Revista ID' | Nº8 - Janeiro 2013

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IDENTIDADE | Nยบ 8 | Janeiro ย 13

BULLYING


COLABORADORES Manuel Damas 'Editorial 'Grande Entrevista 'Sexalidades

D i o g o Vi e i r a d a S i l v a 'Economia

Nuno Homem ' Te a t r o

Carlos Matos 'Olhares

Hélder Pinto Bessa 'Direito

Ti a g o J o n a s 'Música

Susana Soares Ribeiro ' As Letras cooltralmente arranjadas para sair

Carina Fernandes 'Psicologia

Francis Kinder 'Ecos do Mundo (Brasil)

Silvia Alves ' Poetisando

Bruno Silva 'Psicologia

Filipe Moreira Da Silva 'Ecos do Mundo (Espanha)

Tiago Barbosa Ribeiro ' Fogo cruzado

Eugénio Giesta 'Poeiras e Eras 'Biografias

João Paulo Meireles ' Fogo cruzado

Fausto Pinto de Matos ' Política Internacional

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António Martins Silva 'Corpo em movimento

Louiz A. 'Dança

Marília Lopes 'Ecos do Mundo (Japão)


REVISTA ID ’ O lançamento da Revista ID’ Identidade foi um momento de enorme emoção, na CASA, pelo esforço que implicou mas também e acima de tudo, pelo caloroso apoio que recebeu. A MODA

Nº1

Enquanto revista oficial da CASA, de periodicidade mensal e de cariz informativo/formativo, nunca esquecendo a sua índole pedagógica e de abordagem dos grandes temas da Sociedade, a ID’ representa um desafio constante no sentido de conseguir ultrapassar, cada vez mais, as expectativas e cumprindo, sempre, o princípio major da CASA - a Universalidade do Direito à Felicidade.

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2 | MAIO ’ 12

VIOLÊNCIA(S)

4 | JULHO ’ 12

3 | JUNHO ’ 12

LAZER

EROTISMO

Nº2

Nº3

Nº5

Nº6

Nº4

Nº7 IDENTIDADE | Nº 8 | Janeiro 13

BULLYING

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CAPA

IDENTIDADE | Nº 8 | Janeiro 13

BULLYING

INDEX 07 ’ EDITORIAL MANUEL DAMAS 08 ’ NA CASA ... 15’ OLHARES CARLOS MATOS

“CANIBALISMO EMOCIONAL"

16 ’ AS LETRAS COOLTURALMENTE ARRANJADAS PARA SAIR SUSANA SOARES RIBEIRO “SHUT DOWN”

22 ’ POETISANDO SILVIA ALVES

COMPOSIÇÃO ’ NEUZA MOREIRA

24 ’ POLÍTICA NACIONAL I FOGO CRUZADO TIAGO BARBOSA RIBEIRO JOÃO PAULO MEIRELES “BULLYING”

ID ’ DIRECÇÃO MANUEL DAMAS REVISÃO DE TEXTOS MANUEL DAMAS DIRECÇÃO DE ARTE & DESIGN GRÁFICO JOÃO MATOS CONTACTE-NOS ’ facebook.com/revistaID ’ id.identidade.revista@gmail.com

26 ’ POLÍTICA INTERNACIONAL FAUSTO PINTO DE MATOS “A PAZ PERPÉTUA.”

29 ’ ECONOMIA I CETERIS PARIBUS DIOGO VIEIRA DA SILVA “BULLYING ECONÓMICO”

30 ’ DIREITO HÉLDER PINTO BESSA 32 ’ PSICOLOGIA CARINA FERNANDES “A VIOLÊNCIA QUE NINGUÉM NOTA. ATÉ QUANDO?”

BRUNO SILVA “O BULLY: JULGÁ-LO OU AJUDÁ-LO?”

34 ’ SEXUALIDADES I SEXUALIDADES, AFECTOS & MÁSCARAS MANUEL DAMAS 36 ’ HISTÓRIA I POEIRAS & ERAS EUGÉNIO GIESTA 38 ’ IDENTIDADES “GRANDE ENTREVISTA-DIOGO VIERA DA SILVA”

46 ’ BIOGRAFIAS EUGÉNIO GIESTA “ELIZABETH BATHORY”

A ID ’ é uma revista mensal publicada pelo Centro Avançado de Sexualidades e Afectos ®

Rua Santa Catarina, 1538, 4000-448 Porto 918 444 828 www.ass-casa.com geral@ass-casa.com facebook/AssociacaoCASA 4


46 ’ DESPORTO ANTÓNIO MARTINS SILVA “CORPO EM MOVIMENTO”

48 ’ DANÇA LOUIZ A. TEMÁTICAS DA/NA DANÇA

50 ’ TEATRO NUNO HOMEM

DE TEATRO SE FALA

51 ’ LAZER I MÚSICA TIAGO JONAS “QUI CANTAT, BIS ORAT.”

54 ’ ECOS DO MUNDO FRANCIS KINDER “UMA VERDADE INCONVENIENTE”

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FILIPE MOREIRA DA SILVA “BULLYING EM TERRAS DE TOUREIROS”

MARÍLIA LOPES “BULLYING”

60 ’ FRASES COM’TEXTO 62 ’ DESCØNSTRUIR 64’ FARPAS 46

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ARTISTA EM DESTAQUE VASCO ORLANDO DE SANTAMARIA FERREIRA DA COSTA

VASCO ORLANDO DE SANTAMARIA FERREIRA DA COSTA 2012 FAFE MAIS CONHECIDO COMO: VASCO ORLANDO DE SANTAMARIA Nasceu a 27 de Janeiro de 1970 na cidade de Fafe, do distrito de Braga. Frequentou o Instituto Politécnico de Pintura e Decoração de Interiores de Lisboa, como trabalhador estudante. Ao longo dos anos tem vindo a pintar a óleo sobre tela e madeira e, mais recentemente tem experimentado outras técnicas que estão ao alcance da tecnologia. Apesar de gostar muito de pintura não faz disso a sua profissão já que é, licenciado em Psicopedagogia Clinica com mestrado em Psicologia do comportamento, licenciado em Psicologia. É membro da Cooperativa Cultural “Os Artistas de Beja”, membro dos Artistas Unidos do Portimão e, ainda participa em alguns workshops como interveniente.

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Excerto de uma crítica “as suas telas são executadas com uma técnica primorosa e de uma subtileza espiritual que nos conduz aos reinos da nossa imaginação onírica e poética, e que por vezes nos desperta também sensações de um espaço livre, como se flutuássemos num sonho onde o irreal se funde raramente com o real terreno. As pinceladas são de uma frescura admirável e dá-nos bem a impressão que o artista consegue os efeitos desejados na sua obra, o que, como sabemos, é uma operação difícil na arte do óleo. Em algumas, somos levados a viajar até mundos desconhecidos, que nos atraem pelo seu colorido e fantasia mas, também nos inquietam pelo poder da mensagem que nos transmite, onde um mundo futuro poderemos ter esperanças de um paraíso sonhado, ou a verdade muitas vezes receada, de um verdadeiro caos apocalíptico”. Carlos Alberto Santos (Jornalista critico de arte) Exposições: Muitas exposições coletivas com os Artistas de Fafe (antigo Museu de Fafe, Casa Municipal da Cultura) Coletividade Antigos Alunos de Santa Luzia (17 de Maio de 1995) Guimarães Cybercentro (10 de Janeiro de 1996) Guimarães Biblioteca Municipal de V. Nova de Gaia (15 de Abril de 1998) V. Nova de Gaia Galeria de Arte Capital em Leiria – Grupo de Artistas Portugueses (17 de Setembro de 2000) Leiria Biblioteca Municipal de Viseu (15 de março de 2005) Viseu Casa da Cultura de Fafe (16 de Setembro de 2005) Fafe Biblioteca Municipal de Felgueiras (8 de Abril de 2006) Felgueiras Auditório de Vieira do Minho (8 de Abril de 2006) Vieira do Minho Casa da Cultura da Cabeceiras de Basto (6 de Outubro de 2006) Cabeceiras de Basto Biblioteca Municipal Lúcio Craveiro da Silva (6 de Abril de 2007) Braga OXMARKET CENTRE OF ARTS Cichester (13 de Maio de 2008) Inglaterra The Royal Pavilion Brighton (8 de Agosto de 2008) Inglaterra Frankie & Benny`s Restaurant Cichester (10 de Outubro de 2008) Inglaterra Confor – In Hotel Fafe (3 de Novembro de 2010) Fafe Atrium Saldanha Lisboa (3 de Março de 2011) Lisboa Cub Fafense (12 de Outubro de 2012) Fafe E muito mais !!! Exposições Coletivas Bastantes coletivas dos Artistas de Fafe Galeria «Proso mar «1998 Salão de Outono – Casino do Estoril 2000 «A Janela Verde «2000 Galeria «R. 75 «2001 Sala Medina – Braga 2003 Muito mais e etc. Vasco Orlando de Santamaria


MANUEL DAMAS

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a ID’-Identidade nº8 voltamos, uma vez mais, a abordar um tema transversal à Sociedade…desta vez o “Bullying”, enquanto forma de invasão do direito a ser Pessoa. Um ato de agressão acima de tudo porque desrespeitador de princípios constitucionais como a Dignidade da pessoa humana configurando, deste modo, atos ilícitos. Acima de tudo é um comportamento consciente, intencional, deliberado, hostil e repetido, progressivo, de uma ou mais pessoas, cuja intenção é ferir e magoar outros. Para além de tudo o Bullying é uma afirmacao de poder através de agressão. Como consequências e sinais semiológicos de alarme temos, nas vítimas: Baixa auto estima, Isolamento, medo e angústia, Agressividade e Ansiedade, Falta de vontade de ir à Escola, Dificuldade de concentração e diminuição do desempenho escolar, Mudança de humor com choro constante, Insónia, Perda dos normais hábitos de higiene, Abuso de álcool e drogas, Stress, Suicídio… Foi Dan Olweus, investigador norueguês, que denominou e concetualizou o termo “Bullying”. Muitos foram os trabalhos científicos produzidos tendo por base o Bullying mas um dos mais recentes é do Josephson Institute of Ethics, sendo considerado um dos maiores estudos realizado sobre

EDITORIAL Bullying na Escola no Mundo Moderno. Segundo o mesmo: 50% dos alunos do ensino médio participantes admitiram ter exercido Bullying sobre alguém em 2011 47% dos estudantes do ensino médio participantes admitiram ter sido vítimas de Bullying, de forma que tenha causado perturbação grave em 2011 24% dos alunos do ensino médio participantes admitiram não se sentirem seguros na Escola. 33% dos alunos do ensino médio participantes consideram a violência um problema na sua escola 52% dos alunos de ensino médio participantes admitiram ter agredido alguém, com raiva, em 2011 São estas as conclusões mais importantes apontadas pelo estudo sobre o Bullying. Acima de tudo configura um ato de agressão, continuada, invasiva, violenta, progressiva, direcionado para jovens considerados diferentes ou, inclusive, para aqueles que os agressores consideram ou suspeitam serem diferentes. Por ser uma realidade à escala global contra a qual urge combater de forma assertiva e, acima de tudo, consequente, foi, por isso, o tema escolhido como tema desta oitava edição da Revista ID’ e irá ser abordado nas diversas vertentes escolhidas pelos autores. Também por isso foi escolhido como capa e contracapa e de forma totalmente legítima o projeto mundial de luta contra o Bullying, “It Gets Better Project” e a sua versão em língua portuguesa “Tudo Vai Melhorar”. É para esta viagem lúcida, frontal e pedagógica, que te convidamos. ID’entifica-te!

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NA CASA ... A CASA está estruturada em DeparO DEPARTAMENTO CULTURAL de tamentos entre os quais se podem cujo plano de actividades fazem parte: elencar aqueles que, pelo seu tipo de trabalho, adquirem maior visibilidade: CICLO DE “POESIA NA CASA”

CICLO DE “DEBATES NA CASA”

O Ciclo de Poesia na CASA está em vigor desde Janeiro de 2011 com periodicidade semanal. Mensalmente, é escolhido um poeta ou poetisa portugueses e semanalmente, à quarta feira à noite, são declamados poemas da autoria do poeta escolhido, na Sala de Leitura da CASA. Pretende-se, desta forma, cultivar e incentivar hábitos de leitura e relembrar autores que o tempo fez esquecer. Já fizeram parte do Ciclo de Poesia na CASA nomes como Sofia de Mello Breyner, Almada Negreiros, Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa - heterónimos, Fernando Pessoa - ortónimo, Natália Correia, António Ramos Rosa, António Botto, Al Berto, Manuel Alegre, Cesário Verde, apenas para citar alguns nomes.

O Ciclo de Debates na CASA está em vigor desde 2009. Uma vez por mês é organizado um debate sobre os temas mais pertinentes da actualidade, sendo convidadas personalidades para participar. Assim são efectuados Debates com o intuito de esclarecer a população sendo intenção que estes debates atraiam público jovem para, desta forma, serem sensibilizados e motivados para as questões da Democracia participativa, da Cidadania e do combate ao alheamento social.

SEMANA QUEER 2012

1 a 7 Julho

21H ABERTURA DA EXPOSIÇÃO QUEER 22H TERTÚLIA “SER QUEER HOJE”

18H CINEMATECA QUEER “FROM BEGINNING TO END” 22H DIÁLOGOS FILOSÓFICOS “AMORES QUEER”

18H CINEMATECA QUEER “BEGINNERS” 22H TEATRO APRESENTAÇÃO DA PEÇA “VIOLÊNCIAS” (GRUPO DE TEATRO DA CASA)

18H CINEMATECA QUEER “THE DREAMERS” 22H CICLO DE POESIA “QUEER”

18H CINEMATECA QUEER “PARTY MONSTER” 22H DEBATE “CRIMINALIZAÇÃO DO BULLYING?”

18H CINEMATECA QUEER “MAMBO ITALIANO” 22H MÚSICA AO VIVO

ARRAIAL QUEER

MEDIA PARTNER

Rua Santa Catarina, 1538, 4000-448 Porto ³ 918 444 828 ³ www.ass-casa.com ³ geral@ass-casa.com ³ facebook/AssociacaoCASA

NOITES QUEER As festas Queer @ CASA animaram as quintas-feiras de Agosto. Em momentos de descontracção e de inclusão, a CASA, conseguir angariar alguns fundos e dar acesso à cultura por forma a alcançar a Universalidade do Direito à Felicidade.

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O Debate sobre “Criminalização do Bullying”, integrado na Semana Queer.

CICLO DE TERTÚLIAS “A CASA ComVIDA” O Ciclo Mensal de Debates, "A CASA ComVida" que, como sempre, teve a sua maior edição do ano, em Dezembro e que contou com a Prof. Dra. Clara Sottomayor que, na CASA, assumiu o Debate intitulado - A Mulher e o Direito.

Tertúlia “A Mulher e o Direito”

Programação da Semana Queer 2012, que se realizou de 1 a 7 de Julho.

GRUPO DE TEATRO DA CASA O Grupo de Teatro da CASA foi criado em Maio de 2011. Dirigido por Eloy Monteiro, conhecido actor profissional, com 50 anos de profissão, o Grupo de Teatro da CASA junta pessoas de várias idades e estratos sociais, unidos pelo amor à arte da representação. Actualmente o Grupo de Teatro da CASA apresenta a peça original, "Violências", escrita na CASA e que aborda o tema da violência doméstica. O grupo de teatro funciona única e exclusivamente com voluntários e tem ensaios todas as semanas, à segunda e quarta feira à noite.

PEÇA DE TEATRO VIOLÊNCIAS 3 JULHO 22H

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EXPOSIÇÃO - PROVOCAÇÕES Periodicamente a CASA inaugura, no seu Auditório, exposições de artistas que, através da sua obra, pretendem desconstruir estereótipos. Presentemente a CASA tem em exibição a exposição "Provocações", da autoria de Carla Sampaio, que merece ser visitada e observada em detalhe.

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O DEPARTAMENTO SOCIAL de cujo plano de actividades fazem parte:

CLÍNICA DA CASA A CASA disponibiliza um Serviço de Consultas, designado “Clínica da CASA”, a laborar desde Janeiro de 2011, com 4 especialidades: Medicina, Psicologia, Sexologia e Direito. Os especialistas das diversas áreas são voluntários e o público alvo, sendo, primariamente, a população geral, é constituído, mais especificamente por Mulheres vítimas de violência doméstica, Jovens vítimas de abuso sexual e pessoas com dificuldades na área das Sexualidades e dos Afectos.

CAMPANHA “UM CAFÉ, UM PRESERVATIVO – É TÃO FÁCIL USAR UM PRESERVATIVO COMO TOMAR UM CAFÉ!” É uma campanha de proximidade que pretende fazer prevenção dos comportamentos de risco. É a forma que a CASA encontrou para dinamizar o uso preventivo do preservativo. Assim, nas instalações da CASA, cada vez que é servido um café, juntamente com o açúcar ou o adoçante é oferecido um preservativo com o intuito de tentar desconstruir o tabu, os estereótipos e os preconceitos que ainda hoje estão associados ao seu uso na população portuguesa.

campanha É TÃO FÁCIL TOMAR UM CAFÉ COMO USAR UM PRESERVATIVO!

Projecto "Clínica da CASA" - da autoria da REGREEN PROJECT

VEJA AQUI O VÍDEO PRODUZIDO PELO REGREEN PROJECT

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Rua Santa Catarina, 1538, 4000-448 Porto ³ 918 444 828 ³ www.ass-casa.com ³ geral@ass-casa.com ³ facebook/AssociacaoCASA


DIA NACIONAL DA FELICIDADE A CASA elaborou uma petição pública a solicitar à Assembleia da República a criação do Dia Nacional da Felicidade que se encontra em fase de recolha de assinaturas, a qual tem duas vertentes, a presencial e a recolha pela Internet. Com esta petição pretende-se alertar para a necessidade de uma real Universalidade do Direito à Felicidade promovendo correntes de economia do bem-estar. A petição será entregue na Assembleia da República a 3/9/2012, dia de aniversário de criação da CASA. Assim terá início a segunda fase de recolha de assinaturas, a serem entregues no Parlamento Europeu, a propor a criação do Dia Europeu da Felicidade. Se a criação formal de um Dia da Felicidade não a garante, “de per si”, oficializa, todavia, a obrigatoriedade da sua prossecução. A Petição pode ser consultada e assinada em: http:// www.peticaopublica.com/PeticaoVer. aspx?pi=DNFe2011

Recolha de assinaturas da petição para instituição do Dia Nacional da Felicidade

Ceia de Natal, realizada na noite de Natal.

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O DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO de cujo plano de actividades fazem parte:

PROJECTO ISA – (IN)FORMAÇÃO EM SEXUALIDADES E AFECTOS A CASA disponibiliza a escolas do ensino Secundário e Universitário um Projecto de (In)formação na área das Sexualidades e Afectos. Este projecto é direccionado para todos os membros da Comunidade Educativa, nomeadamente Professores, Alunos, Encarregados de Educação e Pessoal Auxiliar. É um projecto que pretende consciencializar as comunidades educativas para as questões das Sexualidades e dos Afectos, promovendo comportamentos sexuais e afectivos responsáveis e uma Sociedade mais inclusiva.

Mas a CASA também efectua, nas suas instalações, Acções de Formação e Workshops subordinadas aos mais diversos temas.. Formação na CASA em “Voluntariado”

Em 2012 a AVANÇADO CASA iniciou aDE Formação CENTRO Pós-Graduada nos grandes temas® SEXUALIDADES E AFECTOS das Sexualidades CURSOS DE FORMAÇÃO

e Afectos.

curso de pós graduação 12h

curso de especialização 24h

SEXUALIDADES & ENVELHECIMENTO ACTIVO

SEXUALIDADES & ENVELHECIMENTO ACTIVO

curso de pós graduação 12h

curso de especialização 24h

JORNALISMO & SEXUALIDADES

JORNALISMO & SEXUALIDADES

curso de pós graduação 12h

O DESPORTISTA & AS SEXUALIDADES

curso de pós graduação 12h

O EDUCADOR & A SEXUALIDADE DA CRIANÇA

INFORMAÇÕES & MATRÍCULAS Horário de Atendimento 16h às 20h CASA - Centro Avançado de Sexualidades e Afectos Rua de Santa Catarina, 1538 • 4000 – 448 Porto • 918 444 828 www.ass-casa.com • facebook/AssociacaoCASA

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Recentemente a CASA assinou Protocolos formais de Colaboração, com a Ordem dos Psicólogos e com a Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa. através dos quais passa a disponibilizar Estágios Profissionais, oficiais, com a duração de um ano, a Psicólogos recém-licenciados, e com a duração de dois meses para Enfermeiros de Saúde Mental.


