ANO XXV - Dezembro 2017 - Nº 98 Coordenação Editorial: Vicky Safra Manuscrito integrante da coleção conhecida como os Pergaminhos do Mar Morto
Assistentes de Coordenação: Clairy Dayan Fortuna Djmal Assessora Internacional: Muriel Sutt Seligson
Supervisão Religiosa: Rabino Y. David Weitman Rabino Efraim Laniado Rabino Avraham Cohen Jornalista Responsável: Desirée Nacson Suslick MTb 13603
Colaboradores especiais: Jaime Spitzcovsky Reuven Faingold Tev Djmal Zevi Ghivelder
Revisão e tradução de texto: Lilia Wachsmann Consultor: Marcello Augusto Pinto
Coordenação de Marketing: Hillel de Picciotto
Produção Gráfica: Joel Rechtman JR Graphiks - Tel: 3873 0300 Projeto Gráfico: LEN - Tel: 3815 7393
Serviços Gráficos: C&D Editora e Gráfica - Tel: 3862 8417 Tiragem: 25.700 exemplares
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Carta ao leitor A festa de Chanucá celebra dois milagres ocorridos há mais de dois milênios: a vitória militar dos Macabeus sobre os sírio-gregos e o fenômeno sobrenatural de um único jarro de azeite que manteve acesa a Menorá do Templo por oito dias. Milagres impressionantes e inspiradores, sem dúvida. Contudo, cabe a pergunta: por que Chanucá foi instituída como uma de nossas festas? Afinal, ao longo da história judaica, ocorreram milagres em abundância, e excetuando-se Pessach e Purim, não há festas judaicas que os celebrem. O Tanach e o Talmud relatam muitos deles. Alguns exemplos: Yehoshua fez o sol parar, os profetas Eliyahu e Elishá realizaram ressurreições e Rabi Chanina ben Dosa fez o vinagre queimar. Além da vitória dos Macabeus, ocorreram outras vitórias militares milagrosas na antiga Israel; por exemplo, a conquista de Jericó por Yehoshua. E, de fato, continuam ocorrendo até hoje no moderno Estado de Israel. A Guerra de Independência também foi uma vitória dos poucos contra os muitos, dos fracos contra os fortes. A incrível vitória na Guerra dos Seis Dias constituiu outro milagre. A reviravolta e subsequente vitória na Guerra de Yom Kipur foi ainda outro triunfo militar milagroso. Qual, então, a singularidade de Chanucá? Por que se tornou uma festa celebrada por todo o Povo Judeu, geração após geração? Há muitas respostas para essa pergunta. Uma delas é que Chanucá comemora, também, seu significado histórico para o Povo Judeu. Os Macabeus lutaram uma guerra contra um inimigo aparentemente invencível, mas era necessário que vencessem, pois nada menos que o futuro do judaísmo estava em jogo. Esses guerreiros judeus não tinham nem a força, nem os armamentos, nem os homens, nem o treinamento militar necessário para vencer a poderosa máquina de guerra sírio-grega. Mas possuíam uma dupla porção do espírito judaico que está disposto a lutar, longa e arduamente, e fazer qualquer sacrifício em prol do judaísmo e de seu povo. Chanucá é uma festa celebrada por todo o Povo Judeu porque, não fosse pela vitória dos Macabeus, é bem provável que nosso povo tivesse sido completamente assimilado pelos helenistas e o judaísmo deixado de existir.
Outro motivo é que Chanucá celebra não apenas o milagre do azeite, mas também as lições desse evento sobrenatural. Indiscutivelmente, ao longo de nossa história, ocorreram fenômenos muito mais impressionantes do que o do azeite. Contudo, esse milagre ensina uma lição singular, de importância fundamental para o Povo Judeu durante os quase dois mil anos em que não tínhamos nem país nem exército. Essa lição nos mostrou que se há um pouco de luz, é possível sobreviver a qualquer escuridão. As mensagens transmitidas pelas luzes de Chanucá foram especialmente relevantes nas épocas mais difíceis de nossa história: a destruição do Templo Sagrado de Jerusalém por Roma e o subsequente exílio de nosso povo; a Inquisição Espanhola que, assim como os sírio-gregos, tentou converter os judeus e forçá-los a abandonar o judaísmo; e, acima de tudo, o Holocausto, que exterminou quase sete milhões de judeus. Muitos acreditavam que os judeus nunca se reergueriam após o genocídio e o sofrimento ímpar a que foram submetidos. No entanto, nosso povo nunca se esqueceu do simples milagre do azeite. Não surpreende, portanto, que alguns judeus acendessem algo que se assemelhasse a uma Chanuquiá nos campos de extermínio: isso lhes dava força, fazendo-os recordar que nosso povo é capaz de sobreviver mesmo a situações impossíveis. O milagre do azeite celebrado em Chanucá lembra que não há escuridão nesse mundo que possa extinguir a luz eterna do Povo Judeu. Houve vários episódios em nossa história em que tínhamos apenas “um pequeno jarro de azeite puro” e parecia não haver quantidade suficiente para sobreviver à escuridão. Mas, milagrosamente, a luz se manteve acesa, iluminando e permitindo que nosso povo sobrevivesse até o alvorecer. Ao longo dos milênios, enfrentamos muitos impérios e forças opressoras poderosas. Mas sobrevivemos a todos eles. Nossa luz não se apagou e nunca se apagará, e prevalecerá, sempre, sobre a escuridão.
Chanucá Sameach!
ÍNDICE
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34
42
50
56
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03 carta ao leitor
20 NOSSAS FESTAS
Os mandamentos da
Festa de Purim
06 NOSSAS FESTAS
26
Oito considerações para os oito dias de Chanucá
história de Israel
70 anos da Partilha por zevi ghivelder
15
34
NOSSAS leis Tu B’Shvat e as sete espécies
CAPA
Os Pergaminhos do
Mar Morto
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06
26 42
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educação Science Day - Ciências de forma prática e interativa Judaísmo na Escola Beit Yaacov
46 50
destaque O avanço da extrema direita na Alemanha por JAIME SPITZCOVSKy
MORAShA.COM
69
PERSONALIDADE Simone Veil um ícone mundial
HISTÓRIA DE ISRAEL
A “Questão Das Terras” na Palestina Britânica
56
por reuven faingold
comunidades Os judeus na Polônia entre as duas guerras mundiais
75 5
cartas
dezembro 2017
nossas festas
Oito considerações para os oito dias de Chanucá Há 22 séculos, quando a Terra de Israel estava sob ocupação do Império sírio-GREGO, o Rei Antíoco IV emitiu uma série de decretos malignos para subjugar e humilhar o Povo Judeu, visando A forçá-lo a abandonar o Judaísmo e A abraçar o helenismo. Antíoco proibiu o estudo da Torá e o cumprimento de muitos de seus mandamentos, e ergueu uma estátua de UMA divindade grega no Templo Sagrado de Jerusalém
E
m resposta aos cruéis decretos de Antíoco e seu empenho de extirpar o Judaísmo, um grupo de judeus intrépidos, os Macabeus, enfrentou as forças síriogregas, superpotência da época. Após três anos de guerra, os Macabeus tiveram uma vitória espetacular contra o exército mais poderoso da Antiguidade. Após vencer Antíoco e seus exércitos, libertaram Jerusalém, reinauguraram o Templo Sagrado e reacenderam a Menorá – o candelabro de sete braços –, valendo-se apenas de um jarro de azeite de oliva ritualmente puro encontrado em meio aos escombros. Todos os outros jarros de azeite ritualmente puro para o serviço no Templo, que levavam o selo do Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, tinham sido propositalmente profanados pelos síriogregos.
Para comemorar esses dois milagres – o azeite e a vitória dos Macabeus –, celebramos a festa de Chanucá durante oito dias. O triunfo militar desses valentes judeus foi, como dizemos em nossas orações, uma vitória dos poucos contra os muitos, dos fracos contra os fortes. O profeta Zechariah resumiu o acontecimento de forma poética: “‘Não pelo poder nem pela força, mas pelo Meu Espírito’, diz o Eterno”. O milagre do azeite que se seguiu à vitória militar foi um sinal Divino de que os judeus tinham vencido a guerra apenas porque o Eterno, D’us Todo Poderoso, tinha operado milagres em seu favor. O suprimento de azeite para um dia milagrosamente ardeu durante oito não apenas porque esse era o mínimo tempo necessário para produzir azeite ritualmente puro, mas porque, segundo a Torá, o número oito representa o sobrenatural, o milagroso. Esse fenômeno sobrenatural assinalava que a Divina Providência possibilitara o triunfo dos Macabeus, ainda que eles não tivessem nem a força nem o poder nem os armamentos nem os homens para vencer a máquina de guerra sírio-grega. Essa vitória militar significou a sobrevivência do Judaísmo e, por conseguinte, do Povo Judeu. A festa de Chanucá, portanto, não é apenas a celebração de milagres. Comemora, também, a eternidade da Torá e do Povo de Israel.
Esse único jarro continha azeite que daria para acender a Menorá durante um único dia – e eram necessários oito para produzir mais azeite ritualmente puro. Os Macabeus usaram esse jarro; mas o azeite, milagrosamente, ardeu durante oito dias – o prazo necessário para que fosse produzido mais azeite ritualmente puro. 6
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Este ano, Chanucá se inicia em uma terça-feira à noite, 12 de dezembro de 2017. Na primeira noite da festa, acendemos um jarro de azeite ou uma vela; na segunda noite, duas; na terceira, três, e assim por diante. Na oitava e última noite, acendemos todos os oito jarros de azeite ou velas da Chanuquiá – o candelabro de oito braços reminiscente da Menorá de sete braços do Templo Sagrado de Jerusalém. Chanucá é uma das festas judaicas mais apreciadas. Suas luzes são queridas não apenas para o Povo Judeu, mas para muitas pessoas de outras religiões. Uma Chanuquiá é acesa na Casa Branca e no Kremlin e líderes políticos do mundo todo, inclusive do Brasil, a acendem. Chanucá é reconhecida de forma ampla porque seus temas e lições são atemporais e universais. São relevantes não apenas para o Povo
Judeu, mas para todas as pessoas de bem no mundo. Suas luzes nos ensinam que cedo ou tarde, a luz triunfa sobre a escuridão, a bondade sobre a maldade, a justiça sobre a iniquidade e a santidade sobre o profano. Chanucá e suas luzes transmitem inúmeras mensagens e lições. Preparamos, pois, oito considerações sobre Chanucá – uma para cada um dos oito dias da Festa das Luzes.
1º dia Chanucá na Torá Chanucá e seus mandamentos não são mencionados explicitamente na Torá, pois os eventos comemorados na festa ocorreram mais de 1.000 anos após D’us ter dado a Torá ao Povo Judeu. Moshé terminou de transcrever o Pentateuco – os Cinco Livros da Torá – no ano de 2488 7
após a Criação (ano de 1273 AEC no calendário gregoriano), e os milagres de Chanucá ocorreram nos anos de 3621-3622 (ano de 140-139 AEC no calendário gregoriano). No entanto, D’us, que é Onisciente e acima do tempo e de todas as demais limitações, incluiu alusões à Chanucá na Torá. Isso não surpreende, pois a Torá é o projeto de toda a Criação: todo evento de maior ou menor porte – já ocorrido ou que um dia ocorrerá – tem fundamento ou alusão no Pentateuco. Seguem-se algumas das alusões à Chanucá encontradas nos Cinco Livros da Torá: • A 25a palavra na Torá é Or, “luz”. Começamos a acender as luzes de Chanucá na noite do 25o dia do mês judaico de Kislev. • Durante a jornada de 40 anos dos judeus pelo deserto a caminho da DEZEMBRO 2017
nossas festas
Terra Prometida, eles acamparam em diversos lugares. O 25º lugar era chamado Chashmoná. Isso é uma alusão à família de sacerdotes, os Chashmonayim, que lideraram os Macabeus na luta contra os síriogregos. • O 23o capítulo de Levítico, terceiro livro da Torá, descreve os vários feriados judaicos. Logo a seguir, no início do capítulo 24, vemos o mandamento de acender a Menorá. Isso é uma alusão à Chanucá – nossa festividade ligada ao acendimento da Chanuquiá - a Menorá de oito braços. • O capítulo 7 de Números, quarto livro da Torá, descreve as oferendas trazidas pelos líderes das tribos após a inauguração do Mishkan – o Tabernáculo. O capítulo 8 se inicia com as seguintes palavras: “O Eterno falou a Moshé, dizendo: ‘Fala a Aaron e diz-lhe: Quando acenderes as luzes, faz de modo que as sete luzes iluminem a luz central da Menorá’ ”. Vemos, aqui, uma conexão entre a inauguração do Tabernáculo – que foi o predecessor do Templo Sagrado de Jerusalém – e o acendimento da Menorá. Na história de Chanucá, depois que os Macabeus venceram a guerra, os judeus restauraram e reinauguraram o Templo Sagrado, novamente acendendo a Menorá.
D’us instruiu Moshé a dizer a seu irmão Aaron que não se aborrecesse com o fato de sua tribo não trazer sacrifícios, já que estes durariam apenas enquanto existisse o Templo Sagrado – ao passo que as luzes da Menorá continuariam a ser acesas por todo o sempre. A mensagem de D’us a Aaron aludia às luzes da Chanuquiá, que são uma recordação das luzes da Menorá do Templo. E de fato, já transcorreram quase 2.000 anos desde que foram interrompidos os serviços de sacrifício, mas as luzes da Chanuquiá, remanescentes diretas da Menorá, nunca deixaram de brilhar. Apesar da ausência do Templo Sagrado de Jerusalém, elas continuam a iluminar a escuridão que há no mundo.
2º dia – As 36 velas de Chanucá Este ensinamento provém dos escritos de um gigante espiritual, Cabalista, o Rabi Levi-Yitzchak Schneerson, pai do Lubavitcher Rebe. Durante a festa de Chanucá, acendemos um total de 36 luzes: 1 +2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8.
Esse número não é acidental – como nada na vida o é, especialmente em assuntos diretamente relacionados à Torá. Rabi Levi-Yitzhak Schneerson revela um profundo significado desse número, associado a um dos principais temas de Chanucá. Está escrito na passagem Al Hanissim, recitada na oração da Amidá e no Bircat Hamazon durante os oito dias de Chanucá, que os síriogregos se empenharam em “Fazer [Israel] esquecer a Sua Torá”. Em sua tentativa de fazer com que isso acontecesse, os síriogregos visaram à Torá Oral, que explica e elucida a Torá Escrita. Os invasores perceberam que a própria Torá Escrita, tão amplamente documentada em milhares de rolos, jamais seria esquecida. Sua estratégia foi, então, erradicar todos os vestígios da Torá Oral, que era preservada e transmitida oralmente de uma geração à outra. Sem a Torá Oral, é impossível entender corretamente a Torá Escrita e cumprir seus mandamentos. Os sírio-gregos perceberam que se conseguissem fazer o Povo Judeu esquecer a Torá Oral, o fim do Judaísmo seguir-se-ia. Séculos após o milagre de Chanucá, a Torá Oral foi finalmente redigida. Seu núcleo, conhecido como a Mishná, foi editado pelo Rabi Yehudá HaNassi. Nas gerações seguintes, mais conteúdo da Torá Oral foi escrito, formando-se os dois principais corpos da Lei Judaica: um em Israel, o Talmud Yerushalmi (Talmud de Jerusalém), e o outro na Babilônia – o Talmud Bavli (Talmud da Babilônia). Este último, em geral mais estudado do que o de Jerusalém, contém
Além disso, o Midrash nos ensina que após ser inaugurado o Tabernáculo, D’us ordenou que cada líder de tribo trouxesse uma oferenda. Uma tribo foi excluída – a de Levi. D’us ordenou a Aaron, o primeiro Sumo Sacerdote e chefe da tribo de Levi, que não trouxesse oferenda, mas que acendesse a Menorá. 8
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comentários sobre exatamente 36 tratados da Mishná, que é o número total de velas acesas durante Chanucá. As 36 velas de Chanucá celebram a sobrevivência da Lei Oral, que foi transcrita e preservada nos 36 tratados do Talmud Bavli. Há outra conexão entre Chanucá e a Torá Oral. O editor do Talmud Bavli foi Rav Ashi, cujo nome é foneticamente ligado a Esh, palavra em hebraico para “fogo” – o veículo para a celebração de Chanucá. Pode-se traçar uma terceira conexão entre as 36 velas de Chanucá e a Torá Oral. Os principais guardiães da Torá Oral eram os 71 membros do Sanhedrin, a Suprema Corte de Israel. Para que qualquer decisão do Sanhedrin fosse obrigatória, era necessário haver uma maioria de, no mínimo, 36 juízes. Quando acendemos a Chanuquiá, devemos lembrar que estamos fazendo mais do que celebrar uma vitória militar e o milagre do azeite. Estamos celebrando a sobrevivência da Torá Oral, sem a qual a Torá Escrita não pode ser entendida. Sem a Torá Oral, o Judaísmo autêntico não pode sobreviver. As 36 luzes de Chanucá simbolizam, assim, o triunfo e a eternidade da Torá e, por conseguinte, do Povo de Israel.
3º dia – O Povo Judeu é uma Vela Eterna Nossos Sábios lançam uma pergunta intrigante acerca do mandamento de acender as luzes de Chanucá. Durante as oito noites da festividade, acendemos azeite de oliva ou velas e recitamos a benção “She-assá Nissim La-Avotenu (“Que fez milagres para nossos antepassados”). Mas, qual o milagre que estamos celebrando na primeira noite de Chanucá?
candelabro de chanucá com queimadores de azeite em vidro azul, provavelmente da tunísia ou dos bálcãs, c. 1800
O milagre do azeite é o fato de uma quantidade suficiente para apenas um dia ter durado oito. Algo de miraculoso ocorreu do segundo ao oitavo dia, mas era natural que o suprimento encontrado ardesse durante um dia. O fato de o jarro de azeite ritualmente puro ter mantido a Menorá acessa durante o primeiro dos oito dias não constituiu milagre algum – era o esperado. O milagre foi continuar a queimar nos demais sete dias. Por que, então, recitamos a bênção “Que fez milagres para nossos antepassados” na primeira noite de Chanucá? Uma das respostas é que o milagre celebrado no primeiro dia foi o fato de os Macabeus terem encontrado um jarro de azeite que não havia sido profanado pelos sírio-gregos. Em outras palavras, na primeira noite de Chanucá, celebramos o milagre da “sobrevivência” desse jarro de azeite. De fato, não havia razão para se supor que algo tivesse sobrevivido à profanação sistemática feita pelos sírio-gregos e seus seguidores no Templo Sagrado. No entanto, quando os Macabeus reconquistaram o Templo, insistiram em procurar azeite ritualmente puro, ainda que as chances de encontrar qualquer 9
vestígio fossem mínimas. E por que procuraram, assim mesmo? Porque tinham fé de que mesmo em meio à maior tragédia, algo sobreviveria. E estavam certos. Um jarro de azeite ritualmente puro realmente sobreviveu. Por alguma razão, inexplicável, os invasores não o encontraram. O milagre celebrado na primeira noite de Chanucá é o da fé pura, total e simples – a fé em que, apesar de toda a destruição perpetrada, algo precioso, sagrado e puro restaria para que dali os judeus pudessem se erguer e começar de novo. Portanto, a primeira noite de Chanucá celebra o próprio fato de um pouco de azeite ritualmente puro ter sobrevivido à destruição. Não era muito – apenas a quantidade para um dia – mas aquilo milagrosamente manteve acesa a Menorá durante oito dias – tempo suficiente para que mais azeite ritualmente puro fosse produzido. Esse milagre simboliza um dos temas principais na História Judaica. Várias foram as ocasiões na longa e árdua caminhada de nosso povo em que tudo parecia perdido. Uma outra nação teria desistido, em meio ao desespero. O Povo de DEZEMBRO 2017
nossas festas
Israel vivenciou a destruição de dois Templos Sagrados e foi expulso da Terra de Israel. Na Diáspora, foi submetido a perseguições e expulsões constantes, aos massacres dos Cruzados, às fogueiras da Inquisição espanhola, aos pogroms e, acima de tudo, ao Holocausto. Mas, de um modo ou outro, os judeus não desistiram. Não se prostraram e choraram. Juntaram o pouco que restara, reconstruíram nosso povo e brilharam de forma ainda mais vibrante do que antes. A luz do Judaísmo sempre se recusou a ser apagada. Pelo contrário, sempre que a escuridão ameaça extingui-la, consegue brilhar com intensidade ainda maior. O resultado foi que as maiores catástrofes na História Judaica foram seguidas pelos maiores triunfos do Povo Judeu. O estudo e a disseminação da Cabalá floresceram após a Inquisição na Espanha. O retorno dos judeus à Terra de Israel e a Jerusalém, bem como a disseminação do Judaísmo pelos quatro cantos do mundo, ocorreram pouco após o Holocausto.
As luzes de Chanucá ensinam ao Povo Judeu e a toda a humanidade que o poder do espírito humano de vencer qualquer dificuldade não tem limites. A festa de Chanucá nos faz recordar, repetidamente, que temos que nos recusar a aceitar a derrota. O jarro de azeite ritualmente puro que sobreviveu à destruição representa o Povo Judeu. Somos uma Ner Tamid – uma Vela Eterna – cuja luz perene não há potência na Terra que possa extinguir.
4º dia - Um choque de civilizações: Atenas versus Jerusalém É comum ouvirmos, atualmente, a expressão “choque de civilizações”. A história de Chanucá foi um dos primeiros grandes choques de civilizações, travado entre os gregos da Antiguidade e os judeus – entre Atenas e Jerusalém. Não se pode negar que os gregos produziram uma das civilizações mais extraordinárias na história humana. Seu legado dura até
chanuquiá. nuremberg, alemanha, c. 1790. ourives: johann nicholas wollenberg (1759-1789)
hoje. O mundo, particularmente a Civilização Ocidental, deve muito à Grécia Antiga. Eles geraram filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles; historiadores como Heródoto e Tucídides, e dramaturgos como Sófocles e Ésquilo. Os antigos gregos foram mestres na Arte e na Arquitetura, entre inúmeros outros campos do conhecimento humano. Foram grandes pensadores, linguistas, artistas, intelectuais, desportistas, líderes políticos e guerreiros. Ainda assim, essa superpotência foi vencida por um grupo pequeno de combatentes judeus, conhecidos como os Macabeus e, a partir de então, entrou em declínio. A Grécia Antiga desapareceu para nunca ressurgir. Hoje, vive apenas nos livros de História: os descendentes dos gregos da Antiguidade não mais vivem em Atenas nem em outro lugar qualquer. Por sua vez, o minúsculo Povo Judeu, destituído de seu Lar e perseguido, sobreviveu a 2.000 anos de exílio, perseguições constantes e mesmo genocídio, e hoje vive soberano em sua Pátria ancestral e eterna. Seus filhos brincam, hoje, nas ruas de Jerusalém e falam a mesma língua que os Profetas usavam há 3.000 anos. Como explicar que um dos maiores impérios de todos os tempos tenha perecido e um povo minúsculo tenha sobrevivido e florescido? As respostas são inúmeras. Uma delas, óbvia, é a Divina Providência. D’us assegurando a eternidade do Povo de Israel é um tema constante em nossas orações e celebrado em nossas datas sagradas, inclusive em Chanucá. Mas há outra resposta que também explica o choque de civilizações entre os antigos gregos e os judeus. Os gregos antigos, que acreditavam em várias divindades, não
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acreditavam em um D’us único, que ama e Se preocupa com tudo e todos. A Grécia Antiga deu ao mundo o conceito de tragédia. Para seu povo, os seres humanos nasciam para se empenhar e, às vezes, atingiam a grandeza. Mas para eles a vida não tinha um propósito supremo. De acordo com sua cultura, o Universo desconhecia e não se importava com o destino do homem. Para o Judaísmo, esse conceito é um anátema. Os judeus ensinaram ao mundo que estamos aqui na Terra porque D’us nos criou com amor. O Judaísmo ensina que D’us está preocupado não apenas com o mundo em sua totalidade, mas também com o destino de cada uma de suas criaturas. O Judaísmo deu à humanidade a ideia de que a vida tem significado e propósito, pois o mundo e todos os que o habitam foram criados e são supervisionados por um Ser Infinito que está intimamente envolvido com absolutamente todos os detalhes de Sua criação. As civilizações cujos conceitos fundamentais são a tragédia e a futilidade da existência inevitavelmente se desintegram. Povos destituídos de qualquer senso de significado e propósito superiores não possuem as convicções morais das quais depende a continuidade. Aqueles que creem que a vida é fútil e destituída de propósito sacrificam a felicidade em troca do prazer. Vendem o futuro pelo presente. Negligenciam sua alma, que é eterna, e apenas alimentam o corpo, que é temporário. Tais civilizações hedonistas, cedo ou tarde, perdem a paixão, a energia, a sabedoria e a direção que lhes trouxe grandeza. A decadência espiritual inevitavelmente é seguida pelo fim de uma civilização, mesmo de uma tão grandiosa como o foi a Grécia Antiga. Em nítido contraste, o
Chanuquiá no estilo barroco. Alemanha, século 19
Judaísmo e sua cultura de esperança, propósito e amor, sobreviveram. As luzes de Chanucá são um símbolo dessa sobrevivência. A Acrópoles de Atenas sobreviveu, mas os antigos gregos, não. O Templo Sagrado de Jerusalém não sobreviveu, mas o Povo Judeu, sim. Os judeus ainda estão nesta Terra por causa da Divina Providência, mas também porque nosso povo sempre acreditou no poder da luz e de tudo o que representa. Chanucá nos ensina que uma vela de esperança pode parecer pouco, mas dela pode depender a própria sobrevivência de toda uma civilização.
