Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura
Arte e Reprodutibilidade O que mudou na nossa relação com a arte em função das novas técnicas
ISSN 2179-1538
número 3 julho/2011 ano 1
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R$ 14,90
Planejamento
O curso de Administração Pública ganha espaço no Brasil
Heloísa Helena
A formação da Argentina
Contra a opressão e ao lado da justiça
Os processos internos do desenvolvimento da história argentina, desde a colonização, passando pela ditadura até os dias atuais Mateus Lourenco Bruno Alves Mariana Chrispim Cristiana Santos Rodrigo Colla Raphael de Oliveira Vitor Simões Larissa de Arruda Fernando Coelho Heloísa Helena Rafael Carvalho Fábio Vanin Henrique da Cunha Wagner Iglesias Mariana Consoni Victória de Andrade Edivânia Tavares Júlio Moreira Iván Chaverri Fabi Menassi Amelia Andersdotter Thomaz D’Addio
Seu autêntico plano de estudos.
516s. pág
31
s fascículo
(11)
4513-8660
(11) 9 9423-1131
guiaenem.org.br
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Materiais didáticos
edit rial Prof. Fernando de Souza Coelho
Mateus Prado
Caro Leitor, Agora sim. A partir desta edição, número três, a Revista Global assume sua periodicidade bimestral, como previsto em seu projeto original. Para tanto, alteramos os prazos de nossa equipe trabalho. Enquanto esta edição é distribuída, estamos fechando a edição número quatro e selecionando os textos da edição de número cinco. A edição anterior, com uma série de inovações, recebeu vários elogios. Concebida para ser uma revista para vestibulandos, sobretudo para aqueles que estão entre os milhões que fazem a prova do ENEM, a GLOCAL tem atraído leitores para além desses estudantes por mesclar textos de figuras expoentes com artigos de talentosos universitários, bem como por seu inovador projeto visual, que ilustra e traduz as mensagens dos textos, motivando a leitura. Continuamos abertos a colaborações. Este mês, com o início da divulgação do projeto de venda, subsidiada, para escolas de ensino médio, os professores também poderão publicar seus textos em nossas páginas. Ademais, é sempre bom lembrar nossa maior dificuldade na hora de selecionar os textos. Ainda são poucas as contribuições na área de matemática. Assim, queremos fazer um convite especial para aquelas pessoas que conseguem relacionar a linguagem matemática com a vida cotidiana. Enviem seus textos!
Nesta edição, a capa da Glocal destaca a história da nossa vizinha Argentina. Também chamamos a atenção para um texto da ex-senadora Heloísa Helena em sua luta contra a opressão, bem como anunciamos a expansão dos cursos de graduação em Administração Pública no Brasil. Você irá se surpreender com o texto, em inglês, da nossa jovem amiga Amelie, a primeira deputada, no Parlamento Europeu, do Partido Pirata. Show de Truman, X-man, Twitter, entre outros, são temas provocadores, ligados ao cotidiano, que chamarão a atenção do educando. A Sustentabilidade, questão central no mundo moderno, começa a encontrar na Glocal um lugar de discussão e debate que já deveríamos ter aprofundado em nossas escolas. Nesta edição, temos como temas o Protocolo de Kyoto, a Usina de Belo Monte, a Ecosofia, o Saneamento Ecológico e os Reatores Nucleares. Isto é Glocal, uma revista diferenciada que debate de maneira simples e lúdica as quatro áreas de conhecimento propostas pelo ENEM. Boa leitura! Dos editores, Prof. Fernando de Souza Coelho e Mateus Prado.