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OLHARES

C A R L O S M AT O S

xistem diversas temáticas das quais me abstenho de pronunciar, sob consequência de me exaltar, resultando numa ausência desmesurada de auto-controlo. É deste modo que reajo à injustiça, onde o bullying se apresenta no pódio, já constando no Livro do Guiness,

pelo longo tempo que ocupa tal lugar. A violência, seja de que tipo for, deverá ser evitada, mas é urgente abolir com a sua forma gratuita, dadas as repercussões drásticas que acarreta, tanto por parte do agressor como da vítima. Por mais estapafúrdio que possa parecer, existem razões para o sadismo do atacante, somente relevantes para estudos sociológicos, cujos resultados se apresentam cada vez mais assustadores, não sendo despicientes quaisquer medidas de apoio, mesmo que as actualmente existentes pareçam suficientes. A crueldade é, maioritariamente, sinónima de uma ânsia inquantificável de poder, pelo sentimento de submissão a que é, diariamente, exposto. Resultará numa explosão de autoritarismo e hostilidade desmedidos. O próximo passo será a percepção das fraquezas do seu alvo, para que as possa utilizar para usufruto próprio, combatendo a lacuna de auto estima que possui, num processo de atenuamento das próprias inseguranças. Tais actos induzem um sentimento de prazer pelo enaltecimento conseguido, necessitando de repetições consecutivas para que surta efeito a longo prazo. Contudo, a violência será, gradualmente, superior: ou porque a vítima criou defesas, induzindo um maior esforço por parte do agressor, ou porque simplesmente se torna necessário o aumento da dose de acção, como se de uma adição se tratasse. É curioso o que o ser humano se demonstra capaz de fazer para a sua própria protecção e bem-estar e o quão contraditório é, tendo em conta o seu suposto humanismo. Há quem lhe chame incongruência, eu limito-me a apelidá-lo de capacidade adaptativa, ansiando que Darwin seja desacreditado, caso contrário anseio vivamente a chegada do fim do mundo. Não vou tecer palavras de apoio aos que sofrem de bullying, pois para isso existem diversas entidades que o fazem na perfeição, centrando esforços para que o sofrimento seja atenuado e transmutado em força, pro-actividade e confiança. Limitar-me-ei a transmitir a repugnância que sinto por todos os que se alimentam de outrém para o seu próprio bem.estar. Culpabilizarei a crise, como português que sou, pois parece-me que a liquidação material se estendeu ao cérebro, numa liquidação cerebral espelhada em canibalismo emocional. Se acredito em mudança? Gostaria. Apostarei no retrocesso, esperando que uma chuva de fortalecimento encharque os frágeis sequiosos.

EMOCIONAL

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CANIBALISMO

’ Enfermeiro Veterinário

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SUSANA SOARES RIBEIRO

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SHUT DOWN Prólogo

oberto Bolano, em 2666, completou cerca de cem páginas do seu livro para descrever inúmeros crimes de violação. O corpo das suas personagens vítimas, sempre mulheres, colocou-os invariavelmente numa lixeira municipal. No ponto final da descrição do último crime pensa-se que acabou, que já não há mais nada para inventar. Entende-se que todos os crimes estão descritos naquela centena de páginas. Bolano escreveu o manual de todas as violações terminadas em morte. É pouco presumível. Bolano não escreveu o manual de todas as violações terminadas em morte. A gadanha apanhou-lhe, talvez, e apenas, a veia crítica da escrita criativa. Era Saramago quem entendia melhor a natureza do ser humano. O catálogo de horrores deste campo de concentração chamado Mundo é inesgotável.1 Capítulo I A timidez era a sua marca principal. Sulcaram-lha a ferro em brasa. Fora criada pela avó, uma crente fervorosa. Cresceu na fé e no temor às tentações. Aprendeu a respeitar as hierarquias e obedecia cegamente às indicações do pastor, modelo de conduta, impoluto, influente, indiscutível pela sua maior proximidade a um Deus que alguém muito antes de si fizera maior. Um confessor desatento, a receitar dádivas de amor em todas as circunstâncias. Aprendeu a aceitar os destinos sofrendo com o fervor de Joana d’Arc. Sofria para dentro, invertendo até o sentido das lágrimas. Aprendeu a fazer-se desaparecer. Movia-se junto às paredes e com o olhar no chão, como as freiras de clausura nos conventos. Vestia o que o pastor não censurava e cortava o cabelo poucas vezes, para, segundo a avó, não perder o seu ar de virgem pura. Na escola que frequentou até ao nono ano não a conheciam, simplesmente. Os professores ignoravam-na porque não se portava mal e porque tirava notas suficientes para passar de ano. Os colegas ignoravam-na porque ela não colaborava em nada que fugisse às normas impostas pelos adultos, e pelo pastor, e viver sem regras era a regra dos teen. Ela nunca foi teen. Vinha sozinha de casa e voltava sozinha para casa. Todos os anos alguém entrava de novo na escola e tentava uma aproximação, mas rapidamente era captado para o seio da popularidade. Bebendo do cálice do pecado, ficava conspurcado, marcado para sempre pela mordida do vampiro, e ela voltava a ser esquecida.

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No décimo ano mudou de escola. Escola grande. Gente grande. Espaço grande, mas a impossibilidade de desaparecer. Foram apenas três meses, os precisos. Todos os dias aparecia numa página do seu caderno uma imagem sua. Um dia viu-se caricaturada lambendo o chão, outro sugando a água da sanita, também a desenharam sentada numa pocilga, entre os suínos, e chegaram ao cúmulo de a desenhar a cheirar dejetos em posição canina. Viu-se bebendo sangue, comendo a coxa de um recém-nascido que acabara de dar à luz, envergando vestes decoradas de palavrões, erguendo o dedo ao seu pai, puxando os cabelos à sua mãe e arrastando-a em jeito primitivo, cuspindo no seu Deus. Também teve que olhar uma imagem em que mudava a fralda à avó, enquanto esta a espancava com os braços livres. Por baixo de cada imagem, uma só frase: conhecerás o inferno no dia em que mostrares estes desenhos. Acossou-se. Não sabia de quem eram os desenhos. Todos os olhares eram cúmplices e nunca olhou ninguém de frente. O bichanar, os cochichos, os segredos silvavam cada dia mais. Silva mais límpido a cobra que está mais perto. Sentiu-se desesperada. Não conseguia desaparecer. Não conseguia desaparecer como dantes. Apenas desaparecia ante a avó, que se mantinha ocupada em purgar o seu espirito na fé, e ante os professores, que não descolavam os olhos dos alunos-problema. Todos os dias saía de casa rezando para que ninguém a visse, para que não lhe ligassem, para que a deixassem com o seu ar para respirar e com a sua solidão. Não precisava de mais nada. Depois de três meses descobriu que conseguia desaparecer no fundo do mar. Capítulo II O Vitó e a Lídia. Faziam um casal engraçado, aqueles dois. Ele era um mariconso empedernido. Ela era lésbica, de certeza. Não se davam com ninguém, ou melhor, ninguém se queria dar com eles. Andar com um tipo que não gosta de mulheres é considerado perigoso. Esses tipos não são certos. E as tipas lésbicas são um horror. Vestem-se à homem e não rapam os pelos. O casalinho Vitó e Lídia tornou-se popular no liceu ao fim de uma semana de aulas. O grupo in da turma tratou de os colocar no top ten das atenções. O Vitó era a vítima preferida dos rapazes. Era no dia da Educação Física que as coisas corriam pior. O Vitó começou a ser agredido pelos machos da prole dos imbecis. Lutavam entre si e empurravam-se uns aos outros de modo a caírem-lhe em cima, só para depois acusarem de gostar de sentidos inversos. O Vitó acabava sempre severamente pisado e desculpava-se com os professores mentindo. Dizia que jogava hóquei e que eram inevitáveis as marcas do stique. Um dia tentou evitar os colegas indo vestir-se longe dos olhares, numa cabine de chuveiro. Não foi boa ideia, porque as suas roupas acabaram encharcadas e teve que ir para casa vestido com a roupa de trabalho do funcionário do pavilhão. Teve que as vestir mesmo depois de o velhote que tirava as bolas da arrecadação as ter abandonado por excesso de suor. Estavam há umas semanas à espera que ele se lembrasse de as levar para casa. O pior foi ter sido obrigado a ir à aula seguinte, a última da tarde, antes de prosseguir para o autocarro em que viajavam todos os vizinhos. À chegada a casa, a mãe ainda lhe zuniu impropérios, por ele ser irresponsável e não cuidar das suas coisas. E houve ainda aquele dia fatídico, no balneário, em que os colegas fizeram um círculo em volta dele e lhe jorraram urinas de desprezo, enfiando-o depois no chuveiro com a recomendação de que se lavasse bem. Vitó sabia que não valia a pena queixar-se à mãe ou aos professores. A mãe andava demasiado ocupada a esconder as evidências do pai. Os professores em geral não eram maus, mas o DT era homem a sério. Perseguia as colegas e as funcionárias da escola e contava-lhe os resultados vezes sem conta. No fim de cada história repetia-lhe: ainda te levo a uma tipa a sério e te curo dessa mariquisse. A verdade é que o DT sabia das histórias do balneário e dava-lhes cobertura. A Lídia era uma miúda pequena. As grandalhonas da turma, em acessos de loucura (ou desejo), contavam cenas inventadas com elementos do sexo oposto usando palavreado exagerado e imagens inverosímeis. O cenário predileto era também o balneário do polidesportivo. Habitualmente, apanhava dentro do saco revistas com fotos de homens nus e em poses provocantes, com frases escritas do género não sabes o que

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é bom. Não lhe deixavam nunca espaço no banco para se vestir e no dia em que se lembrou do chuveiro aconteceu-lhe o mesmo que ao amigo. Acabou, ela e a roupa, completamente encharcada. Todos os dias tinha que aturar uma delas fingindo-se apaixonada por si. Recebia bilhetes de amor com obscenidades e um dia chegou a ser apanhada com um por uma professora e foi acusada injustamente de o ter escrito. No balneário era vulgar duas colegas fecharem-se na casa de banho para urrarem prazeres fingidos. As outras desafiavam-na a entrar. Chegavam a empurra-la e a atirá-la contra a porta. Em síntese, na generalidade eram muito ordinárias no trato para com ela. Os rapazes também não a deixavam em paz. Corriam a berrar-lhe aos ouvidos sons de macacos enraivecidos sempre que ela passava perto. Era o gozo da escola. Toda a gente se ria, até um funcionário ou um professor virem acalmar os ânimos e lhe deitarem um olhar de pena. O Vitó e a Lídia eram a companhia um do outro. Adoravam-se. Amavam-se intensamente na expressão mais forte do amor, que é aquele que não se deixa enganar pelos prazeres da carne. Em segredo, desejaram trocar de corpos um com o outro. A mãe da Lídia sabia dos seus gostos, mas insistia em que ela desse uma oportunidade ao Vitó. Podia ser que se curassem os dois. Um dia o Vitó e a Lídia leram juntos Romeu e Julieta e perceberam-se. Eles eram Romeu e Julieta nascidos em corpos trocados. Nesse dia deitaram-se na banheira lado a lado e cortaram os pulsos um do outro, porque assim morrem os seres apaixonados. Capítulo III O Asdrúbal era o trintão cabisbaixo que trabalhava no departamento financeiro do banco. Tudo batia certo no Asdrúbal, ou clarificando, tudo batia certo no Asdrúbal com o nome Asdrúbal. O Asdrúbal tinha um problema com as mulheres, mas sem que isso significasse que gostava de homens. As mulheres assustavam-no, só isso. Eram poderosas, com os seus perfumes insidiosos e as suas blusas decotadas, os fatos justos e os saltos altos. Riam alto de mais, diziam brejeirices sexuais e debruçavam-se sobre a sua secretária sempre mais do que o necessário, para que ele analisasse papéis que nunca continham nada para analisar. O grupo do banco era tramado. Eles e elas sempre em bolandas. Cafés aqui, saídas ali, o Asdrubal desconfiava que já todos tinham estado com todos, talvez até em grupo. Teve a certeza no dia em que o Pires o convidou para uma farra. Escapou-se com o argumento da mãe acamada a quem tinha que fazer a higiene. Escapou-se outras vezes com outros argumentos. Uma ida ao hospital, visitas de familiares, mal-estares súbitos. Até ao dia em que não conseguiu escapar-se mais. Armaram-lhe uma cilada. Contava ir a um jantar formal do banco e acabou sentado numa poltrona de veludo vermelho e muito coçado, num bordel de segunda categoria. Apresentaram-lhe uma fila de matronas gordas, com as celulites sulcadas por lingerie de loja barata. Queriam que escolhesse uma, mas não foi capaz e escolheram por ele. Uma matrioska roliça, de pelo negro no buço e barriga modelo Michelin. Asdrubal não sabia o que fazer, nem como fazer. Amou a Alzira desde a infância e deixou de suportar as mulheres no dia em que ela decidiu largá-lo para ficar com um tipo de má vida. A prostituta arredondada, de cabelo crespo e oxigenado, na casa dos seus cinquenta anos, instruída pelos tipos do banco, tratou de lhe aplicar a sua arte. Ao fim de poucos minutos desistiu. Começou a ficar aterrorizada quando o olhou e lhe viu o busto ceráceo, como se tivesse morrido de pé, rígido por ação de qualquer veneno. Tiveram que o tirar de lá e que o deixar em casa. Meteram-no na cama. Dias depois voltou ao banco. Mudo. O mulherio estava em brasa. Pareciam apostadas em vencer onde a profissional falhou. Mas não tomaram a mão certa de sal. Não resistiram e gozaram-no durante uma semana. Ininterruptamente. Primeiro foi só verbalmente, mas não vendo reação, passaram ao toque nas suas intimidades. Chegaram a puxar-lhe a mão para lhe proporcionar outros toques. O Asdrubal não reagia. Os músculos da face deixaram, simplesmente, de funcionar. Um dia deixou de aparecer no banco. Ele, o Asdrubal, que nunca faltava.

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Estava sentado num banco de jardim, com a cabeça tombada para a frente e os braços inanimados. Amparavam-no dois vagabundos bebados que queriam com ele partilhar uma cerveja. Antes de se sentarem tinham sacudido uma pomba que se alojara no seu ombro e lhe deixara um caminho de dejetos que lhe descia do ombro à lapela. Estiveram ali um bocado, a tentar convencê-lo. Quando se levantaram o Asdrubal caiu ao chão e com ele caiu também um papel onde, numa letra perfeita, se lia até já, mãe. Capítulo IV No ano em que o Sporting ganhou a taça ele pintou o cabelo de verde. Batia tudo certo, verde esperança, esperança consumada em verde, para nova esperança. Era agora que o seu Sporting ia retornar às lides entre os campeões. O espelho já havia sido quebrado há mais de sete anos. Quando irrompeu pela faculdade naqueles preparos atraiu imediatamente as atenções dos residentes e passantes, o efeito pretendido aquando dos preparativos. Lembrara-se de pintar o cabelo ainda o jogo ia a meio, lá no estádio. Sabia que a família não o ia censurar grande coisa e talvez até alguém se lembrasse de o copiar. Tinha o cabelo cortado à antiga. Modelo dos anos oitenta: um escalado longo em cima e comprido atrás, de forma a poder ser usado solto ou entrançado em trança fina. Não se apercebeu de imediato, mas causou alguns nojos entre as raparigas. Os rapazes, esses acharam-no fora do seu mundo, não entendendo muito bem como chegara aquele destituído a universitário. Decidiram ignorá-lo depois de o terem observado longamente. Exceto aquele grupo que se juntava para fazer claque todos os fins de semana. Quem apoiavam variava, dependia se eram equipas nacionais ou internacionais que jogavam ou se interessava para a classificação da sua equipa de eleição que uma dada outra ganhasse ou perdesse um dado jogo do campeonato. Este grupo decidiu persegui-lo até à exaustão. A temática da peleia não foi só futebol. A temática foram também as matérias do curso de engenharia. Habitualmente era um estudante interessado e participativo. Tinha falta de formação de base e de vez em quando dizia umas bacoradas, mas até ter pintado o cabelo de verde, todos sorriam de forma tolerante e ajudavam-no a encontrar-se com a resposta. Foi o cabelo verde que lhes mostrou que o lado pimba era nele superior e que não queriam um colega de profissão daquela estirpe. Por isso, a comunidade estudantil começou a gozá-lo violentamente pelas suas respostas tontas, pela sua falta de cultura, pelos seus erros de postura social, pelo que vestia, como comia, como pronunciava as palavras. O grupo-claque brindava-o diariamente com a história completa do futebol. Recuavam da atualidade aos tempos de Salazar para lhe mostrar como o seu imbecil clube de leão verde (ridículo, um leão verde!) nunca tivera um momento de glória digna. Não o largavam, bombardeando-o com perguntas humilhantes nos intervalos das aulas e encontrando-o em qualquer zona da faculdade. Primeiro defendeu-se estoicamente de tudo e todos, sentindo-se herói de filme antigo. Depois começou a ficar cansado, extremamente cansado, passando as noites a pensar nas respostas que daria a eventuais perguntas que ele tentava imaginar. Por fim assumiu a sua pequenez. Viu-se tal como era no espelho: parolo, inculto, impopular. Estava sozinho no seio da única comunidade em que queria viver. Sentiu-se uma prostituta apedrejada. Por fim, decidiu morrer. No estádio, sentado numa cadeira a olhar o campo verde, da mesma cor de que pintara o seu cabelo. Pegou na arma e apontou à cabeça. Aliviado, respirou fundo. Capítulo V - Estou tão apaixonada por ele, Rita! - E ele? - Ele também gosta de mim, mas aquela namorada é uma peixeira e anda sempre atrás dele. Ele está farto dela e diz que vai acabar para ficar comigo.

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- Achas mesmo? Estar apaixonado é uma coisa difícil e séria e ela estava muito apaixonada. Tinha absorvido da televisão e dos clips de música da moda que estar apaixonada por um rapaz menos recomendável era algo perigosamente interessante. Nas aulas não estava atenta. No lugar da cabeça tinha uma cornucópia que libertava em contínuo e em tom musical a frase mama I’m in love with a criminal. Saía-lhe do mesmo jeito que a cantava a Britney Spears e com a mesma expressão de amor intenso e imparável. Mal acabavam as aulas corria a juntar-se ao grupo dos bad boys. Fumava o que lhe davam e abandalhava a linguagem e a expressão corporal, contrariando o mais que podia a sua educação de cunho polido. Estava focada no seu amor adolescente, cinematográfico. Ele já lhe tinha notado o interesse e, a par de olhares que ela interpretava de forma errada – eram de gozo e não de atenção – ia lançando o isco, a ver o que pegava. Pegou tudo, a fundo. Uma semana de balda às aulas por motivo de prazer. Ele era bruto e largava-a mal acabava (e acabava depressa), mas ela sabia que o verdadeira amor aceita a diferença e aprende a viver com ela, transformando pequenos defeitos em virtudes. Passada a semana foi parar ao hospital, com o corpo partido e o orgulho ferido, porque a namorada dela descobriu o que se passava e tratou de resolver o assunto pela força. À covardia, é certo, porque a apanhou de surpresa e sozinha, mas, que importa isso? Havia mensagens que tinham que ser dadas e pronto. A partir desse dia nunca mais deixou de ser perseguida. A outra prometera-lhe uma marca por dia e nunca se esquecia de cumprir. Decidiu fugir para Espanha numa daquelas festas de garotos de liceu. Quando se viu a sós, saltou da varanda. Epílogo Roberto Bolano desistiu, apenas. Depois de muito descrever o horror percebeu que teria de gastar as folhas de todos os escritores, produzidas a partir de todas as árvores do mundo, para contar apenas uma parte de todos os cenários. Quis esgotar as palavras e, afinal, esgotou-se antes. Não há como contar toda a dor e a sua génese. Saramago, na sua imensa lucidez, disse que A gente habitua-se a tudo, até a não existir…1 E depois de se habituar a não existir, há gente que não se importa de morrer.

