protagonismo juvenil; e ressignificar as práticas de leitura e escrita de textos, fatores que definiram os objetivos do referido projeto. Em 2015, demos continuidade ao projeto com a adesão dos alunos do 3º ano (matutino e vespertino), os quais coordenaram e executaram as atividades do jornal. Definimos, desde o projeto inicial, que as turmas de 3º ano coordenariam o jornal como sendo uma forma de eles deixarem um trabalho vistoso e que marcasse seu último ano na escola. Desse modo, foram definidos os seguintes objetivos: 1) criar um mecanismo de circulação dos textos produzidos pelos alunos para a comunidade escolar – o jornal escolar; 2) envolver alunos de outras turmas e professores na leitura, reconhecimento e produção dos mais variados gêneros textuais publicados no jornal. Se ler é construir sentidos (SANTOS, 2011), concepção sociointeracionista e dialógica de ensino de língua, escrever “é um passar a existir com base no que fica registrado em termos de palavras” (RIOLFI et al, 2014, p. 122). É nessa perspectiva que nasce o projeto Jornal César Leite (JCL), a qual exige que o ensino de língua paute-se não só nos recursos linguísticos e discursivos que estão dispostos, mas também nos motivos e significados de ler e de escrever. Nesse sentido, os conceitos de gêneros (BAZERMAN, 2011; MARCHUSCHI, 2010) e de letramentos (KLEIMAN, 2005) permeiam o referido projeto. Já que tradicionalmente a escola abre pouco espaço para escrita, destoando do que pregam os PCN (BRASIL, 1998), que preveem um equilíbrio entre as práticas de leitura, de produção de texto e de análise linguística, a implantação e implementação de um jornal escolar abre espaços para uma leitura significativa e maior ênfase à produção de texto, que adquire nesse contexto uma carga de significação expressiva pelo uso efetivo da língua.
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O uso do jornal escolar como ferramenta pedagógica não é uma novidade, mesmo assim, ainda há uma resistência por parte das escolas em utilizar essa metodologia. São poucos ainda os projetos de incentivo ao uso dessa mídia, mas vale destacar o Portal do Jornal Escolar que se coloca como uma ferramenta de apoio ao professor que decidir usar o jornal como instrumento de contribuição para “o letramento, o desenvolvimento de competências socioemocionais e a participação social dos estudantes.” (PORTAL, 2016). Desse modo, o trabalho com o jornal escolar permite a quebra da artificialidade do uso da língua na escola (escreve-se para o professor que deixa de ser leitor para ser corretor), tornando o contexto da produção de textos ‘mais espontâneo e criativo’ e consequentemente, ‘mais próximo da vida extraescolar’” (ZANARDI e CAMARA, 2014, p.1104). Por isso mesmo, mobiliza conhecimentos, habilidades e interesses múltiplos e diversos, porém afins, tornando-se um instrumento potencial para o ensino da leitura e da produção de textos na escola, no intuito de promover múltiplos letramentos e a vivência linguístico-discursiva dos educandos fora do espaço escolar, em convívio social, garantindo o uso efetivo da língua. 2. Materiais e métodos O Projeto Jornal César Leite, ano 2 (2015), foi desenvolvido no segundo semestre letivo de 2015, com término em março de 2016, envolvendo as turmas de 3º anos (matutino e vespertino) responsáveis pela coordenação geral das atividades e pela produção de algumas matérias. O projeto foi desenvolvido em três fases, entre os meses de dezembro (2015) a fevereiro (2016), com culminância no início de março seguinte. Na primeira fase, lançamos às turmas a proposta de darmos continuidade ao projeto do jornal da escola – Jornal César Leite, ano 2, 2015 - após esclarecimentos sobre os objetivos do trabalho. A adesão foi unânime. O passo seguinte foi a formação da comissão organizadora, envolvendo pelo menos quatro alunos de cada turma. Estendemos também a proposta para o 3º ano da noite, cuja adesão foi menor. Formada a comissão, dispensamos algumas aulas para leitura do jornal do ano anterior (Jornal César Leite, ano 01, 2014), para críticas e sugestões, bem como para definição de seções
e matérias possíveis e de estratégias de envolvimento de toda a turma e de outras turmas da escola.
Na terceira fase, após a seleção dos textos e imagens e respectiva revisão, a diagramação e editoração (feitas pela comissão organizadora) e impressão dos exemplares na gráfica, houve um evento de culminância do projeto para divulgação das atividades envolvidas no jornal, por meio de apresentações em palco no auditório da escola, com capacidade para 500 pessoas, e distribuição dos exemplares para leitura e apreciação dos espectadores e potenciais leitores.
Fig. 1. Alunos do 3° A1 do ensino médio do Colégio Estadual Dr. Augusto César Leite (2015) fazendo apreciação crítica da primeira edição (2014) do JCL.
Na segunda fase, a mobilização foi evidente e produtiva. Para produção de matérias, contamos com apoio de alguns professores de outras disciplinas (Matemática, Biologia, História, Inglês, só para citar algumas) de turmas do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e do ensino médio (1º e 2º ano) os quais se responsabilizaram por orientar a produção de textos e selecioná-los para o jornal. Assim, foram realizados, pelos alunos do 3º ano, os trabalhos de campo (entrevistas, pesquisas, visitas in loco etc.), as leituras e pesquisas para produção das matérias, os diálogos e contatos com professores e com outras turmas. Foi realizada também uma seletiva de poemas e de desenhos que envolveu alunos dos três turnos dos níveis de ensino ofertados na escola.
