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bagunça is business baladões universitários rendem cinco dígitos
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Index LibrorVm ProhibitorVm ....................................................... ....................................................... ....................................................... ....................................................... ....................................................... ......................g................................ Bagunรงa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Bukowski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Odisseia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Perfil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Inferno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Filmes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Discos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Barcelona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 ....................................................... ....................................................... ....................................................... ....................................................... ....................................................... .......................................................
editorial mais que pauta A matéria de capa da Naipe dois estava há muito decidida: diversos especialistas americanos avaliam que o vício em pornografia virtual tem alterado, e alterará cada vez mais, a maneira como nos relacionamos. Da expectativa de que a namorada aja como uma menina do site de bagunça sexual universitária Girls Gone Wild à preferência por sexo na webcam em vez do real, o infinito bufê pornográfico online afeta significativamente nossos comportamentos. Alguns psicólogos e psicanalistas discordam. O assunto é mais que pauta. Enquanto produzíamos a matéria, o romance Pornopopéia (Reinaldo Moraes) chegou à redação e um outdoor sobre pompoarismo se materializou na frente da repórter da Naipe Rosielle Machado. Entre outras coisas do gênero que não poderíamos deixar passar. Os mais pudicos, portanto, talvez vejam nesta Naipe tintas sexuais um pouco carregadas. Mas é só passear os olhos com calma pela edição para se deparar com assuntos bem variados. Tem Barcelona abordada da perspectiva das obras de Gaudí, Florianópolis da perspectiva do inferno de Dante, discos novos do Aerocirco e da Sociedade Soul, matéria sobre a noite como negócio, o perfil de um promoter e muito mais. Enfim, há janelas com todo o tipo de conteúdo. Basta navegar pelas que se preferir.
Boa leitura, abraços! Thiago Momm, editor-chefe
06 • n a i p e
A Naipe é uma publicação da editora Naipe Comunicações Ltda. Redação, administração, publicidade e correspondência à rua Victor Meirelles, 600, Kobrasol, São José.
Diretor executivo: Marlos Momm; Diretor administrativo e de publicidade: Thiago Steiner; Editor-chefe: Thiago Momm, thiagomomm@ revistanaipe.com; Repórter fotográfico e editor: Jerônimo Rubim, jeronimo@revistanaipe.com; Repórter: Rosielle Machado, rosielle@revistanaipe.com; Executiva de contas: Daniele Marchi, comercial@revistanaipe.com; Direção de arte: Lobotomáticos, info@lobotomaticos.com; webdesign revistanaipe.com: In Vitro Digital. Foto da capa: Gabriel Rinaldi. Impressão: Coan. Jornalista responsável: Thiago Momm, MTB 45919/SP.
FALE REALMENTE CONOSCO: Para resmungos e sugestões, fale com nossos editores pelo tel. (48) 3035-4969 ou o e-mail naipe@ revistanaipe.com. Para anunciar, fale com nosso diretor de publicidade Thiago Steiner, (48) 7811 4700, thiagosteiner@ revistanaipe.com.
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A supremacia do dogão Viva o hot dog!!! Isso porque vocês não comeram o de São Paulo! 16 ingredientes é pouco! Vou tentar listar: pão, salsicha, calabresa, bacon, molho de carne moída, purê de batata, cenoura ralada, beterraba, repolho, tomate, cebola, pimentão, milho, ervilha, ovo cozido (normal, não
de codorna!), maionese, catchup, mostarda, shoyu, molho de alho, tempero verde, batata palha, queijo ralado... ufa, tô cheia! Renata Furtado, no site
O anjo da noite A criatividade de Gay Talese mandou lembranças. Copiar ideias é fácil. João Silva, no site
Você também acha que a gente copiou alguém? Até gostou de alguma matéria? Escreva para naipe@revistanaipe.com
artesãos desta edição Gabriel Rinaldi é fotógrafo freelancer em São Paulo, onde faz capas e matérias de revistas como Trip, TPM, Exame. São dele as fotos da reportagem de capa da Naipe. Rosielle Machado é repórter da Naipe e do revistanaipe.com. Assina a matéria “Bagunça is business” (p.18). Ariela Diniz é formada em Jornalismo pela UFSC e faz pós-graduação em Moda. Ana Luiza Trentini é publicitária e produtora
de um programa de TV. Foi delas a produção de “Amores acres” (p.22). Jerônimo Rubim, editor da Naipe, fez as fotos de “Amores acres” (p.22). Thiago Momm, editorchefe da Naipe, assina “Pornificados” (p.26). Melina Savi é tradutora, mestre em cinema e estudos culturais. É dela a resenha sobre o maroto livro Pornopopéia (p.48). Marcelo Silva, músico e publicitário, foi apresentador
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de programas da its na RIC Record e na Jovem Pan. Nesta Naipe comenta os CDs da Aerocirco e Sociedade Soul (p.45). Jaqueline Januzzi, jornalista, faz pós em comunicação empresarial em Barcelona. É dela o texto “Nos rastros do mestre” (p.50). A arte da Naipe cabe à Lobotomáticos, estúdio de criação dos irmãos Bruno e Diogo Rinaldi. Contato: ladodireito@ lobotomaticos.com
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minikalzone.com.br
revistanaipe.com
Naipe na tela
Começou saidinho o revistanaipe.com. O site entrou no ar 21/6. No dia seguinte, foi acessado por 385 computadores diferentes, e ao final da primeira semana já somava mais de 1000 acessos. A Naipe sabe que vivemos tempos blefadores, havendo por aí muito patife que se alardeia mais visitado do que é. Portanto conferimos todos os números do revistanaipe.com no Google Analytics. As matérias de baladas estão entre as mais lidas. Todos os dias há material inédito. E, o que é melhor, você pode comentar na hora o que publicamos.
Rola até o dia 1º de setembro a promoção Street Air Mormaii. É só entrar em revistanaipe.com, clicar no link da promoção e dizer, da maneira mais criativa possível, por que você usaria o óculos Street Air da Mormaii. Também está valendo, até 30/9, a promoção Língua na Faixa Yázigi. A Naipe e o Yázigi te dão um ano de um curso de línguas. Diga por que merece tamanha regalia e, se você for o mais criativo dos participantes, leva!
Óculos e línguas
Sopão•frases & the big book
zumbido Frases bisonhas ouvidas este mês
“Quero ver fôlego, hein!” Do promoter Leo Ventura, em e-mail convocando meninas para esquentas do festival eletrônico Winter Play
“Se o meu marido pedisse, eu relinchava.” Faxineira de uma agência publicitária, encantada com o mundo animal
“Não é só levar pro motel. Tem que criar um enredo.” Um amigo da redação
“saramago morreu, geisy arruda vai lançar um livro. viu, ninguém é insubstituível.” @cherguevara, no Twitter
ordem de grandeza Catálogos vendem bundas, peitos, pintos e pernas grandes A editora internacional Taschen, especializada em livros de arte, lança outro título da levada série The Big Book. Depois de The Big Book of Breasts (2006), The Big Penis Book (2008) e The Big Book of Legs (2009) é a vez de The Big Butt Book. O título recém-lançado pesa mais de três quilos e mescla mais de 400 fotos a entrevistas com personalidades como o ator pornô John Stagliano e até a Mulher Melancia. Custa r$ 159,90. Os outros três saem r$ 215,91 cada. Sim, muita grana, mas a Taschen também vende calendários e diários baseados nos mesmos assuntos, na faixa de us$ 15. O texto-divulgação do livro das pernas destaca o fato de ter havido revistas apenas sobre elas nos anos 1960. Já o dos pênis diz que apenas 2% dos pintos mundiais vencem a barreira dos 20 cm e conclui que “ao contrário de ombros largos ou cabelos compridos, um pênis grande nunca sai de moda!”. Para encomendar mais facilmente, vá à livraria.folha.com.br; para conferir algumas fotos, à taschen.com.
