LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Agostinha Monteiro Vila Nova de Gaia, Portugal
Bom viver Desde
muito
cedo
que
somos
confrontados com a necessidade de nos
confiança e autoestima. E isso nem sempre corre bem.
adaptarmos aos outros e à sociedade.
No meu primeiro dia de escola,
Eu só percebi isso quando me mudei
lembro-me de ficar a olhar para a
para França. Habituada a viver sob a
professora para tentar perceber o que
proteção da minha mãe, tudo me era
ela dizia e de estar sempre a rezar
dado de mão beijada, mas uma nova
para que ela não me perguntasse
realidade estava à minha espera.
nada. Mas claro, não tive muita sorte!
O contacto com uma nova língua
Ainda não tinham decorrido vinte
transformou-se, de um dia para o outro,
minutos quando ouvi o que parecia
num verdadeiro pesadelo. De repente,
ser o meu nome. Todos os olhares se
fui confrontada com uma infinidade de
voltaram para mim.
desafios que me forçaram a crescer e a
Senti-me
a
corar
balbuciei
enfrentar esta nova vida: viver num país
qualquer
diferente, com uma língua diferente e a
desculpe, não percebi nada”.
conviver com pessoas desconhecidas.
A
Se uma criança não é uma boa
coisa
e
parecido
professora
interagir
comigo,
voltou mas
com a
“
tentar
sentia-me
companhia para si mesma, é improvável
totalmente
que
momento, percebi que precisava de
o
seja
para
aqueles
que
a
frequentam ou que estão ao seu redor. E
perdida.
Naquele
mudar muita coisa.
eu sentia que a minha companhia não
Nesse dia, como em muitos que
me bastava. Precisava de interagir, mas
se seguiram, a minha mãe foi buscar-
não sabia como.
me à escola, mas só quando cheguei
Aprender
a
viver
com
outras
a
casa
é
que
copiosamente
adaptação
durante todo o dia teimaram em
desenvolva
a
nossa
10
lágrimas
correr
pessoas, numa outra cultura, exige uma que
as
deixei
que