1 José Saramago, in Cadernos de Lanzarote, diário II.

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S Í LV I A A LV E S

oetisando OFÍCIO juntaste as palavras úteis para me dizeres a oração e eu arqueio o dorso num rasto de penitência a deixar antever o sol por entre as dobras da camisa deixa-me sussurrar-te ao ouvido o mal maior para que o entendas depois julga-me terrível e, pelas costas, aponta-me as armas difíceis e as horas malditas afaga-me os cabelos com aromas de hortelã e então repara se me importo ou se te corto a raiz deixa-me lamber-te as veias sem que me digas nada de longe, de fora, ausente e entreter-te a rolar-te entre os dedos e a prever-te inteiro ainda que sonâmbulo no meu peito melífluo de fêmea ……………………………….. junta de novo as palavras e diz-me a fome

INTERNO RETORNO Se eu pudesse mostrar o limite do começo (se eu declarasse o extensão da força do vento) se ensinasse o meu próprio pé e o tivesse se o abismo não fosse já aqui e a memória não me traísse se a forma das coisas fosse uma só e eu a compreendesse se a clara abjecção do não-eu se insinuasse e me inquietasse se eu fosse a compilação de mim de uma só vez voltaria ao início

INSISTÊNCIA Enfia-me no estojo da paciência e não faças a mala deixa-me ficar ali e olha para mim todos os dias até veres o cansaço no fundo do meu espelho

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POLÍTICA NACIONAL

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COMBATER O BULLYING VALORIZAR A ESCOLA

escola é um espaço de aprendizagem, mas também de afirmação da cidadania, de socialização e de crescimento, envolvendo vários agentes educativos. Desta forma, e para que possa cumprir os seus propósitos, a escola é muito mais do que uma instalação física onde se transmitem saberes formais. Formando os cidadãos de hoje que serão os líderes de amanhã, a escola não pode ignorar os problemas que reproduz no seu seio, nomeadamente o bullying. Como comportamento hostil e deliberado, podendo assumir ou não uma dimensão colectiva, o bullying é uma forma de violência continuada que deve ser firmemente combatido. O bullying está tipificado em diferentes categorias, rompendo a segurança que a escola deve propiciar a todos os alunos, prejudicando a aprendizagem e a socialização. Pode mesmo, em casos de maior severidade, provocar distúrbios a médio e longo prazo. Sendo verdade que nem todos os comportamentos que normalmente associamos ao bullying o são, ele não pode ser menosprezado como algo que ocorre «naturalmente» numa determinada fase da vida. Corresponde, ao invés, a uma aprendizagem colectiva violenta que pode e deve ser mudada, contando para isso com a acção do próprio meio escolar e de instrumentos legislativos supervenientes. Simultaneamente, o bullying antecipa em muitos casos acções de discriminação social que são importados para o meio escolar, nomeadamente homobofia e racismo, constituindo por isso uma das primeiras expressões de atitudes hostis que mais dificilmente serão ultrapassadas em idade adulta. Em períodos de crise acentuada como a que vivemos, a escola deve ser revalorizada nas suas funções educativas e sociais. Garantir que é um mundo em segurança para quem o enfrenta diariamente é, decididamente, uma responsabilidade colectiva de todos nós. ’ Deputado Municipal do PS

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TIAGO BARBOSA RIBEIRO


J O A O PA U L O M E I R E L E S

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Bullying nada tem de novo enquanto fenómeno social. Nem sequer o nome ou o facto de ser publicamente reconhecido – até por esse mesmo estrangeirismo. A única coisa que pode realmente ser mais recente é a mediatização do bullying e que consequentemente leva o sistema sancionatório de uma organização a funcionar – no nosso caso e de acordo com muitas opiniões seria mais correcto escrever “não funcionar”. Entendo o Bullying como a prática de actos de violência e coação física ou psíquica, com o objectivo de obter ganhos ou vantagens ou simplesmente denegrir, ofender e prejudicar a vítima…e nesse sentido temos que tratar de tudo: o que se passa nas escolas, o Bullying laboral e porque não o familiar ?! Não há dúvidas que as mentalidades têm evoluído muito mas que estes processos demoram muito mais do que qualquer um de nós desejaria ( o que é um paradoxo porque a consciência colectiva não deveria ser mais do que o somatório das individuais, onde pelos vistos há um grande consenso). Só há poucas décadas começamos a admitir como possível a violação dentro do casamento, e até a terminologia jurídico-laboral adoptava a expressão entidade patronal talvez apenas só porque chamar patrões apesar de tudo soasse mal. Hoje lá conseguimos arranjar expressões menos carregadas. O facto de certos agentes e o seu papel (os empregadores, os professores, juízes, polícias e pais) gozarem de pouca credibilidade não ajuda e enquanto não alterarmos esta situação será difícil contrariar alguns comportamentos. Não precisamos de restabelecer as “clássicas relações especiais de poder” do Direito Administrativo mas alguma autoridade e crédito temos que conferir àqueles que incumbimos de determinadas funções e isto vale quer para as escolas, quer para as forças policiais quer para o edifício judicial. Nas escolas já não só vemos alunas a pontapear uma colega já depois de estar no chão ou a “furtar/roubar o dinheiro do almoço ao rapazito mais magrinho e caladito. Esses mesmo bullies (prefiro chamar-lhe rufias!) já tratam os professores por tu e ordenam-lhes que lhes devolvam o telemóvel “JÁÁA”..ainda assim nada comparado com o outro episódio em que as costas do Educador serviram nada mais nada menos para medir forças com as costas da cadeira - combate

A “ARTE” DE SER FORTE COM OS MAIS FRACOS da qual as primeiras saíram vitoriosas e provavelmente prontas para o próximo confronto, a ter lugar já no período seguinte ! Mas enquanto antes se dizia aos “miúdos” numa atitude bastante errada que resolvessem os seus problemas com os colegas e que nem pensar ser chamado à escola quanto a faltas de respeito e de educação agora o panorama é diferente: o mesmo pai que nada faz para contrariar os comportamentos do que tem em casa, será o primeiro a pedir satisfações quando julga que o seu “pobre e pequeno rufia” foi alvo de uma injusta punição ou simples chamada de atenção por si só muito mais vexatória e grave do que… digamos… as dores nas costas do professor que se viram obrigadas a partir a cadeira com que o aluno as presenteou ! No mundo laboral, o fenómeno também é dinâmico. Pensava-se que era algo que acontecia nas empresas pequenas, em que todos se conheciam e as vitimas não falavam por vergonha acabando por se despedir por sua iniciativa… pensava-se que era algo do género tratamento desigual dos encarregados na distribuição turnos por exemplo…e algo muito característico apenas dos indiferenciados, mais fora dos centros urbanos e essencialmente em unidades fabris ou de produção. Uma das minhas primeiras situações no âmbito da profissão que exerço prendeu-se precisamente com uma senhora que regressara ao trabalho após uma “baixa” prolongada por razões psicológicas (em linguagem muito pouco clínica: uma depressão daquelas – e com razões muito concretas!). Pasme-se que exercia funções administrativas de responsabilidade e numa empresa de um grupo económico internacional…pois bem…não tiveram os patr…perdão a entidade empregadora…qualquer pejo em colocá-la numa secretária vazia, sem telefone nem papel, só ficando a faltar estar virada para a parede… O que foi óptimo para combater a depressão como se calcula, mas que acabou por ter impacto na solução extra-judicial. E nos afectos, nas relações familiares, na forma como encaramos o outro e a sua diferença, na sexualidade, no projecto de vida…não haverá bullying ? Tão dinâmico como os demais, igualmente antigo? Todos imaginamos que sim (alguns até conhecem uma parte da realidade) mas há uma grande diferença…é que este sim é mesmo escondido e nele as vítimas antes de o ser já o eram ! ’ Deputado Municipal do PSD

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POLÍTICA INTERNACIONAL

F A U S T O P I N T O D E M AT O S

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ste mês a UE recebeu formalmente o Prémio Nobel da Paz. Desde 1410 que a Europa não vivia 60 anos sucessivos de Paz. Uma paz que progressivamente se tem vindo a alargar progressivamente ao Continente Europeu. De Lisboa aos Urais, do Ártico ao Mediterrâneo, não há conflitos armados no Continente Europeu. Infelizmente, “war is as old as Europe. Our continent bears the scars of spears and swords, canons and guns, trenches and tanks, and more” (brilhante discurso de Van Rompuy e Durão Barroso na aceitação do Prémio Nobel da Paz, 2012). Não podemos apagar esse passado. E a nossa História comum tem episódios muito negros. Basta recordar que entre 1870 e 1945 Alemanha e França guerrearam-se três vezes, duas delas arrastando todo o Mundo para a guerra. Há 60 anos, porém, em 1952 lançaram-se as fundações da paz entre os países europeus, tornando materialmente impossível a guerra entre aqueles dois países. Três anos mais tarde assinava-se o Tratado de Roma, ainda hoje vigente, com o intuito de reconciliar os povos europeus, buscando o respeito pelos direitos humanos e o estado de direito democrático. Ao longo das décadas, a União foi progressivamente servindo de pólo de atração e de âncora desses valores fundamentais. Nós próprios, Portugueses, somos disso exemplo. As primeiras palavras da nossa Constituição são “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”. As revoluções rompem com o passado e tudo pode parecer à distância de um cravo ou de um tweet, mas a Democracia, como quase tudo, não se “instala” por decreto. Demora o seu tempo, precisa de se enraizar. Não há Democracia sem cultura democrática, como têm vindo a demonstrar os países do Leste Europeu, como a Hungria, ou a revolução árabe. Jean Monnet disse “Rien n'est possible sans les hommes, rien n'est durable sans les institutions.” . De facto, é inegável que a UE desempenhou um papel determinante na sua existência. Somos um Estado Democrático e de Direito, também graças à União e às suas Instituições. Mas a União Europeia é isso mesmo, um modelo institucional que primordialmente não nos deixa cair nos mesmo horrores do passado. Sendo certo que eu e tantos outros, já somos gerações sem guerra ou contato remoto com ela, a verdade é que nada é definitivo. O grande desafio da nossa geração é manter a paz onde existe paz. E, para isso, temos de laborar todos os dias no respeito pela Democracia, pelos Direitos Humanos, por uma Sociedade cada vez mais próspera, justa e solidária. Em tempos de crise, facilmente nos esquecemos das lições do passado, mas é precisamente aqui que temos de nos esforçar ainda mais. Lutando pelas instituições, não pela sua destruição, mas pelo

A PAZ PERPÉTUA seu aperfeiçoamento. Já aqui o disse time and time again e hoje repito: isso implica um maior conhecimento do que se passa em Bruxelas e com os nossos parceiros europeus. Um esforço conjunto: nosso, os cidadãos, e dos nossos líderes políticos. A crise que vivemos é desses grandes momentos de teste e de mudança. Desses momentos em que temos de exigir mais de nós próprios e dos nossos líderes. Mas mantendo intacta a premissa: precisamos da Europa e a Europa precisa de nós. E mesmo externamente, num Mundo que redefine os seus equilíbrios de poder, que vê nascer novas potências regionais e uma Economia Mundial cada vez mais competitiva e onde proliferam ainda violações do Estado de Direito democrático ou dos Direitos Humanos, é inegável a importância de uma Europa forte e unida. É certo que a Europa Central só se uniu depois da queda do Muro de Berlim, há pouco mais de 20 anos. Tão certo quanto a guerra nos Balcãs ter terminado há cerca de 18 anos. Houve muitos erros e hesitações pelo caminho? Houve. Houve outros atores como a NATO ou os EUA? Também. O Mercado Interno ainda está por terminar? Está. O Euro e o sistema financeiro precisam de ser alterados? Precisam. Ainda temos conflitos às nossas portas que não conseguimos resolver? Temos. Mas vivemos sem guerra dentro de portas, reconciliados, mais prósperos e justos. E temos de continuar a lutar por isso. Ainda assim, há que dize-lo, sem rodeios: a União Europeia alcançou, nos últimos anos, feitos único na História da Humanidade e merece bem o Nobel da Paz.

Duas pequenas notas de rodapé para notar alguns acontecimentos internacionais muito importantes deste último mês. A primeira para os EUA que mantiveram Barack Obama na Presidência. Menos avassalador do que há 4 anos, Obama manteve a tradição de dois mandatos presidenciais. A segunda para outra grande potência: a China. No congresso do Partido Comunista Chinês, foi encontrado um novo líder: Xi Jinping. Bem assim como um novo Primeiro Ministro: Li Keqiang. Tudo envolto num clima de suspeitas de corrupção, depois de o New York Times ter trazido a público a fortuna de Wen Jiabao, o ainda Primeiro Ministro Chinês, com um património avaliado em 1,2 mil milhões de dólares. Como esta é a minha última crónica este ano, um desejo de Boas Festas a todos os leitores da ID! Como sempre, sugestões e comentários para Fausto.matos@facebook.com! ’ Jurista

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D I O G O V I E I R A D A S I LV A

CETERIS PARIBUS

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artindo do princípio que entendemos a definição de Bullying como “acto, entre pares, de violência, intencional e repetitivo, praticado por um indivíduo ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, executado dentro de uma relação desigual de poder” podemos então constatar que Portugal (enquanto Estado) e os Portugueses (enquanto Sociedade) sofrem Bullying dos seus pares ao que à Economia diz respeito. Ora vejamos o seguinte facto…Portugal emprestou à Grécia, englobado no chamado “pacote de ajuda” à Economia Grega (as aspas são intencionais), cerca de 2 mil milhões de euros, 2 biliões de euros segundo a métrica Brasileira ou Norte Americana, enquanto a Alemanha emprestou 22 mil milhões de euro (22 biliões BR e EUA). Até aqui tudo bem… Os países mais “ricos” emprestaram mais do que os países mais “pobres”. O problema é que esta obrigação a que Portugal foi sujeito tem custo muito mais elevado comparativamente com o assumido pela Alemanha, ao ponto de Portugal perder dinheiro por efetuar esta operação de “ajuda” enquanto a Alemanha tem ganhos estrondosos, para não dizer megalómanos. Isto tudo apesar de os juros cobrados à Grécia serem iguais para ambos, entre 5% a 6%. Esta minha afirmação é provada pelo simples facto de Portugal, para obter o capital necessário para contribuir para o dito “pacote de ajuda” à Grécia, ter de se “endividar” a juros de 7% a 8%, enquanto a Alemanha se irá financiar a juros que variam entre os 0,5% e os -0,5% (sim juros negativos, tal como referi no Ceteris Paribus do nú-

ECONOMIA

BULLYING ECONÓMICO mero anterior da Revista ID’). Estes diferenciais vão fazer com que Portugal, para “ajudar” a Grécia, irá obrigatoriamente perder dinheiro, enquanto a Alemanha irá ter ganhos fantásticos nesta operação de “ajuda” à Grécia. Este exemplo demonstra o Bullying que existe entre os Estados Europeus onde os mais “fortes e poderosos” se aproveitam dos mais fracos e pobres com o intuito de reforçar ainda mais o seu poder e soberania. Isto tudo com um disfarce de bondade, suposta solidariedade e preocupação Europeias. Agora falando do Bullying que os Portugueses sofrem entre si. O maior exemplo do Bullying económico entre pares na Sociedade Portuguesa é o novo escalonamento do IRS a ser aplicado em 2013. Segundo este até os rendimentos mais baixos passam a ser, obrigatoriamente, taxados a 14,5%, apesar de o escalão máximo não sofrer qualquer alteração. Digo isto, não por ser defensor de subida de impostos, pois estamos exatamente a viver um momento singular pelo que temos de ter em atenção quais as medidas extraordinárias que devemos adotar. Se uns acham escandaloso haver tributação que ultrapasse os 50%, eu acho mais escandaloso ainda cobrar um cêntimo que seja a quem vive do salário mínimo nacional, tal como os novos estalões irão fazer de agora em diante. Mas como o grave problema das contas públicas é o excesso de Despesa prometo, desde já, dedicar a minha próxima crónica a essa temática. Até 2013. ’ Economia

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DIREITO

HÉLDER PINTO BESSA

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ste mês, num espaço que tanto se tem dedicado aos afectos e aos comportamentos, o Bullying foi o tema escolhido. Por norma tento, sempre que possível, fazer uma leitura e abordagem jurídica ao tema que abordo, contudo, vou deixar que o nosso legislador se decida de uma vez por todas a carrear a discussão para a Sociedade. Posto isto e, na minha humilde perspectiva: O que é o Bullying? É uma violência cobarde, do mais forte contra o mais fraco na infância e na adolescência. Pelo que, o modesto objectivo desta pequena crónica é dar a conhecer, de uma forma sumária e como primeira abordagem a esta temática, o mundo do e dos recreios onde ele anda à solta. O Bullying é tipificado por diversos autores como sendo a “violência continuada, física ou mental; por um indivíduo ou grupo, contra outro indivíduo que não é capaz de se defender por si só”. Outros autores existem que o definem como sendo “uma forma de agressão que ocorre nas escolas, através de um agressor (bully) sobre outro (vítima), através de repetido comportamento agressivo”. Pelo que, o pratica aquele que pretende intimidar de forma continuada, explorando as fraquezas da vítima, de forma a dominá-la; sendo que esta violência pode ser: física ou verbal, emocional, racista ou sexual. Resumindo o Bullying é um abuso de poder, de jovens contra jovens. São intenções daquele que pratica o Bullying:

Agredir Assediar Desmoralizar Desvalorizar Depreciar Hostilizar Atormentar Perseguir Bater

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Oprimir Dominar Vexar Constranger Injuriar Intimidar Provocar Ameaçar Ofender

Atormentar Tiranizar Abusar Excluir Ridicularizar Fragilizar Estigmatizar Aterrorizar

E quais são as formas de o Bully levar a bom porto os seus objectivos? Entre muitas outras que poderiam ser aqui elencadas, podem ser apontadas a título de exemplo: lançar / espalhar boatos; recusar socializar-se com a vítima; intimidar as pessoas que querem socializar-se com a vítima; criticar / gozar a forma de vestir ou outras (etnia, religião, incapacidades…). Os primeiros estudos sobre bullying nas escolas, emergiram, (sabe-se lá porquê) dos países nórdicos, a partir dos anos 60, por Dan Olweus, na Noruega, e Heinz Leymann, na Suécia. Desses mesmos estudos extrai-se a ideia que: Promover a disciplina; criar boas práticas; estimular a tolerância e solidariedade; promover as bases da amizade; menos televisão, vídeo-jogos e actividades de computador; mais actividades enérgicas (desporto), são formas que, à primeira vista parecem subtraídas de sentido mas que ajudam no combate a este flagelo silencioso. Em relação à vítima devemos ter atenção aos seus sinais de alerta, para que seja possível uma rápida intervenção, pelo que importa observar se existe na vítima: Um rápido desinteresse pela escola; uma mudança súbita no percurso casa - escola; piores resultados escolares; a vítima tem ainda tendência a afastar-se da família e das actividades escolares; sai zangado ou deprimido das aulas; por vezes rouba dinheiro em casa, normalmente para dar ao Bully; fica triste, deprimido, zangado ou apavorado quando recebe uma chamada ou um e-mail; apresenta ainda comportamentos desadequados à sua personalidade; rasga ou perde roupa; usa linguagem depreciativa quando fala dos


colegas, deixa de falar das actividades diárias; tem marcas físicas e não as justifica de forma consciente e credível; tem indisposições (dores de cabeça, ataques de pânico, dificuldade em dormir ou dorme demais); está permanentemente exausto; brinca sozinho ou procura os adultos. E qual é o motivo deste silêncio? Tem vergonha; sente medo de retaliações; acha que maus-tratos fazem parte do crescimento; acredita que os adultos não estão isentos de culpas, pois também humilham e maltratam; aprende que não se fazem denúncias. Os “espectadores” são o 3.º grupo de protagonistas do “filme”; uma vez que funcionam como “claque de apoio”, incitando o bully, assistem passivos, encorajam ou são também agressores; pelo que, acaba por contagiar mesmo aqueles que nunca pensaram ter atitudes agressivas ou violentas. Temos de combater os actos cruéis de uma minoria; através da criação e do reforço de regras de convivência; através do aumento de vigilância dos adultos e jovens. As 3 melhores defesas contra o Bullying são: Auto-estima elevada; ter um bom amigo para partilhar os problemas e capacidade para pertencer a um grupo ou abandoná-lo quando esse grupo não corresponde aos seus ideais.

O que fazer para combater o bullying nas escolas?

Implementar política anti-bullying nas escolas, envolvendo professores, funcionários, alunos e pais; sensibilizar, informar, consciencializar, mobilizar toda a comunidade, e por fim RESPONSABILIZAR aquele que pratica o Bullying.

