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Comunicação da Web
JORNALISMO E CIDADANIA | 6 Comunicação Jornalismo, Sociedade e Internet
Por Ana Célia de Sá
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na Web
Jornalismo e agências de checagem
A crescente disseminação das fake news (notícias falsas) na internet, especialmente nas mídias sociais, tem impulsionado a atuação das agências de checagem (fact-checking), que analisam a veracidade de conteúdos informativos. Esse trabalho costuma seguir metodologias por meio das quais os checadores (jornalistas profissionais) utilizam bases de dados públicas, consultam as fontes originais, realizam entrevistas com novas fontes ou vão a campo para apurar informações e confrontá-las com aquelas disponibilizadas nos produtos que são os objetos da checagem. Depois disso, são atribuídas classificações que medem o grau de veracidade das notícias checadas.
No Brasil, são exemplos de agências de checagem a Lupa, a primeira a se especializar neste tipo de trabalho no país; Aos Fatos, grupo independente; Estadão Verifica, ligada ao Estadão/Grupo Estado; AFP Checamos/AFP Brasil, da Agence France-Presse; Truco, projeto desenvolvido pela Agência Pública, primeira agência de jornalismo investigativo brasileira independente; Comprova, projeto colaborativo que reúne jornalistas de 24 veículos de comunicação do Brasil, idealizado e desenvolvido pelo First Draft com a colaboração de Abraji, Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, Google News Initiative e Facebook’s Journalism Project; e Fato ou Fake, ser viço de checagem de conteúdos do Grupo Globo.
Iniciativas desta natureza são relevantes no combate à desinformação, já que a checagem tem respaldo profissional ao cumprir os princípios técnicos e éticos do jornalismo, tornando-se confiável junto à sociedade em meio à avalanche de informações falsas,
Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade - PPGCOM/UFPE | 7
Referências:
MORETZSOHN, Sylvia Debossan. O Joio, o Trigo, os Filtros e as Bolhas: uma discussão sobre fake news, jornalismo, credibilidade e afetos no tempo das redes. Brazilian Journalism Research, Brasília, v. 15, n. 3, p. 574-597, 2019. Disponível em: <https://bjr.sbpjor. org.br/bjr/article/view/1188/pdf_1>. Acesso em: 14 abr. 2020. PALACIOS, Marcos. Fake News e a Emergência das Agências de Checagem: terceirização da credibilidade jornalística? In: MARTINS, Moisés de Lemos; MACEDO, Isabel (Ed.). Políticas da Língua, da Comunicação e da Cultura no Espaço Lusófono. V. N. Famalicão: Edições Húmus, 2019. TELLERÍA, Ana Serrano; CORREIA, João Carlos; ROCHA, Heitor Costa Lima da. Structural Crises of Meaning and New Technologies: reframing the public and the private in the news media through the expansion of voices by social networks. In: TELLERÍA, Ana Serrano (Ed.). Between the Public and Private in Mobile Communication. New York and London: Routledge, 2017. verdade vinculada à pós-verdade, que põe a emoção e a opinião pessoal acima dos fatos junto à opinião pública, beneficiando uma causa específica e desarticulando o potencial crítico da arena pública social. Portanto, a autonomia e o posicionamento crítico do público devem ser levados em consideração para ativar perspectivas diferentes do enquadramento primário dos fatos e, assim, privilegiar o bem comum, algo válido tanto perante produções jornalísticas de qualidade quanto no confronto às notícias falsas.
C omo afirmam Tellería, C orreia e Rocha (2017), a interatividade na internet é essencial na promoção da democracia digital, encoraja enquadramentos alternativos e mais inclusivos e introduz novos protagonistas ao processo de agendamento midiático. Apesar das limitações impostas por relações de poder e por questões tecnológicas, a interatividade é também uma forma de se pensar a ativação do público no combate à desinformação. Ana Célia de Sá é jornalista e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM-UFPE). manipuladas, distorcidas ou descontextualizadas presentes à rede. Porém esse trabalho não deve ser visto como limitador ou julgador único da verdade social. Moretzsohn (2019) faz uma crítica ao trabalho das agências de checagem no quesito contextualização. S egundo essa autora, ao analisar o grau de veracidade de frases isoladas de produtos noticiosos, algo comum numa checagem, a agência pode incorrer em distorções relativas aos sentidos possíveis dessas narrativas, inclusive os não ditos.
Palacios (2019) explica que, a partir da segunda metade da década de 1990, no contexto da digitalização, do webjornalismo e das mídias sociais, emergem as agências de checagem de informação, com profissionais de jornalismo voltados exclusivamente à verificação de conteúdos – antes disso, a checagem estava presente de outras formas, como os setores nos próprios veículos de comunicação, as colunas críticas e a atuação do ombudsman. Essas agências se mantêm com diferentes modelos de negócios, como a venda de suas checagens a empresas de comunicação, a realização de cursos e o recebimento de doações individuais.
“Se, por um lado, o movimento representado pela criação de agências de checagem sinaliza a abertura de novas inserções profissionais para os jornalistas, por outro coloca em causa um dos elementos que – historicamente – constituiu a rotina da produção jornalística em sua fase moderna: a checagem da precisão da informação como parte essencial do processo de criação da narrativa jornalística, enquanto um formato discursivo diferenciado, e da garantia da sua credibilidade” (PALACIOS, 2019, p. 88). O autor, então, questiona se a credibilidade jornalística estaria sendo terceirizada, uma indagação ainda sem resposta.
A avaliação da credibilidade jornalística não é um quesito isolado. Moretzsohn (2019) diz que é importante considerar também a mudança de perfil do público, os modos de produção da sociedade contemporânea global, especialmente no contexto capitalista, e a abordagem criteriosa e refinada do valor da credibilidade do jornalismo.
Pode-se afirmar, ainda, que é necessário compreender o jornalismo como um mediador da realidade socialmente construída a partir de parâmetros intersubjetivos de veracidade dos acontecimentos, o que não deve ser confundido com a relativização da