5º dia - A Luz da Guerra e a Luz da Paz Maimônides, o maior filósofo judeu, que produziu uma obra que é um dos pilares da Lei Judaica, escreveu: “O mandamento das luzes de Chanucá é muito precioso. Quem não tem meios de comprar as suas luzes deve vender algo de seus bens ou, se necessário, tomar um empréstimo, para poder cumprir essa mitzvá”. Uma pergunta: E se em uma tarde de 6a feira, durante a festividade de Chanucá, a pessoa se vê com apenas 11
uma vela? Deve usá-la como vela de Shabat ou de Chanucá? Não dá para usá-la para os dois propósitos. A lógica sugere que deve acendêla como vela de Chanucá. Afinal, não há lei ordenando que se venda algo ou se tome empréstimo para comprar velas para Shabat. Mas a Lei Judaica dita que em tal situação, deve-se usar a vela para o Shabat e não para Chanucá. Por que seria? Maimônides explica: “A vela de Shabat tem prioridade porque simboliza Shalom Bait – a paz no lar. E a paz é de suma importância porque toda a Torá nos foi dada para trazer paz ao mundo”. Chanucá comemora uma das maiores vitórias militares na História Judaica. Até hoje, os Macabeus simbolizam a bravura e a coragem do Povo Judeu. Não fossem os Macabeus, o Judaísmo e, por conseguinte, o Povo Judeu, teriam desaparecido da face da Terra. No entanto, a Lei Judaica determina que se tivermos apenas uma vela às vésperas do Shabat durante a festa de Chanucá, devemos usá-la como vela de Shabat – não de Chanucá. A precedência para o Shabat se deve ao fato de que nem mesmo a maior vitória militar é mais importante do que a paz no lar. Os antigos gregos foram grandes guerreiros, conquistadores e governantes, mas sua civilização foi extinta. Como o Povo Judeu pôde sobreviver a eles? Entre outras, pelo fato de os judeus darem mais valor a seu lar do que ao campo de batalha. A paz no lar importava muito mais a nossos ancestrais do que as vitórias militares. Ao celebrarmos Chanucá e comemorarmos os triunfos militares e atos de bravura e heroísmo do Povo Judeu – sejam os dos Macabeus ou dos valorosos soldados DEZEMBRO 2017
nossas festas
do Estado de Israel –, não podemos esquecer que a vitória suprema é vencida não no campo de batalha, mas em nossos lares e em nossas comunidades. O Povo Judeu é singular porque valoriza a vida, o casamento, os filhos e o lar – mais do que as grandes vitórias militares. Os judeus comprovaram ser capazes de produzir os melhores guerreiros do mundo. Os Macabeus foram soldados determinados e destemidos que, com a ajuda de D’us, venceram uma superpotência militar. Hoje, o Estado de Israel tem as forças armadas mais bem treinadas no mundo. País algum, nem mesmo os Estados Unidos ou a Rússia, tem pilotos, forças especiais, tecnologia militar e serviços de inteligência melhores do que os de Israel. O Estado Judeu não tem outra opção – tem que ser uma superpotência militar, pois se o Holocausto nos deixou alguma lição, esta foi que nós, judeus, temos que nos defender sozinhos. Nosso desejo, no entanto, é formar eruditos e cientistas, não soldados. Contrariamente aos antigos gregos, preferimos viver para nossos filhos e netos do que ter uma morte heroica no campo de batalha. Há vezes em que a luz da guerra é necessária, como na história de Chanucá e na do Estado de Israel. Mas, quando há opção, a luz da paz é preferível.
6º dia - O terceiro milagre de Chanucá A festa de Chanucá celebra dois milagres: a vitória militar dos Macabeus e o suprimento de azeite para um único dia ter durado oito. Mas houve um terceiro milagre. Poucos o conhecem. Ocorreu séculos mais tarde.
Após a destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém, muitos rabinos julgavam que a festa de Chanucá deveria ser abolida. Argumentavam que como Chanucá celebra a reinauguração do segundo Templo Sagrado, deixara de existir uma razão para seguir celebrando-a – já que o Templo havia sido destruído por Roma. Conta-nos o Talmud que em uma cidade, Lod, Chanucá chegou mesmo a ser abolida. No entanto, o Povo Judeu decidiu que, apesar da destruição do segundo Templo, continuariam a celebrar a festividade. Esse foi o terceiro milagre de Chanucá: a decisão de continuar a celebração apesar da ausência do Beit HaMikdash, o Templo Sagrado. E por que tomaram essa decisão? Porque, apesar de ter caído a “Morada de nossa Vida”, a esperança judaica continuava de pé. Podíamos ter perdido o Beit HaMikdash – a Morada Divina na Terra –, mas os romanos não nos tinham tirado a lembrança, a esperança e a luz de Chanucá e tudo o que simboliza. Tinha sido destruída uma gloriosa estrutura física, mas seu espírito continuou a viver dentro de cada um dos judeus e dentro de cada uma de nossas sinagogas – que são um Mikdash Me’at – um pequeno Templo Sagrado. Continuamos a celebrar Chanucá 2.000 anos depois do segundo Templo ter sido destruído, porque sabemos que um dia o terceiro Templo Sagrado será construído. Sempre acreditamos que os milagres dos dias dos Macabeus poderiam voltar a acontecer – e de que acontecerão, de fato. As palavras Od Lo Avdá Tikvatenu, “nossa esperança não está perdida”, reverberaram, sem parar, na alma coletiva dos Filhos de Israel nos últimos 2.000 anos: tornaram-se parte do Hino Nacional do Estado 12
de Israel, o Hatikvá (A Esperança), que inspirou o Povo Judeu a voltar ao seu Lar e à sua capital eterna, Jerusalém, onde um dia brilhou majestoso o Templo Sagrado. Ao acendermos as luzes de Chanucá, devemos lembrar-nos que, apesar da queda do Templo Sagrado e de toda a destruição que nosso povo vivenciou, o Povo Judeu manteve viva a sua esperança, e essa esperança nos manteve vivos como povo. Nunca se deve duvidar do poder da esperança. Ela é mais potente e duradoura que grandes impérios e exércitos. A luz da esperança preservou e sustentou nosso povo mesmo em seus momentos mais difíceis. As luzes de Chanucá despertam o coração e a alma de tantas pessoas porque nos ensinam a nunca perder a esperança.
7º dia - Constante crescimento espiritual Na primeira noite de Chanucá, acendemos um jarro de azeite ou uma vela. Na segunda, acendemos duas, e na terceira, três. Somente na oitava e última noite de Chanucá acendemos todas as luzes da Chanuquiá. Essa progressão nos ensina que o que importa na vida não é nosso ponto de partida, mas nosso progresso. O que D’us espera de cada um de nós é que cada dia consigamos dar um passo à frente: que possamos produzir mais luz hoje do que ontem e que amanhã possamos brilhar mais intensamente do que hoje. Ninguém se torna um sábio ou um gigante espiritual da noite para o dia. Isso exige muitos anos de estudo, prática e auto-refinamento. O processo é longo e árduo. Tornarse mestre em Torá e – ainda mais difícil – tornar-se mestre de si mesmo, requer um empenho e uma bravura enormes. Mas, se
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chanuquiá. escola bezalel de artes, jerusalém, 1908-1929
avançarmos constantemente – se brilharmos, dia após dia, um pouco mais intensamente –, poderemos atingir alturas inconcebíveis. E para isso basta coragem e determinação de dar o primeiro passo e continuar crescendo. Basta acender uma vela hoje e uma vela adicional amanhã. Temos que nos empenhar para constantemente subir a Escada de nosso patriarca Jacob, que toca a Terra e alcança os Céus. Não importa quantos atos de bondade um ser humano praticou; não importa quanto da Sabedoria Divina aprendeu e nem quantos atos sagrados e generosos praticou. Ele nunca deve estar satisfeito com suas realizações. Ainda que hoje tenha praticado muitos atos de bondade, amanhã terá que praticar ainda muitos atos mais.
8º dia - Chanucá e a Guerra Mundial Final Muitas pessoas estão esperando por uma guerra mundial final.
Estão convencidos de que o fim do mundo está próximo e temem pelo que o futuro possa trazer. De fato, os Profetas falaram de uma guerra apocalíptica que precederá a vinda do Mashiach. Mas essa guerra final não será travada nos campos de batalha, nem no mar e tampouco nos céus. Não se usarão armamentos avançados ou bombas nucleares. Não será uma guerra entre líderes nem entre nações. A guerra final que precederá a Era Messiânica será travada no coração de cada pessoa, com os exércitos de seus atos neste mundo. A Guerra Final é a reencenação da batalha espiritual de Chanucá – a batalha da luz contra a escuridão. E nós todos seremos forçados a participar dessa guerra final. Na verdade, quer o saibamos ou não, já a estamos travando. O resultado dessa guerra determinará o destino do mundo, e isso está nas mãos de cada um de nós. Mas não devemos temer seu resultado: D’us nos assegurou por meio de seus Profetas que 13
nós havemos de prevalecer. Venceremos a guerra mundial final. A paz advirá, a escuridão será banida para sempre e a Luz Divina, simbolizada pelas luzes de Chanucá, preencherá o mundo inteiro. Que D’us nos ajude a vencer essa guerra o mais breve possível. Amén, Ken Yehi Ratson.
BIBLIOGRAFIA
8 Short Thoughts for 8 Chanukah Nights Rabbi Jonathan Sacks - http://rabbisacks. org/8-thoughts-8-nights/ The Mystical Significance of the 36 Chanukah Candles - Adaptado das obras de Rabi Levit-Yitzhak Schneerson http://www.chabad.org/therebbe/article_ cdo/aid/2792398/jewish/The-MysticalSignificance-of-the-36-ChanukahCandles.htm Bringing Heaven Down to Earth - Rabbi Tzvi Freeman, CreateSpace Independent Publishing Platform Is Chanukah Mentioned in the Torah? Rochel Chein, http://www.chabad. org/holidays/chanukah/article_cdo/ aid/610029/jewish/Is-ChanukahMentioned-in-the-Torah.htm
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nossas festas
acendendo a Chanuquiá Todas as noites, antes de acender as velas pronunciam-se as seguintes bênçãos:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner Chanucá.
A cada noite, após recitar as bênçãos, acendem-se as velas da Chanuquiá com o shamash, que é colocado na Chanuquiá de modo a ficar mais alto do que as demais chamas. Após acender as velas, recita-se em seguida Hanerot halálu:
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teus mandamentos, e nos ordenaste acender a vela de Chanucá.
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, sheassá nissim laavotênu, bayamim hahêm, bazeman hazê.
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que fizeste milagres para nossos antepassados, naqueles dias, nesta época. Apenas na primeira noite, depois de recitar as duas bênçãos, recita-se o shehecheyánu:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, shehecheyánu vekiyemánu vehiguiyánu lazeman hazê.
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que nos deste vida, nos mantiveste e nos fizeste chegar até a presente época.
Costuma-se colocar a Chanuquiá sobre uma mesa no lado esquerdo da porta de entrada, em frente à mezuzá, ou na janela que dá para a via pública. Os seguintes horários são referentes apenas a São Paulo. 1ª noite 25 de Kislev Terça, 12 de dezembro, a partir de 20:18 horas 2ª noite 26 de Kislev Quarta, 13 de dezembro, a partir de 20:18 horas 3ª noite 27 de Kislev Quinta-feira, 14 de dezembro, a partir de 20:19 horas
Hanerot halálu ánu madlikim, al hanissim veal hapurkan, veal haguevurot veal hateshuot, veal haniflaot, sheassita laavotênu, bayamim hahêm, bazeman hazê, al yedê cohanêcha hakedoshim. Vechol shemonat yemê Chanucá, hanerot halálu côdesh hem, veen lánu reshut lehishtamesh bahem êla lir’otam bilvad, kedê lehodot lishmêcha, al nissêcha, veal nifleotêcha, veal yeshuotêcha.
Acendemos estas luzes em virtude dos milagres, redenções, bravuras, salvações, feitos maravilhosos e auxílios que realizaste para nossos antepassados, naqueles dias, nesta época, por intermédio de Teus sagrados sacerdotes. Durante todos os oito dias de Chanucá, estas luzes são sagradas, não nos sendo permitido fazer qualquer uso delas, apenas mirálas, a fim de que possamos agradecer e louvar Teu grande nome, por Teus milagres, Teus feitos maravilhosos e Tuas salvações. 14
4ª noite 28 de Kislev Sexta-feira, 15 de dezembro, 19:31 horas, antes de
acender as velas de Shabat
5ª noite 29 de Kislev Sábado, 16 de dezembro, 20:30 horas, após a Havdalá 6ª noite 30 de Kislev Domingo, 17 de dezembro, a partir de 20:21 horas 7ª noite 1 de Tevet Segunda-feira 18 de dezembro, a partir das 20:21 horas 8ª noite 2 de Tevet Terça-feira, 19 de dezembro, a partir de 20:22 horas
nossas leis
Tu B’Shvat e as Sete Espécies “Porque o Eterno, teu D’us te traz a uma boa terra... terra de trigo e cevada, de figueira e de romeira; terra de oliveira que dá azeite, e de tamareira” (Deuteronômio 8:7-9)
O
15o dia do mês judaico de Shvat, Tu B’Shvat, é o Ano Novo das Árvores – um dos quatro Anos Novos mencionados no Talmud. Os outros três são 1o de Tishrei (Rosh Hashaná), 1o de Nissan e 1o de Elul.
No sétimo ano do ciclo, não havia separação de dízimos, pois toda a produção que cresce durante a Shemitá não tem dono e pode ser colhida por qualquer um. Como a Torá não nos permite separar dízimos das safras de um ano anterior, era fundamental determinar o início de uma nova safra. Nossos Sábios determinaram que os frutos que floriam antes do dia 15 de Shvat eram safra do ano anterior. Se cresciam a partir desse dia 15, eram produto do novo ano. No entanto, o ano novo para grãos, legumes e verduras é o dia 1º de Tishrei – Rosh Hashaná. Por que, então, o ano novo das frutas é no dia 15 de Shvat e não em Rosh Hashaná? Porque na região do Mediterrâneo, a estação chuvosa se inicia na festa de Sucot. Leva aproximadamente quatro meses – de Sucot (que se inicia no dia 15 de Tishrei) até o dia 15 de Shvat - para que as chuvas do ano novo saturem o solo e as árvores deem frutos. Todos os frutos que florescem antes são produto das chuvas do ano anterior e, portanto, contabilizados para os dízimos juntamente com a safra do ano anterior.
Qual o propósito de um Ano Novo para as árvores? Segundo a Lei da Torá, o ciclo agrícola na Terra de Israel leva sete anos, e conclui com um ano sabático – a Shemitá. Quando o Templo Sagrado de Jerusalém estava de pé, nos seis primeiros anos de cada ciclo os plantadores eram obrigados a separar uma porção de sua produção anual e reservá-la para os seguintes propósitos sagrados: cerca de 2% da produção eram dados a um Cohen – isso é conhecido como Terumá – e 10% a um Levi – o que se chama de Maaser Rishon (Primeiro Dízimo). Após determinar a Terumá e o Maaser Rishon, nos anos um, dois, quatro e cinco de cada ciclo, os plantadores tinham que separar outros 10% de sua produção e comê-los em Jerusalém. Esse dízimo é chamado Maaser Sheni (Segundo Dízimo). No 3o e 60 anos do ciclo, em vez de comer o Maaser Sheni em Jerusalém, os fazendeiros davam esse Segundo Dízimo aos carentes, que, por sua vez, podiam consumi-lo onde quisessem. Esse dízimo é conhecido como Maaser Ani (Dízimo do Carente).
As leis dos dízimos são técnicas. Preenchem muitas páginas do Talmud Yerushalmi, mas têm pouca 15
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relevância para a maioria dos judeus. Na verdade, Tu B’Shvat é uma data que não teve significado prático durante os milênios em que o Povo Judeu esteve exilado da Terra de Israel. Contudo, sempre foi uma data festiva no calendário judaico. Ainda que não seja um Yom Tov – um dia sagrado –, é uma data festiva na qual omitimos as preces de Tachanun (pedidos de perdão e confissão). São muitas as razões para esse dia ser festivo. Uma delas é o fato de que durante os 2000 anos em que nós, judeus, vivemos na Diáspora, Tu B’Shvat nos recordava a conexão eterna de nosso povo com a Terra de Israel. Outra razão para sempre termos celebrado Tu B’Shvat é que apesar de ser o Ano Novo das árvores, atribuímos significado especial à data pois, como nos ensina a Torá, “o homem é a árvore do campo” (Deuteronômio 20:19). As leis referentes a essa data podem ser técnicas e irrelevantes para muitos judeus, mas nossos Sábios derivam muitas lições relevantes da comparação que a Torá faz entre o homem e a árvore do campo. Celebramos Tu B’Shvat consumindo frutas, particularmente as sete espécies destacadas pela Torá como prova da fertilidade da Terra de Israel: trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras.
Shivat HaMinim - as Sete Espécies da Terra de Israel Ademais de ser um livro de leis e ensinamentos, a Torá é um código. Significa exatamente o que está escrito, mas há infinitos níveis metafóricos e alusivos em suas entrelinhas. Por exemplo, quando a Torá afirma que a Terra Prometida se distingue por meio de suas sete espécies, faz alusão à alma do homem e às sete qualidades que a movem e enriquecem. Como um dos propósitos primordiais do estudo da Torá, e particularmente da Cabalá, é atingir-se o autoconhecimento, é importante nos aprofundarmos no que dizem os livros místicos sobre o simbolismo das Shivat HaMinim – as Sete Espécies da Terra de Israel – que temos o costume de comer na celebração de Tu B’Shvat.
1. Trigo: Transcendência Aprendemos na Cabalá que cada um de nós tem duas almas distintas: uma Divina, que incorpora nossos impulsos transcendentes, e uma animal, que é a origem de nossos instintos naturais e auto orientados. Na Torá, o trigo é considerado a base da dieta humana, enquanto a cevada é mencionada como alimento
animal (Talmud Bavli, Sotá 14a). O trigo simboliza a alma Divina, ao passo que a cevada, a alma animal. O trigo representa o empenho humano em buscar transcendência – ou seja, elevar-se para alcançar o Divino. O Talmud tece um comentário de que o fruto proibido no Jardim do Éden era o trigo. Ainda que o trigo não seja tecnicamente uma fruta, sua natureza era diferente no Éden. Por que teria Eva sucumbido à tentação e consumido o fruto proibido? Porque a serpente lhe havia dito que se o fizesse, o ser humano se tornaria como D’us. O desejo de comer o fruto proibido surgiu do anseio humano de união com o Divino, ainda que isso fosse autodestrutivo. Contrariamente à alma animal, que busca a autopreservação e o prazer, a alma Divina busca a comunhão com D’us. Aquele que apenas alimenta sua alma animal e priva a Divina de seu alimento espiritual, nunca encontrará a verdadeira felicidade, satisfação e paz. A alma Divina somente pode ser alimentada com espiritualidade. Não há quantidade de fartura material que a sacie. O trigo – a primeira das Sete Espécies – nos ensina que nossa prioridade na vida tem que ser nutrir, adequada e plenamente, nossa alma Divina.
2. Cevada: Vitalidade Como vimos acima, a cevada representa a alma animal. Aparentemente, o trigo tem uma conotação positiva e a cevada, negativa. No entanto, é um erro acreditar que a alma animal deva ser menosprezada. Segundo a Cabalá, nosso empenho em nutrir e desenvolver a alma animal é uma tarefa não menos fundamental para nossa missão na vida do que o aperfeiçoamento da alma Divina.
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É verdade que, contrariamente à alma Divina, a alma animal é envolta em uma carga de negatividade – egoísmo, ganância, luxúria, vaidade e crueldade, entre muitas outras falhas humanas. Contudo, ela tem certas vantagens sobre a alma Divina: a vitalidade, a determinação e a paixão que o lado mais espiritual do ser humano não possui, em geral. Aqueles que sabem aproveitar a vitalidade da alma animal podem realizar grandes coisas – talvez até mais do que aqueles que são principalmente impulsionados pela alma Divina. O essencial é que se use a alma animal para causar impacto positivo no mundo, pois nada é mais destrutivo do que a vitalidade mal direcionada. A cevada, segunda das Shivat HaMinim, ensina que se direcionarmos adequadamente nossa alma animal, esta pode ser um excelente aliado de nossa alma Divina em ajudar-nos a executar nossa missão neste mundo.
A importância da alegria se percebe em tudo. Quando estamos alegres, tudo o que fazemos fica mais evidente: nossa mente fica mais brilhante, nosso amor mais profundo, nossos desejos mais intensos. A alegria permite que as emoções brotem. Como ensina o Talmud, “Quando o vinho entra, os segredos saem”. Quando nos embebemos de alegria, podemos revelar mais facilmente os grandes tesouros que estão profundamente aninhados em nossa alma.
3. Uva - Alegria As uvas são associadas com a alegria. Como está no Tanach, “… meu mosto, que alegra a D’us e aos homens...” ( Juízes 9:13). A alegria é um elemento indispensável à vida. A Torá nos ordena servir a D’us com alegria e desaprova a tristeza e a depressão. 17
Por outro lado, uma vida sem alegria é rasa e vazia. O ser humano pode ter tudo – pode possuir uma infinidade de bênçãos materiais e espirituais –, mas se não tiver alegria, não viverá toda a plenitude da vida. Tanto a alma Divina como a animal contêm amplos reservatórios de discernimento e sentimento, mas, na ausência de alegria, esse manancial nunca é expresso plenamente porque não há nada que os estimule. A uva representa justamente o elemento que libera esses potenciais, DEZEMBRO 2017
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adicionando-lhes cor, profundidade e intensidade em tudo o que fazemos.
4. Figo - Envolvimento Uma vida plena, no entanto, não exige apenas alegria – mas também envolvimento. Podemos realizar muitas coisas de forma séria e competente, mas podemos não estar envolvidos muito profundamente na tarefa que temos que realizar. Envolvimento significa mais do que executar algo com cuidado e precisão; significa envolver-se plenamente em algo com nossa mente, coração e alma.
O figo simboliza esse envolvimento. São várias as opiniões a respeito da identificação do fruto proibido no Jardim de Éden: uva, trigo (como vimos acima) e Etrog (uma das quatro espécies de Sucot). Mas há também uma opinião que diz que o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal era o figo. Como ensina a Cabalá, o conhecimento requer um profundo envolvimento – simbolizado pelo figo – com algo ou com alguém. O pecado original se originou na recusa do ser humano em se reconciliar com o fato de que há certas coisas com as quais não se pode envolver. Adão e Eva comeram do fruto proibido porque queriam se igualar a D’us. Queriam se envolver
com cada uma das criaturas Divinas – mesmo com o mal, que D’us proibira. O figo do Jardim de Éden foi a origem de todas as forças destrutivas do mundo. Contudo, essa fruta também simboliza nossa capacidade de envolvimento profundo e íntimo com nossos esforços positivos – um envolvimento que significa que nos preocupamos profundamente com tudo o que fazemos.
5. Romã - Ação Romãs simbolizam ação. Há muitas ocasiões, na vida, em que o imperativo nos dita simplesmente realizar algo, sem sentir nem pensar, mas agir. Por exemplo, a Torá nos impõe cumprir seus mandamentos mesmo se os realizarmos sem conscientização, alegria ou envolvimento. Nas palavras dos Sábios: “O mais importante é a ação”. O Judaísmo está muito mais preocupado com as ações de uma pessoa do que com suas intenções. É melhor ajudar pessoas carentes mesmo sem sentirmos compaixão do que estar cobertos de piedade pelos necessitados e nada fazer para socorrê-los.
6. Azeitona - Desafio
Há um famoso ensinamento talmúdico que diz que “mesmo
Um dos grandes mistérios da condição humana é que, em geral,
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os vazios, entre os judeus, estão repletos de boas ações como a romã está repleta de sementes”. Um dos significados desse ensinamento é que mesmo quem é “vazio” – aquele que possui pouco conhecimento e não está ligado com sua alma Divina –, mesmo ele realiza uma enormidade de boas ações. Trata-se de uma característica que redime a alma humana: a capacidade de erguer-se acima de si mesmo e fazer o que é certo mesmo quando não se tem motivação para tal.
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somos mais inovadores e capazes quando nos deparamos com limitações, pressões e dificuldades. Damos o melhor de nós quando pressionados; quando nosso “combustível” espiritual é “espremido” de nós devido a uma situação desafiadora ou opressiva. A sexta qualidade da alma é representada pela azeitona, que, espremida, produz azeite de oliva – fonte de sustento e de luz. O fruto da oliveira representa a capacidade humana de transformar dificuldades em forças poderosas para a realização e o crescimento – física e espiritualmente.
7. Tâmara Tranquilidade Em contraste com a azeitona temos a sétima fruta, a tâmara, que simboliza nossa aptidão para a paz, tranquilidade e perfeição. É bem verdade que damos o melhor de nós diante de um desafio, mas também é verdade que há muito potencial em nossa alma que apenas emerge quando estamos em paz – apenas quando atingimos o equilíbrio e a harmonia entre os diferentes componentes de nossa alma.
consigo mesmo, com os seus semelhantes e com D’us. Apesar de azeitonas e tâmaras serem antíteses metafóricas, ambas podem existir dentro de todo ser humano. Mesmo em meio a nosso empenho mais ardente, podemos sempre encontrar conforto e força na perfeição que reside na essência de nossa alma. Ao mesmo tempo, mesmo quando encontramos a paz – interna e com o mundo –, sempre podemos encontrar um desafio que nos impulsione a realizações ainda maiores.
Está escrito no Livro dos Salmos que “Os Tzadikim, os justos, florescerão como a tamareira” (Salmos 92:13). O Zohar, obra fundamental da Cabalá, explica que há uma certa espécie de tamareira que só dá frutos após 70 anos. A alma humana é composta de sete atributos básicos, cada um deles, por sua vez, com 10 subcategorias. Assim, o Tzadik que floresce após cumprir 70 anos é fruto de uma alma cujo caráter, em todas os seus aspectos, foi refinado e está em harmonia
Tu B’Shvat é um dia festivo que nos transmite muitas lições. Com as Sete Espécies da Terra de Israel aprendemos que a vida é plena quando o ser humano é guiado pela transcendência de sua alma Divina e impulsionado pela vitalidade de sua alma animal. As Sete Espécies também nos ensinam que uma vida plena requer alegria, envolvimento, vontade de agir, habilidade de vencer as dificuldades e capacidade de encontrar tranquilidade dentro de si próprio e no mundo. Um dos temas centrais de Tu B´Shvat é a comparação entre o homem e a “árvore do campo”. Assim como o fruto é a maior conquista da árvore, D’us conclama os seres humanos a usar seus poderes e recursos espirituais para constantemente dar frutos.
Bibliografia:
The Seven Species and Seven Attributes, Rabbi Simon Jacobson, http://www.chabad.org/library/ article_cdo/aid/2776/jewish/The-Seven-Species-and-Seven-Attributes.htm/sc/em_share Seven Fruits of the Soul, Rabbi Yanki Tauber http://www.chabad.org/library/article_cdo/ aid/408049/jewish/Seven-Fruits-of-the-Soul. htm/sc/em_share
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Os mandamentos da Festa de Purim Purim, celebrada no 14o dia do mês de Adar, é A DATA mais alegre do ano judaico. Comemora a milagrosa salvação do Povo Judeu na antiga Pérsia da trama de Haman para “destruir, matar e aniquilar todos os judeus, jovens e idosos, crianças e mulheres, em um único dia”.
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ão quatro as mitzvot (mandamentos Divinos) básicas associadas com a festa de Purim. Apesar de não ser um Yom Tov, um dia sagrado – já que não há restrições como no Shabat ou nas festas bíblicas (Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot, Pessach e Shavuot) –, deve-se, se possível, tirar o dia de folga do trabalho para celebrar essa festividade alegre e, assim, poder cumprir seus mandamentos de forma adequada.
de ouvir a leitura da Meguilá duas vezes durante a festa: na noite e, novamente, no dia de Purim.
É importante lembrar que no calendário judaico, o novo dia começa ao pôr-do-sol. Purim, portanto, que é uma festa de um só dia, se inicia ao anoitecer e termina no dia seguinte, com o cair da noite. Excetuando-se o mandamento de ouvir a leitura da Meguilá, que deve ser lida à noite e novamente no dia de Purim, os outros três mandamentos da festa são realizados durante o dia.