Fig. 02. Visita realizada pelos alunos do 3º A2 do C. E. Dr. Augusto César Leite ao Parque dos Falcões para produção de matéria para o JCL.
Fig. 03: Capa colorida da segunda edição do JCL, Ano II. Fev. 2016.
3. Resultados e discussão A primeira etapa do trabalho, que consistiu basicamente na adesão dos alunos para a execução das atividades e definição das fases do projeto, colocou-nos um aparente obstáculo levando-nos a argumentar e a defender a proposta. Foi questionado pelos alunos sobre a finalidade de um jornal impresso na escola se todos eles têm acesso às informações através dos aparatos tecnológicos digitais (celulares, principalmente). Esclarecer que o jornal impresso também é uma tecnologia e que, no bojo da proposta, estava a importância do significado do ler e escrever, do de encontrar o sentido da produção escrita e do sentir-se e reconhecer-se produtor/autor do jornal foi imprescindível para que os alunos aderissem
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ao projeto. Inicialmente, ainda desconfiados da importância e funcionalidade dessa tecnologia em plena era digital, vista como obsoleta e efêmera, os estudantes foram ganhando confiança a cada momento de debate sobre a formatação do jornal escolar. O envolvimento de cada um nas tarefas permite-nos afirmar que, para além da intenção meramente pedagógica que possa envolver a elaboração de um jornal escolar, há o despertar para a criatividade, para a originalidade, para o debate, envolvendo questionamentos e argumentação usados para defender esta ou aquela matéria, este ou aquele ponto de vista, esta ou aquela linha editorial. Isso foi perceptível no momento de sugestões e definição das seções e matérias. Outro embate que se colocou também nesse início e mesmo durante as atividades foi a impressão equivocada de que as atividades do jornal desenvolvidas em horário regular de aula não eram aulas, o que demonstra a concepção clássica de “aula”. Fato este que nos levou a questionar tanto nossa prática envolvendo também esse projeto, quanto a argumentar e a comprovar para os alunos que, com tais atividades, estavam sendo trabalhados vários conteúdos necessários e, por vezes, ignorados ano a ano pela escola, engessada na cobrança de conteúdos muitas vezes descontextualizados.
Fig. 04. Capa colorida da terceira edição do JCL, Ano III. Mar. 2016.
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Na segunda etapa, devido à própria criatividade dos alunos, as atividades tomaram uma proporção não planejada no ato de propor o projeto, pois a ideia de realizar uma seletiva de poemas e desenhos mobilizou não somente os alunos do 3º ano, mas também e principalmente todas as turmas em todos os turnos. A visita da comissão organizadora a cada turma e o diálogo com seus respectivos professores para divulgar o regulamento da seletiva (definido e estruturado por eles próprios) subverteu, de certa forma, a ordem escolar, visto que os interessados procuravam seus professores de Língua Portuguesa e mesmo a nós para verificar se seu poema ou seu desenho poderia fazer parte da seletiva. O resultado da seletiva só seria divulgado no ato de distribuição do jornal, mas, como a atividade mobilizou significativamente os alunos, alguns dos poemas não selecionados para o jornal foram declamados pelos alunos dos 3º anos durante o projeto de leitura da escola que aconteceu nesse interregno. Ainda nessa etapa, algumas matérias foram desenvolvidas por outras turmas sob orientação do professor voluntário ao projeto, o qual poderia definir sua própria estratégia de orientação e seleção do texto. As turmas do 3º ano A1 e A2, além da responsabilidade de coordenar todas as atividades, desenvolveram reportagens sobre temas de interesse local, tendo como pauta o Parque dos Falcões, reconhecido internacionalmente, mas pouco reconhecido em nível local; e a conservação do patrimônio escolar, haja vista a escola enfrentar a depredação ora sutil, ora mais aberta e intensamente. Esse momento, demandou um trabalho pontual do ensino da língua, uma vez que foi preciso trabalhar as características do gênero textual reportagem e aspectos linguísticos e discursivos característicos do gênero. Em ambas as atividades, o envolvimento de outros professores de outras disciplinas (Matemática, Biologia, História, Inglês, Química) na orientação e apoio à produção dessas reportagens surpreendeu-nos e deu-nos a dimensão da mobilização que o JCL havia proporcionado. Na terceira etapa, momento em que as turmas selecionaram, revisaram e diagramaram o jornal, os alunos demonstraram senso de responsabilidade; buscaram aperfeiçoar conhecimentos escolares necessários, especialmente, os de língua portuguesa, no que tange aos gêneros de texto a serem publicados; puderam compre-
ender a importância de se levar em conta o público alvo de toda produção e, para isso, foi preciso fazer recortes, ajustes, adequações, desde que se respeitasse a autoria de cada texto/imagem, o que demandou aplicar conhecimentos linguísticos, discursivos e sociointeracionais adquiridos durante sua vida escolar. Desse modo, a experiência de produção do JCL revelou, nessa última fase, muito mais do que poderíamos esperar, pois, ainda durante a fase de diagramação, os alunos conseguiram compreender o significado do jornal escolar, pois puderam vivenciar o desejo daqueles que queriam ver seu texto publicado, presenciar a emoção dos autores ao saber que seu texto foi selecionado, que sua imagem ou a imagem que escolheram seria veiculada no jornal. Essa experimentação e vivência se concretizou e se fortaleceu durante a culminância do projeto, a qual pensado e organizada por eles com dedicação e empenho, em evento para toda a comunidade escolar, momento em que puderam ver e sentir a emoção da plateia ao folhear o jornal e abrir sorrisos, expressão que marcou a importância do jornal impresso na escola.
