REVISTA ÒKÒTÓ - EDIÇÃO 18

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Revista EDIÇÃO

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12.MAI.2021

VERSÃO ESTENDIDA

nada dócei s

Masculinidade negra e a forja de Ogum


Editores

Bianca Melo Kianga Ziara Òkòtó Mata Rindo da Zumbiido Òkòtó Mayara Assunção Onnurb X Yakô Aba

Diagramação e Projeto Gráfico

Lisimba Dafari

Textos

Acácio Òkòtó Akinwunmi Bandele Bàbálóore Omowale Apókan . . Òkòtó Cristal Òkòtó Kafunji Mahin Kianga Òkòtó Kiluanji Òkòtó Lígia Costa Mata Rindo Zumbiido Òkòtó, Onnurb X Yakô Aba Rodjéli Nyack Ra Roselaine Òkòtó Samuel Elias Saulo Ricardo Stephanie Manu Thabata Bernardes

Fotos

Arquivo

Ilustrações

Freepik Izaias Oliveira Lisimba Dafari Vecteezy The Noun Project

PRETOS DÓCEI S

A

narrativa da violência associada a corpos pretos

— em especial dos homens pretos — funcionou e funciona até hoje como estratégia de extermínio. Quando a morte não é física, ela é retórica e cultural. Os pretos que não são mortos, são moldados a serem úteis em uma sociedade branca. Parece uma escolha inevitável entre morrer e ser morto, mas nessa encruzilhada encontramos uma solução: combater. Se mortos já estamos, por que não morrer atirando? A tática da capitalização do sofrimento e da vitimização por aqueles que escolhem a morte via integração ao mundo branco é um dos maiores desserviços que aqueles que buscam a emancipação, porque são os que se apropriam de uma narrativa que muitas vezes não condiz

com a própria realidade. Seja por já terem ultrapassado a barreira intelectual e social de antes, seja por nunca terem vivido essa realidade, por já terem nascido num contexto já embranquecido. O texto de capa da Edição 18 da nossa Revista fala um pouco sobre a tática branca de destruir nossos corpos e mentes, além de textos que retratam a desonestidade daqueles que não são alvo direto da violência contra o povo preto, mas sabem muito bem ganhar com essa narrativa. Que sejamos homens e mulheres fortalecidos através da forja de Ogum. Boa leitura!

Bianca Melo

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EDIÇÃO 18

REVISTA ÒKÒTÓ

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EQUIPE


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QUAL É O SEU TEMPO ? Izaias Oliveira :

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ora lá no tempo de infância quando a gente fazia aquele machucado, poxa como ardia...

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E não é que ainda tenho essa mania??? Mas agora não “abafo” mais os ralados, mas umas feridas que causam uma dor bem mais profunda e, poxa, como doem.... Ao invés de chorar, gritar, espernear real, quando dói, a gente engole maior erro e isso nos consome por dentro, suga nossas energias de forma absurda. E alguém pode perguntar: então por que tu não bota pra fora logo?!

Ligia Costa

Por mais que seja difícil, saber que você tem onde ter suporte saber com quem contar e mesmo com o caos instalado saber valorizar sua comunidade e contribuir para o crescimento dela, saber que você é parte daquela engrenagem, a troca de energia e afeto que são coisas que só quem vive com os seus e pelos seus pode contar. Viver em comunidade quando tudo está em ordem é maravilhoso, mas não só quando tudo está em ordem, mas principalmente quando o caos está instalado, a gente vê com quem pode contar e quem está pra jogo independentemente da situação. Essa é a postura!!! Por isso me diz aí: qual é o seu tempo? O vento tá passando na ferida? Se ainda dói, grite, chore, se expresse de alguma forma e esteja entre os seus e pelos seus.

Esse é um caminho errado, que te leva fatalmente a destruição, por mais que você tente não irá sustentar essa postura errada por muito tempo, tu acaba implodindo.

Ainda não sei falar. Essa é uma das formas que encontrei para me expressar. E é isso: não podemos parar a caminhada e a evolução é constante.... Nós por nós.