Ouvir essa leitura é tão importante que tem precedência sobre o cumprimento de todos os demais mandamentos positivos da Torá. Isso significa que mesmo quem estuda a Torá durante o dia todo, deve interromper seus estudos para ouvir a Meguilá. A única mitzvá que não é suspensa para a leitura da Meguilá é o enterro de uma pessoa que foi encontrada morta e não tem quem a enterre.
1º mandamento: Ouvir a leitura da Meguilá
A leitura é feita a partir de um rolo de pergaminho escrito à mão. Para cumprir o mandamento, é necessário ouvir cada uma das palavras. O ideal é que todos os que estão na sinagoga tenham uma Meguilá manuscrita sobre pergaminho diante de si para poder acompanhar a leitura. Desta forma, tem-se a certeza
O mandamento de ouvir a leitura da Meguilá se aplica a homens e mulheres. É preferível que seja feita na presença de um minyan. Como uma das razões para a leitura é divulgar os milagres celebrados nesse dia, o fato de ser feita na sinagoga permite que o mandamento seja cumprido da melhor forma.
A Meguilat Esther, um dos livros do Tanach (Torá, Profetas e Escritos Sagrados) conta-nos a história de Purim. Como mencionamos acima, há o mandamento 20
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o pergaminho de esther, Jacob Ben Bezalel, Frankfurt, alemanha, 1806/07
de que mesmo quem não conseguiu ouvir uma ou outra palavra, poderá ler sozinho e, assim, cumprir o mandamento. Quem não tiver uma Meguilá manuscrita, deverá ler de uma impressa.
2º mandamento: Dar presentes aos carentes (Matanot LaEvyonim) Um dos temas primordiais de Purim é a união do Povo Judeu. O notório antissemita Haman, primeiro-ministro do rei persa Achashverosh, tentou matar todos os judeus, sem exceção – homens, mulheres e crianças. Não fazia distinção entre os judeus; para ele, todos eram iguais – e cada um deles tinha que ser exterminado. Pouco lhe importava se eram religiosos, eruditos, bem-sucedidos – ou não. Como todos eles viviam sob o domínio do Rei Achashverosh,
a “Solução Final para a Questão Judaica” de Haman se aplicava a cada um deles. E juntos, eles enfrentaram essa ameaça à sua existência. Oraram e jejuaram juntos. E juntos prevaleceram contra seus inimigos. Assim, em Purim, todos os judeus celebram juntos. Se Haman, o Hitler da Antiguidade, nos ensinou algo, esse algo foi que, apesar de nossas diferenças e discórdias – nosso grau de observância religiosa, nossas tendências políticas, se somos sefaraditas ou asquenazitas, se vivemos em Israel ou na Diáspora –, nós, judeus, somos um povo indivisível. Nossos inimigos – antigos e atuais – não fazem distinção entre nós. Às vezes, como nesse caso, até a maldade personificada tem algo a nos ensinar – ou seja, que não há distinção real entre os judeus, pois todos os Filhos de Israel constituem um só organismo. 21
Outro tema importante em Purim é a sobrevivência física do Povo Judeu. Se Chanucá celebra o triunfo do Judaísmo, Purim comemora eventos bem mais dramáticos e extremos. Haman não estava interessado em converter ou assimilar nosso povo, como os sírio-gregos. Ele queria realizar o que seu “filho espiritual” quase conseguiu, dois milênios mais tarde: extirpar todos os judeus da face da Terra. Assim sendo, enquanto Chanucá celebra uma vitória militar em guerra travada por razões espirituais, Purim comemora a existência física do Povo Judeu. Como Purim comemora a sobrevivência física do Povo Judeu, celebramos essa festa contribuindo para o bem-estar físico dos demais judeus, em especial, dos mais necessitados. O mandamento da Tzedacá, a mitzvá mais importante da Torá, se aplica a todos os dias do DEZEMBRO 2017
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ano nos quais a Torá nos permite usar dinheiro. O judaísmo nos ordena ser generosos e empenharnos em ajudar os demais ao nosso máximo – a judeus e não judeus. Mas em Purim, o mandamento da Tzedacá é especialmente enfatizado; temos que ser generosos com todos os que buscam ajuda. Um dos quatro mandamentos dessa festa é dar Matanot LaEvyonim, literalmente, “presentes aos carentes”. Devemos dar Tzedacá a duas pessoas necessitadas, no mínimo. Isso pode ser cumprido por meio de qualquer tipo de presente: dinheiro, alimento, bebida ou roupa. O ideal é que seja um presente substancial. Os Matanot LaEvyonim devem ser dados durante o dia de Purim e, de preferência, na parte da manhã, para que quem os recebe possa usufruí-los durante a festa. A quantia dada deve ser suficiente para que comprem alimento e bebida, dessa forma possibilitando que tenham uma refeição festiva nesse dia. Contudo, quem recebe o presente não é obrigado a gastar o dinheiro em Purim: pode usá-lo em outra data e da forma que quiser.
Os Matanot LaEvyonim não devem ser dados antes de Purim, para que quem os recebe não os utilizem antes da festa – pois nesse caso, o doador não teria cumprido o mandamento. Quem não deparar com pessoas carentes em Purim, deve doar o dinheiro a uma sinagoga que esteja arrecadando fundos com esse propósito. É necessário que o dinheiro dado em Purim seja destinado aos necessitados: não pode ser usado para nenhum outro propósito, por mais nobre ou sagrada que seja a finalidade. Em Purim, doamos dinheiro a quem o pede: não fazemos perguntas nem procuramos saber se quem pede a Tzedacá realmente a necessita ou não. O mandamento de Matanot LaEvyonim é dever de todos os judeus – homens, mulheres e até crianças.
3º mandamento: Enviar presentes de alimentos para amigos (Mishloach Manot) Como explicamos acima, Purim celebra a unidade judaica e a sobrevivência física do Povo Judeu. Por isso, os mandamentos relativos à festa enfatizam e buscam promover a amizade e o senso de comunidade. Uma das formas de o fazer é cumprir o mandamento de Mishloach Manot: o envio de presentes de alimentos a amigos e conhecidos. Essa mitzvá é cumprida mediante o envio de um presente contendo, no mínimo, dois tipos diferentes de alimentos prontos ou bebidas a, pelo menos, um amigo ou conhecido. Para cumprir essa obrigação, os 22
alimentos devem ser prontos para o consumo, como biscoitos, frutas, doces, vinho ou outras bebidas. É importante observar que esse mandamento não pode ser cumprido com dinheiro ou outro tipo de presentes. É louvável enviar os Mishloach Manot ao máximo de amigos possível. E mais, é adequado que sejam substanciais ao ponto de denotar respeito. Portanto, devemos atentar para não enviar um presente de alimentos qualquer para que não seja insulto a quem o recebe. É importante ressaltar que ao cumprirmos os mandamentos de Purim, devemos ser mais generosos nos presentes para os carentes do que nos presentes de alimentos para os amigos. Devemos priorizar os Matanot LaEvyonim ao alocar a verba que iremos gastar no cumprimento dessas mitzvot. É muito mais importante ser generoso com os necessitados do que enviar Mishloach Manot elegantes e caros aos amigos. O mandamento de Mishloach Manot deve ser cumprido durante o dia de Purim, não na noite da festa. Os homens enviam Mishloach Manot a homens; as mulheres, a mulheres. É preferível que os presentes de alimentos sejam entregues por um terceiro – e não diretamente. Apesar de haver uma regra geral na Torá de que é preferível cumprir a mitzvá em pessoa a delegá-la a um terceiro, esse mandamento é diferente, pois a expressão Mishloach Manot usada na Meguilat Esther implica que essa mitzvá em particular é mais adequadamente cumprida se realizada por meio de um intermediário. (Mishloach significa envio). No entanto, se a pessoa entregar seus presentes de alimentos pessoalmente, terá cumprido plenamente o mandamento.
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4º mandamento: Refeição festiva no dia de Purim (Seudat Purim) Um dos mandamentos da festa é fazer uma refeição festiva – uma Seudat Purim. Isso celebra o fato de que na história de Purim, a queda de Haman ocorreu durante um banquete organizado pela Rainha Esther. Essa refeição deve ocorrer durante o dia; aquele que realiza uma Seudat Purim durante a noite da festa não cumpriu o mandamento. No entanto, após ouvir a leitura noturna da Meguilá, deve-se também festejar e fazer uma refeição mais elaborada que de costume. É importante observar que como Purim não é um Yom Tov, não se recita o Kidush nessa festividade. Contudo, antes de iniciar a Seudat Purim, deve-se lavar as mãos com a bênção de Netilat Yadayim e comer pão. Após a refeição, recita-se o Birkat Hamazon (Oração após as Refeições), incluindo-se a passagem de Ve’Al Hanissim – que menciona o milagre de Purim. A Seudat Purim deve começar antes do pôr-do-sol. Merece louvores quem convida amigos para seu banquete. Se Purim cai numa 6a feira, a refeição festiva é realizada mais cedo e tem que estar concluída bem antes do Shabat para que se possa desfrutar da refeição do dia sagrado com prazer; contudo, há quem tenha o costume de fazer a refeição de Purim bem mais tarde na 6a feira, estendendo-a até a chegada do Shabat: coloca-se, então, a toalha própria na mesa, recita-se o Kidush de Shabat e segue-se com a refeição – que passa, então, a ser duplamente festiva, tanto em honra de Shabat quanto de Purim.
“A Festa de Purim”, cartão postal reproduzindo pintura de Moritz Daniel Oppenheim, Alemanha, 1910-1920.
Deve-se comer carne e tomar vinho na Seudat Purim. Também é costume comer legumes, comemorando o fato de que a Rainha Esther comia legumes e verduras enquanto vivia no palácio real, pois se recusava a comer a comida não casher servida no palácio. Deve-se notar que a refeição festiva de Purim é outro mandamento que enfatiza o plano físico: essa mitzvá é cumprida com alimento e bebida. O mandamento de Seudat Purim enfatiza, novamente, o tema geral da festa – a sobrevivência física e o bem-estar material do Povo Judeu. É importante enfatizar, contudo, que apesar de que a refeição de Purim deve ser alegre, o mandamento não deve ser cumprido frivolamente. Não se trata de uma refeição desregrada e, muito menos, uma bacanal romana. Ainda que seja um mandamento cumprido por meio de comida e bebida, essa refeição festiva tem um enorme significado espiritual, pois eleva a alma enquanto satisfaz o corpo. Na verdade, é recomendado que se realize algum estudo de 23
Torá antes de se iniciar a Seudat Purim. O Zohar, obra fundamental da Cabalá, revela que ao se realizar um banquete em Purim, podese conseguir a mesma elevação espiritual que se consegue ao jejuar em Yom Kipur. Nossos Sábios ordenaram-nos servir vinho nesse banquete pelo fato de o milagre de Purim ser intimamente ligado ao vinho. A queda da Rainha Vashti, mulher de Achashverosh, ocorreu em um banquete de vinhos – e foi a oportunidade para que Esther tomasse seu lugar ao lado do Rei e salvasse nosso povo do genocídio. Além disso, também a derrota de Haman se deu em meio a uma festa de vinho organizada pela Rainha Esther. Nossos Sábios também ordenaram que, em Purim, devemos beber vinho até nos embriagarmos. Ensinaram que é louvável beber até não se poder diferenciar entre “que Haman seja amaldiçoado” e “que Mordechai seja abençoado”. No entanto, se a saúde da pessoa for prejudicada com esse excesso, ou se ela temer que bebendo DEZEMBRO 2017
nossas festas
demais seja levada a agir de forma irresponsável ou desagradável, ou a negligenciar as bênçãos e orações, ela não deve beber demais. Há quem não deva beber de forma alguma. Estes devem tirar um cochilo durante o dia, pois aquele que está adormecido não sabe diferenciar entre “que Haman seja amaldiçoado” e “que Mordechai seja abençoado”. Ainda que seja louvável realizar uma Seudat Purim elaborada e farta, é preferível ser generoso com os necessitados do que gastar demais em um rico banquete de Purim. Como explicamos acima, o mandamento de Matanot LaEvyonim – presentes aos carentes – supera a mitzvá de Mishloach Manot. Supera, também, o mandamento de Seudat Purim. Evidentemente, é necessário cumprir todos os quatro mandamentos de Purim. Contudo, a maioria dos gastos com a festa deve ser direcionada aos presentes para os necessitados, como vimos. A razão para isso é que, como dissemos acima, não há mandamento mais importante no Judaísmo do que a Tzedacá. E também, como ensinam nossos Sábios, não há alegria maior ou ato mais digno do que alegrar o coração do necessitado, do órfão e da viúva. Escreveu Maimônides, que quem alegra o coração deles pode ser comparado à Shechiná, a Presença Divina, como diz o versículo: “(D’us) reanima o espírito dos oprimidos e restaura o coração dos humilhados” (Rambam, Hilchot Meguilá 2).
ocorrida em Purim e agradece a D’us pelos “milagres de redenção, atos poderosos, de salvação e de milagres” que Ele realizou em prol de nossos antepassados, salvando-os do plano de Haman de exterminá-los. Durante as orações matinais do dia de Purim, lê-se uma porção especial da Torá (Êxodo 17:8-16), que descreve a batalha de Yehoshua contra Amalek – o povo ancestral de Haman e inimigo mortal do Povo Judeu –, ocorrida quase mil anos antes dos eventos de Purim.
O uso de fantasias Em Purim, é costume que as crianças – e até mesmo alguns adultos – usem fantasias. A tradição é alusiva aos milagres Divinos ocultos que salvaram nosso povo do nefasto objetivo de Haman. A Meguilat Esther é o único livro do Tanach que não faz menção a D’us – nem uma vez sequer. A razão para essa omissão é que na história de Purim, D’us “usou um disfarce”: Ele Se ocultou e agiu sigilosamente. Ao orquestrar uma série de eventos naturais – uma série incrível de coincidências –, Ele salvou o Povo Judeu. Em Purim, muitas sinagogas organizam uma festa à fantasia, com
Orações especiais para a festa de Purim A passagem Ve’Al Hanissim é recitada nas orações da Amidá e no Birkat HaMazon (Oração após as Refeições). O trecho de Ve’Al Hanissim descreve a salvação 24
prêmios para as crianças. Além de acrescentar alegria ao dia e despertar a curiosidade das crianças, o costume de se fantasiar reflete um dos principais temas de Purim: o fato de que D’us está sempre presente no mundo e em nossa vida pessoal, mas que Ele geralmente “Se disfarça”. Na maioria das vezes, D’us age em total segredo. Como ensina o Talmud – e como rezamos na oração da Amidá, três vezes ao dia –, D’us está sempre operando milagres – à noite, de manhã e à tarde. Se a maioria de nós não os percebe, é porque eles vêm disfarçados em “eventos naturais”.
Costumes antes e depois de Purim: Leitura de Zachor, na Torá Na manhã do Shabat que antecede Purim, após a leitura da porção da Torá da semana, lê-se uma passagem especial chamada Zachor (“Lembrate”). Ouvir a leitura dessa passagem é um mandamento bíblico. Nela, D’us ordena a todo o Povo Judeu se lembrar dos feitos da nação de Amalek – os ancestrais de Haman, cujo objetivo é aniquilar os Filhos de Israel. A porção de Zachor nos recorda que Amalek e seus descendentes – Haman e Hitler, entre muitos outros vilões – são os inimigos jurados do Povo Judeu, da Humanidade e até de D’us. Amalek personifica todas as formas de escuridão e mal que há no mundo. Esse povo assume diversas formas – físicas e espirituais – e há um mandamento na Torá para erradicá-lo da face da Terra. Todos os anos, no Shabat que precede a festa de Purim, ouvimos a porção de Zachor porque nosso povo precisa lembrar que homens como Haman e Hitler jamais poderão
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ser desculpados como lunáticos que guardavam no coração um ódio irracional contra os Filhos de Israel. Esses filhos de Amalek sabiam exatamente o que faziam quando tentaram exterminar o Povo Judeu. Seu propósito era extirpar o Povo Eleito por D’us para poderem estabelecer o reino da escuridão no mundo. O maior inimigo de Amalek é o Povo de Israel – o Povo da Luz (Isaías 60:3). A porção de Zachor recorda a nosso povo que uma de nossas missões é combater e vencer Amalek – total e definitivamente. Somente quando isso acontecer, a paz reinará no mundo.
Jejum de Esther Quando a heroína da festa, a Rainha Esther, foi informada sobre o decreto genocida de Haman, ela pediu ao seu tio Mordechai, líder do Povo Judeu, que ordenasse aos judeus jejuarem por três dias. Ela própria jejuaria, bem como Mordechai. O propósito do jejum era ganhar o favor do Todo Poderoso, Rei dos Reis, para que ela, Esther, conseguisse influenciar seu esposo, rei terreno poderoso, para
frustrar os planos de Haman. Para celebrar esse jejum de três dias, que foi instrumental para a salvação de nosso povo, jejuamos no dia que antecede Purim. Taanit Esther (o Jejum de Esther) se inicia cerca de uma hora antes do nascer do sol e dura até a noite. É costume quebrar o jejum após ouvir a leitura noturna da Meguilá.
às moedas de prata que Haman deu ao Rei Achashverosh em troca da permissão de aniquilar todos os judeus. Além disso, o Talmud ensina que a Tzedacá nos salva de todo o mal, mesmo da morte. Assim como os meio-shekels pouparam os judeus da destruição na história de Purim, nós também fazemos Tzedacá na tarde do Jejum de Esther como fonte de proteção e bênção.
As “meias moedas” (Machatzit HaShekel)
Shushan Purim
Na tarde do Jejum de Esther, ou antes da leitura da Meguilá na noite de Purim, há uma tradição de doar certa quantia à sinagoga para celebrar o meio-shekel que todos os judeus contribuíam como sua parte nas oferendas comunitárias na época do Templo Sagrado de Jerusalém. Qual a conexão entre o donativo de meio-shekel ao Templo Sagrado e Purim?
Em Jerusalém, Purim é celebrado no dia 15 de Adar – e não 14 de Adar. O dia 15 é chamado de Shushan Purim. Fora de Jerusalém, inclusive na Diáspora, a data de 15 de Adar não é Purim – não se podendo cumprir as mitzvot da festa nesse dia. Contudo, Shushan Purim é um dia de alegria e celebração para todos os judeus, tanto em Israel como na Diáspora.
Ensina o Talmud que “D’us manda a cura antes da enfermidade”. O meioshekel que cada judeu contribuía como seu quinhão para as oferendas comunitárias serviu como antídoto 25
Bibliografia
http://www.chabad.org/holidays/Purim/ article_cdo/aid/1362/jewish/Purim-How-To-Guide.htm DEZEMBRO 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
70 ANOS DA PARTILHA POR Zevi Ghivelder
O dia 29 de novembro de 1947 ascendeu à condição de data histórica por registrar a decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas que adotou a resolução de dividir a antiga Palestina em dois estados, um árabe, outro judeu. Agora está sendo celebrado o 70º aniversário desta partilha que se desdobrou em um sucesso e um fracasso
O
sucesso corresponde à efetiva criação de Israel, no ano seguinte, e que em sete décadas alcançou êxitos surpreendentes em todos os campos da atividade humana na moldura de um estado democrático de direito. O fracasso diz respeito à recusa dos árabes em aceitar os termos da partilha, tendo deixado de estabelecer sua própria nação no território que lhes competiria, preferindo submeter-se à soberania do rei Abdullah, da então Transjordânia, atual Jordânia.