Fig. 05: Projeto de capa colorida da primeira edição do JCL, produzida somente pelos alunos do ensino fundamental, 2017, com previsão de lançamento para o final de junho de 2017.
A experiência pedagógica com o jornal escolar sempre chamou-nos a atenção, porque essa ferramenta possibilita um trabalho com a linguagem que extrapola os espaços escolares e, mais, ressignifica as práticas de leitura e de escrita, uma vez que os estudantes têm claro o que escrever, para que escrever, para quem escrever e por que escrever, além do fato de atentarem para o suporte onde o texto será veiculado. A leitura e a escrita dotadas de significação prática só é possível se o aluno se reconhecer nelas. Além disso, o jornal escolar possibilita o trabalho com vários gêneros textuais, garantindo multiletramentos aos estudantes, tanto no sentido de conhecer e reconhecer a funcionalidade dos gêneros, quanto no sentido de conhecer e reconhecer o jornal (escolar) como um instrumento midiático de empoderamento, em que se detecta o jogo de ideologias (ao se fazer este ou aquele recorte, ao se definir esta ou aquela matéria desta ou daquela abordagem, por exemplo), de priorização do recorte da realidade a partir de determinada perspectiva e de formação (ou deformação!) de opinião. Desse modo, embora aparente obsoletismo, o jornal impresso torna-se um instrumento pedagógico de grande valia, de modo que estimula a participação, o debate, o questionamento, a argumentação (oral ou escrita), o protagonismo juvenil, a mobilização da comunidade escolar, além de veicular conhecimentos considerados importantes no momento de elaboração do jornal. Prova disso é a atual mobilização de alunos do ensino fundamental (ano letivo 2017) para produzir um jornal escolar que represente a produção desse nível de ensino, uma vez que, após uma abordagem crítica e sensata sobre a estrutura do projeto inicial, consideraram muito pequena a participação deles na 3ª edição do JCL. Outro aspecto que pode ser considerado negativo é a periodicidade (anual) do jornal. Porém, no formato em que adotamos e descrevemos o projeto, essa escolha deu-se justamente pelo fato de demandar um investimento de tempo, energia e articulação maior do/a professor/a que coordena o projeto, o que poderia comprometer as demais atividades escolares com outras turmas não envolvidas diretamente no projeto.
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Referências BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. In DIONÍSIO, Angela Paiva; e HOFFNAGEL, Judith Chambliss (org). Gêneros textuais, tipificação e interação. Tradução e adaptação Judith Chambliss Hoffnagel. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2011. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental (SEF). Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. 107 p. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues. pdf>. Acesso em: 28/09/2016. KLEIMAN, Ângela B. Preciso “ensinar” o letramento? MEC/ Cefiel/IEL/Unicamp, 2005. Disponível em: http://www.iel. unicamp.br/cefiel/alfaletras/biblioteca_professor/ arquivos/5710.pdf. Acesso em: 29/09/2016. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In DIONÍSIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; e BEZERRA, Maria Auxiliadora (org). Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010, 246 p. PORTAL do Jornal Escolar. Disponível em: <http://www. jornalescolar.org.br/2016/02/jornal-da-turma-inscricoes-2016/> Acesso em 30/09/2016. RIOLFI, Claudia et al. Ensino de língua portuguesa. São Paulo: Cengage Learning, 2014 (Coleção Ideias em Ação, coordenada por Anna Maria Pessoa de Carvalho). SANTOS, Leonor Werneck dos. Leitura na escola: como estimular os alunos a ler. In: TAVARES, Kátia Cristina do Amaral; BECHER-COSTA, Sílvia B. A.; e FRANCO, Claudio de Paiva (Orgs). Ensino de Leitura: fundamentos, práticas e reflexões para professores da era digital. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, 2011. 220p.
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Resumo. A garantia na disponibilidade de energia está intimamente atrelada aos problemas de esgotamento de reservas de petróleo, ao encarecimento destes e a fatores ambientais. A energia eólica se destaca por sua produção sustentável, fonte inesgotável e baixo impacto ambiental, comparando-se com as demais matrizes energéticas. O protótipo iniciado neste trabalho tem como finalidade proporcionar o funcionamento de objetos que demandem poucos Volts, sendo, portanto, um primeiro passo para a efetiva implantação de aerogeradores capazes de produzir energia suficiente para iluminar as dependências externas do IFS, além da possibilidade de sua utilização para fins didáticos na instituição.
