Revista meiaum Nº 16

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Provocador, moralista, tarado A primeira selecionada do Prêmio para Futuros Jornalistas

+ PERFIL

Descobrimos um xerife em Brasília

16 Ano 2 | Agosto 2012 | www.meiaum.com.br

+ REPORTAGEM



TODA ESCOLA PÚBLICA PODE SER UMA BOA ESCOLA O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO OFERECE AOS ESTADOS E

No Brasil, estados e municípios são

responsáveis

pelo

ensino

básico, uma atribuição formal

MUNICÍPIOS PROGRAMAS

que faz desses entes federativos

E RECURSOS PARA UMA

parceiros diretos do Ministério

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE.

da Educação na aplicação de suas políticas e programas: da

formação de professores à construção de infraestruturas, do livro didático à alimentação escolar, do transporte à biblioteca na escola. Por meio do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o Ministério da Educação oferece aos estados e municípios brasileiros programas que atendem a todas as necessidades e condições para uma educação pública de qualidade. Os recursos federais são repassados aos municípios, que, ao aderirem às ações do PDE, assumem a tarefa de aplicá-los corretamente e de cumprir as metas de qualidade para a educação pública brasileira, medidas pelo Ideb. É assim, com divisão de responsabilidades, que o Brasil está avançando na melhoria da educação básica.

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Ministério da Educação F E D E R A L

Conheça melhor os principais programas do PDE, desenvolvidos em parceria com estados e municípios. Para mais informações: www.mec.gov.br

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Papos da Cidade

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Capa

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Charges do Gougon

27 28

ÍNDICE

38

42

Reflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

O carrasco das unanimidades virou unanimidade

A Justiça tarda, mas....

38

Perfil

42

Conto – Nathália Coelho Ele nem via. E o que significa ver mesmo?

45

Caixa-Preta

Fora do Plano

Enquanto vendem Brasília como capital verde, ainda esperamos por um aterro

Miséria

A vida no Sol Nascente, onde falta tudo e sobram dramas

O pioneiro Amaury de Aquino é mesmo um homem da lei

“Arranca a cabeça e joga no mar!”

34

Brasífra-me

46

Arte, Cultura e Lazer

36

Artigo – Kátia Marsicano

54

Banquetes e Botecos

Os poemas-enigmas de Nicolas Behr

Quem aguenta o barulho da praça de alimentação do aeroporto?

Os destaques da programação da cidade

Em cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é


Aliffer Fraltino Pereira Dias, Carolina Teodoro Domingues, Lays Mates da Silva, Kelly Marina Werner e Luis Ricardo Batista de Oliveira, alunos da Escola Municipal Cotrisa de Baús, Costa Rica (MS).

TODA ESCOLA PÚBLICA PODE TER TRANSPORTE ESCOLAR. TODA ESCOLA PÚBLICA PODE SER UMA BOA ESCOLA.

Com o programa Caminho da Escola, o Ministério da Educação garante aos estados e municípios os recursos necessários para implantar soluções de transporte escolar para alunos da educação básica, nas Ministério da

zonas rurais e urbanas do país. Os recursos para a aquisição de ônibus, Educação G Oser V E repassados, R N O F E D diretamente E R A L micro-ônibus, barcos e bicicletas podem

ou por financiamento do BNDES, aos estados e municípios que aderirem formalmente ao programa, que é parte integrante do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Com isso, estados e municípios assumem a tarefa de aplicar corretamente os recursos federais e de cumprir as metas estabelecidas para a educação pública brasileira. Até 2011, foram adquiridos mais de 17 mil novos ônibus e barcos, em 3.826 municípios. Para saber se o seu município já participa do programa Caminho da Escola, visite o site www.mec.gov.br/pde.

Conheça melhor este e os demais programas do PDE, desenvolvidos em parceria com estados e municípios. Mais informações: www.mec.gov.br

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Leonardo Arruda

Leonardo Arruda

Kátia Marsicano pág. 36

Carioca e herdeira da desastrada espontaneidade italiana, é viciada numa boa roda de samba e na doçura musical da bossa nova. Convicta da teoria da conspiração divina, é ambientalista xiita confessa, filha de São Jorge e São Francisco. Apesar das críticas, defende que, na aventura da vida, o falar e o agir devem ser coerentes e que é preciso “se jogar sempre” nas oportunidades. Impaciente com a tecnologia, mas – irremediavelmente – apaixonada por livros. Ah! É jornalista, graças a Deus!

Marcela Benet

pág. 54

Conhece quase todos os restaurantes de Brasília. E é uma observadora instintiva, mas cuidadosa, de tudo: do cardápio, da comida, da bebida, do ambiente, do serviço, do clima. Para não receber atendimento especial nos restaurantes que frequenta, Marcela, na verdade, é um pseudônimo. Sua verdadeira identidade é um segredo da meiaum.

Leonardo Arruda

Nilson Carvalho

Nicolas Behr pág. 34

Poeta, ecologista e proprietário da PauBrasília Viveiro Eco Loja. Está desde 1974 em Brasília. Em 1977 publicou Iogurte com farinha, primeiro de muitos livros. Em 1978 foi preso pelo Dops e processado por posse de material pornográfico (seus poemas!), sendo absolvido. Foi redator publicitário, trabalhou na Fundação Pró-Natureza e, em 1990, transformou seu hobby em negócio: produção de espécies nativas do Cerrado. Desde então tem publicado uma série de livros de poesia, tendo Brasília como tema.

Nathália Coelho pág. 42

Filha de Brasília com coração mineiro ávido pela escrita. Jornalista por formação e produtora de TV. Blogueira nas horas vagas. Escreveu um livro de crônicas sobre a cidade de seus avós e a Folia de Reis. A obra, não publicada, ganhou o prêmio Expocom do XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste. Poeta pela vida. Filha de Deus!

E mais...

Pedro Ernesto pág. 10 Caroline Vilhena pág. 10 André Cunha pág. 12 Fátima Bueno pág. 12 Kátia Morais pág. 12 Suélen Emerick pág. 14 Noelle Oliveira págs. 14, 27 e 38 João Pitella Junior pág. 16 Gougon págs. 26, 27 e 45 Chico Régis pág. 36 Francisco Bronze pág. 42 Luiz Cláudio Cunha pág. 45 Priscila Praxedes pág. 46 Marcela Benet pág. 54 Rômulo Geraldino pág. 54

Colaboradores


João Pedro Marques da Rocha, aluno da Escola Estadual de Ensino Médio Itália, Porto Alegre (RS).

TODA ESCOLA PÚBLICA PODE TER UMA BIBLIOTECA. TODA ESCOLA PÚBLICA PODE SER UMA BOA ESCOLA.

Com o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), o Ministério da Educação fornece obras de literatura e pesquisa, revistas e periódicos para que toda escola pública tenha uma biblioteca para os seus Ministério da

alunos. O programa atende de forma universal e gratuita,Educação em todos os estados do país, às escolas públicas daG educação O V E R N Obásica F E D cadastradas E R A L no Censo Escolar. Em 2011, mais de 67 mil escolas tiveram as suas

bibliotecas enriquecidas com 10 milhões de obras literárias: um benefício que vem se somar aos 135 milhões de livros didáticos distribuídos anualmente em todo o Brasil pelo Programa Nacional do Livro Didático, que também integra o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Saiba mais sobre os programas do Ministério da Educação no seu município. Visite o site www.mec.gov.br/pde.

Conheça melhor este e os demais programas do PDE, desenvolvidos em parceria com estados e municípios. Mais informações: www.mec.gov.br

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Carta dos editores

Coincidências no fechamento

U

m dos personagens de Nelson Rodrigues concluiu que “toda coincidência é inteligente, que não há coincidência burra”. Contamos aqui uma vez que cada edição da meiaum toma forma a partir de coincidências. É que mais de 90 colaboradores já publicaram em nossas páginas, sempre com liberdade para se expressar em textos e imagens. Por mais que nos planejemos, sempre temos boas surpresas. Inteligentes coincidências. No mês do centenário de Nelson Rodrigues, João Pitella Junior faz sua homenagem ao autor que revolucionou a dramaturgia, o jornalismo, o jeito de enxergar o País. Isso não é coincidência. Pitella é obcecado, fanático, como ele mesmo diz, pelo escritor mais carioca nascido em Pernambuco. Coincidência foi a reportagem vencedora da

primeira edição do Prêmio meiaum para Futuros Jornalistas ter como tema a miséria. Nelson Rodrigues disse certa vez que “subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. Em Brasília, nem foram necessários séculos para que chegássemos à situação dolorosa que o estudante William Dornela descreve na reportagem feita no primeiro semestre deste ano para a revista Redemoinho, produzida por alunos de jornalismo do Iesb. O Sol Nascente, eufemisticamente chamado de área de regularização de interesse social, setor habitacional e condomínio irregular, é na prática a favela mais populosa de Brasília, mostram dados divulgados no ano passado pelo IBGE. As informações que atestam o subdesenvolvimento do Sol Nascente são semelhantes às de outras favelas

que insistimos em fingir que não existem na “unidade da Federação com o maior Índice de Desenvolvimento do Brasil” (ah, se não fosse o Lago Sul!). Se as estatísticas chocam, as histórias contadas pelo futuro jornalista William são ainda mais fortes. “Quando compramos carne, falta salada. Quando compramos calçado, falta roupa”, diz uma das entrevistadas. Durante o fechamento deste número, enquanto aqui na redação refletíamos sobre como é a vida no Sol Nascente, no Supremo Tribunal Federal começava o julgamento do “mensalão”. No segundo dia de sessão, um urubu pousou na rampa do tribunal. Terá sido mais uma coincidência?

Anna Halley e Hélio Doyle

( ) MEIA

U

(meiaum) é uma publicação mensal da Editora MEIAUM Diretor Editorial: Hélio Doyle Diretora de Redação: Anna Halley Fotografia: Leonardo arruda Projeto gráfico e diagramação: Carlos Drumond Assistente de Produção: Cristine Santos Publicidade Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – barroncas@sucessototal.com.br TIRAGEM 12 mil exemplares Impressão Gráfica Imprima (Brasília) – (61) 3356-7654 Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: editora@meiaum.com.br

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Diretores: Anna Halley e Hélio Doyle SHIN CA 1 Lote A Sala 349 Deck Norte Shopping – Lago Norte | Brasília-DF | (61) 3468-1466 www.editorameiaum.com.br

CAPA | POR KACIO PACHECO

Caricatura em aquarela O autor da nossa capa é cristão pela vontade de Deus. E é só isso que quer que saibam sobre ele.


Professora Marcella de Souza Gomes, com os alunos Thiago Sena de Brito, Paula Milene Saboya de Menezes e Karen Utrini Velloso, da Escola Ginásio Carioca Coelho Neto, Rio de Janeiro (RJ).

TODA ESCOLA PÚBLICA PODE TER EQUIPAMENTOS DIGITAIS TODA ESCOLA PÚBLICA PODE SER UMA BOA ESCOLA.

Com o ProInfo, o Ministério da Educação incentiva estados e municípios a avançar no uso pedagógico da informática. O programa leva às escolas Ministério da

equipamentos, conteúdos educacionais digitais e formação continuada Educação O V E R Nadquiriu O F E Dmais E R A de L 125 para professores e gestores. Até 2011, oG ProInfo

mil laboratórios de informática. Para ampliar esta ação, este ano serão entregues mais de 600 mil tablets para professores do ensino médio,

facilitando o acesso ao Portal do Professor, ao portal Domínio Público, entre outros ambientes do conhecimento. Para saber se o seu município já participa do ProInfo e dos demais programas de educação digital, visite o site www.mec.gov.br/pde.

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Papos da cidade } ilustrações Pedro Ernesto

ernesto@grandecircular.com

R$ 18 mil é pouco Eu não me espantaria se Rosane Collor começasse a estrelar comerciais de TV, como tem feito com frequência a socialite Val Marchiori, depois do sucesso de Mulheres Ricas, aquele reality show nefasto da Band. De tudo o que a ex-mulher de Fernando Collor disse recentemente no Fantástico, a única novidade é a revelação do valor de sua pensão, R$ 18 mil, que ela acha pouco. Mais do que todo o resto da entrevista, o grand finale – a comparação com uma amiga que ganha R$ 40 mil de pensão, “e ela nem é ex-mulher de um expresidente, atual senador da República”, nas palavras de Rosane – foi comentado à exaustão nos jornais e nas redes sociais. Todo mundo achou um absurdo, da mesma forma que todo mundo criticava o (extinto) reality da Band e as declarações sempre preconceituosas de Val. Apesar da afronta a uma parcela (enorme!) da população, que nunca sequer provou um golinho do Veuve Clicquot que ela toma como água, a socialite se tornou celebridade e garota-propaganda – das mais requisitadas, aliás. Uma rede de supermercados lançou em abril uma campanha em que promotoras vestidas como Val Marchiori – de peruca loira, óculos escuros, salto alto e uma camiseta com frases da socialite – distribuíam um jornalzinho com anúncios de ofertas em pontos estratégicos da cidade de São Paulo. Na capa, uma foto de Val e a frase “Eu não faço economia. Mas você que faz, aproveite”. Se a entrevista ao Fantástico não fizer Fernando Collor aumentar a pensão de Rosane, ela pode incrementar o orçamento do mês com aparições em propagandas. Talvez não chegue aos R$ 40 mil que deseja, mas continuará


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Iury Rosa Mapurunga, Andressa Silva Firmino, Jaime Paiva da Frota e Ana Letícia Costa Miranda, alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental de Oiticicas, Viçosa do Ceará (CE).

TODA ESCOLA PÚBLICA PODE TER QUADRAS ESPORTIVAS TODA ESCOLA PÚBLICA PODE SER UMA BOA ESCOLA.

O Ministério da Educação apoia estados e municípios na construção e melhoria de quadras poliesportivas nas escolas públicas Ministérioda da rede Educação

de educação básica. Em 2011, o ministério aprovou propostas de G O V E R N O

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financiamento para a construção de 1.564 quadras em 818 municípios. Até 2014, a meta é construir mais de 6 mil quadras cobertas e realizar a cobertura de outras 4 mil quadras. Para ter acesso, as escolas

precisam declarar no Censo Escolar se possuem ou não quadras poliesportivas. Para saber se o seu município já está recebendo estes recursos, visite o site www.mec.gov.br/pde.

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fazendo piada com a condição social da grande maioria da população brasileira, exatamente como fez naquele domingo em rede nacional. Caroline Vilhena

Carne, osso e concreto A construção de Brasília foi um empreendimento épico, de envergadura maior que a abertura da Transamazônica ou o erguimento de Itaipu. Entre 1956 e 1960 foram erguidas a Esplanada dos Ministérios e o Plano Piloto, que seriam o embrião de uma das maiores metrópoles do País. Esse processo de conquista e colonização do continente, no entanto, não foi tão idílico quanto possam fazer crer as loas nacionalistas entoadas ao visionário presidente Juscelino Kubitschek. Quase como escravos construindo imensas pirâmides no deserto, os candangos foram a massa de manobra fundamental para que a capital fosse erguida. Muitos tombaram no caminho, e é esse o mote para Romance do vaqueiro voador, documentário poético de longa metragem idealizado e dirigido pelo documentarista Manfredo Caldas, baseado no poema homônimo de João Bosco Bezerra Bonfim. O trabalhador que cai do esqueleto de aço é tema recorrente na cultura brasileira e já apareceu numa famosa canção de Chico Buarque, que canta o voo de um operário que flutua no ar “como se fosse um pássaro” e se acaba no chão “como um pacote tímido”, entre outras variações para o mesmo fato. Em Brasília, eles caíam caudalosamente: criouse então o arquétipo do “vaqueiro voador”, humilde imigrante nordestino que vem tomar parte na empreitada, alheio a coisas como legislação trabalhista ou normas de segurança.