linhas telefônicas e bloqueando estradas, além de incendiarem propriedades e plantações do ishuv (judeus residentes na Palestina) e atacarem os ingleses com operações de guerrilhas. A chefia da comissão foi confiada ao lorde William Peel, 69 anos, destacado político e empresário inglês. A chamada Comissão Peel chegou à Palestina em novembro, tendo os árabes desde logo anunciado que boicotariam todas as suas ações. Os líderes do ishuv perceberam que seu futuro estava ameaçado e preparam para apresentar à Comissão Peel um memorando com 228 páginas e cinco apêndices, no qual esmiuçaram a história da Palestina e seu vínculo ancestral com o povo judeu, as implicações legais e territoriais que levaram à atribuição do mandato ao Império Britânico e os progressos materiais e agrícolas alcançados pelos colonos judeus nos últimos vinte anos, ou seja, desde a Declaração Balfour. (Trata-se de um documento emitido por Lord Balfour, membro do gabinete inglês, em novembro de 1917, afirmando que o governo de Sua Majestade era favorável à criação de um lar nacional judaico na Palestina). A argumentação do ishuv enfatizava que há três anos os nazistas estavam no poder na Alemanha e, portanto, eram
Entretanto, é importante assinalar que sobre o atual 70o aniversário avulta outro, de 80 anos, igualmente relevante, que foi a semente do conceito da implantação de dois estados na antiga Palestina. Trata-se da Comissão Peel, constituída em maio de 1936 pelos mandatários britânicos, com a finalidade de resolver os dramáticos problemas então existentes naquela região. Sete anos antes, uma rebelião árabe havia massacrado judeus em Jerusalém, Hebron, Safed e outras cidades, resultando em mais de uma centena de mortos e mais de 300 feridos. No mesmo ano de 1936, os árabes promoveram uma greve geral no território sob mandato, sabotando ferrovias, 26
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VOTAÇÃO DA ONU EM 29 DE NOVEMBRO DE 1947
graves as ameaças que pairavam sobre os judeus. Entre novembro de 1936 e fevereiro de 1937, Chaim Weizmann, David Ben Gurion e Zeev Jabotinsky, líderes proeminentes do movimento sionista, prestaram depoimentos perante a Comissão Peel. Uma leitura atual de suas palavras demonstra que o sionismo jamais foi apresentado e defendido com tanto fervor e precisão desde a atuação de Theodor Herzl no Primeiro Congresso Mundial Sionista, quarenta anos antes. De todos, Ben Gurion foi o mais assertivo: “Nossos direitos na Palestina não decorrem do mandato, nem da Declaração Balfour. Nossos direitos estão no mandato da Bíblia que nós mesmos escrevemos em nosso idioma, aqui nesta terra”. O depoimento de Jabotinsky foi em fevereiro de 1937, na Câmara dos Lordes, com
o recinto em Londres lotado e mais milhares de pessoas fazendo vigília em torno do prédio. Weizmann também falou em Londres, a portas fechadas, advertindo aos ingleses que eles se arrependeriam das concessões que estavam sendo estendidas ao Mufti de Jerusalém, um declarado aliado do regime nazista. Por causa das repercussões internacionais alcançadas por esses depoimentos, os árabes decidiram suspender o boicote à Comissão Peel e o próprio Mufti testemunhou: “Tanto o mandato quanto a Declaração Balfour são inválidos porque resultaram de pressões exercidas pelos judeus que querem reconstruir o Templo de Salomão em nossas sagradas propriedades. A Palestina está plenamente ocupada e não tem como acolher dois povos”. Nos meses seguintes, à medida em que eram colhidos 27
novos depoimentos, os membros da Comissão Peel começaram a concluir que a solução mais plausível seria a partilha da Palestina em dois estados. Chamaram Weizmann informalmente para ouvir sua opinião e este disse: “Não estou autorizado a falar em caráter oficial. Mas acho que é uma boa ideia e que deve ser levada adiante”. Em março, o parlamentar Winston Churchill compareceu perante a Comissão e se opôs à partilha, argumentando que tal divisão daria origem a uma guerra na qual os judeus da Palestina seriam exterminados em face da abissal diferença numérica existente entre os dois lados. Em junho, Sir Archibald Sinclair, líder do Partido Conservador da Inglaterra, ofereceu um jantar a Chaim Weizmann ao qual compareceram Churchill, o líder sionista britânico James de Rothschild e outros ilustres políticos. Quando Weizmann se dezembro 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
COMISSÃO PEEL
referiu à ideia da partilha, ainda em gestação, Churchill foi incisivo: “Isso não passa de uma miragem. Vocês, judeus, têm que perseverar, perseverar e esperar!” No dia 7 de julho de 1937, o gabinete britânico divulgou o relatório da Comissão Peel, com 435 páginas. O documento assinalou a conexão judaica com a Palestina ao longo de três mil anos, as vantagens obtidas pelos árabes por conta do fluxo do capital judaico investido na Palestina, pelo aumento da população árabe nas áreas urbanas desenvolvidas pelos judeus, pelos novos hospitais e clínicas que atendiam tanto a judeus quanto a árabes, além de destacar que a ação dos judeus contra a malária beneficiava a todos na Palestina, sem distinção. O documento ressaltou que no decorrer dos últimos vinte anos os árabes não tinham se afastado sequer uma polegada de sua forma contrária e irredutível ao abordar a Declaração Balfour e o mandato britânico. Em outro trecho, o relatório afirmou que o maior problema não eram os ataques dos árabes contra os judeus, nem contra os ingleses, mas os ataques
dos árabes contra outros árabes que não se submetiam às determinações sectárias do Mufti. Mais adiante o documento diz que o nacionalismo árabe, em vez de emanar de fatores positivos, só tinha como meta incentivar o ódio aos judeus. Mesmo assim, foram acolhidos os nacionalismos de ambas as partes como movimentos legítimos e, por fim, a Comissão Peel sugeriu uma tragicômica divisão da Palestina: os judeus ficariam com 13% do território e os árabes com 80%, cabendo o pouco restante ao Império Britânico, incluindo Belém e Jerusalém. A Comissão sugeriu, ainda, que os árabes locais se incorporassem à então Transjordânia. O relatório acirrou ânimos entre os judeus, entre os árabes e também entre os ingleses, chegando a atravessar o Atlântico. Lloyd George, chanceler à época da Declaração Balfour, disse que adotar a proposta divisão seria a “afirmação do fracasso da nossa política externa”. Dezenas de parlamentares, mesmo os simpáticos ao sionismo, tendo à frente Winston Churchill, também 28
foram contrários. Nos Estados Unidos, o célebre magistrado Louis Brandeis manifestou-se contra aquela proposta de partilha e o fez por escrito numa carta endereçada a Felix Frankfurter, outro famoso magistrado americano. Desgostoso, Weizmann escreveu em seu diário: “O terrorismo árabe acaba de conquistar uma grande vitória”. No 20o Congresso Mundial Sionista, reunido em Zurique poucas semanas depois da divulgação do relatório, Chaim Weizmann pediu aos 484 delegados que aprovassem a partilha tal como fora sugerida porque “trata-se de uma proposta revolucionária que abre caminho para o nosso objetivo”. Ben Gurion também aprovou: “Por menor que seja o estado, de uma forma ou de outra ele poderá ser expandido no futuro”. Depois de acalorados debates, o plano da Comissão Peel foi aprovado por 300 votos contra 158 e 26 abstenções. Por seu turno, os árabes rejeitaram a totalidade do relatório e afirmaram que jamais reconheceriam um território judaico na Palestina por menor que fosse. A violência árabe prosseguiu até 1939, quando os ingleses emitiram o infame White Paper que além de proibir a imigração de judeus para a Palestina também anulou o relatório da Comissão Peel. Mas, a semente da solução por dois estados estava plantada e viria a frutificar dez anos depois de sua concepção. A Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, provocou um hiato nas aspirações sionistas e o ishuv participou do conflito com a criação da Brigada Judaica que lutou incorporada às forças britânicas. Finda a guerra, do ponto de vista britânico, a situação na Palestina se tornara insustentável. No mar, os ingleses faziam de tudo para interceptar os navios da Haganá (exército clandestino judeu), que
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traziam imigrantes ilegais para a Terra Santa, e muitas vezes não eram bem sucedidos. Em terra, enfrentavam as ações da Irgun, organização também clandestina comandada por Menachem Begin, que atacava e sabotava sem cessar grande número de alvos militares britânicos, incluindo, com grande audácia, seu quartel-general no hotel King David, em Jerusalém. No dia 27 de janeiro de 1947, teve início uma série de reuniões em Londres, com uma delegação árabe e outra judaica, separadamente. Após dez dias de conversações, os ingleses apresentaram às partes a possibilidade de uma prorrogação de quatro anos do mandato na Palestina, seguido de independência para ambas as partes, caso chegassem a um posterior entendimento e permissão para uma entrada limitada de judeus. Não houve acordo e em abril de 1947, o chanceler Ernest Bevin, ferrenho adversário do sionismo, que já havia remetido para o âmbito das Nações Unidas o problema da Palestina, decidiu jogar mais uma cartada. Propôs a criação de uma Comissão Especial das Nações Unidas Para a Palestina, a United Nations Special Committee on Palestine, ou seja, a sigla Unscop em inglês, que, a partir de junho, percorreria a região e apresentaria novas recomendações para a solução da questão entre árabes e judeus. Bevin julgava que poderia manipular o comitê em favor dos árabes e de seus próprios interesses. A criação da Unscop agitou a delegação da Agência Judaica (órgão representativo do ishuv), que se encontrava nos Estados Unidos para acompanhar os trabalhos da ONU, instalada num grande rinque de patinação em Flushing Meadows, perto de Nova York. A delegação
tinha à frente Moshe Sharett (futuro chanceler e primeiro-ministro de Israel) e seu braço direito, o economista David Horowitz. Ambos decidiram que a Agência Judaica deveria ter dois observadores junto à Unscop. Levaram este pleito à ONU, que o aceitou. Horowitz seria um deles. Àquela altura, encontrava-se em missão em Amsterdã um jovem de 32 anos de idade, militante da Agência Judaica em Londres, nascido na África do Sul, chamado Audrey Sacks, que se tornaria uma celebridade mundial e seria consagrado chanceler de Israel com o nome de Abba Eban. Chamado por Sharett para ir a Nova York e integrar-se como o segundo observador na Unscop, ele conta em sua autobiografia que voltou a Londres e correu para a livraria Foyle’s onde comprou tudo que havia sido publicado até então sobre as Nações Unidas e sobretudo sobre os seus procedimentos internos: “Foi a minha entrada na arena internacional”. Pouco adiante acrescentou: “Como pressenti que o trabalho a partir dos Estados Unidos seria longo, levei comigo, por minha conta, minha mulher Suzy”. Em Londres, antes de partir, Eban narra
que se deparou com um ambiente imerso em rancor, a ponto de Bevin ter-se recusado a receber Weizmann, o que era uma absurda quebra no comportamento tradicional da chancelaria britânica. Além disso, membros da Câmara dos Comuns se mostraram céticos quanto à missão da Unscop, tendo um deles afirmado que o problema da Palestina só seria resolvido com guerra e não com um relatório. A propósito, num trecho muito significativo da autobiografia, Eban escreve: “Um dos momentos mais sensíveis da minha vida pública aconteceu quando eu, Horowitz e John Kimche (historiador e jornalista judeu de nacionalidade suíça), fomos ao encontro do diplomata egípcio Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe, no hotel Savoy, em Londres. Horowitz foi o primeiro a falar. Disse que a presença dos judeus no Oriente Médio era um fato consumado e que, mais cedo ou mais tarde, os árabes teriam que aceitar essa realidade. Em seguida, apresentou um plano de acordo político, de garantias mútuas de segurança e de cooperação econômica. Azzam Pasha respondeu que o mundo árabe não estava propenso a nenhum
sessões da unscop em jerusalém
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entendimento, acrescentando que o plano de Horowitz era lógico e racional, mas que os destinos das nações não eram determinados por lógicas racionais. E enfatizou que nações não concedem, lutam. Disse que talvez os judeus poderíamos conseguir algo, mas que isso só daria através da força das armas, razão pela qual os árabes tentariam nos derrotar e porque qualquer acordo só seria aceitável segundo os termos da Liga Árabe”. Em seguida, conforme Eban escreve, Pasha foi dura e francamente explícito: “O mundo árabe vê os judeus como invasores e está pronto para lutar contra vocês”. Depois de duas horas de conversa, Kimche, Horowitz e Eban chegaram à rua atônitos. Eles não haviam percebido nenhum sinal de ódio nas palavras de Azzam Pasha que, inclusive, se referira aos judeus como primos. O que lhes aterrorizou foi a impassível postura árabe no sentido de ignorar a lógica, até mesmo a lógica do rancor, dando lugar a um cego fatalismo. Chegando em Nova York, Eban juntou-se a Horowitz e os dois se dedicaram a analisar os onze nomes internacionais indicados para a constituição da Unscop. Chegaram à conclusão de que, com poucas exceções, não eram homens públicos ou diplomatas de primeira grandeza. O presidente do Comitê era o sueco Emil Sandstrom, juiz da Suprema Corte de Estocolmo em fim de carreira, mas uma pessoa conhecida por suas posições humanitárias. Nicholas Blum, da Holanda, tinha sido governador das Índias Orientais, atual Indonésia. Uma figura central era o juiz da Suprema Corte canadense Ivan Rand, magistrado probo e independente. O diplomata
John D.L. Wood representava a Austrália e assim Eban se refere na autobiografia aos três indicados da América Latina: “Salazar, do Peru, era um estereótipo de embaixador de cinema, cabelos brancos, taciturno, austero e dono de um ar de mistério decerto adquirido no Vaticano, aonde servira. O dinâmico e loquaz Rodriguez Fabregat era do Uruguai e García Granados, da Guatemala, tinha experiência com os britânicos no que se referia ao conflito de seu país a respeito do território de Belize”. O nomeado da Checoslováquia foi Karl Lisicky, incerto quanto ao futuro de seu país, prestes a ser dominado pela União Soviética. Da Iugoslávia incorporouse Vladimir Simic, diplomata veterano. O mundo islâmico se fez representar pelo indiano Sir Abdul Rahman, que, segundo a descrição de Eban, “era 120% britânico no sotaque e nos maneirismos” e o persa Nazrollah Entezam, diplomata de primeira categoria. A Unscop foi oficialmente confirmada pelas Nações Unidas no dia 15 de maio de 1947 e desembarcou na Palestina um mês depois. Abba Eban descreve uma escala em Malta, protetorado
“Exodus” chega a haifa, julho 1947
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britânico, onde por controle remoto de Bevin, o Comitê foi tratado com uma descortesia que beirou à hostilidade. Dos dias 18 de junho a 3 de julho a Unscop percorreu Jerusalém, Haifa, o Mar Morto, Hebron, Beersheva, Gaza, Jaffa, a Galiléia, Acre, Nablus, Tel Aviv, Tulkarm e Rehovot, além de visitar dezenas de kibutzim (colônias agrícolas coletivas). As audiências públicas da Unscop, constantes de depoimentos de judeus e árabes, aconteceram de 4 a 17 de julho, tendo a Agência Judaica apresentado um inacreditável total de 32 toneladas de documentos. As oitivas foram tão extensas que até mesmo o Partido Comunista da Palestina teve espaço para manifestar sua posição contra o sionismo. No dia 19 de julho, parte dos membros da Unscop se deslocou até o porto de Haifa, aonde estava em curso o drama do navio Exodus, cujos 4.554 passageiros, sobreviventes do Holocausto, fizeram uma greve de fome que emocionou o mundo, mas mesmo assim foram impedidos pelos ingleses de pisar o solo da Terra Santa e deportados à força de volta para a Europa. Os componentes do Comitê ficaram horrorizados com o macabro espetáculo que presenciaram e ficaram ainda mais sensibilizados quando ouviram o testemunho do reverendo cristão John Stanley, que estivera a bordo do Exodus e implorou à Unscop que decidisse em favor dos judeus. Anos mais tarde, Golda Meir declarou que a intervenção de Stanley tinha sido crucial para a criação do Estado de Israel. Depois da Palestina, a Unscop foi para o Líbano, onde foi recebida pelo primeiro-ministro Riad alSohld e pelo chanceler Hamid
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Franjieh, e manteve prolongada conferência com representantes da Liga Árabe e breve encontro com maronitas cristãos favoráveis ao sionismo. Em seguida, parte dos componentes do Comitê rumou para a Transjordânia com audiência marcada com o rei Abdullah. O monarca declarou que via com muita dificuldade a aceitação por parte dos árabes do estabelecimento de um estado judeu na Palestina, mas que ele mesmo não era completamente contrário a tal hipótese e que se a mesma se concretizasse, os palestinos deveriam fazer parte de seu reino. O passo seguinte da Unscop, no dia 26 de julho, foi na direção de Genebra, de onde saiu um subcomitê para percorrer as zonas da Alemanha e da Áustria ocupadas pelos britânicos e entrevistar centenas de sobreviventes judeus, mantidos em campos de refugiados. Mais de 90 por cento responderam que queriam emigrar para a Palestina. Nas semanas seguintes, a Unscop deu início à tarefa de redigir seu relatório final que constou de dez recomendações, sendo a primeira o fim do mandato britânico da Palestina e outras disposições de natureza econômica, além de dispor claramente que o território deveria ser partilhado entre árabes e judeus, conforme o estipulado e de acordo com um mapa anexado. A cerimônia de assinaturas do documento, em ordem alfabética, pelos onze membros da Unscop foi completada no Palácio das Nações, em Genebra, faltando 15 minutos para a meianoite do dia 31 de agosto de 1947. O secretariado das Nações Unidas contabilizou que desde o dia de sua investidura até o final dos trabalhos, a Unscop havia recebido 27 mil comunicações, entre cartas e cartões postais. A Palestina a ser dividida contava com uma população de
David Ben Gurion e Moshe Sharett, Jerusalém, 1947
1 milhão e 200 mil árabes e 570 mil judeus, cabendo às Nações Unidas a tutela de Jerusalém.O futuro Estado Judeu ficaria com 55% do território e 58% do total de seus habitantes. O Estado Árabe, com 45% da área e 99% dos habitantes. A decisão final sobre a partilha caberia à Assembleia Geral.
“O presidente da Assembleia, Oswaldo Aranha, do Brasil, estava religiosamente devotado ao conceito da existência de um estado judaico”. abba eban
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Abba Eban escreveu em sua autobiografia: “Nós tínhamos bons aliados. O presidente da Assembleia, Oswaldo Aranha, do Brasil, estava religiosamente devotado ao conceito da existência de um estado judaico. Ao seu lado estava a sólida e rotunda figura do secretário-geral, Trygve Lie, que tinha um interesse duplo em nosso sucesso: era necessário um acontecimento que desse ressonância às Nações Unidas na opinião pública mundial e, como socialista norueguês, tinha acompanhado de perto as perseguições nazistas em seu país”. David Horowitz e Moshe Sharett mais outros militantes trabalhavam 24 horas por dia. Telefonemas, cartas e telegramas percorriam febrilmente os dezembro 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
contra, dava sinais de que poderia mudar de ideia. À última hora, o chefe da delegação árabe, o libanês Camile Chammoun, desencavou uma resolução do comitê político das Nações Unidas, através da qual uma comissão formada pelos embaixadores da Austrália, Tailândia e Islândia tentaria uma solução de compromisso entre as partes. O relatório final caberia ao islandês Thor Thors.
Embaixadores árabes na onu. os árabes eram representados por cinco países
continentes. Era preciso encontrar alguém nas Filipinas que tivesse acesso ao presidente e alguém, nos Estados Unidos, que fosse amigo do presidente da Libéria. Faltava convencer diversos países da América Latina e, muito mais difícil ainda, atrair a França e a Bélgica para a causa sionista. Dentre os embaixadores de fala espanhola, García Granados, da Guatemala, ex-Unscop, foi um gigante na defesa da causa sionista. No dia 27 de novembro, quando a Assembleia Geral se reuniu, os líderes judeus eram uma só depressão. Se houvesse a votação, estava longe a possibilidade de serem alcançados os dois terços dos votos. A única alternativa era pedir aos embaixadores dos países favoráveis à partilha que ocupassem a tribuna e discursassem o máximo possível para que o horário extrapolasse, obrigando o adiamento da sessão. O representante do Uruguai, Rodriguez Fabregat, também ex-Unscop, foi particularmente brilhante, falando por longo tempo, sem, no entanto, deixar transparecer que se tratava de uma obstrução.
Ao anoitecer, Oswaldo Aranha cedeu aos apelos da liderança judaica e num gesto amigável deu a sessão por encerrada. O dia seguinte seria feriado nos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças, e, portanto, a Assembleia só voltaria a se reunir dois dias depois. Esse intervalo de 24 horas acabou se tornando crucial. Foi nesse tempo que, a exemplo de outros países, as Filipinas e a Libéria asseguraram seus votos pela partilha. A França, inclinada a votar
Na manhã do dia 29 de novembro de 1947, o embaixador da Tailândia, Príncipe Wan, deixou Nova York às pressas, alegando que havia um princípio de revolução em seu país. Foi a maneira que encontrou para fugir à pressão árabe de votar contra a partilha. De qualquer maneira, a sessão seria aberta por Thor Thors; Abba Eban decidiu procurá-lo de manhã cedo no Hotel Barclay. Disse-lhe que se o povo judeu triunfasse com a partilha, estaria realizando um sonho duas vezes milenar. Se fracassasse, esse sonho poderia ficar extinto por muitas gerações. Tudo dependeria da atmosfera que viesse a ser criada por ele na abertura dos trabalhos. A emocionada resposta de Thors deixou Eban desconcertado. Ele disse que a Islândia estava menos remota do destino judaico do que se poderia supor porque a cultura de seu país estava impregnada de lições bíblicas, porque seu povo lutava contra terríveis adversidades da natureza e, portanto, bem compreendia a luta dos judeus. À tarde, era indescritível a tensão nas Nações Unidas, com frenéticos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas de todas as partes do mundo, os embaixadores sendo assediados nos corredores, as
oswaldo aranha
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galerias lotadas. Aberta a sessão, Oswaldo Aranha deu a palavra a Thor Thors. O embaixador islandês declarou de forma imperativa estar convencido de que era impossível um acordo e que cabia à Assembleia Geral tomar uma decisão. Camille Chamoun ainda tentou obter novo adiamento, mas foi obstado por Aranha, apoiado pelos embaixadores Herschel Johnson, dos Estados Unidos, e Andrei Gromiko, da União Soviética.
Judeus comemoram nas ruas de Tel Aviv decisão da ONU, em 1947
Quando os discursos terminaram e Oswaldo Aranha deu início à votação, chamando os países por ordem alfabética, um manto de solenidade cobriu a Assembleia. Os votos foram-se alternando, mais para “sim” do que para “não” e a vitória sionista tornou-se evidente quando a França disse “oui”. Ao término, Aranha declarou com voz firme: “São 33 a favor, 13 contra, 10 abstenções e uma
ausência. A resolução está adotada”. Já era madrugada em Jerusalém. A multidão dançava e cantava nas ruas. Sozinho em seu gabinete da Agência Judaica, David Ben-Gurion mantinha a cabeça abaixada e coberta pelas palmas das mãos. Ele avistava a fumaça de uma guerra terrível que viria e que não poderia ser evitada.
BIBLIOGRAFIA
Eban, Abba, An Autobiography, Random House, 1977. Gavison, Ruth, The Two-State Solution, Bloomsbury Academy, 2013. Louis, William Roger e Stookey, Robert M., The End of the Palestine Mandate, University of Texas Press, 1988. Cohen, Michael J., Palestine and the Great Powers 1935-1948, Princeton University Press. ZEVI GHIVELDER é escritor E JORNALISTA
Os votos Votação referente à Partilha da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 29 de novembro de 1947 A favor: 33 África do Sul, Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Bielorússia, Canadá, Checoslováquia, Costa Rica, Dinamarca, Equador, Estados Unidos, Filipinas, França, Guatemala, Haiti, Holanda, Islândia, Libéria, Luxemburgo, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, República Dominicana, Suécia, Ucrânia, União Soviética, Uruguai e Venezuela.
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Contra: 13 Afeganistão, Arábia Saudita, Cuba, Egito, Grécia, Iêmen, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Paquistão, Síria e Turquia.
Abstenções: 10 Argentina, Chile, China, Colômbia, El Salvador, Etiópia, Honduras, Iugoslávia, México e Reino Unido. Ausência: 1 Tailândia
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CAPA
os pergaminhos do mar morto uma coleção de manuscritos antigos foram descobertos entre 1947-1956, em cavernas do Deserto da Judeia, e constituem a maior descoberta arqueológica do século 20. poucos achados arqueológicos – quiçá nenhum – são tão conhecidos ou despertaram tanto interesse ou controvérsia. Esses manuscritos revolucionaram o entendimento que se tinha sobre o último período do Segundo Templo, quando emergiram o Judaísmo rabínico e o Cristianismo.
e
m 1947 o Oriente Médio estava tumultuado, o que fazia da época o pior momento para se lidar com manuscritos antigos. Mas, para o Povo Judeu, que lutava política e militarmente pela recriação de seu Estado, em sua terra, a Terra de Israel, a descoberta dos primeiros pergaminhos e sua aquisição no exato dia em que as Nações Unidas votaram pela Partilha da Palestina, tinha significado simbólico. Era como se eles estivessem escondidos na escuridão das cavernas durante 2.000 anos, apenas esperando pelo retorno do Povo de Israel a seu Lar ancestral. A descoberta original se resumia a alguns pergaminhos encontrados em uma caverna próximo a Qumran. Mas, os arqueólogos e beduínos continuaram procurando, durante anos, ao longo da margem oriental do Mar Morto, e encontraram no interior de outras dez das centenas de cavernas existentes milhares de documentos antigos e de fragmentos de textos escritos sobre pele de animal, papiros e até sobre cobre. Hoje, esse tesouro, conhecido como os Pergaminhos do Mar Morto, inclui seis pergaminhos praticamente completos, 80 mil fragmentos agrupados em 20 mil segmentos, que representam mais de
900 diferentes textos. Eles contêm passagens de todos os livros do Tanach, exceto o Livro de Esther, além de textos apócrifos, orações e textos sobre a Leis Judaica. Foram escritos predominantemente em hebraico, sendo apenas 15% deles em aramaico e alguns em grego. No início da década de 1950 era costume falar na “batalha dos pergaminhos” em virtude dos inúmeros e candentes debates públicos acerca da identidade de seus autores e sua relevância para o Judaísmo e Cristianismo. Muitas das hipóteses e teorias da época estão hoje sendo questionadas ou descartadas. Durante décadas, a maioria dos achados arqueológicos ficaram nas mãos da Jordânia e de uma equipe de estudiosos cristãos – a maioria católicos. Por mais absurdo que fosse, apesar dos manuscritos terem sido escritos por judeus e versarem apenas sobre assuntos relativos à vida religiosa judaica, ao Templo de Jerusalém, e ao Tanach - composto de 24 livros: a Torá, os Profetas (Neviim), e das Escrituras Sagradas (Ktuvim). Nenhum judeu podia fazer parte desse grupo. Como veremos adiante, somente em 1980 os estudiosos judeus passaram a fazer parte da equipe. 34
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Santuário do Livro, Heichal ha-Sefer, Museu de Israel, Jerusalém
Hoje, a maioria dos estudiosos acreditam que os pergaminhos foram reunidos por uma seita de judeus- a seita de Qumran ou do Mar Morto – que ocupava uma área adjacente às cavernas, chamada Khirbet Qumran (Ruína de Qumran). A seita viveu na área desde 150 AEC até 68 EC, quando o local foi destruído pelos romanos, durante a Grande Revolta Judaica (66-73 EC). Ainda que na sociologia da religião o uso do termo “seita” implique uma “igreja” normativa à qual a seita possa ser comparada, o termo é usado para descrever os vários grupos que existiam entre os judeus à época do Segundo Templo. Tanto a análise paleográfica1 quanto a datação por radiocarbono-14 concluíram que os Pergaminhos do A Paleografia estuda a origem, forma e evolução da escrita.
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mar Morto foram escritos entre o século 2 AEC e o século 1 EC, durante os períodos helenístico e romano. Por outro lado, a composição dos textos varia dentro de um período extenso. Os textos bíblicos incluem os primeiros livros do Tanach; os não-bíblicos foram compostos a partir do século 3 AEC e vão até a virada da Era Comum. Isto significa que a maior parte dos textos não foram compostos pela seita, apenas copiados, e que os textos são pré-Cristianismo. De acordo com o Prof. Lawrence H. Schiffman, especialista nos Pergaminhos do Mar Morto e em Judaísmo na Antiguidade, História da Lei Judaica e Literatura Talmúdica, “o papel central da Halachá (Lei Judaica) no estudo do Judaísmo à época do Segundo Templo é crucial para a definição de uma seita. Isto porque entre as 35
Os Pergaminhos do Mar Morto estão guardados no Santuário do Livro
características que os separavam estava a sua prática da Lei. Mas, temos que ter em mente que a grande maioria das práticas haláchicas – cumprimento da lei do sacrifício, o Shabat, as leis da pureza e outras – eram comuns aos judeus do período do Segundo Templo”. O período do Segundo Templo foi marcado de diversidade e DEZEMBR0 2017
CAPA
complexidade na vida religiosa judaica, uma época em que grupos tentavam conquistar e manter a liderança política e religiosa na Terra de Israel. Os Pergaminhos se tornaram uma fonte básica sobre as crenças, a vida e os eventos históricos ocorridos nesse período. Até serem descobertos, nossas principais fontes eram a obra do historiador Flavius Josephus e o livro dos Macabeus.
o das letras que ele estudara em ossuários de Jerusalém, datados no início da Era Comum. Sukenik decidiu comprar os pergaminhos, mas pediu para ver mais amostras. Conseguiu um passe para entrar na Zona B e, depois de examinar outros fragmentos, resolveu ir a Bethlehem.
A descoberta A história que envolve os Pergaminhos do Mar Morto é legendária2 e se inicia no final do ano de 1946, início de 1947, quando jovens da tribo beduína de Ta’amireh pastoreavam suas cabras nas proximidades de Qumran. Um deles, Muhammad Ahmad elHamed, conhecido como edh-Dhib (Muhammad, o Urso), enquanto procurava uma ovelha que se desgarrara, atirou uma pedra dentro de uma caverna e ouviu o som de barro se rachando. Ao explorar a caverna, ele e os companheiros descobriram dois grandes jarros dentro dos quais viram alguns pergaminhos antigos. Em abril de 1947, os beduínos foram a Bethlehem com os pergaminhos, e contataram dois comerciantes de antiguidades: Faidi Salahi e Khalil Iskander Shahin, mais conhecido como Kando. Este último adquiriu quatro pergaminhos e Salahi, três. Em julho, Kando – membro da Igreja Ortodoxa Siríaca que iria ter um papel importante na saga dos Pergaminhos – vendeu os quatro a Athanasius Yeshue Samuel, Arcebispo Metropolitano da Igreja Ortodoxa Siríaca, conhecido como Mar Samuel (“Mar”, pronome de 2
Alguns desses eventos têm várias versões, das mais realistas às mais fantasiosas.
eliezer Sukenik com um dos pergaminhos
tratamento usado para os bispos da Igreja Ortodoxa Siríaca). Salahi, por sua vez, pediu a Levon Ohan, filho de um armênio comerciante de antiguidades da Cidade Velha, para ajudá-lo. Em novembro, Ohan contatou Eliezer Lupa Sukenik, professor de arqueologia na Universidade Hebraica e pai de Yigael Yadin, chefe das operações da Haganá, à época, que se tornaria o arqueólogo mais respeitado de Israel e grande estudioso dos Pergaminhos do Mar Morto. Sukenik relata os eventos: “Estávamos em 1947, últimos dias do Mandato Britânico. A violência corria solta. Os britânicos tinham dividido Jerusalém em zonas militares, separando as partes judaica e árabe da cidade e delimitando-as com arame farpado. Para se ir de uma zona a outra era necessário um passe militar”. Nem ele nem Ohan tinham esse passe, portanto se encontraram no portão que dava acesso à Zona B. Através do arame farpado, Ohan mostrou um fragmento de um dos pergaminhos e Sukenik percebeu que o formato das letras hebraicas se parecia com 36
Tratava-se de uma viagem perigosa. O clima era de extrema tensão porque as Nações Unidas estavam para votar a partilha da Palestina. Sua esposa foi totalmente contrária à sua ida. Seu filho mais velho, Yigael Yadin, também pediu ao pai que não fosse a Bethlehem, pois a Haganá recebera informações de que haveria atos de violência contra os judeus. Mas Sukenik estava determinado a comprá-los em nome da Universidade Hebraica. Em 29 de novembro, enquanto a ONU votava o futuro de Israel, ele, junto com Ohan, tomou um ônibus para Bethlehem. Ele era o único judeu. Em seu diário, Sukenik conta o momento em que Salahi trouxe os dois jarros contendo os manuscritos: “Minhas mãos tremiam quando comecei a desembrulhar um deles. Li algumas frases. Estavam escritas em um lindo hebraico bíblico. O linguajar era igual ao dos Salmos, mas o texto me era desconhecido.... De repente, me senti muito privilegiado que o destino me estivesse fazendo contemplar um pergaminho hebraico que não fora lido por mais de 2.000 anos...”. Sukenik disse a Salahi que “provavelmente” iria comprar os pergaminhos todos, mas levaria dois consigo para examinar. No caminho de volta a Jerusalém, ele estava de posse do “Pergaminho dos Salmos de Ação de Graças” - Hodayot, em hebraico, e do “Pergaminho da Guerra dos
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Filhos da Luz contra os Filhos da Escuridão”, ou “Pergaminho da Guerra” – em hebraico, Milchamá. Uma semana mais tarde, ele adquiriu o terceiro, um manuscrito do Livro de Isaías, conhecido como “Isaiahb”. Horas após seu retorno, Sukenik estava em seu escritório quando seu filho menor, Mati, entra correndo para lhe contar que as Nações Unidas tinham aprovado a Resolução da Partilha. Yigael Yadin, relembra: “Não pude evitar a sensação de que havia algo de simbólico na descoberta dos pergaminhos e em sua aquisição, no momento exato da criação do Estado de Israel. Parecia que os manuscritos ficaram esperando em cavernas, por 2.000 anos, desde o fim da independência de Israel até que Am Israel retornasse a seu Lar ancestral e recuperasse sua liberdade. O simbolismo fica ainda mais forte pelo fato de que os três primeiros pergaminhos foram comprados por meu pai, em nome de Israel, no dia 29 de novembro de 1947, dia exato em que a ONU votou pela recriação de um Estado judeu na Terra de Israel, após 2.000 anos...”. Hoje, Instituto W.F. Albright de Pesquisa Arqueológica.
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O Papiro Nash, fragmento mais antigo do Tanach conhecido até então, contém o texto dos Dez Mandamentos e do Shemá Israel.