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sumário
por Bruno Alves
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Adaptacões de Histórias em Quadrinhos para o cinema por Ricardo Turatti
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Associacão Portuguesa de Desportos – Lusa
por Vitor Simões
Expediente: Editores: Fernando Coelho e Mateus Prado Conselho Editorial: Caio Penko, Renato Eliseu, Wagner Iglesias e Paulo de Tarso Gestora de Educação e Ensino: Ana Paula Dibbern Coordenadora do Observatório Social: Bruna Ramos Equipe Observatório Social: Ilane Lobato, Caroline Ramos, Helton Simões Gomes Revisora: Patrícia Bernardes Diretor de Arte: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfico: Lucas Paiva Designers: Lucas Paiva e Daniel Paiva
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Twitter e Bases Numéricas
por Rafael Carvalho
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06 A dicotomia entre esfera pública e esfera privada em “O Show de Truman por Mateus Lourenço
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Movimentos sociais e a questão da terra
Saneamento Ecológico por Mariana Chrispim
por Edivânia Tavares
10 Matemática pra quê? por Raphael Oliveira
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A importância de não votar nulo
Modernismo: a subversão da arte no século XX
por Isabel Rodrigues
28 por Iván Chaverri
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Usina Hidrelétrica de Belo Monte por Henrique Cunha
33 Censo Demográfico 2010 por Larissa de Arruda
Disculpe, ¿usted habla español? – “Claro, soy latinoamericano”
44 Teatro de sombras ocidental por Fabi Menassi
Escreva o mundo de hoje. Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.
Pensamentos globais, acões locais A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.
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Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana
linguagens 06
A dicotomia entre esfera pública e esfera privada em “O Show de Truman”
Discutir os limites da atual fronteira indistinta entre o público e o privado tornou-se imprescindível numa sociedade em que se multiplicam os “Trumans” mundo afora
P
retendo começar a reflexão acerca da discussão entre as esferas pública e privada em “O Show de Truman”, a partir da ideia de que, por meio da TV, o mais popular dos veículos de comunicação, queremos ter nossa existência legitimada, uma vez que nos tornamos públicos temos finalmente a segurança de sermos realidade. Não há quem veja o filme e não coloque em questão o teor real da existência de Truman, afinal, tudo na vida dele era uma grandiosa mentira, ou melhor, pura encenação. Devemos ter em mente, quando analisamos esse filme, que não se trata de um indivíduo que vive seu cotidiano de cidadão médio e almeja um dia tornar-se público, Truman já nasce literalmente nessa esfera. Seu nascimento é transmitido para milhares de pessoas. Ora, se para Habermas (1961), calcado em estudos históricos da polis grega, a esfera pública é o espaço onde os cidadãos se encontram para partilhar informações, discutir, avaliar a cultura e transformá-la, Truman já nasce transformador da opinião pública. No entanto, cabe aqui pensarmos se é conveniente que um sujeito dentro de uma bolha, alheio ao mundo, sem qualquer referência da verdadeira realidade, seja detentor de tamanho poder culturalmente formador. Ele exercia grande influência sobre algo que na verdade desconhecia. Talvez não tenha sido por acaso que o roteirista do filme, Andrew Niccol, optou pelo estúdio-bolha para ser o habitat do protagonista. A diferença entre bolha e a esfera, nesse sentido, é tão somente que a bolha está vazia de conteúdo. Já esfera, em geral, nos remete a algo mais rijo, maciço, consistente. Truman Burbank acreditava que tudo em sua vida era privado, que todas as suas vivências diziam respeito somente a si e àqueles que o cercavam, mas, para o resto do mundo, ele era uma celebridade, talvez o sujeito mais público jamais visto. Por mais carismático(a) que seja, quem foi capaz de ficar mais de trinta anos na berlinda indo ao ar diariamente? O filme é uma crítica exacerbada à encenação da esfera pública, um arremate mordaz contra a publicização exagerada daquilo que é privado. Sugere metaforicamente que talvez seja o momento de sairmos da bolha pública ou desviarmos um pouco a nossa atenção dela, para que tenhamos espaço (e talvez esse espaço seja, sim, privado) para sermos um pouco mais nós mesmos. Não é a toa que, nas