Soldando chapas de aço em vigas que muitas vezes não tinham doze centímetros de comprimento, muitos deles caíam no chão ou nos grandes tanques fumegantes de gesso, calcário e argila que iam carnear os esqueletos de aço. A imagem sugere que, além da representação poética do candango como “corpo e alma” da nova capital, muitos dos prédios da cidade tenham de fato pó de osso e carne coagulada misturado ao cimento. André Cunha

Diário de viagem – Paraty 2012 Fui logo reclamando – é muito longe do Centro Histórico! Mas as fotos confirmaram a sedução – a floresta do outro lado do rio Perequê-Açu, deque com piscina, jardim tropical, pássaros e saguis. E a caminhada acabou tornando-se uma desculpa para os exageros da comida e da bebida, porque a gente não quer só diversão e arte. Fomos ao centro. Cheiro de tinta fresca, movimento de gentes com crachás, azáfama de um evento cada vez mais inchado de público e atrativos. E muitas pedras no meio do caminho. Espalhe Drummond era o lema. A silhueta do poeta itabirano nos traços de Lan estava na boca dos clientes dos restaurantes, estampada em guardanapos, e os poemas, na boca do apresentador de cada mesa. Onipresente em estátua, imagens, letras e palavras, o retraído, enciclopédico, cronista, tradutor e prolífico poeta mineiro poderá ser visto na Casa da Cultura de Paraty até o fim do ano, em Faces de Drummond – livros, documentos, cartas, fotos, recortes de jornais, poemas gravados pelo autor, arquivista de si mesmo. Ilusão haver entradas para a Tenda dos Autores ou para o telão. Pensando que a programação não superaria as anteriores, esperava conseguir ingressos sem

problemas. Que nada! Tudo esgotado. Salvos por alguém que nos vendeu entradas de cortesia, pudemos assistir confortavelmente a algumas mesas. Outras apresentações vimos no telão do lado de fora, ao relento noturno, e durante o dia nas cadeiras das barracas próximas bebendo cerveja, pés na areia. Um olho na imagem projetada e o outro na enseada luminosa, ameno ar de lagoa, baía abrigada por montanhas e ilhas. Os primitivos banheiros químicos azuis individuais foram substituídos pelos coletivos brancos, com louça de verdade e bem limpos. Os cavalos das charretes turísticas ganharam novo dispositivo, o porta-bostas. O complexo de praticáveis invade a foz do rio. O paredão de barulhentos geradores certamente perturba a vizinhança e muitos nativos abominam a horda de turistas, que pelo visto aumenta a cada edição da festa, com ou sem as celebridades mais populares da literatura multicultural. Fátima Bueno

Direitos iguais, civis e humanos Eu não tenho preconceitos. Eu não discrimino ninguém. Não há racismo no Brasil. Somos uma nação livre de separatismos e de ódios. Aqui reina a diversidade: na mistura das cores, na beleza da mulata, na ginga do samba e do futebol. As deixas sobre a suposta democracia racial brasileira são inúmeras e propagadas de diversas formas nas artes, na TV, nos livros, na imprensa e no cinema. Mas a realidade é outra, como indicam os dados oficiais comparativos entre brancos e negros nos quesitos violência, saúde, educação, mobilidade social e mercado de trabalho, com ampla desvantagem para os negros. A situação das mulheres não é muito diferente – e a das mulheres negras é ainda pior. A violência contra o gênero feminino continua, apesar dos avanços da Lei Maria da Penha. E também contra os homossexuais,


Kaio Vinícios de Souza e a turma da professora Luana de Lima Cavalcanti, da Escola Municipal Dona Brites de Albuquerque, Olinda (PE).

TODA ESCOLA PÚBLICA PODE TER EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL TODA ESCOLA PÚBLICA PODE SER UMA BOA ESCOLA.

Com o programa Mais Educação, o Ministério da Educação apoia estados e municípios na ampliação da jornada escolar e organização curricular, com vistas à implantação do ensino em tempo integral, umada meta Ministério definida no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).Educação Priorizam-se O V E R N O F E D E R A L escolas estaduais e municipais com baixoG índice de desempenho no Ideb

ou localizadas em áreas de vulnerabilidade social. Elas devem realizar atividades de acompanhamento pedagógico e podem optar por desenvolver

atividades nos campos de esporte e lazer, cultura e artes, educação ambiental, promoção da saúde, educação econômica, entre outros. Com recursos depositados diretamente na conta de cada escola, o ministério beneficiou, em 2011, 3 milhões de alunos em mais de 15 mil escolas. Em 2012, foi superada a meta estipulada de 30 mil escolas. Para saber se o seu município já participa do programa Mais Educação, visite o site www.mec.gov.br/pde.

Conheça melhor este e os demais programas do PDE, desenvolvidos em parceria com estados e municípios. Mais informações: www.mec.gov.br

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como há pouco restou comprovado nas agressões bárbaras sofridas por irmãos gêmeos em São Paulo – um foi morto e o outro, ferido –, confundidos com um casal gay porque caminhavam abraçados. Para não falar na violência física ou velada praticada contra deficientes, índios, nordestinos, excluídos sociais em geral, espíritas, umbandistas, candomblecistas, ateus – enfim, contra todos os grupos que classificamos como minorias. Infelizmente, entre nós ainda reina a intolerância, apesar de todos os esforços pela igualdade religiosa, racial, sexual e de gênero. Nesse cenário, é bem-vinda a criação do Blog da Igualdade (www.dzai.com.br/igualdade/ blog/blogdaigualdade) pelo Correio Braziliense. No espaço, a jornalista e historiadora Sandra Machado divulga ideias, ações, pesquisas e políticas públicas sobre igualdade de direitos das tais minorias. Cabe à imprensa séria o papel de defender a preservação desses direitos, que baseiam a noção contemporânea de civilização e viabilizam o convívio humano. Qualquer retrocesso nessa área é inaceitável. Porque, além da sustentabilidade ambiental, é preciso refletir sobre nossa sustentabilidade como espécie e como ser social. Kátia Morais

Papos cruzados Uma das dificuldades mais comuns em redes sociais é encontrar alguém, por causa da quantidade de nomes idênticos – sejam eles José da Silva, Maria do Socorro, Júnior Santos ou Camila Alves. Pior ainda é quando uma pessoa pública tem o mesmo nome que você. Receber a mensagem não é crime, se ela já vem com seu nome. Com o boom das redes sociais, descobri que meu nome é bem mais comum do que eu imaginava: Orkut, Twitter, Facebook, Flickr, Instagram... não importa, já fui confundido em todas essas. Já fui um professor de cursinhos de Brasília, um

jornalista de Goiânia, um faixa preta de jiu-jítsu que treina na Austrália e, o mais frequente, um ex-deputado estadual do Rio Grande do Norte. Os temas são variados: comentários sobre partidas de futebol (que não acompanho), ameaças sobre o passado de minha vida política (que nunca existiu) e o melhor de todos: uma mensagem de “Papai, te amo. Feliz Dia dos Pais!” com um retrato da família, esta última há dois anos. A filha não era mais jovem que eu, por sinal. Agora que dei meu exemplo, posso seguir com um caso mais factual – e um tanto bizarro. O nome é James Holmes, formado em neurociência, mora longe dos pais e era doutorando pela Universidade do Colorado, EUA. Ressalto que essas informações não foram retiradas de uma página pessoal, mas sim de reportagens policiais. Numa madrugada, James cometeu uma chacina planejada, em uma sessão de cinema. Horas depois, o perfil de um James Holmes era bombardeado por mensagens de ódio, ameaças e (pasmem!) solicitações de amizade. O detalhe é que o destinatário não era o personagem acima descrito. O atirador vai contra a maré de jovens de 24 anos de classe média – é um “fantasma digital” e não tem contas em redes sociais. Ao menos, não com seu nome verdadeiro. O segundo é um rapaz mais jovem, de outra cidade, que precisou escrever um recado aberto em sua página para dizer à sociedade que não tinha nada com aquilo. O outro James pagou o pato. Leonardo Arruda

Sem lenço nem endereço Recém-chegada à capital, uma carioca não entendia a lógica dos preços de imóveis em Brasília. Talvez o que ela não compreendesse fosse justamente a lógica da própria cidade.

“É tudo muito louco aqui”, sempre dizia. Uma capital dividida em setores. Setor gráfico, setor hoteleiro... Em Brasília, não se paga pelo imóvel, e sim pela localização dele. Uma quitinete perto dos comércios movimentados das Asas Sul e Norte pode custar mais que um apartamento em Águas Claras. Falando nela, é bom que se tenha carro, pois morar perto do metrô pesa ainda mais no bolso. Aliás, ter carro é essencial para morar em Brasília. Você pode morar relativamente bem, como em excelentes imóveis no CA do Lago Norte, mas, sem um automóvel, considerese ilhado. Brasília transforma o sonho da casa própria em pesadelo? A verdade é que você tem que se privar de um desses fatores: espaço ou localização. “Com o valor de um apartamento simples aqui, eu moraria no Leblon”, ela costumava comparar. Nem as satélites se salvam mais dessa situação. Morar em Taguatinga, seja sul ou norte, está cada vez mais caro. Sem contar o trabalho que é atravessar a EPTG diariamente e concorrer na fila do engarrafamento com quem vem também do Guará. Acho que a carioca estava certa, o mercado imobiliário do Distrito Federal é uma confusão. Suélen Emerick

Transparência paranoica Desde junho, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal divulga, semanalmente, um balanço que mostra o quantitativo de crimes – homicídios, tentativas de homicídio, latrocínios, tentativas de latrocínio e roubos com restrição de liberdade –, bem como


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ocorrências de trânsito e apreensões de armas na unidade da Federação. As estatísticas podem ser consultadas pela internet, no blog da secretaria (http:// blog.ssp.df.gov.br). No mesmo endereço, é possível ter acesso aos dados de janeiro a maio de 2012, período em que a contagem semanal ainda não era divulgada. A iniciativa é louvável em termos de transparência, controle e acesso à informação. Levantar esses dados nas corporações policiais sempre foi burocrático, demandou tempo e impossibilitou um controle social apurado. Mas ver a discrepância dos números entre diferentes regiões e abrir o arquivo semanalmente para olhar os

dados de violência na cidade onde se vive ou se trabalha é no mínimo desesperador. A segurança pública no DF pode até estar conquistando resultado positivo, comparado com outras capitais do País – como foi divulgado, em julho, por pesquisa do Datafolha que abrangeu aspectos da sensação de segurança da população nas capitais. Só que acompanhar a contagem de dias sem homicídios em uma cidade e se deparar com o número zero como resultado é de amedrontar qualquer cidadão. Da mesma forma como é saber que em plena segunda-feira você pode ser sequestrado – como aconteceu próximo a sua casa na semana passada e

você nem tinha ficado sabendo – e ver as rotas que os bandidos costumam seguir até abandonar suas vítimas. Isso se você der sorte e não for parar entre uma das ocorrências quantificadas nas outras tabelas de crimes. Não adianta fechar os olhos. O jeito é acompanhar os números, torcendo para que a próxima semana seja melhor e o registro de menos de 24 horas sem homicídio no Itapoã, em Planaltina, em São Sebastião e em Santa Maria (dados da última semana de julho) se transforme em realidade como a do Lago Sul, há dois anos, cinco meses e sete dias sem esse tipo de ocorrência. Noelle Oliveira


Capa

Texto João Pitella Junior

Ilustração kacio pacheco

pitellajr@globo.com

Nelson

Rodrigues: 100 ANOS DE PROVOCAÇÃO


O

dia 23 de agosto de 2012 marca o centenário de um dos maiores escritores brasileiros, Nelson Rodrigues. Carioca nascido no Recife, tarado e moralista, maldito e consagrado, Nelson revolucionou o teatro nacional com “Vestido de Noiva” (1943) e outras 16 peças; foi o melhor cronista esportivo do País (poderia ser o melhor do mundo, mas para ele só existia o Brasil); foi repórter policial e editor de suplemento infantil; publicou centenas de crônicas e contos, inclusive os da famosa série “A vida como ela é...”; escreveu um dos romances mais ousados da nossa literatura — “O Casamento” (1966); chegou a trabalhar como ator de teatro e apresentador de programa de TV; escreveu diálogos de filmes e assinou traduções de livros (sem traduzi-los de fato, mas para emprestar o seu nome e promover as vendas); desafiou os

intelectuais e a classe artística ao se alinhar apaixonadamente com a direita; revoltou os conservadores por mostrar as perversões da classe média; e ainda teve tempo para criar uma insuperável coleção de frases inesquecíveis, como: “o dinheiro compra tudo, até o amor verdadeiro”, “em Brasília, não existem culpados nem inocentes, todos são cúmplices”; e “o homem nada mais é do que a soma das suas obsessões”. Acima de qualquer coisa, Nelson Rodrigues foi, em todas essas atividades simultâneas, um incansável polemista. Ele teve muitos empregos, mas manteve uma feroz coerência ao exercer uma única e verdadeira profissão: a de provocador. O seu objetivo era derrubar convicções, chocar, confrontar o brasileiro com as suas moléstias e escancarar a podridão do ser humano. Ele se considerava essencialmente um puro, um moralista, e exibia as


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Publicada em 2009, esta é uma das coletâneas dos famosos contos de Nelson sobre ciúme, mortes e traições. As histórias já foram adaptadas para o cinema e a TV.

taras dos “cretinos fundamentais” não por ser tarado, mas para denunciá-las. “Se há um brasileiro maníaco pela pureza, esse brasileiro sou eu”, garantiu Nelson, autor de peças acusadas de serem festivais de incestos e orgias, como “Álbum de Família” (1945) e “Os sete gatinhos” (1958). O título da sua biografia, escrita pelo jornalista Ruy Castro, só poderia ser mesmo “O Anjo Pornográfico”. Para Nelson, nada era mais importante do que ser do contra. Quando a sociedade brasileira era mais abertamente racista, escreveu uma peça (“O Anjo Negro”, de 1946) de protesto contra o preconceito. Denunciou a homofobia quando ninguém teria coragem de fazê-lo, com o “Beijo no Asfalto”, de 1961. Hoje, provavelmente Nelson faria o contrário de tudo isso. Nelson desprezava as feministas, por acreditar que o real objetivo delas era “transformar as fêmeas em machos mal-acabados”. Ele negou, porém, ter dito que as mulheres gostam de apanhar. “Eu nunca falei isso. O que eu disse é que as mulheres normais gostam de apanhar. As neuróticas reagem”, afirmou. Apesar desse discurso, nunca foi registrado qualquer ato de violência do escritor. Segundo se comentava no Rio de Janeiro, o próprio Nelson é que chegou a ser agredido por uma de suas namoradas. Nem sempre o desejo de fomentar polêmicas era movido por uma convicção artística. Nelson também gostava de provocar por provocar. Certa vez, chegou ao jornal onde trabalhava e pensou: “Quero ser xingado pelos leitores”. Escreveu, então, outra de suas frases célebres: “A pior forma de solidão é a companhia de um paulista”. No dia seguinte, esperou reações iradas, mas as horas foram passando e nada de protestos. Finalmente, tocou o telefone. Era uma senhora dando-lhe os parabéns pela frase: “O senhor está certo! Sou casada com um paulista há 20 anos e não sei como é a voz dele.” Com o seu bairrismo fluminense, Nelson, que havia se mudado aos três anos da cidade natal, Recife, para o Rio de Janeiro, desprezava não apenas São Paulo, mas qualquer paisa-

“O meu conselho para os jovens? Envelheçam. Envelheçam o mais rápido possível.”