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Em janeiro de 1948, Sukenik recebe uma ligação de Anton Kiraz, da Comunidade Ortodoxa Siríaca, colocando à sua disposição os quatro pergaminhos que estavam em posse de Mar Samuel. Quando Kiraz os mostrou a Sukenik, este percebeu, de imediato, que pertenciam ao mesmo conjunto que os que adquirira. Ofereceu £2.000 libras esterlinas por eles, mas como Israel estava às vésperas da Guerra de Independência, ele não conseguiu o dinheiro. Sukenik nunca mais os viu. Em seu diário, ele conta: “O Povo Judeu perdeu uma herança preciosa”. Mas ele estava enganado, pois, anos mais tarde, seu filho Yigael os adquiriria para o Estado de Israel. Frustrada a venda, Mar Samuel decide mostrá-los à Escola Americana de Pesquisa sobre o Oriente, em Jerusalém3, então sob a direção de Millar Burrows. O assistente de Mar Samuel, Butros Sowmy, contata o diretor em exercício, John Trever. Arqueólogo e estudioso bíblico, este último lhe pede que leve os pergaminhos à Escola. No dia seguinte, quando Sowmy surge com os quatro manuscritos, Trever fica boquiaberto. A escrita era semelhante à do Papiro Nash, datado de cerca de 150 AEC 4. Ele fotografa os pergaminhos, o Livro de Isaías (Isaiaha), o “Manual da Disciplina”, um comentário 37
sobre o “Livro de Habakuk” (Pesher Habakuk, em hebraico) e o “Livro Apócrifo de Gênesis”. Este último estava tão enrolado e frágil que não pôde ser desenrolado. Trever envia fotos a William Foxwell Albright, renomado arqueólogo bíblico e especialista em epigrafia semita da época, que lhe responde em 15 de maio de 1948, justo o dia em que Israel declarava sua independência: “Minhas congratulações …pela maior descoberta em manuscritos dos tempos modernos! … a escrita é mais arcaica do que a do Papiro Nash... Eu diria que data por volta do ano 100 AEC ”. Em janeiro do ano seguinte, Mar Samuel contrabandeia os quatro pergaminhos para fora do Oriente Médio, instalando-se em New Jersey, nos EUA. Uma vez lá, ele recomeça as buscas por um comprador. Nove meses depois, os pergaminhos foram expostos na Biblioteca do Congresso. Despertaram enorme interesse, mas nenhuma instituição se apresentou com uma proposta de compra.
Após a descoberta inicial... Nesse ínterim, a notícia da descoberta se tinha espalhado pelo mundo arqueológico. Na tentativa de localizar a caverna onde os pergaminhos iniciais haviam sido encontrados, o diretor do DEZEMBR0 2017
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Departamento de Antiguidades da Jordânia, o arqueólogo inglês G. Lankester Harding, conseguiu que a Legião Árabe vasculhasse a área onde foram supostamente encontrados. Em 28 de janeiro de 1949, foi descoberta a Caverna 1. Ele próprio encarregou-se da exploração da mesma, junto com o diretor da Escola Bíblica de Jerusalém Oriental, o padre Roland de Vaux. Este padre dominicano francês lideraria a equipe que iria trabalhar nos Pergaminhos. Organizou-se uma grande expedição arqueológica para escavar a área ao longo da costa noroeste do Mar Morto. À época, a região estava sob domínio jordaniano e nenhum israelense ou judeu podia participar da expedição. Decidiram escavar também as ruínas de Khirbet Qumran (também chamada de Khirbet Yahud) que ficavam a menos de 2 km ao sul da Caverna 1, em uma formação mais baixa de
arenito, entre as encostas de calcário e a costa do Mar Morto. Os membros da tribo de Ta’amireh também estavam atrás de novos achados. Ainda em 1950, o diretor Harding e o padre de Vaux sabiam que seria problemático se os fragmentos encontrados pelos beduínos fossem vendidos para vários compradores. Seria impossível reuni-los de acordo com o manuscrito ao qual pertenciam ou reconstituir qualquer um deles. Assim sendo, procuraram Kando e compraram dele os fragmentos que haviam sidos posteriormente removidos da Caverna 1 e que ainda estavam com ele. Nesse meio tempo, Kando se associara ao xeque dos Ta’amireh, passando a ter um quase monopólio dos achados. Nos anos seguintes, arqueólogos e beduínos encontram em dez, das centenas de cavernas examinadas, um verdadeiro tesouro arqueológico.
parque nacional de Qumran
Algumas eram riquíssimas em manuscritos e fragmentos. Na Caverna 3, por exemplo, foram descobertos fragmentos do “Livro de Ezequiel” e dos Salmos, textos apócrifos e dois rolos oxidados em cobre martelado (Pergaminho de Cobre), que constituiu o mais envolto em mistério dentre todos os achados arqueológicos do Mar Morto. Em 1952, enquanto os arqueólogos escavavam em Qumran durante o dia, os beduínos o faziam à noite, e foram eles que descobriram a Caverna 4. Com uma entrada a uns 100 metros de onde os arqueólogos estavam escavando, a caverna continha 15 mil fragmentos de cerca de 500 pergaminhos diferentes. Tendo os beduínos removido a maior parte, mais uma vez Kando foi o caminho para que os arqueólogos os adquirissem. O material encontrado na Caverna 11, descoberto em 1956, foi extremamente rico. Mas, continua sendo um mistério o número de pergaminhos descobertos pelos beduínos. Entre os achados estava um manuscrito do “Livro Levítico”, da Torá, usado antes do exílio da Babilônia, e um dos Salmos, contendo salmos adicionais. Harding, à época diretor do Departamento de Antiguidades e curador do Museu Arqueológico da Palestina (PAM), localizado em Jerusalém, tomou uma decisão crucial. Encaminhou os pergaminhos ao PAM ao invés de consigná-los ao Museu Nacional da Jordânia, em Amã. Como veremos adiante, não fosse pela decisão de Harding, os preciosos achados poderiam estar, hoje, em Amã, e não em Israel. Com a chegada, na década de 1950, de milhares de fragmentos ao Museu
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Kochba de 132-135, combatentes judeus se estabelecem em Qumran. Depois disso, o local foi abandonado. Acredita-se que grande parte dos manuscritos encontrados tenham sido escondidos nas cavernas durante a guerra contra Roma.
Arqueológico da Palestina, reuniu-se uma equipe de estudiosos bíblicos para tratar da enorme quantidade de material. Segundo um relato recente: “Harding e de Vaux queriam uma equipe que representasse, de fato, os países e credos atuantes na pesquisa bíblica, com uma ressalva – não incluiriam nenhum judeu ou israelense. Tem-se falado que o padre de Vaux era antissemita. Certo é que, a exemplo de Burrows, Trever e muitos outros pesquisadores, ele era veementemente contrário à criação do Estado de Israel”.
Khirbet Qumran (a Ruína de Qumran) Uma equipe de arqueólogos encabeçada por Harding e de Vaux iniciou as escavações em Khirbet Qumran, em 1949, em busca de mais pergaminhos e, principalmente, respostas. Haveria uma relação entre o local e os pergaminhos? Teriam seus habitantes os escondido nas cavernas próximas? Desencavaram várias estruturas de grande porte que acreditavam ser o centro de uma seita pequena judia, muito religiosa. Seguindose às escavações iniciais, de Vaux sugeriu que o local poderia ter sido fundado pelos essênios, uma das diferentes seitas de judeus da época. Atualmente, a teoria dos essênios é amplamente discutida e rejeitada por muitos estudiosos. Todos, porém, concordam que no século 2 AEC , durante a época dos Macabeus, Qumran foi ocupado por um grupo judeu que tinha sido expulso ou se afastado do culto no Templo de Jerusalém. Um dos manuscritos encontrados, a “Carta Haláchica”, lista assuntos sobre os quais os sectários não concordavam com a maneira em que o culto no Templo era praticado. O texto data de 150
Os Pergaminhos do Mar Morto em mãos de Israel
AEC e representa um documento formativo da seita, logo após a Revolta dos Macabeus. A seita chegou a seu ponto alto entre o final do Séc.1 AEC e o Séc.1 desta Era. Foi nesse período que a maioria dos pergaminhos foram escritos. Um terremoto destruiu o local, provavelmente em torno de 31 AEC . Reconstruído alguns anos depois, foi arrasado por tropas romanas à época da Primeira Revolta Judaica (66-73 EC), antes do sítio a Jerusalém. Os romanos ocupam o local durante 20 anos. Durante a Revolta de Bar
Anúncio no The Wall Street Journal colocando quatro pergaminhos à venda.
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Foram necessários mais de 20 anos, mais precisamente até a Guerra dos Seis Dias, para que todo o precioso material arqueológico estivesse em mãos israelenses. Os quatro pergaminhos da descoberta inicial que ainda estavam nas mãos de Mar Samuel, voltaram para Israel em 1954. Em 1o de junho daquele ano, desesperado, ele publica um anúncio no The Wall Street Journal colocando-os à venda. Na época, Yigael Yadin estava nos EUA dando palestras e a Embaixada de Israel o coloca a par do anúncio. Determinado a comprar os pergaminhos para seu país, ele sabia que tinha que agir com cautela, mantendo seu nome e o de Israel por fora temendo que Mar Samuel não consentisse em vendê-los. Yadin entra em contato com seu amigo, o Dr. Harry Orlinsky, estudioso e tradutor de textos bíblicos, e lhe pede que vá a Nova York. Explica que devia assumir o nome de “Mr. Green” e fazer-se passar por um perito enviado por um possível comprador para autenticar os pergaminhos; e ir ao Chemical Bank and Trust Co, assegurando-se de não estar sendo seguido. Orlinsky encontra-se no cofre do Banco com o representante de Mar Samuel. Este retira de um cofre preto os quatro manuscritos. Após autenticá-los, Orlinsky vai a DEZEMBR0 2017
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um telefone público, liga para um número e diz as palavras-código: Lechaim, Viva! A missão tinha sido um sucesso. O preço acordado pelos quatro pergaminhos foi de US$ 250.000 – uma barganha mesmo para a época. Os pergaminhos são despachados, separadamente, para Israel. Lá, foram reunidos aos outros três rolos que, sete anos antes, o pai de Yadin comprara. Em fevereiro de 1955, o Primeiro Ministro de Israel à época, Moshe Sharett, convoca uma coletiva de imprensa para anunciar que todos os sete pergaminhos estavam, finalmente em Israel. No início da década de 1960, construiu-se em Jerusalém o Santuário do Livro, Heichal ha-Sefer, para abrigar os sete tesouros encontrados na Caverna 1. Mais 12 anos se passaram até que todos os achados estivessem, por fim, em mãos de Israel. Durante a Guerra de Seis Dias, de 1967, os jordanianos não os transferiram para um local “mais seguro”, como acontecera em 1956, antecipando um possível avanço de Israel. Eles foram simplesmente levados ao subterrâneo do Museu. No terceiro dia da Guerra, Israel capturou Jerusalém Oriental e arqueólogos israelenses entraram no museu em busca dos Pergaminhos. Yadin, à época assessor militar do Primeiro Ministro Levi Eshkol, sabia que o “Pergaminho do Templo” estava sendo escondido por um comerciante de antiguidades. Descoberto na Caverna 11 em 1956, até o início dos anos 1960 ninguém no Ocidente sabia de sua existência. Um pastor americano, preposto de um negociante de antiguidades – que, mais tarde se soube ser Kando – escreveu a Yadin oferecendo um
pergaminho completo por US$ 100.000. Era o Pergaminho do Templo. O intermediário concordou em enviar um fragmento a Yadin, que, após examiná-lo, garantiu ser autêntico. O texto, em hebraico, que recebera tratava do papel do Sumo Sacerdote. Iniciam-se as negociações, mas o vendedor continuava a subir o preço, e em maio de 1962, cessou toda a comunicação entre as partes. Em 7 de junho, Yadin enviou um coronel do Exército de Israel a Bethlehem, já em mãos israelenses, para confrontar Kando. As suspeitas de Yadin estavam corretas. Ao ser confrontado, Kando removeu alguns ladrilhos do chão de sua casa e de lá tirou uma caixa de sapatos onde tinha colocado o “Pergaminho do Templo”, enrolado em celofane e toalha e embrulhado com papel. As autoridades israelenses o confiscam, pagando a Kando US$ 105.000. Finalmente, o “Pergaminho do Templo” estava a salvo e foi exposto junto dos primeiros sete rolos, no Santuário do Livro, no
Museu de Israel. Todos os demais manuscritos e fragmentos de textos estão preservados no Museu Rockefeller, em Jerusalém, onde fica o Departamento de Antiguidades de Israel.
A batalha para publicá-los Os textos dos sete pergaminhos da descoberta inicial foram publicados por estudiosos israelenses e americanos já na década de 1950 e disponibilizado a outros pesquisadores. No entanto, o tesouro arqueológico que estava nas mãos do time de estudiosos reunidos pelo padre de Vaux publicara uma parte bem reduzida do material, e não permitia que outros pesquisassem o material. Estudiosos acreditavam que após Israel ter assumido o controle, os pergaminhos seriam disponibilizados rapidamente. Mas tudo ficou na mesma. Mesmo sob os auspícios israelenses e apesar da insistência de Yadin, os avanços para sua publicação continuavam emperrados. O problema era que Israel queria ser visto como “um conquistador de boa paz”. Avraham Biran, diretor do Departamento de Antiguidades, e Yigael Yadin trabalharam em busca de um relacionamento amigável entre Israel e a equipe de publicação, apesar de saber que o sentimento prevalecente na Escola Bíblica era de ressentimento contra Israel – ao ponto de os pesquisadores, todos antissionistas, recusarem-se a pisar em Jerusalém após 1967.
Yigael Yadin estudando um dos Pergaminhos do Mar Morto
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Mas Israel não queria ser acusado de apropriação intelectual e, de início, manteve o status quo, deixando a responsabilidade pela publicação em mãos da equipe original e aceitando a exclusão dos pesquisadores judeus
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e israelenses. Quando de Vaux procura Biran, este lhe comunica que Israel honraria os direitos de publicação de sua equipe – ou seja, os direitos exclusivos de publicar os pergaminhos sem permitir que outros estudiosos tivessem acesso aos mesmos nesse ínterim. Mas o “monopólio” e a demora na publicação desperta conflitos e controvérsias crescentes. Em 1980, Emanuel Tov e Elisha Qimron são os primeiros israelenses a trabalhar nos pergaminhos. John Strugnell, chefe da equipe internacional de 1986-1990, aumenta ainda mais o número de participantes e inclui alguns judeus. Em 1990, depois de uma entrevista onde ele se auto descreve como “antijudaísta”, dizendo entre outros : “... Judaísmo – uma religião horrível”, ele é destituído e Emanuel Tov, professor da Universidade Hebraica, assume como editor-chefe do projeto de publicação dos manuscritos. O Prof. Tov aumentou o número de pesquisadores e ficou na direção até o término dos trabalhos. Em 2008, Tov presenciou o término real da série oficial de 40 volumes, e sua publicação.
Em dezembro de 2012, mediante colaboração com a Google, o Departamento de Antiguidades de Israel disponibilizou on-line os Pergaminhos, constituindo a “Biblioteca Digital Leon Levy de Pergaminhos do Mar Morto”. Essa biblioteca digital pode ser acessada gratuitamente.
Importância dos Pergaminhos Atualmente há um consenso entre os estudiosos acerca da necessidade de um grande foco no contexto judaico dos Pergaminhos do Mar Morto. Entendem, ainda, que essa abordagem também permite que esses documentos tenham um papel ainda maior em facilitar o entendimento sobre os primórdios do Cristianismo. A descoberta dos Pergaminhos nos ofereceu a oportunidade de aprender muito não apenas sobre a seita de Qumran, mas também sobre outras seitas do período do Segundo Templo. Somente compreendendo a complexa dialética entre acordo e desacordo podemos traçar corretamente o panorama religioso da antiga Terra de Israel. 41
Uma das várias conclusões do trabalho é que mesmo no contexto das inúmeras disputas entre os diferentes grupos judaicos à época, certos pontos básicos em comum caracterizam o Judaísmo. A centralidade do estudo da Torá era comum a todas as seitas e, apesar das disputas entre fariseus, saduceus e a seita de Qumran, é importante esclarecer que a observância da lei dos sacrifícios, do Shabat, de pureza e de outras práticas haláchicas eram comuns aos judeus do período do Segundo Templo. Ademais, os Pergaminhos revelam a existência de um grande grau de continuidade entre o Judaísmo antes e após a destruição do Segundo Templo.
Bibliografia
Lawrence H. Schiffman, Qumran and Jerusalem: Studies in the Dead Sea Scrolls and the History of Judaism. Edição do Kindle. Shanks, Hershel, The Mystery and Meaning of the Dead Sea Scrolls. Edição do Kindle. Leonard, Cheryl, The Dead Sea Scrolls: Ancient Secrets Unveiled. Edição do Kindle. DEZEMBR0 2017
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Exposição de arte confiscada pelo 3º Reich
O conteúdo e propósitos de ambas as exposições foram cuidadosamente coordenados.
Soldado americano guarda, logo após a guerra, o chamado. Collecting Point, depósito de arte roubada pelos nazistas
O
Museu de Belas Artes, em Berna, e o Centro de Artes e Exposições da República Federal da Alemanha, em Bonn, estão apresentando, simultaneamente, obras de arte da Coleção Cornelius Gurlitt. Cerca de 1.500 trabalhos foram descobertos, há cinco anos, durante uma investigação oficial sobre uma questão tributária. As peças de arte estavam escondidas nas várias residências do colecionador alemão, Cornelius Gurlitt, cujo pai, Hildebrand Gurlitt, foi um dos principais marchands do
3º Reich. Mais de 1.200 obras foram escondidas em seu apartamento em Munique e outras 250 ou mais em Salzburgo, na Áustria.
Hildebrand Gurlitt
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A de Berna focaliza os trabalhos de “Arte degenerada” confiscados pelos nazistas de museus alemães durante o período. O Centro de Bonn, por sua vez, expõe as obras saqueadas pelos nazistas durante sua campanha de perseguição, além de peças cuja procedência ainda não foi esclarecida. As duas mostras estarão em exibição a partir deste novembro de 2017 até março de 2018. E, nos meses seguintes, a exposição agora em Bonn será exibida no Museu de Belas Artes de Berna. Este museu porá em exibição 200 trabalhos considerados “Arte degenerada” pelos nazistas em virtude de serem trabalhos “nãogermânicos, feitos por judeus ou por comunistas” – ou eram obras impressionistas ou mais modernistas, não apresentando, portanto, o realismo tradicional. Os trabalhos foram confiscados em uma investida nazista, em fins da década de 1930, contra o que eles chamaram de “Arte degenerada”, sendo mais tarde vendidas para financiar a máquina de guerra nazista. Já a exposição do Centro de Artes e Exposições de Bonn, concentrase em arte saqueada e roubada – a maioria de colecionadores judeus – pelos nazistas. Entre elas incluem-
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3 1. “No Jardim do Palácio de Oberhofen”, August Macke, 1914. Em exposição em Berna 2. “Leonie”, 1923, Otto Dix 3. “Dois ciclistas na praia”, Max Liebermann, 1901. Considerado “arte saqueada” 4. “Casal”, Hans Christoph, 1924. Em exposição em Bonn 5. “Mulher de cócoras”, Auguste Rodin, 1882 4
se trabalhos dos grandes mestres como Claude Monet e Albrecht Durer, e estavam escondidas do olhar público há décadas. Os peritos identificaram, a princípio, mais de 90 obras provavelmente roubadas, com trabalhos de Toulouse-Lautrec, Henri Matisse, Edvard Munch e Rembrandt. Destas, apenas quatro, inclusive uma de Camille Pisarro – foram devolvidas a seus legítimos herdeiros. Estas haviam sido legadas por um testamento
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Museu de Belas Artes, Kunstmuseum. Berna
ao Museu de Belas Artes, mas uma fundação subvencionada pelo governo alemão empenhou-
se para assegurar que todas as obras saqueadas de judeus fossem devolvidas a seus herdeiros. As duas exibições foram involucradas em um contexto histórico e se baseiam nas últimas descobertas da pesquisa sobre o tesouro artístico de Gurlitt. Será a primeira vez em que o público em geral terá a oportunidade de apreciar essa coleção muito expressiva e abrangente.
Página do Facebook estimula troca de receitas Casher
A
página do Facebook “Eu não cozinho, mas dou receitas”, criada pelas irmãs Goldie Adler Nathan e Esty Adler Wolbe, moradoras do Brooklyn (Nova York) em 2007, está fazendo sucesso na comunidade judaica americana e da diáspora. Afinal, usufruir de um jantar formal com
restrições alimentares religiosas é um desafio para qualquer cozinheiro ou dona-de- casa. Além do mais, os jantares de Shabat em família são geralmente considerados o ponto alto da semana. A página do Facebook tornou-se um fórum para troca de receitas, com o fluxo de informações sobre tudo o que 47
envolve a culinária judaica. Desde a sua criação, há 10 anos, tornou-se algo mais do que um espaço para troca de receitas. Com cerca de 30 mil membros, a página transformou-se em uma comunidade de mulheres, principalmente ortodoxas, que discutem os mais variados temas. DEZEMBRO 2017
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Após 100 anos de tratativas com o governo russo, a Coleção Judaica Günzburg será disponibilizada on-line
A
Coleção Günzburg, uma das coleções de Judaica uma das mais importantes do mundo judaico, guardada na Biblioteca Estatal Russa, em Moscou, será digitalizada e disponibilizada ao público pela Biblioteca Nacional de Israel, em Jerusalém. Para tanto, em 7 de novembro de 2017 foi assinado um histórico documento entre as duas importantes instituições. Trata-se de um marco significativo nas tratativas entre ambas, iniciadas exatamente há 100 anos, quando a Biblioteca Nacional de Israel ainda era chamada de Beit Hasfarim Haleumi. A Coleção Günzburg contém mais de 14.000 itens, entre os quais milhares de livros raros em hebraico, bem como manuscritos nesse idioma e em muitos outros. Nas palavras do Dr. Aviad Stollman, da Biblioteca de Jerusalém, a coleção é um tesouro nacional para o Povo Judeu. Constam da Coleção obras medievais sobre Ciências, Filosofia e Estudos Judaicos, Midrashim, cópias de trabalhos de Maimônides e do Rashba (Rabi Shlomo ibn Aderet), comentários bíblicos, livros de gramática hebraica e Halachá (Lei religiosa judaica), poesia medieval, Cabalá e textos médicos.
autoridades russas assinaram um contrato de compra do acervo, com a transferência de 500.000 rublos de ouro o governo imperial russo, conseguidos mediante doações de sionistas russos. Essa soma equivale, hoje, a cerca de US$ 15 milhões, de acordo com o valor atual do ouro. O acervo já estava encaixotado, pronto para ser despachado à então Palestina, mas a 1a Guerra Mundial interrompeu os planos. Com a Revolução Bolchevista, os livros foram confiscados, nacionalizados e transferidos à Biblioteca Estatal Lenin, em Moscou. Albert Einstein, Chaim Weizmann e inúmeras outras personalidades do mundo judaico tentaram, em vão, no decorrer dos anos persuadir os russos a devolver a coleção. Em anos recentes, Israel tem abordado o assunto durante encontros oficiais com autoridades russas, com o envolvimento do Ministério das Relações Exteriores de Israel, do próprio Bibi Netanyahu e do então Presidente Dmitry Medvedev, da Rússia. Israel enviou
à Rússia documentos comprovando a posse da coleção, esperando que as relações entre os dois países, que estão em fase de reaquecimento, possam dar um fim ao impasse. Netanyahu falou várias vezes com o Presidente Vladimir Putin sobre o caso, mas chegou à conclusão que por ora não há possibilidade de receber a coleção. Recentemente, o Premier Bibi Netanyahu revelou que apesar de Israel não abrir mão da demanda pela recuperação de posse do acervo, desejava, primeiro, cooperar em sua digitalização como forma de permitir aos estudiosos o acesso ao importante material. Assim sendo, orientou a Biblioteca Nacional a acelerar o projeto de digitalização. O diretor da Biblioteca Estatal Russa, por sua vez, afirmou que “A moderna tecnologia da informação abriu e possibilidades novas e ilimitadas para o acesso aos valores culturais dos países e seus povos”. O projeto de digitalização foi financiado pela Fundação Peri, presidida por Ziyavudin Magomedov, bilionário muçulmano russo, do Daguestão, muito atuante na preservação da cultura. Há algum tempo, ele contribuiu para um projeto de preservação da mesquita de Kala Koreysh, em seu país.
O acervo foi reunido por três gerações de uma aristocrática família judaica russa, a partir de meados do séc. 19. Em 1917, o Beit Hasfarim Haleumi e as 48
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França restitui quadro de Pissarro confiscado pelos nazistas a descendentes de colecionador Em 1943, após a Alemanha ocupar a França, os nazistas confiscaram o acervo do colecionador de arte judeu, Simon Bauer. Entre os 93 quadros da coleção Bauer, estava “A Colheita”, também chamada de “A Colheita de Ervilhas”. Pintado em 1887 pelo impressionista francês Camille Pissarro, o quadro retrata várias mulheres colhendo ervilhas no campo. A coleção de Bauer foi vendida pelas autoridades nazistas a um comerciante de arte designado pelo Comissário de Assuntos Judaicos do regime colaboracionista de Vichy. Simon Bauer um prospero empresário no setor de calçados foi levado em julho de 1944 ao campo francês de Drancy, mas conseguiu escapar da deportação graças a uma greve de ferroviários. Antes de morrer, em 1947, recuperou uma
Paris, emprestadada por um casal americano, no marco da retrospectiva do pintor Pissarro. O casal comprara legalmente o quadro por 800 mil dólares num leilão em 1995, em Nova York. Os descendentes de Simon Bauer conseguiram que a obra não fosse exposta enquanto a justiça decidia seu destino. pequena parte de suas obras. Seus descendentes continuaram a ação, atualmente cerca de 20 quadros ainda não foram recuperados. “A Colheita” ficou desaparecida durante décadas, reaparecendo brevemente em 1965 durante uma venda, mas foi logo retirada do território francês, e desapareceu. No começo deste ano de 2017, a família Bauer soube que a pintura estava exposta no Museu Marmottan, de
Durante o julgamento o advogado do casal americano defendeu que seus clientes não sabiam da procedência e não deveriam pagar pelos crimes de Vichy. O tribunal reconheceu a boafé do casal que, durante uma emotiva audiência em outubro, explicou também serem judeus e sensíveis à memória do Holocausto. A Justiça Francesa determinou que o quadro fosse entregue aos descendentes da família Bauer, baseando a decisão num decreto de abril de 1945 sobre a anulação dos atos de espoliação.