cenas finais do filme, quando Truman navega no seu veleiro em direção à fronteira da bolha com o resto do mundo, os espectadores ficam apreensivos, mas torcendo por Truman. Eles torcem, na verdade, para que o protagonista se livre – e assim os livre também – da grande farsa em que está imerso – e os espectadores também, porém conscientemente – desde seu nascimento. Contudo, em contrapartida a esse teor crítico há o fato de que talvez o filme tenha ajudado a popularizar os reality shows, dado que a primeira edição do Big Brother, por exemplo, foi ao ar nos Países Baixos em 1999, dois anos após o lançamento do filme. Hoje o programa já existe em mais de 50 países. Em pouco mais de 10 anos de existência, o reality show mais popular do mundo é campeão de audiência onde quer que seja exibido e a conjuntura migratória do privado para o público parece andar paradoxalmente na contramão do exemplo da película. Talvez porque ninguém tema (ainda) nascer numa bolha e lá crescer sem conhecer o mundo que o conhece e o vê aqui de fora. As casas-bolhas continuam se multiplicando pelo planeta e os Trumans se multiplicam com elas. Trumans por opção. Há seleções concorridíssimas para isso. Alguns se tornam milionários quando “velejam” para fora de suas bolhas de encenação, numa epopeia deveras muito menos dramática e comovente e muito mais ridiculamente esfuziante do que a do Truman “original”. Quiçá tratemos hoje de uma bolha pública, onde supostamente seria o lugar propício para discutirmos o melhor argumento, mas não o fizemos. Ao invés disso, enchemos essa bolha – mantendo-a vazia – de leviandades e privacidades e transformamos a cultura numa grande indústria de vazios. Pode soar um tanto radical esse posicionamento, mas é uma análise a partir da perspectiva da sugerida pelo próprio filme. E se, quem sabe, haja um medo crônico da rigidez da esfera, há de se estar atento hoje também com a rigidez das clausuras que se tem estabelecido a Trumans mundo afora.
Mais O Show de Truman é um filme de produção estadunidense lançada em 1998, tem direção de Peter Weir e é protagonizada por Jim Carrey.
Jürgen Habermas nasceu em 1929 em Düsseldorf. Dentre as contribuições deste importante filósofo e sociólogo alemão estão os conceitos de razão e ação comunicativa como alternativas para a razão instrumental.
Mateus Ramos Lourenço Bacharel em Comunicação Social e Especialista em Pedagogia da Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor de Comunicação Comunitária do Programa de Descentralização da Cultura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
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matemática
Matemática pra quê? 10
Xxxxxxxxxxxxxx xxxxx xxxxxxxxxx xxxxxxxxx xxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxx xxxxxxx
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uitos afirmam com vigor: “Matemática não serve pra nada”, ou então: “Não vou usar isso na minha vida, professor”, e há ainda, o uso, com frequência, da expressão que já se tornou um tanto quanto clichê: “Eu odeio matemática”. Sem grandes dificuldades, sem muita formalidade é possível verificar a matemática presente em construções civis, artesanatos, regras de variados jogos esportivos ou estratégicos, previsões do tempo, antenas parabólicas, TVs com imagens digitais, celulares, computadores, tecnologias em geral. Provavelmente, grande parte do grupo, que insiste em criticar a ciência exata discutida, questionaria neste momento: “Mas eu não vou construir uma antena parabólica! Muito menos uma TV, ou um celular, ou uma casa, ou um campo de futebol. Matemática pra quê?” Inicia-se, então, uma busca por uma matemática mais