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Nos anos 90, a Companhia das Letras editou esta série marcante, organizada por Ruy Castro. Os livros de Nelson disponíveis hoje são da coleção da editora Agir, publicada a partir de 2006 com um belo projeto gráfico.

gem estranha ao universo carioca. “A partir do Méier [bairro da Zona Norte no Rio], o brasileiro já sente uma profunda nostalgia do Brasil. E o pior estrangeiro é o brasileiro que volta do exterior”, definiu, para alfinetar os amigos intelectuais que se gabavam de conhecer o mundo. Ao escrever peças escandalosamente “imorais” nos anos 40, quando reinava o conservadorismo, Nelson passou a ser visto como “o tarado oficial”. Em 1957, lançou duas peças que já arrepiavam a tradicional família brasileira nos títulos: “Perdoa-me por me traíres” e “Viúva, porém honesta”. Depois dos anos 60, manteve-se contra a corrente: criticou o amor livre, a pílula anticoncepcional e a educação sexual, que considerava adequada para cachorros e cavalos, mas não para seres humanos. A estes, ele recomendava “a educação para o amor”, por acreditar que todas as doenças, “do câncer à brotoeja”, são frutos do sexo sem amor. Em nome da eterna polêmica, o tarado se transformou em moralista reacionário. No fundo, ele foi sempre um só: Nelson Rodrigues, o provocador.


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O teatro do tifo e da malária

Nelson Rodrigues alegava ter um conhecimento quase nulo de dramaturgia antes de lançar em 1943 “Vestido de Noiva”, que reinventou o teatro brasileiro ao mostrar uma história desenvolvida em três planos simultâneos: a realidade, o sonho e o delírio. Alguns estudiosos contestam essa versão de Nelson. De qualquer maneira, é verdade que ele escreveu a peça em apenas uma semana, da meia-noite às duas da manhã, pois trabalhava durante o dia como jornalista. Dois anos antes de “Vestido de Noiva”, que marcou o começo do seu reconhecimento literário, Nelson já havia lançado “A mulher sem pecado”. O objetivo era ganhar dinheiro, pois as comédias poderiam render fortunas. Nelson começou a escrever teatro para tentar ser engraçado, mas “a peça tomou um movimento próprio e se transformou em um drama sobre a tristeza do ser humano”. Nelson viria a definir a sua crença dramatúrgica com a seguinte frase: “Fazer rir no teatro é transformar uma catedral numa gafieira”, disse, de acordo com o livro “Nelson Rodrigues por ele mesmo”, publicado em 2012 por sua filha Sonia Rodrigues. Ele se orgulhava de produzir um teatro “desagradável”, para “provocar o tifo e a malária na plateia”. E via a plateia como simples pagante, pois detestava o teatro “participativo” ou “engajado”. Mais do que isso, Nelson odiava os diretores “inteligentes”, aqueles capazes de mudar até o texto de Shakespeare. “O diretor imbecil é melhor, porque acha que o texto é bom. O inteligente falsifica as peças”, explicou Nelson. Em 1945, com “Álbum de Família”, Nelson resolveu fugir do sucesso, por considerar que os admiradores são prejudiciais aos artistas. A nova peça foi censurada sob a justificativa de ter “incesto demais”, “como se o incesto pudesse ser de mais ou de menos”, conforme Nelson questionaria. “Álbum de Família é uma peça suicida; ela passou 21 anos encarcerada, enjaulada como uma cachorra hidrófoba”, disse. Nelson jamais perdoaria a classe artística por não ter se mobilizado contra a censura às suas peças. Durante os governos militares, ele usaria essa falta de solidariedade dos colegas como argumento para não participar das passeatas de artistas contra o regime. O escritor subiu ao palco para interpretar um personagem de “Perdoa-me por me traíres”, de 1957, apesar de reconhecer que seria o pior ator do mundo. Na estreia, recebeu vaias e gritos de “tarado” da plateia, revoltada com a história de um marido que se considerava culpado por ter sofrido adultério. Em 1962, Nelson lançou “Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária”, uma grande provocação ao seu amigo Otto. Essa obra mostrava


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“Todo amor é eterno. E se não é eterno não era amor.”

“Teatro Completo”: editado em 1993 pela Nova Aguilar, este importante livro reúne as 17 peças de Nelson e os principais textos de críticos sobre a sua obra.


22 o efeito devastador, na vida de um jovem pacato, de uma frase dita por Otto na vida real: “O mineiro só é solidário no câncer”. Ao ouvir essa tese, o protagonista perdia a crença na humanidade e cometia uma série de desvios de caráter, até descobrir que “o verdadeiro câncer é a frase do Otto”. Das 17 peças de Nelson, 10, segundo ele, chegaram a ser interditadas pela censura. Apesar de as suas peças sempre terem sido consideradas pornográficas, os palavrões só apareceram na última delas — “A Serpente”, de 1978. Boa parte das peças de Nelson aproveitou ideias dos contos da série “A vida como ela é...”, que ele havia escrito para a “Última Hora”, de 1951 a 1961. Nelson deveria fazer crônicas policiais baseadas no noticiário, mas resolveu inventar as histórias e torná-las mais interessantes, pois “o mal dos jor-

nalistas é que hoje eles mentem pouco”. Os contos, quase sempre sobre adultérios, fizeram tanto sucesso que o jornal aceitou a ficção rodrigueana e aposentou o seu lado de repórter.

Um reacionário libertário

— Se o senhor soubesse que iria morrer agora, quais seriam as suas últimas palavras? — Que boa besta era o tal do Karl Marx! Esse diálogo entre Nelson Rodrigues e uma repórter “estagiária” é um exemplo de como ele gostava de comprar brigas com a esquerda. Nelson se orgulhava tanto de ser “O Reacionário” que escolheu esse título para um dos seus livros. Porém, ele explicaria


23 depois que se considerava reacionário, sim, mas de forma irônica — afinal, a sua verdadeira crença era a de que reacionária é a esquerda. Ainda na infância, Nelson ouviu um adulto dizer a outro que o mataria friamente se recebesse ordem “do Partido” [Comunista]. Naquele momento, Nelson decidiu ser anticomunista. Ele dizia que “entre ser vítima ou assassino, prefiro ser vítima”. Na visão de Nelson, “o que a esquerda quer é que o brasileiro chupe o sangue da carótida do brasileiro como se fosse groselha”. Talvez por acreditar na figura do brasileiro como o “homem cordial” denunciado por Sérgio Buarque de Holanda, Nelson via, nas revoluções tentadas pela esquerda, o desejo de fomentar um ódio social capaz de “transformar o Brasil no anti-Brasil”. Ele explicava que era contra o socialismo por considerar que “o problema da liberdade precisa vir antes do problema da fome” — ou seja, o combate às injustiças sociais não justificaria a existência das ditaduras comunistas. Alguém poderia dizer que, para os burgueses bem alimentados, é fácil menosprezar a gravidade da fome. Porém, Nelson conviveu com esse mal nos momentos de pobreza da sua família de jornalistas. O materialismo dos socialistas irritava Nelson Rodrigues, que, apesar de não praticar nenhuma religião, havia sido influenciado desde a infância pelas tradições cristãs. “Eu peço a Marx que me devolva a minha alma imortal”, escreveu. Nelson ridicularizava o fascínio dos milionários e dos intelectuais pelos ícones da esquerda. Em uma crônica, ele narrou um “sarau de grã-finos” cujo ponto culminante era a apresentação do pôster de Che Guevara aos convidados, todos boquiabertos de admiração. O filósofo Jean-Paul Sartre também não escapou da mordacidade rodrigueana: ao dizer que “o socialismo é inultrapássavel”, Sartre provou, segundo Nelson, que “os gênios têm nostalgia da burrice”, pois “o socialismo é ultrapassável até por uma carrocinha de chicabon”. Nas passeatas da esquerda nos anos 60 e 70,

“O sexo é uma selva de epilépticos. O sexo nunca fez um santo, só fez canalhas. O sujeito não tem direito de usar o sexo a não ser por amor.”

não havia, na definição de Nelson, “nenhum desdentado, nenhum torcedor do Flamengo” e ninguém que não fosse branco. Ela via a militância de esquerda como um capricho das elites: “O intelectual virou esquerda porque essa é uma maneira de o sujeito ser inteligente, de ser atual, de ser moderno e, principalmente, de se banhar na própria vaidade.” Para Nelson, ser socialista é uma boa maneira de “ser intelectual sem escrever, pensar ou ler”, pois “se o sujeito é socialista, se dispensa de tudo o mais, não precisa escrever uma frase”. Todo os marxistas, segundo ele, “são marxistas de galinheiro, inclusive Marx”. E, nos países socialistas, “o único indivíduo livre é o suicida”. Apesar de viver em dois ambientes — o jornalismo e o teatro — que cobravam o “atestado ideológico” de esquerdista, Nelson idolatrava os militares e dizia que as maiores conquistas do povo brasileiro eram devidas ao Exército. A prova? Bastava, segundo ele, ver os quadros de pintores clássicos sobre as proclamações da Independência e da República, onde se destacam as figuras de militares “de esporas e penachos”. Até nesse ponto, a vida do escritor foi contaminada pelas contradições nelsonrodrigueanas da sua literatura: o jovem Nelson Rodrigues Filho foi preso nos anos 70 por causa de sua militância comunista. Em um dos seus últimos textos, a “carta pela anistia”, publicada em 1979, Nelson implorou ao presidente-general João Figueiredo a libertação de Nelsinho e de seus companheiros, que dizia considerar como jovens tomados por um idealismo ingênuo. A carta terminava assim: “Deus te ame eternamente, Figueiredo.” Segundo alguns de seus amigos, Nelson Rodrigues teria paparicado os generais para conseguir salvar a vida do filho. Porém, a veemência com que ele criticou a esquerda durante toda a sua vida não deixa dúvidas sobre a sua ideologia. O que vale mais é a palavra do próprio Nelson: “A melhor maneira de não ser canalha é ser reacionário. Eu sou reacionário. Reajo contra tudo o que não presta”.


Nelson desprezava as feministas, por acreditar que o real objetivo delas era “transformar as fêmeas em machos mal-acabados”.Para Nelson, nada era mais importante do que ser do contra. Quando a sociedade brasileira era mais abertamente racista, escreveu uma peça (“O Anjo Negro”, de 1946) de protesto contra o preconceito. Nelson também gostava de provocar por provocar. Certa vez, chegou ao jornal onde trabalhava e pensou: “Quero ser xingado pelos eitores”. Das 17 peças de Nelson, 10, segundo ele, chegaram a ser interditadas pela censura. O materialismo dos socialistas irritava Nelson Rodrigues, que, apesar de não praticar nenhuma religião, havia sido influenciado desde a O carrasco das unanimidades

Ao expor teses célebres, como a de que “toda unanimidade é burra”, Nelson Rodrigues não apenas buscava frases de impacto, mas sobretudo delineava as suas convicções vitais. No teatro, tinha como profissão de fé ser um “autor maldito”, o que considerava “muito interessante”. Recebia as críticas como provas saudáveis de que não era um “autor oficial”. Já nas crônicas culturais, uma das melhores e menos comentadas partes de sua obra, desafiou verdades absolutas do país. Quem ousaria falar mal do poeta Carlos Drummond de Andrade? O incontestável Drummond, para Nelson, era só um “antipoeta” com “a aridez de três desertos”. Ele o ridicularizava por ter escrito a seguinte dedicatória num livro: “Para Marques Rebelo - sem palavras”. Nelson dizia que a ausência de palavras num poeta só poderia ser vista como “preguiça mental”. Por trás dessa antipatia, havia certo ciúme da amizade de Drummond com o escritor mineiro Otto Lara Resende, que Nelson amava e odiava. Além disso, teria se revoltado ao


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O profeta implacável

Outra tese de Nelson Rodrigues é a de que “só os profetas enxergam o óbvio”. Apesar de dizer que ter criado o conceito do “óbvio ululante” era a sua maior realização, foi capaz de ver muito além das evidências. As profecias de Nelson, algumas só confirma-

das depois da sua morte, contribuem para a atual fama do escritor. No futebol, Nelson costumava acertar mesmo ao fazer apostas absurdas. Quando a Seleção Brasileira embarcou cercada de descrédito para a Copa de 70, ele jurou que o time seria o campeão com espetáculos memoráveis. Pelé, astro do time de 70, já havia sido alvo de uma profecia de Nelson: aos 16 anos, foi chamado por ele de “rei” — apelido pelo qual é conhecido até hoje. “Do seu peito, parecem pender mantos invisíveis. Dir-se-ia um rei”, escreveu Nelson sobre Pelé. O escritor foi o primeiro a conseguir enxergar a tão óbvia genialidade do craque. Na Copa de 1962, Pelé se machucou e os cronistas esportivos passaram a dar a derrota brasileira como inevitável. Nelson, porém, adivinhou o que ninguém mais poderia ter imaginado: o limitado atacante Amarildo seria um substituto à altura. Graças em parte às boas atuações de Amarildo, “o possesso”, o Brasil ganhou a sua segunda Copa. Nelson previu conquistas improváveis do seu time de coração, o Fluminense. Detalhe: o escritor mal conseguia ver de fato o que acontecia em campo. Outras profecias impressionantes não faltam. Exemplo: “Podem anotar o que estou escrevendo [no final dos anos 60]: o Brasil ainda será a maior nação de ex-católicos do mundo”. Segundo ele, a Igreja Católica perderia muitos fiéis para outra religião que usasse métodos eficazes de propaganda. Muito antes de existir a renovação carismática, Nelson previu também que as missas perderiam o aspecto solene e se tornariam mais descontraídas, o que ele imaginava como uma aberração. O profeta Nelson foi capaz de antever até a troca de posição política de Arnaldo Jabor, diretor de filmes baseados na obra rodrigueana e militante de esquerda nos anos 60 e 70: “O Jabor só não é muito maior porque não é reacionário, mas, um dia, ele o será e nós assistiremos à explosão de seu gênio”. Para Nelson Falcão Rodrigues, “visionário” bem poderia ser mais um sobrenome.