Economia de Israel – uma das mais fortes do mundo
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shekel israelense desponta atualmente como a segunda moeda mais forte no mundo, segundo relatório do Deutsche Bank, conglomerado alemão bancário e de serviços financeiros. O mesmo documento coloca o yuan, moeda chinesa, como a mais forte do mundo. Segundo seu analista estratégico para moedas estrangeiras, nos últimos 12 meses o shekel teve uma valorização de 6,1 % face às moedas dos principais parceiros comerciais de Israel, como o dólar americano, a libra inglesa, o euro e o iene. A inflação quase inexistente e o baixo desemprego ajudaram Israel
a saltar, em abril, para o 3o lugar em uma lista das economias mais estáveis e promissoras no ano passado, segundo a agência Bloomberg. A economia israelense continua a ter bom desempenho, de acordo com os padrões internacionais. Em janeiro, Israel entrou para as 10 melhores na versão 2017 do Índice de Inovação Bloomberg (Bloomberg Innovation Index), que classifica o nível de inovação na economia de um país
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pontuando seu dispêndio anual em P&D e o número de empresas de tecnologia de capital aberto.
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PERSONALIDADE
Simone Veil, um ícone mundial A França ficou de luto em junho deste ano de 2017 ao tomar conhecimento do falecimento de Simone Veil. Judia, sobrevivente do Holocausto, ela ocupou vários postos governamentais, tornando-se um ícone na luta contra a discriminação das mulheres. Empenhada em todas as causas em que acreditava, conquistou os franceses, e sua popularidade ia muito além dos limites da política
A
vida de Simone Veil foi turbulenta. Vivenciou épocas de terror e de luto, assim como de amor e de vitórias, sempre demostrando uma dignidade e uma seriedade que incutiam o respeito e admiração de todos em sua volta. Uma pesquisa realizada em 2010 a indicou como a preferida entre as mulheres da França.
de sobreviventes do Holocausto e conquistou o respeito internacional por sua atuação para a preservação das memórias das vítimas de Hitler.
Dona de uma força de vontade ímpar aliada a um talento intelectual singular, a força de Simone Veil residia em sua capacidade de adaptação e luta diante dos desafios. Suas tendências políticas dependiam da causa em que estava envolvida. Convidada para o programa L’Heure de Vérité (A Hora da Verdade) para revelar suas tendências políticas, ela se declara “à esquerda em certos assuntos, à direita em outros”. Ao ser eleita para a Academia Francesa, o escritor Jean d’Ormesson, escolhido para dar as boas-vindas, disse: “Contra todas as probabilidades, sem jamais alterar a voz, você conseguiu convencer a todos. Podemos dizer sem presunção, no coração da vida política, você ofereceu uma imagem moral e republicana”.
Sua vida
Apesar de não praticante, Simone jamais negou seu judaísmo. Participou ativamente de várias organizações
Após o nascimento de seus dois primeiros filhos, Madeleine e Denise, o casal trocou Paris por Nice.
Em uma das primeiras reações à sua morte, o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou esperar que Simon Veil “possa inspirar, com seu exemplo, os franceses a encontrar o melhor da França”.
A família Jacob tem suas origens em Bionville-surNied, na região da Lorraine. Seu pai, André Jacob, era arquiteto de renome, tendo obtido, em 1919, o segundo grande prêmio de Roma. Ele se casou, em 1922, com Yvonne Steinmetz, filha de um peleteiro também judeu. Após o casamento, Yvonne abandona seus estudos na universidade por exigência do marido. Em sua autobiografia, Simone escreveu que apesar de sua “família ser laica”, “o fato de pertencer à comunidade judaica jamais foi um problema para mim. Essa condição era altamente reivindicada por meu pai”.
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3 1. a jovem Simone Veil 2. em casa com seu cachorro, Paris, 1974 3. Simone Veil, em seu escritório
Nessa cidade, na Riviera Francesa, nasceram seu filho Jacob e, no dia 13 de julho de 1927, Simone. Com a crise de 1929, os projetos arquitetônicos do pai diminuem drasticamente e a família se muda para um apartamento menor. Sua mãe, Yvonne, começa a fazer roupas de tricô para famílias necessitadas.
O país é, então, dividido – o norte e a costa do Atlântico, inclusive Paris, ficam sob ocupação nazista, enquanto o sul e o sudeste, a chamada Zona Livre, passam a ter um governo leal à Alemanha, o Regime de Vichy, do marechal
A Shoá
Simone tinha 10 anos no dia 3 setembro de 1939, quando a França e Grã-Bretanha declararam guerra à Alemanha nazista que havia invadido a Polônia dois dias antes. Exércitos alemães invadiram a França em maio de 1940 e, no dia 14 de junho, tomam Paris. A Itália de Mussolini, que, no dia 10 de junho, entrara na Guerra ao lado do Terceiro Reich, invade o território francês. A França se rendeu oficialmente no dia 22 de junho, e assina um armistício com Alemanha e Itália.
Pétain. E uma área do sudeste fica nas mãos da Itália fascista. Milhares de judeus refugiam-se na Zona Livre, inclusive Nice, onde viviam Simone e sua família. Em 11 de novembro de 1942, alemães e italianos invadem o território francês, quebrando o Armistício, e Nice fica sob domínio italiano até 1943.
Yvonne Jacob, bela e melancólica, Simone dizia: “Ela foi o personagem mais importante da minha vida”.
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Os judeus franceses acreditavam estar seguros e que não seriam perseguidos, mas estavam enganados. Os anos seguintes foram de muito sofrimento. A França de Vichy voluntariamente promulga, em 4 outubro de 1940, as primeiras leis contra os judeus. O ‘Statut des Juifs”, que se baseava nas “diretrizes“ nazistas já postas em prática na zona de ocupação alemã, impunha segregação racial e a obrigatoriedade de que os judeus se identificassem DEZEMBRO 2017
PERSONALIDADE
Simone Veil, aos 21 anos, já com dois filhos, nicolas e jean, o mais velho. na foto, com o marido
No dia 7 de abril de 1944, Simone, sua mãe e sua irmã Madeleine, foram enviadas para o campo de Drancy no comboio número 71, no qual estavam, também, Anne-Lise Stern e Marceline Rosenberg, que viriam a se tornar suas melhores amigas. De Drancy foram despachadas em trens de gado para Auschwitz-Birkenau, onde chegaram no dia 15 do mesmo mês. Seu pai e seu irmão Jean foram deportados para a Lituânia no comboio 73 e ela jamais os reviu.
como tal junto às autoridades. Eles foram excluídos da vida pública e militar, da indústria e comércio, das profissões liberais e das artes. André Jacob foi um dos milhares de judeus que obedeceram a determinação de se registrar como judeu e perdeu o direito de exercer sua profissão. Sua esposa, Yvonne, passava o dia em busca de algum trabalho para alimentar a família. Os Jacobs passam a enfrentar a segregação cada vez maior decorrente das leis anti-judaicas. Em novembro de 1942, Nice, como vimos acima, fica sob ocupação italiana. Apesar de aliada de Hitler, a Itália de Mussolini se recusava a entregar judeus aos nazistas, a despeito de repetidas exigências. Apesar do antissemitismo, a vida dos judeus melhorara. Simone e seus irmãos frequentavam a escola e participavam ativamente nas atividades do Escoteiros e das Bandeirantes. A situação em Nice, e em toda Riviera Francesa, mudaria em setembro de 1943, quando após a assinatura do armistício 1 Fim dos exames secundários, hoje, Ensino Médio, pré-universitário.
Jacquiers numa tentativa de escapar às garras nazistas. No dia 30 desse mês, quando estava com amigos no centro da cidade comemorando o término dos exames de baccalauréat1, foi detida por dois alemães em trajes civis. Foi levada ao Hotel Excelsior, quartel-geral nazista e local de concentração dos judeus que seriam deportados. O restante da sua família, que, até então, vivia escondida na casa de amigos não judeus, é também preso pela Gestapo.
Simone Veil no Parlamento defendendo a “Lei Veil”, que descriminalizou a interrupção voluntária da gravidez,1974
entre a Itália e os Aliados, as tropas italianas são forçadas a se retirar. Os alemães, sob o comando de Alois Brunner, ocupam a Côte d’Azur. Para os judeus, o perigo rondava cada esquina, pois para os nazistas, tornara-se uma questão de honra pôr um fim na vida judaica na Riviera. Em março de 1944, então com 16 anos, Simone vivia com sua professora de letras, Madame de Villeroy. Usava o sobrenome 52
Assim que chegou em Auschwitz, um prisioneiro que falava francês a alertou que ao ser interrogada pelos nazistas devia dizer que tinha mais de 18 anos, quem sabe assim ela conseguiria sobreviver à “seleção”. Ela se torna o prisioneiro número 78651, tatuado em seu braço, e teria que “descarregar as pedras enormes que chegavam diariamente em caminhões e, com elas, aplainar o solo”. Poucos sobreviviam muito tempo a essa tarefa. Uma prostituta que se tornara Kapo lhe salva a vida ao decidir transferi-la para um anexo de Auschwitz. Disse-lhe que ela era “muito bonita para morrer”. Simone disse que iria se mudar, na condição de que sua mãe e irmã Madaleine pudessem acompanhá-la, o que
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de fato aconteceu. Em julho de 1944, Simone com a mãe e a irmã Madeleine foram transferidas para Bobrek, perto de Birkenau. Nesse ínterim, sua irmã Denise, então com 19 anos, que fazia parte de um grupo da Resistência em Lyon, foi presa e, em 1944, deportada para Ravensbruck. Ela conseguiu sobreviver. Em janeiro de 1945, pouco antes da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas, ocorrida no dia 27, os nazistas evacuaram o campo e enviaram os prisioneiros a Bergen-Belsen, numa das chamadas “Marchas da Morte” durante as quais eles eram forçados a caminhar longas distâncias em direção à Alemanha, expostos ao frio extremo, sem roupas, comida, água ou descanso. Simone, sua mãe e sua irmã contam-se entre os poucos que sobreviveram. Ao chegar em Bergen-Belsen, Simone é indicada para trabalhar no refeitório. Sua mãe, muito enfraquecida, não conseguiu resistir e morreu de tifo, em março de 1945. Tanto Simone quanto a irmã Madeleine ainda estavam vivas quando os britânicos libertaram o campo, em 15 de abril de 1945. Ao voltar para a França ela estava pronta para revelar o que era Auschwitz, os horrores vividos, mas tinha a impressão de que ninguém estava interessado em ouvir. Nunca esqueceu, no entanto, o tempo em que ficou presa nos campos nazistas e lutou para manter a viva a memória dos crimes nazistas. De 2001 até 2007 foi presidente da Fundação pela Memória da Shoá. Ao deixar o cargo, tornou-se Presidente de Honra. Em 22 de dezembro de 2004 aceitou retornar a Auschwitz, com seus cinco netos, a convite do diretor da revista Paris Match, Alain Genestar.
Simone Veil, ministra da saúde, com Jacques Chirac, primeiro ministro, 1974
Em 1946, conheceu Antoine Veil, judeu, futuro Inspetor das Finanças e empresário, durante umas férias numa estação de esqui. Foi amor à primeira vista e Simone e Antoine se casam em 26 de outubro. Eles viveram juntos durante 67 anos, até o falecimento de Antoine, em 2013. O casal teve três filhos: Jean, advogado; Claude-Nicolas, médico, e Pierre François, advogado e presidente do Comitê Francês do Yad Vashem. Claude-Nicolas faleceu em 2002.
De volta à França Simone chegou em Paris no dia 23 de maio de 1945. Assim como os outros sobreviventes teria que enfrentar o duro desafio de reconstruir a vida. Foi alojada no Hotel Lutetia, com outros sobreviventes dos campos, recebendo um documento de repatriamento, roupas e comida. Foi também informada de que havia sido aprovada nos exames de baccalauréat prestados antes de ser presa - a única de sua turma a passar. Ainda em 1945, ela entra na Faculdade de Direito e no Instituto de Ciências Políticas de Paris. 53
Em 1952, ela fica abalada por mais uma perda dolorosa. Sua irmã Madeleine morre com o filho Luc em um acidente de carro na estrada. Ela era a única pessoa com a qual podia falar sobre os anos passados nos campos.
Carreira em ascensão Simone se muda por algum tempo para Wiesbaden e depois para Sttugart, em função da carreira de Antoine. Formada em Direito e em Ciências Políticas, ela revela ao marido que não quer desistir de uma carreira, como sua mãe fizera, para ser apenas dona de casa. Na época, apenas 40% das francesas trabalhavam e, ainda menos, no círculo da burguesia parisiense. DEZEMBRO 2017
PERSONALIDADE
Decide entrar para a Magistratura, onde passa a ocupar cargos no alto escalão, até chegar ao Ministério da Justiça, de 1957 a 1959. Seu primeiro passo em direção à vida política foi participar do governo do primeiro-ministro René Pleven. Ela representou a França na Sociedade Internacional de Criminologia, em 1959, e se dedicou a lutar por reformas nas leis relativas à adoção, e a adultos com necessidades especiais. Indicada como assessora no Gabinete de Pleven, era encarregada do relacionamento com a imprensa e questões de leis civis e judiciárias. Em 1970 foi indicada secretária do Conselho Superior de Magistratura. Seu trabalho foi reconhecido ao ser nomeada Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito e membro do Conselho da ORT da França e da Fundação da França. Em maio de 1974, Valéry Giscard d’Estaing, presidente recém-eleito, a escolheu como ministra de Saúde no gabinete do primeiro-ministro Jacques Chirac. Durante seu mandato, Simone Veil conseguiu que fosse aprovada pelo Parlamento a “Lei Veil”, que descriminalizou
simone veil e seu marido, antoine. nov. 2011
na França a interrupção voluntária da gravidez. Na ocasião, Simone teve que enfrentar uma oposição particularmente dura da Direita. Alguns deputados chegaram a acusá-la de “apoiar o genocídio e de comportamento similar ao dos nazistas”. No Parlamento, proferiu um emocionante discurso em que revelou sua preocupação sobre os riscos enfrentados pelas mulheres que realizavam abortos clandestinos, cujo número aumentara drasticamente na França. O projeto de lei foi aprovado na íntegra e a “Lei Veil” entrou em vigor em 1975. Após esse famoso embate político, o jornal Nouvel Observateur concedelhe o título de “Revelação do Ano”.
Em 1979, ela mesmo fumante, encabeça a luta contra o tabagismo no país, impondo serias restrições. Manteve até julho daquele ano a pasta da Saúde, quando abandonou o governo para participar, a pedido de Giscard d’Estaing, das eleições do Parlamento Europeu. Simone presidiu o Parlamento Europeu de 1979 até 1982, na primeira vez em que seus integrantes foram eleitos por sufrágio universal. Na época, o Parlamento tinha poucos poderes, mas Simone lhe deu visibilidade com sua atuação na área de direitos humanos. Em março de 1980, recebe o Prêmio Athenae concedido pelo Fundo Aristóteles Onassis por sua contribuição para a reaproximação dos povos e pelo respeito à dignidade humana. Em 2005 é a vez do Prêmio Príncipe das Astúrias para a Cooperação Internacional. Volta a ocupar um cargo no governo da França, em março de 1993, quando é nomeada ministra de Estado dos Assuntos Sociais, no governo de Édouard Balladur, onde permanece até julho de 1995. Foi membro do Conselho Constitucional entre 1998 e 2007. Em 31 de outubro de 2007 publica a autobiografia “Uma vida”, traduzida para mais de 15 idiomas. Somente na França foram vendidos mais de 550 mil exemplares.
Simone entre o então primeiro ministro da polônia. D. Tusk; o então presidente do parlamento europeu, o polonês Jerzy Buzek e o então primeiro ministro da bélgica, Yves LertemE. inauguração da praça simone Veil, bruxelas, 2011
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Em 2008, é eleita para uma cadeira na Academia Francesa de Letras, uma distinção rara entre os políticos do país. Sobre sua espada de Imortal, criada pelo escultor tcheco Ivan Theimer, foram gravados o número que lhe fora tatuado em Auschwitz – 78651 - e o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” ao lado da expressão “in Varietate concordia”, unidos pela diversidade.
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1. Simone Veil segura sua espada de Imortal, 2010. Ela foi eleita dois anos antes para Academia Francesa de Letras 2. com o Presidente Shimon Peres, 2008 3. com Nicolas Sarkozy, 2010
Após a morte de seu marido Antoine, em 2013, e de sua irmã Denise Vernayem, no mesmo ano, Simone se afasta da vida pública. Ainda assim, manteve-se no coração dos franceses. Em 2016 ainda aparecia nas pesquisas como a terceira personalidade preferida do país.
“Sou judia” No artigo “Sou judia: o Kadish será recitado diante do meu túmulo”, Simone escreveu em 2005: “Nasci e cresci no seio de uma família francesa de longa data, fui francesa sem nenhum questionamento. Mas ser judia, o que isto significava tanto para mim quanto para meus pais, já que, ambos agnósticos – como já o tinham sido meus avós –, a religião estava totalmente ausente de nosso lar? Do meu pai pude aprender que sua ligação com o judaísmo estava mais relacionada ao conhecimento e à cultura que os judeus adquiriram ao longo dos séculos, em épocas em que muito poucos tinham acesso aos mesmos. Haviam permanecido como Povo do Livro, fossem quais fossem as perseguições, a miséria e a vida errante. Para minha mãe, o judaísmo era uma questão de um compromisso com valores com os quais, ao longo de sua longa e trágica história, os judeus
Simone Veil retorna a Auschwitz
jamais haviam deixado de lutar: a tolerância, o respeito dos direitos de cada um e de todos, a solidariedade. Ambos morreram no exílio, deixando-me como única herança os valores humanistas que, para eles, o judaísmo representava. Desta herança não me é possível dissociar as lembranças sempre presentes, de certa forma obsessiva, dos seis milhões de judeus exterminados pelo simples fato de serem judeus. Seis milhões dentre os quais meus pais, meu irmão e inúmeros familiares. Não posso me separar deles. Isto é suficiente para que, até a minha morte, meu judaísmo seja imprescritível. O Kadish será recitado diante de meu túmulo. Sou judia”. Seus filhos atenderam sua vontade. 55
Simone faleceu em 30 de junho de 2017, sexta-feira, aos 89 anos, em sua residência em Paris. Segundo seu filho Pierre-François, a última palavra que pronunciou antes de morrer foi “obrigado”. Simone foi enterrada no Cemitério de Montpanasse, em Paris. Diante de seu túmulo, seus filhos Jean e Pierre-François recitaram o Kadish. A cerimônia fúnebre foi conduzida pelo grão-rabino da França, Haim Korsia. Foi muito simples, na presença apenas de pessoas muito próximas que ali foram para prestar sua última homenagem à uma mulher que, após ter passado os horrores dos campos de concentração nazistas, deixou sua marca pessoal na história e na política da França. Sobre ela o Journal Dimanche escreveu: “Numa época em que a política só inspira desconfiança, Simone Veil será sempre lembrada como um exemplo de coragem e dignidade tanto pela sua trajetória pessoal quanto profissional”.
BIBLIOGRAFIA
Veil, Simone e Black,Tamsin, A Life . Kindle edition Deloeuvre, Guy, Simone Veil: Destin. Kindle edition Jactance, Assoumou Ondo, Ce que serait devenue la femme française sans Simone Veil. Kindle edition DEZEMBRO 2017
COMUNIDADES
Os judeus na Polônia entre as duas guerras mundiais Com a criação, em 1918, da Segunda República Polonesa, os judeus acreditavam que passariam a ser aceitos na nova nação com igualdade de direitos. Mas, nas duas décadas de existência da República, as esperanças judaicas se transformaram em desespero. Os sinais do precipício que os iria tragar já se faziam ver. No entanto, apesar da hostilidade, discriminação e isolamento, no período entre guerras o judaísmo polonês forneceu grande vitalidade à vida judaica
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o dia da invasão do Terceiro Reich, 1º de setembro de 1939, viviam na Polônia 3,2 milhões de judeus – era a maior comunidade judaica da Europa. Milhares de autores têm escrito detalhadamente sobre a Shoá, sem dúvida o mais doloroso período da História Judaica, e sobre o extermínio de milhões judeus em terras polonesas. Pouco, porém, tem-se escrito sobre o período em que existiu a Segunda República Polonesa (1918-1939), quando o endêmico e profundo antissemitismo dos “poloneses étnicos” cresceu ainda mais. E, infelizmente, sobrevive até os dias de hoje. Neste 11 de novembro de 2017 houve em Varsóvia uma manifestação durante a qual cerca de 60 mil pessoas gritavam “Europa Branca”, “Fora, judeus” e “Retirem os judeus do poder”.
Varsóvia era a capital do novo estado, e os judeus que lá viviam desempenhavam um papel central na vida da cidade, da população judaica polonesa, bem como dos asquenazitas do mundo todo. Em 1921, viviam em Varsóvia cerca de 310 mil judeus, número apenas superado por Nova York. A vida judaica na cidade era ao mesmo tempo tradicional e criativa, religiosamente ortodoxa e sionista, politicamente atuante. Era grande o número de partidos, instituições, organizações beneficentes e movimentos juvenis com sede na cidade.
Em 1918, quando nasceu a Segunda República, os cerca de 3 milhões de judeus que viviam no país eram vistos como “elementos estranhos”, que ocupavam funções econômicas e posições de poder que deveriam estar em mãos dos poloneses étnicos, e, para “o bem da nação”, tais elementos deveriam ser removidos e substituídos por poloneses.
Era uma comunidade organizada, tinha suas próprias escolas, ieshivot, hospitais, instituições assistenciais, partidos políticos, editoras, jornais e teatros. Na Polônia se fortaleceram partidos e movimentos judaicos de todas as tendências - sionistas, religiosos, socialistas, revisionistas. Viviam na Polônia grandes rabinos e talmudistas, importantes mestres chassídicos, líderes de
No período entre guerras o judaísmo polonês forneceu uma poderosa, podemos até dizer inigualável, vitalidade à vida judaica religiosa e secular, à sua cultura, ao teatro iídiche, assim como à vida política, apesar da hostilidade e pobreza de grande parte da população, principalmente após a Crise de 1929.
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Cidade Velha de Varsóvia. É patrimônio mundial histórico e cultural, tombado pela UNESCO em 1966
movimentos juvenis que se tornaram heróis, renomados sionistas, historiadores, artistas, escritores e músicos de renome. A comunidade judaica polonesa era a principal arena onde floresceram diferentes linhas de pensamento religioso, ideológico, político e cultural.
Os anos que antecederam a independência No final do século 18, desaparece do mapa da Europa a Comunidade Polaco-lituana. Em 1772, 1793 e 1795 a nação foi invadida e seu território anexado por seus poderosos vizinhos. O Reino da Prússia ficou com a parte ocidental - Poznan, Silésia e Pomerânia até o Mar Báltico; o Império Austrohúngaro com o Sul, que incluía Galícia e Cracóvia; o Império
Russo ficou com mais de 60% do território: a Ucrânia, Lituânia e Polésia, inclusive Varsóvia. Com as anexações, a vida política e econômica dos habitantes, principalmente dos judeus, passa a depender das decisões tomadas em Berlim, Viena e São Petersburgo. A Era napoleônica, de 1799 a 1815, provocara mudanças geopolíticas em toda a Europa. Após a derrota de Napoleão, para trazer de volta a estabilidade, representantes dos países vencedores (Impérios Austríaco e Russo, Prússia e Reino Unido) reúnem-se, em 1815, em Viena e redesenham o mapa da Europa. No Congresso de Viena é criado o Reino da Polônia, mais conhecido como Polônia do Congresso, para distingui-lo de reinos poloneses anteriores. Seu território correspondia, a grosso modo, às regiões 57
de Lublin, Lódz, Mazóvia e Kielce. O novo estado era uma monarquia constitucional, a princípio semiautônoma em relação ao Império Russo. O Czar da Rússia era também o Rei da Polônia. A Polônia do Congresso constituía o coração da Polônia étnica, centro político e cultural; uma área econômica de grande importância. Após o esmagamento de uma revolta armada polonesa contra o domínio russo – o Levante de Novembro (1830-1831) pelas forças imperiais – a Polônia do Congresso perde grande parte de sua semi autonomia. No ano seguinte é abolida Constituição, fechada a Assembleia Legislativa e desmantelado o exército. Há uma intensificação da política de “russificação”. Em 1863, após ter sido esmagada mais uma revolta, dezembro 2017
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5 milhões, constituindo o maior componente (40%) da população judaica mundial, à época.
a Polônia do Congresso é incorporada ao Império Russo e, em 1874, o nome oficial da região passa a ser País do Vístula. No entanto, apesar das repressões e ausência de estruturas políticas formais durante mais de um século, os poloneses mantiveram vivo o anseio por um estado soberano. As lutas pela independência fortaleceram o nacionalismo polonês. Nesse período são levantadas questões do que era a “Polônia” na ausência de um estado soberano e sobre a natureza da identidade nacional. O nacionalismo polonês era profundamente católico e praticamente imune à secularização, consequentemente, um “polonês étnico”, um “verdadeiro polonês”, era necessariamente católico. Nesse período, o lugar das minorias dentro de uma futura nação soberana, principalmente dos judeus, é questionado. Com a criação de novos partidos políticos poloneses, o tema das minorias torna-se questão de extrema importância.