Devemos responsabilizar porque o BULLYING É CRIME E OS BULLIES SÃO CRIMINOSOS; uma vez que incorrem em crimes previstos no Código Penal tais como: Ofensas à Integridade Física Simples/ Grave, Art.º 143.º e 145.º do CP; Injúrias / Difamação, Art.º 180.º/ 181 CP; Ameaças, Art.º 153.º CP; Homicídio simples / qualificado Art.º 131.º e 132.º CP; Coacção, 154.º CP. No entanto os menores de 16 anos são inimputáveis, (Art.º 19º CP), o que não quer dizer que não sejam responsabilizados pelos seus comportamentos, uma vez que a prática de um facto qualificado como crime por um menor entre 12 e 16 anos de idade conduz à aplicação de uma medida tutelar educativa (Art.º 1.º da Lei Tutelar Educativa). Pelo que aos Bullies podem ser aplicados os seguintes tipos de medidas tutelares educativas previstas no Art.º 4.º da LTE: Admoestação; Privação do direito de conduzir ciclomotores ou privar de se habilitar a tal; Reparação ao ofendido; Realização de prestações económicas ou tarefas a favor da comunidade; Imposição de regras de conduta; Imposição de obrigações; e por fim as mais gravosas, Frequência de programas formativos; Acompanhamento educativo; e pode chegar ao Internamento em centro educativo, que pode ser em regime aberto, em regime semiaberto ou em regime fechado. Resta concluir que, o Bullying é uma violência cobarde, do mais forte contra o mais fraco na infância e na adolescência, com punição prevista na Lei e que cabe a todos nós o seu combate, porque pode provocar danos irreversíveis nas vítimas e nos próprios Bullies. ’ Lic. em Direito pela Universidade do Minho, Pós-graduado em Direito Judiciário

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PSICOLOGIA

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CARINA FERNANDES

A VIOLÊNCIA QUE NINGUÉM NOTA. ATÉ QUANDO?

bullying tem vindo a ganhar peso na lista de preocupações dos profissionais da Saúde e da Educação graças à sua elevada e crescente incidência no contexto escolar e social. É encarado como um problema de Saúde Pública mundial do qual se anteveem sérias consequências a curto prazo (como desajustamento psicológico, problemas psicossomáticos, fraco rendimento escolar, absentismo e, até, morte prematura) e, a longo prazo, (incalculáveis, na minha opinião). Afeta a Saúde física e psicológica não só dos agressores e das vítimas, mas também das famílias e das comunidades em que se inserem. Em Portugal, prevê-se que tenha impacto principalmente na violência e na delinquência juvenil e esta evidência levou o Plano Nacional de Saúde Escolar a incluir o bullying numa área de prevenção e intervenção prioritárias. Apesar de ser um tema muito debatido atualmente, a operacionalização deste conceito e dos sinais que as suas vítimas demonstram é fundamental para uma verdadeira e consciente prevenção. É por isso que passo a defini-lo. O bullying é um comportamento de intimidação, frequente e repetido no tempo e no espaço. É motivado pela perceção das desigualdades de poder entre o agressor e a vítima e resulta em práticas violentas (físicas, verbais, psicológicas e sexuais) e intencionais, exercidas por um indivíduo ou grupo a outro(s), nas quais o agressor assume uma posição de poder, deixando a vítima sem capacidade para se defender devido à sua perceção de inferioridade. Esta violência pode ocorrer de forma direta (agressões) ou indireta (disseminação de rumores que visam a discriminação e a exclusão da vítima). De acordo com a literatura científica sobre este tema, o bullying é um processo que conta com vários intervenientes que desempenham diferentes papéis: o “agressor”; a “vítima”; o “seguidor”, que apoia o agressor; o “defensor”, que apoia a vítima e o “espetador”, que assiste à agressão sem tomar partidos. As vítimas são classificadas como “passivas” ou “provocadoras”, sendo as primeiras solitárias, ansiosas e sensíveis e as segundas impulsivas e com défices nas competências sociais. Grande parte dos casos de bullying não é percebida ou é mantida em segredo por um período alargado de tempo, o que dificulta a prevenção e a intervenção. Desta forma, é urgente perceber quais são os principais sinais que nos podem ajudar a reconhecer uma

vítima. Vou, agora, destacar alguns deles: ter medo de ir para a escola (demonstrado por constantes desculpas para faltar); chegar a casa com pertences ou roupas desaparecidas ou destruídas; não receber visitas ou não falar sobre os amigos ou colegas da escola; roubar dinheiro aos pais sem qualquer explicação (o que pode indicar que estão a ser vítimas de extorsão); chegar a casa com fome (que pode significar roubo do seu lanche ou de dinheiro); evitar o computador (o que pode significar que a criança está a ser vítima de cyberbullying); sintomas ou sinais somáticos causados por ansiedade intensa (como dores de cabeça e de estômago, insónias, náuseas, perda de apetite e de peso, irritabilidade ou depressão, choro durante o sono ou pesadelos; cortes na pele inexplicáveis, contusões ou lacerações); incapacidade de concentração nas tarefas da escola; queda abrupta no rendimento académico; problemas de comportamento repentinos na escola e em casa; afastamento e isolamento familiar e dos pares; aproximação repentina e forçada dos professores durante os intervalos e pausas; dificuldades em falar durante as aulas quando os professores solicitam, mostrando ansiedade e insegurança; querer mudar o percurso para ir e voltar da escola; mudanças repentinas e inexplicáveis dos traços de personalidade (como mentir, roubar, ter ataques de raiva, ausência de diversão) e, finalmente, recusar-se a falar sobre a escola, bem como das atividades lá realizadas. Perante tantos sinais é difícil perceber o motivo pelos quais a maioria dos casos de bullying permanece despercebida. A literatura explica este fenómeno pelo facto de que tanto os pais como os professores querem acreditar que sabem tudo o que se passa com os seus filhos ou alunos, mesmo aquilo que acontece sem a supervisão deles. Mas a verdade é que os pais e professores só parecem conseguir ver aquilo que querem encontrar e, por isso, todos estes sinais podem, de facto, passar despercebidos. É, então, fundamental ter estes sinais e sintomas em mente em todas as circunstâncias e ponderá-los, mesmo quando parecem, à primeira vista, descontextualizados. Paralelamente é urgente combater a constante desresponsabilização sobre estes casos. É necessário que percebamos que proteger as vítimas de bullying não é apenas uma responsabilidade dos pais e professores, mas sim de todos aqueles que as rodeiam. Caso contrário, não poderemos nós, ser considerados intervenientes do bullying, como espetadores? ’ Psicóloga

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B R U N O S I LV A

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O BULLY: JULGÁ-LO OU AJUDÁ-LO?

bullying não é um fenómeno social recente, mas é um do qual temos vindo a falar com mais frequência nos últimos anos. Lentamente, as atenções foram sendo voltadas para esta forma de agressão, predominante nos meios escolares e começam a ser tomadas medidas várias para prevenir, divulgar, informar e sensibilizar comunidades estudantis e pais. Divulgam-se estatísticas, onde se somam números preocupantes de crianças vitimizadas, crianças que optam pelo suicídio para lidar com a dor. E apontam-se dedos. Tenta-se compreender quem deve ser responsabilizado, clamando-se frequentemente por castigos para os agressores (os bullies), ou mesmo a expulsão. Mas…será esta a solução? Sabemos que existem várias formas de bullying, formas de agressão física e psicológica, sendo que ambas podem deixar fortes cicatrizes e “cicatrizes” no agredido. Os motivos que sustêm tais agressões variam, segundo os agressores, muitas vezes não sendo referido qualquer motivo em particular. “Bati-lhe porque ele me irrita”, “Fiz-lhe uma rasteira porque não gosto da cara dele”. “Chamei-lhe nomes porque ele é esquisito”. A diferença aparece como um dos principais motivos que leva muitos “pequenos agressores” a querer denegrir a imagem de outro colega e a ser violentos com este, cultivando-se desde cedo uma “ditadura das normas e dos costumes”, em que a diferença é muitas vezes o suficiente para que um grupo de jovens agrida outro/s. Mas…porquê? Retorno então à pergunta que lancei no primeiro parágrafo. Pretendo que o leitor reflita comigo, numa menos popular perspetiva, uma que muitas vezes pomos de lado; talvez por muitas vezes essa nova visão nos levar a ponderar sobre o nosso papel enquanto educadores, e não nos agradar reconhecer que poderemos vir a ter “culpa” na situação. Serão os bullies um reflexo de problemas sociais e familiares? Muitas vezes, nas atitudes que achamos mais insignificantes, podemos ser agressores sem

nos darmos conta. Não nos apercebemos como as crianças e jovens absorbem tão prontamente os nossos comportamentos, podendo muitas vezes sermos nós os principais cultivadores da violência. Pense na quantidade de vezes que criticou um colega de trabalho, que olhou de esguelha para alguém na rua que se vestia e agia de forma diferente, que buzinou para outro condutor no trânsito ou mesmo o insultou. São comportamentos que descredibilizamos, que desproblematizamos por entendermos serem tão insignificantes. Desta forma podemos estar a levar a que as crianças os leiam da mesma forma, traduzindo comportamentos e pensamentos violentos como formas comuns e aceites de agir e de pensar. Não proponho com isto que deixemos de apoiar os jovens agredidos. É necessário dar-lhes força e, acima de tudo, impedir que as situações de violência a que estão expostos se mantenham! Muitas vezes esquecemo-nos que também depende de nós impedir estas situações, e rapidamente delegamos nas crianças e jovens a responsabilidade e a autoridade para lidarem com estes problemas sozinhos (“Bate-lhe também!” ou “Não me vou meter no assunto, tens que te defender sozinho/a”), acreditando que se trata apenas de uma fase passageira. Muitas vezes esquecemo-nos que é necessário fazer mais. Urge procurarmos as fontes e fechar a torneira da violência. Urge arregaçar as mangas e perceber que as pessoas podem adaptar-se a contextos de violência e usá-la como forma de resposta às situações do dia-a-dia e que devemos impedir isso. Urge olharmos para nós próprios, enquanto pais e mães, educadores e cidadãos e vermos a situação como um todo e, tomar medidas, para mais do que lidar com as consequências do bullying, perceber como pode ser travado definitivamente. Afinal, se vamos fazer alguma coisa, que tal fazê-la bem, não concorda? ’ Psicólogo

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SEXUALIDADES, AFECTOS

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ra um menino-diferente… Diferente dos outros meninos, todos iguais entre si. Era um menino que sabia olhar, como todos os outros mas que, muito para lá disso, sabia ver, o que o tornava diferente. Dotado de extraordinária sensibilidade, chorava com o que os outros não choravam, ria com o que os outros não riam. E gostava do que os outros não gostavam, o que o tornava diferente de todos os outros meninos, iguais entre si. E ser diferente tem, sempre, um preço! Tinha nascido numa aldeia, pequenina, muito para lá de longe. Na aldeia onde tinha nascido, rapidamente se tinha habituado a todos conhecer, sem que ninguém, na realidade, o conhecesse. Para não ser apontado, gozado, molestado, fez sua a máscara da vulgaridade, de que todos somos feitos e nos torna anónimos na espuma dos dias. E assim foi crescendo, por fora igual a tantos outros, por dentro diferente dos outros todos. O tempo foi continuando a passar e o menino-diferente continuando a crescer, sonhando com o momento em que partiria para a Grande Cidade e onde, estava certo, seria feliz, livre de todas as máscaras. Chegou então, para felicidade sua, o momento todas as noites sonhado…o momento de partir. Chegado à Grande Cidade, ao cenário que sempre povoara o seu imaginário de menino-diferente, achou-se, enfim, livre e deitou fora a máscara de menino-igual já convencido e feliz por, finalmente, poder ser ele próprio… Pobre tonto! Amargo erro! Não sabia ele que a Grande Cidade, vendedora perversa de falsas ilusões, era mais castigadora do que a sua aldeia, agora tão distante… Na Grande Cidade conheceu rostos, mentes, corpos, uma massa anónima de autómatos, que o desiludiram, magoaram, fizeram chorar, como ninguém. Colecionou desilusões e, na solidão da noite, muitas vezes gritou, rasgado de raiva, contra a insensibilidade do animal dito Homem. E assim continuou a crescer, incompreendido, usado, magoado, só… Até que um dia, farto de sofrer, tratando a dor por tu e tendo como única companhia a solidão, resolveu gritar…

MANUEL DAMAS

Basta! Era tempo de desistir, decidiu o menino-Homem-diferente. Arrancou todas as máscaras, as antigas e as recentes e, lançando-as ao chão, já desnudo de falsas aparências, correu sem destino. Cansado, parou e encontrou-se em frente ao mar, iluminado pela Lua, sozinho na noite escura, mais só do que nunca, farto da dor, sinónimo de si. Era o momento de desistir, de vez! Deixou-se, por fim, cair e chorou como nunca tinha chorado, lágrimas doridas, sofridas, sangradas, silenciosas, sentindo um enorme frio interior e uma infindável fome de paz, que o queimava. Estava farto de dar sem receber, de ser usado para rápidos momentos de prazer, logo negados. Corpos sem nome, sem rosto, que o usavam para seu próprio prazer e rapidamente o deixavam para trás, qual lixo. De tão desfeito que estava, não sentiu que alguém chegava, em silêncio. De repente, sentiu uma mão, que pousava no seu ombro. Virou-se, então, lentamente. Primeiro olhou… Depois viu… E, por fim, sorriu. Os olhares cruzaram-se, entrelaçaram-se e, pela primeira vez na vida, não teve medo. O outro, devagar, soergueu-o, deitou-o no colo com carinho e abraçou-o, protetor. Lentamente as lágrimas secaram, a dor deixou de queimar e sentiu-se invadido por uma doce sensação, meiga e tranquila. Ao fim de tantos anos, sorriu embalado…estava, finalmente, em Paz! Em conjunto, Paz e Dor, levantaram voo, esvoaçaram dançando e desapareceram pelo cone do luar. Com o nascer do dia, apenas ficou no chão, como marca, uma lágrima que, rapidamente, os pés apressados da Modernidade, calcaram, na sua corrida inglória contra o tempo. Agora, algures, o menino-Homem-diferente, está feliz por, finalmente, ter conseguido Paz. (Post-Scriptum – esta foi a forma, em conto, de tentar cumprir o desafio ou seja, de escrever sobre o Bullying) ’ Médico e Sexólogo

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MÁSCARAS


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HISTÓRIA POEIRAS & ERAS

B

ullying é um termo recente nos dias correntes, quase que um neologismo do século XXI. É óbvio que o termo tal como é definido hoje em dia foi prática relativamente comum ao longo da História, porém, como definir a linha entre bullying, e conceitos como discriminação, preconceito ou tortura? Uma vez que não me cabe a mim discorrer sobre tal problemática, irei debruçar-me sobre uma possível forma (extrema, entenda-se) de bullying…a tortura. O dicionário diz-nos que tortura é qualquer acto pelo qual dores ou sofrimento, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa, de modo a obter dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões. Na maioria da história registada, a pena de morte envolvia um acto deliberadamente doloroso, tal como empalamento ou crucificação, práticas que se mantiveram até ao desenvolvimento do Humanismo do século XVII. Na Antiguidade Clássica a tortura era utilizada para fins de interrogatório e até ao século II d.C era utilizada somente com escravos, dirigindo-se às classes baixas a partir desta data. O testemunho de um escravo só era admissível se este fosse torturado, partindo-se do pressuposto de que um escravo não diria a verdade de livre vontade. No entanto convirá salientar que hoje se considera que à época estas práticas eram inseridas no sistema judicial. Na época medieval a tortura era um meio legítimo para se extrair confissões ou detalhes e informações de um crime, no entanto apenas era permitida se já existissem um certo número de provas contra o acusado. Na Inquisição Medieval a tortura foi autorizada em 1252 com uma bula papal e proibida em 1816 com nova bula. Exceptuando execuções, as práticas de tortura realizavam-se em segredo em masmorras subterrâneas. Apesar das cortes seculares serem impiedosas, a tortura levada a cabo por frades sobre heréticos era ainda mais violenta.

A Roda

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E U G É N I O G I E S TA

Durante a época moderna intensificou-se a caça às bruxas, dando azo a novas práticas de tortura de forma a obter mais e mais confissões. Com a publicação da obra “Malleus Maleficarum”, um sem número de instruções eram dadas sobre como lidar com bruxas e quais as medidas a tomar, passando normalmente por torturas extremas. Em Inglaterra, o julgamento por júri desenvolveu uma liberdade considerável na avaliação de provas e condenação baseado em provas circunstanciais e tornando a tortura desnecessária como forma de extorsão. No entanto na corte dos Tudors e dos Stuarts a Torre de Londres tornou-se sinónimo de um lugar a evitar, onde pessoas eram torturadas e muitas vezes executadas. À medida que o mundo proíbia qualquer forma de tortura, esta surge muitas vezes associada a crimes de guerra e crimes contra a Humanidade, sendo punível por lei, no entanto, formas de tortura não oficial ainda se perpetuam, se falarmos, por exemplo, nas polícias secretas. Quanto a métodos e instrumentos, estes variam e evoluíram tão tortuosamente quanto se possa imaginar, havendo, a título de exemplo, pessoas na época moderna que eram pagas apenas para projectar novos instrumentos de tortura. Um método bastante popular na China até ao início do século XX consistia em prender o torturado em hasta pública e, após se vendar ou retirar os globos oculares, de forma a aumentar o terror psicológico do desconhecido, vários pequenos cortes com facas afiadas eram infligidos no corpo, consistindo geralmente em golpes nos braços, pernas e tronco, levando à amputação dos membros e posterior decapitação. Para além da tortura, este método servia não só como pena capital mas também como forma de humilhação pública. Empalamento foi outro método largamente divulgado, tornando conhecido o Imperador Vlad III, o mítico conde Drácula. O empalado era perfurado por uma estaca longa, perfuração essa que poderia ocorrer nas laterais do corpo, pelo recto ou pela boca. Após um empalamento parcial


a vítima era levantada no ar e a gravidade fazia o resto, provocando o deslize do corpo, levando a uma morte dolorosa que poderia durar vários dias. A roda era outro instrumento, utilizado em grande escala na Idade Média. Aqui a vítima era amarrada a uma roda de carruagem, os membros esticados ao longo dos raios sobre duas vigas de madeira. Depois da roda ser posta num lento movimento de rotação, o carrasco batia, geralmente com um martelo, no corpo da vítima, partindo-lhe os ossos. Este processo era repetido várias vezes em cada membro. Assim que os ossos estavam partidos a vítima era deixada na roda para morrer, o que poderia durar horas ou mesmo dias, até o choque ou a desidratação provocar a morte. Na Alemanha este castigo foi abolido apenas em 1827. O desmembramento era outra prática comum e amplamente utilizada, no qual os membros do torturado eram presos a correntes que estavam, por sua vez, presas a mecanismos de movimentos opostos. Assim que estes mecanismos eram postos em acção, as correntes puxavam os membros para cada lado, eventualmente partindo os ossos e arrancando esses mesmos membros. Um dos instrumentos mais míticos e talvez um que raramente foi utilizado, se é que o foi, é a chamada Dama de Nuremberga, uma espécie de caixão com pontas de ferro afiadas onde supostamente se trancava a vítima e se fechava a caixa de ferro, fazendo com que as pontas fossem penetrando lentamente na carne. Não me querendo alargar muito mais sobre o assunto, resta-me deixar à reflexão a perversidade da mente humana, quer do criador, quer do executor. Somos mesmo capazes de tais atrocidades? Até que nível de tortuosidade poderá ir a mente humana? E até que ponto a tortura não poderá ser uma forma de bullying? Ou será o bullying uma forma de tortura psicológica? Esta é uma pequena amostra daquilo que as nossas sinapses podem realizar, dependendo do grau de sanidade de cada um. E de humanidade também.

Conde Drácula

Empalamento Slow slicing

’ História

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ID’ENTIDADES GRANDE ENTREVISTA Quando o tema da ID’ nº8 é o “It Gets Better Project”, o projecto mundial de esperança para os Jovens LGBT vítimas de Bullying, seria mandatório conversar com Diogo Vieira da Silva, um dos Coordenadores do Projecto em língua portuguesa “Tudo Vai Melhorar”, afiliado oficial do “It Gets Better”.