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1. Introdução O Brasil não é autossuficiente em energia, mas produz cerca de 90% do total que consome, importando o restante. O país é um dos poucos do mundo que apresenta possibilidade múltipla de ampliar as suas alternativas energéticas, devido à abundância dos seus recursos naturais e de sua extensão territorial. No entanto, existe um motivo relevante que torna a inserção da energia eólica na matriz brasileira, em uma escala condizente com o seu potencial, de grande importância para a segurança do sistema elétrico brasileiro: sua complementaridade com as demais matrizes elétricas. Como o Brasil ainda utiliza em grande escala energias esgotáveis, que causam inúmeras consequências socioambientais, logo, haverá crescente necessidade de geração de energia complementar. A energia eólica é perfeitamente adequada para a reversão de tais problemas, pois se destaca por sua produção sustentável, fonte inesgotável e principalmente pelo baixo impacto ambiental, comparando-se com as demais matrizes energéticas (NUNES e MANHÃES, 2010). Partindo para os modelos modernos de turbinas eólicas, pode-se citar dois projetos principais, as de eixo horizontal e as de eixo vertical. De acordo com Dutra, 2008, os rotores de eixo vertical têm a vantagem de não necessitarem de mecanismos de acompanhamento para variações da direção do vento, o que reduz a complexidade do projeto e os esforços devido às forças de Coriolis. O aerogerador com rotor do tipo Savonius é um dos mais simples e o principal foco de sua instalação é a economia financeira adquirida por seu comprador. Os rotores Savonius também são conhecidos como rotores “S” devido ao rotor ser, basicamente, constituído por duas pás semicirculares, colocadas uma justaposta à outra em cada nível de pás. Esses rotores são muito utilizados como aeromotores de baixa amplitude em instalações de bombeamento de água em zonas rurais, onde o custo final devido à simplicidade do sistema de transmissão e construção do rotor propriamente dito pode compensar seu menor rendimento (SANTOS et al., 2006). Neste escopo, objetivou-se montar e testar um modelo do aerogerador tipo Savonius de pequeno porte e construído a partir de materiais de baixo custo, visando à possibilidade de efetiva construção de um protó-
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tipo de grande porte, para ser utilizado como fonte de energia renovável nas dependências externas do Instituto Federal de Sergipe. 2. Materiais e Métodos De forma a confeccionar um modelo do aerogerador Savonius com um baixo custo, a maior parte dos materiais utilizados foram alternativos e de fácil acesso, tais como, folha de madeirite, canos de PVC de ½”, joelhos de PVC de ½”, fio de cobre esmaltado, imãs potentes, LED de 2 volts, gesso, caixa de papelão e garrafa PET de 2 L, além de tesoura, régua, fita isolante, lixa e cola. A estrutura do modelo do aerogerador Savonius foi construída utilizando-se uma folha de madeirite com 60cm x 40cm para servir como base. Para apoio das hélices foi fixado verticalmente o cano de PVC de ½” na base, cortado em três pedaços, sendo estes preenchidos com gesso e brita e conectados por dois joelhos de PVC de ½”, formando um U. Na folha de madeirite foi feito um furo para acoplar o eixo de metal das hélices (Figura 1-A). A elaboração das pás da turbina foram desenvolvidas a partir de uma garrafa PET de 2L. As pás possuem formato cilíndrico e iguais. Dois moldes em formato de S foram colocados em um papelão, que foi cortado no formato do molde e foi colado nas extremidades das pás, formando uma hélice côncava. Foi feito um furo na projeção superior da hélice, ou seja, nas extremidades das pás onde se encontra o papelão em formato de S para que o eixo de metal possa passar pelo meio, ficando portanto a hélice fixada na base (Figura 1-B). O gerador foi desenvolvido em duas etapas. Inicialmente, com um pedaço pequeno de papelão foi feito um gabarito de enrolamento de 3cm x 20cm, e posteriormente foram cortados pedaços de fita isolante e enrolados no gabarito de papelão. Esse gabarito foi utilizado para confeccionar 4 bobinas com 200 espiras de fio de cobre calibre 28. Por fim, deslizou-se cada bobina uma a uma para fora do gabarito e fixou firmemente com dois pedaços de fita isolante. As bobinas foram coladas em um CD, que estava ligado a extremidade inferior da hélice (Figura 1-C). Em um outro CD, fixado na folha de madeirite,
foram colados, cuidadosamente observando os polos, 4 imãs de neodímio posicionados abaixo das pás, a poucos milímetros das 4 bobinas, que foram ligadas a um LED ( Figura 2-A).
Uma segunda opção na confecção do gerador foi realizada utilizando um rotor de cooler de 12 volts acoplado ao eixo, no lugar das bobinas e dos imãs de neodímio (Figura 2-B). Ambos os modelos foram ligados a um multímetro.
Figura 2. Detalhes do desenvolvimento do protótipo: Ímãs de neodímio (A); Cooler de 12V acoplado ao eixo (B).
3. Resultados e discussão
Figura 1. Detalhes do desenvolvimento do protótipo: Estrutura (A); Eixo com as pás (B); Bobinas de fios de cobre (C).
Inicialmente foi planejado utilizar ímãs de neodímio para produzir a eletricidade. Constatou-se a ineficiência das bobinas em virtude de terem sido confeccionadas manualmente e os fios de cobre gerarem um atrito inesperado com os ímãs. No entanto, durante os primeiros testes, foi possível gerar 1,5V de tensão, o que foi verificado mediante a utilização de um multímetro e mediante o acendimento de LEDs.