prática, mais próxima do cotidiano da sociedade, mais presente no dia a dia de cada um. Comumente, utilizam-se unidades quantitativas (uma dúzia, 10%, 1/3), unidades de medida (quilogramas (Kg), litros (l), horas (h), graus (°), metros (m), bytes (b)), noções de ordem (primeiro (1º), segundo (2º), terceiro (3º)), noções comparativas (maior (>), menor (<), igual (=)), noção binária (presente em todo botão de liga e desliga, representado, usualmente, com um 0 e um 1)e, dificilmente notam-se a matemática ali presente. A matemática relaciona-se com o tempo fortemente e muitos não se dão conta disto. Segundos que se transformam em minutos, minutos em horas, horas em dias, dias em semanas, semanas em meses, meses em anos. Anos binários? Por quê? Com o intuito de abordar um problema do dia a dia, que envolva tempo e possa ser resolvido com métodos matemáticos, apresenta-se abaixo uma situação problema rotineira de qualquer cidadão: “Se 8 pessoas levam 4 dias na fabricação de 160 bandeirinhas de festa junina, então, nas mesmas condições, quantos dias levariam 25 pessoas para fabricarem 300 peças? Quantas horas? Quantos minutos?” Resolvem-se, habitualmente, problemas envolvendo distância, tempo, dinheiro. Descobrem-se trajetos mais curtos, caminhos mais rápidos, estratégias para se pagar menos. Atualmente, por exemplo, tem-se uma polêmica clássica que envolve as três variáveis apresentadas acima. O preço do combustível sobe, o índice de carros flex aumenta e a dúvida, na hora de abastecer, surge: “O que compensa mais? Álcool ou gasolina?” O Álcool é mais barato, mas apresenta uma potencialidade mais baixa relacionada à quilômetros por litro, a gasolina é mais cara mais demonstra uma melhor autonomia. Levando em consideração a temática apresentada, o Inmetro disponibilizou uma tabela com as particularidades de cada veículo leve de 2011, facilitando, assim, o acesso a verificação do consumo de combustível por quilômetros rodados de cada carro distinto. A situação problema abaixo representa o dilema de muitas pessoas atualmente: “Sua família pretende trocar de veículo no final do ano e você participará ativamente na escolha do novo automóvel. É lhe apresentado o gráfico que
representa o consumo dos 2 carros selecionados por vocês. Levando em consideração os dados Gráfico 1, verifique, para cada carro, se poupar-se-ia mais dinheiro abastecendo-o com álcool ou com gasolina. Após as devidas verificações determine qual seria a melhor escolha para a compra e justifique.” Aos jogadores fiéis da Mega-Sena, por exemplo, cabe a busca pelo conhecimento e futura aplicação de teorias que envolvam probabilidade (campo específico da matemática que estuda as chances de um evento ocorrer), assim, conhecer-se-ia qual a melhor forma de se apostar uma mesma quantia no jogo, qual a forma que aumentariam as oportunidades de ganhar. Há quem critique as justificativas de se aprender matemática só para utilizá-la no ramo financeiro, sendo assim, é válido investigar a presença da disciplina no campo artístico, gastronômico, biológico, etc. Utiliza-se na música uma escala musical descoberta, muito antigamente, por Pitágoras, filósofo e matemático grego. Na cozinha, na execução de qualquer receita, no preparo de um simples prato, utilizam-se usualmente frações, proporções e unidades de medida. Por exemplo: “meio copo”, “o dobro da quantia de água”, “mexa por 10 minutos”, “adicione açúcar a gosto”. Na busca de resquícios matemáticos presentes no campo biológico observam-se uma prazerosa relação. Encontra-se a matemática atrelada à vida de forma frequente e bem definida. Células que se dividem e se multiplicam ao mesmo tempo, o DNA formado por uma fita dupla, composta por 4 letras, com um tamanho médio de 2 metros, 23 cromossomos da mãe outros 23 do pai, um coração, milhões de células, uma vida. Contudo, nota-se, então, que na correria dos dias, no livre descompassar das horas, na constância ou inconstância dos fatos, da complexidade ou na simplicidade dos atos, aprende-se matemática, enxerga-se matemática, utiliza-se matemática, vive-se! Matemática.