Vida rodrigueana As personagens e situações típicas da literatura de Nelson Rodrigues iam “do patético ao sublime e do sublime ao patético”. Na vida, foi coerente com a obra. Aos seis anos, conseguiu ser visto como “promessa de tarado” ao escolher, como tema de redação escolar, um adultério seguido de assassinato. Durante a infância na Zona Norte carioca, viu de perto traições, pactos de morte e conflitos familiares que décadas depois ainda estariam nos seus textos. A tragédia o acompanhou. Viu o jovem irmão Roberto, talentoso desenhista, ser assassinado dentro do jornal do pai por uma senhora indignada com uma reportagem sobre seus problemas conjugais. Ela queria matar o pai, Mário Rodrigues, ou o primeiro filho que encontrasse. O pai morreu de desgosto semanas depois. E o jornal, “Crítica”, teve as instalações destruídas um ano depois, quando estourou a Revolução de 1930. A família ficou na miséria. Outro irmão morreu, com a família, no desabamento de um prédio. O próprio Nelson escapou por pouco de morrer de tuberculose na juventude, mas o irmão Joffre não resistiu. “Tenho na minha vida um arsenal de fatos incríveis”, disse. Até na sua morte, aos 68 anos, houve um ingrediente de suprema ironia: depois de passar grande parte da vida em dificuldades financeiras, realizou no dia da morte o sonho antigo de ganhar na Loteria Esportiva. A aposta havia sido feita em conjunto com amigos. Nelson, que estava internado, nem ficou sabendo do seu derradeiro lance de sorte. Da morte ao nascimento, não faltaram estranhas coincidências. Em 1912, quando veio ao mundo, aconteceu o primeiro Fla-Flu, jogo que ele ajudaria a imortalizar em frases como “tudo é Fla-Flu, e o resto é paisagem”. Porém, o lance mais nelsonrodrigueano da vida do escritor foi ter permanecido casado oficialmente com Elza, sua primeira companheira, décadas depois de sair de casa e de se envolver com várias outras mulheres. Em sua lápide, está a inscrição: “Nelson e Elza, ) unidos para além da vida e da morte”. )

ver Drummond registrar com suposta frieza, numa crônica de jornal, o desabamento de um prédio que vitimou um dos seus irmãos. O próprio Otto Lara, outra unanimidade literária, era vítima das ironias de Nelson, que o acusava de ter conquistado fama antes de publicar qualquer coisa relevante. Segundo Nelson, as frases geniais que Otto dizia aos amigos jamais chegavam às paginas dos livros. Para um escritor, é difícil haver ofensa maior. Poucas unanimidades foram tão atacadas por Nelson Rodrigues quanto Dom Hélder Câmara. Idolatrado na mídia e visto em geral como santo pelos brasileiros, era chamado por Nelson de “padre de passeata”, que só usava a batina “para não apanhar da polícia” nas manifestações da esquerda. Escreveu uma entrevista imaginária com Dom Hélder, sob a justificativa de que uma conversa real seria contaminada pela “pose” do personagem. Nessa “entrevista”, o religioso confessava que jamais se contentaria em ser “um mero funcionário do sobrenatural”, pois a sua verdadeira profissão não era a Igreja, e sim o “ódio aos Estados Unidos”. Nelson confessava ter “horror da opinião pública”, pois, “a maioria geralmente está errada”. Segundo ele, “quando o homem se faz grupo, multidão, maioria, unanimidade, torna-se um idiota no meio de idiotas”, já que “nunca houve uma multidão inteligente”. Por isso mesmo, uma das maiores ironias da sua vida após a morte talvez seja o fato de ser visto, hoje, como uma das unanimidades da cultura brasileira. Embora a sua atitude ideológica seja contestada, ninguém nega a importância de Nelson.


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CHARGES DO GOUGON hgougon@gmail.com


Fora do Plano por NOELLE OLIVEIRA noelleoliveira@meiaum.com.br

Propaganda enganosa

O governador Agnelo Queiroz divulgou em recente viagem à Alemanha a vocação de Brasília para o desenvolvimento verde. Aproveitou para assinar um protocolo com empresa especializada em tratamento de resíduos sólidos. Tudo ecologicamente correto, mas há um detalhe: a central estudada há mais de uma década para substituir o lixão da Estrutural ainda não saiu do papel. O secretário de Meio Ambiente, Eduardo Brandão, fez propaganda da capital federal na Rio+20, mas não conseguiu cumprir nenhum prazo para que o aterro sanitário de Samambaia vire realidade. O governo local já liberou R$ 20 milhões para o projeto, mas a licitação para contratação da empresa que vai construir e gerir a área está emperrada. Chegou a ser anunciada para março, mas não saiu. As coisas só começaram a andar com a Casa Civil à frente do processo. A previsão agora é que a licitação saia em dois meses. Mesmo assim, não é garantia de sucesso. Falta a licença de instalação. Sem ela, a parte prática da obra do aterro não pode ser iniciada. O secretário-chefe da Casa Civil, Swedenberger Barbosa, trata da questão pessoalmente para ver se recupera o prazo perdido. Resolveu a questão fundiária, mas ainda tem muito trabalho. As áreas de transbordo, triagem e reciclagem serão licitadas pela Secretaria de Meio Ambiente e, segundo o governo, estão com os editais prontos, mas ainda sem data para publicação. Dez anos de discussão, para um ano e meio de execução.

Por bem ou por mal A Política Nacional de Resíduos Sólidos diz que até 2014 nenhuma cidade deve ter lixão a céu aberto. No nosso caso, o da Estrutural pode nem resistir até lá. Já está acima da cota faz tempo e os mais pessimistas acreditam que pode atingir o extremo de sua capacidade ainda neste ano. No aterro de Samambaia, que vai substituí-lo, foram feitos até agora serviços de capina e roçagem, além de sondagens no solo. O projeto tem pendências graves como a transferência da Escola Rural Guariroba, cujo projeto está em adequação na Novacap. A meiaum mostrou,

em março, que o centro educacional – em área próxima à destinada ao novo aterro – já tinha um terreno para onde se mudar, mas sem planejamento para o novo prédio.

Fake na PMDF A Polícia Militar instaurou sindicância para apurar quem é o responsável pelo endereço eletrônico falso que está repassando e-mails em nome da corporação. O endereço fake é “comunicacaosocialpmdf” e o verdadeiro, “comunicacaosocial.pm”. Ambos têm o mesmo domínio. O remetente não oficial faz até mais sentido, o que logo foi percebido

por algum “espertinho”. As mensagens do falsário divulgam notícias envolvendo a corporação, informações sobre reuniões para discussões salariais e opiniões sobre temas de interesse da categoria. A PMDF soltou um informe alertando sobre o fake. Isso após uma das mensagens ir parar na caixa de e-mails do próprio comandante-geral, coronel Suamy Santana, que encaminhou o correio eletrônico ao chefe do Centro de Comunicação Social, coronel Paulo Roberto. O assunto não era nada agradável aos ilustres remetentes. Dizia: “Assembleia do dia 20 atormenta o Comando. Tartaruga já!”


miséria

A pior vista de Brasília Texto e fotos William Dornela – Estudante de Comunicação Social do Iesb* william_df2@hotmail.com

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apenas 30 quilômetros de Brasília, capital que lidera o ranking de renda média mensal do País, está a segunda maior favela do Brasil. No Sol Nascente, 56.483 pessoas vivem sem saneamento básico, água potável e luz elétrica. Não há transporte público urbano nem coleta de lixo. O posto de saúde mais próximo fica a 3,8 quilômetros de distância e existem apenas duas escolas para uma comunidade com 10 mil crianças. A situação vulnerável pode ser observada em cada ponto dos 14 quilômetros quadrados que marcam esse território da precariedade, em Ceilândia. Onde faltam políticas públicas, sobram dramas. “Passei dois dias só com água no estômago. Foi duro ver meus filhos nessa situação”, conta a desempregada Joana Darc, de 42 anos, que vive com dois filhos, um neto e o marido na Vila Madureira, uma das 40 regiões do Sol Nascente. Beneficiada pelo Bolsa Família, soma os R$ 114 do repasse aos bicos que, ao lado do marido, também desempregado, consegue ao longo do mês. O total garante cerca de R$ 450. “É pouco para alimentar cinco bocas, mas Deus vai ajudando”, resigna-se Joana.


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pontos mais violentos e que concentram a maior pobreza. É onde há mais assalto, tráfico e morte”, resume o prefeito comunitário, Edson Batista Lopes. O pedreiro Júnior Gabriel Fagundes Lemos, de 22 anos, concorda. “Na beira das erosões, você encontra gente desovada, carro roubado, animal morto, tudo de ruim que se possa imaginar”, descreve. “A polícia não entra aqui. Eles dizem que não têm acesso por causa das ruas.” A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal não tem dados específicos, mas confirma a violência no local. Nas vias esburacadas e sem asfalto, não se veem rastros de carros de polícia ou qualquer outro resquício de segurança. Há apenas um posto policial. Os assaltos ocorrem a qualquer hora do dia e da noite. O garçom Aldex Costa, de 42 anos, já foi roubado no Córrego das Corujas, quando ia para o trabalho, às 6 horas. “Deus me ajudou e eu estava só com os documentos no dia, mas assalto aqui acontece toda hora.” Se sobra violência, falta emprego. A prefeitura comunitária estima que pelo menos metade dos moradores dessas duas regiões, consideradas a periferia da periferia, esteja desempregada. Em horário comercial, é comum ver as pessoas andando pelas ruas e as casas com intenso movimento de adultos. “Está difícil arrumar emprego, sempre distribuo currículo, mas não consigo nada. Deve ser por causa da idade”, lamenta Joana Darc. A demógrafa Ana Nogales Vasconcelos, diretora do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (UnB), explica que o desemprego nessas regiões é comum e acaba representando risco de segurança aos próprios moradores. “Pessoas ociosas, que não têm oportunidade, acabam entrando para a marginalidade. Não é regra, mas é a realidade que bate à porta”, avalia. A ocupação informal e os programas de transferência de renda acabam sendo a saída. De acordo com dados do Censo 2010 divulgados no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda média mensal de um morador em áreas de invasão no Distrito Federal é de R$ 600, menos que o atual salário mínimo, de R$ 622. O contraste é ainda maior levando em consideração que o rendimento mensal médio registrado no DF em 2008, conforme a Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (Pnad), foi de R$ 2.117. A média nacional é de R$ 1.036. Longe de qualquer média apontada nas estatísticas, o catador de materiais recicláveis Agenor José dos Santos, de 70 anos, morador da Vila Madureira, vive com R$ 100 mensais, conseguidos com

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a venda do que é rejeitado pelas ruas de Ceilândia, mais R$ 70 do Bolsa Família. O valor é variável. “Depende muito da sorte.” Há oito anos, ele construiu um barraco à beira de uma erosão, com um cômodo, onde mora sozinho. Os pertences se resumem a uma cama, roupas espalhadas pelo chão, um filtro de barro e uma panela amassada. Como não tem água nem luz, toma banho na casa de familiares. “Meu sonho é assistir televisão deitado na minha cama. Deve ter um gosto muito bom.” Apesar da idade avançada, diz que ainda não se aposentou porque falta entregar um documento que está em Minas Gerais. “Não tenho dinheiro nem condições para ir lá buscar. O governo dificulta tudo pra mim”, reclama. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) reconhece a carência da região, mas explica que não há políticas específicas voltadas para o local. O governo informa que oferece a mesma assistência destinada às outras regiões administrativas. Ainda segundo a Sedest, o único planejamento para o local é construir um restaurante popular, onde serão vendidas refeições por 1 real, em função da extrema pobreza dos moradores. Além de conviverem com a pobreza, os moradores da favela Sol Nascente têm a vida atormentada pelo tráfico de drogas. “É um terror. É gente fumando e cheirando o tempo todo. Roubam a gente para comprar essas porcarias”, diz uma moradora que pediu para não ser identificada. O clima de medo faz com que o silêncio impere. Muitos temem sofrer represália e evitam falar sobre o assunto. A sensação de insegurança é generalizada. A diarista Josineide Mota Reis, de 35 anos, conta que uma vez saiu de casa para trabalhar e, quando voltou, os ladrões tinham levado tudo. “Só deixaram o que não passava pela porta da sala: cama, fogão e guarda-roupa. De resto, levaram tudo”,

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para futuros

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O catador Agenor dos Santos construiu este barraco na favela há oito anos. “Meu sonho é assistir televisão deitado na minha cama.”


32 lamenta. Josineide reforçou a fechadura e pede para os vizinhos vigiarem, mas mesmo assim vive com medo. “Não dá para ficar tranquila. Aqui não é Sol Nascente. É Sol Morrente! Só tem tiro, morte e malandro roubando”, desabafa. Como se não existissem Na avaliação da demógrafa Ana Nogales, a violência é consequência da falta de políticas públicas. “É uma população que está à margem. Excluída. Não tem infraestrutura, e a violência é o resultado disso. Apesar de a favela ser recente, a insegurança se assemelha à de grandes centros, como Fortaleza, Salvador e Recife”, compara. Em muitos barracos, a iluminação é feita com ligações clandestinas, os chamados “gatos”. “É o risco que corremos, mas é melhor que viver no escuro”, justifica o garçom Aldex, que vive no Córrego das Corujas. O único poste de luz que funcionava foi engolido pela erosão. O buraco que se abriu já ameaça as casas. A situação é agravada diariamente pelos moradores, que jogam lixo no buraco aberto pela erosão. Dizem que o caminhão do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) passa só pelas ruas pavimentadas, sem alcançar as extremidades da favela. A céu aberto e sem qualquer cuidado, os dejetos ficam expostos. “Vou ficar com o lixo dentro de casa para juntar moscas? Infelizmente, não tem opção”, argumenta a dona de casa Francisca das Chagas Alves, de 35 anos. A assessoria de comunicação do SLU, no entanto, diz que o serviço de retirada de lixo é realizado em toda a região. De acordo com o órgão, a coleta é feita de segunda a sábado, no período da manhã. E nos locais de difícil acesso por caminhões, são usadas caçambas. O buraco aberto pela erosão representa perigo para as pessoas que vivem ali. A cada tempestade ele aumenta e se aproxima das casas. A erosão está a cerca de seis metros da moradia da dona de casa Maria Joana

Fernandez da Silva, de 36 anos. Ela conta que já foi notificada pela Defesa Civil sobre o risco. “Falaram de uma remoção, que vão levar a gente lá para umas casinhas que estão construindo. Acho díficil acontecer, mas ia ser melhor. Vou pra qualquer lugar que falarem: esse pedaço de chão é seu.” De acordo com a Administração Regional de Ceilândia, das 556 moradias, pelo menos cem estão em situação de risco na Vila Madureira e precisam ser removidas. No Corrégo das Corujas, não há estimativa porque ainda não foi feito um estudo ambiental na região. Maria da Conceição Martins, de 43 anos, vive na insegurança, a cada época de chuvas, quando o risco de desabamento aumenta. Diz que se submete a viver ali porque não tem alternativa. “O governo fala do Minha Casa, Minha Vida, mas nem todo mundo tem condição de pagar a prestação, por menor que seja. Nós somos necessitados. Quando compramos carne, falta salada. Quando compramos calçado, falta roupa... é assim!” Para o arquiteto e urbanista Frederico Flósculo, professor da UnB, a vulnerabilidade na região pode ser classificada como extrema. “Eles estão no mais baixo grau de Brasília. São desumanas as condições impostas”, analisa. Dos quase 10 mil meninos e meninas que vivem no Sol Nascente, apenas 2.554 estavam matriculados nas duas únicas escolas públicas de lá no primeiro semestre, segundo dados da Secretaria de Educação. Portanto, 75% têm que estudar em outras localidades. A dona de casa Clarisse Barbosa de Sousa, de 39 anos, não conseguiu vaga no Sol Nascente para nenhuma das três filhas, que estudam a quatro quilômetros de casa, no P Sul. O trajeto é feito de bicicleta porque não passa ônibus dentro da favela. A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação garante que oferece transporte aos alunos que estudam longe de casa. Informa que, quando não há mais vaga, o aluno é remanejado para proximidades como o P Norte ou o P Sul e auxilia com o

passe estudantil. Mas Clarisse diz que de nada adianta receber vale-transporte se não há ônibus por perto. No Córrego das Corujas a situação é semelhante. Maria Joana Fernandez da Silva, de 36 anos, diz que deixou de trabalhar porque tem que levar o filho à escola. “Como é que eu vou deixar meu filho ir sozinho andando para o P Norte sabendo dos perigos que ele pode encontrar pelo caminho? Aqui não tem segurança. Tem gente que faz o mal à luz do dia mesmo”, diz. A Secretaria de Educação argumenta que, como o local é irregular, não é possível construir mais escolas. A pesquisadora Ana Nogales afirma que a dificuldade de acesso à educação contribui para que muitos jovens não concluam os estudos. “O índice de jovens que não terminam o ensino fundamental chega a 40% nessas regiões”, diz. A estatística é preocupante, uma vez que, se a pessoa não consegue sequer passar pelo ciclo básico, dificilmente conseguirá boa colocação no mercado de trabalho. “Fica impossível mudar de vida.” Círculo vicioso A ocupação do Sol Nascente teve início em 1998, quando antigos proprietários da área repartiram as chácaras em lotes para vender. Os compradores, por sua vez, dividiram os terrenos e os venderam, até que virou um aglomerado. São mais de 190 chácaras. A área inicialmente planejada para ser rural é ocupada mais de 110 mil habitantes, segundo a Administração Regional de Ceilândia. A demógrafa Ana Nogales, que participou de levantamento sobre a favela, conta que a região é formada basicamente por pessoas de origem humilde e jovens no início do ciclo familiar. “Os moradores de lá são pessoas jovens que demandam escolas, empregos e saúde. Como não encontram isso onde moram, ficam muito ociosos. E isso não é bom”, afirma. Ela explica que o local se formou a par-


prêmio meiaum

para futuros

Jornalistas

O garçom Aldex recorreu a um “gato” para oferecer o mínimo de conforto à família.