12• n a i p e
Mosquito prepara mais um tijolo do seu blog
Vuvuzela virtual
Blogueiros indignados de Florianópolis fazem barulho A blogosfera ilhoa tem borbulhado. O controvertido e bagunçado tijoladasdomosquito.com.br lidera em popularidade. Impulsionado por denunciar suposto estupro envolvendo filhos de pessoas influentes, acumulou 223743 acessos, média supimpa de 7458 visitantes/dia. O blog foi parar até no “Domingo Espetacular”, da Record nacional, depois de uma visita de Paulo Henrique Amorim a Hamilton Alexandre, o Mosquito. O inseto também antecipou o escândalo do superfaturamento da árvore de Natal da ilha ano passado. Muita gente desaprova (ou desconfia da veracidade), mas tiradas como “Dário é um prefeito meliante, putrefante (sic) e itinerante” já tiveram apoio em massa. “Santa Catarina tem uma mídia porca e comprometida”, esbraveja o inseto para a Naipe. Mais educados mas também contundentes são o Blog do Canga (cangarubim.blogspot.com) e o Tempero & Apimentadas (emeirajunior.blogspot.com), que, além das reminiscências pessoais, levantam denúncias e lançam acusações contra os homens de terno.
Sopão•botecos & bocadas
Sushi, sashimi, sake, vibe Restaurante japonês da Barra da Lagoa se divide entre o pop e o naïf
O Sushi Roots da Barra da Lagoa tem um combinado incomum. Não de sashimis, nigiris, uramakis e kapamakis, mas de sossego, vista para a Lagoa da Conceição, preço um pouco abaixo do mercado, boa comida e digestão no deque observando as estrelas. O apelo é tão óbvio que a casa se anunciou pouco em dois anos e meio – uma propaganda no Warung Waves, programa da rádio Atlântida, e ficou por isso. O resto foi boca-a-boca. Foi boca-no-ouvidinho para ganhar pontos com aquela gata que ainda não conhecia um lugar tão legal, afastado, naïf. A Naipe pede desculpas por espalhar o segredo. O Sushi Roots não se trombeteia muito porque nem pode atender muita gente. Na parte interna cabem cerca de 30 pessoas, e na descoberta também. Com 40 clientes o lugar já parece abarrotado. O público tende a atingir esse número nas quintas, um dos dias (os outros são domingo e segunda) de festival de sushi e sashimi liberados. Para ter aquele sossego, vá na terça. A saquerinha de morango (r$ 10) e o combinado “Sushi Sashimi Simples” (44 peças por r$ 50) são boas pedidas. Os temakis, mesmo saborosos, são superados por um ou outro na cidade.
No começo, o festival custava r$ 25 para mulheres e r$ 30 para homens; hoje, r$ 32 e r$ 42. “Aí o pessoal já tinha se tornado cliente”, protesta sorrindo Alisson, um antigo frequentador. O Sushi Roots se chama assim porque foi aberto num lugar roots – um canto da marina da Barra. Construído o acesso e ganha a clientela, o adjetivo faz menos sentido. Com o retorno, outra unidade foi aberta na Lagoa, mas ela simplesmente não tem o mesmo apelo. Vai lá: O Sushi Roots da Barra da Lagoa, em Florianópolis, fica na Servidão dos Coroas, 41; sushiroots.com.br
Faro de perdigueiro Universitários encontram ponto ideal para abrir happy hour Não houve uma “pesquisa de mercado elaboradíssima”, mas houve um faro de perdigueiro na decisão do estudante Felipe, da Administração da UFSC, de abrir o Centro Social da Cerveja. O bar fica em uma das principais saídas da universidade. Felipe reuniu os também alunos da Administração Alex, Lucas e Sérgio e eles compraram o ponto. Um fluxo ininterrupto de estudantes passa por lá, e onde no meio do caminho havia uma esquecida hamburgueria hoje rolam muvucados happy hours. O bar lota com 120 clientes sentados e mais um punhado em pé, o que já vem acontecendo quintas, sextas e sábados.
O Centro Social da Cerveja abriu 15 de junho. A ideia foi aproveitar os jogos do Brasil na Copa, e até sermos eliminados pelos holandeses a coisa funcionou: primeiro jogo, depois banda. O furdunço garantiu mais de 10 horas de movimento nesses dias – e vários copos quebrados no primeiro jogo. “Depois usamos de plástico pra aguentar a raça”, conta Sérgio. O cardápio tem Brahma, Skol e Antartica litrão por r$ 4,50, long necks da Eisenbahn por r$ 6,50 e muitas outras cervejas. Para quem estiver mal intencionado, uma garrafa de Smirnoff custa r$ 50, metade do preço cobrado por casas noturnas. Após o fim da Copa o Centro Social passou a alternar samba-rock e forró universitário aos domingos. Sérgio, que como seus sócios nunca tinha tido um negócio, diz que os bares, em Florianópolis, falham “no atendimento, na educação”. Se o garçom não te tratar com carinho chame Sérgio, e não funcionando, chame a Naipe. Vai lá: o Centro Social da Cerveja, na ilha, fica na avenida César Seara, número 1, na Carvoeira.
s o p ã o • 15
Sopão•bol ão & Pompoar
Quero ver pontos Site de palpites boleiros da ilha já soma 10 mil cadastrados Tem quem queira ver gol do próprio time. Tem quem seque o jogo alheio. Para os 10 mil cadastrados no querovergol.com.br – lançado em janeiro na ilha, onde não havia nada do gênero – importa mais é um placar que dê pontos e depois carros, câmeras fotográficas, iPhones e outros prêmios. Além da seção de palpites o site tem notícias, vídeos e musas da torcida. Claro:
onde tem futebol e mulher tem homem palpitando sobre uma coisa e outra. O posto de primeiro lugar no ranking do Quero ver gol, porém, é feminino. No começo do Brasileirão, a paulistana Patrícia Martins, 18, uniu seu conhecimento de futebol ao do namorado e começou uma história de palpites bem-sucedidos – já ganhou um celular. Na copa, acumulou 2188 pontos e levou um Gol 0km. Ficou feliz. Menos com Brasil e Holanda. Patrícia apostou na vitória do Brasil. Queria ver gol – não contra.
A pompa do pompoarismo
Técnica milenar voltou com tudo: está nos sex shops, nas livrarias, na mulher ao lado na fila
fortalecer os músculos vaginais com movimentos que aumentam o prazer do casal no sexo.
Começou com um cochicho, evoluiu para uma conversa num café, virou propaganda na internet e agora é um outdoor em área nobre da ilha. A moda do pompoarismo voltou e baixou em todos os lugares: sex shops, livrarias ou naquela mulher ao seu lado na fila do banco (treina-se em qualquer lugar). A técnica milenar consiste em
“Inércia é igual a atrofia!”, brada Regina Racco, autora do Livro de Ouro do Pompoarismo – ginástica íntima para uma vida mais feliz, no seu site, o Pompoarte. Elaine da Cruz fez um curso e exercita 15 minutos por dia. “Com dedicação você pega o jeito logo”, orgulha-se ela, que hoje usa o pesinho de 45 gramas. Os pesos da musculação íntima variam de 20g a 70g.
Mas pompoarismo não é só prazer. Pompoar é investir em qualidade de vida, dizem os anúncios. A técnica é usada inclusive para tratar e prevenir incontinência urinária e queda do útero e da bexiga. A maioria das pompoaristas, no entanto, quer novidade sexual, mesmo. A maior dúvida é quanto tempo se leva para chegar ao ápice da prática, uma espécie de posto de grã-mestre do pompoar – a sucção. Isso aí: uma espécie de sexo oral feito com a vagina.
Sopão•night
bagunça is business Com lucros de cinco dígitos, megabaladões universitários dão tanta alegria aos organizadores quanto ao público por Rosielle Machado
Linguicete da Automação, tradicional boneco da festa, comemora lucros
Chapinha em quase 90% dos cabelos e sete saias de cintura alta por metro quadrado. Dez anos atrás, roupas mulambentas e olheiras pós-prova. Quando surgiu, a Pato Loko era outra. Assim como Linguição, Choppada da Esag e outras farras universitárias de Florianópolis, tudo começou como um humilde churrasquinho de turma para desestressar e, com sorte, dar dinheiro. Hoje, essas festas de curso viraram uma bagunça estrategicamente organizada – com lucros na casa dos cinco dígitos. Fazer festa pra universitários é que nem fazer bolo. Todo mundo tem a receita, mas não é qualquer um que leva jeito. O combo banda + DJ + músicada-moda + cerveja costuma ser apontado como fórmula da festa serelepe perfeita. “A música é um grande atrativo, tem que pensar bem. No nosso caso o foco é o funk”, orgulha-se Fernando Silva, organizador do Linguição da Automação.