Vida judaica antes da Independência Após a anexação dos territórios da Comunidade Polaco-lituana, os impérios invasores viram sua população judaica aumentar consideravelmente, e a vida dos judeus passa a depender de cada um dos soberanos. Viviam em sua maioria, nas regiões anexadas pela Rússia e sua história será ainda mais sofrida do que a daqueles que ficaram sob domínio da Prússia e da Aústria. Assim como havia uma identidade nacional polonesa, havia uma enraizada identidade judaicopolonesa. Inúmeros foram os esforços realizados pelos diferentes governos para assimilar os judeus,
Os judeus eram a maioria dos habitantes desse shtetl na Galícia, c.1910
mas tais esforços não tiveram, na prática, nenhum impacto sobre as massas judaicas. Eles continuavam a falar o iídiche; eram ortodoxos – divididos entre Mitnagdim ou Chassidim. A educação judaica era a tradicional, no cheder ou na ieshivá. Casamentos com não-judeus eram raros, assim como conversões. Os judeus eram orgulhosos de seu judaísmo, de suas lindas sinagogas, de seus Rebes e sábios... Em 1772, após a primeira anexação, milhões de judeus se tornaram os novos súditos indesejados e desprezados pelo Império Russo. Num primeiro momento de seu governo, a Czarina Catarina II, a Grande, concedeu-lhes o direito de residência. Mas, em 1775, ela promulga um decreto determinando seu confinamento numa parte de seu Império, a chamada “Zona de Residência” ou “Território do Acordo” – em russo, Cherta Osedlosti. A área incluía parte da Rússia Ocidental, a Ucrânia e os territórios atuais da Bielorrússia, Lituânia e Moldova. Na Cherta viviam mais de 90% dos judeus do Império; seus maiores contingentes na região das atuais Polônia e Bielorrússia. Em seu ponto alto, a Zona de Residência tinha uma população judaica de mais de 58
Era também substancial a população judaica que vivia na Galícia (os judeus Galitsyaner), que se tornara uma província do Império Austríaco. O Imperador José II sobe, em 1765, ao trono da Áustria. Entre todos os governantes da época, ele foi o mais adepto às ideias iluministas, introduzindo inúmeras reformas, inclusive em relação aos judeus. Em 1781, aboliu o infame distintivo amarelo nas roupas. No ano seguinte, emitiu o Toleranzpatent - o “Edito de Tolerância”, que, entre outros, eliminou algumas das restrições em vigor em relação à população judaica. Entre as concessões estava a liberdade de viver onde quisessem, apesar de não poderem adquirir imóveis, e podiam frequentar universidades. O Edito também removeu algumas das restrições a determinados ofícios e profissões liberais. Por outro lado, passaram a vigorar várias leis para acabar com as particularidades do judaísmo. Na região anexada pelo Reino da Prússia, o nacionalismo polonês foi reprimido e seu povo submetido a uma política de germanização. A população judaica teria status legal separado até que a região foi incorporada no arcabouço geral da Prússia. Em 1812, a Prússia se torna o primeiro Estado a emancipar os judeus. Na Polônia do Congresso eram substancialmente diferentes do restante do Império russo as leis que governavam os judeus. Em 1862, são removidas as restrições legais sobre eles, apesar de algumas terem sido reintroduzidas pelo Czar após 1863. O estatuto jurídico dos judeus que viviam na Polônia do Congresso
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ainda era preferível à dos judeus que viviam em outras partes do Império. Esse fato, juntamente com o desenvolvimento econômico da região na segunda metade do século 19, levou muitos judeus a migrarem para lá. Foi particularmente grande o influxo dos chamados Litvaks, os judeus originários de Lita, palavra em iídiche que identificava a Lituânia. Nas últimas décadas do século 19, já emancipados, os judeus se organizam politicamente. Um de seus maiores problemas era a atitude a ser tomada em relação aos vários concorrentes à hegemonia sobre os territórios da antiga Comunidade Polaco-lituana onde viviam. Nas rebeliões armadas dos poloneses de 1830-1831 e 1863, haviam participado milhares de judeus. Muitos acreditavam que a independência polonesa levaria ao desaparecimento do antissemitismo. Mas, a “indecisão” demostrada pela população judaica no primeiro momento sobre quem deveriam apoiar não seria esquecida pelos poloneses. No final do século 19, os judeus eram um elemento basicamente urbano em uma região grandemente camponesa. Eram um grupo econômico distinto, uma minoria mais educada cuja fé, idioma e costumes diferiam frontalmente dos da maioria. Apesar da emigração em grande escala para o continente americano, nos territórios da atual Polônia cerca de 14% dos habitantes eram judeus, sendo que em inúmeras cidades eram uma grande parcela dos habitantes e, nos shtetls, muitas vezes a maioria.
áreas econômicas e comerciais. No final do século, em Varsóvia, dos 26 principais bancos privados 18 eram propriedade de judeus ou de judeus convertidos ao catolicismo. E os judeus se destacavam cada vez mais nas profissões liberais. O crescimento de uma classe média urbana católica, aliado ao fortalecimento do nacionalismo, levam à exacerbarão das relações entre os “poloneses étnicos” e população judaica. As acusações contra os judeus de práticas comerciais “desleais” e de “separatismo” vão ressoar doravante com força. A criação, em 1897, do Endecja (ou Endeks), partido nacionalista de extrema-direita, profundamente antissemita, é sintomática do forte crescimento do anti-judaísmo. As raízes econômicas e políticas do novo antissemitismo (sem contar a tradicional vertente religiosa) manifestaram-se, claramente, em 1912, quando o Endecja organizou um boicote às empresas de proprietários judeus. Na véspera da 1ª Guerra Mundial, as relações entre poloneses e judeus estavam extremamente tensas.
Segunda República Polonesa Em 1918, depois de 136 anos de ocupação, França e Reino Unido decidem restabelecer um estado polonês soberano, a Segunda República Polonesa. Os impérios que tinham anexado o território polonês no final do século 18 haviam entrado em colapso. Áustria-hungria e Alemanha, derrotadas militarmente, estavam arrasadas internamente. Na Rússia, a Revolução de 1917 depusera o Czar e o país estava engolfado numa sangrenta guerra civil entre os bolcheviques e as várias forças contrárias a eles, inclusive polonesas. No Tratado de Versalhes de 1919, que encerrou oficialmente a 1a Guerra Mundial, os termos impostos à Alemanha incluíam a perda de uma parte de seu território para nações fronteiriças. A Polônia acabou ficando com territórios dos Impérios Austro-húngaro e Alemão – entre outros, a Província de Posen, outrora parte da Grande Polônia, “berço da nação polonesa”, e a parte leste da Alta Silésia. Ficou, também, com parte do território que a Rússia perdera no Tratado de
Meninos estudando no cheder. Lublin, Polônia, 1924
Os judeus haviam desempenhado importante papel na urbanização e industrialização da Polônia, inclusive em empreendimentos comerciais e financeiros. A média e alta burguesia judaica se destacava em todas as 59
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Brest-Litovski1. Depois de anexar a região da Galícia oriental, a Polônia, no decorrer da Guerra Polacosoviética (1919-1921), consegue expandir-se mais para leste. A guerra era, em parte, o resultado da insegurança dos poloneses em relação às fronteiras orientais por causa da Guerra Civil na Rússia. Mas, a verdade é que o Marechal Józef Piłsudski, revolucionário e líder das forcas armadas, viu nesta instabilidade a oportunidade de expandir as fronteiras do jovem estado, como de fato ocorreu. Em 1921, quando foram definidas as fronteiras, a Segunda República da Polônia era o sexto maior país da Europa, contando com 27,2 milhões de habitantes. Destes, cerca de 11 milhões eram minorias. Os judeus chegavam a 3 milhões. Em teoria, as minorias, inclusive a judaica, eram protegidas por tratados internacionais assinados pelos recémcriados estados na Conferência de Paz de Versalhes, em 1919. Entre outros, esses tratados garantiam a liberdade religiosa e a igualdade civil; asseguravam o direito das minorias de manter suas tradições sem ser discriminadas, e seus idiomas. Entre as garantias dadas aos judeus, em particular, estava o respeito ao Shabat por parte do Estado.
Alegavam que outras nações não tinham o direito de interferir nos assuntos internos e que esses tratados eram fruto do lobby judaico-americano. As negociações desses tratados ocorriam enquanto na fronteira russo-polonesa eclodiam pogroms. Que papel as minorias teriam no novo Estado era uma pergunta que muitos poloneses étnicos se faziam. Por que “estrangeiros” detinham o controle da indústria, comércio, e de outros setores fundamentais à economia? A bem da verdade, os judeus não eram o único alvo dessa hostilidade. Milhões de cidadãos das antigas potências imperiais eram também vistos como “estrangeiros” usurpadores da riquezas e direitos dos poloneses. Havia, porém, uma diferença básica: todos, a não ser os judeus, tinham um “estado-irmão” ao qual podiam recorrer mesmo não sendo cidadãos. Os judeus estavam sós. Na época da criação da Segunda República, o pensamento político Interior da Sinagoga Velha de Cracóvia
Os tratados das minorias não foram bem recebidos pelos recém-criados Estados. Polônia, assim como Romênia, resistiram fortemente. Tratado de Brest-Litovski, assinado em março de 1918 entre o novo governo russo e as Potências Centrais (os Impérios Alemão, Austro-húngaro, Otomano e a Bulgária), reconhecia a saída da Rússia do conflito. A Rússia foi obrigada a abrir mão da Finlândia, Países Bálticos, Polônia, Bielorrússia e Ucrânia.
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em relação a estrutura de um estado polonês independente apresentava duas vertentes principais. A da direita acreditava que deveria haver uma completa identificação do Estado com a nação polonesa étnica – ou seja, com a população polonesa e católica. A extrema direita, o Endecja, ia além, queria um estado polonês católico de domínio exclusivo dos poloneses étnicos. A esquerda e centro se inclinavam para uma “parceria” mais ampla do Estado com as minorias. Poloneses étnicos eram “os primeiros entre iguais”, mas a Polônia seria um estado de muitas nacionalidades. Parecia não haver muito espaço para os milhões de habitantes não poloneses que viviam no território da Segunda República, muito menos para a população judaica.
Os judeus na Polônia independente A criação de um estado polonês soberano não levou, como muitos judeus acreditavam, a uma aproximação com os não judeus.
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Nenhum tratado internacional poderia mudar a atitude polonesa em relação a eles. Os judeus eram vistos como “elementos desnecessários”, até mesmo “prejudiciais”. Eles eram “estranhos”, sem nenhum direito legítimo de estar na Polônia. A Igreja católica para qual a esmagadora maioria de poloneses se voltava em busca de orientações morais, era profundamente impregnada de doutrinas antijudaicas e preconceitos antissemitas. Apesar do Papa Pio XI ter dito, em 1938, que o antissemitismo era “inadmissível”, ele próprio, enquanto Núncio Apostólico da Polônia, em 9 de janeiro de 1919, época marcada por pogroms, escreveu numa carta ao Cardeal Pietro Gasparri, Secretário de Estado do Vaticano: “Uma das influências mais fortes e nocivas aqui sentidas, talvez a mais forte e a mais nociva de todas, é a dos judeus”. Ademais, a 1 Guerra e a independência polonesa haviam deixado um legado de profunda amargura. Para os poloneses, os anos de Guerra provaram que os judeus eram “anti-poloneses”, “próbolcheviques” e “pró-ucranianos”. Para a população judaica, foram anos extremamente trágicos. Milhares foram mortos pelos russos tanto durante a invasão do território do futuro Estado polonês, como na retirada de seu exército. Em inúmeras ocasiões os judeus foram apanhados entre forças inimigas – entre os poloneses e os lituanos em Vilna, entre os poloneses e os ucranianos em Lvov, e entre os poloneses e os bolcheviques durante a guerra de 1920. Como se não bastasse, haviam-se tornado alvo de uma campanha polonesa de terror e pogroms. Os dois principais ocorrerem em Lvov, em 1918, e em Vilna, em 1919. a
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4 1. Duas meninas judias. Varsóvia,1930 2. Karcelak, mercado das pulgas ao ar livre. Varsóvia, 1930 3. Judeu trabalhando em uma malharia. Grodziks, na Voivódia, província da Grande Polônia, 1930 4. Lendo as notícias em um jornal em iídiche. Varsóvia,1930
Outros milhares foram mortos no decorrer da Guerra Polacosoviética (1919 -1921), quando as forças polonesas invadiram regiões onde viviam um grande número de judeus ucranianos. O soldado típico, camponês-polonês, era católico fervoroso e crescera sendo alimentado com ideias antijudaicas. Seu ódio crescia ainda mais ao identifica-los com os odiados bolcheviques. No avanço ou retirada de suas tropas, os polacos devastavam comunidades judaicas inteiras, que já haviam sido massacradas pelos russos e ucranianos. Eles invadiam os bairros judeus, bombardeando casas, incendiando lojas, enfileirando os judeus que capturavam para os fuzilar. Cerca de 30 mil judeus foram mortos, outros milhares feridos, mulheres violadas. O assassinato em 61
massa só terminou quando os Aliados ameaçaram intervir; mas as matanças esporádicas seguiram em frente. Apesar do derramamento de sangue judaico, em termos jurídicos a situação da população judaica na Polônia independente era aparentemente excelente. Eram grandes as esperanças de um futuro pacífico lado a lado aos poloneses. As esperanças não demoraram a cair por terra. Os líderes judeus encontravam dificuldades em assegurar a implantação dos termos do Tratado das Minorias. Os dois elementos fundamentais da autonomia judaica – a escola e a Kehilá (comunidade organizada) – não foram autorizados a se desenvolver livremente. Ademais, dezembro 2017
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a República Polonesa chegou a tolher os poderes das Kehilot, restringindo-as a funções puramente religiosas. Os dispositivos legais discriminatórios remanescentes contra os judeus nos territórios herdados do Império Russo e Austríaco permaneceram até 1931. Nesse ínterim, uma série de medidas tornou o tratado ineficaz e, em 1934, diante da aprovação pública, o governo o repudiou.
eleitoral que afetaria a representação proporcional das minorias no Sejam (Parlamento), os judeus reagiram formando uma frente unida para concorrer às eleições. Em 1922, o “bloco das minorias” conseguiu uma substancial vitória. A facção judaica elegeu 35 dos 444 membros do Sejm, Câmara de Deputados. Mas a união entre as minorias não perdurou e a influência dos partidos judaicos foi diminuindo.
Manifestação sionista. Chelm,1932
Mas os judeus poloneses eram resilientes, determinados a lutar pelos seus direitos na arena política. A política judaica atingira nesse país seu mais pleno desenvolvimento. O sionismo, que emergira em meados do século 19, era uma força política não apenas na comunidade, mas também na política nacional, e internacional. Quando o governo polonês, que, no início, era constituído por partidos de centro e direita, tentou adotar um sistema
Política de Estado Em termos da História Judaica, o que distingue o período antes da 1ª Guerra daquele entre as duas Guerras é a política de Estado abertamente antissemita. Em tempos caracterizados pelo papel dominante que o governo assumira na vida econômica, essa discriminação foi desastrosa. Na década de 1920, a situação econômica da Polônia era grave 62
e o governo adotou a política de estatismo, uma forma de capitalismo de Estado. No campo econômico essa política implica uma forte intervenção do Estado que atua como empresário em diversos setores. As medidas antijudaicas adotadas pelo governo, que podemos definir como um “pogrom morno”, era resultado dessa política, aliado a uma grande dose de antissemitismo. À medida que o estado passa a controlar toda a economia, as políticas econômicas arruinaram muitos dos grandes comerciantes e industriais judeus, assim como os pequenos empresários tradicionais. Uma lei que obrigava a todos os cidadãos o descanso dominical acabou arruinando os lojistas judeus que perderam o lucrativo comércio dos domingos. Até os artesãos passaram a necessitar de licença para trabalhar. Ademais, os judeus deixaram de ser contratados para trabalhar na administração pública, em bancos e monopólios estatais. Milhares foram demitidos de fábricas de cigarro quando o Estado assumiu o monopólio do tabaco. Outros tantos ficaram sem emprego em outros setores controlados pelo estado. Líderes judeus chegaram a acusar o governo de estar promovendo “o extermínio econômico dos judeus poloneses”. Esse processo, já perceptível no final do século 19, foi acelerado de forma tremenda por um governo que queria todas as principais posições econômicas em mãos de elementos “leais”, a dizer, poloneses étnicos. Em 1926, em meio a profunda crise econômica e uma inflação galopante, o marechal Józef Piłsudski, herói nacional, dá um golpe de Estado e assume o poder, instalando um
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governo autoritário. A princípio, seu governo tem uma atitude positiva em relação aos judeus. Apesar de odiálos, pessoalmente – como demostrara durante a Guerra Polaco-soviética – um dos primeiros atos de Piłsudski foi acabar com a política antissemita do governo. Centralizando a maior parte de suas atenções nos assuntos de defesa e relações públicas, ele não demostrava um interesse especial em relação à “questão judaica” e nem exibia em público sentimentos contrários aos judeus. Um líder sionista, Apolinary Hartglas, escreveu que, no primeiro ano do governo de Piłsudski, a “propaganda antissemita cessara ... ninguém se atrevia mais a publicar listas negras de poloneses que ousavam comprar de estabelecimentos judeus… ninguém atacava ou surrava os judeus ...”. No entanto, nenhum avanço foi feito em relação às minorias, principalmente a judaica. O banimento de Piłsudski ao antissemitismo “oficial” veio muito tarde para poder ajudar a população judaica. Menos de três anos mais tarde, a Crise de 1929 atinge a Polônia e o país entra em profunda depressão econômica. Empresas faliram e havia desemprego em massa entre os trabalhadores e os agricultores. Os que mais sofreram foram os judeus, que, já enfraquecidos economicamente pelo estatismo, foram alijados para uma marginalização econômica da qual nunca se recuperaram. O desemprego entre sua população era bem maior do que entre os 2
Fundada em 1914, seu propósito inicial era arrecadar e distribuir fundos para ajudar as populações judias da Europa Oriental durante a 1ª Guerra. Na década de 1920, o JDC se tornou a principal agência para socorro e reabilitação dos judeus no exterior.
não judeus, em parte pelo fato de terem sido barrados do serviço público onde os empregos eram mais seguros, e porque era pequeno o número de trabalhadores judeus nas grandes empresas. A maioria trabalhava em pequenas oficinas que rapidamente foram à falência. Em 1931, um milhão de judeus estavam desempregados. Lódz, importante centro têxtil, fora transformado num necrotério industrial. Em Lvov, 29 % dos judeus estavam sem emprego. Em 1931, em Varsóvia, onde dois de cada cinco habitantes eram judeus, 34% da força de trabalho judaica estava desempregada. A Beth Lechem, uma entidade de assistência social judaica, mantinha vans nas ruas oferecendo chá e pão para que judeus famintos não caíssem de fraqueza. A Sociedade de Proteção à Saúde dos Judeus (TOZ), fundada em 1921, forneceu em seus relatórios a trágica evidência do colapso econômico de sua gente. As comunidades judaicas do exterior ajudavam como podiam; o Joint (American Jewish
Joint Distribution Committee JDC), organização de assistência humanitária norte-americana2, sustentava mais de 150 mil famílias e fornecia fundos para a TOZ e outras congêneres. Mas a ajuda acabou sendo reduzida por causa da Grande Depressão de 1929 e, após 1933, pela necessidade de enviar recursos para ajudar os judeus alemães vítimas da perseguição nazista.
Cresce o fascismo polonês Com a Crise de 1929, as ideias de Piłsudski de um Estado que abrangesse todos os cidadãos deu lugar à ideologia nacionalista. Com a paralização de um segmento da economia nacional após o outro, os camponeses, o proletariado urbano e a classe média polonesa começam a vociferar cada vez mais seu descontentamento. As classes privilegiadas polonesas – os grandes industriais, a oligarquia nobre, assim como os latifundiários e a Igreja – donos de grande parte das terras cultiváveis da Polônia,
varsóvia, 1930
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não estavam dispostos a implementar as mudanças necessárias no tecido econômico do país, que implicaria necessariamente na perda de seus privilégios, para sanear a economia. Esses grupos usaram o antissemitismo da população ao máximo para ocultar das massas trabalhadoras e dos camponeses a verdadeira origem das dificuldades econômicas que a nação enfrentava. A maioria dos poloneses estavam convencidos de que a economia, e consequentemente sua situação, melhoraria se os judeus fossem eliminados, ao menos da esfera econômica. As atitudes políticas dos poloneses étnicos passaram a variar de profunda hostilidade da direita a uma atitude cautelosa da esquerda. Os partidos da direita, como o Endeks, defendiam abertamente a completa eliminação dos judeus da sociedade e dos postos de emprego remunerado e sua imigração em massa. Os socialistas, embora condenando os ataques físicos e verbais violentos que ocorriam na época contra os judeus, não estavam imunes ao antissemitismo. Havia inclusive socialistas entre aqueles que preconizavam a partida em massa da população judaica. O partido dos Camponeses, que se opusera ao antissemitismo na década de 1920, em meados da década de 1930 declara que os judeus eram uma “nação estrangeira”, endossando o incentivo à emigração judaica. A partir de 1933, o problema da sobrevivência judaica se complicava. Um antissemitismo cuidadosamente cultivado somou-se ao desastre econômico da Grande Depressão. Após a morte de Piłsudski, em
12 de maio de 1935, o ódio aos judeus aumentou; parecia que com sua morte as forças que o haviam contido se desencadearam. Uma variedade de grupos paramilitares fascistas, apoiados pelos acontecimentos na Alemanha, proliferam pelo país inteiro, abertamente estimulados pela propaganda católica. Os grupos paramilitares mais notórios eram Endeks e Naraso. Vagando pelas ruas à procura de judeus, os grupos fascistas provocavam badernas, distúrbios públicos, atacando brutalmente os judeus nas ruas e nos trens. Lojas e residências judaicas eram saqueadas.
De 1935 em diante, a violência irrompeu em um clima de ardorosa retórica e de atividades políticas, com distúrbios organizados em 50 cidades polonesas que deixaram muitas mortes. Em março de 1936 um pogrom em Przytyk, um shtetl perto de Radom, deixou dois judeus mortos e muitos feridos. Em julgamentos subsequentes dos envolvidos, os defensores judeus receberam penas muito mais pesadas que os atacantes. Milhares de judeus participaram de marchas de protesto em Radom e outros lugares da Polônia. O clima entre judeus e não judeus se intensifica e cresce o número de pogroms.
Uma campanha ativa, semioficial, procurou limitar o acesso dos judeus à instrução superior, com o fatídico numerus clausus. Os poucos que conseguiam ser aceitos nas universidades eram perseguidos; em inúmeras universidades eram obrigados a assistir às aulas nos “bancos do gueto”.
Um boicote econômico foi iniciado tendo amplo apoio da população, e a aprovação da Igreja e membros do governo. Em 1936, uma carta pastoral do Cardeal Hlond, Primaz da Polônia, publicamente conclama a população de aderir ao boicote. O primeiro Ministro Felicjan Sławoj Składkowski o endossa, com a única ressalva de “não violência”. No início de 1937 formou-se um novo agrupamento político, o OZON, “campo da unidade nacional”. A ênfase dessa facção política, que dominou até a invasão alemã, era sobre os princípios totalitários e os laços católicos. Era extremamente antissemita, não aceitando membros judeus, preconizando leis discriminatórias e também exigindo a emigração judaica.
Pôster comemorativo dos Jogos Atléticos Shtern, em Varsóvia. 31 maio - 2 junho 1933
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Nos primeiros anos da república, o antissemitismo embora um fato aceito, era contido; em 1938 era aberto e unia governo e oposição. Na época, chegou a ser cogitada a imigração de judeus para o Madagascar. Eles eram vistos como um “empecilho” ao progresso da
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Fotos de judeus que pereceram durante a 2a Guerra Mundial em um dos poucos edifícios remanescentes na Rua Prozna, Varsóvia
Polônia. Alguns círculos liberais e socialistas saíram em defesa do judaísmo, mas suas vozes se perderam. A verdade era que para a maioria dos poloneses, a Polônia sofria de uma “superpopulação judaica” e sua emigração em massa era uma necessidade premente. Muitos judeus pensaram em deixar o país. Em 1936, Vladimir Jabotinsky, cognominado Ze’ev, que fundou o Movimento Revisionista Sionista Betar, declarou publicamente que os judeus deviam deixar a Polônia. Mas a pergunta era: para onde? Na década de 1930 inúmeros países, para não dizer a grandíssima maioria, não hesitavam em declarar sua má-vontade em recebê-los. Os judeus poloneses estavam cercados de hostilidade. Sem poder contar com aliados poloneses, tampouco com naçõesirmãs, os partidos judaicos e os líderes da comunidade não conseguiam influenciar o curso dos acontecimentos. A participação dos partidos judaicos no
parlamento havia sido imensamente reduzida a partir de 1935. A resposta política dos judeus foi voltar-se para o nacionalismo judaico. O colapso econômico e crescimento do antissemitismo levaram a uma maior radicalização dos partidos e movimentos. À medida que desapareciam as esperanças de uma autonomia judaica e de um avanço pacífico, ganharam mais adeptos as soluções mais extremas para a “questão judaica”. Dentro do Movimento Sionista cresceram as facções socialistas e a Direita Revisionista, encabeçada por Jabotinsky, assim como o Partido Sionista Religioso, o Mizrahi. O Bund disputava o terreno com o Comunismo e o Sionismo Socialista. Aumentam os movimentos como o Halutz, HeHalutz Hatzair, Hashomer Hatzair, que resultaram na emigração em larga escala para Eretz Israel. Em 1939, Varsóvia com seus 381 mil judeus, número maior do que em qualquer cidade do continente, 65
chegava mais perto do status de “capital da Diáspora Judaica”. Nos dias que antecederam a invasão alemã, a atmosfera entre os judeus da cidade era uma mistura de medo e euforia patriótica. A medida que aumentava a probabilidade de uma guerra, eles ingressavam na mobilização civil e militar. Estavam aliviados em perceber que, ao menos nessa crise suprema, os poloneses os aceitavam. Grave engano. No dia 1º de setembro, quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia, viviam no país 3,3 milhões de judeus, quase 10% do total de seus habitantes. Quando a guerra terminou, entre 50 a 70 mil estavam ainda vivos na Polônia, e outros 180 mil na União Soviética. Três milhões de judeus poloneses haviam sido assassinados.
BIBLIOGRAFIA
Wasserstein, Bernard,On The Eve: The Jews of Europe before the Second World War. eBook Kindle Gold, Ben-Zion, The Life of Jews in Poland before the Holocaust: A Memoir. eBook Kindle dezembro 2017
DESTAQUE
O avanço da extrema direita na Alemanha POR JAIME SPITZCOVSKY
Nas últimas eleições gerais alemãs, em setembro, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, um partido de extrema direita conquistou cadeiras no Bundestag, o Parlamento federal. Trata-se do maior desafio para a Alemanha depois de 1945, avaliou o Conselho Central dos Judeus, principal entidade comunitária no país
O
“Alternativa para a Alemanha” (AfD), com sua plataforma populista e xenófoba, contabilizou 13% dos votos na eleição de 24 de setembro, resultado responsável por ofuscar a vitória da primeira-ministra Angela Merkel, que conquistou seu quarto mandato consecutivo. Ela lidera o governo, com seu partido CDU (centro-direita), desde 2005.
O resultado eleitoral do AfD se insere no avanço da extrema direita europeia, impulsionado por fatores como recentes ataques terroristas na Europa e pela onda antiglobalização, já verificada com a vitória do “Brexit”, em junho de 2016. A mobilização dos partidos populistas e anti-imigração se intensificou ainda com a crise dos refugiados, com a chegada, ao velho continente, de mais de 1 milhão de pessoas fugindo da violência e da guerra em países como Síria e Iraque.
“Parabéns a nossos aliados do AfD por seu resultado histórico! É um novo símbolo do despertar dos povos da Europa”, reagiu Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, partido de extrema direita na França. “A entrada do AfD no Bundestag é um grande choque”, opinou o Pierre Moscovici, socialista francês que ocupou o Ministério de Assuntos Europeus entre 1997 e 2002. Mas, acrescentou, a “democracia na Alemanha do pósguerra é forte”.
Além da Alemanha, a França também testemunha avanço recente da extrema direita. Embora Emmanuel Macron tenha vencido as eleições presidenciais de maio com 66% dos votos, sua adversária, Marine Le Pen, alcançou a marca de 34%, recorde histórico para seu partido, a Frente Nacional. Merkel e Macron, entre outros líderes internacionais, enfrentam desafios históricos, com objetivo de desfazer a ameaça representada por grupos baseados em plataformas xenófobas e anti-imigração. Nos próximos anos, Alemanha e França, por exemplo, terão de conquistar avanços em áreas como luta antiterrorismo e na absorção social e econômica de refugiados, a fim
Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial, escreveu: “É abominável que o AfD, um movimento reacionário e vergonhoso que lembra o pior do passado da Alemanha e que deveria ser banido, agora conta com a capacidade, dentro do Parlamento alemão, de promover sua plataforma vil”. 66
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Reichstag, sede do parlamento alemão, berlim
de esvaziar o discurso de partidos como o AfD e a Frente Nacional.
consolidar a liderança de Berlim no continente.