Tenho uma ferida comigo há alguns meses, que dói muito, às vezes me sinto

“O que trago dentro de mim preciso revelar…”.

Palavras-chave: Pretagogia

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Aí é que está! Fomos ensinados a sofrer calados, a viver na sombra, a não demonstrar sentimentos ou uma aparência de superação que não corresponde à realidade. Receio do que os outros vão pensar. Vão achar que é drama. “Nossa! Fulano tá pesando demais com isso já”.

Mas me sinto apoiada. O viver em comunidade me mostra a cada dia que não devo sofrer só e como isso é essencial para nossa existência.

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Eu ia logo correndo procurar um pano para abafar, pra mim iria aliviar a dor de alguma forma, logo vinha minha mãe brigando “Tira esse pano de cima deixa o ar correr ai, vai arder agora mas logo seca se tapar é pior”.

sem chão, sinto que ainda não coloquei tudo pra fora.


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APRENDER

É SOBRE CONECTAR

E

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Stephanie Manu

Só de tirar o propósito já muda toda a configuração do que é aprendido, agora imagina mudando isso tudo? Loucura, realmente uma pseudo educação.

E nos meus estudos de história para a produção de textos ou lives pra pagina eu comecei meio que sem querer a fazer ligações fora da história pra conseguir entender, por que eu não conseguia lembrar do conteudo, por mais que eu gostasse da historia, fosse uma pessoa foda, meu cerebro não entendia, podia até memorizar, mas não processava, então na maioria das vezes a unica coisa que eu conseguia fazer era reproduzir o que eu li, mas eu não conseguia ver sentido no que eu tava passando. Eu ficava pensando como as pessoas faziam lives e textos tão bons, com todas aquelas informações e eu não conseguia. Então percebi, que pra

mim entender o que eu tava estudando, o que eu tava passando, eu precisava entender o contexto, não dá pra falar sobre um grande reinado sem saber onde ele fica geograficamente, sua cultura, seu passado, tudo influência e foi aí que comecei a juntar geografia com história, isso de início, já é uma recuperação do modo de aprendizado que a gente perdeu, mas não fui eu que comecei com isso, no Òkòtó a gente já utiliza dessa pretagogia, é a corporeidade somada a espiritualidade e a intelectualidade, uma não funciona sem as outras duas, e duas não funcionam sem uma. Se não é coisa de yurugu. E a gente já sabe onde isso leva. É interessante pensar que isso não difere no restante da nossa vida, eu por exemplo entendia a questão da espiritualidade, corporeidade e intelectualidade, mas não tinha sacado essa questão com a história, é como o Taiwo sempre fala né, sabe fazer a conta com maçã mas não sabe fazer com laranja. Aposto que tem gente que faz isso sem perceber, é natural, e tem gente que percebeu, assim como eu, e tá aplicando. Igual com a questão do texto, que eu utilizava sem perceber, sempre quando eu ia pegar algo pra escrever eu fazia uma conexão com outra coisa, na verdade eu chamo de pegar o que te toca naquele assunto e construir um tem em cima disso e quando eu tô garrada pra escrever, to com “bloqueio” eu sei que é por isso, to com um tema muito fechado e não

encontrei o que me atinge no assunto. Isso pode ser também por conta de pouco embasamento, até porque não tem como encontrar o que te toca sabendo uma mixaria sobre o assunto, mas tudo é sobre fazer conexões e a maioria das vezes que a gente não consegue produzir algo com um certo tema é por que não fizemos conexões suficientes, isso se explica até biologicamente. Quando você relaciona um assunto com o outro seu cérebro memoriza melhor porque o seus neurônios fazem mais ligações então é mais fácil entender o que foi estudado, pois ele pode ligar aquilo a partir de vários pontos diferentes. E eu fui aprendendo isso, eu sei que as minhas lives não são das melhores (espero o dia que eu vou poder dizer que é, por que eu to trabalhando pra isso) mas estão bem melhores do que quando eu não tinha sacado essa interseccionalidade e faz pouco tempo que eu entendi isso, mas já acho que tem uma diferença gritante, até a questão do nervosismo melhorou, porque entendo melhor assunto, e não vamos parar em geografia né, o propósito é expandir até que tudo possa explicado através de um e esse um possa ser explicado através do todo, alcançar o mais próximo das artes liberais que seja possível, retomar ao máximo do nosso modo, o nosso ensino. Ah e pra finalizar como eu comecei, hoje eu sou completamente apaixonada por história e cada dia que passa eu quero estudar mais, haja tempo viu.