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Uma vez que o atrito entre os fios de cobre e os ímãs foi ficando maior, pôde-se perceber que as bobinas caseiras não funcionaram de forma viável, por isso, na construção do protótipo do gerador, serão usadas bobinas adquiridas no mercado eletrônico. Devido a essa instabilidade do eixo de rotação, foi utilizado um motor de cooler de 12V, posicionado abaixo do aerogerador e conectado ao eixo, como gerador. A eficiência ficou abaixo do esperado, obtendo-se apenas 0,9V. Para acionar o motor do cooler é necessário energia, no entanto, foi realizada uma conexão ao eixo do aerogerador usando-a como gerador de energia. Este possui quatro pequenas bobinas e um ímã circular que gira em torno das mesmas, com o intuito de produzir energia elétrica, seguindo assim, a lei de Faraday, que diz que a ação de um campo magnético variável sobre um circuito gera uma corrente elétrica induzida. Para construção do modelo do aerogerador, a maioria dos materiais utilizados foram reciclados, com exceção dos ímãs de neodímio, que por serem um material mais específico e de maior qualidade possuem um custo mais elevado. O custo total do modelo não ultrapassou R$ 200,00. Considerando que somente os ímãs custaram R$ 120,00, o projeto não é caro e é de fácil acesso. Serão utilizados materiais leves como PVC e PET com o intuito de diminuir a massa do aerogerador e assim aumentar a velocidade de rotação do eixo, além de madeira, com a qual será feita a base. Como o protótipo do aerogerador será bem maior que o modelo desenvolvido será necessário usar um maior número de pás para que o objetivo seja atingido. Hastes de alumínio ou aço servirão de eixo vertical, conectados a rolamentos que permitirão que a mesma gire de forma eficiente. De acordo com o que foi desenvolvido e baseado nas pesquisas desenvolvidas por Santos, 2006, estima-se que o custo médio para construção do protótipo de um aerogerador Savonius seja de aproximadamente R$700,00. Ao término de sua construção, o protótipo do aerogerador será instalado em um local que possibilite sua conexão com os postes de lâmpadas de LED, que atualmente estão distribuídas nas dependências externas do Instituto Federal de Sergipe.
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4. Conclusão O aerogerador de eixo vertical Savonius, embora não seja tão eficiente quanto os aerogeradores de eixo horizontal, possuem um baixo custo e é caracterizado por ter uma construção e um funcionamento relativamente simples, podendo ser utilizado e instalado em diversos locais. O protótipo tem como finalidade futura proporcionar o funcionamento de objetos que demandem poucos Volts, sendo, portanto, um primeiro passo para a efetiva implantação de aerogeradores capazes de produzir energia suficiente para iluminar as dependências externas do Instituto Federal de Sergipe, Campus Aracaju. Referências DUTRA, R. Energia Eólica Princípios e Tecnologia. 2008. Disponível em: <http://www.cresesb.cepel.br/download/tutorial/tutorial_eolica_2008_e-book.pdf>. Acesso: 03/04/2016 . NUNES, G. A., MANHÃES A. A. Energia Eólica No Brasil: Uma Alternativa Inteligente Frente Às Demandas Elétricas Atuais. Revista de divulgação do Projeto Universidade Petrobras e IF Fluminense, v.1, p.163-167, 2010. SANTOS, A. A., RAMOS D. S., SANTOS N. T. F., OLIVEIRA P. P. Projeto De Geração De Energia Eólica. Projeto de Graduação do Curso de Engenharia Industrial Mecânica, Universidade Santa Cecília. Santos-SP. 2006.
Resumo. O trabalho objetivou realizar a extração a frio do óleo de mamona e produzir biodiesel por via metanólica e etanólica utilizando KOH/Al2O3 como catalisador. Ambos os processos foram desenvolvidos para definir qual método tem o melhor rendimento. Foi possível inferir, previamente, uma maior eficiência do metanol para extração a frio do óleo de mamona e, também, que obtenção do biodiesel via catálise heterogênea não se mostrou eficiente, provavelmente devido à agitação deficiente do sistema, à qualidade do catalisador obtido no processo ou à alta viscosidade do óleo de mamona.
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1. Introdução Uma das alternativas para diminuir os danos causados por combustíveis fósseis é o uso de biocombustíveis. Um dos biocombustíveis que mais se destacam é o biodiesel, que é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que substitui total ou parcialmente (atualmente é adicionado 7% ao diesel de petróleo) o óleo diesel de fonte mineral nos motores de combustão interna de ciclo diesel, como os de caminhões, tratores, ônibus e outros veículos, e também em motores estacionários como os utilizados na geração de energia elétrica (ROCHA, 2012). Este produto geralmente é obtido a partir da transesterificação de óleos vegetais com álcoois (etanol ou metanol) usando catálise básica ou pela esterificação desses materiais na presença de catalisadores básicos (BARRETO et al., 2010). Várias pesquisas têm sido realizadas no desenvolvimento de catalisadores heterogêneos para a transesterificação de óleos e gorduras, buscando vantagens como a reutilização do catalisador e a simplificação do processo de purificação do biodiesel, pois os catalisadores heterogêneos são facilmente removidos por um simples processo de filtração, reduzindo assim a geração de efluentes (LÔBO e FERREIRA, 2009). Dentre as matérias-primas disponíveis no Brasil mais promissoras para a produção de biodiesel, destaca-se o óleo de mamona que é de grande importância para a economia de energia, pois o ácido ricinoléico, presente em cerca de 90% de sua composição (AZEVEDO et al., 2001) é totalmente solúvel em álcool em um vasto intervalo de temperatura, descartando a necessidade de aquecer a reação de transesterificação. Objetivou-se extrair o óleo de mamona a frio utilizando etanol e metanol e produzir biodiesel por via metanólica e etanólica utilizando KOH/Al2O3 como catalisador heterogêneo para definir qual método produz o melhor rendimento. 2. Materiais e Métodos O projeto foi desenvolvido com alunos do 2º ano do Curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio nas dependências do Instituto Federal de Sergipe. Os materiais e reagentes necessários para a rea-
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lização do trabalho foram: béquer, agitador magnético, filtro a vácuo, míxer vertical, funil de separação, solução aquosa de KOH/Al2O3, metanol, etanol, mamona in natura e óleo de mamona. Inicialmente foi realizada a extração a frio do óleo de mamona utilizando etanol e metanol em quantidades iguais para fins de comparação. Esta extração consistiu na trituração de 25g de sementes na presença de 200 mL dos dois solventes, separadamente, em temperatura ambiente, de forma que o solvente penetrasse no interior das sementes extraindo o seu óleo. Em seguida foi feita a filtração desse sistema para separar as sementes úmidas da mistura óleo-solvente (Figura 1).
