“EM LENÇÓIS, JAMAIS DESISTIMOS DA LUTA”, DIZ PREFEITO PRADO SOBRE PANDEMIA Guia: Como prefeito, quais foram suas primeiras preocupações com o surgimento da pandemia? Prefeito Prado: As primeiras preocupações que emergiram com a pandemia foram entender com o que estávamos lidando. No começo, ninguém sabia direito o que era esse vírus e como enfrentar esse inimigo. Como sempre falo, o papel dos municípios é combater dengue, melhorar o asfalto, tratar a água, cuidar da educação das crianças, e não enfrentar uma pandemia de um vírus mortal. Mas, enfrentamos essa batalha que seria de responsabilidade de esferas superiores. Os municípios deveriam ser guiados, e não guiar esse enfrentamento que, na prática, foi o que aconteceu. Por isso, antes mesmo de registrar o primeiro caso de Covid-19 em Lençóis Paulista, convoquei uma reunião com a Secretaria de Saúde para discutir as estratégias que iríamos adotar. Logo após essa reunião, já montamos o Comitê de Combate à Covid-19, formado por pessoas de todas as áreas e também espectros políticos antagonistas, porque sabia que sem união de competências e informações não conseguiríamos vencer. Infelizmente, perdemos 187 vidas para a Covid-19, até o momento que participo dessa entrevista, porque a Covid-19, apesar de estar mais contida, continua fazendo vítimas no país e no mundo, então não é hora de desatenção. Sigo em alerta pelo meu povo. Guia: Houve algum momento mais difícil de lidar com as situações? Prefeito Prado: O momento difícil é sempre do óbito. Lembro que, durante a campanha eleitoral, uma mãe que perdera seu filho para o coronavírus, acusou-me de ter colocado a morte por Covid-19 para receber dinheiro do Governo Federal. Aquilo partiu o meu coração, era mais uma entre milhares de mentiras propagadas durante a pandemia. Quando ve-
mos no boletim que mais uma pessoa faleceu em decorrência dessa doença tão traiçoeira, sabemos que fizemos de tudo e, até muito mais que cidades bem maiores, mas a sensação é sempre de derrota. Nas primeiras reuniões do Comitê, especialistas falavam em 350 óbitos em Lençóis Paulista, se seguíssemos a média de mortes de outros países onde a pandemia chegou antes. Até o momento dessa entrevista, foram 187 e, apesar de ser bem menos do que as previsões iniciais, essas pessoas não são números. São pessoas que tinham famílias, amigos, histórias. Compadeço-me, sinceramente. Como lidamos com a situação? Como já disse, na dor é preciso aprender para fazer ainda mais e melhor. Em Lençóis Paulista, jamais desistiremos de lutar.
Guia: Qual a sensação de ter passado por tudo isso, estando à frente da prefeitura? Prefeito Prado: Quando fui eleito prefeito, sabia que teria que lidar com imprevistos e grandes problemáticas, isso faz parte do trabalho de governar uma cidade, de ser gestor público. Durante o mandato, atravessei várias situações que não imaginava que teria que enfrentar quando, ainda em 2016, elaborei o meu plano de governo. Mas, de tudo o que aconteceu, sem dúvida, estar prefeito durante uma pandemia global, realmente era inimaginável. Foi tremendo e aterrorizante. Não preciso omitir essa verdade, afinal, sou humano, houve momentos de terror, angustia, apreensão. Mantive-me firme pela fé, pela oração, pela esperança e pelo compromisso com o meu povo. Olhando todas as coisas que foram feitas, acredito que cumpri o meu papel como líder que precisava estar presente, acolher, confortar e trabalhar. Em momento algum fugi das minhas res-
ponsabilidades e tomei as decisões que entendi melhores para a preservação da vida. Hoje, sou um homem melhor do que fui ontem, enfrentar a pandemia mudou a minha perspectiva sobre a minha própria existência e sobre as obrigações de um prefeito com a sua cidade, com a sua gente. A pandemia estará em mim até o meu último suspiro como a maior luta que travei como chefe de poder em exercício. E, nessa luta, por não ter pais e nem filhos, dediquei-me, integralmente, em proteger os filhos de Lençóis Paulista.
Guia: Você faria algo diferente, tomaria alguma decisão diferente hoje, após a melhora na situação? Prefeito Prado: Fiz o que era preciso fazer com as informações que tínhamos. Estudei, ouvi, dialoguei, mantive-me atento e focado ao que acontecia na cidade, na região, no estado, no país e no mundo. Convoquei e conclamei as forças lençoenses para a guerra. E, as forças do bem prepararam-se para enfrentar o maior desafio da nossa geração. Não posso dizer com quase duas centenas de mortes que vencemos, mas, sei, do fundo do meu coração e alma, que a brava gente lençoense combateu com garra, fé, amor e esperança o bom combate. Estou orgulhoso do que fizemos juntos nessa luta que a história haverá de eternizar. Se faria algo diferente? Deixo essa resposta para o julgamento do povo, afinal, é a urna que aprova ou reprova o trabalho de um prefeito. Digo, por fim, que Deus proteja e abençoe. Sempre.