Palavras-chave: Pretagogia

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Comecei a estudar sobre Sete Artes Liberais esses dias. Essa era a educação passada em Kemet, que os Europeus roubaram e transformaram nisso que eles chamam de educação hoje. É engraçado que tem uma parte do texto que eu tava lendo que diz tipo assim: “O ensino americano é baseado na sete artes liberais, eles só mudaram o modo de se estudar, a importância de cada arte, o porquê de se estudar e acrescentaram racismo e demais discriminações” Eu ri, cara! Como pode ser baseado com tudo distorcido?

Uma das coisas que eles mudaram, é isso de separar por matérias, estuda cada coisa desvinculada da outra, nada tem um objetivo é tudo solto. E nas artes liberais não era assim. Todo o estudo feito ali tinha um propósito claro e era conectado a todas as outras matérias, a matemática não era uma coisa solta, de números e contas aleatórios, estudavam a matemática para poder aprender sobre conceitos da vida, tudo era interligado, tinha uma explicação. E com essa Yuruguzação da educação isso se perdeu e o que vemos hoje é uma educação deseducadora, uma educação para servir, uma educação que forma operários para manter a (des)organização da sociedade atual, ensinados a servir para o crescimento do yurugu, consequentemente, para o seu próprio decrescimento.

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u nunca gostei de história, na época da escola dava preferências para as matérias de lógica, matemática, biologia, química, nunca fui fã de história e fugia de geografia igual os negresco foge do Òkòtó. E é engraçado que agora, o grupo que eu esteja e o trabalho que estou somando seja justamente nas páginas de história, e pior o que eu mais tô gostando de estudar no momento é a geografia ligada às histórias, como pode né!? Mas a explicação é bem simples, o problema nunca foi a história, a geografia, a gente sabe que o que se passa nas escolas não é lá as histórias que a gente deveria ouvir, mas mais do que isso, além do conteúdo, que não é dos melhores, o modo de ensinar também é corrompido.

: Freepik


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JÁ TACOU FOGO NO OYNBO QUE VOCÊ É ? REVISTA ÒKÒTÓ

A CAPOEIRA VAI TE COBRAR

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ocê pode se esconder de tudo, ou “achar” que se esconde.

Você pode ter chegado sabe-se lá Deus onde. Você pode ter a sobrancelha franzida e a cara fechada. Você pode ser agradável além da conta. Você pode ser o mais sarrista e debochado.

Palavras-chave: Brabos

Você pode não suportar a ideia de não ter melanina. Você pode se assustar com o poder da melanina. Você pode não ter ideia da onde pode chegar.

Você pode ser o “drama” incorporado.

Você pode não ter ideia de qual caminho irá pegar.

Você pode ser o mais comunicativo e bem informado.

Você pode chegar na roda de capoeira e começar a dançar.

Você pode ser o mais pessimista ou otimista.

Você pode chegar na roda de capoeira e começar a lutar.

Você pode se afogar em lágrimas ou naquela sensação de vazio que nada preenche.

Você pode se esconder de quase tudo, menos da capoeira ôaiaaaa.

Você pode não conseguir se aquilombar com a sua família de origem. Você pode não suportar a ideia de não suportar a própria família.

Uma vez na roda a dentadura irá pular. Não adianta se esconder, mais cedo ou mais tarde, a capoeira irá te cobrar.