Utilizando um método análogo ao anterior, temos que 0,6 de uma 1h é equivalente a 36 minutos. Portanto, o grupo de 25 pessoas levará, para a produção das 300 bandeirinhas, 2 dias, 9 horas e 36 minutos
Raphael Fernandes de Oliveira Graduando em Bacharel/Licenciatura em Matemática, Universidade Federal de São Carlos, UFSCar
Gráfico 1
Quilometragem por litro 14
12,1
12 10 8
8,2
7,2
6,7
6 4 2 0 Véiculo A
Véiculo B
Legenda Álcool (km/l)
Gasolina (km/l)
Preço:
Álcool
Gasolina
R$ 1,49
R$ 2,48
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humanas
A import창ncia de Os efeitos negativos e inconsequentes do movimento que defende esta forma de express찾o
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não votar nulo
E
m todo ano eleitoral dois fenômenos são percebidos: um é o movimento pela ética nas eleições. Ações como o Transparência Brasil e o Ficha Limpa incentivam as pessoas a observarem a vida pregressa e a atuação em cargos públicos daqueles cidadãos que colocam os seus nomes a disposição, na disputa de vagas para formar os poderes Legislativo e Executivo de todo o Brasil. Esse fenômeno trouxe, e vem trazendo, excelentes resultados para a população, como os dois únicos projetos de iniciativa popular aprovados desde a promulgação da Constituição Federal de 1988: a Lei contra a compra de votos, que completou 10 anos no ano passado e a Lei da Ficha Limpa, recentemente sancionada em 2010. O segundo fenômeno, negativo e inconsequente é o movimento de defesa do voto nulo. Normalmente, esse fenômeno é iniciado por pessoas que não conhecem o processo político e o processo eleitoral, não tem interesse em conhecê-los e sustentam sua ignorância política com orgulho, defendendo o voto nulo sem nenhum argumento concreto. Não foi por acaso que citei esses dois adjetivos ao fenômeno de defesa ao voto nulo - negativo e inconseqüente – e passo a explicar o porquê desta qualificação. O fenômeno é negativo, pois não visa, em momento nenhum, discutir as candidaturas, debater o que foi feito nos últimos anos, avaliar a vida pregressa, os feitos e os planos daqueles candidatos que buscam um espaço para formar um novo governo e acaba por reduzir a profundidade do debate. A defesa pelo voto nulo é superficial. Ocorre por um sentimento de egoísmo, de pessoas que entendem que seu voto não irá mudar em nada sua vida, portanto, nenhum candidato presta, nenhum partido tem seriedade para governar o município, o estado e o país. É essa superficialidade que incomoda, e ela alça os candidatos com uma vida pregressa condenável, de péssimos serviços prestados a população a uma condição idêntica aos políticos que trabalharam e estudaram para serem boas opções de voto. Assim sendo, a defesa pelo voto nulo é negativa pois desqualifica critérios e incentiva as pessoas a se afastarem cada vez mais das decisões políticas. E por quais motivos esse fenômeno de defesa pelo voto nulo é inconsequente? Destacarei alguns motivos de ordem legal, muito embora eles não esgo-
tem o assunto. Suponhamos que a população aceite o discurso fácil e superficial em favor do voto nulo e resolva mostrar sua indignação nas urnas, não votando em ninguém. Qual é a consequência prática disso? A consequência é que o voto não será computado e não influenciará em nada na eleição. Outra inconsequência se dá pelos sistemas eleitorais vigentes. Nas eleições de presidente, governador e prefeito de cidades com mais de 200 mil habitantes o sistema da eleição é o majoritário - onde o candidato que faz mais votos está eleito - com a necessidade de se conquistar a maioria absoluta metade mais um - dos votos válidos. Votos válidos, nesse caso, são aqueles dados aos candidatos, sendo desconsiderada a abstenção, os votos brancos e nulos. Assim, ao votar nulo, o cidadão estará possibilitando que um candidato atinja a maioria absoluta com um menor número de votos. Neste quadro, votar nulo é não opinar e permitir que um candidato se eleja com um menor número de votos. Ao avaliarmos o ato de anular o voto na eleição para Deputado Federal, a inconsequência é ainda maior: o eleitor está abrindo mão de opinar sobre o tempo de TV dos partidos políticos pelos próximos 4 anos, sobre a divisão do Fundo Partidário e ainda, possibilitando que partidos sejam ou não atingidos pela cláusula de barreira e deixem de existir – regra que está com a eficácia suspensa, mas que pode ser revalidada a qualquer momento. Desta forma, é válido trazer ao conhecimento de todos, o que considero negativo e inconsequente neste movimento de defesa pelo voto nulo. Prefiro o engajamento na frente que defende a moralidade nas eleições, que tem conseguido avançar mudando para melhor as regras do processo eleitoral. O segredo para mudarmos o quadro político é uma participação cada vez maior, com debates cada vez mais aprofundados sobre os temas que fundamentam e regulamentam o processo eleitoral. Fazer campanha pelo voto nulo, por si só, eu repito: é negativo e inconsequente.