Bargirl se assusta com a sede dos Patos Lokos
n a i p e • 19
Na última edição, em maio, foram r$ 30 mil de lucro. A grana vai toda para a formatura da 9ª fase, responsável pela organização. E se engana quem pensa que dá pra pagar tudo. “Não é suficiente, mas cobre boa parte”, diz Fernando. “O pessoal tá ficando ganancioso, hein?!”, se espanta Antônio Meirelles, co-fundador do Linguição quando era formando, em 2002. Vaidoso da cria, ele nunca imaginou que um churrasco com 300 pessoas e r$ 700 de lucro cresceria tanto. Fica contente em saber que nas 15 edições os organizadores não fugiram muito do que sua turma arquitetou: uma festa no domingo, open linguiça com pão, ingresso barato e cerveja a um preço amigo. Para manter a tradição, resiste-se a propostas de promoters. A festa continua organizada por umas 35 pessoas do curso, que se reúnem durante seis meses para
Organizadoras ensandecem sob funk no palco da última edição da Pato Loko
discutir questões-chave como “com quantas linguiças se faz um Linguição?”. O consenso: 550kg. E mais 20 mil latas de cerveja, 6 mil pães, 150 garrafas de vodka e 36 tequilas. Já o pessoal da Pato Loko, da Odontologia da UFSC, aceitou ajuda de profissionais para não enlouquecer. Na última edição, o promoter Anjinho dividiu os lucros com a 4ª fase, que cuida da festa. Ainda assim, sobrou o equivalente a um ano de mensalidades da formatura.
Melhor que estágio Primeira grande festa universitária da região, a Choppada da Esag, 21 anos de existência, vai na contramão da tendência megaevento. A Esag se convenceu de que o importante é ser feliz. Hoje anda mais tímida, no máximo 3 mil pessoas. Muito pouco para quem já teve 15 mil de público, mas a ideia é que o evento Nathália Naspolini no Linguição
volte a ser para os esaguianos. O lucro não é revelado; em 2006, diz-se que foi próximo de r$ 60 mil. Mesmo assim, a Esag continua levando a Choppada muito a sério. “Hoje a gente olha a festa como uma experiência profissional que nenhum outro estágio dá”, empolga-se Luiz Guilherme Noudin, presidente do Diretório Acadêmico. Desse tipo de experiência brotaram duas empresas comandadas por alunos da Administração da UFSC: a Admanguaça e a Cromo Eventos. Pros quatro integrantes da Admanguaça juntos, uma festa já rendeu r$ 20 mil. O segredo é estar dentro da universidade. “Quando sairmos daqui não sabemos o que vai acontecer. É muito difícil conseguir público sem poder estar no ouvido todo dia convidando”, diz Luiz Durli, estudante e sócio da empresa. Mas o mundo da organização de eventos é ingrato e o dinheiro que chega é o mesmo que dá adeus. Na última
Rafael Escrich dança na Pato Loko
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“Luiz garante que honra o nome Admanguaça, mas só na festa dos outros: ‘Nosso trabalho é cansativo e intenso’”
festa da Admanguaça, a Caloucura, se esperava lucro recorde. Por causa de problemas com o local, a micareta só rendeu incômodos. “Se uma pessoa que gastou r$ 15 no ingresso ficou chateada com a mudança de data, imagina a gente, que passou meses em cima de um projeto que no final deu megaprejuízo?”, desabafa Luiz. Para Fernando Ligório, da Cromo Eventos, essa abundância de pândegas não é tão positiva. “Todos os cursos querem a sua grande festa, mas isso pode gerar saturação”. Em outras palavras, banalizar. Principalmente porque são todas muito parecidas. “É difícil inovar quando o público é sensível a preço”, explica Fernando. Mesmo assim a Tourada Mecânica, por exemplo, tem sushi.
Liliane Grando, professora de Patologia, tem o costume patológico de guardar todas as camisetas da Pato Loko; a festa surgiu depois de uma prova estressante da disciplina
Nem Fernando nem Luiz dizem aproveitar alguma coisa das próprias festas. Luiz garante que honra o nome “Admanguaça”, mas só na festa dos outros: “Nosso trabalho é cansativo e intenso”. Combinar business with pleasure é coisa do pessoal do Linguição. Converse com quem trabalhou no bar e verá sorrisos e olhos nostálgicos. Com tequila liberada para as mulheres por uma hora, até os ocupados unem o útil ao peralta. Às 15h, na última edição, quando a tequila liberada acabava e as mulheres se mostravam dispostas a tudo por mais um gole, um ex-aluno da Automação apareceu. Tinha vindo do Rio de Janeiro especialmente para o Linguição e exigiu uma camiseta. Ninguém entendeu. Ele explicou: “Acha que eu vim pra ficar no meio da festa? Quero trabalhar no bar, lógico”.
Leia mais sobre baladas
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Galegas no Linguição
Resultado da tequila liberada no Linguição
Sopão•estilera
Sandra magra é alta e rto do qua la e z n do o cos o vestid g de brin n lo por um coberta pre alta m e s á t es lto s de sa o t a p a em s espírito boletas
trago em (...) o bem it u m a fic Sandra s e s longo elment v o a id v t s o r e p v rtir ode pa p a r d n Sa homem m u e d ão m o coraç ontre u c n e la que e espero
s e r o m a res c a
Inspirada no livro “O amor é um cão dos diabos”, a Naipe mistura moda à poesia junkie feita em quartos de hoteis pelo escritor beatnik Charles Bukowski
ti u e m Co
rro e m
rio má r a do
a eleir t a r ap l ltim azu ú a a h é in at calc uei a q i t m u es me e lá e d i xe la e pu trei a e suas?” o os . “sã se, em i e t ela” vi is n d u d a g e r c a u a pe não er d olho s e a i l o em ee se f dev a l , e o o “nã diss s i o . dep ntão e e e d des mo s i s l a a ru nt , las (...) orar entime e h p c s lo e circu passo d de meu o a um onhad r. erg env el amo sív pos
Bolsa Doc Dog (r$ 320); vestido longo (Pin Up); sapatos (M.Officer) e acessórios de acervo pessoal.
Camisa xadrez Garagem Korova (r$ 139); calcinhas (Renner) de acervo pessoal.
da a retira comigo u o b a c a negócio o z e v desta erto (...) a tão p v a t s e a vitória o ali espelho g u lo e a m v do esta diante li a a vitória a v a st to ela e ue a enquan la do q e nhecer b o c e já m e u v ee mais jo lher qu u m a r t er ou qualqu (...) se foi la e a r o ag . se vão. s a comigo d o u t o o b a m c a co negócio o z e v desta
T-shirt Everlast (r$ 59); Saia longa (Totem), colete e colares de acervo pessoal.
Bolsa Doc Gog (r$ 320); vestido branco algodão (Zara); colete pele (C&A), brinco único (feirinha hippie) e pulseiras de acervo pessoal.
garota em ve s calmas e stidos li de alg mpas odão
e s t i l e r a • 25 rotas a g m ns co e m o tos h pas em n a t m vejo as e li ão o lgod a calm e nã e u d q s s do rostos ou de vesti m o a c tas redador o r a p g de são . lher. r feras u m oa lhe ma b boa mu (...) u e de ma iso d uina q prec ciso de u á o m Pre e da do que d de u q que do mais o s d i a m rever, ais el, m v esc ó m auto u e m art á Moz a est ndo? l e a t e exist ontra plane c a l n e (...) t e e s e e de ei qu mm arte a p u n i e Eu s t u n em q putas co s a M as anto u q n E
Produção: Ariela Diniz e Ana Luiza Trentini; modelo: Camila Bento/Ford Models; fotografia: Jerônimo Rubim; locação: 1007 Boite Chik, Florianópolis; 1007boitechik.com.br; maquiagem e cabelo: salão Lady & Lord.