Fogo nos racistas! Queimem todos! Menos os oynbo legais, eles não. Criança também não pode! Onde já se viu?! Criança... nada a ver. Fogo nos racistas, mas sem radicalismo! Não posso perder meu contrato... Fogo nos racistas! Mas só se gerar like no meu vídeo chorando... Fogo neles! Quem? Ainnn, mas os próprios negros são racistas com eles mesmos... Então, Fogo em nós?! Não... deixa isso pra lá. Abafa o caso.... Vai dar em nada mesmo. Pra que tanto ódio? Vocês precisam ter paciência. Explicar o que é racismo pro racista...ninguém é obrigado a saber! Deixa que Xangô bota fogo... Em quem? ..... E lá vai mais uns séculos de escravidão espiritual, mental e emocional, porque

Sabe o que pega? Vocês botaram o oynbo no lugar de Exu! Acha que ele pode abrir os caminhos para os que vocês querem, que tem contatos que podem te beneficiar... e num tão errado não. Quando o objetivo é ser 2 vezes melhor em ser mais branco que o branco, é pelos termos do brancoo mesmo o caminho. A trairagem tá quando se diz que tá lá arrumando a casa do oynbo, pra trazer avanços para preto. Tá lá se vendendo pra oynbo, pra ter “representatividade”...representar o que? Lacaio? Serviçal? O ladrão? A empregada? O vilão?Quem é você na novela? Diz fogo nos racistas sem coragem de acender um fósforo. Vocês estão mais mortos do que o sinhô! E tão aí vagando... porque a kalunga grande não foi capaz de afogar. O espírito continua cativo, preso ao dono, incapaz de se libertar sem alforria ou de se rebelar. Esperando a autorização do dono até mesmo para desencarnar... Talvez por isso chamavam “Portal do não retorno”. Que morte horrível! Que morte sem volta!

Kafunji Mahin Alayê Òkòtó Palavras-chave: Pretagogia

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Roselaine Òkòtó

Você pode se amarrar na sua família.

Nos racistas sim, mas nos da minha família, não. Fogo neles! Menos nos que me deram trabalho. Se eles pegarem fogo, como vou me alimentar, pagar aluguel, minhas contas?!

ninguém bota fogo em racista algum! Ninguém tem coragem de cortar o grilhão. Chora pela morte do sinhô, pelo fogo na casa grande.

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ogo nos racistas! Menos no meu oynbo...


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UM LEMBRETE DA NOSSA GRANDEZA “Essa pele que a gente carrega está cheia de história, axé, é o símbolo de poder da nossa nação!”

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os vários papos sinistros que Garvey deixou pra quando estivermos em tempestade ele deixou como ensinamento que “a pele preta não é uma medalha de vergonha, mas sim um símbolo da grandeza da nação”.

REVISTA ÒKÒTÓ

No livro Melanina: A Chave Química Para a Grandeza de Carol Barnes é explanado e demonstrado como a melanina (ou melatonina) é algo intrínseco a qualquer corpo por ser: “…peça fundamental no controle da memória, motivação, maturação e organização mental, integração de sensação, sonho, emoção(…).”.

Mostra como foi escondido de nós o quanto essa substância, vista com evidência em pessoas de pele escura por ser a forma visual como aparece esse hormônio em nosso corpo, é fundamental não só para o funcionamento do indivíduo, mas de todo um povo. A melanina é o que nos faz ser preto, ser africano! E ela não ta presente só na gente não, todas as coisas da natureza também a possuem em suas composição, é uma parada que nos (re)une a natureza, que nos dá poder de cura, de movimento, de criar…

que os brancos fazem de tudo pra apagar a história dos povos melaninados e vem genocidando o nosso povo desde que esses fudidos perceberam que eram mais fracos por não ter melanina! E ainda tem gente que acha suave perpetuar o genocídio botano filho em barriga de branco! Garvey já mandou o papo: nossa pele é um lembrete da nossa grandeza, da que já foi e da que construiremos!, da que já foi e da que construiremos!