Fig. 02. Visita realizada pelos alunos do 3º A2 do C. E. Dr. Augusto César Leite ao Parque dos Falcões para produção de matéria para o JCL.
Em seguida iniciou-se o processo de produção de biodiesel a partir do óleo de mamona utilizando metanol em relação molar 1:6 e etanol em relação molar 1:9. Para as duas metodologias foi utilizado 5% de catalisador KOH/Al2O3 em relação à massa de óleo, como proposto por Perin et al. (2009). A produção consistiu na agitação mecânica de uma mistura de óleo de mamona com os dois álcoois, separadamente, na presença do catalisador KOH/Al2O3 produzido pela equipe de acordo com a metodologia apresentada por Sadrameli e Omarei (2012). Após a agitação foi realizado uma filtração à vácuo do sistema para recuperar o catalisador e em seguida o resultante da filtração foi posto em um funil de separação para que houvesse a separação de fases entre biodiesel e glicerina.
3. Resultados e discussão Durante o processo de extração do óleo da mamona in natura, verificou-se a diminuição da massa das sementes (ainda úmidas), de 25,00g para 20,06g, quando se utilizou o metanol, e de 25,00g para 21,60g quando se utilizou o etanol. Esse resultado apresentou um melhor percentual de extração do óleo quando a extração ocorreu por via metanólica, pois uma maior diminuição da massa de sementes sólidas indica que uma maior quantidade de óleo foi extraída das mesmas. Foi perceptível a alteração do volume do solvente utilizado em decorrência do acréscimo do volume de óleo de mamona, porém houve perda no volume dos álcoois em virtude da sua alta volatilidade e do grande intervalo de tempo entre a extração do óleo e a sua filtração. A coloração da mistura entre óleo e solvente pode indicar qual amostra possui maior concentração, pois, como os solventes são incolores e a mistura de ácidos graxos em questão possui cor amarelada, quanto mais amarelada a solução, maior será a concentração de óleo na mesma. A coloração da solução com metanol se mostrou mais amarelada que a solução com etanol. A etapa de produção de biodiesel foi realizada utilizando o catalisador produzido em nossos laboratórios, por via metanólica e etanólica. O processo reacional foi feito manualmente, devido à barra magnética disponível não ser resistente o bastante para realizar a agitação do sistema contendo óleo de mamona, que tem uma viscosidade bastante elevada. A agitação durou 5 minutos em ambas as vias e foi realizada a temperatura ambiente, pois o óleo de mamona tem ácido ricinoleico em cerca de 90% de sua composição, ácido este que é totalmente solúvel em álcool em um vasto intervalo de temperatura, incluindo a ambiente, de forma a não haver necessidade de elevar a temperatura da reação (AZEVEDO et al., 2001). Não houve separação de fases entre biodiesel e glicerina a partir da mistura recuperada após a filtração a vácuo, indicando que houve somente uma solubilidade do óleo de mamona em metanol (Figura 2).
Fig. 02. Visita realizada pelos alunos do 3º A2 do C. E. Dr. Augusto César Leite ao Parque dos Falcões para produção de matéria para o JCL.
O processo pode não ter sido eficiente devido a alguns fatores como falha no processo de agitação mecânica, que se mostrou bastante irregular, algo que seria resolvido com o uso de agitação magnética utilizando uma barra magnética resistente; falha no processo de produção do catalisador ou a alta viscosidade do óleo de mamona, que dificultou o processo de produção, possivelmente comprometendo-o. 4. Conclusão Com base nos resultados apresentados, foi possível inferir, previamente, uma maior eficiência do metanol para extração a frio do óleo de mamona, porém, novos procedimentos deverão ser realizados para que seja possível obter resultados mais concretos e realizar uma comparação mais eficiente entre esses dois métodos. Os resultados preliminares da obtenção do biodiesel via catálise heterogênea não se mostraram eficientes devido ao fato de não ter ocorrido uma separação visível de fases entre a glicerina e o biodiesel. Isto pode estar relacionado à agitação deficiente do sistema, à alta viscosidade do óleo de mamona ou à qualidade do catalisador obtido. É necessária uma maior investigação e análise da produção do catalisador, bem como da metodologia de obtenção do biodiesel. A continuidade deste trabalho envolverá uma nova extração do óleo de mamona in natura, para que o mesmo seja efetivamente utilizado na produção do
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biodiesel, envolverá a produção de biodiesel utilizando uma segunda amostra de catalisador por via metanólica e etanólica e a recuperação e reutilização do catalisador para definição da diminuição de sua capacidade catalisadora após a produção de biodiesel. Referências AZEVEDO, D. M. P.; LIMA, E. F. O Agronegócio da Mamona no Brasil. Empraba Informação Tecnológica, 2001. BARRETO, M. L. G.; SILVA, G. P.; MORAIS, F. R.; SILVA, G. F. Otimização da Reação de Transesterificação do Óleo de Mamona. IV Congresso Brasileiro de Mamona, Fortaleza, CE, 2010. LÔBO, I. P.; FERREIRA, S. L. C. Biodiesel: Padrão de Qualidade e Métodos Analíticos.Quim. Nova, Vol. 32, No. 6, 15961608, 2009. PERIN, G.; SACHINI, M.; ÁLVARO, G.; JACOB, R. G.; LENARDÃO, E. J.; ANTHONISEN, D. G.; SILVA, S. D. A. Transesterificação de Óleo de Mamona via Catálise Heterogênea. II Congresso Brasileiro de Mamona, Aracaju, SE, 2006. ROCHA, L. P. Biocombustíveis: Uma alternativa eficaz e menos agressiva ao meio ambiente. Bolsista de Valor, 2012. SADRAMELI, S. M.; OMAREI, M.. Preparationof Biodiesel byTransesterificationof Canola OilUsisngSolid Base Catalyst KOH/y-Al2O3. Energy Technology, 2012.