Odisseia 26 • C a p a
virtual Convidando à exploração perpétua, pornografia na internet afeta sexo real, amplia limites e divide especialistas por Thiago Momm, com fotos de Gabriel Rinaldi Alarmistas, os americanos já vieram com testes, livros, 12 passos, associações. Um pouco mais tranquilos, nós brasileiros aos poucos tiramos a mão do mouse para refletir: uma editora menor traduz um best-seller, revistas publicam algumas coisas, esposas pedem ajuda, religiosos prometem cura. Fora iniciativas assim, o país ainda não atingiu a preocupação dos EUA com a pornografia virtual. No Brasil, 61% das pessoas de 18 a 24 anos acessaram conteúdo pornográfico em abril. O total de internautas brasileiros que visita sites pornôs é 10,2 milhões, contra 2,3 milhões em 2003. Nesses sete anos, o tempo médio mensal de navegação de pornografia aumentou de 19 para 55 minutos. Impressionem ou soem vagos, esses números não são tão importantes quanto um zoom na vida dos usuários. Um músico americano de 28 anos saliva que “antes não era possível contemplar todos os formatos de seios na vida real enquanto se vivesse”, mas que agora, “graças à [série] Girls Gone Wild, é”. Os
internautas entrevistados pela Naipe não consideram 2h diárias de navegação pornográfica um excesso e creditam a elas quase tudo que sabem sexualmente. Uma menina se diverte conhecendo vários pênis por dia na webcam sem ligar a sua para provar que é mulher. Se o filme pornô tinha começo e fim, o conteúdo online só tem começo, oferecendo a partir daí o que um usuário chama de “odisseia, exploração perpétua” – uma empolgação, ou quase obrigação, de catalogar mentalmente o máximo de imagens sexuais. Difícil, já que os 400 filmes anuais regulares de Hollywood perdem de longe para os 11 mil filmes pornôs oficialmente feitos por ano nos EUA. Para não falar que a essa vasta quitanda juntam-se milhões de vídeos amadores e claro, bilhões de fotos. Por isso o entrevistado de 16 anos sabe o que é bukkake (ejaculação grupal no rosto), e a entrevistada de 24 espiou uma mulher transando com um cachorro para “confirmar que não gostava”.
A pornografia virtual dilata os limites do que achamos erótico. As 951115 fotos de nus femininos (até 15 de julho) do site erótico Met Art, referência no gênero, muitas vezes são insuficientes. “Graças à internet as pessoas estão sendo estimuladas de maneiras que não tem nada a ver com a cultura ou as suas experiências anteriores. Nossas crenças sexuais parecem muito mais fluidas do que originalmente pensamos”, avaliam os autores de Na sombra da internet – livrando-se do comportamento sexual compulsivo online, publicado nos EUA e ainda indisponível no Brasil. Para eles, por séculos a humanidade olhou para o sexo através de uma lente de aumento focada em um pequeno leque de atividades e ideias, e hoje a internet – alcançável, acessível, anônima – oferece “uma lente grande-angular com vista para toda a paisagem sexual”. “Gostamos de dizer que uma das melhores coisas da internet é poder encontrar pessoas com interesses similares aos seus. Ao mesmo tempo, uma das piores coisas da internet é que você pode encontrar pessoas com interesses similares aos seus”, dizem, sobre o estímulo a bizarrices na rede.
Burros e caretas “Sempre achei o mundo da internet algo fora da realidade”, diz Aline*, a menina de 24 anos que se arrependeu do vídeo de zoofilia visto. Um dia, ela descobriu se excitar com 28 • p o r n o g r a f i a
gays transando. “Mas não tenho curiosidade de por em prática. Nunca usei a internet como base de nada”, afirma. Ela considera positiva sua relação com o conteúdo sexual online – fez 9 de 25 pontos em um teste de vício em pornografia virtual (sexhelp. com/isst.cfm), quase caindo no grupo mais light de usuários, de 1 a 8 pontos. Aline quase não vê vídeos pornôs com os namorados. Acessa-os com mais frequência quando está solteira e com vida sexual “sem muita emoção”. E
pelo mundo online. “A facilidade de acesso não criou novas condições subjetivas”, avalia. se a pornografia virtual não existisse, teria perdido alguma coisa? “Acho que não. Eu faria outra coisa... não tão perdida”. Após anos lidando com usuários viciados, a psicóloga norte-americana Judith Coché concluiu: “Estamos às voltas com uma epidemia”. O psiquiatra argentino radicado em Florianópolis Oscar Reymond discorda afirmando que os “burros e caretas” dramatizam a questão da pornografia virtual. Ele até admite em parte o impacto da fartura sexual da internet, mas diz ser melhor falar no uso que cada um faz desse conteúdo separadamente para não cair “em moralismos ridículos”. O que Reymond concede: estamos mais isolados, menos pacientes para esperar pelos acontecimentos reais (“O mercado não te deixa esperar”) e para lidar com pessoas de verdade (“Com as imagens é mais fácil, elas não perguntam ‘você me ama?’”). O que ele discorda: não se pode subjetivar máquinas, atribuir a elas uma culpa que é nossa – em vez do conteúdo pornô, é preciso focar nos problemas de sexualidade do usuário; além disso, é muito cedo para se falar em mudança significativa de comportamento das novas gerações, iniciadas na pornografia
Rodrigo*, 27, é um usuário moderado (6 pontos no teste) e otimista de pornografia virtual. Nunca teve comportamento compulsivo – acessa meia hora, duas ou três vezes por semana – e não deu mais que umas espiadas arrependidas nos subterrâneos pornôs. Usou suas navegações mais para aprender as técnicas de uma boa cunilíngua. “Só
20% dos homens que viam pornografia mais de cinco horas semanais disseram que o sexo real já não podia ser comparado ao virtual
vejo o que me vejo fazendo [na prática]”, diz. “Nada de enforcamento, tapas”. O que o segura online, às vezes, é encontrar links das suas atrizes favoritas – que não incluem a ninfeta revelação Sasha Grey, 19 anos, “muito hardcore”.
Pornificados Sete a cada dez americanos de 18 a 24 anos já viram mais pornografia na internet que em outros meios. A idade média de iniciação na pornografia virtual no país é 11 anos, e 11 milhões dos que a consomem tem menos de 18. É fácil perceber que a formação sexual da geração Y está cada vez mais atrelada à cultura (uma especialista fala em adestramento) pornográfica virtual, o que frustra expectativas quando corpos e estripulias não se parecem com os vistos nos milhares de vídeos do youjizz.com. A pornografia é associada à ampliação dos horizontes sexuais, mas em excesso se revela o oposto: goiabifica o usuário, fazendo-o perder o melhor do sexo de verdade. “Se a pornografia estreita o envolvimento com a sua parceira, você corre para junto dela quando está com tesão, ótimo. Mas o que estamos vendo é um
Pesquisa MSNBC.com e revista Elle
número crescente de homens e mulheres com distúrbios de convívio”, problematizou, em entrevista, o psiquiatra americano Mark Schwartz. Segundo pesquisa do site de notícias MSNBC.com e da revista Elle feita com 15246 homens e mulheres, 35% dos homens que viam pornografia mais de cinco horas semanais disseram que sexo real com uma mulher se tornara menos excitante, e 20%, que o sexo real já não podia ser comparado ao virtual. A pesquisa, de 2004, é citada em Pornificados, da psicóloga Pamela Paul, o best-seller já traduzido no Brasil. Embora criticado pelo New York Times pelo feminismo excessivo, o livro traz bons argumentos de como a pornografia virtual pode afetar nossos relacionamentos reais. Lamenta
“Hoje, mulher pelada de verdade é apenas pornô ruim.” Naomi Wolf, escritora, na revista New York
“Na cam, peço para [os homens] tirarem a camisa e gozar. Já vi até broxada. Eu assisto, me masturbo, gozo e saio. Não tenho cam; os homens pedem que eu me identifique, mas muitos ligam a webcam de qualquer maneira. Consigo os contatos via Orkut, bate-papo UOL.” Juliana*, 26 anos, para a Naipe
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“Girls Gone Wild lhe dá todos os seios de todas as garotas que você nunca apalpará pessoalmente.” Músico de 28 anos de Chicago, no livro Pornificados
um nova-iorquino para Pamela: “Eu costumava ver pornografia pela internet, mas comecei a ficar menos excitado ao fazer sexo com uma mulher de carne e osso. (...) O sexo real perdeu muito da sua magia. Isso é triste.” Aflige-se outro entrevistado: “Tudo dito e tudo feito, conquistei tamanha imunidade ao sexo que lhe desmistifiquei completamente a ideia. Não há mais segredos. Não há mais sutilezas – as sutilezas que excitam uma pessoa ao máximo. Não. Não neste mundo.”