Voltando ao brabo, o cara levou esse papo a sério e fazia sempre questão de fazer com que valorizássemos a nossa melanina, a nossa pele. Essa pele que a gente carrega está cheia de história, axé, é o símbolo de poder da nossa nação! A melanina é tão poderosa

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Na época em que o cara manou essa há um século e bráulios atrás a autoestima do negro estava escancaradamente minada de mentiras brancas sobre nós mesmos, muitas que sobreviveram até hoje passando pelas gerações de brancos

e infelizmente também de famílias negras, que perderam a capacidade de se exaltar, de exaltar a beleza (não só estética/física) do próprio povo! Sem estima suficiente pra exaltar a si próprios.

Ou seja, é o que bota ordem no bagulho.

Acácio Òkòtó

Palavras-chave: Brabos

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Izaias Oliveira:


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LIBERDADE CANTOU Izaias Oliveira:

Sem motivo conhecido (mas nós sabemos qual foi o motivo, né? rs), logo que começou o Ensino Fundamental, sua professora lhe atribuiu o nome Nelson, inglês, que era popular e muito mais fácil de pronunciar, aquela parada de a gente aceitar com uma certa facilidade os nomes gringos mesmo não sabendo pronunciar e em contrapartida, a gente ficar preocupado se os outros vão saber pronunciar nossos nomes africanos conforme vamos nos identificando e escolhendo um nome ancestral que remeta a África em nós, porra nenhuma! Eles que lutem para aprenderem a pronunciar nossos nomes africanos rs. Antes de ser Nelson Mandela, ele foi Rolihlahla Dalibhunga, nascido em 18 de julho de 1918, na tribo Tembu, parte da nação Xhosa, na África do Sul.

Samuel Elias

No início da década de 1940, Mandela estudava Direito em uma Universidade onde era o único negro da turma (se a gente tem que contar quantos Pretos tem nos espaços que a gente frequenta, acho que estamos no lugar errado não? rs), e

Mandela então começa a participar de movimentos estudantis que tinham como objetivo lutar pela igualdade de direitos e respeito às pessoas negras. Depois de formado em Direito, ele funda com o também líder sul-africano antiapartheid, Oliver Tambo, o primeiro escritório de advogados negros do país. No mesmo período, casou-se com sua primeira esposa, Evelyn Mase, com quem teve quatro filhos. Madiba já era envolvido politicamente com o ANC (Congresso Nacional Africano) e logo tornou-se uma figura importante dentro da organização, junto com seu amigo Tambo. Em 1948, um partido alinhado às causas nazistas ganhou as eleições do país. No ano seguinte, institui o Apartheid, separando brancos e negros através de leis que julgavam a partir da ideia de superioridade da raça branca. Pessoas negras perdem seus direitos, suas terras, sua dignidade e tudo mais que os brancos pudessem tomar. Foi então que Mandela começou a liderar protestos pacíficos contra o regime. Foi um movimento de luta parecido que o levou de um líder pacífico a um homem que chegou a defender o uso da violência para resistir aos horrores do Apartheid. Nelson casou-se com Winnie Mandela em 1958, mas não puderam aproveitar muito a vida conjugal. A partir de então, os dois foram presos em diversas ocasiões por causa do ativismo político.

Palavras-chave: Brabos

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Rolihlahla, que na língua Xhosa significa aquele que ergue o galho da árvore, ou, popularmente, encrenqueiro e Dalibhunga, um nome Xhosa que ganhou aos 16 anos em seu rito de passagem para a vida adulta, e significa criador ou fundador da conciliação, do diálogo.

se deparava com um país cada vez mais dividido entre brancos e negros.

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nze de fevereiro de 1990 foi o dia em que, depois de um longo período de negociações com o governo da época, Mandela aceitou sua liberdade, sob a condição de que todos os presos políticos fossem libertados e que seu partido ANC fosse legalizado.


