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Editorial

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A Conciliação

A Conciliação

Heitor Rocha é Editor Geral da Revista Jornalismo e Cidadania, é professor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

Heitor Rocha

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Amanipulação que a mídia noticiosa vem realizando sobre a invasão da Rússia na Ucrânia não se deve unicamente ao enquadramento maniqueísta de que significa a barbárie de um déspota oriental afrontando o “mundo livre” ocidental, o único vilão da história, mas sim ao fato de não levar em conta que o papel de xerife do mundo que os Estados Unidos teimam em encenar não se sustenta diante de uma mínima apuração e investigação sobre o que a politica externa dos EUA tem praticado na Síria, Iraque, Afeganistão e inúmeros outros países, quando implantou ditaduras sanguinárias, como a de Samoza, na Nicaraguá, Noriega, no Panamá, Pinochet, no Chile, e em quase toda a América Latina. Tampouco a covarde sanção de embargo à pequena Cuba há mais de 60 anos. Então, não cogita sanções econômicas por estas atrocidades.

Alguns especialistas lembram que a condição de potência militar e econômica monopolar do mundo usufruída pelos Estados Unidos desde o fim da União Soviética, no final do século passado, efetivamente, não existe mais. Quanto mais os EUA insistem em querer manter o simulacro de xerife do mundo, mais fica evidente a sua perda de estatuto, mesmo que, no aspecto miliar, seus armamentos estejam possibilitando a Ucrânia uma resistência que não era esperada, e, no aspecto econômico, as sanções que impõem à Rússia tenham tido a adesão de seus subordinados ocidentais, antigos países que ainda tentam manter sua imagem de colonizadores imperialistas. Parecem querer repetir o cerco do exército branco do ocidente contra os primeiros anos da Revolução Soviética.

Contudo, é constrangedora a forma como estes países subordinados aos EUA na OTAN tentam excluir os aspectos mais negativos destas medidas econômicas, principalmente os que dependem da importação do gás e do petróleo da Rússia. Também é descarada a tentativa dos Estados Unidos de conseguir importar petróleo da Venezuela, país ao qual também impôs sanções e considerava integrante do “eixo do mal”. E mais ainda querer convencer que os efeitos negativos para a economia norte-americana e do resto do mundo das sanções que determinou contra a Rússia são culpa de Putin. A mídia noticiosa ocidental faz de conta que não vê estas evidências, ou pelo menos, não apura adequadamente nos seus enquadramentos e, no geral, atualiza, à exaustão, a ideologia anticomunista da Guerra Fria, sem reconhecer que também Putin é anticomunista.

Na espetacularização midiática da política de formação, ou deformação, da opinião pública mundial, a poderosa indústria cultural norte-americana, que constitui num dos itens mais rentáveis das suas exportações, não só econômica mas também ideologicamente, procura legitimar a ação de desterritorialização das leis do país estendendo-as ao resto do mundo. Recentemente no seriado de televisão FBI Internacional, a polícia federal dos EUA, que tem jurisdição exclusiva dentro do país, narra as aventuras de um escritório de agentes interrogando e prendendo no leste europeu, demonstrando como o xerife “Tio Sam” acredita poder impor seu poder de polícia aos países considerados subalternos, expandindo a aberração jurídica da base militar e prisão de Guantánamo, em Cuba, onde pessoas são torturadas e mantidas presas por anos sem acusação formal, crime registrado pelos próprios seriados norte-americanos.

Como consequência destas distorções na comunicação verificam-se manifestações de ódio, como no Brasil a ameaça a uma jovem russa que está há dois anos no País. Não causa tanto espanto esta postura de pessoas ignorantes no Brasil onde o presidente da República mantém um escritório do ódio no Palácio da Alvorada e dissemina disparos de fake news raivosos contra as instituições democráticas. No entanto, é estarrecedor como setores da “alta” cultura da Europa se ocupam de perseguir e demitir uma cantora lírica, como se deu na Itália, e também demitir um maestro da orquestra sinfônica de uma grande cidade alemã, unicamente por serem russos, expressando a “Russofobia” como tem sido chamado este histérico preconceito.

Por fim, é lamentável como a mídia noticiosa não investiga a valorização da indústria bélica e de seus acionistas, especialmente a norte-americana, com esta guerra e outras que se configuram como crimes contra a humanidade. Neste aspecto, como poderiam ter sido diferente a história de outras guerras se a mídia ocidental tivesse tido mesma sensibilidade humanística que dedica aos ucranianos, no caso dos iraquianos, afegãos, sírios, vietnamitas, etc.

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