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Agostinha Monteiro

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Rosangela Maluf

Rosangela Maluf

Agostinha Monteiro Vila Nova de Gaia, Portugal

Bom viver

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Desde muito cedo que somos confrontados com a necessidade de nos adaptarmos aos outros e à sociedade. Eu só percebi isso quando me mudei para França. Habituada a viver sob a proteção da minha mãe, tudo me era dado de mão beijada, mas uma nova realidade estava à minha espera.

O contacto com uma nova língua transformou-se, de um dia para o outro, num verdadeiro pesadelo. De repente, fui confrontada com uma infinidade de desafios que me forçaram a crescer e a enfrentar esta nova vida: viver num país diferente, com uma língua diferente e a conviver com pessoas desconhecidas.

Se uma criança não é uma boa companhia para si mesma, é improvável que o seja para aqueles que a frequentam ou que estão ao seu redor. E eu sentia que a minha companhia não me bastava. Precisava de interagir, mas não sabia como.

Aprender a viver com outras pessoas, numa outra cultura, exige uma adaptação que desenvolva a nossa confiança e autoestima. E isso nem sempre corre bem.

No meu primeiro dia de escola, lembro-me de ficar a olhar para a professora para tentar perceber o que ela dizia e de estar sempre a rezar para que ela não me perguntasse nada. Mas claro, não tive muita sorte! Ainda não tinham decorrido vinte minutos quando ouvi o que parecia ser o meu nome. Todos os olhares se voltaram para mim.

Senti-me a corar e balbuciei qualquer coisa parecido com “ desculpe, não percebi nada”.

A professora voltou a tentar interagir comigo, mas sentia-me totalmente perdida. Naquele momento, percebi que precisava de mudar muita coisa.

Nesse dia, como em muitos que se seguiram, a minha mãe foi buscarme à escola, mas só quando cheguei a casa é que deixei correr copiosamente as lágrimas que durante todo o dia teimaram em

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querer saltar dos meus olhos. Desabafei com ela tudo o que tinha guardado ao longo do dia e este comportamento de partilha e amor foi sempre reiterado ao longo dos tempos. Aprendi a falar sobre mim mesmo e encontrei nisso um grande alívio, que potenciou o desenvolvimento da minha confiança.

Com o tempo, fui adquirindo o vocabulário essencial para garantir uma comunicação recíproca, mas o que melhor aprendi foi a observar os outros. Mesmo sem perceber o que diziam, conseguia ler-lhes a expressão facial e sabia, por exemplo, quando devia rir ou quando devia ficar em silêncio.

Foi uma época muito difícil, mas lembro-me que foi sobretudo uma época de aprendizagem e adaptação. Aprendi que sou diferente e que o outro também é diferente. Aprendi que nem todos temos as mesmas noções de sensibilidades e de afinidades, as mesmas crenças, os mesmos hábitos de vida e que certos valores específicos para mim não serão necessariamente os mesmos daqueles que estão à minha volta. Aprendi a respeitar os outros e a compreender as suas opiniões, ainda que nem sempre concordasse com elas.

Em suma, aprendi a ser o que sou hoje, uma cidadã tolerante com as diferenças culturais que povoam o nosso planeta, respeitando e adaptando-me às novas realidades.

Afinal nada é mais certo do que o ditado popular “na terra do bom viver, faz como vires fazer”.

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