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ID’ - Diogo, tu és um dos Coordenadores do Projeto “Tudo Vai Melhorar”. Queres explicar aos nossos leitores que projeto é este? DVS- O Projecto “Tudo Vai Melhorar” foi criado para mostrar aos jovens LGBT os níveis de felicidade, potencial e positivismo que as suas vidas podem alcançar, se conseguirem ultrapassar as dificuldades da Adolescência. O que realmente este projecto pretende é demonstrar que o Futuro pode ser tudo aquilo que imaginamos de positivo e que, apesar de algumas dificuldades, a orientação sexual não é impedimento de nada na nossa vida, seja a nível Profissional, Familiar ou Afectivo. É um projeto de esperança e de luta contra a discriminação. Para isso, incentivamos as pessoas, independentemente do género, da orientação sexual, da idade, da raça, da profissão, enfim, todas as pessoas, a criarem vídeos de esperança para os jovens LGBT que se sentem mais isolados, demonstrando, quer pelo seu exemplo pessoal, quer pelo exemplo de alguém que conhecem e ajudaram, que as coisas realmente

melhoram e que no Futuro “Tudo Vai Melhorar”. A grande maioria dos Adolescentes e Jovens não tem contacto com nenhum adulto ou mentor assumidamente homossexual nas suas vidas, que lhes possa servir de exemplo e, por isso, não conseguem imaginar o que o Futuro lhes pode reservar. Acima de tudo, não têm contacto com adultos que as saibam, possam ou queiram, pelo menos, ouvir. Em variadas situações, Crianças e Adolescentes LGBT, são gozados, ridicularizados, discriminados, apontados ou, em casos mais extremos, perseguidos e agredidos, simplesmente por serem eles mesmos e, muitas vezes nem é pela sua orientação sexual, ainda, mas apenas pelo que os outros suspeitam que eles sejam. Pretendemos consciencializar a Sociedade para esta realidade. Fazer as pessoas perceberem que a discriminação e o bullying não são aceitáveis, nem podem ser encarados como um ritual de passagem que todos têm de enfrentar em algum momento das suas vidas. ID’-Pelo que nos estás a dizer, o “Tudo Vai Melhorar” é um projeto de esperança para os jovens LGBT, vítimas de Bullying. Mas o projeto não é de iniciativa portuguesa. Onde e com quem nasceu o “Tudo Vai Melhorar”? DVS- O Projecto “Tudo Vai Melhorar” é o afiliado oficial em Português do “It Gets Better Project”. Este projecto nasceu em 2010, nos Estados Unidos, após ter sido noticiado o suicídio de mais dois jovens LGBT vítimas de bullying que acharam que a morte era a única solução para os seus problemas. Esses jovens foram Justin Aaberg e Billy Lucas. Na sequência destes atos desesperados de suicídio de jovens, em Setembro de 2010 o colunista e escritor Dan Savage fez um vídeo, que colocou no YouTube, juntamente com o seu companheiro, Terry Miller, no sentido de tentar transmitir esperança aos jovens LGBT vítimas de violência e com o objetivo de tentar demonstrar que era possível continuar. Que o futuro


lhes reservava coisas fantásticas e que “Tudo Vai Melhorar” – “It Gets Better”. Rapidamente muita gente seguiu-lhes o exemplo e hoje o “It Gets Better” tornou-se um movimento de solidariedade global. Actualmente, mais de 50.000 pessoas criaram vídeos de apoio, que já foram vistos mais de 50 milhões de vezes. Assim surgiu o “It Gets Better Project”! ID’-Mas o “It Gets Better” já não está, apenas, nos EUA. A que países já chegou actualmente? DVS-Na realidade o “It Gets Better” rapidamente ultrapassou os EUA alargando-se a todo o Mundo. Atualmente existem 7 afiliados oficiais a trabalhar em todo o Mundo, especificamente no Chile, Porto Rico, Austrália, Dinamarca, Suécia, Suíça e… em Portugal! Para além deste afiliados formais e oficiais, existem contributos de Países tão diversos como o Canadá, a Inglaterra, a Finlândia, a África do Sul, o Peru, a Malásia, a Coreia do Sul, apenas para citar alguns exemplos, entre muitos outros. ID’-Está previsto o lançamento, para breve, do Projecto em mais alguns países? DVS- Para 2013 já estão confirmados mais 3 novos afiliados. São eles a Itália, a Espanha e a Jamaica. Mas estamos, ainda, no início do ano. É muito provável que durante 2013 mais países se decidam juntar de forma formal e oficial. A problemática do Bullying é uma problemática mundial... ID’-O que significa que este é, já, um projecto mundial, à escala global. Trata-se, efectivamente, de criar mensagens de esperança para os jovens LGBT, vítimas de Bullying. Mas as mensagens que têm chegado são, apenas, de pessoas anónimas ou também de pessoas conhecidas?

DVS- Este é um projecto feito para todas e todos… Pode parecer simplista, mas é verdade. Quer sejam ONG’s, associações, movimentos sociais, escolas, serviços públicos ou privados. Pessoas anónimas ou figuras públicas… Todas e todos são bem-vindos. Acima de tudo, todos e todas são precisos e preciosos. Todas e todos são necessários. Todos e todas fazem falta. Obviamente que o projecto pretende conseguir, também, o contributo daqueles e daquelas que são considerados “modelos” da Sociedade ou que exercem funções de responsabilidade. Falamos de lideres de opinião. Mas convém dizer que, quando se trata de dar exemplo e apoio aos jovens LGBT vítimas de bullying e de discriminação, maioritariamente são os vídeos das pessoas anónimas que têm tido mais sucesso, porque são os mais reais. Em todos os afiliados e no projecto “mãe” nos Estados Unidos verifica-se que os vídeos que se tornam mais rapidamente virais e com mais “sucesso” são os de pessoas anónimas que deram um contributo sincero, natural, de proximidade, de experiência, enfim, de como superaram um momento de dificuldade e de como, no fim, tudo melhorou.

peu, apenas para citar alguns dos nomes mais sonantes da política mundial. Mas também muitos nomes conhecidos das Artes e do Espectáculo decidiram juntar-se. Nomes como Lady Gaga, Katy Perry, Christina Aguilera, Gloria Estefan, Maroon 5, Nicki Minaj, Bono, Ke$ha, Ellen DeGeneres, Justin Bieber, Adam Lambert, Janet Jackson, Larry King. Também já participaram nomes da Literatura como o Prémio Pulitzer Michael Cunningham e o Prémio Grammy David Sedaris. Inclusivamente decidiram juntar-se a todo este movimento de solidariedade mundial os elencos de séries televisivas como “Glee”, “Dr. House”, “Chicago” e “Modern Family”. Até mesmo Orquestras mundialmente conhecidas já contribuíram com a sua mensagem de esperança. Estou-me a lembrar, por exemplo, do Coro Infantil da Columbia. Inclusive Grupos de Teatro de reconhecimento mundial como os Actores da Broadway.

ID’-Há uma grande contingente de políticos que já participou, mas também outras forças vivas da Sociedade. Cita-nos alguns nomes que exemplifiquem esta abrangência em termos de Sociedade global.

ID’-Aconteceu, inclusive e de forma surpreendente, que empresas mundialmente conhecidas tivessem feito questão de produzir mensagens com os seus próprios trabalhadores. E estamos a falar de empresas globalmente conceituadas. Podes dar-nos alguns nomes emblemáticos da Economia mundial?

DVS- Na área politica temos entre aqueles que já contribuíram, nomes incontornáveis como o Presidente dos EUA, Barack Obama, o Vice-Presidente Biden, a Secretária de Estado Hillary Clinton, o Primeiro Ministro do Canadá, o Primeiro Ministro de Inglaterra, David Cameron, a Ministra para a Igualdade inglesa, o Primeiro Ministro da Austrália, o Governador do Hawaii, os Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Justiça da Finlândia, Alexander Stubb e Tuija Brax, o Vice Presidente do Peru, Carlos Bruce, a Vice Presidente da Comissão Europeia, Neelie Kroes, muitos Senadores Americanos e vários Deputados do Parlamento Euro-

DVS- Também neste sector o projecto tem conseguido contributos importantes e significativos. Associaram-se ao “It Gets Better Project” empresas como a Apple, a Bayer, a Cisco, o Credit Suisse, a Ernst&Young, o Facebook, a General Motors, a Glaxo, a Google, a Microsoft, a Sony, a Yahoo ou a Visa. Até a Disney…Obviamente que a grande maioria são dos Estados Unidos, mas não podemos esquecer que o projecto teve início na América. Em Portugal temos esperança que os grandes grupos económicos se decidam juntar a nós nesta mensagem global, neste ato de solidariedade mundial. Houve, já, uma empresa de

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ID’-Mas também a área hospitalar… DVS- Sim… É verdade! São exemplos emblemáticos o Hospital Geral de São Francisco e o Hospital Pediátrico de Boston. Assim como o Hospital Psiquiátrico de Chicago, entre outros estabelecimentos de Saúde. ID’-E, inclusivamente, as forças policiais quiseram-se juntar, de forma oficial… DVS- Na realidade houve um movimento mundial de consciencialização social e de cidadania. Efectivamente houve, já, corporações policiais que quiseram aderir, em termos institucionais. São exemplo a citar as Polícias de San Francisco, de Seattle, de Portland, de Austin e, inclusive, a Polícia Montada do Canadá.

sucesso de Braga, a Seegno, uma empresa de informática, que se tornou a primeira empresa portuguesa a tornar-se parceira do “Tudo Vai Melhorar”. ID’-Mas o meio académico e muito rapidamente se quis juntar, também, a todo este movimento global… DVS- Exatamente! Universidades de prestígio como Columbia, Oxford, Cornell, Washington, Glasgow, Heidelberg, Princeton, Yale, a UCLA ou até o MIT já realizaram vídeos contra a discriminação dos jovens LGBT participando no “It Gets Better”. Mas o meio universitário quis ir mais longe, criando e divulgando políticas pedagógicas próprias e personalizadas contra o bullying nas suas instituições.

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ID’-E no Desporto? Há nomes sonantes do Desporto que decidiram aderir? DVS- Sim. Também a área do Desporto tem vindo a aderir. Participaram, já, as equipas dos Giants e dos Dodgers. Um nome de relevância mundial que fez questão de se juntar a este projeto mundial de esperança foi Sergio Martinez, Campeão Mundial de Boxe. Mas também Ben Cohen, o conhecido jogador de Rugby.

sidades do Pais. Felizmente tive a oportunidade de assistir à maioria das conferências realizadas. No fim fazíamos sempre um pequeno debate interno sobre como tinha corrido e quais os pontos mais difíceis de abordar ou os que eram mais mal geridos pelas instituições. Infelizmente e de forma quase sistemática, chegámos à conclusão que as questões LGBT eram as que criavam, habitualmente, mais incómodo. Nos casos relatados pelas escolas, os mais difíceis de combater eram a discriminação que os alunos sofriam por serem LGBT ou simplesmente por serem conotados como tal… Para além disso, quando já trabalhamos estas questões há vários anos conseguimos, de forma quase sensorial, “sentir” quais os estudantes que ficam mais atentos ou até mesmo nervosos quando são abordadas as questões LGBT. Isto era demonstrativo de duas coisas…ou que é um tema que lhes interessa por ser pouco abordado na Escola, ou porque conhece alguém ou é LGBT e, por isso, fica interessado em poder ver alguém que aborda a questão sem preconceitos e de forma saudável. Após constatar isto percebi que tínhamos de tentar dar resposta a estes jovens. Como já conhecia o “It Gets Better Project” e ia várias vezes ao seu website, vi que o projeto já tinha afiliados em vários países do Mundo, na altura no Chile, na Dinamarca, na Suécia e na Austrália. Foi quando tive a ideia “maluca” de sugerir enviarmos um e-mail a dar a conhecer a CASA e a candidatarmo-nos à criação do “It Gets Better Project” em Portugal. Depois de um demorado processo de construção da candidatura, mantido em sigilo e após diversas entrevistas realizadas por Skype para os EUA, a nossa candidatura tornou-se oficial e, depois, foi aceite por unanimidade. Assim se iniciou todo o processo que iria resultar na criação do “Tudo Vai Melhorar” e que terminou com a assinatura do documento oficial internacional de afiliação.

ID’-E como chegámos à versão portuguesa?

ID’-Mas a candidatura foi para Portugal ou foi mais abrangente?

DVS- É engraçado pensar em todo o processo agora, de forma mais “distante”. A ideia surgiu no início de 2012, quando na Direção da CASA se compilaram os dados estatísticos referentes às actividades realizadas ao ano de 2011 e percebemos que tínhamos realizado, só nesse ano, 64 Conferências em diversas Escolas e Univer-

DVS- Foi mais abrangente… O Projecto “Tudo Vai Melhorar” é o responsável por toda a Língua Portuguesa, o que inclui todos os Países da CPLP, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. ID’-Uma vez que se trata de um projeto para toda a língua portuguesa e estão a trabalhar e bem em Portugal, está já programado o


trabalho em outros países de língua oficial portuguesa? DVS- Exatamente! Já temos uma equipa de voluntários a trabalhar no Brasil e estamos, neste momento, a construir uma equipa em Angola e outra em Moçambique. De futuro queremos chegar a Cabo Verde e a Timor. Mas tudo isto são processos demorados e complicados. As exigências são muitas, como tem que ser, até porque este é um projecto mundial. Por isso os passos a dar têm que o ser de forma muito pensada e cautelosa. ID’-Pelo que me dizes, o “Tudo Vai Melhorar” é o afiliado português do “It Gets Better Project”. Como ocorreu a candidatura? Foi um processo complicado? DVS- Não se pode dizer que tenha sido“complicado”, mas sim “metódico e demorado”, uma vez que tivemos de explicar à Direção do “It Gets Better Project” quem nós eramos, o que fazíamos e como e, acima de tudo, o que pretendíamos e a consistência e credibilidade que possuímos. Toda a candidatura durou quase 6 meses e tivemos de demonstrar quais as atividades da CASA, as potencialidades das mesmas, que tipo de respostas nós dávamos, quais as nossas intenções de futuro e como iriamos assegurar a prossecução de todo o trabalho. De Março a Agosto foi uma troca semanal de e-mails, documentos, chamadas telefónicas, conversas por Skype, até conseguirmos concluir todo o processo formal de candidatura. Finalmente, a 31 de Agosto, no meu aniversário (risos), assinámos o contrato formal e oficial, celebrado entre a “Iola Foundation”, que detém o “It Gets Better Project” e a CASA-Centro Avançado de Sexualidades e Afectos, que é a detentora portuguesa do “Tudo Vai Melhorar”, através dos seus Presidente e Vice Presidente da Direção. Assim nasceu o “Tudo Vai Melhorar”… ID’-A CASA foi visitada, recentemente, pelos Directores Internacionais do “It Gets Better”, Elliot Rozenberg e Seth Levy. Qual foi a intenção deles em visitar o afiliado português? DVS- A intenção foi concreta e transparente. Confirmar se tudo o que tínhamos afirmado via

e-mail e documental era verídico e conhecer a CASA, enquanto instituição, a sua Direcção e alguns voluntários. ID’-Qual a reação deles perante a CASA? DVS- Estupefação… É a palavra que descreve a reação. Obviamente que nós relatámos as dificuldades que estávamos e estamos a passar, quer enquanto Associação, quer a nível do Pais, a resseção económica que Portugal atravessa e que prejudica e muito a subsistência da CASA enquanto ONG. O constatar do imenso trabalho diário, contínuo e permanente que realizamos apenas com voluntariado foi motivo de espanto, de admiração e de reconhecimento que eles fizeram questão de oficializar. Sou suspeito em dizer isto, mas penso que assistiram ao que de melhor se faz em Portugal a nível do Associativismo. ID’-Sei, também, que os Directores Internacionais do It Gets Better Project, fizeram questão de demonstrar aos amigos portugueses quão satisfeitos tinham ficado com o projecto português. Que surpresa foi essa? DVS- Foi um miminho. Para além de uma extensa carta em que, de forma detalhada, elogiam extensivamente a CASA e toda as suas actividades, ofereceram-nos dois exemplares do livro do “It Gets Better Project” que relata as principais mensagens vídeo recolhidas, autografado pelos seus autores, Dan Savage e Terry Miller. ID’-A intervenção do “Tudo Vai Melhorar” tem por base o suporte digital e as redes sociais. Isso também acontece no caso portu-

guês? DVS- À semelhança do “It Gets Better Project”, o “Tudo Vai Melhorar” pretende chegar ao maior número de Adolescentes e Jovens. Para tal utiliza a internet e todos os instrumentos disponíveis para alcançar esse objetivo. Temos o nosso website oficial, o www. tudovaimelhorar.org, onde podem ter acesso a todos os contributos já enviados para o “Tudo Vai Melhorar”. Mas não apenas aos vídeos. O Projecto tem um sector de extraordinária importância, que são os materiais de apoio para os Jovens LGBT, para os Amigos ou Companheiros do Jovens LGBT, para os Pais e Mães e para os Professores. Há, ainda, um enorme conjunto de informação em que disponibilizamos os contactos das associações que prestam apoio no terreno e que podem ajudar. Também

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no website temos toda a informação acerca do modo como uma pessoa pode fazer parte do movimento, quer seja enviando o seu contributo em vídeo ou, se não tiver câmara, enviando, por escrito, a sua história. Associado a esta plataforma “mãe” o “Tudo Vai Melhorar está presente nas mais diversas redes sociais… o Facebook, o Twitter, o Google+, o YouTube e o Tumblr. ID’-Sei que houve uma surpresa em termos de construção do site do “Tudo Vai Melhorar”. Queres contar o que aconteceu, para que quem nos lê, possa perceber que, por vezes, surgem solidariedades de onde menos se espera? DVS- É verdade! Foi mais uma daquelas ideias que surgiram no momento certo. Num dia em que estivemos até tarde a trabalhar na CASA, por mero acaso, li a grande reportagem da revista “Sábado” que tinha como tema “Jovens Empresários que criam empresas antes dos 25 anos e que actualmente facturam mais de 1 milhão de euros por ano”. Uma dessas empresas era a “Segno”, uma empresa de Braga, criada por jovens programadores da Universidade do Minho e que tinham uma lógica de funcionamento muito… digamos… à americana! Por isso mesmo é que 90% dos seus clientes são dos Estados Unidos. Nesse mesmo dia, às 4h da manha, enviei um e-mail a falar do “Tudo Vai Melhorar” e do facto de precisarmos de um site e a propor à “Segno” se quereriam fazer o site oficial do “Tudo Vai Melhorar”…No dia seguinte recebi uma chamada, do Jorge, a dizer que não me queria deixar sem resposta e que “Sim… sem problemas, fazemos o site. Achamos o Projecto fantástico e por isso queremos ajudar!”. E assim a “Segno”, uma empresa de jovens empresários de Braga, tornou-se no parceiro digital do Projecto “Tudo Vai Melhorar”. Assumiram, inclusive, a totalidade das despesas relacionadas com o website. ID’-E como está a correr a participação portuguesa? DVS- Está a ter pontos positivos e negativos. Pontos negativos… É difícil conseguir quebrar o conformismo e a falta de pro-actividade que tanto nos caracteriza. O que quero dizer com isto? Tão simplesmente que são poucos os que, de imediato, se disponibilizam para contribuir e

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que conseguem perceber que o seu contributo é importante e que, realmente, pode salvar uma vida. Mas penso que aos poucos e poucos estamos a conseguir que as pessoas percebam a importância de contribuir e de ajudar. Pontos positivos… Sem dúvida a recetividade que temos recebido, quer de anónimos, quer de figuras públicas. Dos anónimos temos tido o reconhecimento da importância do Projecto, apesar da dificuldade em darem o passo em frente e participarem. Das figuras públicas, pela aceitação imediata em dar o seu contributo e por divulgarem o Projecto “Tudo Vai Melhorar”. ID’-Eu sei que o contributo da primeira figura pública portuguesa foi algo polémico. Falamos de quem? DVS- Falamos de José Castelo Branco… Que, como qualquer pessoa que tenha uma postura Queer, torna-se alvo da chacota e de insultos, inclusive por público LGBT. É engraçado porque o seu contributo surgiu após uma visita surpresa à CASA, onde obviamente falámos das nossas actividades e projectos, nomeadamente do “Tudo Vai Melhorar”. Imediatamente José Castelo Branco fez questão de dizer que queria participar e que queria gravar o seu contributo. Eu achei fantástico… E foi, sem dúvida, uma pessoa que gostei muito de conhecer, apesar de não concordar com todas as suas opiniões e posturas, que são, realmente, uma máscara de marketing. Para todos os efeitos é um Homem, Heterossexual, Pai, que deu o seu contributo e testemunho contra o bullying. ID’-Mas o interessante é que aconteceu, em Portugal, o mesmo que aconteceu com o “It Gets Better” que teve como um dos primeiros contributos de figura pública Perez Hilton, o conhecido e polémico colunista americano… DVS- É importante abordarmos essa questão… Na realidade começámos, precisamente, da mesma forma que o Projecto americano, em que uma figura pública, polémica e muito criticada pelo público LGBT, devido a opiniões e posturas, percebeu a relevância de combater o bullying e de decidir colaborar…de dizer que não pode continuar a ser aceitável este tipo de agressão nas nossas escolas. E isso é o que realmente importa… O “Tudo Vai Melhorar” é um projecto que aponta para um futuro melhor… Que olha para o passado apenas para aprender

com os erros, que não julga eternamente atitudes erradas… Acreditamos que podemos mudar o Mundo e fazer com que, no Futuro, tudo melhore. ID’-Mas no “Tudo Vai Melhorar”, para além dos diversos vídeos que já conseguiram angariar, rapidamente entraram pela área da Música e mesmo pela Televisão… DVS- Sim, após o “Tudo Vai Melhorar” ter mandado um post para o programa de televisão “Curto Circuito”, da SIC Radical a sugerir a participação dos apresentadores, de imediato e em direto eles aceitaram e comprometeram-se a fazer um vídeo. Nessa altura fui convidado para ir ao programa apresentar o “Tudo Vai Melhorar”. Quando, no fim da entrevista, estávamos a fazer o vídeo com as apresentadoras elas foram extremamente disponíveis e falaram imediatamente com os irmãos Rosado, o Sérgio e o Nelson, mais conhecidos como a banda “Anjos”. Também eles imediatamente decidiram colaborar e, logo ali, fizeram o seu contributo em vídeo. ID’-Entraram, muito recentemente, pela área da Política. Quem foi o primeiro político português a contribuir com a sua mensagem de esperança? Foi propositada esta escolha de um jovem político? DVS- Recentemente tivemos o contributo de João Torres, Secretário Geral Nacional da Juventude Socialista. Foi, efetivamente, uma questão estratégica. Pretendemos o compromisso dos lideres das juventudes partidárias até porque são possíveis futuros lideres. É primordial que eles não esqueçam as questões LGBT e o bullying. Exatamente por isso esperamos ter, a seguir, o contributo do Presidente da Juventude Social Democrata…Os contactos estão a ser feitos. De qualquer modo qualquer um deles é recém eleito e pretende marcar, indelevelmente, a sua Presidência, para Futuro. E a colaboração com este projecto mundial é, sem dúvida, uma atitude a não esquecer. ID’-E em termos de políticos seniores? Estão, já, nomes em cima da mesa? DVS- Alguns sim… Inclusive Deputados da Assembleia da Republica. Apesar das garantias de participação que já temos, não vou já revelar os nomes. São segredo. Irão sendo lançados à medida que o decidirmos.