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A GUERRA CONTRA OGUM É ESTRATÉGICA PRA ELIMINAR A LINHA DE FRENTE DE COMBATE. COMO DE FRENTE NINGUÉM BATE, OGUM É ATACADO SEMPRE NA COVARDIA. AS MANIFESTAÇÕES DE OGUM ESTÃO (DEVERIAM ESTAR) TANTO NOS HOMENS QUANTO NAS MULHERES AFRIKANAS Lisimba Dafari :

A

campanha de docilização do “homem”, assim mesmo, propositadamente generalista e sem racialização, é porque o homem bran já não precisa mais da agressividade para viver ou exercer o poder já estabelecido. Quando o faz, é por hobby. Tudo que o branco faz agora, é amparado pelas instituições que criou com ajuda da mulher branca.

Rodjéli Nyack Ra

Existe uma analogia histórica. Em 1943, descobriu-se manganês na Serra do Navio, no Amapá. O Manganês é fundamental para o desenvolvimento da siderurgia e

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Esse discurso de docilização (eliminação de Ogum) pela manipulação moral da violência, serve pra EXTERMINAR aqueles que dependem da energia/representação interna de Ogum para manter sua sobrevivência em meio ao inferno.

de toda cadeia de produção subsequente. Quem controlasse o manganês, controlaria o desenvolvimento do país inteiro por décadas ou até centenas de anos. Eis que os EUA investiram em influência para conseguir a licitação da extração. Eles não precisavam de mais manganês, eles precisavam estrategicamente manter a dependência do Brasil em relação aos EUA. Eles extraíram o manganês em poucos anos a toda velocidade possível e nunca o usaram. Nunca tiveram interesse em usá-lo. Até 2012 era possível ver o depósito do mesmo manganês no Google Earth. A analogia é essa, é necessário retirar do inimigo aquilo que ele depende para sua sobrevivência ou desenvolvimento, e isso é feito não só fisicamente, mas com ideologias virais. Ideologias embasam toda uma cultura, toda uma política.

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A COVARDIA CONTRA OGUM


é uma vacina anti-africanismo. Um antirracismo parco e fraco já sob controle pro sistema imunológico bran exterminar. Ele tá 3 passos à frente de todos nós, infelizmente. Tamo indo e pessoas como ele tão já voltando.

Tiram se as armas de quem tá no inferno, e privilegia o diabo, pois ele já joga em casa.

O racismo do bran masculino de ir matar com as próprias mãos, cedeu lugar ao racismo feminino bran, esse de vampirismo espiritual, de anestesia e sugamento de axé. O racismo deixou de ser máquina de matar pra ser máquina de mortificação. Morte por esgotamento e asfixia. Deixou de se pautar em predatismo para ser parasitismo.

Palavras-chave: Elementares

É por isso que um homem branco bilionário (George Soros) patrocina feminismo no continente africano e ao redor do mundo. Porque tal patrocínio

A comunidade preta precisa demais de homens pretos. Depois que ele cair totalmente, será mais fácil a tomada total, ou a escravização definitiva. Não podemos esquecer que eles já tiveram a opção de aniquilamento e preferiram investir em escravização. Talvez a ação bran só tenha sido mesmo uma administração de mortes em relação à quantidade de trabalho a ser efetuada, há 500 anos. O homem preto tem sido caçado por predatismo há mil anos, e agora se adicionou o parasitismo há uns 70 anos. Nem preto homem nem preta mulher resistirão um sem o outro sem a cumplicidade máxima entre si.

11 9 1147 8453 @adayeba.artesanato

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E é por isso que queixa contra bran em qualquer esfera nunca dá em nada, nunca geram ações, apenas mais queixas. Os brancos perceberam que se agirem como bons ouvintes, conseguirão te acalmar e continuar sugando. Porque sabem que as ações vindas das queixas generalistas sempre vão desembocar mesmo é nos preto, Isso é projeto. É estratégia, porque sabem que coletivizar o discurso de punição vai te fazer parecer mais justo. A punição se aplica aos pretos. Não é engano, não é ineficiência. É por saber que o bran está fora de alcance que o feminismo malha “todos os homens”, pois sabem bem quem é que paga a conta com o estigma de selvagem criado.