Limpo, privado, tecnológico Se há tanto consumo de pornografia é porque os benefícios são ainda mais aparentes que os malefícios. Não é preciso se enquadrar no velho clichê do homem solitário para se empanturrar com o farto bufê sexual online. Na masturbação, o cérebro libera dopamina, serotonina e ocitocina, neurotransmissores associados ao prazer. E há variedade, novidade, conforto, anonimato. No ambiente limpo, privado, tecnológico de casa ninguém se sente mais o esquisitão buscando
pornografia pelas vielas da cidade. O acesso a sites pornográficos também é uma resposta à pressão cotidiana, às frustrações com a vida sexual real ou claro, o resultado de uma compulsão que independe da internet e tem nela apenas mais um meio para se extravasar. No final das contas, só uma questão demasiadamente humana: “A maior parte do tempo, somos capazes de olhar para o nosso comportamento e fazer as escolhas certas para reduzir as consequências negativas. Infelizmente, não é sempre o caso”, resumem os autores de Nas sombras da internet, avisando: “Sem intimidade, o sexo nunca preencherá suas necessidades, não importa o quanto de sexo você tenha”. Resta concordar ou achar isso de uma breguice sem tamanho.
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*Nomes fictícios
Faxina histórica Ter pornografia virtual flagrada por outros virou lugar-comum. Até porque apagar o histórico não apaga tudo. Um quadrado ao lado das abas no Internet Explorer, por exemplo, abre uma nova guia com a capa dos últimos sites navegados – realmente os últimos sites navegados, independente do que você andou apagando. A solução para isso é a navegação InPrivate, que promete não deixar cookie sobre cookie ao final do acesso. Basta ir em Segurança – Ativar Navegação InPrivate, mas atenção: é preciso ativar a opção toda vez que se liga o computador para tais fins.
Para saber mais: Pornificados, de Pamela Paul (Ed. Matrix, r$ 31,90); In the shadow of the net, de Patrick Carnes, David Delmonico e Elizabeth Griffin (Ed. Hazelden, us$ 43,53 + envio) e Untangling the web, de Robert Weiss e Jennifer Schneider (Alyson Books, us$ 10,85 + envio) podem ser encomendados no site amazon.com. E a internet tá aberta 24h
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Na rede de Rodo Sempre marquetando, promoter bomba de quiosque a night VIP
Apenas 117 dos 1207 contatos estão online. Às 18h desta sexta, o MSN de Rodo está tranquilo. Mas é só um dos MSN; existe outro, com mais 593 contatos disponíveis-ausentes-ocupados-invisíveis. Além de três Orkut com 2147 amigos, somados, um Facebook com 1337, um mailing de 15 mil contatos e mais de 2000 números em um Nextel e um BlackBerry. É bem conhecida a teoria de que, no mundo, todos estão ligados por no máximo seis pessoas de distância. Em Florianópolis não é preciso ligar tantos nomes para se chegar a alguém. Ainda mais se você estiver na imensa tarrafa de conhecidos de Rodo. Terminada uma das conversas com a Naipe, ele esbarra em um conhecido com um laptop e improvisa uma reunião. Networking, o ato de “conhecer pessoas proveitosas de se conhecer, especialmente para o seu trabalho”, segundo o dicionário Cambridge, é o verbo-chave da vida de Rodo. Muito antes de a palavra virar praga no Brasil ele ampliava a tarrafa. Fazia contatos quando era vendedor de lojas de surfwear; quando tinha uma loja de sucos naturais na academia Corpus, na Lagoa da Conceição; quando cantava na banda Iriê; quando abriu o Quiosque da Mole; quando surfava, festava, perambulava pela ilha;
e claro, faz contatos desde que criou uma pioneira agência de DJs e eventos, em 2003. Rodo, Rodrigo Almeida, promotor de festas, 17 primeiros anos de vida em São Paulo, 18 subsequentes em Florianópolis, descobriu na ilha uma magia: a capacidade de transferir muita gente de lugar. Se na praia Mole o fluxo era para o bar do Nando e o do Cachorrão, em 2000 a multidão foi para o quiosque de Rodo, que de tão muvucado ganhou quatro filiais. A partir daí a magia só aumentou. Alugando mansões para promover festas, certa noite na
César Cielo, com De cima para baixo à esq., com Michela Meckel; da ora nam a com e Gilmar Braga da rede de Rodo te par a abaixo: 3600 pessoas, um
praia da Joaquina Rodo atraiu 1000 pessoas: metade, sortuda, entrou; a outra metade não coube. Nesse nível de carisma e persuasão já não era tão difícil abarrotar a extinta balada Conceição Night, colocar 1500 cabeças no Hotel da Lagoa ou 1800 em um show, num sítio, da então não tão conhecida Fernanda Porto – trazida pelo sempre intuitivo e antenado Rodo por r$ 1 mil. “Percebi que tinha o poder de atrair muita gente”, disse ele à revista DJ Mag Brasil em uma matéria sobre promoters influentes de diferentes cidades brasileiras.
Promoters-relâmpago A superficialidade é associada aos promoters como o zumbido ao mosquito. De maneira geral, não se leva muito a sério o espertalhão que um dia resolve que pode viver do sumo financeiro da noite, em vez do salário de empregos mais tradicionais. A imagem da profissão também não foi ajudada por caso recente com o promoter Leo Ventura. Em email tornado público, Leo pedia a meninas que deixassem os namorados em casa para animar um festival de eletrônica e seus esquentas. Rodo, no entanto, não se leoaventura
a fazer uma coisa dessas. Vivido, sabe que o malandro que cai na malandragem de se meter com as malandrinhas arrisca a sua credibilidade. “Não existe uma coisa dessas, pedir para deixarem o namorado em casa”, diz Rodo, lamentando a meia dúzia de “promoters-relâmpago” que surgem todos os anos e, pretendendo se aparecer demais, desaparecem. “Quero que o namorado venha e gaste. Tem muita mulher que não ajuda, gasta muito pouco. Eu fujo das piriguetes”, afirma. A Naipe levou para os encontros com Rodo um chapéu com a ideia do promoter superficial. Não serviu. Rodo é muito bom nos malabarismos que sua profissão exige. Sabe selecionar a conversa certa para cada interlocutor. Entende de música, mídia, mundo. Osso do ofício, o sorrisobalada, de contatos rápidos, ressurge aqui e ali. Entre esses sorrisos, porém, Rodo é supreendentemente franco. Se um bom promoter é o que “não pisa na bola, é honesto, direto, verdadeiro”, como diz o amigo de Rodo Tchello Brandão, é essa a impressão que fica. O editor da Naipe sugere que Florianópolis tem algumas noites blasés. Rodo, mesmo ciente das reverberações do que diz, concorda, “Sim, tem algumas noites muito blasés”, e se põe a discorrer os porquês. Como promoter, o que faz quanto a isso? “Minha receita é misturar. Misturar surfista, artista, patricinha, modelo, gays. Festa só com modelos costuma ser chata”. Rodo foi criado, justamente, na mistura. Em São Paulo, aprendeu com a mãe, loira, secretária, vendedora de cosméticos, a empolgação de se comunicar; com o pai, motorista, “negão da gafieira”, amigo do Mussum (no tempo da banda Originais do Samba), a dançar e gostar de boa música, Beth Carvalho, Chico Buarque. Até que cansado, como tantos, da “oppression” de São Paulo, veio para a ilha em 1992. Nisso, foi ser vendedor em lojas de surfwear na Lagoa da Conceição e no Beiramar
Shopping. Passou para o ramo açaí-granola-sucos clorofilados e depois para a noite. Não só por levar jeito para homem-contato, mas também por antever na ilha a agora tão propagada ideia de “Ibiza brasileira”.