os problemas. “São mais de 600 condomínios irregulares. Como não há fiscalização, crescem e viram problema social. Depois o governo não tem como resolver. Na verdade, nem sabe por onde começar.” Flósculo acredita que o problema só tende a aumentar. Para ele, enquanto o governo não fiscalizar as regiões, os pontos de pobreza no DF e entorno tendem a crescer. “Se seguirmos o ritmo, até 2020 o Sol Nascente vai estar ligado a Santo Antônio do Descoberto e a Águas Lindas [municípios goianos]. Será o triângulo das bermudas”, aposta. Mas as adversidades não impedem gente como a cabeleireira Antônia Rosivânia Sales de Lima, de 34 anos, de empreender

no Sol Nascente. Moradora de lá, abriu um salão de beleza na Vila Madureira. Vânia, como é conhecida, teve a ideia porque tinha que pegar ônibus às 5 horas para chegar até o centro de beleza em que trabalhava, no Plano Piloto. “Era muito perigoso subir até o terminal de ônibus nesse horário. Tinha medo de ser assaltada ou de acontecer algo pior”, diz. “Percebi que as mulheres daqui também tinham desejo de se arrumar, de se sentirem bonitas”, explica. Transformou o corredor da garagem ) no salão Desejo de Mulher. )

tir da invasão de pessoas que já moravam em Brasília (85%) e não tinham qualquer propriedade. “É um local que se expandiu sem as condições básicas que sustentam um crescimento adequado.” Não há previsão para que o Sol Nascente seja regularizado e passe a receber recursos do governo. O local é dividido em três trechos e apenas o primeiro tem licença ambiental e projeto urbanístico. A regularização depende dos dois itens e de um decreto governamental. “Primeiro de tudo é preciso regularizar, senão o governo não pode investir”, explica o gerente de Condomínios de Ceilândia, Carlos Botani. Para o professor da UnB Frederico Flósculo, a falta de planejamento explica

* Reportagem originalmente publicada em junho de 2012 na Redemoinho, revista do curso de jornalismo do Iesb, sob orientação dos professores José Marcelo dos Santos e Leila Herédia.


1*

paubrasilia@paubrasilia.com.br

por Nicolas Behr

BRASÍFRA-ME

Personagens, lugares e episódios marcantes da história da nossa capital. Desvende estes poemas-enigmas.

falta ali uma estátua do elmo ou uma placa, agradecendo vários nomes teve entre a sul e o sudoeste hoje parque amanhã... parking?

2* quando nos aproximamos por que se esconde (ou avoa) de nós o símbolo da sabedoria? medo da nossa subterrânea ignorância? pia de dia


3** para tudo que o palhaço vem ary

35

5* a casa-dos-mortos tem formato de caracol

relampejando de cara limpa e pintada fez da tropa sua trupe

4*

talvez seja porque ninguém tem pressa em lá chegar

6* primeiro hospital

sempre nove hoje museu da dor lugar dos sem eira nem beira, a boa mesa cativa escrava do vício

em exposição: a ferida pulsante a cicatriz cortante a perda constante a indiferença presente

mítico bar seja você, visitante Respostas: 1 Parque da Cidade – 2 Coruja-buraqueira – 3 Ary Para Raios – 4 Beirute 5 Campo da Esperança – 6 Museu Vivo da Memória Candanga

adoro a mesa sem adorno do eudoro


Artigo

Incômodo prá quem vai, problema prá quem fica Não é frescura. O ruído na praça de alimentação do aeroporto faz mal à saúde, principalmente dos que trabalham lá

Texto Kátia Marsicano Ilustração Chico Régis katiamarsicano@gmail.com

regisimagem@gmail.com


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rasília – mesmo que eu resista – tem registros fortes na minha vida de carioca de crachá e carteirinha. Exemplo? Os passeios de domingo no aeroporto. Pode parecer besta para a geração tecno-shopping, mas era muito legal ver avião subindo e descendo e correr pelo terraço ao ar livre. Meu pai tinha tudo a ver com aviação e cresci ligada ao encanto de voar. Naquele tempo, o lugar tinha o charme do beijinho jogado ao vento e dos acenos efusivos da chegada e da partida. Ninguém se enfurnava em corredores fechados no embarque e no desembarque. Todo mundo via a gente. Como no túnel do tempo, dia desses estava eu de novo no aeroporto. E no mesmo lugar. Pelamordedeus! O terraço panorâmico se transformou em uma “caixa amplificadora” de decibéis de 12 mil metros quadrados com gente para lá e para cá, engolindo lanchinhos fast-food, conversando no celular aos gritos e competindo com as turbinas e tudo mais de barulhento que rola no pátio (ufa!). Isso somado e sugado para dentro da praça de alimentação, pelas aberturas de ventilação, sem qualquer isolamento acústico que poupe os usuários e, principalmente, quem trabalha no local. Tudo bem, avião sempre fez barulho, mas o ambiente era outro. As pessoas não estavam enclausuradas em um terraço envidraçado e não tinha tanta gente trabalhando horas a fio. O movimento era infinitamente menor. Como é que hoje isso pode ter se transformado em praça de alimentação? Passageiro passa, mas como fica quem tem que estar lá todo dia para defender o ganha-pão? Que alguém nos ouça. Por mais conformado que seja o funcionário, não há saúde que aguente. O segurança conta que enfrenta uma jornada de 12 horas, com 36 de folga. Diz que está bem, mas transparece irritação: “Como a gente vai usar protetores e atender as pessoas com ouvidos tapados?” Para a mocinha do quiosque, tudo se resume a uma frase: “Fazer o quê?” Conformada, diz que é difícil mesmo, mas a necessidade supera qualquer coisa... E aí, os dois ônibus para voltar para casa depois de 12 horas de barulheira são o bálsamo para a cabeça. A mesma coisa pensa o gerente de restaurante, ao desabafar os perrengues de todo santo dia... “A clientela reclama como se a gente tivesse culpa”, diz, lembrando que os garçons apelam até para a leitura labial dos incompreensivos fregueses. E aí logo aparece um, como o passageiro engravatado de Maceió: “Isso aqui não existe! Na minha terra, barulho só o das ondas do mar”. Ok! Há quem duvide e ache frescura o desabafo. Recorri

aos especialistas. Dois pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB) atestaram o impacto do ruído sobre as pessoas na praça de alimentação: Sergio Garavelli, doutor em Física pela Universidade de Brasília, e Cleber Alves da Costa, mestre em Planejamento e Gestão Ambiental pela UCB. Costa esteve no local e, com um decibelímetro Solo 01dB, fez medições do nível sonoro em 12 de julho, entre as 17 e as 18 horas. Os dados levantados segundo por segundo foram tratados em um software que calcula o que os físicos chamam de “nível de pressão sonora equivalente (Leq)”. Resultado: até nos momentos em que tudo parecia em “silêncio”, o aparelho registrou 74,3 decibéis. É um nível considerado insalubre pela Organização Mundial da Saúde. Quem fica muito tempo no local está exposto a risco de danos físicos e mentais. Em alguns momentos, o valor máximo atingiu 86,9 decibéis, o mesmo que o som de um MP3 no último volume direto no ouvido. A Leq, que estabelece os níveis contínuos, bateu em 77,1 no seu registro mais elevado, considerando-se o fato de que o horário não era o de maior movimento no dia. “Mesmo assim, os números foram altos”, alerta o pesquisador. Conversei com Garavelli, orientador de trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental em 2006, que já identificava os riscos que a barulheira no terraço pode trazer à saúde. Foi recomendado à época que o projeto arquitetônico do Aeroporto JK incluísse um sistema de isolamento acústico para que o nível sonoro não passasse do recomendado pela OMS, entre 45 e 55 dB. Nada foi feito. A prioridade continuou sendo a ventilação. Não foi considerado que entre 65 e 75 decibéis o nível acústico se enquadra no início do chamado estresse degenerativo, capaz de desencadear desde danos às cordas vocais de quem fala e ao ouvido de quem ouve até infarto (pasmem!), dependendo do tempo de exposição. Se há seis anos já era assim, hoje, com muito mais tráfego aéreo, não é preciso ir longe para deduzir que piorou. O isolamento acústico recomendado, segundo a Infraero, só poderia ser feito com o aval do autor do projeto. Depois de tanto tempo, a estatal já não administra o aeroporto, que passou para a gestão privada de um consórcio argentino em junho deste ano. A prioridade anunciada é a expansão do terminal para a Copa de 2014. Pelo jeito, o barulho deve continuar. E não demora clientes e prestadores de serviço na praça de alimentação vão ter que fazer como o pessoal que trabalha no pátio: todo mundo vai usar abafador de ouvido e levantar plaquinhas coloridas para se comunicar.


Perfil

Ele nunca correu atrás de bandidos nem prendeu ninguém com sua estrela. Mas este advogado, em Brasília desde 1961, já impediu alguns crimes e ganhou muitas causas

Texto Noelle Oliveira Fotos LEONARDO ARRUDA noelleoliveira@meiaum.com.br

fotografia@meiaum.com.br



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erifes são autoridades responsáveis pela manutenção da lei e da ordem em determinados territórios ou países. Espécie de delegados, chefes de polícia. São figuras cativas dos filmes de faroeste, protagonistas de conhecidos bangue-bangues. Homens da lei. A marca deles é a estrela. Dourada e bem lustrada. Pode vir na lapela ou estar presa em fina carteira de couro. Fora dos filmes, poucos já viram uma dessas. Encontrar um exemplar requer sorte, é preciso recorrer a seus guardiões. O advogado Amaury José de Aquino Carvalho é um deles. O porte de autoridade não nega. Fala como tal. Está em Brasília desde 1961 e reúne conhecimentos, memórias, fotos e recortes de jornais que comprovam ser possível acumular mais que o dobro da experiência esperada, talvez até mesmo o triplo, em algumas décadas de vida – neste caso, não reveladas em números. No escritório, em sua casa no Lago Sul, figuram provas de parte disso. Tudo documentado em papéis amarelados, livros, pastas e imagens. Ele encontra com destreza o que procura, sem qualquer identificação aparente. “São muitos papéis, estou fazendo uma limpeza”, explica. Entre os pertences, lá está a estrela hollywoodiana. Um broche com seis pontas e muita pompa, sobre uma pequena estante, logo na entrada. Em meio a outras medalhas, caixas coloridas de veludo, certificados e diplomas de parede, se destaca. Aquino aceita mostrar a diferente condecoração com pudor. Evita exposição desnecessária, assim como faz com sua vida e suas histórias. “Aqui está a estrela de que você tanto gostou”, diz. Não quer cair na banalidade das premiações, muito menos que a cena pareça orgulho descabido. O ar disciplinador é equilibrado com doses ponderadas de bom humor e simpatia. Foi com essa personalidade que se tornou amigo do governador do estado de Louisia-

na, nos Estados Unidos, em uma das visitas para acompanhar um membro do consulado brasileiro em missão. Acabou tornando-se figura notória, procurador-geral honorário do estado norte-americano, e em 1998 ganhou o título de xerife de Louisiana. O distintivo não dá grandes poderes a Aquino, mas a medalha peculiar é bom pretexto para que narre outras importantes batalhas. Pede um minuto. Volta com, no mínimo, três dezenas de caixinhas. Precisa de ajuda para trazê-las. Analisa as várias medalhas uma a uma. Faz tempo que não as abre, alguns fechos estão enferrujados. É necessário ler as inscrições nos versos para entender do que se trata. Paciencioso, o paulista só interrompe o processo de leitura das identificações das medalhas para cuidar da mulher, que se recupera de um procedimento de saúde. Uma preocupação de carinho. Foi na nova capital que se casou com Maria Aparecida Andrade de Aquino Carvalho, professora concursada do primeiro grupo de docentes convocados para lecionar em Brasília, hoje aposentada. Encontraram-se em uma festa de amigos e a partir dali formaram uma família com três filhos – um médico, um engenheiro e uma bióloga. Natural de Lorena, São Paulo, o xerife lembra que enfrentou um “problema de identidade” assim que chegou à cidade. Não podia assinar como Amaury Carvalho, pois era o nome do gerente de um dos poucos bancos existentes. Ao mesmo tempo, o nome Amaury já era bem conhecido devido a um funcionário da Novacap, Amaury de Almeida, responsável pela construção da Vila Amaury, aquela que acabou submersa pelas águas do Lago Paranoá. “Só me sobrou o Aquino.” Questão resolvida, nunca mais deixaria a capital federal. O jovem advogado, que assumiu a chefia da receita imobiliária no início dos anos 1960, conheceu o Plano Piloto do seu jeito. “Desci na rodoviária e fui a pé até o fim da Asa Norte. Depois, fiz o mesmo com a Asa

Sul. Naquele tempo, eu era jovem.” Veio para Brasília convidado por um professor da Fundação Getulio Vargas, com quem estudou em São Paulo, que passava a ocupar um cargo na prefeitura do DF. Aquino acabou trabalhando em vários, quase todos, os órgãos locais da recém-criada capital. Foi um dos advogados pioneiros da prefeitura. Das mãos dele saíram os primeiros editais para cobrar impostos prediais e territoriais por aqui. “Nossa intenção era legalizar Brasília.” Adotou o código tributário da antiga cidade de Planaltina. “Uma unidade monetária por metro quadrado de área do terreno ou construção, e assim foi feito”, conta, referindo-se ao ano de 1961. Ele acha entre seus papéis os jornais da época, com a publicação dos editais. A cobrança era inovadora. Além de Brasília, o pagamento podia ser feito em Belo Horizonte, em Goiânia, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Iniciava-se assim a formação do cadastro imobiliário do DF. “Para conhecer os terrenos, eu percorria as áreas de jipe.” Em suas relíquias, encontra o recibo do conserto de um dos carros, que certa vez quebrou com ele na estrada, enquanto trabalhava. O valor é 400 cruzeiros. “Pelo jeito não recebi, não é mesmo? O recibo está aqui até hoje”, brinca. Aquino nunca correu atrás de bandidos nem prendeu ninguém com sua estrela. Mas impediu crimes e ganhou causas. Foi procurador-geral do DF, cargo que assumiu em 1969, após recusar duas vezes o convite. “Um amigo foi taxativo: Só um irresponsável não aceitaria um cargo desses. Depois dessa, aceitei.” E não parou aí. Em seu escritório, além da chave de Lafayette, capital de Louisiana, está a de Miami, ao lado de um certificado policial do Miami-Dade, departamento de polícia local. Também é cidadão honorário de Orlando e ostenta o título de tenente-coronel da Guarda Nacional da Geórgia, assinado por Jimmy Carter, quando este era governador do estado, nos anos 1970. Junta-se a isso a medalha da Es-


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Bastam as lembranças. Amaury de Aquino foi um dos seis primeiros nomeados para compor o quadro da Advocacia-Geral da União, assim que esta foi criada, em 1993. “Um trabalho muito importante, mas como ainda estava sendo constituído eu ganhava menos que um oficial de justiça”, graceja. O riso fácil não esconde o rigor. Leu cada um dos quinze exemplares da revista meiaum antes de decidir nos contar sua história. Com didática pouco comum entre juristas, é simples para tratar de qualquer tema, a não ser que prefira o segredo. Faz e refaz contas antes de dizer o ano em que trabalhou em cada uma das funções públicas

que exerceu no DF. “Se as pessoas somarem vão acabar descobrindo quanto anos eu e tenho e, vamos combinar, não pega bem.” Passaram-se mais de duas horas de conversa e parece que ainda havia muita história para ser contada. A formalidade se quebra na despedida. “Vai me dar o número de seu telefone celular? Na minha época as moças não podiam revelar seus números por aí assim, não”, diverte-se. Agora, Amaury de Aquino vai enfrentar outro problema de identidade. Por mais de 50 anos, para Brasília, sempre foi o respeitado Doutor Amaury de Aquino. Para a meiaum, no entanto, é ) o nosso xerife. )

cola Superior de Guerra, que cursou no Rio de Janeiro, e incontáveis condecorações das três Forças Armadas, bem como do ramo jurídico. Sem falar nas ocupações paralelas que desempenhou, como diretor da Aliança Francesa, membro do Conselho Consultivo do Clube dos Pioneiros de Brasília, fundador da Associação Cristã de Moças de Brasília; e na atuação em entidades culturais de Israel, da China e da Espanha. O último país lhe rendeu as condecorações das quais mais se orgulha: as medalhas espanholas da Ordem do Mérito Civil e a Isabel a Católica – concedida aos cidadãos estrangeiros leais ao país. Alguns títulos não precisam de certificado.