ID’-Nos EUA participou o Presidente, Barack Obama e a Secretária de Estado Hilarry Clinton, assim como houve um vídeo feito exclusivamente por Senadores Americanos. No Canadá participou o Primeiro Ministro. No México participou o Vice-Presidente da República. Na Inglaterra participou o Primeiro Ministro David Cameron. Na Finlândia participou a Ministra para a Igualdade. Houve, inclusive, um vídeo feito no Parlamento Europeu, apenas com Deputados. E como estamos em Portugal, relativamente a políticos em exercício? DVS- Estamos a falar em figuras de liderança. Apenas posso dizer que estamos a desenvolver diversos contactos, em diversas direções… E mais não posso nem devo revelar! Espero, no entanto, que Portugal não fique atrás em termos de representatividade. Já todos os outros países avançaram com as suas principais figuras de lideranças. Vamos aguardar, calmamente, até onde conseguiremos ir em Portugal… ID’-Têm em perspectiva, também, enveredar pela área do Desporto? DVS- Sim, claro. Todos os sectores profissionais são importantes. E, em Portugal, o Desporto é uma área de extrema importância. ID’-E pelo meio académico? DVS- Óbviamente! O meio académico pode e deve dar um contributo de extraordinária importância. ID’-E em termos de apoio dos media? Já deste duas entrevistas sobre o “Tudo Vai Melhorar” em duas televisões privadas. Podes explicar? DVS- Fui convidado pela produção do “Curto Circuito” da SIC Radical e pelo “Porto Alive” da Porto Canal a ir a ambos os programas explicar e dar a conhecer o “Tudo Vai Melhorar”. Foi uma boa janela de visibilidade importante para dar a conhecer o Tudo Vai Melhorar. O próprio projecto já foi notícia nos mais diversos jornais e revistas portugueses. Esperamos que novas oportunidades surjam até porque os Media têm extraordinária importância e muito poder na capacidade de divulgação. ID’-Precisava, agora, que me explicasses, em

detalhe, como funciona o site do “Tudo Vai Melhorar”… DVS- Como referi em cima, no website do “Tudo Vai Melhorar” podem encontrar os vários contributos em vídeo qe já deram entrada. Tem também uma secção para as pessoas se juntarem ao movimento “Tudo Vai Melhorar”, que se chama “Envolve-te”, onde são indicados os vários passos que qualquer um pode seguir para ajudar este projecto e espalhar a mensagem de esperança. O site disponibiliza também “Materiais de Apoio” que têm como público alvo os jovens LGBT, os amigos e companheiros de jovens LGBT, os Pais e as Mães, e os Professores e Educadores. Em termos de ajuda mais concreta o “Tudo Vai Melhorar” apresenta, também, uma lista de Organizações que, em Portugal, disponibilizam diversos tipos de ajuda. O site tem, já, também, locais de apoio de Moçambique e está em construção a lista de ONG’s do Brasil. Por fim e não menos importante, existe a secção de donativos, onde, de qualquer parte do Mundo, as pessoas podem contribuir com um donativo usando a nossa plataforma online. ID’-Ou seja, o projecto não é, apenas, de mensagens de esperança de gente conhecida e de gente desconhecida. Vai mais longe, oferecendo soluções concretas de apoio, por parte de instituições… DVS- Exatamente… E isso é o que faz o “Tudo Vai Melhorar” ser tão importante. Não trabalha isolado. Tentando criar sinergias entre organizações e procura divulgar os projectos e organizações que, todos os dias, dão apoio aos jovens LGBT e lutam contra todo o tipo de discriminação. ID’-Também nesse aspecto a CASA dá cartas. Quais são os serviços específicos que, enquanto ONG, disponibilizam, em concreto? DVS- A CASA organiza mensalmente um Plano de Actividades de índole Social e Cultural, nas quais se incluem, entre outras, o Ciclo de Debates a “CASAcomVida”, o Ciclo de Tertúlias, a Noite de Poesia, entre outras. Tem, também, em actividade, o Grupo de Teatro, o Grupo de Dança e o Grupo Coral. Tem, ainda, em funcionamento, o Projecto ISA, de Informação/Formação em Sexualidades e Afectos, com conferências direcionadas para as Escolas e Universidades. Dá formação a profissionais em sectores específicos, com os Cursos de Forma-

ção Pós Graduada e que são, “O Desportista e as Sexualidades”, “O Jornalismo e as Sexualidades”, “Sexualidades e Envelhecimento Activo”, “O Educador e a Sexualidade na Criança” e “Sexualidades e Deficiência Mental”. Disponibiliza, ainda, o Serviço de Consultas, com Especialistas, nas áreas da Medicina, da Sexologia, da Psicologia e do Direito. A CASA tem ainda, protocolos oficiais com a Ordem dos Psicólogos Portugueses e com a Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa ao abrigo dos quais concede estágios oficiais a profissionais, na área das Sexualidades e dos Afectos. E a CASA realiza todo este complexo e completo plano de actividades estando aberta todos os dias no ano, sem exceção, das 16 às 24h e aos Domingos das 21 às 24h. Até estamos abertos na Noite de Natal, no Dia de Natal, no Dia de Páscoa e na Noite de Ano Novo, apenas para citar as datas mais complicadas. ID’-No início de novo ano, quais são os teus desejos para Portugal, para a CASA, a ONG da qual és Vice-Presidente e para o “Tudo Vai Melhorar”, do qual és um dos Coordenadores? DVS- Para Portugal… Lucidez! Para a CASA… Força, capacidade de resistência e que consiga financiamento para continuar o excelente trabalho! Para o “Tudo Vai Melhorar”… Muitos contributos! ID’-Para terminar, diz-me dois nomes com que quererias, muito, poder contar no “Tudo Vai Melhorar”… DVS- Um deles é, sem dúvida, o Cristiano Ronaldo. O outro, apesar de controverso, devido à sua Governação, é o Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho. ID’-Achas esses nomes inatingíveis ou os contactos já estão a ser desenvolvidos? DVS- Não os considero inatingíveis. Vamos esperar pelas respostas aos nossos contactos.

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BIOGRAFIAS

E U G É N I O G I E S TA

É

provável que me acusem de desvio do assunto, afinal, fala-se de bullying e não propriamente de tortura. No entanto, querendo fazer uma espécie de elo de ligação com as Poeiras, decidi tomar um rumo bastante diferente do que estava originalmente planeado. Aproveito este espaço para apresentar uma das personagens mais sanguinárias que a História conheceu: Elizabeth Báthory. Erzsébeth Báthory (nome original) nasceu na Hungria entre 1560 e 1561, filha de nobres húngaros. Não era uma criança fácil, sofrendo de mudanças de humor e de ataques de raiva violentos, o que poderá indicar um distúrbio mental associado a uma crescente agressividade. Aos 11 anos o seu primo, Stephan, tornou-se príncipe da Transilvânia, planeando unir a Europa contra os Turcos, sendo conhecido pela sua selvajaria, uma prova de loucura na linhagem da família. Báthory engravidou de um camponês aos 14 anos, sendo escondida para evitar um escândalo no seio de uma família nobre. Casou aos 15 com um conde, guerreiro feroz, unindo assim duas linhagens com laivos de loucura a percorrer o casal, ambos conhecidos pelo seu comportamento cruel. A sua tia, uma afamada dama de corte, era conhecida por ser uma bruxa. Um tio era alquimista e satânico. O seu irmão, um patife em torno do qual nenhuma mulher ou criança do sexo feminino estava segura. A sua enfermeira poderá representar a cereja no topo do bolo: uma praticante de magia negra que supostamente necessitava de sacrificar crianças pelo seu sangue ou pelos seus ossos. A sua vida de casada foi passada na pouca companhia do seu marido, normalmente em batalha, concentrando-se na gestão de assuntos domésticos e das suas propriedades, um castelo oferecido pelo marido como prenda de casamento. Diz-se que à medida que envelheceu, Báthory tornou-se adepta de bruxaria e de magia negra, pedindo à divindade Isten saúde, longa vida e ajuda. Vários relatos apontam-na como vaidosa e narcisista, trocando de roupa 5 a 6 vezes por dia e admirando a sua beleza ao espelho horas a fio. Utilizava todo o tipo de óleos e unguentos para preservar e branquear a pele. Ninguém era capaz de lhe negar o que fosse e a condessa exigia que lhe tecessem louvores. Entre 1602 e 1604 (ano da morte do seu marido), um ministro luterano queixou-se várias vezes de várias atrocidades que ocorriam no palácio de Báthory. Apenas em 1611 mais de 300 testemunhas foram ouvidas e a mente tortuosa da condessa foi posta a nu, sendo acusada de raptar, torturar, abusar sexualmente e matar um número indefinido de raparigas que eram atraídas para o seu castelo. As atrocidades mais descritas consistiam em espancamentos extremos, mutilação das mãos, mordeduras na face, braços e outras partes do corpo (arrancando pedaços de carne), congelação, fome e abusos de teor sexual. Muitos relatos davam-na como psicótica e que a sua do-

ença mental piorava com a idade. Estimativas colocam o número de vítimas entre as 100 e as 200 jovens, chegando este número a 650. Báthory foi presa e colocada em prisão domiciliária, prisão perpétua e emparedada, evitando-se um julgamento que traria desonra a uma família que governava a Transilvânia. Permaneceu assim até à sua morte em Agosto de 1614, sendo enterrada na cripta dos Báthory. A história da mulher que gostava de se banhar em sangue de virgens deu azo a inúmeras reproduções na cultura popular, seja em músicas, filmes, livros, jogos ou peças de teatro. Uma mulher que desafia os limites da sanidade sendo equiparada ao próprio conde Vlad, o mítico conde Drácula, pelos seus actos que ainda hoje poderão chocar as mentes mais susceptíveis.

ELIZABETH BATHORY ’ História

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DESPORTO CORPO EM MOVIMENTO “ Praticar humilhações, discriminações, gozações, apelidos constrangedores, intimidações, perseguições, ou seja, tencionar, de alguma forma, desmoralizar seus recetores, e a partir do momento em que estes passam a sofrer as consequências desses atos, tenham eles reflexos no âmbito afetivo ou na aprendizagem, tornam-se vítimas desse tipo de violência.” Facilmente se reconhece este tipo de descrição de violência e é tão transversal que poucas atividades, áreas de trabalho ou ensino se podem gabar de não a ter por companheira nalgum dos seus redutos. Assim sendo, também no Desporto, na atividade física e, num âmbito mais escolar, na educação física/desporto escolar, ela não desaparece. Está mais presente numas do que noutras, dependendo do tipo de pessoas a atingir e os fins para os quais usam estes meios.

Desporto

Facilmente se associa este fenómeno às claques ligadas a equipas de futebol, sendo estas as mais numerosas e mais violentas. Usando tudo o atrás descrito antes, durante e depois do jogo onde participa a sua equipa (ou melhor, a equipa que deveriam apoiar, mas com modos mais civilizados) não deixando esse apoio de ser forte (e poder ser muito eficaz se assim fosse). Os seus cânticos são indignos, as suas provocações constantes e as ameaças que são para cumprir em forma de violência gratuita e em nome de uma cor ou equipa, não deixam dúvidas de que o fenómeno está bem presente, tornando-se aqui, de uma forma gradual, em algo mais grave e de repercussões mais nefastas. Quem também o faz de uma forma mais dissimulada são os presidentes e treinadores quando falam à imprensa. Umas vezes numa tentativa de “mind game”, noutras de pura deficiência na comunicação, provocando e usando, de um modo mais ligeiro, algumas ações que pertencem à definição de bullying. Os próprios intervenientes diretos no Desporto, os jogadores dos desportos coletivos e os dos desportos de combate, usam uma certa forma de bullying para amedrontar ou fragilizar o seu oponente, na esperança de que, com essa atitude, o seu desempenho seja mais fácil em detrimento de uma performance reduzida do oponente.

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A N T Ó N I O M A R T I N S S I LV A


Educação Física/Desporto Escolar

A Educação Física é uma disciplina curricular de enriquecimento cultural, fundamental à formação da cidadania dos alunos, baseada num processo de socialização de valores morais, éticos e estéticos, que consubstancia princípios humanistas e democráticos. Para isto, através dos seus profissionais, deve dar a sua contribuição para a superação da violência, que deixa marcas, por vezes irreversíveis, nos alunos, seja no aspeto corporal, moral ou emocional (CHAVES, 2006). Oliveira e Votre (2006) confirmam a incipiência do tema quando mencionam que “[...] na Educação Física ainda não se encontra quase nada a respeito [...]”. Sabemos, no entanto, que há jovens que são afastados das equipas por não serem bons o suficiente, ou por não terem as características desejadas para um determinado desporto. Isto pode inclusive acontecer por parte dos professores/treinadores, quando estes estão mais preocupados em ganhar competições do que em formar jogadores e, mais do que tudo, pessoas equilibradas e com gosto pela atividade física e pelo desporto. Por mais estranho que possa parecer, o desporto mais inclusivo é o Rugby. Sim, O Rugby, porque neste desporto todos podem ser bons e ser necessários. Não há problema em ser-se o gordo, pois há necessidade de bons defesas, não há problema em ser-se o pequeno, desde que rápido, para ser um bom avançado, e por aí adiante. É uma ótima estratégia para tornar a educação física e o desporto escolar, num exemplo de que todos fazem falta e combater esse fenómeno de uma forma sustentada.

No mundo do fitness e da atividade física

Não poderia deixar passar em claro o que eu próprio posso considerar “o” bullying” nas academias e ginásios. Não será num tom de ameaça ou de violência física, mas revela-se porque este ou aquele individuo é demasiado gordo, ou não é capaz de correr a uma determinada velocidade no tapete, ou porque não consegue levantar 100kg no movimento de press de peito ou, pura e simplesmente, porque a indumentaria não é a mais fashion do mês e logo merecedora de um olhar reprovador, uma conversa sussurrada, um apontar de dedo, um sorriso de desdém. Infelizmente, o fenómeno é bem mais vasto e mais presente do que gostaríamos todos, seguramente. Resta-nos combatê-lo como podemos e nos círculos onde nos movemos, e dar assim… o nosso contributo. Talvez num futuro próximo possamos dizer que simplesmente... se foi embora! Até à próxima… em movimento!

’ Mestre em Desporto de Alto Rendimento

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DANÇA TEMÁTICAS DA/NA DANÇA

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screver sobre Dança, quando ela é a minha vida, há tantos anos, é um prazer, um desafio e uma responsabilidade. Mas é, acima de tudo, uma oportunidade que não recuso, até pelo papel pedagógico que esta crónica pode significar, para todas as pessoas que me vão ler. Assim sendo, espero conseguir responder ao desafio lançado. O que é, efectivamente, a Dança? A Dança, com o Teatro e a Música, é uma das principais Artes Cénicas provenientes da Antiguidade. Atrever-me-ia a dizer mais…considero a Dança, propositadamente escrita com letra maiúscula, a arte cénica por excelência, por conseguir coligar em si, todas as outras vertentes e que me desculpem a suposta jactância os meus colegas das outras áreas. A Dança consubstancia, em si, todas as características e qualidades porque… com a Dança se comunica, com a Dança se gestualiza, com a Dança se fisicaliza, com a Dança, acima de tudo, se comunga, produzindo criação, fazendo Arte… com a Dança…vive-se! É ao antigo Egipto que remonta o início da Dança, com as danças astroteológicas, maioritariamente consignadas a Osíris (“Ausar” em egípcio), o poderoso Deus do Sol, ainda que nas pinturas rupestres existam, já, miríades de representações corporais, principalmente em conjunto, que poderíamos designar, lato sensu, por Dança. É na caverna que o Homem, batendo com os pés no chão, corporaliza, pela primeira vez, em termos antroposociológicos, a Dança enquanto modo de ser e estar. Desta forma rapidamente o Homem se apercebe que, dando mais intensidade aos sons e aumentando a frequência e força destes movimentos consegue

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LOUIZ A.

DA DANÇA… obter ritmos, conjugando os movimentos dos pés com os das mãos, através das palmas. E assim nasceram os primórdios da Dança como hoje a conhecemos. Rapidamente esta manifestação de culturalidade evolui para os movimentos em grupo, representativos de rituais religiosos, pelos quais, em conjunto, agradecem às entidades divinas as graças obtidas ou fazem às mesmas pedidos, nomeadamente chuva, para assim poderem cultivar os solos e obter alimentos. Já mais tarde, na Grécia Antiga, a Dança conquista um outro valor e poder, quando vinculada aos jogos, enquanto forma de convívio mas, acima de tudo, modo de manifestar uma atitude e uma filosofia, uma forma de pensar, agir e ser, consubstanciada nos Jogos Olímpicos. É nesta época que ficam célebres as palavras de Aristóteles quando em “Poética” escreve “ Dance is rhythmic movement whose purpose is to represent men’s characters as well as what they do and suffer”. À Grécia se sucede Roma e também então a Dança se modifica, adquirindo a sensualidade e o erotismo que acabam por redundar nos bacanais e orgias tão representativos dos últimos tempos da Civilização Romana e que caracterizam o declínio do Império Romano. E de civilização em civilização a Humanidade foi avançando, evoluindo e retrocedendo, nunca perdendo, contudo, a Dança como uma das suas formas de manifestação mais presente e, acima de tudo, etérea e intemporal. Todo este enorme poder da Dança existe, acima de tudo, porque pela Dança se interage e comunica, primeiro consigo próprio e depois com o Outro, produzindo, ao som da Música, uma plêiade de gestualizações, com diferentes significantes e significados, que tentam ilustrar o som e a musicalidade da criação musical, envolvendo a expressão gestual e corporal dos senti-


mentos por ela potenciados. Desta forma ao longo dos tempos e das épocas a Dança foi crescendo, desenvolvendo-se, perpetuando-se, adquirindo os mais dispares potenciais, existindo como forma de manifestação que pode ser artística mas, também e em simultâneo, cerimonial e de divertimento. Assim a Dança adquire um leque possível de cores e multicoloridos cambiantes, podendo ser trabalhada como linguagem mas também como forma de expressão, de socialização e, inclusive, como conceito e linguagem estética de cultura corporal e de movimento do corpo humano. Mas a Dança permite, também, só por si, a vivencia de sensações e emoções que nenhuma outra forma de Arte consegue propiciar. Quem poderá esquecer o conjunto rico e multicolorido de emoções sentido e vivenciado quando, pela primeira vez assiste à representação de uma obra intemporal como o Lago dos Cisnes, o Quebra Nozes, a Bela Adormecida, a Sylphide, a Sagração da Primavera ou até mesmo o Pássaro de Fogo, apenas para citar algumas das mais conhecidas e conceituadas obras que fazem parte do património Mundial da Dança a nível desta aldeia global a que consignámos chamar Mundo? Mas a Dança tem, também, um enorme potencial terapêutico, também em termos de atitude, para ultrapassar os problemas vivenciais da Sociedade moderna. Sendo o Bullying o tema que me foi proposto, a Dança é, também, uma área onde, pelas imposições que lhe são características, este está hiperpresente, porquanto nem todo o executor consegue, em permanência, cumprir os estereótipos e as expectativas exigidos ou, sequer, responder, da forma consensualmente estipulada como expectável, tornando-se, como tal, vítima de abusos, perseguição e torturas.