Beach club “Tem quem chega de helicóptero e gasta r$ 20 mil e quem gasta 50 pila. Trato... procuro tratar todo mundo igual”, diz Rodo, trocando um verbo por dois muito mais pela franqueza de sempre que por ato falho. Lidar com baladas não é fácil. Em encontro na confeitaria Chuvisco, Rodo diz para a Naipe: “Eu não chego aqui, como e vou embora sem pagar. Mas muita gente vai nas festas que eu promovo achando que não tem que gastar nada”.
Acima, com Maryeva e no programa Clube do Champagne; à esq. com Luciano Martins; à dir., pulando pela vida e com Fábio Cabral
n a i p e • 37 Foi-se o tempo em que mais era mais. De 2004 em diante, Rodo focou em festas mais selecionadas: “Melhor lidar com 500 pessoas que gastam r$ 100 do que com 5 mil que gastam r$ 10”, diz. A rede de Rodo é repleta de gente do primeiro tipo. Ele promove noites como a Vecchio Prime, anunciada nos flyers como “a mais exclusiva do Vecchio Giorgio”. O Vecchio, um espaço também de arte, design e gastronomia no pé do morro da Lagoa da Conceição, é vizinho da temakeria NoMuro, abarrotada quintas-feiras à noite também graças a Rodo. A 100 metros dali ele fez bombar as quartas do Confraria das Artes trazendo DJs como Mau Mau. Em outro bairro pibcêntrico da ilha, Jurerê Internacional, Rodo organiza “sunsets” no parador de praia Café de la Musique. Mas ele é inquieto. Mirando o primeiro milhão aos 40, um “beach club” e uma sala de espetáculos do naipe de um Credicard Hall depois disso, Rodo não larga o Nextel. Ao atendê-lo, palavras como “megaempreendimento” pulam da conversa. E assim é 12, 14 horas por dia. A agência Vibes, na sua casa, é ele e ele. Ao promover uma noite, Rodo cuida de mailing-envolvimento-conceito-marketing-assessoriadireção artística. Invariavelmente, presta consultorias. “Tem quem abra as coisas sem noção, sem mala direta, site, nada”. Quando Rodo abriu a Vibes, teve quem dissesse que, com uma agência tão pretensiosa em Florianópolis, ele morreria de fome. À base dos ótimos resultados e de sucos de cenoura-agrião-gengibre-maçã, Rodo vai muito bem.
O incrível TCC • isis soares, arquiteta
Descida ao inferno
TCC parte da Divina Comédia para criticar urbanismo precário da ilha e propor interação entre pedestres e centro histórico
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Cenários projetados por Isis no seu TCC
Da nossa vida, em meio da jornada, Achei-me numa selva tenebrosa, Tendo perdido a verdadeira estrada. Esses versos iniciam A Divina Comédia, livro de Dante Alighieri escrito em 1321 na Itália. Isis Soares, quase 700 anos depois, resolveu que as estrofes poderiam muito bem tratar da realidade urbana de Florianópolis. A descida de Dante ao inferno foi o ponto de partida para misturar cenografia, descaso público, desinteresse popular, dança e teatro em “Cenários performáticos para a cidade: uma breve visita ao Inferno de Dante”, TCC da arquiteta recém-formada pela UFSC que causou burburinho. “Vivemos um inferno no qual a cidade está sendo destruída pela especulação imobiliária. Não existe preocupação sincera com a preservação ou cuidado com os símbolos da cidade”, afirma Isis. Mas e o que Dante Alighieri tem a ver com isso? “Mesmo escrita na Idade Média, A Divina Comédia
pode ser entendida como uma obra atual, pois problematiza questões ainda relacionadas ao homem contemporâneo”, escreveu Isis em seu trabalho. Isis não gosta do que vê todos os dias no centro da capital, onde mora. “Ninguém fica na região depois do horário comercial. As ruas e espaços são apenas lugares de passagem para o terminal de ônibus ou o trabalho”, diz ela, que morou na Espanha, onde os espaços públicos fervilham também à noite.
Sensorial Comparar o centro da cidade à parte da Divina Comédia que descreve a viagem de Dante pelo Inferno (pela complexidade, Isis preferiu trabalhar apenas com um pedaço do livro) e sugerir alternativas urbanísticas já seria trabalhoso, mas Isis cismou de colocar arte na mistura. Foi aluna ouvinte da cadeira de Cenografia I na Artes Cênicas da Udesc por um semestre e usou seus conhecimentos de dança para montar o que realmente pretendia: uma teórica encenação do Inferno de Dante no centro histórico de Florianópolis. Nada simples. No projeto, bailarinos e atores, plataformas e rampas de madeira e aço, telões, luzes coloridas e música interagem com prédios e praças. A encenação provoca uma experiência sensorial nos espectadores, que acabam se
integrando ao espaço urbano. Isis escreve: “Ainda que de forma efêmera, queria fazer algo que despertasse o íntimo das pessoas, os desejos, os sonhos, as alegrias e tristezas, ou qualquer outro sentimento que proporcionasse um novo imaginário momentâneo para aqueles que o vivenciassem”. O resultado foi uma apresentação diferente das bancas de final de curso da Arquitetura. “Hoje os TCCs são muito técnicos, práticos. Eu já sabia fazer plantas baixas, precisava tentar outra coisa”, diz. “Não utilizei a metodologia comum, e os professores gostaram muito. Queriam que eu executasse, mas sairia muito caro”. A arquiteta fez as vezes de diretora, cenógrafa, figurinista, roteirista e atriz para poder desenvolver o trabalho. Dedicou um ano inteiro ao projeto e não trabalhou de setembro de 2009 a março deste ano. Valeu a pena? “Valeu, mas quase enlouqueci. Perdi o namorado. Também vivi meu inferno pessoal”, sorri.
A praça é nossa Poucos sabem a utilidade dos arcos da Praça Fernando Machado, na frente do Terminal Cidade de Florianópolis. Eles são uma homenagem tardia ao histórico Bar Miramar, “construção de linhas ecléticas na qual se distinguia no portal de acesso elementos neoclássicos e insinuações em art-déco”, como define o site da Prefeitura Municipal. O prédio, erguido em 1928, foi demolido em 1974 por causa das obras do aterro da Baia Sul. Para Isis, a forma como esse espaço é utilizado está errada. “A essência do Bar Miramar era marcada pelo seu caráter boêmio, um espaço central que possibilitava encontros. O que temos hoje é a reconstrução de uma fachada e de pilares em uma praça vazia, que nem mesmo oferece equipamentos para que seja contemplada ou ocupada”, avalia em seu TCC.
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O Bar Miramar, de 1928, foi demolido em 1974, dando lugar ao aterro da Baia Sul; Isis imaginou intervenções artísticas no espaço hoje vazio
Selva dos vícios Além de desenvolver a estrutura e roteiro para cada cena, no seu TCC Isis transfere as críticas e reflexões que Dante faz em A Divina Comédia para a realidade atual do centro de Florianópolis. Plataformas de diferentes níveis permitem que os espectadores entrem no cenário e participem da construção do evento teatral.
No começo do livro, Dante vaga sozinho por uma selva escura. Ao amanhecer, sobe em uma colina e encontra três feras que o fazem voltar à selva – até que Virgílio, o poeta da razão, o socorre. O ambiente simboliza a selva dos vícios humanos, das faltas, dos enganos. A Colina, assim como a luz do amanhecer, retrata uma alternativa de mudança, esperança e salvação. Isis monta essa cena no Largo da Catedral , adentrando a Praça XV de Novembro. A praça, “um espaço de medo, insegurança e presenças humanas que a sociedade prefere não ver”, representa a “selva dos vícios humanos”; a Catedral, a imagem monumental que traduz o sentimento de fé e salvação – como símbolo não apenas do catolicismo, mas de qualquer outra instituição que o homem contemporâneo possa ter como salvaguarda.