Conto

Cegueira

Aprender e ensinar

A mãe dizia que ele era criança de ficar em casa, não de ir à escola. Mas Josivaldo se imaginava dentro de uma poça de giz de cera...

Texto Nathália Coelho Ilustração Francisco Bronze nathaliacoelhoj@gmail.com

Eram seis da manhã. A luz do sol entrava pelas frestas do barraco de madeirite e pairava sobre o colchão onde cinco crianças dormiam. A mãe do rebento esquentava água no fogão. Café preparado com a borra de ontem, que servia para hoje. O barulho de pássaros, o ar morno e o brilho do dia acordaram o primogênito Josivaldo. Mesmo com olhos abertos, não conseguiu enxergar o barraco, a mãe, o café, os irmãos. Via apenas uma imensidão de branco e vultos. Acostumara-se. Há dez anos era assim, a cada ano um pouco mais. O menino, que morava no assentamento perto de Brazlândia, nasceu com catarata e pouco enxergava. Todo dia ouvia a mãe acordar os irmãos

bronze@grandecircular.com

menores, alimentá-los quando havia algo para comer e caminhar 2 km até a BR para pegar o coletivo que os levava à escola. Josivaldo só ia até a rodovia. Não se importava. Afinal, a mãe dizia que ele era criança de ficar em casa. Não tinha direito a estudar. Ela também não estudou. Não sabia ler nem escrever. Havia engravidado cedo. Aos 29, cinco crias. Ele sentava na cama, ouvia o chiado da TV, os resmungos do pai e da mãe. “Não temos dinheiro.” “Falta comida.” “Filhos dão trabalho.” Mãe reclama do pai, que bebe demais. Pai reclama que a mãe não faz nada em casa. Ambos se agridem verbalmente. O menino ouve palavras feias. Murros. Pontapés. Choro. O ciclo da

convivência familiar marcado pela pobreza. De vez em quando o garoto dava uma volta na vizinhança feita de barracos, terra, moscas e cachorros sarnentos brincando com as crianças vestidas só de calcinha ou cueca nadando na lama. Lixo espalhado. Um odor ocre e morno. Sentado ali no chão Josivaldo ficava até a volta dos irmãos. Na chegada, pulava logo na mochila. Apalpava os cadernos, pegava as canetas e se arriscava. – Guarda essas coisas. Você nem vê. É, ele nem via. – E o que significa ver, mesmo? – soltava fazendo cara feia. Os dias se passavam sem novidade. Até que chegou


43 aquela segunda de janeiro. Acordou, ouviu barulhos, sentiu a luz, caminhou até a BR com a mãe e os irmãos, mas não parou na rodovia. Todos pegaram o ônibus. – Pra onde a gente vai? – Matriculá de novo os menino. O ônibus seguiu até Taguatinga. Solavancos, paisagens vistas sob a ótica da sensação das cores. Não pensava em nada. Josivaldo quase caiu com o arranque do motorista. Andaram três quadras até a escola. Um cheiro de giz de cera invadiu o nariz do menino. Ele sorriu e lembrou-se do dia em que o irmão mais novo levou um para casa. E ele se imaginou dentro de uma poça gigante de giz de cera. – Todas? – o questionamento da secretária à fala da mãe despertou Josivaldo. – Não. Menos esse aqui – segurou a mão do garoto. – Esse aqui é cego. Não tem jeito de estudá. – Tem sim, senhora. Ele nunca estudou? – Não. – Quantos anos ele tem? – Dez ano. – A senhora me traga uma cópia dos documentos dele. Este ano ele vai ser incluído em uma turma. A família voltou pra casa. Josivaldo não entendeu muito que a voz disse, mas depois a mãe ia dizer. Os dias voltaram à normalidade.

***

A quilômetros dali, Joana despertava de um sono profundo. Era o penúltimo dia de férias. A profissão que amava e lhe dava sustento havia causado ao longo de vinte e cinco anos uma fadiga mental. Tinha desejo de se aposentar. Lidar com crianças sempre foi sua vocação e amava alfabetizar. Mas neste ano queria pelo menos mais duas semanas de recesso. Levantou da cama e foi até a cozinha fazer um café. Os filhos já crescidos dormiam tranquilamente e bem agasalhados. O telefone tocou. Era a mãe, que morava em Minas.

Conversaram por dez minutos. Joana se queixou da volta às aulas. A mãe a encorajou. – É sua profissão, minha filha. À tarde, teve um encontro com os primos. Henrique estava lá. Toda vez que o via, ouvia atrocidades. – Joana, você tem potencial pra mais. – Eu gosto do que faço. – Você não tem medo de ser atacada por um aluno? Não dava ouvidos. Gente pequena de mente pequena. Não conseguia pensar além do seu mundo de riquezas e egoísmo. Gente com essa visão só poderia achar que a Secretaria de Educação do DF era um antro de problemas. E de fato era. Sistema falho, estrutura precária. Mas havia professores bons. Era superficial julgar o todo sem se aprofundar. Joana se chateava, mas seguia em frente. O fim de semana passou rápido. A segunda e terça de coordenação também. Na quarta, recebeu dez crianças. Apresentou-se, cantou a música de boas-vindas, mostrou o calendário, deu bronca e beijos. Tímidos, os alunos olhavam a professora desconfiados. Um deles ouvia a voz de Joana com maior carinho. Sentia mais que os outros os passos pela sala, o barulho do riscar do canetão no quadro, os gritos dos coleguinhas. No primeiro dia não conversou com ninguém. Ficou quietinho. Dentro de si era tudo novidade e alegria. – E quem é você nesse cantinho aí? – falou Joana olhando para o menino. Ele se encolheu. Não a viu. Mas sentiu uma onda de olhares virando-se para ele. – Josivaldo! Levanta a cabeça, olha pra tia. Tudo bem? Sem resposta. Um sorriso! A professora entendeu. As horas seguiram, o sinal bateu. O irmão buscou Josivaldo. Pegaram o ônibus, chegaram ao assentamento. O menino parecia aéreo. Só tinha um pensamento: a escola e a professora.


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Joana arrumou a sala, pegou a bolsa e dirigiu até sua residência. A cabeça latejava de dor. Rezava para que o ano terminasse logo. Mas, mesmo com as adversidades, imaginou o menino de dez anos que agora estava em suas mãos. Nunca estudou. Teria de conviver com crianças menores. Era mais velho e tinha problemas com a visão. Com certeza teria dificuldades em aprender. Sentiu que não podia desanimar. Ele precisava dela. Passou um mês. Carnaval! Josivaldo participou do primeiro baile de sua vida. De máscara colorida, ele ouvia e sentia os alunos cantando e dançando marchinhas. – Vem, Josivaldo! Vamos dançar com a tia! – Joana pegou o garoto e começou a sacudir o quadril ao lado dele. Uma máquina fotográfica registrou o momento. Ele mexeu o corpo, balançou a cabeça, brincou com as fitas. Bateu palmas. Depois, não entendeu por que tinha que passar quatro dias sem ir à escola. – Achei que nunca mais ia voltar, tia! – foi o que disse ao retornar. Aos poucos Josivaldo sentia-se à vontade. Havia dias em que chegava pura sujeira à sala. Não aprendeu a se limpar quando ia ao banheiro. No barraco onde morava nem tinha um. Os alunos reclamavam do odor. Joana brincava de descobrir quem tinha soltado um pum, mesmo sabendo que o cheiro vinha do menino. Em seguida segurava em sua mão, levava-o até o chuveiro e lhe dava banho. Trazia roupas do filho mais novo para ele. Sabia que uma hora ou outra ia precisar. Josivaldo perguntava se era um presente. Joana assentia com a cabeça. Os dois sorriam. Em maio os professores entraram em greve. Joana teve de ceder. Ficou uma semana apenas. Além do salário, pensava nas crianças. Estava no meio do alfabeto. Elas ficariam perdidas. Como será que Josivaldo estava? Ligou para a escola e avisou que a partir de segunda estaria de volta.

As crianças chegaram, mas Josivaldo não. Um, dois, três, quatro, cinco dias e nada. A professora ligou para o celular que constava em sua ficha. A mãe disse que o menino estava doente de gripe. Joana falou da importância de levá-lo à escola. Josivaldo estava evoluindo. Já sabia as formas, identificava as letras de seu nome quando tocava nelas. Sabia a diferença de sabores, distinguia cheiros. Estava aprendendo sobre o corpo humano. A mãe falou que na próxima semana ele ia. A professora aceitou, mas o menino não foi. Faltou mais uma semana. Os irmãos também estavam ausentes. Ela decidiu ir até a casa dele. Dirigiu por quarenta minutos. Na beira da estrada avistou o local. Caminhou sob os olhares estranhos. A comunidade não a conhecia. Perguntou pela mãe de Josivaldo. Contou mais ou menos a história. Disse sobre as cinco crianças, deu as características gerais dos meninos e da mulher. Uma senhora apontou à esquerda. Mandou seguir direto. Lá dentro, uma bagunça sem fim. Panelas e roupas sujas misturadas. Num canto, um fogão encardido pelo tempo. No outro, uma estante se desmontando com alimentos e papelões amontoados. Ela chamou pelos moradores. Ninguém respondeu. Saiu novamente. De repente sentiu um abraço apertado nas pernas. Era Josivaldo. – Tia Joana. Tia Joana – o menino repetia sem parar. Joana chorou e o abraçou de volta. Em seguida vieram os outros quatro, que grudaram na perna da professora. A vizinha contou o fato. Na noite de sábado que sucedeu à ligação de Joana para a mãe, o casal brigou feio. Ele estava bêbado e tentou abusar dos filhos. A mãe partiu pra cima com uma faca. A faca entrou em sua cintura, depois que o marido conseguiu driblá-la. A mulher desfaleceu na frente dos garotos. Tentaram secar o sangue. O homem fugiu. Josivaldo não entendeu nada. Via vultos. O ambiente escureceu. Chamou a mãe, que não respondeu. Choro. Uma amiga da família chegou de supetão e chamou a ambulância. A mu-

lher foi levada às pressas para o Hospital de Base. Foi operada e permanecia lá. A mesma amiga dando comida e abrigo aos meninos. Passavam o dia perambulando pelo assentamento e não iam para a escola. Josivaldo seguia a antiga rotina de ficar sentado na porta de casa. A diferença era que agora tinha cadernos e giz de cera. O pai foi encontrado pela polícia três dias depois. Foi liberado em seguida. Não configurou flagrante. Não o viram mais. Joana decidiu levá-los daquele lugar. Passou na delegacia. Descobriu que havia um pedido de prisão preventiva para o homem. E que logo ele estaria preso. Foi até o hospital. A mãe estava se recuperando. Ficou feliz em ver as crianças. – Agora eu sei por que Josivaldo só ficava falando da senhora. Ficou com eles até a mãe receber alta. Não demorou muito. Joana conseguiu um trabalho de diarista para a mulher na casa da irmã. Dois meses depois, ela alugou uma casinha em Ceilândia. A vida melhorava. Até decidiu se matricular no supletivo. Josivaldo fez amigos, brincava de bola, pulava corda. Era atendido por uma especialista e começou um tratamento de visão. O ano acabou. Na festinha de encerramento, o menino deixou um bilhete no bolso de Joana antes de ir embora. Em casa, ela o leu e se emocionou. O texto não tinha sua letra, só a assinatura: “Professora, obrigada por me ensinar a ver. Eu gostaria de te chamar de mãe. Josivaldo”. Joana fechou os olhos. Reviveu os momentos daquele ano e se arrependeu de ter começado sem querer começar. Arrependeu-se do cansaço e das reclamações da vida. Decidiu que no ano seguinte trabalharia como no início da carreira, se conseguisse, é claro. Pelo menos não focaria o cansaço e sim as novidades. As crianças precisavam dela e, sobretudo ela precisava dos pequeninos. Por meio de um garotinho cego, aprendeu a ver a vida pintada ) com as cores de giz de cera. )

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Caixa-preta

por Luiz Cláudio Cunha cunha.luizclaudio@gmail.com

O mestre e os aprendizes do terror

O grupo de jovens corria pelo bairro carioca da Tijuca, em marcha sincronizada, cantando: “Bate, espanca/Quebra os ossos/Bate até morrer”. O chefe do bando perguntava: “E a cabeça?”. A resposta vinha em coro: “Arranca a cabeça e joga no mar!” O chefe, de novo: “E quem faz isso?” A resposta afinada não deixava dúvidas: “É o Esquadrão Caveira!” A história foi revelada, em julho, pelo colunista Ilimar Franco, de O Globo. Não era um bando de marginais descendo o morro. Era um animado pelotão do I Batalhão da Polícia do Exército berrando o ideário truculento que deve ter contraído em seu local de trabalho. Como lembrou o advogado Wadih Damous, presidente da OAB do Rio de Janeiro, a malta de potenciais assassinos serve no mesmo quartel da Rua Barão de Mesquita, 425, no Andaraí, onde operou na década de 70 o notório Doi-Codi do I Exército, um dos maiores centros de tortura do regime militar. Só a memória insana da ditadura pode explicar o treinamento idiota aplicado aos recrutas do batalhão marcado pelo estigma da violência. E só o paraíso da impunidade pode explicar a falta de indignação dos comandantes que admitem e se omitem diante de uma demonstração pública de desrespeito ao ser humano.