Sobre a Dança escreveu, em palavras dançadas, Carlos Drummond de Andrade…intituladas “A Dança e a alma”… A dança? Não é movimento Súbito gesto musical É concentração, num momento, Da humana graça natural No solo não, no éter pairamos, Nele amaríamos ficar. A dança-não vento nos ramos Seiva, força, perene estar Um estar entre céu e chão, Novo domínio conquistado, Onde busque nossa paixão Libertar-se por todo o lado… Onde a alma possa descrever Suas mais divinas parábolas Sem fugir a forma do ser Por sobre o mistério das fábulas. Ou, como disse Isadora Duncan… “Dançar é sentir, sentir é sofrer, sofrer é amar… Tu amas, sofres e sentes. Dança!” Louiz A. Bailarino

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TEATRO DE TEATRO SE FALA

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uando o meu querido Amigo e director da Revista ID’ me desafiou para colaborar na revista, assumindo a crónica de Teatro, considerei o desafio tentador e irrecusável. Falar de Teatro para um público grande é uma enorme responsabilidade mas surge, também, como janela de oportunidade para conversarmos sobre uma das mais antigas e velhas artes cénicas. Assim o farei, comprometendo-me a tentar responder às expectativas em mim depositadas. Como tal, de forma pedagógica, impõe-se que realize uma viagem ao Passado, de forma a revelar as origens ancestrais desta nobre Arte. O Teatro enquanto linguagem sistematizada remonta à Grécia Antiga (século VIII a.C.) como cerimónia ou ritual religioso, habitualmente em homenagem ao Deus Dionísio ( ou Baco na civilização romana), por ter sido este que ensinou a Humanidade a cultivar as uvas e, em consequência, a produzir vinho. A este ritual em homenagem ao Deus Dionísio chamava-se “Ritual de Fertilidade”, sendo estruturado em forma de procissão, com vários seguidores e tendo como símbolo o “phallos”, em representação da Fertilidade. Desta forma o Deus em questão, hoje considerado patrono do Teatro, era homenageado como fertilizador das vinhas, da terra e, em consequência, da Humanidade e, como tal, considerado o patrono dos prazeres carnais. Aristóteles, na sua “Poética”, relativamente ao Teatro escreve que nasceu de improvisos feitos pelos chefes dos ditirambos, tribos de Ática que, vestidos de sátiros (entidade metade homem, metade fauno), tocavam tambores, liras e flautas e cantavam odes em honra de Dionisio. O ditirambo provavelmente seria uma história improvisada cantada pelo líder do coro e existia, também, um refrão tradicional, cantado pelo coro. Nestas celebrações, personificar o Deus (ou seja, estar no seu lugar), como forma de o homenagear, correspondia a aceitar “fingir”, acto que caracteriza, até aos dias de hoje, o trabalho do actor. Assim sendo o princípio de aceitar, enquanto acreditar, que o actor representa ou encarna a personagem, passa a ser uma convenção de natureza estética sempre presente no acto de representar. Como tal o actor não é a personagem que aparenta ser, antes se metamorfoseando, dependendo do talento, tentando induzir o espectador a acreditar na veracidade do seu acto. E é também do grego que advém a origem do termo “personagem” uma vez que o vocábulo grego “persona” significa máscara. Assim sendo a personagem corresponde a uma máscara que, na Grécia Antiga, era usada pelos actores, quando em palco. É por isso que, ainda hoje, o símbolo do Teatro são duas máscaras, simbolizando as duas formas mais antigas, a Tragédia e a Comédia. Já nesta época o Teatro surge com papel social e cultural, revelando-se as diferenças de classe, condição social e raça nas 25 espécies de máscaras usadas no género trágico (deuses e deusas, heróis, sacerdotes, etc.) e em mais de 40 tipos diferentes no género cómico (velhos, rapazes, cortesãos, parasitas, escravos, etc.).

NUNO HOMEM

DO TEATRO… É assim que o poder encantatório que o Teatro vem exercendo na Humanidade se consubstancia no próprio vocábulo grego. A designação “teatro” vem de “theastai” ou “theatron” que significa “ o lugar de onde se vê” e que correspondia à plateia de então, onde se situava o público. Com o passar dos tempos a expressão alargou-se e adaptou-se, passando a designar não apenas o local mas todo o espectáculo e a sua linguagem específica. É também na Grécia Antiga que se situam os nomes mais ligados ao teatro, nomeadamente à tragédia onde figuram autores como Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, apenas para citar os mais conhecidos ou à comédia onde sobressaiem os nomes de Aristófanes e Menandro. É o Teatro da Antiguidade Clássica Grega que é considerado o berço e a origem do Teatro, tendo tido o seu auge nos séculos V e VI a.C., com a produção de tragédias e comédias eruditas. Entretanto no Oriente as formas e produções teatrais mais ancestrais foram registadas em 1000 a.C. com o drama sânscrito do antigo teatro hindu. O que poderá ser considerado como 'teatro chinês' data também da mesma época, enquanto que as formas teatrais japonesas “Kabuki”, “Nô” e “Kyogen” têm registo, muito posteriormente, apenas no século XVII d.C. Em Portugal considera-se ser Gil Vicente o fundador do Teatro português, no século XVI, ainda que historiadores de renome como Garcia de Resende considerem que já existiriam representações teatrais anteriores, nomeadamente no reinado de D. Sancho I, com os dois mais antigos actores portugueses conhecidos, os irmãos Bonamis e Acompaniado, que realizaram “arremedilhos”, sendo pagos, pelo rei, com uma doação de terras. Pensa-se que estes “arremedilhos” seriam um antigo género teatral, baseado em imitações, normalmente de figuras públicas. Era uma actividade jogralesca medieval, de difícil definição, devido à falta de elementos documentais. Há relatos, inclusive, do Arcebispo de Braga da época, D. Frei Telo, datados de 1281, segundo os quais teriam sido efectuadas representações litúrgicas por ocasião das principais festividades católicas. Todavia pouco resta dos textos dramáticos pré-vicentinos, tendo Gil Vicente sido considerado, nas palavras de Marcelino Menéndez Pelayo “a figura mais importante dos principais dramaturgos peninsulares”, chegando a afirmar que não havia “quem o excedesse na Europa do seu tempo”. Para terminar esta breve crónica sobre Teatro relembro a citação de Charlie Chaplin segundo o qual “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. E termino com William Shakespeare… “ O Mundo inteiro é um palco E todos os homens e mulheres não passam de meros actores Eles entram a saiem de cena E cada um no seu tempo representa diversos papeis.” ’ Actor de Teatro

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TIAGO JONAS

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Música Sacra, stricto senso e frequentemente mais utilizado, está ligada à música erudita de tradição religiosa judaico-cristã. Em sentido mais abrangente, é empregue como sinónimo de música religiosa, independente dos cultos de quaisquer tradições religiosas. Argumenta-se, entre os entendidos na matéria, que não há uma distinção precisa e eficaz entre a música que expressa os sentimentos de natureza religiosa e sagrada e que expressa as demais. Esta afirmação é sustentada e parcialmente visível ao longo da História. Em diversas ocasiões, autores como Mozart utilizaram trechos das suas obras religiosas em cantatas seculares e trechos de óperas para fins eclesiásticos; por outro lado, nota-se nas obras sagradas de Bach semelhanças musicais com as músicas seculares. A Música, ao contrário da Arte e Arquitectura, não representa objectos físicos e, ao contrário da Poesia, é independente do pensamento proposicional. Assim, tendo como objectivo um fim em si mesmo, a Música leva as emoções humanas a lugares que outras obras de arte não conseguem, um prospecto de fuga da existência mundana. Nesta linha de pensamento, a Música Sacra é apropriada para o carácter de sacrifício do culto, particularmente na tradição cristã, sendo uma oferenda a Deus. Vê-se na Música Sacra, uma maneira de permitir que um grande número de fiéis forme uma efectiva comunhão, expressando a fé, em público. O cristianismo começou como uma pequena e perseguida seita judaica. A princípio, não houve ruptura com a fé judaica e os cristãos ainda iam às sinagogas e ao Templo de Jerusalém,

LAZER I MÚSICA “QUI CANTAT, BIS ORAT” assim como Cristo tinha feito, e, presumivelmente, ainda mantinham as mesmas tradições musicais nos seus encontros privativos. O único registo de música comunal nos Evangelhos é no último encontro entre os discípulos antes da crucificação de Jesus. Fora dos Evangelhos, há uma referência a São Paulo encorajando os efésios e os colossenses a usarem salmos, hinos e músicas espirituais. Por outro lado, a expressão “Música Sacra” apareceu de forma mais ou menos sustentada na Idade Média, quando se decidiu que deveria haver uma teoria musical distinta para a música das missas e a música do culto e tem a sua forma mais antiga no canto gregoriano. Algumas formas que se enquadram dentro da música sacra são os motetes, que são peças baseadas em textos religiosos (quase sempre em latim), os salmos, que são uma forma particular de motetes baseadas no Livro dos Salmos, a missa, oriunda da liturgia católica e geralmente dividida em seis partes básicas (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei) e o réquiem, ou missa dos mortos, que inclui as partes básicas da missa, entre outros (Dies Irae, Confutatis, Lacrimosa, etc.). Assim, a Música Sacra, para além de ter como objectivo possibilitar a culto das diversas religiões, pode ser vista como uma forma de atrair aquelas pessoas cujo entusiasmo pelos assuntos religiosos não é suficiente por si só, sendo possível afirmar com Santo Agostinho “Qui cantat, bis orat” (Cantar uma vez é rezar duas). E, não podemos esquecer, também, que a Música é uma forma de gerir as mais diversas situações stressantes, especificamente as de Bullying. ’Música

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FRANCIS KINDER

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UMA VERDADE INCONVENIENTE: A DISCRIMINAÇÃO DENTRO DAS EMPRESAS

tema da edição deste mês é um dos mais difíceis já abordados pela ID’: o bullying. Infelizmente o bullying é fenômeno comum a cidades de todo o mundo, e atinge pessoas de todos os sexos, raças e origens sociais. Bullying é a violência contra quem é diferente e é uma das principais pragas sociais da nossa geração. Segundo o sociólogo Emile Durkheim, o bullying deriva da falta de valores, da desintegração das normas: em um ambiente em que sabem que dificilmente serão punidos, pessoas sem estrutura moral descontam suas insatisfações pessoais sobre seus colegas. Ele pode acontecer em qualquer ambiente, mas um dos que mais me preocupa (especialmente pela inação de autoridades e responsáveis) é o bullying nas empresas. A grande maior parte das grandes empresas brasileiras tenta se mostrar inclusiva e contemporânea. Cresce rapidamente o número de empresas que possibilitam a inserção de parceiros de homossexuais nos planos de saúde corporativos, por exemplo, igualando os direitos destes aos de seus colegas heterossexuais. Parece bonito, não é? Parece. Mas a realidade “entre quatro paredes” dos escritórios é desoladora: diariamente ocorrem “piadas” e “brincadeiras” misóginas, contra homossexuais e até contra negros (a despeito da regulação expressa da lei 7716/1999 que torna a discriminação racial/étnica passível de reclusão). Dou exemplos: em uma roda de amigos e colegas ex-alunos da USP (a maior e melhor universidade pública do país), ao perguntar se as pessoas já haviam sido vítimas de bullying nas empresas em que trabalham, ouvi as seguintes frases: H – Quando eu trabalhava em um grande banco e minha sexualidade “vazou” para todos, rolou um clima bem chato. H – Meu trabalho antigo foi o meu primeiro no mundo corporativo, e segui a linha de ficar na minha. Mas sem fingir ser o que não sou. Lógico que no médio prazo, as pessoas vão notando, porque quanto todo mundo faz uma roda pra falar de mulher, você não entra ou fica

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mudo sorrindo. Depois que eu saí, descobri que várias pessoas comentavam mesmo. H – Sempre achei mais saudável separar a vida pessoal da profissional. Nunca assumi abertamente, mas também nunca neguei. Aos poucos, conforme fiz amizades no trabalho, algumas pessoas ficaram sabendo. Não sei se chega a ser bullying, mas já passei por uma situação constrangedora. Estava na [empresa X] fazia poucas semanas quando uma colega mal intencionada perguntou, do nada, em alto e bom som no meio do departamento se eu era gay. H- Uma vez ouvi de longe umas piadinhas meio homofóbicas da minha chefe e de um colega. Meu instinto foi querer falar algo como “Shuuuush aí, pessoal, vamos trabalhar! Piadinha com gay no ambiente de trabalho não!”, mas não tive coragem na hora. Uma vez uma colega que às vezes fazia perguntas pessoais para os outros perguntou se eu tinha namorada e eu respondi que não, mas eu tinha namorado e não falei nada. Se ela tivesse perguntado “você namora”, eu teria ficado nervoso com a pergunta pessoal, acho que o coração ia acelerar um pouco, talvez eu respondesse que sim, talvez eu ficasse calado, talvez eu mudasse de assunto, mas eu não diria que não. Eu sou bem tranquilo quanto a ser abertamente gay, mas ainda tenho dificuldade na hora de sair do armário. Depois que isso acontece eu relaxo. Nós tínhamos uma colega que era de Campinas, morava lá mas durante a semana estava ficando na casa do cunhado nela na rua Frei Caneca. Ela era completamente desequilibrada e uma vez berrou ao telefone: “EU NÃO AGUENTO MAIS ESSE LUGAR CHEIO DE BICHAS E BOIOLAS.” Na hora acho que eu fiquei tão estarrecido que eu não fiz nada, mas depois contei para a minha chefe e, por esse e por vários outros motivos, a avaliação dessa funcionária foi péssima, mas tudo que aconteceu, até onde fiquei sabendo, é que ela foi transferida para Osasco. Alguns dias atrás eu estava passando pelo corredor e ouvi um colega de outro setor falar alto para os colegas dele: “vou fechar aqui a porta, se não o ar-condicionado bicha!”. Fiquei seriamente desconfiado de que tivesse sido comigo, mas não tenho como


saber por enquanto. Vou esperar para ver se percebo mais alguma coisa parecida naquele setor, para ver se não era só coisa da minha cabeça… H – Trabalho numa empresa TÃO homofóbica que, se eu contar os tipos de piadas/comentários que rolam por lá, vocês achariam que é brincadeira. Nada direcionado a mim, mesmo porque ninguém sabe (e acho que nem desconfia), mas às vezes era tão pesado que eu chegava a sair bem triste de lá (falo no passado porque agora realmente aprendi a “me desligar”). Mas o pessoal lá não é só homofóbico, é cabecinha pequena/quadrada em diversos aspectos. Eu fico na minha e não discuto, porque infelizmente curto muito o trabalho em si (caso contrário já teria ido embora faz tempo). Enfim, acho que posso considerar que sofro bullying indireto? H – Na auditoria, apesar da política da firma (‘Viva a diversidade”), logo quando eu estava para me desligar, houve uma piada sobre gays direcionada à mim, na minha frente e de toda a equipe. Alguns não entenderam, mas eu saquei. Na semana seguinte, na entrevista d desligamento – ñ sai por isso, tinha conseguido outro emprego – eu contei e o RH me sugeriu o denunciar ao comitê de ética. Acabei não fazendo, e sinto que vingança não teria levado a nada… Hj a auditoria em que eu trabalhava é quem audita a empresa em que trabalho… e eu sabia que isso iria acontecer. Por isso, preferi sair quieto,sem fazer barulho, sem nada. M – No meu trabalho antigo os colegas que se tornaram amigos sabiam, mas no atual o pessoal é bastante homofobico e com a cabeça fechada, dai finjo que tenho um peguete ao invés de uma namorada :/ São casos comuns, que acontecem por todo o país o tempo todo. O que se faz? NADA. Este é um assunto bastante polêmico e que muita gente evita comentar. Especialmente o governo, em seus três poderes, que deveria zelar pela população, mas apenas refletindo a pseudomiopia da sociedade brasileira atual. Porque o mesmo que vou denunciar de dentro das empresas acontece nas igrejas, centros comunitários, esco-

las, universidades, etc etc. Mas se evita falar a respeito. Finge-se que não se vê. Por quê? Em parte, por causa da confusão causada pela maciça presença de representantes de entidades religiosas nas câmaras. Mas há muito mais em jogo. É assustador o apoio que discursos preconceituosos têm na sociedade brasileira. Pior: quem se revolta contra isso até se sente errado, como observamos nos depoimentos. Na minha humilde opinião, o único remédio é denunciar. Não tem jeito. Infelizmente, quem denuncia está sujeito a retaliações posteriores, e é aí que o Estado deveria interferir, mas não é o que acontece. Afinal, qual a solução para isto?

Heteronormatividade para fazer parte do grupo: até quando? ’ Lic. Economia e Pós-Graduado em Relações Internacionais

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F I L I P E M O R E I R A D A S I LV A

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BULLYING EM TERRAS DE TOUREIROS

Bullying é um fenómeno social ao qual a sociedade espanhola não é imune. Erróneamente, a meu ver, chamado de Acoso Escolar – Assédio Escolar, em português, aparece aqui debatido como se se tratasse de um fenómeno exclusivo do meio escolar. Se é verdade que grande número dos casos de bullying têm lugar na escola, não deveria a sua nomenclatura ser exclusiva de outras realidades. Há alguns anos, durante o primeiro mandato do anterior Governo, foi introduzida nos planos curriculares dos vários níveis de ensino uma disciplina chamada Educação para a Cidadania, na qual os conteúdos abordavam também a educação no respeito pela diferença e nos valores sociais que tanta falta fazem. Esta disciplina, mesmo antes de começar a ser leccionada, tropeçou rapidamente em poderosos detractores. Supostamente, os Encarregados de Educação poderiam eleger entre esta e a disciplina de Religião e Moral. Depressa saíram à rua ruidosas manifestações de entidades como o Forum da Família e ecoaram duras críticas, nem sempre em surdina, por parte da Conferência Episcopal Espanhola... Eu sei... as instituições de ensino administradas pela Igreja Católica deveriam marcar exemplo na formação de crianças e jovens educados nos valores da caridade e no espírito cristão. Mas todos os que frequentámos esses estabelecimentos de ensino sabemos que, muitas vezes, preconizam o oposto, não predicando pelo exemplo nem educadores, nem professores, nem pessoal auxiliar... Basta um exercício de observação sobre a Sociedade em que vivemos hoje em dia, para vermos que essas políticas pedagógicas foram um rotundo fracasso, (Fátima, Futebol e Fado... coisas do Estado Novo). Mas mesmo assim é difícil implementar novos valores mesmo sob um prisma laico com a intenção de incluir e formar todos por igual, nos princípios da Justiça, da Igualdade, da Fraternidade.