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Resumo. Esse projeto surgiu a partir da necessidade de se melhorar o processo de ensino/aprendizagem da disciplina “Resistência dos Materiais” no curso técnico de nível médio de eletromecânica, do Instituto Federal de Sergipe, Campus Lagarto. Considerando as dificuldades encontradas pelos alunos na compreensão dos conceitos relativos à Lei de Hooke, idealizou-se a construção de um módulo experimental simulador de tal lei, em forma de pórtico, com lados medindo 50 cm, usando tubos de PVC e bases de concreto. Por meio de um questionário com perguntas e respostas subjetivas, apenas 30% dos alunos se consideraram com boa base em ciências exatas, e após o término dos ensaios, os mesmos consideraram o módulo satisfatório para o aprendizado, dando à aula uma didática quase lúdica.
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1. Introdução Em cursos técnicos de nível médio, como edificações e eletromecânica, é fundamental que os discentes compreendam o conceito de força e suas implicações em um determinado corpo deformável. Esse estudo, nos cursos técnicos do Instituto Federal de Sergipe – Campus Lagarto, é realizado na disciplina “Resistência dos Materiais” que, como afirma Timoshenko e Gere (1983, p.1), tem como objetivo a análise do comportamento dos sólidos quando estão sujeitos a variados tipos de carregamento. Um dos principais temas dessa disciplina é a “Lei de Hooke”, proposta pelo físico inglês Robert Hooke em 1660, que analisa, através da relação tensão x deformação, o comportamento elástico dos materiais antes de entrar no regime denominado “plástico”, que antecede o seu rompimento. Através deste estudo chega-se à uma constante de elasticidade que, por ser diretamente proporcional à força necessária para o deslocamento da massa de um determinado material, é indicadora da “facilidade” de este “alongar” ou “encurtar”. Logo, não é difícil imaginar que o estudo desta lei requer, por parte dos estudantes, uma significativa base de conhecimento em física e matemática. Quando se trata de alunos dos cursos técnicos de nível médio, tem-se um grande problema de aprendizagem, pois os próprios cursos não possuem em suas grades curriculares disciplinas que visam reforçar os conhecimentos nas ciências exatas. Com base nisso, torna-se necessária a reflexão acerca de meios para
incrementar o aprendizado desses discentes. D’Ambrosio (2008) explica que uma das formas de favorecer o processo de aprendizagem dos alunos seria através da observação de fundamentos teóricos com a prática. Aguiar et al. (2012), além de concordar com D’Ambrosio (2008), ao destacar a importância do elo entre o conhecimento teórico e prático, sinaliza que isso pode contribuir, inclusive, para a atenuação da evasão escolar. Algumas instituições de ensino oferecem laboratórios em que essa atividade é possível, porém, sabe-se que ela é, em geral, realizada através de equipamentos dispendiosos e inacessíveis à maior parte das instituições de ensino público brasileiras. Posto isto, a presente pesquisa visou a construção de um módulo experimental que possibilitasse, de maneira simples e econômica, a vivência da “Lei de Hooke” pelos alunos, melhorando assim a qualidade do processo de ensino e de aprendizagem. 2. Materiais e Métodos Para a construção do módulo experimental, idealizado pelos alunos pesquisadores, foram utilizados tubos de PVC de 32 mm de diâmetro, com 50 cm de comprimento, dispostos a formar um pórtico quadrado apoiado em duas pequenas bases circulares de concreto. Na parte central-superior do pórtico foram fixados corpos de prova feitos de elásticos de costura (seção transversal 1,5 x 0,1 cm), marcando-se nestes, dois traços distantes 10 cm entre si, sendo esse o com-
Figura 1. a) Adição de água no balde de alumínio; b) Alocação do balde na estrutura; c) Medição do alongamento do elástico; d) Registro e cálculos na planilha; e) Construção do diagrama tensão em função da deformação (σ x ε) em papel milimetrado.
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primento inicial. Na parte inferior desse elástico foi fixado um pequeno balde de alumínio, com a finalidade de armazenar pequenas porções de água (até 500 g) intencionando simular um carregamento contínuo no corpo de prova. Com o carregamento gradativo e com o auxílio de uma régua simples (com precisão de 1 mm), pôde-se verificar e anotar as variações de comprimento e posteriormente calcular as tensões normais de tração, as respectivas deformações e o módulo de elasticidade do elástico, usando planilhas manuais e/ou o programa computacional Excel. A Figura 1 remete a todo o processo descrito anteriormente e a Figura 2 mostra a planilha manual utilizada pelos alunos.
3. Resultados e discussão Através dos questionários respondidos foi possível constatar que 30% dos discentes consideraram ter uma boa base em ciência exatas, no entanto ficou claro que os demais não possuíam afinidade com este ramo da ciência (Figura 3). Uma expressiva quantidade de alunos declarou que suas deficiências no ensino médio estavam diretamente relacionadas à falta de preparo da equipe docente, às greves e ao ensino de uma série de conteúdos em curto período de tempo. Logo, pôde-se inferir que esses esclarecimentos refletem o baixo nível de aprendizado em física, já que que muitos comentaram que nem sequer ouviram falar na “Lei de Hooke”, que é um dos principais temas do estudo da mecânica.