A economia representa também sério desafio para Merkel e Macron. O AfD conquistou votações expressivas em regiões da antiga Alemanha Oriental, que ainda apresenta taxas de desemprego maiores do que no restante do país. Na Saxônia, a extrema direita alemã ultrapassou a barreira dos 25% dos sufrágios e, na Turíngia, alcançou 22%.
À época, o porta-voz do AfD, Bernd Lucke, afirmou que sua organização,
O AfD surgiu em 2013 com uma plataforma essencialmente econômica. Seus líderes criticavam as iniciativas governamentais de canalizar recursos a países europeus em crise, como Grécia, Portugal e Espanha. Merkel adotou um programa de ajuda financeira com o objetivo principal de manter a coesão da União Europeia e
apoiada na crítica ao projeto de resgate financeiro, correspondia a um “novo tipo de partido, que não é de direita nem de esquerda”. Em 2013, na primeira eleição federal, os adversários da política europeia de Merkel não conseguiram ultrapassar a barreira de 5% dos votos, mínimo exigido para entrar no Bundestag. As eleições para o Parlamento europeu, no ano seguinte, registraram avanço do AfD, ao amealhar 7% da votação. A agenda de campanha se apoiou essencialmente no fim da adoção da moeda comum, o euro. Em 2015, a crise de refugiados resultou na ampliação do discurso do AfD, com a inclusão de elementos anti-imigração. A primeira-ministra Angela Merkel adotou a política da “porta aberta”, o que resultou na chegada de mais de 1 milhão de pessoas ao país.
angela merkel
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DESTAQUE
O AfD também critica as relações atuais entre Israel e Alemanha. Desde o pós-guerra, nos anos 1950, em estratégia arquitetada pelos líderes israelense David Ben-Gurion e o alemão Konrad Adenauer, os dois países construíram importantes parcerias nos campos político, econômico e militar.
A EXTREMA DIREITA E OS POPULISTAS NO PARLAMENTO EUROPEU
A Alemanha passou a testemunhar a ascensão de discursos xenófobos em um nível inédito desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O AfD ocupou espaço que antigos grupelhos de extrema direita, como o NPD, jamais haviam conquistado em décadas passadas. Discursos de líderes do AfD geram extrema indignação e preocupação. Alexander Gauland, um dos mais vocais dirigentes do partido, declarou: “Se os franceses corretamente se orgulham de seu
imperador, e os britânicos, de Nelson e Churchill, nós temos o direito de nos orgulhar dos soldados alemães em duas guerras mundiais”. Os alemães são o “único povo do mundo a plantar um monumento de vergonha no coração de sua capital”, declarou, em referência ao memorial às vítimas do Holocausto em Berlim, Bjorn Hocke, liderança da extrema direita no estado de Turíngia. Para Hocke, do AfD, a população da Alemanha apresenta a “mentalidade de um povo totalmente derrotado”.
Merkel, por exemplo, se refere aos laços com Israel como “relação bilateral especial”. Alexander Gauland questionou a diretriz do governo alemão. “Se a existência de Israel é parte do interesse nacional alemão, então teríamos de estar preparados para enviar soldados alemães para defender o Estado judeu”, o que, acrescentou o líder do AfD, seria “problemático” e “difícil”. Gauland também reservou discurso ofensivo para Angela Merkel, a quem chamou de “ditadora”. Logo após as eleições, o líder da AfD defendeu a criação de um comitê para investigar a política migratória da atual primeira-ministra. “Vamos recuperar nosso país e nosso povo”, declarou Gauland. Com 94 das 709 cadeiras do Bundestag, o AfD conquistou, além de resultado histórico, importante plataforma para vociferar seu radicalismo. Se o avanço da extrema direita na Europa provoca temores, em um país com o passado trágico como a Alemanha, as preocupações são ainda mais intensas.
afd ganha popularidade com sua forte postura anti-imigração e anti-islamismo
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Jaime Spitzcovsky foi editor internacional e correspondente da Folha de S. Paulo em Moscou e em Pequim
HISTÓRIA DE ISRAEL
A “QUESTÃO DAS TERRAS” NA PALESTINA BRITÂNICA POR reuven faingold
No século 20 dois nacionalismos lutavam, sem trégua, no Oriente Médio, por um único pedaço de território: árabes e judeus pretendiam ocupar o lugar da Grã-Bretanha. Num disputado jogo de xadrez. quem soubesse movimentar melhor as peças seria o vencedor
A
“Declaração Balfour” é de grande importância na história judaica moderna, pois nesse documento a Grã-Bretanha declarava “encarar favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um Lar Nacional para o Povo Judeu”. No entanto, antes de apoiar a causa sionista, comprometia-se também com os árabes quanto à formação de um Estado único e independente.
questão da posse das terras de Eretz Israel. A suposta “usurpação das terras” pelos colonos judeus é um tópico constantemente utilizado pela propaganda árabe. A verdade, como veremos adiante, é que os judeus não usurparam as terras, mas as compraram de latifundiários árabes.
A CORRESPONDÊNCIA MC MAHON-HUSSEIN
Apesar de serem vagas e contraditórias as promessas britânicas, historiadores concordam que a “Correspondência Mc Mahon - Hussein”, os “Acordos Sykes-Picot” e a “Declaração Balfour” são os documentos que decidiriam o futuro do Oriente Médio após o desmembramento do Império Otomano no final da 1a Guerra Mundial.
Às vésperas da 1ª Guerra, o Império Otomano compreendia Síria, Líbano, Iraque, Palestina, Transjordânia ( Jordânia), parte da Península Arábica e Turquia. Em 1914, o Egito se tornaria oficialmente colônia inglesa. Em reação às mudanças geopolíticas, o sultão inicia uma “Guerra Santa” (jihad) contra os aliados1, estratégia comum para fazer com que os estados islâmicos se revoltassem contra o domínio anglo-francês.
Parece-nos adequado analisar esse intenso processo político ocorrido entre 1914 e 1917, pois envolve a
No momento da declaração da 1a Guerra, o mundo árabe se solidarizou com o Império Otomano, com a intenção de impedir uma maior penetração dos europeus na região e impossibilitar uma eventual conquista dos territórios islâmicos pelas potências cristãs. Os árabes aproveitariam esse apoio para ganhar, do governo turco,
NR. Em relação à história da 1a Guerra Mundial, usa-se o termo “aliados” para os países que assinaram uma aliança militar chamada a Tríplice Entente: o Reino Unido, a França e o Império Russo (a Rússia se retiraria após a Revolução Russa de 1917), para lutar contra os Impérios Centrais, o Império Alemão e a ÁustriaHungria, e o Império Otomano.
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HISTÓRIA DE ISRAEL
concessões e autonomia. No entanto, nas províncias árabes, assim como na Península Arábica, o anseio pela emancipação era maior e a diplomacia britânica trabalhava para o rompimento definitivo da unidade otomana. Os ingleses tentavam, a todo custo, enfraquecer internamente o Império Turco, incentivando a revolta das províncias árabes. O governo britânico, representado pelo Alto Comissário Sir Henri Mc Mahon, deu o aval para o ambicioso projeto do xerife de Meca, Hussein bin Ali Hussein: restabelecer
assegurasse a coroa do futuro Reino Árabe após a Guerra. Este movimento nacionalista árabe teve início em 1915-1916. A promessa de unificação e independência árabe era uma grande farsa diplomática, pois a Inglaterra fechara acordos paralelos com a França e a Rússia czarista.
OS ACORDOS SYKES-PICOT Os “Acordos Sykes-Picot” (1916), tratados entre os aliados durante a 1a Guerra, dividiram a Europa do pós-guerra e o Oriente Médio. Os acordos previam para Jerusalém uma administração internacional,
DA ESQ. À DIR.: General Edmund Allenby, o Primeiro Ministro e depois Ministro das Relações Exteriores Arthur J. Balfour e o Alto Comissário da Palestina, Herbert Samuel. Jerusalém, 1925.
um grande Estado árabe sob sua liderança. Ele pretendia criar um Estado árabe nacional reunindo a Península Arábica (com excepção de Aden), o Iraque, a Palestina, a Transjordânia e a Síria. Hussein completa a conquista da Península Arábica e o governo inglês aceita tal projeto, excluindo partes da Síria. Importante lembrar que Hussein prometera à Grã-Bretanha colocar seus exércitos tribais na campanha militar contra o Império Turco, desde que o governo inglês lhe
enquanto nas outras áreas do Oriente Médio dividiu-se a região entre as potências aliadas em zonas de influência política. Mais tarde a Rússia bolchevique sairia das negociações, ficando o acordo limitado aos interesses francobritânicos. Nas negociações sobre a Palestina otomana, o governo britânico iria utilizar-se das aspirações e pretensões sionistas para fazer frente aos interesses da França. Obviamente, as áreas seriam 70
divididas entre Inglaterra e França. Os planos de uma “Grande Síria” (incluindo a Palestina otomana) sob influência francesa era má ideia, principalmente para uma população judaica ligada à Inglaterra pelo reconhecimento e por necessidade. Esse seria um excelente motivo para os ingleses oficializarem seu apoio à causa sionista, fato que aconteceria no final de 1917.
A “DECLARAÇÃO BALFOUR” Em 2 de novembro de 1917, o Ministro de Relações Exteriores da Grã Bretanha, Lord Arthur James Balfour, comunicava ao representante da Organização Sionista Mundial, em Londres, Lord Walter Lionel Rothschild: “O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os esforços a fim de facilitar a realização desse objetivo; ficando, porém, claramente entendido que nada se fará que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas que vivem na Palestina, nem que prejudique os direitos e disposições políticas de que os judeus gozam em todos os outros países”. Com essa declaração o governo inglês legitimava seu apoio ao Sionismo e, automaticamente, impossibilitava o projeto de se criar um futuro “Protetorado francês” na Palestina otomana. A “Declaração Balfour” fortalecia as pretensões britânicas facilitando projetos imperialistas. A Palestina otomana foi, durante 400 anos, uma área estratégica. Ao sudoeste encontrava-se o Canal de Suez, um fluxo comercial e militar
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entre o Mediterrâneo e o Oceano Índico, rota marítima rumo à Índia e ao Extremo Oriente. A criação de um “Estado tampão” nessa área daria proteção ao Canal. A administração de Suez garantiria uma continuidade territorial do Egito até a Índia, fortalecendo a influência inglesa na região.
cooperar com a mesma nos assuntos concernentes ao Lar Nacional e aos interesses da população judaica. Assim, a Organização Sionista seria oficialmente reconhecida.
DESDOBRAMENTOS DA “DECLARAÇÃO BALFOUR” A “Declaração Balfour” contrariava os anseios das comunidades árabes do Oriente Médio e anulava os direitos prometidos às “comunidades não judaicas”. Os estudos são unânimes em afirmar que, após o desmembramento do Império Otomano, as chances dos árabes de “manterem sua nacionalidade” se de fato fosse criado um Lar Nacional Judaico” eram quase nulas. A imigração judaica era, pois, a “raison d´être” do Lar Nacional Judaico, empenhado em crescer a cada dia. A rigor, o maior problema era o político, pois o futuro Lar Judaico era sustentado por uma organização sionista sólida e com fundos advindos da filantropia. De acordo com os termos dos acordos concebidos pela Liga das Nações em 1922, a Grã Bretanha seria responsável pelo Iraque e a Palestina Otomana, enquanto a França ficaria com a Síria e o Líbano. Nos territórios otomanos do pré-guerra o único Estado independente que surgiria seria a República da Turquia, de Mustafá Kamal Ataturk. Com relação à Palestina, os historiadores apontam para uma preferência britânica pelos interesses sionistas. Assim sendo, a “Declaração Balfour” trazia em seu bojo a seguinte situação:
RECONSTRUINDO A TERRA DE ISRAEL, UM PORTO SEGURO PARA O JUDEU ERRANTE. POSTER PUBLICADO PELA CAMPANHA UNIDA PARA A PALESTINA, N. YORK 1927
A Palestina otomana seria governada e administrada pela potência mandatária (Art.1), a GrãBretanha. Esta se esforçaria para promover a autonomia local (Art. 3). O regime mandatário britânico assumiria a responsabilidade de instituir no país um estado de coisas políticas, administrativas e econômicas, de tal forma que se assegurasse o estabelecimento do Lar Nacional para o Povo Judeu (Art. 4). A Grã-Bretanha recomendava o reconhecimento de uma Agência Judaica para
Há ainda disposições promulgadas pela Grã-Bretanha relativas à colonização sionista, tais como “facilitar a imigração judaica, potencializar o estabelecimento intensivo de judeus sobre terras existentes” (Art. 6); “promulgar uma lei sobre a nacionalidade para poder facilitar a aquisição da cidadania palestina aos imigrantes sionistas” (Art. 7); e “introduzir um sistema de solo que contemple interesses da colonização sionista” (Art. 11). Obviamente, tais estipulações eram acompanhadas de cláusulas que “preveem a salvaguarda dos direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina, seja qual for a raça ou religião à qual pertençam”.
A “QUESTÃO DAS TERRAS” Atualmente, um dos argumentos mais frequentes da propaganda contra o Estado de Israel é que os judeus, ao chegarem à Palestina, em final do século 19 e início do 20, usurparam as terras dos habitantes árabes que lá viviam.
“Avodá Ivrit”, lema do trabalho judaico na Palestina britânica, c. 1920.
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Trabalho agrícola na Palestina britânica, 1920.
Os textos árabes, turcos e britânicos indicam exatamente o contrário: não só os judeus não se apropriaram indevidamente das terras, mas as compraram de vendedores dispostos a se desfazer das mesmas, ou seja, dos latifundiários árabes da terra, ou seja, seus proprietários por lei. A maioria das fontes históricas sobre o conflito árabe-judeu na Palestina britânica falam do Grão Mufti de Jerusalém, Hadj Amin Al-Husseini, o grande amigo de Hitler. AlHusseini - ideólogo do nacionalismo palestino - era um opositor do Sionismo. Aliado do Führer, o Mufti recrutou muçulmanos na Bósnia para alistá-los ao Wehrmacht, as forças armadas da Alemanha durante o Terceiro Reich. Ainda desenvolveu planos para, após a Alemanha invadir o Oriente Médio, criar campos de concentração na Palestina britânica. Ademais, rejeitou em 1937 as sugestões da “Comissão Peel” e ignorou em 1947 a “Partilha da ONU”, que determinava a criação de dois estados nacionais. Morreu no ostracismo, em Beirute (1974). Como o mais alto representante árabe da Palestina britânica, AlHusseini foi entrevistado em 1936 pela “Comissão Peel”, com a
finalidade de analisar as causas da violência entre árabes e judeus e sugerir possíveis soluções. Depois de meses de entrevistas com líderes dos dois lados, essa Comissão publicou seu relatório em 1937, recomendando um plano de partilha, com a coexistência, lado a lado, de um Estado árabe e um Estado judeu – recomendação adotada dez anos mais tarde pela ONU. A “Comissão Peel” propôs que 80% do território fossem para um Estado árabe e 20% para um Estado judeu. O Mufti, no entanto, rejeitou categoricamente a proposta, bem como todos os acordos de paz propostos. O relatório também discutia a presença dos judeus na Palestina e seu impacto sobre a terra e a economia árabes. Eis um trecho do Capítulo V do mesmo: “A população árabe mostra um crescimento notável desde 1920 e tem participado no aumento da prosperidade da Palestina. Proprietários árabes se beneficiaram com a venda de terras aos judeus..... Os fellahin (camponeses árabes) estão em melhor situação no seu conjunto do que em 1920. Este progresso árabe é, em parte, devido à importação de capital judaico para a Palestina e outros 72
fatores associados ao crescimento do Lar Nacional Judaico. Em particular, os árabes se beneficiaram com serviços sociais que não poderiam ter chegado à escala atual sem a receita obtida dos judeus. Terras cultivadas por estes últimos, onde hoje crescem laranjais, eram dunas de areia ou pântanos incultos quando foram comprados. Havia no momento da venda destas terras pouca evidência de que os proprietários possuíam os recursos ou treinamento necessário para desenvolvê-las. A escassez de terra lamentada pelos árabes é devida menos à quantidade de terrenos adquiridos por judeus do que ao aumento da população árabe”.
O MUFTI “CONFESSA” Em 12 de janeiro de 1937, Sir Laurie Hammond (1873-1939) entrevistou o Mufti, que insistentemente acusava “os sionistas de roubarem terras árabes”. Na ocasião, ele fez uma confissão inédita e surprendente: Sir L. Hammond: V.S.poderia me dar novamente os números para a aquisição de terras? Eu quero saber quanta terra foi comprada pelos judeus antes da ocupação britânica. Mufti: Cerca de 100 mil dunams. Sir L. Hammond: Em que ano? Mufti: Na data da ocupação britânica. Sir L. Hammond: E agora quanto eles detêm? Mufti: Cerca de 1,5 milhão de dunams, dos quais 1,2 milhão estão registrados em nome dos titulares judeus. Há 300 mil dunams que são tema de discussão para acordos escritos, e que ainda não foram registrados. Isso não significa, é
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claro, os cerca de 100 mil dunams atribuídos originalmente. Sir L. Hammond: Quais 100 mil dunams foram atribuídos? Eles não estão incluídos no 1,2 milhão de dunams? O ponto é este. Você diz que em 1920, no momento da ocupação britânica, os judeus só tinham 100 mil dunams, é isso? Consultei os dados do Registro Predial. Você se surpreenderia ao saber que não foram 100 mil, mas 650 mil dunams? Mufti: Pode ser que esta diferença se deva ao fato de que muitas terras foram compradas em contratos que não foram registrados. Sir L. Hammond: Há uma diferença enorme entre 100 mil e 650 mil... Mufti: Em um dos casos, foram vendidos cerca de 400 mil dunams em um só lote. Sir L. Hammond: Quem vendeu? Um árabe? Mufti: Sarsuk. Um árabe de Beirute. Sir L. Hammond: Você quis passar [aos britânicos] a ideia de que os árabes foram expulsos de suas terras e suas aldeias foram varridas. O que quero saber é se o Governo da Palestina, a Administração, adquiriu as terras para, em seguida, passá-las aos judeus? Mufti: Na maioria dos casos, as terras foram adquiridas. Sir L. Hammond: Eu quero dizer, foi uma aquisição compulsória de terras, para uso público? Mufti: Não, não foi. Sir L. Hammond: Não foi aquisição compulsória?
Tempo da colheita no kibutz, s.d
Mufti: Não. Sir L. Hammond: Mas estes cerca de 700 mil dunams foram efetivamente vendidos? Mufti: Sim, eles foram vendidos, mas o país foi colocado em condições tais que facilitassem essas compras. Sir L. Hammond: Eu não entendo muito bem o que você quer dizer com isso. Estas terras foram vendidas. Quem as vendeu? Mufti: Os proprietários de terra. Sir L. Hammond: Árabes? Mufti: Na maioria dos casos, eles eram árabes. Sir L. Hammond: Eles foram compelidos a vendê-las? Em caso afirmativo, por quem? Mufti: Como em outros tantos países, há pessoas que, por força das circunstâncias, forças econômicas, vendem suas terras. Sir L. Hammond: Isso é tudo que você tem a dizer? Mufti: Uma grande parte dessas terras pertencia a proprietários 73
ausentes, que venderam a terra sem qualquer consideração sobre seus inquilinos, os quais foram despejados à força. A maioria destes senhorios estava ausente. Não eram palestinos, mas libaneses. Sir L. Hammond: Você pode dar à Comissão a lista das pessoas, os árabes que venderam terras, além destes proprietários ausentes? Mufti: Sim, é possível fazê-lo. Sir L. Hammond: Como você compara o padrão de vida atual com aquele que existia sob o domínio turco? A posição dos fellahin melhorou ou piorou? Mufti: De um modo geral, acho que sua situação piorou. Sir L. Hammond: Os impostos eram mais pesados ou mais leves? Mufti: Os impostos hoje são menores, mas agora existem encargos adicionais. Sir L. Hammond: O que estou perguntando-lhe é se, nos dias de hoje, os fellahin não têm um imposto muito mais leve do que tinham sob o governo turco. dezembro 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
Mufti: A tributação hoje é mais leve, mas os árabes, no entanto, têm outros impostos. Por exemplo, alfândega.
PALAVRAS FINAIS
Sir L. Hammond: E a condição dos fellahin no que diz respeito, por exemplo, à educação. Há mais escolas ou menos escolas agora? Mufti: Eles podem ter mais escolas, comparativamente, mas, ao mesmo tempo, houve aumento populacional. Não apenas a entrevista do Mufti, mas uma análise da venda de terras desde 1880 até 1948 nos mostra claramente que 73% das terras compradas por judeus pertenciam a latifundiários árabes. Em “The Land Question in Palestine: 1917-1939”, Kenneth Stein afirma que os judeus conseguiram comprar o núcleo do Lar Nacional por três razões: primeiro, tinham a obstinação e o capital para comprar terras; segundo, os árabes estavam dispostos a vender suas terras; e finalmente, os britânicos foram ineficazes em não
Caixinha de doações do FUNDO NACIONAL JUDAICO, KEREN KAIEMET LEISRAEL (KKL). LONDRES
saber intermediar a venda de terras, protegendo os inquilinos árabes. Para Stein, nem a oposição árabe à venda de terras, nem as tentativas britânicas de regular a aquisição de terras limitaram as vendas: “Houve sempre mais terra árabe para vender do que fundos judaicos para comprar. Na verdade, muitas das terras foram vendidas por políticos árabes que eram publicamente contra o Sionismo e até mesmo organizaram agitações contra a aquisição de terras por judeus”.
Na relação “tripartite” entre britânicos, sionistas e árabes, na Palestina, é evidente que as falsas promessas dos ingleses visavam “burlar” tanto judeus quanto árabes. A realidade dos anos 1917-1947 permitiu aos judeus tomarem consciência de que um sonhado “Lar Nacional” seria possível somente com a imediata posse da terra, trabalho produtivo e consolidação de uma liderança que representasse os interesses sionistas na Palestina. Por sua parte, a liderança árabe da Palestina não entendeu que os britânicos também queriam ajudálos, mas que, para isso, deveriam organizar-se e “autogovernar-se”, criando instituições representativas, construindo estruturas econômicas sólidas e administrando suas terras. Hoje, um século após a “Declaração Balfour”, os árabes pagam um preço alto por não terem percebido o processo competitivo entre duas nacionalidades em que, quem se organizasse e tomasse a iniciativa, seria o vencedor.
BIBLIOGRAFIA
Granott, A., The Land System in Palestine. London, Eyre and Spottiswoode, 1952. Kleiman, A., “The Palestine Royal Comission: 1937”. Garland Publications, 1987. Sachar, M. Howard, A History of Israel from the Rise of Zionism to our Time. Alfred A. Knopf, 1976. Stein, K., The Land Question in Palestine, 1917-1939. University of North Carolina Press, 2009.
Prof. Reuven Faingold é historiador e educador; PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. é responsável pelos projetos educacionais do “Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto” de São Paulo.
Entrada de um kibutz no Neguev, sul de Israel.
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Queremos parabenizar a direção da Morashá pela publicação do artigo “Ética Médica Nazista”, escrito pelo Dr. morton scheinberg na edição 97, de setembro de 2017. A leitura deste artigo de grande valor informativo nos conscientizou ainda mais sobre as atrocidades do regime nazista. Enea Wainstock Raanana, Israel
Extremamente interessante a matéria sobre Ética Medica Nazista, que acabei de ler on line. Muito perturbador saber que dois médicos de renome foram nazistas. Adorei a matéria sobre a Polônia. Parabéns! Max Rotenberg Rio de Janeiro - RJ
Sou professor de História e Filosofia e acabei de acessar o site, não conhecia. Ao ler as chamadas dos textos fiquei impressionado com a quantidade de material à disposição, parece uma enciclopédia judaica. Ao ler alguns dos textos achei as matérias muito instrutivas e gostosas de ler. Vi que traz assuntos dificilmente encontrados com tamanha clareza e profundidade em outros sites. Meus parabéns. Ao ler a matéria “Significado dos alimentos simbólicos de Rosh Hashaná”, entendi o porquê de usarmos esses alimentos; sempre achei que era apenas um folclore. Me interessei muito sobre o Krav Maga, e achei a matéria sobre a Polônia muito interessante. Meus avós são poloneses e nunca quiseram nos contar sua história.
Recebo a revista Morashá, mas quero que minha filha, Marcia Rakoski, comece a recebê-la porque meu neto está se interessando em continuar nosso legado como judeus. Simão Stainer Paranavaí - PR
Meus profundos agradecimentos pelo lindo trabalho de tantos anos de dedicação. Digo isto, pois, retomei as edições Morashá de setembro dos quatro últimos anos, com as suas mensagens, fotos, qualidade gráfica e, sobretudo, a profunda inspiração nas entrelinhas. Queria me sentir acolhida à distância, ler em português as mensagens e ao mesmo tempo partilhar a alegria de estar em Jerusalém pensando em toda a equipe, neste instante. Profunda gratidão é a minha partilha. Que o brilho desta revista continue por muitos anos. Sylvia Lakeland Jerusalém - Israel
Há muitos anos recebo a Morashá e a considero a melhor revista da comunidade, tanto pelo conteúdo como na produção gráfica. É um orgulho ter esta revista na comunidade, continuem assim.
Renovo o entusiasmo por esta Revista. Além da bonita apresentação, seus artigos habilmente selecionados, entre os quais, a Carta ao Leitor; detalhes importantes sobre a Guerra de 1967 e a Batalha de Jerusalém. O que mais me impressionou foi o fato de rabinos ajudarem seus alunos a cavar trincheiras. Todos os demais artigos publicados são, como sempre, muito interessantes e servem para esclarecer conhecimentos e dúvidas. Aos componentes desta portentosa publicação, minha constante admiração.
Flavio Derdyk São Paulo - SP
Prof. Maurício Ary Jalom Rio de Janeiro - RJ
Marcio Kolipstein Por e-mail
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Recebemos o material enviado a esta Fundação, em cumprimento à legislação vigente de Depósito Legal. Agradecemos esta importante contribuição para a preservação e a guarda da Coleção “Memória Nacional”, composta pela produção intelectual do País. Alessandra Moraes Chefe da Divisão de Depósito Legal Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura Rio de Janeiro - RJ
Essa revista é tão maravilhosa que quando terminamos de lê-la, ficamos querendo mais e mais. Revista fantástica em conteúdo e em apresentação. Parabéns a todos. Joanna Quintana Por e-mail
Conheci a Morashá através do Nº 97, Setembro 2017, em uma Biblioteca Pública do Rio de Janeiro. Parabéns! Matérias de alta qualidade, e tudo apresentado com um bom gosto único. Vera Regina Affonso Basilio Rio de Janeiro - RJ
Quando bem jovem ainda, na Bélgica, visitei Israel e fiquei um pouco mais de um mês no Kibutz Ein Carmel, perto de Haifa. Tive assim a sorte de conhecer melhor esse ideal de vida compartilhada que, infelizmente, já começava a receber fortes críticas da geração mais jovem. Leio a Morashá com muito interesse. Dra. Theresa Calvet de Magalhães Belo Horizonte - MG
dezembro 2017