Com isto em mente, podemos extrapolar essa falta de princípios, fundamentais a um convívio saudável e pacífico e verificamos que noutros aspectos da Sociedade existem fenómenos gritantes de bullying. Em concreto refiro-me ao bullying devido à orientação sexual. Se há um colectivo que sofre na pele este fenómeno, esse é a comunidade LGBT. A FELGT (Federación Estatal de Lesbianas, Gays, Bisexuales y Transexuales) tem um programa nesta área chamado “Regresso às aulas – por uma escola sem armários” cujo objectivo é fornecer às escolas tanto material didáctico como acções de formação e colóquios que visam uma educação baseada na diversidade afectivo-sexual e o respeito pelas diferenças, incluindo a identidade de género. Se acções como esta são de louvar, por outro lado, não me deixa de entristecer o facto de estas iniciativas terem de partir de instituições externas ao sistema educativo (tal como em Portugal, pelo que tenho entendido...). Se é certo que a Sociedade espanhola está bem apetrechada para fornecer aos seus cidadãos apoio em áreas chave, como a ampla oferta de grupos de apoio para as mais variadas condições (HIV-SIDA; incapacidades físicas e psíquicas, dependências de substâncias, etc), no campo do bullying o certo é que tal não acontece. Resta ouvir, de vez em quando na comunicação social, casos isolados de vítimas de bullying que trazem à baila o debate... mas que pouco tempo depois são novamente abandonadas à sua sorte e ocultados do olhar público. É uma área onde há certamente muito trabalho a desenvolver até se lograr esse são convívio que seria desejável. Esperemos que as coisas possam evoluir rápidamente nesse sentido e que nos seja possível ver com os nossos próprios olhos essa comunhão social que tanta falta nos faz. Até lá, resta a esperança de que algum dia, “Tudo Vai Melhorar”. ’ Director Clínico

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MARÍLIA LOPES

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bullying na maioria das vezes não é visível a olho nu, por isso é tão devastador. Não me apercebo de situações de bullying por estes lados, e podia até dizer, pelo que conheço dos japoneses, que não existe, mas não acredito! Nas escolas o uso do uniforme é obrigatório, apesar de eu ser completamente contra uniformes por achar que rouba identidade e por criar uma falsa ilusão de que somos todos iguais. Temos de aprender a viver com as diferenças, porque não somos (ainda bem) todos iguais e acho mais importante educar para a diferença do que mascarar essa diferença com um uniforme. Existe, no Japão, uma descriminação muito grande com as pessoas mais gordas. Há empresas que não aceitam trabalhadores gordos, em que os uniformes da empresa têm um tamanho “standard” e se não servir não podem trabalhar e esta atitude é bem aceite na sociedade japonesa…acredito piamente que as pessoas mais gordas sofrem ou já sofreram com situações de bullying, principalmente nas escolas. Relativamente a questões sexuais, não me parece que seja frequente haver algum tipo de agressão por este tipo de motivo. É frequente vermos travestis nas ruas…é banal! Os japoneses não são de assumir abertamente a existência de homossexuais ou prostitutas no Japão, mas também não são de condenar ou ter algum tipo de comentário menos próprio. Mas aqui é tudo muito camuflado, principalmente no que toca a sentimentos. O mau é muito escondido e eles têm muita vergonha das coisas más que fazem ou que a Sociedade faz, por isso é bastante difícil perceber se existem muitas ou poucas situações de bullying. Não podemos esquecer, também, que estamos a falar de um País que vive por hierarquias… que é um bom rastilho para situações menos boas como a humilhação. Estou aqui a controlar-me ao máximo para não dizer isto… mas não estava a ser sincera se não o fizesse! Eu odeio a expressão bullying e como dei aulas alguns anos esta expressão foi entrando ano após ano com mais intensidade nas nossas escolas. Muitas situações que ocorrem são realmente situações de bullying, mas a maioria não é mas, como está na moda, tudo é bullying. Vou contar uma situação para explicar este meu sentimento. Como disse dei

aulas alguns anos de Educação Física. Durante uma aula um aluno agrediu outro, reportei esta situação à direcção da escola que ficou muito escandalizada com esta situação, porque tinham uma situação de bullying na escola, até parecia que estavam a gostar…afinal agora era uma escola moderna porque tinha um caso de bullying… eu tentei explicar que não era bullying mas sim uma agressão. Era um caso de violência não de bullying! Mas nada as demoveu… Finalmente tinham bullying na escola!! No entanto andava por aquela escola um aluno muito franzino que era cego de um olho, o “Manuel”. O “Manuel” era o “bobo da corte” da escola, principalmente de um grupo de rapazes com duas vezes o tamanho dele. Numa reunião com todos os professores e direcção eu falei do “Manuel” a resposta que tive da direcção foi… Até lhe faz bem, assim aprende a defender-se e a ficar um homem!! Enfim… O bullying é grave é sério, não pode cair “na boca do mundo” pois corre o risco de se tornar banal! Falta um esclarecimento claro na nossa Sociedade e nas nossas escolas do que é o bullying . Espero sinceramente que campanhas como o Projecto “Tudo Vai Melhorar” ajude a esclarecer as pessoas.

’ Lic. Educação Física

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FRASES COM’TEXTO

Nós temos que desconstruir o mito de que o bullying é apenas um ritual normal de passagem – que é uma inevitável parte do crescimento. Não é. Nós temos a obrigação de assegurar que as nossas escolas são seguras para todos os nossos Jovens. Deus ama-te mais do que tu possas imaginar. E Deus ama-te da forma que tu és. Eu sou um assumido e orgulhoso homem gay, que também é o Bispo de New Hampshire. Um Bispo da Igreja Episcopal. Eu sou a prova viva de que Tudo Vai Melhorar. GENE ROBINSON, BISPO DE NEW HAMPSHIRE, EUA

Alguma coisa tem que ser feita. Tem havido um número chocante de novas histórias de Adolescentes que foram vítimas de bullying e que cometeram suicídio.(…) Nós temos a obrigação de mudar isto. ELLEN DEGENERES, APRESENTADORA DE TELEVISÃO

Tal como milhões de americanos eu fiquei terrivelmente entristecida ao saber do recente suicídio de vários Adolescentes(…) após terem sido vítimas de bullying por serem gays ou porque as pessoas achavam que eles eram gays.(…) Eu tenho uma mensagem para todos os Jovens que são vítimas de bullying ou que se sentem sozinhos e que consideram difícil imaginar um futuro melhor(…) Há tanta coisa à tua espera, quer pessoal quer profissionalmente – há tantas oportunidades para tu desenvolveres os teus talentos e contribuíres. E estas oportunidades vão aumentar. (…) Como tal ganha coragem e tem esperança e por favor lembra-te que a tua vida é válida e que não estás sozinho.

FRASES COM’TEXTO

BARACK OBAMA, PRESIDENTE DOS EUA

HILLARY CLINTON, SECRETÁRIA DE ESTADO DOS EUA

Só por si o nome deste site Tudo Vai Melhorar já seria suficiente para perceberem que é uma boa mensagem para aquilo que é o Futuro. Seja como for quero dizer-vos, para quem sofre de bullying(…)ultrapassar é partilhar, falar, pedir ajuda. JÚLIO MAGALHÃES, DIRECTOR DE TELEVISÃO

Queremos mandar-vos uma mensagem de esperança. As coisas vão melhorar. Nós também fomos vítimas de bullying. CAROLINA TORRES E MARIA BOTELHO MONIZ, APRESENTADORAS DE TELEVISÃO

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Eu também fui vítima de bullying.(…)A vida todos os dias sorri e o Sol quando nasce é para todos. Vocês têm que lutar. Eu sei…Não é fácil! JOSÉ CASTELO BRANCO, FIGURA PÚBLICA

Todos nós sabemos que crescer pode ser difícil mas para os Jovens que são vítimas de bullying a vida pode tornar-se incrivelmente difícil e solitária. Por isso há duas coisas que eu quero dizer a qualquer um que esteja a passar tempos difíceis por causa da sua sexualidade. A primeira coisa é para falar com alguém. Tu não tens necessidade de lutar, de lidar com isso sozinho.(…) A segunda coisa que eu quero dizer é que a Inglaterra é um local diversificado, aberto, tolerante. Basta olhar para o massivo progresso que tem sido conseguido para tornar este país mais justo. Hoje os casais do mesmo sexo podem ter a sua relação legalmente reconhecida DAVID CAMERON, PRIMEIRO MINISTRO DE INGLATERRA

É para mim um enorme privilégio poder associar-me ao projecto It Gets Better, através do seu afiliado oficial para Portugal e para as comunidades lusófonas, que é o projecto Tudo Vai Melhorar.(…)Neste momento particularmente difícil gostaria de deixar uma mensagem muito especial para toda a comunidade LGBTT, no sentido de que, mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo nos momentos de maior solidão, acreditem que há uma luz ao fundo do túnel e que efectivamente, no Futuro, algo vai mudar para melhor.” JOÃO TORRES, SECRETÁRIO GERAL NACIONAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA

Tudo Vai Melhorar. É uma mensagem de esperança, principalmente para ti que és Jovem e que sofres de bullying.(…) A sexualidade não é opção, tal como o amor. Nós não escolhemos o que gostamos ou o que queremos. É algo que nós sentimos. É algo que vem de dentro de nós. ANTÓNIO LEAL E SILVA, APRESENTADOR DE TELEVISÃO

A vida não é aquilo que alguns rufias ou algumas rufias tentam fazer parecer.(…) Não desistam.(…)Há um Mundo melhor, mais à frente. Sejam felizes. NELSON E SÉRGIO, “ANJOS”, CANTORES

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DESCØNSTRUIR

Porque o “It Gets Better Project”, um projecto de esperança direcionado a todos os jovens LGBT vítimas de Bullying, apesar da sua origem, já não ser, só e apenas, um projecto americano, aqui ficam os diversos afiliados oficiais, existentes nos vários países desta aldeia global a que chamamos Mundo.

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FARPAS

ARPAS

BARÃO DE LA PALISSE

“O Senhor Doutor desculpe incomodar, mas eu preciso de falar consigo. Tenho uma dúvida…” Foi assim que, uma vez mais, Maria, a minha empregada e companheira destas conversas e de tantos outros momentos de reflexão me interrompeu a leitura, pedindo auxílio para as suas dúvidas, que não de antanho. Estava frio, muito frio, aquele frio invernoso e eu resguardava-me nas leituras de fim de tarde em frente à lareira. Os sons, os cheiros e as imagens da madeira a queimar inebriavam-me, deixando-me, nesta época natalícia, nostálgico e com o pensamento a voar em direção ao passado, levando-me a mergulhar no baú dos Afetos. Eram tantos os pensamentos e as recordações que me assaltavam, em turbilhão, que era difícil conseguir-me manter embrenhado no livro que me encontrava a ler o qual repousava, agora, já abandonado, de forma injusta, sobre as minhas pernas. Com esta intervenção da Maria, eu tinha ficado expectante por mais uma troca de ideias, sempre lucrativa porque permitia, de forma prática, rápida e concreta, perceber o modo de pensar deste Portugal profundo que, cada vez mais, me parecia desistente, muito como consequência das imposições, tantas vezes injustas e fundamentalistas, de quem nos governava. Onde tínhamos vindo parar, enquanto país, outrora convidativo, também porque à beira mar plantado, agora tornado cinzento, desanimado e desanimador, um canto sem esperança, em crise permanente, parecendo a população já ter desistido de ser e estar?! “O que é o bullying, que tanto se fala agora na televisão?”… foi esta a dúvida que a Maria me atirou, na forma de pergunta, a impor esclarecimento. “O bullying, Maria, é todo o tipo de agressões que, nas escolas, os alunos habitualmente mais fortes ou, pelo menos, aqueles que se consideram lideres, desencadeiam contra os seus colegas mais fracos, acima de tudo, contra aqueles que são diferentes ou que a maioria considera, porque assim suspeita, diferentes do habitual. É uma cadeia de agressões, repetidas e agravadas no tempo, que podem ser de tipo físico ou psicológico, ou as duas em conjunto, direcionadas para a diferença ou seja para aquelas crianças e jovens que são diferentes…”, respondi, tentando dar uma definição precisa e concisa sem, todavia, me prender nos detalhes semiológicos que deixariam a mulher sem esclarecimento. Esta sempre foi uma das estratégias que mais critiquei aos profissionais que trabalham nesta área do saber…o fato de muitas e tantas vezes se esconderem atrás de chavões pretensamente científicos para, com isso, assumirem um ar doutoral, assim se apresentarem distanciados

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e, como tal, protegidos perante a população anónima. Enfim, tiques de uma sapiência hipócrita e fingida, aparentemente diletante mas, acima de tudo, sem capacidade prática de resposta. Assim sendo optei por uma resposta aberta, que elucidasse mas que, acima de tudo, mantivesse aberto o canal de comunicação que entretanto se tinha aberto por necessidade da minha interlocutora. Se a mulher tinha falado comigo, era porque precisava de ajuda e porque me conferia algum crédito, como tal a minha obrigação seria ser recetivo, tentando auxiliar, esclarecer e, se necessário, fazer pedagogia no sentido de desconstruir. E neste momento de reflexão sorri, tristemente. Tinha-me lembrado de quando comecei a tentar introduzir, nos meios em que me movia, o vocábulo “desconstruir”, com o intuito de esclarecer mas, acima de tudo, conseguir fazer evoluir, através da desmontagem de estereótipos. Lembro-me, nessa altura, ter sido olhado de soslaio algumas vezes e outras, tantas, com sorrisos de desdém e algum gozo. Logo em relação à palavra “desconstrução”, expressão usada à exaustão nos meios académicos mais conceituados e conhecidos… Uma vez mais, como diria um grande amigo meu, “a arrogância da ignorância” a tentar fazer estragos. Estava eu embrenhado em todo esta reflexão ácida, quando Maria me interrompeu, novamente… “Os miúdos, Senhor Doutor, quando querem, sabem ser muito cruéis…”, acrescentou ela, de saber de experiência feito. ´” É o modo”, aleguei, “que desenvolvem para, supostamente, lidar com a diferença. O que de inocência, bondade e humanidade, estranhamente, nada tem. E tal fato é, aparentemente, contraditório. O que seria de esperar, Maria, seria que as crianças e jovens, porque ainda não totalmente estereotipadas, não calejadas prejudicialmente pela Sociedade e pela Cultura conseguissem, pelo menos eles, saber gerir e lidar com a diferença de forma aceitadora, compreensiva e, acima de tudo, inclusiva…”, acrescentei. “Deveriam, Senhor Doutor, mas não o conseguem ou não querem fazer. E olhe que cada vez está pior. O Senhor Doutor não tem visto na televisão aqueles casos de jovens que agridem outros e ainda por cima filmam com o telemóvel? Não é normal. Ninguém filma uma pessoa a ser atacada, sem fazer nada. Nunca se viu nada assim.”, acrescentou a mulher, em tom de revolta e indignação. “Essa é outra parte do problema, Maria”, aleguei, deixando-me envolver, de forma emocional, com a questão, recuperando o fervor de outrora pelas causas. “São as janelas de visibilidade, de oportunidade, de suposta fama, que as novas tecnologias vieram gerar, ainda que forma errada e atabalhoada e que são utilizadas, em qualquer circunstância e a qualquer preço!”, conclui.


“Mas isto não está certo, Senhor Doutor. Qualquer pessoa que veja alguém a ser atacado, o normal é tentar ajudar ou, pelo menos, procurar ajuda. Não é normal, Senhor Doutor, ficar a ver, não fazer nada e, ainda por cima, aproveitar para gravar para depois colocar na internet. Eu não compreendo como é que esta coisa dos computadores se alastrou tão de repente, conseguiu juntar toda a gente, de qualquer país e mudou tanto os valores que as sociedades tinham…” “A net, como mais vulgarmente se chama, muito rapidamente a toda a Humanidade. De repente conseguimos comunicar com pessoas que se encontram a milhares de quilómetros, e que agora estão à distância de uma tecla. E isso, Maria, perverteu as realidades que considerávamos como tal e que a Sociedade assim tinha estipulado. A Internet tornou-se uma realidade a nível global. Houve até um investigador, Cooper, que a estudou profundamente e que concluiu que tudo se deveu ao que ele chamou a Teoria dos 3 A’s. A velocidade a que a Internet se desenvolveu a nível global deve-se ao Anonimato que permite, ao baixo custo e à facilidade com se consegue utilizá-la. Claro que estes três A’s geraram outras questões, já elas gravosas. E a que eu considero mais grave é a facilidade e a impunidade com que, através dela, é permitido agredir os outros, sem culpabilização, sem exposição pública da culpa. Para a Maria compreender, antigamente quando alguém falava de alguém, instintivamente tinha cautela e limites porque sabia que, rapidamente, até porque pela proximidade, o alvo viria pedir esclarecimentos e as coisas podiam correr mal. Hoje, pelo anonimato que a Internet garante, tornou-se demasiado fácil e sem qualquer responsabilidade, caluniar e agredir qualquer pessoa, tornando-se muito difícil pedir explicações e exigir reparação. E as coisas atingiram tais proporções que actualmente, nas manifestações, assistem-se a insultos despudorados e sem limites, porque se assiste, cada vez mais, a uma desresponsabilização do insulto. Se a Internet gerou proximidade, também implicou esbatimento dos limites. Se há alguns anos se jurava em nome da honra e de olhos nos olhos…usava-se a Palavra de Honra, hoje parece que a Honra deixou de existir ou, pelo menos, perdeu o peso e o valor. E isso chegou aos jovens, Maria.” “Mas onde nos vai levar isto, Senhor Doutor?” interrogou ela, simultaneamente inquieta e desiludida. Eu não tinha conseguido, efectivamente, aquietar-lhe os temores e receios. “Sinceramente não sei, minha cara Amiga. Acho que e o uso desta expressão preocupa-me porque sempre pensei nunca a vir a usar, ainda por cima de forma tão veemente, acho que estamos numa crise de valores, Maria. E a extensão e dimensão do próprio Bullying é um exemplo concreto da realidade dos

factos. Hoje agride-se sem peso nem medida, nomeadamente entre os jovens e, acima de tudo, aqueles que achamos ou que suspeitamos serem diferentes, seja qual for o tipo de diferença ou seja qual for a consistência ou inconsistência das nossas suspeitas. Como se, cada vez mais, as atitudes, os comportamentos, os Afectos, fossem e estivessem publicamente formatados. E também aqui o Estado Social, especificamente na forma de solidariedade entre os pares, se encontra em crise. Mas mais ainda. Relativamente a esta questão do Bullying a Sociedade cada vez mais tenta desculpabilizar, de forma totalmente errada, fazendo crer que é uma fase que os jovens têm que ultrapassar, obrigatoriamente e, que, como tal, deve ser desculpabilizada”. “O Senhor Doutor está-me a querer dizer que há quem ache que estas coisas são normais, este tipo de comportamentos animais e que há quem defenda que é uma fase que têm que atravessar para atingir a fase adulta?”, interrogou ela, incrédula. “Na realidade há quem defenda isso mesmo, Maria e de forma totalmente errada e sem qualquer tipo de justificação científica ou não…”, completei, desiludido. “ O Bullying não é nenhuma fase, obrigatória, que todos os jovens têm que passar, para atingir o estado adulto. Dizem que todos fomos, de uma forma ou outra, vítimas de Bullying, o que também não é verdade, Maria. Ser vitima de violência, de discriminação, de abuso, de insulto, de agressão, apenas por ser diferente dos modelos supostamente habituais, não é nem tem que ser obrigatório ou incontornável. Tudo isto são provas da forma medíocre como a Sociedade tem vindo a evoluir, não no sentido da Cidadania, mas num trajeto insano que a Modernidade alguma vez terá que vir a pagar, a nível global. Também neste tema, Maria, a Educação Sexual na Escola seria de extraordinária validade uma vez que ensinaria as crianças e os jovens a aceitar, lidar, gerir, integrar e incluir a diferença no sentido de uma Humanidade que procuraria, acima de tudo, defender a Universalidade do Direito à Felicidade”. “Concordo consigo, Senhor Doutor e cá me vou à minha vida. Mas, desta vez, não me vou tranquila, antes mais e mais preocupada com esta juventude e com esta gente.”, atirou ela, com semblante carregado. “Vá lá Maria, que eu vou regressar à minha leitura que sempre é mais rica e, acima de tudo, menos preocupante”, conclui eu, ficando uma vez mais, incomodado com o estado desta Aldeia Global e com o profundo abismo para o qual parece querer correr sem apelo nem agravo.

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CENTRO AVANÇADO DE SEXUALIDADES E AFECTOS ® CURSOS DE FORMAÇÃO PÓS-GRADUADA

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JANEIRO 2013

2, 9, 16, 23 & 30 QUA 22H

POESIA NA CASA

Em vigor desde Janeiro de 2011.

4 SEX 22H 22H

15 TER 22H 22H

CICLO DE TERTÚLIAS “A CASA COMVIDA”

26 SÁB 22H

NOITE DOS COCKTAILS

Uma noite diferente, com Cocktails à escolha.

Em vigor desde 2010, em Outubro o Ciclo de Tertúlias será subordinado ao tema: “Porto Cidade”.

28 SEG 22H 22H

IT’S SO... 2012

DIÁLOGOS FILOSÓFICOS

Vem reviver os hits que marcarem o ano 2012.

18 SEX 22H

A sessão do mês de Janeiro será subordinada ao tema “Bullying”.

FESTA DA MENSAGEM 5 SÁB 22H 22H

FESTA DOS REIS

Na véspera do Dia de Reis, 6 de Janeiro, a CASA realiza a “Festa dos Reis”, como forma de passar o fim das festividades natalícias.

6, 13, 20 & 27 DOM 22H

CICLO DE JAZZ

19 SÁB 22H 22H

NOITE DAS DIVAS

Uma noite por mês dedicada ao Transformismo na CASA até porque o “O Transformismo é uma Arte que merece ser reconhecida”. A “Noite das Divas” tem, na CASA, um sabor diferente...em estilo de Cabaret dos anos 60.

31 QUI 22H 11 & 25 SEX 22H

KARAOKE

DEBATES NA CASA

Este mês o tema do debate será: “Politica Jovem para as Autarquias”.

12 SÁB 22H INAUGURAÇÃO

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “DESASSOSSEGO”

“A beleza de um corpo nu só a sente as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensibilidade como o obstáculo para a energia.” (Fernando Pessoa) Uma exposição de pintura de Vasco Orlando de Santamaria. SEGUNDAS & QUARTAS 21.30H - 23.30H

TERÇAS 21H - 23H

QUARTAS & QUINTAS 19H - 21H

ENSAIO DO GRUPO DE TEATRO DA CASA

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