Figura 2. Planilha de dados para se obter o diagrama Tensão x Deformação.
Após a realização de todas as etapas descritas na Figura 1, fez-se a entrega de um questionário com respostas subjetivas aos discentes do primeiro período do curso técnico de nível médio em eletromecânica do Instituto Federal de Sergipe, do Campus Lagarto, buscando averiguar como os alunos se avaliavam quanto à sua base em ciências exatas (especialmente em matemática e física); se durante o ensino médio sentiam dificuldades em entender os conteúdos (principalmente a “Lei de Hooke”); se o módulo experimental os ajudaram a melhor compreender esta lei e, finalmente, como eles avaliavam a tentativa dos pesquisadores em buscar a melhoria do ensino/aprendizagem usando tal método.
Figura 3. Autoavaliação dos discentes quanto à base em ciências exatas.
Quando foram questionados sobre a influência do módulo experimental na aprendizagem, os alunos comentaram que a aula ganhou uma didática quase lúdica, favorecendo o processo de ensino/aprendizagem e tornando o ambiente de estudo mais agradável e simples, pois com a prática foi possível compreender melhor a teoria apresentada. Os estudantes ainda ressaltaram que o uso da planilha (Figura 2), onde consta a explicação das variáveis envolvidas no processo de construção do diagrama tensão x deformação, colaborou ainda mais na apreensão do tema. Uma exemplificação que reforça o citado acima, foi dada por um aluno que afirmou no questionário
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poder ter observado a linearidade do gráfico tensão x deformação, obtido a partir dos dados extraídos do módulo experimental. Ou seja, para cada valor de tensão, eles verificaram uma deformação diretamente proporcional, originando assim uma reta crescente no diagrama. Isso comprova inclusive a eficiência do ensaio, pois como sinaliza Hibbeler (2004, p. 64), quando se observa que a curva na maior parte da região elástica é, de fato, uma reta, evidencia-se que a tensão é proporcional à deformação, isto é, o material é linearmente elástico, e esta é a condição necessária para constatar o funcionamento da “Lei de Hooke”. Com relação à iniciativa da equipe de pesquisa em promover tal projeto, foi mencionado por um dos estudantes que “outros docentes deveriam tentar utilizar esse tipo de metodologia pedagógica sempre que possível nas aulas, já que em trabalhos como este foi possível contribuir para o ‘rompimento’ da ideia de que aprender física é algo difícil”. Sendo assim, é satisfatório notar que ações para o desenvolvimento de tecnologias educacionais simples e econômicas, com materiais alternativos, podem motivar os alunos para o estudo de conceitos aparentemente complicados. 4. Conclusão Por fim, conclui-se que o presente estudo contribuiu para provar que a aplicação de conteúdos teóricos aliados a atividades práticas estimulam o senso de aprendizado dos alunos, além de se mostrar uma eficiente ferramenta pedagógica e financeiramente viável, podendo inclusive favorecer a atenuação do processo de evasão escolar. É válido ainda comentar que os desafios encontrados ao longo do projeto estiveram relacionados à concepção do módulo experimental, uma vez que foram necessárias diversas reuniões para se chegar a um consenso acerca dos materiais que seriam utilizados e como se deveria proceder a montagem da estrutura. Pretende-se, futuramente, construir mais unidades desse material didático, a fim de utilizá-las nas aulas do IFS - Campus Lagarto que necessitam do conhecimento da “Lei de Hooke”, com um menor número de alunos usando cada unidade do módulo, e avaliar efetivamente o impacto no processo “ensino/aprendizagem”.
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Referências AGUIAR, G. de F. et al. Construção de protótipo como fator motivacional no processo de ensino aprendizagem. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA, 40., 2012, Belém. Disponível em: <http://198.136.59.239/~abengeorg/CobengeAnteriores/2012/ artigos/102875.pdf>. Acesso em: 09 de set. 2016. D’AMBROSIO, U. Educação matemática: Da teoria à prática. 16 ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 5 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. TIMOSHENKO, S. P.; GERE, J.E. Mecânica dos sólidos. Vol. 1. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 1983.
Resumo. Lavoisier: uma cabeça, uma história, foi uma peça teatral executada no Colégio Hamilton Alves, em São Cristóvão-SE, que dramatizou a vida e obra do químico francês Antoine Laurent de Lavoisier. O projeto teve a participação de alunos do 2º ano do ensino médio e professores de diversas áreas de ensino. É sabido que a aprendizagem terá significado se os alunos sejam incentivados, mas também é inegável que algumas disciplinas escolares, consideradas complexas por eles, dificultam o seu entendimento, então, o presente projeto foi desenvolvido de modo dinâmico e interdisciplinar, envolvendo ciência e arte. A culminância foi realizada no pátio da escola. Referência LISBOA, Cezar Foschini. Química-Ser Protagonista. 1º Ano Ensino Médio. 1ª ed. São Paulo, Editora SM, 2010. Obra e tragédia de Lavoisier. Disponível em: http://ohomemhorizontal.blogspot.com. br/2007/05/obra-e-tragdia-lavoisier.html. Acesso realizado em maio de 2016. Figura 1. Momentos de ensaios (A) e da culminância (B),
no pátio do Colégio Hamilton. (Fonte: arquivo do autor)
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