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Os pretos carentes de aceitação vão então cada vez mais internalizar as crenças e ideologias do inimigo, espontaneamente, internalizando que a masculinidade é problemática através de todo tipo de propaganda, estatal ou não.


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AS DEFENSORAS DOS POBRES INDEFESOS

J

á repararam que as pessoas sempre lidam de forma racista com os homens pretos?

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É óbvio que em alguns momentos a gente enquanto mulher tem que atravessar o pagode porque outra mulher vai se valer exatamente disso para manipular a situação. Mas, as amigas, as tias, as primas, as irmãs, a mãe do cara, os amigos, os tios, os primos, os irmãos e o pai descendo a lenha e você vai comprar essa briga por conta de que?

Eu lembro que uma vez um irmão meu começou a namorar uma menina visivelmente desequilibrada. Vai lá mano. Em 3 meses já estava com casamento marcado, parte das coisas pagas. Uma loucura. Percebeu que a moça era desequilibrada e não queria mais, aí foi a hora que respingou pra todo mundo, porque a menina queria

Eu não parto do pressuposto que falta a esses homens capacidade de se auto defender? E mano, a emoção vai botar a gente exatamente nesse lugar de querer defender o outro a qualquer custo. Tão falando de alguém que eu gosto, como assim? Ué, mas estão falando mentiras? Não. Então, deixa falar. Estão falando mentiras?

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Estão.

Mata Rindo da Zumbiido Òkótó

Parece a galera que acha que o Òkòtó é alguma espécie que abduz as pessoas, tira o cérebro e coloca outro no lugar. Mas, mano, as pessoas encontram o Òkòtó, procuram pelo Òkòtó, quando acham o Òkòtó se sentem em casa porque é um bagulho que as pessoas muito queriam. Não tem lavagem cerebral. Inclusive, antes de entrar no Òkòtó a gente fica praticamente 4 meses perguntando pras pessoas. Vocês têm certeza? Oh aqui a gente pensa assim, assim e assim. Você quer mesmo? A gente acha isso, isso e aquilo. Você quer mesmo? Nossa base é essa. Tanto que algumas pessoas olham e falam, os caras são brabos, mas não é pra mim. E aí mano, esse rolê de achar que o òkòtó fez lavagem cerebral na cabeça de alguém, ou que alguém mudou por causa de fulano ou de ciclano, diz muito mais do que vocês imaginam sobre a relação que

Há quanto tempo você conhece fulano e nunca se importou com as dores dele? Que relação é essa que só te permitiu ir até onde era confortável pra você? O que te importa mais: ter ao seu lado a mesma pessoa de antes ou ter uma pessoa feliz, confiante, que sabe do seu potencial e que busca pelo equilíbrio? Ou você prefere ao seu lado aquela pessoa depressiva, perdida, mas que estava sempre ali por vocês, e só vocês importam? A gente não tem poder sobre o outro, o outro faz escolhas, escolhe caminhos, escolhe mudanças, escolhe ser mais autêntico, procura por caminhos. Não cabe a ninguém escolher o caminho do outro, a gente pode fazer uma vida de esforço. Passar a vida falando que fulano será isso, e quando fulano cresce, fulano se descobre aquilo, e gosta de ser aquilo, se identifica com aquilo. E vai deixar de ser só porque outras pessoas não se agradam com aquilo? Quando a gente se incomoda com a mudança do outro, isso diz muito mais sobre esse lance da gente não poder controlar o outro. E isso dói. Dói em quem não controla o outro. Dói no outro que se vê confortável em um outro lugar, mas que não queria magoar ninguém. Mas, a vida não é sobre facilidades né minha gente, a vida é sobre custo, e tudo tem seu preço, a gente só precisa decidir o quanto estamos dispostos a pagar para ser o que decidimos ser, o que gostamos de ser.

Palavras-chave: Elementares

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Então deixa ele se defender, ele é capaz disso.