No Círculo Infernal dos Luxuosos e do Juízo Final, as almas recebem a pena eterna. O círculo abriga também os luxuriosos, que são constantemente atormentados e chicoteados. O cenário desse Canto foi projetado no terreno onde hoje funciona o estacionamento da Promenor, na esquina da rua Arciprese Paiva com a Conselheiro Mafra – local do luxuoso Hotel La Porta. O prédio foi uma importante referência na arquitetura da cidade nas décadas de 30, 40 e 50. A Caixa Econômica Federal implodiu a construção por “ter colunas demais” e apresentou um projeto de arquitetura contemporânea em substituição que nunca foi liberado pelo Ipuf. A escolha do local simboliza a ganância (do banco) e o luxo (do hotel) da cidade.
Grandes estruturas metálicas revestidas em compensado incitam poder e sofrimento.
Veja o trabalho completo
.com em tiny.cc/n5ygx
quitutes•filmes
Lindas atrizes globais desfilando pelos cartões-postais de Floripa; gatas conhecidas da cidade pagando peitinho e Paula Burlamaqui fazendo um strip nervoso no final do filme – o pornochanchístico Procuradas, de 2004, parecia ter a receita do sucesso. Mas a Naipe perguntou e 15 florianopolitanos nunca nem ouviram falar do filme. Assim como pouca gente conhece ou assistiu aos outros quatro longas-metragens de Santa Catarina lançados até hoje. Com essa produção cinematográfica pequena, os filmes daqui não têm repercussão.
LEVANTANDO DO CHÃO
Especialistas veem bom momento para filmes catarinenses
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Vem aí: “A Antropóloga” Filmado em 2007 e 2008 na Costa da Lagoa, em Florianópolis, A Antropóloga, de Zeca Pires, tem (nova) previsão de lançamento: este semestre. Uma antropóloga vinda dos Açores descobre aspectos do misticismo e das crendices populares da ilha. O longa só sai agora por atrasos de pagamentos do governo.
Em 2001, com a criação do Edital Catarinense de Cinema (que distribui dinheiro do governo estadual para produções de curtas, médias, longas e documentários), os cineastas daqui finalmente tiveram a chance de aumentar a produção. “O cinema catarinense ainda é incipiente e é preciso produzir mais que um longa a cada dois anos para acertar”, diagnostica o doutor pela Sorbonne de Paris e pós-doutor pela Universidade da Califórnia, professor de Cinema da UFSC Mauro Pommer. Não acertando, os filmes daqui perdem espectadores-pipoca para sessões dos shoppings. Zeca Pires, o diretor que cometeu Procuradas e que agora volta com A Antropóloga, achou que jogar atores de queixo quadrado, olhares fatais e o apelo turístico da ilha num mesmo caldeirão ia dar sopa, mas Procuradas apanhou feio da crítica. Doce de coco, longa de Penna Filho ganhador do edital de 2005 e lançado em São Paulo ano passado, é uma remissão sem fim ao regime militar. Em cartaz no Shopping Itaguaçu recentemente, resistiu uma semana. “O filme nasceu 20 anos atrasado”, sintetiza Pommer.
Irreal Seo Chico, documentário de 2006 do diretor José Rafael, difere investindo em temática obviamente local: o fim da cultura de engenhos manuais em Florianópolis. Chico, que produzia cachaça sem eletricidade no bucólico Ribeirão da Ilha, foi assassinado. O filme teve boa resposta no CIC, com sessões de 70 espectadores, em média. Mesmo assim, exibido no Beira-Mar Shopping, saiu antes dos blockbusters concorrentes. E se nossos cineastas desovassem blockbusters? A ideia não apetece os especialistas ouvidos pela Naipe. “Não se pode esperar um blockbuster vindo daqui, isso é irreal. Eu não quero imitar o cinema dos EUA, Rio ou São Paulo. Isso seria estúpido e nocivo”, diz Faganello. “Aliás, o cinema norte-americano é um dos piores do mundo, mas também um dos melhores, porque Cena de Seo Chico
eles fazem muito”, entoa o colunista do Diário Catarinense Fábio Bruggemann, que já escreveu alguns roteiros filmados.
Em construção “Acho que o cinema catarinense, proporcionalmente ao seu tamanho e o do Estado, é, sim, assistido”, defende Chico Faganello. Em 2009, ele lançou Espírito de porco, um documentário de 52 minutos e R$ 60 mil (ganho em edital) de orçamento filmado no oeste de Santa Catarina. O texto do filme, autodeclarado “suinocêntrico”, é ótimo, e supõe-se que o tema, ligado à cultura do nosso Velho Oeste, interessaria ao público daqui. Mas a comoção maior foi a dos críticos. Nenhum dos 15 florianopolitanos ouvidos pela Naipe soube da recente exibição de Espírito de porco no Museu Victor Meirelles. “O sistema de distribuição é cruel com o os filmes locais, não há grana e espaço para exibição”, fustiga Pedro MC, secretário da Cinemateca Catarinense. Na mesma toada, afirma Faganello: “Não temos histórico de longas, não há histórico de consumo, não há demanda, também por isso há pouca profissionalização”.
Leia sobre filmes em cartaz
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Diretor formado em Cinema pela Unisul e mestre em Literatura pela UFSC, Ricardo Weschenfelder pondera: “Estamos em um bom momento, filmando mais, com mais profissionais, mas ainda refém dos editais”. Apesar dessa dependência, ele ressalta que o cinema do Estado “mudou bastante e está em construção”. Como ele, todos os outros especialistas entrevistados pela Naipe revelam otimismo quanto ao futuro cinematográfico catarinense. “Era um deserto antes. Há pelo menos um horizonte”, motiva-se Pommer.
Cenas de Doce de coco e Espírito de porco
quitutes•na orelha
Ensaio sobre o crescimento Bandas desafiam mercado-bonsai catarinense “O mercado local impõem limitações, claro. É como um bonsai”, diz Gustavo Barreto, vocalista da Sociedade Soul. Em julho sua banda lançou o primeiro CD, homônimo, com dez músicas próprias. O bonsai não cresce mais porque está no vaso e tem as raízes podadas. Para Fábio Della, vocalista do Aerocirco, ficar parado é ruim onde quer que seja. Por isso a mudança da banda para São Paulo, há quatro meses, não foi viagem de uma perna só. O Aerocirco tocou por lá mas também em Belo Horizonte; tem show marcado em Curitiba e veio a Florianópolis, a terra natal, lançar seu quinto CD, “Invisivelmente”. Nas duas primeiras semanas o disco, de download gratuito, foi baixado mais de 2 mil vezes. A Sociedade Soul não saiu daqui mas, com o primeiro CD, também arriscou uma mudança de status. Mesmo no mercado-bonsai, não se resignou em continuar apresentando repertório principalmente alheio. Nisso, a referência do soul brasileiro Gerson King Combo um dia recebeu um pretensioso telefonema. Era Gustavo Barreto apresentando a Sociedade Soul. O resultado foi uma participação de Combo no show de lançamento do disco, que teve muita mídia, teatro lotado e dois videoclipes como parte da divulgação.
Cartilha “A grande vantagem de estar em São Paulo é estar perto da mídia maior e de outras grandes capitais”, avalia Fábio Della. “Mas não acho que seja obrigatório. Com uma assessoria profissional, hoje você consegue fazer som na sua cidade e colocar nas mãos das pessoas lá”. Para ele, não falta “profissionalismo na criatividade, no som” das bandas catarinenses, mas “em ser realmente músico profissional”. Além do som, o Aerocirco é referência do saber se propagar. Segue todos os itens da cartilha de uma boa divulgação redes sociais afora. Seu MySpace supera em qualidade o de muitas bandas maiores. “Todos os produtores querem saber a quantidade de seguidores no Twitter, amigos no Facebook, visualizações no MySpace”, diz Della. “É a partir disso que fecham shows ou não”. No Twitter, em 12 de julho o Aerocirco tinha 1594 seguidores. A Sociedade Soul, 326.
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quitutes•na orelha
Banda funkeja no jardim das delícias Em ensaio pré-lançamento, o quarteto Gustavo Barreto (guitarra e voz), Diego Carqueja (teclado, sintetizador e voz), Nego Aurélio (baixo e voz) e André FM (bateria e percussão) mostra-se satisfeito com o resultado do trabalho. Realmente ficou alto nível.