A Inciatiava Popular é uma das formas, ao lado do plebiscito e referendo, de exercício de democracia direta, previsto expressamente na Constituição Federal. Ela permite que população apresente um projeto de lei diretamente ao Congresso Nacional, sendo necessária a subscrição de 1% do eleitorado nacional, distribuídos por pelo menos 5 Estados brasileiros, entre outros critérios.
6,1 milhões
foi a quantidade dos votos nulos na eleição de Presidente da República em 2010, e segundo o TSE, este número corresponde a 5,51% do eleitorado nacional. Apesar de alguns movimentos defenderem a prática, o índice está em queda, já que foi de 5,68%, em 2006 e 7,35%, em 2002
Fábio Scopel Vanin Especialista em Direito da Economia pela FGV/RJ e Mestrando em Direito pela UCS. Atualmente atua como Advogado, Professor e Coordenador do Curso de Ciência Política da Faculdade América Latina de Caxias do Sul/RS.
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Ecosofia: Um Outro Olhar Ecol贸gico
No contexto atual, a ecologia deve levar em conta as relações e a subjetividade humana. Só assim conseguirá estudar a interação do homem com o meio em toda sua complexidade
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termo “ecologia” não é recente, foi usado pela primeira vez pelo cientista alemão Ernst Haeckel, em 1869, com a finalidade de denominar a relação que os seres vivos estabelecem com seu meio. A palavra advém da união dos radicais grego oikos, que significa “casa” e logos, estudo. Nesse sentido, numa extensão proposital do termo, ecologia nada mais é do que, de fato, o “estudo da casa comum a todos”, o planeta Terra. Pode nos parecer demasiado tarde para uma espécie tão “racional” resolver estudar sua casa, mais de 200 anos depois de René Descartes praticamente fundar o racionalismo científico em Discurso Sobre o Método (1637). De qualquer forma, no século passado e sobretudo nos últimos anos a ecologia ganhou força, mereceu estatuto de ciência e subdividiu-se em diversas subáreas. Visando abordar a ecologia em sua complexidade, embora não caiba aqui explorar aprofundadamente conceitos ecológicos, parto da perspectiva de Félix Guattari, que nos fala de três registros ecológicos: a ecologia do meio ambiente, a das relações humanas e a da subjetividade humana. Ao pensamento ecológico que contempla esses três registros, o autor dá o nome de ecosofia. Creio que o melhor caminho para promover o que se pode chamar de Alfabetização Ecológica seja levando em conta essas instâncias. Qualquer sustentáculo desse tripé que não seja bem trabalhado pode acarretar uma consciência ambiental equívoca, leviana, atabalhoada ou uma ideia egoísta em relação à inserção humana no meio. Essa concepção ecológica de Guattari é evidentemente bastante ligada à cultura e transcende o termo que Haeckel cunhou em 1869, ou melhor, ela propõe cotejar instâncias subjacentes à ecologia no contexto da contemporaneidade. Na chamada pós-modernidade os ecologistas também necessitam lutar contra a publicidade que incita ao consumo; apaziguar os fumantes, comedores e beberrões compulsivos – para citar apenas algumas categorias de compulsões; orientar a sociedade a respeito da importância da reciclagem e da economia de água, etc. Em suma, a ecologia atualmente vai muito além da ecologia. Por isso Guattari, ciente dessa conjuntura, perspicazmente conceituou ecosofia. Há inúmeros exemplos que a priori não nos parecem ter nenhuma relação com ecologia, mas o tem. Trarei aqui alguns deles.