A chamada ditadura Nada estranho para comandantes militares que, num documento enviado ao então ministro da Defesa, Nelson Jobim, reclamavam contra a criação da Comissão Nacional da Verdade, alegando que “passaram-se quase 30 anos do fim do chamado governo militar...” Os chefes das Forças Armadas que impuseram uma ditadura de 21 anos ao País, fechando o Parlamento, censurando, cassando, prendendo, torturando e matando, ainda têm dúvidas se aquilo pode ser chamado de “governo militar”. É por isso que garotos saudáveis da tropa ainda hoje fazem exercício físico na rua ecoando sua explícita disposição de espancar,

quebrar os ossos, bater até morrer, arrancar a cabeça e jogar no mar...

Professor qualificado Em julho do ano passado, o site SUL21, de Porto Alegre, revelou uma descoberta da Associação Nacional de História (Anpuh): as escolas militares continuam ensinando que o golpe de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart foi “uma revolução democrática”. O disparate está publicado no livro História do Brasil: Império de República, de Aldo Fernandes, Maurício Soares e Neide Annarumma, aplicado no 7º ano dos colégios militares. A Anpuh perguntou ao ministro Jobim: “Que cidadãos

estão sendo formados por uma literatura que justifica, legitima e esconde o arbítrio, a tortura e a violência?” O Comando do Exército respondeu que o livro “atende adequadamente às necessidades do ensino da História”. É bom lembrar que, 30 anos atrás, o Colégio Militar de Brasília admitiu no seu corpo docente o coronel Wilson Machado. Em abril de 1981, ele sobrevivera à bomba do frustrado atentado ao Riocentro. Então capitão, carregava a bomba que explodiu antes da hora no seu Puma. Machado servia no Doi-Codi da Rua Barão de Mesquita. O mesmo quartel da gurizada que hoje ecoa a lição do terrorista que virou professor.


Arte, Cultura e Lazer

cultura@meiaum.com.br

Daniel Klajmic

A nossa Sally Bowles Quem resiste às belas pernas e ao talento de Claudia Raia? A atriz canta e dança no espetáculo Cabaret, que será apresentado no Teatro Nacional de 16 a 19 de agosto. Na adaptação do clássico da Broadway, Claudia interpreta a prostituta Sally Bowles. A protagonista já foi vivida por Liza Minnelli, em longa de 1972. Na versão brasileira, há a narração do mestre de cerimônias, o personagem MC, interpretado por Jarbas Homem de Mello (na foto com Claudia). Miguel Falabella é o responsável pela adaptação das músicas e do texto. A direção do espetáculo, com 21 atores e 14 músicos, é de José Possi Neto. No figurino, de Fábio Namatame, muita lingerie. São mais de 150 trajes. Um dos vestidos de Claudia Raia foi bordado com 20 mil pedras de cristais Swarovski.

Cinema – lançamentos

360 Direção: Fernando Meirelles. Baseado na peça do austríaco Arthur Schnitzler, que causou polêmica e escândalo em 1900. A história examina certa moralidade sexual entre classes sociais, com vários personagens cujas histórias se cruzam. No elenco, Anthony Hopkins, Rachel Weisz, Jude Law, Maria Flor, Ben Foster, Juliano Cazarré e Tereza Srbova. Drama. Classificação 16 anos. Cinemark e Kinoplex em 17 de agosto. 115 minutos.

À beira do caminho Direção: Breno Silveira. Inspirado em canções de Roberto Carlos. O caminhoneiro João (João Miguel) perde um grande amor em uma tragédia e, fugindo dessa lembrança, vaga por dez anos pelo Brasil. Conhece um menino (Vinicius Nascimento) que, aos poucos, faz com que ele reaprenda a importância dos laços. João reencontra, então, uma antiga namorada (Dira Paes). No elenco também está Ângelo Antônio. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 10 de agosto. 92 minutos.

A tentação Direção: Matthew Chapman. Um jovem professor universitário (Charlie Hunnam) vai para a borda de um edifício determinado a se matar, quando um detetive da polícia (Terrence Howard) chega para convencê-lo a não se jogar. Eles começam, então, a falar de seus passados. Drama. Classificação 16 anos. Kinoplex em 10 de agosto. 101 minutos.

Ato de coragem Direção: Mike McCoy e Scott Waugh. Fuzileiros navais entram em uma missão secreta para resgatar um agente sequestrado da CIA. No caminho, desbaratam uma rede terrorista determinada a atacar os EUA. No elenco, Roselyn Sanchez, Jason Cottle e Alex Veadov. Ação. Classificação 16 anos. Cinemark e Kinoplex em 10 de agosto. 110 minutos.

Buenos Aires. O local é um antro de violência e miséria. A polícia corrupta e os próprios sacerdotes nada fazem para mudar essa realidade, e os dois padres colocam a vida em risco para continuar do lado dos mais pobres. Drama. Verifique a classificação. Cinemark e Kinoplex em 31 de agosto. 91 minutos.

Intocáveis Direção: Olivier Nakache e Eric Toledano. Inspirado em uma história real. Um aristocrata (François Cluzet) contrata um jovem (Omar Sy) para ser o seu cuidador após um acidente de parapente que o deixou tetraplégico. O que era para ser um período experimental acaba se tornando uma história de amizade, companheirismo e confiança. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 31 de agosto. 106 minutos.

Elefante branco

O diário de Tati

Direção: Pablo Trapero. Os padres Julián (Ricardo Darín) e Nicolás (Jérémie Renier) trabalham ajudando os menos favorecidos na favela de Villa Virgen, periferia de

Direção: Mauro Farias. Tati (Heloísa Perissé) é uma adolescente incapaz de aprender matemática, mas inteligentíssima ao criar planos para fugir dos castigos da mãe. No verão,


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David James

se complica mais ainda quando a filha de Tool (Yun Nan) resolve fazer justiça com as próprias mãos e acaba capturada. No elenco, Sylvester Stallone, Bruce Willis, Jet Li, Jason Statham, Jean-Claude Van Damme, Terry Crews, Randy Couture, Steve Austin, Chuck Norris, Novak Djokovic, Liam Hemsworth. Ação. Classificação 16 anos. Cinemark e Kinoplex em 31 de agosto. 90 minutos.

Outback – Uma galera animal Direção: Kyung Ho Lee. Johnny (Rob Schneider) é um coala albino atrapalhado que sempre foi excluído. Sem querer, ele se torna um herói na floresta e tem que ajudar os outros animais na luta contra um crocodilo do mal (Alan Cumming). Filme em 3-D. Animação. Classificação livre. Kinoplex em 17 de agosto. 85 minutos.

Rock of ages – O filme Direção: Adam Shankman. Adaptação do musical da Broadway. Em 1987, em Los Angeles, Drew (Diego Boneta) e Sherrie (Julianne Hough) buscam seus sonhos na cidade grande. Eles se apaixonam, mas o arrogante e veterano roqueiro Stacee Jaxx (Tom Cruise) também quer conquistar a garota. E Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones) tenta fechar o local onde Sherrie trabalha. Musical. Classificação 14 anos. Cinemark em 17 de agosto. 123 minutos.

ela quer esconder que terá de fazer recuperação e ainda tem que dar conta de conquistar Zeca (Thiago Rodrigues), o garoto mais gato da escola. Baseado no livro homônimo, de Heloísa Perissé. Comédia. Classificação 12 anos. Kinoplex em 24 de agosto. 90 minutos.

O ditador Direção: Larry Charles. A história do fictício general Aladeen (Sacha Baron Cohen), ditador que colocou em risco a própria vida para que a democracia jamais chegasse ao local que governa. Ele resolve viajar aos Estados Unidos para conhecer melhor o país. Comédia. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 24 de agosto. 90 minutos.

O legado Bourne Direção: Tony Gilroy. Aaron Cross (Jeremy Renner) é um agente secreto do governo que se envolve em um programa de lavagem cerebral muito mais perigoso do que aquele pelo qual passou Jason Bourne (vivido por Matt Damon na trilogia original), desencadeando situações que saem do controle. Ação. Classificação 16 anos. Cinemark em 24 e Kinoplex em 31 de agosto. 90 minutos.

Os mercenários 2 Direção: Simon West. A trama do novo longa começa com o brutal assassinato de Tool (Mickey Rourke) em uma missão. Tudo

O vingador do futuro Direção: Len Wiseman. A Rekall é uma companhia que pode transformar os sonhos em memórias reais. Para um operário de fábrica como Douglas Quaid (Colin Farrell), embora tenha uma bela esposa, Lori (Kate Beckinsale), a viagem pela mente soa como as férias perfeitas de sua rotina frustrante. Mas, quando a operação dá errado, Quaid se torna um homem caçado pela polícia. Alia-se à rebelde Melina (Jessica Biel) para encontrar o líder da resistência do submundo Kuato (Bill Nighy) e derrotar Cohaagen (Bryan Cranston). Ação. Classificação 14 anos. Cinemark em 10 de agosto e Kinoplex em 17 de agosto. 121 minutos.

Procura-se um amigo para o fim do mundo

Direção: Lorene Scafaria. Dodge (Steve Carell) foi abandonado pela esposa após descobrir que um meteoro se chocará com a Terra em três semanas. Ele decide ir em busca de sua paixão da época de escola (Gillian Jacobs)


Arte, Cultura e Lazer

Berry Wetcher

de 14 países. 21 a 26 de agosto, no CCBB. Entrada franca. Classificação e programação em www. bb.com.br/cultura. www.cinemark.com.br www.kinoplex.com.br Não informaram a programação a tempo: www.itaucinemas.com.br www.cinecultura.com.br

Música

Aline Muniz A turnê do segundo trabalho da cantora, o CD Onde tudo faz sentido. O show mostra o lado atriz de Aline, aliando canto, interpretação e dança. 11 de agosto, às 21h30, no Teatro Oi Brasília. Ingresso (inteira) R$ 20. Classificação 16 anos. Telefone: 3424-7121.

Um divã para dois

Angela Maria

Direção: David Frankel. Após trinta anos de casados, os Soames (Meryl Streep e Tommy Lee Jones) decidem fazer terapia, mas eles acabam encontrando o Dr. Bernie (Steve Carell), um terapeuta lunático. A terapia de casal faz com os dois descubram outras formas de reacender o amor. Comédia. Verifique a classificação. Kinoplex em 17 de agosto. 94 minutos.

Sucessos de mais de 60 anos de carreira. É conhecida por diversos gêneros e estilos musicais, com destaque para sambascanções e boleros. 31 de agosto, às 21h, no Teatro Oi. Ingresso (inteira): R$ 100. Classificação 16 anos. Telefone: 3424-7121.

Bourbon Street Fest Brasília e sua vizinha (Keira Knightley) resolve= ir junto. Comédia. Classificação 12 anos. Cinemark e Kinoplex em 24 de agosto. 101 minutos.

Cinema – outros

Antologia visual da Argentina A mostra é a ampla visão sobre a relação entre a literatura e o cinema argentinos. Serão exibidos 16 filmes, divididos em três temas: Resgate Histórico: clássicos do cinema, Documentários: visão do escritor e Cenário Contemporâneo: o cinema e a literatura hoje. 28 de agosto a 9 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura.

Bhava: o universo

do cinema indiano Com 30 filmes, a mostra traz diversas vertentes do cinema indiano. A maioria foi premiada no Festival Internacional de Goa. Até 19 de agosto, no CCBB. Entrada franca. Classificação e

Criado em 2003 em São Paulo, o evento reúne sons e estilos da música de Louisiana e de New Orleans (EUA), da vanguarda, passando pelo blues e funk, ao jazz tradicional. Com Henry Butler, Bonerama, Playing For Change, Donald Harrison, Preservation Hall Jazz Band e Mahogany Blue. 16 e 17 de agosto, na

programação em www.bb.com.br/cultura.

Praça do Museu Nacional da República. Entrada

Festival Flamenco

bourbonstreetfest.com.br.

de curtas-metragens Pela primeira vez no Brasil, filmes de diversos países sobre a cultura flamenca e suas expressões. Para o primeiro circuito brasileiro do festival foram selecionadas 30 produções

franca e livre. Veja a programação em www.

Circuito Cultural Banco do Brasil

Cada dia será a vez de um artista fazer o cover de seu ídolo. Maria Bethânia dedicará um show


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inteiramente à obra de Chico Buarque. Lulu Santos cantará a fase roqueira de Roberto e Erasmo. Sandy interpretará as músicas de Michael Jackson. 8, 9 e 10 de agosto, às 21h, no CCBB. Ingressos (inteira): Setores 1, 2 e 3 R$ 120; Setores 4 e 5 R$ 140. Telefone: 3108-7600.

Clube do Choro Em agosto, o cantor piracicabano Diego Moraes interpreta o álbum Elis, de 1972, que traz grandes sucessos interpretados pela cantora, como Águas de março e Cais. Shows às quartas, quintas, sextas e aos sábados a partir das 21h. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 3324-0599. | Sérgio Boré: 11 de agosto | Wagner Tiso e Victor Biglione: 15, 16 e 17 de agosto | Quadrilha do rock: 18 de agosto | Arthur Maia: 22, 23 e 24 de agosto | Paula Zimbres: 25 de agosto | Diego Moraes: 27 de agosto | Duofel: 29, 30 e 31 de agosto.

Dexterz O grupo é formado por Julio Torres, Amon Lima e Junior Lima. Eles se apresentam na Festa do Branco. Unem som instrumental, com a ajuda de controles de video games e o tablets, e música eletrônica. 11 de agosto, às 22h, no Clube da Engenharia. Ingressos (inteira): Fem. R$ 40; Masc. R$

projeto: Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo, em que apresenta arranjos intimistas. A apresentação terá momentos de Gil com a Orquestra Sinfônica da Bahia e o filho, o guitarrista Bem Gil. 23 de agosto, às 21h, no Teatro Nacional. Classificação 16 anos. Informaçóes e preços dos ingressos pelo telefone 3325-6256.

60. Classificação 18 anos. Telefone: 3347-6713.

Funk Como Le Gusta A banda paulista vai tocar na festa Melanina, que completa um ano. Mistura de black music, música latina e samba-rock, com toques eletrônicos. 11 de agosto, às 22h, no Clube Ascade. Ingresso (inteira) R$ 25. Classificação 18 anos. Telefone: 8148-7261.

Gilberto Gil O cantor baiano traz à capital seu mais recente

Invasão Paraense O festival, que começou na primeira semana de agosto, tem objetivo de apresentar a riqueza musical do Pará. Ainda vão se apresentar Lia Sophia, Done Onete e Mestre Laurentino, Mestre Vieira e Pio Lobato, Mestre Curica e Aldo Sena, Felipe Cordeiro, Gang do Eletro e Jaloo. Até 18 de agosto, de sexta a domingo, às 21h, no CCBB. Entrada franca e livre. Classificação e programação em www.bb.com.br/cultura.


Arte, Cultura e Lazer

Hugo Prata

exposições

Amazônia, ciclos de modernidade

Com 300 obras, entre fotografias, pinturas, aquarelas, desenhos, esculturas, objetos, vídeos e documentos raros que retratam desde o século 18 até os dias atuais, divididas pelos períodos do Iluminismo, do Ciclo da Borracha, do Modernismo e da Contemporaneidade. 13 de agosto a 23 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.

Inimá de Paula

32ª noite cultural T-Bone Nesta edição, a tradicional festa traz o cantor e compositor Lenine. No repertório, canções do último álbum, Chão (2011). 30 de agosto, às 19h, na comercial da 312/313 Norte. Entrada franca e livre. Telefone: 3963-2069.

Retrospectiva de Inimá José de Paula (19181999). São 24 obras apresentadas pelo museu que leva o nome do artista, em Belo Horizonte. As pinturas revelam paisagens por onde residiu, como os bairros cariocas, o litoral cearense e cenas da velha Europa. Até 27 de setembro, das 9h às 17h, sábados e domingos, no Gabinete de Arte da Presidência da Câmara dos Deputados. Entrada franca e livre. Telefone: 3215-8081.