A vida é bela: Sociedade Soul comemora o primeiro CD
O álbum exibe uma sonoridade muito própria, extremamente dançante, com elementos de funk, soul, samba, rock, hip hop e música eletrônica, todos bem distribuídos entre as faixas. É interessante escutar de cabo a rabo pra sacar, mas destaco a psicodelia sintetizada de A caminho do meio, a ginga de Jardim das delícias, a densidade de Contradição e a identidade da faixa de abertura Sociedade Soul. É um refinado trabalho instrumental com vocais poderosos que emitem letras inteligentes sobre diversão, amor, sexo e malandragem. O álbum também tem participações especiais como as de integrantes da escola de samba União da Ilha da Magia em Comigo aqui, comigo lá e de MC Sheep Fb fazendo rap em Zé Perneta. A escolha do repertório e alguns arranjos tiveram participação de Ricardo Vidal, que já produziu O Rappa e Dazaranha. Sociedade Soul é um álbum necessário para a música pop brasileira. (Marcelo Silva)
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Audivelmente mais visível O quinto disco do Aerocirco prova que, além de talento, crescimento musical depende de dedicação. A banda deixou trabalhos paralelos para se incubar no próprio estúdio e teve resultados bem positivos na produção. Dos arranjos aos timbres, das letras à melodia, a melhoria é evidente. Não que os discos anteriores sejam ruins, são bons, mas Invisivelmente é mais lapidado e inspirado, fruto da natural experiência que a estrada, o tempo e o equilíbrio trazem. Liderada por Fábio Della (vocais, guitarra e piano), principal compositor, a banda se rotula “indie pop rock”
e as influências do gênero são perceptíveis. Mas a feliz opção de usar instrumentos como piano, guitarra de 12 cordas e violoncelo, aliados à criatividade dos arranjadores, deram uma característica própria para as músicas. Sempre vale escutar o álbum inteiro, mas destaco a poética Invisivelmente, a melódica O resto tanto faz, que tem a melhor mixagem, e O Rei, rock de riffs quebrados com letra interessante. Enfim, um bom trabalho dos catarinenses, que realmente acertaram o tempero da comida caseira. (Marcelo Silva)
A vida é dura: Aerocirco, 5 discos, foi para SP voar mais alto
quitutes•livros
Tijolo pornográfico
“Pornopopéia”, 480 páginas, narra mundo sexual e lisérgico de ex-cineasta
Foto: Gabriel Rinaldi
Francos, obscenos, machistas, os personagens de Reinaldo Moraes prestam uma homenagem ao jeito macho-pornochanchada de ser. Moraes, paulistano, acaba de lançar Pornopopéia, um tijolo pornográfico de 480 páginas. O protagonista Zeca, ex-cineasta marginal que vive de comerciais de marcas menores, cai num mundo de sexo e drogas. Dito assim soa mais do mesmo. Como lembrou João Moreira Salles em artigo recente, todos protagonistas de livro e filme brasileiros são do mundo das artes, nunca das exatas ou afins. De marginalidade a literatura nacional também está cheia. Moraes, no entanto, merece um desconto (e até bastante crédito) pela escrita fluente e pontiaguda. Umidade,
de 2005, já tinha essa pegada. O conto-título, sobre o desespero de um paulistano com a namorada frígida, é hilário, incrível nos detalhes e cativa até quem não gosta de ler. Moraes, sempre associado a adjetivos como beatnik (que ele rejeita/ relativiza), ficou famoso ao publicar Tanto faz, na década de 80, e até Umidade praticamente sumiu. Seu próximo livro, depois de Pornopopéia, será insipirado em uma recente viagem feita ao México. (Thiago Momm)
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O evangelho da sacanagem segundo Reinaldo Moraes Uma freira não passaria do primeiro parágrafo – quer dizer, dependendo de quão pervertida seja a freira. Uma feminista abandonaria o livro de vez na página 63, quando Zézinho, o protagonista e nosso guia no submundo, argumenta que as “meninas bonitas deveriam todas seguir o padrão DDD de qualidade”, acrônimo de “doidas,
Outros lançamentos
“10 anos de 02 Neurônio do anonimato ao anonimato” Homens têm neurônios a mais que mulheres, ok. Mas eles não têm Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Afonso para fazer piada disso – ou de qualquer outra coisa – com o bom humor ácido feminino. O 02 Neurônio, formado pelas três jornalistas, já foi zine, virou blog, coluna da Folha de S.Paulo e seis livros. Em 10 anos de 02 Neurônio - do anonimato ao anonimato (Ed. Jaboticaba, 214 pg., r$ 52) o assunto continua mais ou menos o mesmo de sempre: as infinitas teses femininas e os homens, esses notáveis. O livro traz os best moments do trio e algumas crônicas inéditas, além de cinco fanzines originais de 1997. (Rosielle Machado)
dadeiras, divertidas”. A feminista está 62 páginas e alguns parágrafos à frente da freira (pudica), mas ainda assim a quilômetros do final do livro, 480 páginas de pura sacanagem, palavreado e orgias. Colocá-lo de lado, porém, faz com que não se experimente a viagem, literal e metafórica, que Reinaldo se propõe a contar. Na sua honestidade crua e extremamente gráfica o livro ganha o leitor, mas a narrativa peca pelos excessos. No fim das contas, mais parece uma enciclopédia de cultura pop e palavrões à serviço do exibicionismo do autor e do leitor. Terminada a leitura, afinal, sempre se pode usar as frases de efeito naquela sinuca da esquina ou em botecos como o que frequenta Zézinho. (Melina Savi)
Medo e delírio em Las Vegas “Estávamos em um bar perto de Barstow, à beira do deserto, quando as drogas começaram a fazer efeito”. Assim começa a viagem alucinógena do clássico Medo e delírio em Las Vegas, de Hunter Thompson, agora lançado em edição de bolso pela L&PM (224 pgs., r$ 15). No final dos anos 60, Thompson ruma a Las Vegas armado com um arsenal de ácido, mescalina e pílulas “coloridas e gargalhantes” no porta-malas de seu conversível. Um pirado e paranoico advogado samoano acompanha a odisseia. Mais do que no retrato do decadente liberalismo americano da época, a preciosidade do livro está na narrativa tresloucada mas sempre lúcida do cultuado escritor. Jornalismo Gonzo na veia. (Jerônimo Rubim)
Enquanto isso•em barCelona
nos rastros do mestre Gaudí ecoa por Barcelona texto e foto por Jaqueline Januzzi O bonde vinha por seu caminho habitual. Foi interrompido. Matou-o atropelado. Da mesma forma que Gaudí andava absorto em suas ideias, ao ponto de não ver o bonde em sua direção, turistas caminham pelos passeios e ramblas de Barcelona em busca das curvas, flores e cruzes características das construções desse gênio. Barcelona respira o ar das suas obras. Ao absorverem a beleza da Casa Batlló e da Pedrera os turistas já estão mergulhados no mundo do mestre. Para ir mais longe, respira-se fundo. Depois de sair do metrô Vallcarca, ainda estão à espera escadas rolantes ao ar livre e uma caminhada arriba para chegar ao lugar mais mágico da cidade, o Parc Guell. À primeira vista, nada de tão especial: muito verde e caminhos de terra... Mas pouco a pouco se revela uma vista que nos faz perguntar: “Por que não gasto mais tempo da minha vida neste lugar?” A caminhada parque adentro leva a belezas escondidas: esculturas nas rochas convidam às mais criativas poses para fotos; mosaicos de azulejos decoram bancos em formatos de casulos; o eco de um instrumento de cordas sobe uma escada em curvas, te leva a fixar os olhos em um teto cheio de detalhes inesperados e te transporta para o mundo da mente de Gaudí. Faz querer nunca mais sair dali. O bonde vinha por seu caminho habitual. Foi interrompido.
Jaqueline Januzzi é uma jornalista que vive em Barcelona, onde descansa na praia nos finais de tarde e de semana. Todo mês a Naipe publica, neste espaço, a experiência de um colaborador pelo mundo.
Seu mundo FIAT é aqui.
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