Alguém com orientação ecosófica teoricamente deveria evitar a compra de produtos importados e priorizar os advindos de locais próximos de onde reside. É um disparate a energia gasta para transportar certos produtos sem contar a poluição ocasionada. Já um programa ecosófico no que diz respeito à saúde, por exemplo, reorientaria os profissionais da área no sentido de dar prioridade aos medicamentos naturais e receitar alopatias somente em casos especiais com a finalidade, tanto de economia energética, quanto de zelar pela saúde do paciente. O bem-estar comum é a harmonia do todo. Outro aspecto crucial é que o meio ambiente (o todo) também deve ser diverso, pois, assim, será mais rico. Como dizer que vivemos numa sociedade consciente da importância da diversidade se questões como racismo e xenofobia ainda tem de ser discutidas amiúde? Sequer assimilamos a importância da diversidade humana. Serão ecológicas essas relações humanas que travamos? E não há como separar isso da psique, da subjetividade humana, é como um inconsciente coletivo herdado do caminho histórico que a humanidade percorreu. Há ainda dados desanimadores que decorrem do nosso desdém para com o meio. Recentemente cientistas estimaram que no mundo se extingam cerca de 150 espécies por dia, ou seja, a biodiversidade vem decrescendo exponencialmente. Ecosoficamente falando, precisamos de uma reforma global que comece pelo ensino e permeie essas e outras questões referentes aos três registros ecológicos. Talvez seja em virtude da não contemplação ecosófica que algumas pessoas parecem estar desenvolvendo certa consciência, mas muitas vezes ainda não sabem como agir ecologicamente. A ecologia restrita apenas aos aspectos ambientais não leva em conta o sujeito culturalmente formado que é o ser humano. O problema está também na raiz, no sujeito agente da ecologia: o homem, e sem o desenvolvimento desse “alicerce ecológico” tornar-se-á difícil agir ecologicamente para com o todo.
Ernst Heinrich Philipp August Haeckel nasceu em Potsdam, em 1834 e faleceu em Jena, em 1919. Foi um naturalista alemão conhecido por ajudar a popularizar os estudos de Charles Darwin e é considerado um dos pais da ecologia.
Mais Félix Guattari é conhecido principalmente por seus trabalhos em parceria com Gilles Deleuze, ambos juntos desenvolveram o conceito de esquizoanálise.
Rodrigo Avila Colla Bacharel em Comunicação Social e Especialista em Pedagogia da Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor de Comunicação Comunitária do Programa de Descentralização da Cultura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.pela Editora Moderna desde 1988.
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É preciso plantar, em cada cidadão, a consciência de que a vida só será garantida se o meio ambiente também for
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m dos problemas da vida contemporânea é mensurar a condição de habitabilidade das próximas gerações na Terra, considerando a herança de modelos tecnológicos devastadores em todo o planeta e possíveis alternativas a eles. Para isso, faz-se necessário buscar um desenvolvimento sustentável e os conceitos de segurança ambiental global e de desenvolvimento sustentável são centrais para que se estabeleça uma ordem ambiental internacional. O primeiro nos faz refletir sobre a necessidade de manter as condições da reprodução da vida humana na Terra; o segundo procura regular o uso dos recursos naturais através do emprego de técnicas de manejo ambiental, de combate ao desperdício e à poluição. O regime de mudança climática mundial é um dos mais complexos e relevantes e deve implicar profundas interrelações entre a economia e o ambiente global, exigindo conhecimento científico e perspicácia política para tomadas de decisão que considerem a sustentabilidade ambiental do planeta. O debate internacional se intensificou procurando as causas, consequências e soluções para essa problemática. O PNUMA e a OMM criaram um grupo de trabalho encarregado de preparar as negociações internacionais. A partir dessas discussões houve diversos progressos nessa área, culminando em 1997 com a criação do Protocolo de Kyoto, ferramenta relevante no tratamento da gestão ambiental global que, através do projeto de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), tem demonstrado ser uma alternativa para as nações buscarem