O espelho O Maior São João do Cerrado

Roupa Nova

O evento está na sexta edição. Neste ano, as atrações são Elba Ramalho, Daniela Mercury, Zé Ramalho, Banda Calypso e Fala Mansa. Com homenagem a Luiz Gonzaga, num encontro da Orquestra Sinfônica de Brasília com Elba. Ainda haverá barracas com bebidas e comidas típicas. 29 de agosto

A banda está de volta a Brasília. Com 30 anos de carreira, o sexteto traz um show com músicas que marcaram época e canções inéditas, como A metade da maçã e Retratos rasgados. 10 de agosto, às 22h, no Opera Hall.

a 2 de setembro, às 18h, no Ceilambódromo. Entrada franca e livre. Telefone: 3036-7002.

Raça Negra

Ingressos (inteira): Pista R$ 100; Área VIP R$ 160; Mesa (4 lugares) R$ 1.200. Classificação 16 anos. Telefone: 3342-2232.

Todos os sons

160; Mesa R$ 800. Classificação 18 anos. Telefone:

O último show da série trará como atração principal Rosa Passos. O palco também receberá a sambista Ana Reis e a mistura de música instrumental brasileira com jazz contemporâneo de Renato Vasconcellos Quinteto. 26 de agosto, às 17h, no Museu Nacional.

3347-6763.

Entrada franca e livre. Telefone: 3325-5220.

Com 27 anos de carreira e 34 álbuns, a banda traz o show do último disco, Raça Negra e amigos (2012). 31 de agosto, às 22h, na AABB. Ingressos (inteira): Pista R$ 80; Camarote R$

Inspirada em texto de Machado de Assis. Sentado, o visitante se depara com um grande espelho, que reflete tudo na galeria, menos sua própria imagem. Aos poucos sua imagem surge e se ouvem vozes, como se fossem seus pensamentos. Repentinamente, seu reflexo é sobreposto pelo de um personagem, que conversa como se fosse um observador. Até 16 de setembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no CCBB. Entrada franca e livre. Telefone: 3108-7600.

Retratos da brasilidade Algumas das telas que melhor representam a construção da nacionalidade brasileira são mostradas. Pela primeira vez em Brasília, Primeira missa no Brasil, óleo pintado em 1861 por Victor Meireles (1832 –1903). No mesmo espaço, é exibida a


Olivier Boëls

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coleção Cenas Brasileiras, com 12 obras de Candido Portinari (1903–1962), entre elas Descobrimento do Brasil. Até 16 de setembro, das 9h às 17h, no Salão Negro do Congresso Nacional. Entrada franca e livre. Telefone: 3216-1780.

Teatro

A falecida A peça, escrita por Nelson Rodrigues, conta a obsessão de Zulmira por seu próprio funeral. Com direção de Diego de León, foi o único projeto brasiliense contemplado pelo Prêmio Funarte Nelson Brasil Rodrigues: 100 Anos. No elenco: André Rodrigues, Diego de León, João Campos, Luisa Duprat, Mateus Ferrari, Tati Ramos e Vanderson Maciel. 18, 19, 25 e 26 de agosto, sessão dupla todos os dias, às 18h e às 21h, no Espaço Mosaico. Entrada franca. Classificação 16 anos. Telefone: 3032-1330.

Cabaret

Mês da Fotografia “O Centro-Oeste: o Homem, a Cultura e o Meio” é o tema da terceira edição do evento, promovido pelo Sesc. Haverá exposições fotográficas, oficinas, palestras, workshops e encontros com autores, nos mais diversos lugares do Distrito Federal. O destaque é a exposição coletiva, que reúne 113 fotógrafos do Centro-Oeste. Até 30 de agosto. Veja a programação completa em www. sescdf.com.br.

A história gira em torno do relacionamento da inglesa Sally Bowles (Claudia Raia) com o escritor americano Cliff Bradshaw (Guilherme Magon). Eles se conhecem na decadente casa noturna Kit Kat Club, onde Sally é a estrela e sofre ameaças nazistas. 16 a 19 de agosto, quinta e sexta, às 21h, sábado, às 18h e às 21h; domingo, às 19h, no Teatro Nacional. Ingressos (inteira): Setores 1, 2 e 3 R$ 160; Setores 4 e 5 R$ 180. Classificação 16 anos. Telefone: 3325-6240.


Arte, Cultura e Lazer

João Caldas

gourmet de mil anos que adora comê-las. Percebe, então, que seu exemplar mais valioso foi roubado, O diário de Elizabeth I. Enquanto o procura, conta a vida dessa princesa que virou rainha. Da Cia. Yinspiração Poéticas Contemporâneas. Até 19 de agosto, sábados e domingos, às 17h, no Teatro Goldoni (Casa d’Itália). Ingresso (inteira): R$ 40. Classificação livre. Telefone: 3443-1747.

Eu, eu, Murilo

12 homens e uma sentença Adaptação do clássico filme, dirigida por Eduardo Tolentino. Um júri de 12 homens precisa chegar a uma sentença unânime para executar ou absolver um jovem acusado de matar o pai. O conflito começa quando um dos jurados se torna a voz dissonante do grupo, a princípio decidido pela condenação. Com Adriano Bedin, Brian Penido, Ricardo Dantas, Zecarlos Machado, Oswaldo Mendes, Augusto Cesar, Fernando Medeiros, Haroldo Ferrary, Henri Pagnoncelli, Oswaldo Ávila, Riba Carlovich, Gustavo Trestini e Ivo Müller. 25 de agosto a 9 de setembro, de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h, no CCBB. Ingresso (inteira) R$ 6. Classificação 12 anos. Telefone: 3108-7600.

O ator e humorista Murilo Couto apresenta um stand up com visão crítica dos costumes e dos fatos do cotidiano. Entre outros assuntos, aborda sua condição de migrante, a saída de Belém e a sua adaptação em outras cidades. O fato de ser paraense e a falta de conhecimento em relação à sua terra também fazem com que o comediante tenha muito história para contar. 18 e 19 de agosto, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro dos Bancários. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 14 anos. Telefone: 3262-9090.

Eu te amo Texto de autoria de Arnaldo Jabor, com Alexandre Borges e Juliana Martins no elenco. A história de um homem e uma mulher que desejam se amar e, ao mesmo tempo, têm medo desse encontro. 18 de agosto, às 20h, no Teatro Oi. Ingresso (inteira): R$ 100. Classificação

Cinderela Um dos clássicos preferidos das crianças, na adaptação da Cia. Teatral Néia e Nando, apresentada pela última vez em 2010. Na montagem, a carruagem que leva Cinderela ao baile passa bem pertinho do público. A trilha sonora foi feita especialmente para a peça. Até 26 de agosto, sábado e domingo, às 17h, na Escola Parque 307/308 Sul. Ingresso (inteira):

Em agosto, o espetáculo é As coisas, baseado em livro homônimo de poemas do paulista Arnaldo Antunes. Uma banda de rock, uma boneca falante e uma professora nariguda apresentam os poemas. No elenco, Flávia Reis, Julia Schaeffer e Guilherme Miranda, da companhia carioca Teatro Portátil. 19 de agosto, às 17h, no Taguatinga Shopping. Entrada franca e livre. Telefone: 3451-6000.

R$ 30. Classificação livre. Telefone: 8199-2120.

Criança é show Uma vez por mês o Taguatinga Shopping recebe a apresentação de uma peça infantil.

Elizabeth tudo pode Alexandria é uma bibliotecária que vive em sua casa de livros. Está relendo e digitalizando obras para salvá-las de Dona Cesárea, traça

14 anos. Telefone: 3424-7121.

Galinha Pintadinha Pela primeira vez na capital, a adorada Galinha Pintadinha com a sua turma: o Pintinho Amarelinho, a Baratinha, a Borboletinha, o Galo Carijó, o Galinho, o Sapo. Um show interativo, no qual as crianças são convidadas a cantar, brincar e dançar. Baseado nos dois DVDs da personagem. 18 e 19 de agosto, às 17h, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos (inteira): Arquibancada R$ 40; Cadeira R$ 100; Cadeira Premium R$ 300 (open bar infantil). Classificação livre. Telefone: 8228-7197.


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a travesti PL, de 16 anos, rejeitada pela família quando se assumiu gay. No elenco, Angélica Beatriz, Júlia do Vale, Pedro Lima e Rafael Tursi. 25 e 26 de agosto, sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Espaço Cena (205 Norte). Entrada franca. Classificação 14 anos. Telefone: 9214-4861.

Transtorno Antoine é retirado do convívio social por apresentar comportamentos considerados ameaçadores. A história se passa em meados de 1955, em uma clinica psiquiátrica da cidade de Marselha, na França. Antoine tem 25 anos e utiliza da própria criatividade para sobreviver em condições precárias. Ele encontra nos seus delírios a liberdade que não vive dentro do sanatório. Até 2 de

João e o pé de feijão Uma pobre viúva e seu filho único, João, resolveram vender a única vaca que tinham. No caminho, João foi convencido por um homem a trocar a vaca por um punhado de grãos de feijão, supostamente mágicos. Enfurecida, sua mãe jogou os grãos pela janela. No dia seguinte, lá estava um enorme pé de feijão tão alto que alcançava a nuvens. João resolveu subir o pé chegando a um lugar onde encontrou uma fada que lhe contou o motivo pelo qual sua família perdera todo o dinheiro. A fada, então, poderia ajudá-lo a recuperar o que havia perdido. Assim começam a aventuras de João. Peça interpretada pelo grupo Estrupenda Trupe. 5, 12, 19 e 26 de agosto, às 16h, no Espaço Brasil 21. Ingresso (inteira): R$ 30. Classificação livre. Telefone: 8451-0961.

O dia em que aprendi a dizer não A peça questiona hipocrisia, medos e barreiras criados pelos seres humanos. Miguel é uma pessoa comum, que enfrenta todos dias esses obstáculos, aprendendo que às vezes é preciso dizer não. Um monólogo interpretado por Maico Silveira. 10, 11 e 12 de agosto, sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Espaço Cultural Mosaico. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 14 anos. Telefone: 8154-1617.

O silêncio Encenado pelo grupo de pesquisa cênica do Sesc, com direção de Rogero Torquato. Na trama, o espectador tenta descobrir quem

matou o Doutor Villet. Adaptação do trabalho de Paul Anthelme em Nos deux consciences e inspirado no filme I confess, dirigido por Alfred Hitchcock. 10 e 11 de agosto, no Teatro Sesc Gama; 17 e 18 de agosto, no Teatro Sesc Paulo Autran; 24 e 25 de agosto, no Teatro Sesc Newton Rossi. Todos os espetáculos às 20h30. Entrada franca. Classificação 14 anos. Telefone: 0800-617617.

Trajetória “X” A realidade vivida por três adolescentes de Brasília. RT, um menino que ainda criança se viu nas ruas se prostituindo como sua mãe; a garota GS, de 14 anos, aliciada à base de drogas por políticos e quadrilha de pedofilia que ela ajudou a desbaratar na Região Norte; e

setembro, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h, no Espaço Brasil 21. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação 16 anos. Telefone: 3039-9296.

Outros

Festival Internacional da Novadança Em sua 15ª edição, apresenta dançarinos, coreógrafos, diretores e profissionais de dança dos mais diversos lugares. O festival está dividido em quatro estilos: contatoimprovisação, dança de rua, dança aérea e pole dance. Até 12 de agosto. Veja a programação completa em www.festivalnovadanca.blogspot.com.br.

Brilhante, em canos dançados Um espetáculo de dança contemporânea com música erudita brasileira. A proposta da peça é mostrar olhar de compositores brasileiros como Villa-Lobos, Jaime Ovale e Waldemar Henrique sobre as origens étnicas brasileiras. Novo espetáculo do Núcleo de Dança Alaya, com direção artística de Lenora Lobo, coreografia de Yara de Cunto e idealização e direção musical de Flávio de Moraes. 9 a 12 de agosto, de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro Nacional. Ingresso (inteira): Dia 9 de agosto, entrada franca; de 10 a 12 de agosto R$ 20. Classificação livre. Telefone: 3325-6239.


Banquetes e botecos } ilustração Rômulo Geraldino

Por Marcela Benet marcela.benet@gmail.com

romulog2000@yahoo.com.br

Quer provar uma comida bem elaborada? Vá ao Lover

123 45 Brasília ganhou mais um restaurante, o Lover. É fruto de dois amantes na vida real, a chef Talita Cruvinel e o empresário Cauê Lopes Martins, que uniram suas paixões pela vida, por viagens e pela gastronomia e fazem do ato de comer uma verdadeira festa. Talita Cruvinel tem no currículo a formação nas escolas Alain Ducaisse e Ritz Escoffier, de Paris, e foi premiada no Brasília Gourmet como chef revelação, em 2010. O restaurante foi projetado pelo arquiteto e designer gaúcho Jorge Augusto Reis, que fez uma releitura dos anos 50, com atmosfera bem retrô e intimista. Peças garimpadas em antiquários brasileiros e europeus, como um candelabro francês, dão requinte ao lugar. O ambiente é dividido em três espaços: o restaurante, no térreo, mais calmo e requintado, bem pequeninho, aconchegante e romântico; outro, patrocinado pela Cristal Champagne, reservado para fumantes na parte de fora, onde se pode comer e beber sob o céu de Brasília; e o terceiro, na sobreloja, é o lounge bar, com música um pouco mais alta e mais descontraído. O Lover é ótima opção de jantar e um estica para um drinque. O banheiro, todo revestido de oncinha, é um charme, mas bem brega, para dar um toque jovial e leve. A proposta é de gastronomia contemporânea, minimalista, com influências mediterrâneas, explorando ao máximo cada ingrediente e aguçando todos os sentidos, mas sem muitas misturas. Talita Cruvinel opta por um cardápio enxuto, com poucas opções, mas todas surpreendentes. Para começar, tem um carpaccio de carne no qual a chef mostra a sua marca, pois é servido com pera, creme de roquefort, endívia e nozes. Tem também a terrine de foie gras trufado com compota de figo. Como prato principal tem o mix de frutos do mar com espuma de gengibre e capimsanto, o carrê de cordeiro ao perfume de romã com polentas fritas em forma de copinhos recheados de creme de brie e a lagosta grelhada com raviólis de muçarela de búfala e baunilha com creme de tangerina. A carta de vinhos, elaborada por Cauê, tem rótulos como o português Pêra-Manca e o espanhol Laus Flor de Chardonnay, além de espumantes, champanhes e vinhos mais acessíveis. O lounge bar serve cerca de 30 drinques, sendo especiais os mojitos servidos em quatro versões em copinhos tipo shot. Imperdível! Esse é o Lover: uma delícia de comida e de sobremesa, com cafezinho Nespresso para fechar, num bonito ambiente romântico. Tudo de bom! 412 Sul, Bloco A, Loja 27 (61) 3346-4009 Terça a sábado: a partir das 19 horas


S E S C A P R E S E N TA

3, 4, 10 e 11 de agosto

17 e 18 de agosto

24 e 25 de agosto

tEatrO sEsC Gama

tEatrO sEsC PauLO autraN

tEatrO sEsC NEwtON rOssI

Gama

taGuatINGa NOrtE

CEILâNDIa

DIrEçÃO > RogeRo ToRquATo

enTRAdA fRAnCA

ELENCO Roustang Carrilho Tatiana Bittar Alaor Rosa Samuel Araújo Reinaldo Vieira Kamala Remers Humberto Pedrancini

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ClASSifiCAção indiCATiVA 14 AnoS


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