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O MUSEU QUE COMEÇA NA PRÉ-HISTÓRIA E ACABA NO FUTURO

Instalado num edifício lindíssimo, o requalificado Convento de S. Domingos, em Abrantes, o Museu de Arqueologia e Arte (MIAA), inaugurado em 8 de dezembro de 2021, releva aos visitantes a coleção Municipal de Arqueologia e Arte, a coleção privada João Estrada e a coleção da pintora Maria Lucília Moita.

O carácter deste museu impõe-se como um caso excecional entre os museus portugueses. Não sentimos aquele peso solene que nos faz andar quase em bicos de pés e a sussurrar. Há uma sensação de leveza que se deve, primeiro, ao projeto emocionante de arquitetura que transformou este espaço quinhentista. Depois, as coleções expostas são de uma consistência surpreendente e, por fim, converge de maneira excecional peças produzidas no século XXI com peças produzidas há milhares e milhares de anos, com uma indiscutível eficácia, elegância e leveza do plano expositivo. A luz natural que entra pelas salas seduz o visitante, como por magia, a ser “museólogo” por excelentes momentos. Talvez por isto, o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte tem relevância a uma escala global.

A maior singularidade do MIAA é o enorme arco cronológico, geográfico e tipológico do que mostra. Artefactos, com mais de 600.000 anos, trazidos para a Europa pelo Homo Heidelbergensis, achados no território de Abrantes, ferros da Pérsia, cerâmicas do Egito; vasos da Antiga Grécia, ourivesaria romana, esculturas da Europa medieval e renascentista, arte dos séculos XX e XXI mas, sem estar organizado cronologicamente. Não é um tubo que se entra por um lado e sai-se pelo outro. É um museu onde se contam várias histórias, várias cronologias e várias narrativas que dialogam entre si. É um museu que começa na pré-história e acaba no futuro. Esta singularidade, oferece ao visitante a liberdade de reflexão muito para além do matérico.

O MIAA organiza as suas narrativas a partir de peças de quatro coleções distintas que, de uma maneira ou de outra, nos falam sempre de grandes temas humanos: comércio, guerra, religião, pensamento, beleza e arte, e não se inibe de levantar a questão: o que era o mundo antes de nós? A história de todas as peças que encontramos no seu interior reflete a história das comunidades da época, cada uma com a sua visão. Hoje, não olhamos o mundo da mesma maneira, mas para fazermos futuro não podemos ignorar o passado.

ARQUEOLOGIA E ARTE (EXPOSIÇÃO PERMANENTE)

Recolhida desde os anos vinte do século XX, apresenta, uma evolução da escultura portuguesa do século XV ao século XVIII, assente em peças oriundas das seculares igrejas e conventos extintos de Abrantes, com especial relevância para um importante núcleo de escultura sacra em pedra, madeira e terracota, cuja representatividade vai desde o final da Idade Média ao Barroco.

As exposições permanentes, com projeto de museologia de Luiz Oosterbeek e Fernando Antonio Batista Pereira, estão organizadas em oito núcleos: Escultura Romana; PréHistória; Idade do Bronze e do Ferro; Antiguidade; Tesouro; Arte da Idade Média e Idade Moderna; Escultura da Idade Média e do Renascimento em Abrantes.

As escavações arqueológicas que decorreram no decurso de requalificação que visava a instalação do MIAA, projeto da autoria do arquiteto Carrilho da Graça, puseram a descoberto vários vãos, vestígios das estruturas mais antigas do primitivo convento (século XVI).

COLEÇÃO ESTRADA (EXPOSIÇÃO PERMANENTE)

Os acervos da Coleção Estrada resultam da reunião de peças pelo colecionador João Estrada (1923-2018), através da aquisição a privados ou em leilões. Tratase de um conjunto alargado de peças que garante a definição de um discurso museográfico que põe em dialogo a história peninsular e do continente europeu com o mundo mediterrânico e com múltiplas civilizações asiáticas.

“MIAA É A CASA DAS MEMÓRIAS, MAS TAMBÉM DOS OLHARES SOBRE O FUTURO” – Luiz Oosterbeek

COLEÇÃO MARIA LUCÍLIA MOITA (EXPOSIÇÃO PERMANENTE)

Reconhecida pelos grandes críticos, historiadores de arte e intelectuais, Maria Lucília Moita é uma figura maior do paisagismo, da natureza-morta, do desenho a carvão, do retrato, do abstracionismo orgânico, ou do desenho a lápis e pastel a que chamava “poemas a lápis-de-cor”

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