meios para amenizar os efeitos das mudanças climáticas a partir do atendimento às necessidades das populações atuais sem prejudicar as gerações futuras. O protocolo estabelece metas que os países desenvolvidos devem cumprir para reduzir os gases poluentes e causadores do efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano, baseando-se nos níveis de emissão de 1990 – esses países devem diminuir em 5,2% suas emissões entre os anos de 2008 e 2012. Para os países em desenvolvimento, como o Brasil, não há metas a serem cumpridas, mas estes podem contribuir com a elaboração de projetos de MDL, auxiliado a implantação conjunta e o comércio de emissões realizado pelos países desenvolvidos. O documento ainda aborda a questão das bolhas (bubbles), mecanismos que preveem que diversos países desenvolvidos podem cumprir suas metas conjunta-
mente, como se houvesse uma grande bolha envolvendo essas várias fontes de emissão contidas numa área (a União Europeia é um exemplo do uso deste mecanismo) ou ainda comprar créditos de carbono, caso não consigam atingir seus objetivos. Na ótica do protocolo isso é possível, pois as mudanças climáticas são um fenômeno global e esse mercado de carbono acaba representando uma alternativa economicamente sustentável para os países em desenvolvimento. Todavia, um dos problemas fundamentais da viabilidade desse protocolo deriva do fato de ele ter sido aprovado no interior de uma negociação difícil e emergencial, que depende dos países desenvolvidos, no sentido de assumir custos e responsabilidades para um desenvolvimento econômico mais inclusivo e para enfrentar os problemas epidemiológicos e ambientais. Os EUA, por exemplo, são o principal emissor de gases poluentes e, no governo Bush, retirou-se das negociações do Protocolo. Em 2009, o Presidente Barack Obama abriu caminho para a regulamentação das emissões norte-americanas, porém não se sabe ainda qual será sua postura frente às metas. O que se percebe é que o futuro do Protocolo de Kyoto dependerá da capacidade das elites globalistas persuadirem a opinião pública dos Estados Unidos e a população mundial em favor da necessidade de compromissos de redução da taxa de emissões de gases poluentes; do sucesso de os setores empresariais comprometerem-se com as metas estabelecidas e desenvolverem, em curto prazo, inovações tecnológicas eficientes de energia alternativa e do sucesso de governos, empresas e ONGs em desenvolver e consolidar um mercado global de carbono. Logo, torna-se necessário implantar e operar um gerenciamento ambiental autossustentável por meio da não agressão ao meio ambiente e às gerações futuras, atendendo também as necessidades das populações atuais, a fim de garantir a sobrevivência do planeta de maneira equilibrada. É nesse contexto que o Protocolo de Kyoto surge como uma ferramenta que merece destaque no contexto internacional de sustentabilidade ambiental. Mariana Consoni Bacharel em Hotelaria pela Universidade São Francisco e cursa Bacharelado em Lazer e Turismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente, também estuda Administração e Gestão de Empresas na Universidade de Santiago de Compostela, Espanha
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA, é a principal autoridade global em meio ambiente. É a agência do Sistema das Nações Unidas (ONU) responsável por promover a conservação do meio ambiente e o uso eficiente de recursos no contexto do desenvolvimento sustentável. No Brasil, o PNUMA trabalha para disseminar, entre seus parceiros e à sociedade em geral, informações sobre acordos ambientais, programas, metodologias e conhecimentos em temas ambientais relevantes da agenda global e regional e, por outro lado, para promover uma mais intensa participação e contribuição de especialistas e instituições brasileiros em foros, iniciativas e ações internacionais.
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Sustentabilidade ambiental: o caso do Protocolo de Kyoto
A Organização Meteorológica Mundial é uma agência especializada das Nações Unidas, composta por 189 membros, entre Estados e Territórios. É a agência da ONU especializada e responsável pelas informações referentes ao estado e o comportamento da atmosfera da Terra, sua interação com os oceanos, o clima e a distribuição resultante dos recursos hídricos e geofísicos.
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