Eu deixo arder, no máximo, se tiver um bom dia, desocupada, escuto ali o que a pessoa tem pra dizer, mas sem associar muito, porque família gente, é aquele lance de que estará sempre ali. Aí a pessoa conta um causo na força do ódio, você compra briga, fica bravo com todo mundo, no outro dia a pessoa está de boa, porque família é sobre isso também, se desentender e estar sempre ali. Mas, tratar os homens nesse contexto de que eu tenho que defender meu pacotinho de bombom indefeso, ou achar que fulano está mudado porque agora se relaciona com não sei quem e precisamos salvá-los da garra da bruxa maldosa, é também um lugar racista. Que homem é esse que não sabe se defender? Que homem é esse que não tem capacidade de fazer escolhas por si mesmo?

Os caras não são humanos, mas aí quando a gente cai no lugar de defender esses homens tendo eles plena capacidade de se defender também não é um lugar racista?

Às vezes acontece das pessoas mudarem ao mesmo tempo que conhecem alguém, mas eu duvido muito que esse outro alguém seja pivô das mudanças da pessoa, a pessoa já estava decidida a mudar, ou a pessoa conheceu algo que ela percebeu ser importante, e ela muda. Achar que a pessoa é incapaz de pensar por si só, de realizar por si só. Anos de convivência e esse jeito da pessoa estava tudo bem pra te incomodar justamente agora?

vocês tem com essa pessoa.

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Ou é a galera que acha que os caras são todos bandidos, tóxicos, não prestam ou é a galera que acha que são todos uns coitados, sem escolha, pau mandado.

A pessoa lida com todas essas outras pessoas bem antes de você e sempre soube lidar com todas elas, não paga de salvadora do cara não. Mania cristã essa de achar que vai salvar o outro de quem ele sempre soube lidar.

partir pra agressão porque sabia que ele não poderia revidar, aí tivemos que entrar no meio, mas antes disso, era só observação. Você que foi caçar e a gente que tem lidar com isso? Não mesmo. Mas, mano, isso me serviu muito como termômetro, se esse meu irmão foi capaz de em 3 meses perceber o desequilíbrio da moça, as outras pessoas também percebem. Vai ver elas queiram lidar com isso, mas já perceberam.


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PRECISAMOS ACABAR

COM OS COVARDES PRETOS

“Sua raça de covardes, sua raça de imbecis, sua raça de inúteis, se vocês não puderem fazer o que outros homens fizeram, o que outras nações fizeram, o que outras raças fizeram, então é melhor que vocês MORRAM!” — Honorável Marcus Garvey

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Palavras-chave: Elementares

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Onnurb X Yakô Aba

Não adianta ser versado em discursos de autonomia e só praticar EUtonomia! Não adianta falar de emancipação e só fazer EUmancipação. De que adianta o que você diz, se quando precisamos que você coloque seu propósito em alguma coisa,

O que tem de alecrim dourado aí vendendo curso sobre coisa que não sabe, fingindo na internet que age pela comunidade mas não consegue nem deixar de ser mimado para ajudar o coletivo, isso é sintoma do maior problema do povo preto… NOSSA PRÓPRIA COVARDIA. Homens e mulheres pretos de verdade não podem fugir dos problemas, bloquear quem cobra proceder e fazer birra depois de ouvir um xingamento e um grito por estar fazendo merda. Homens e mulheres de verdade não podem terceirizar a responsabilidade das próprias ações pelas reações de quem tá vendo o vacilo. Se você não tivesse fazendo merda, não tinha tanto branco e negresco agindo igual a você, e não tinha tanta gente preta foda vendo que você é vacilão. É simples, complexo de alecrim dourado e de camponesa oprimida é uma máscara para esconder a COVARDIA e o RECHEIO NEGRESCO de gente que não tem compromisso com o coletivo. Encare seus problemas de frente, ou saia da frente quando nós estivermos encarando os problemas de frente. Quem ficar no chão chorando que levou rasteira, vai ser pisoteado. Esse é o caminho da libertação do nosso povo.

: Izaias Oliveira

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sse discurso do Garvey é o terror dos negrescos que gostam de se fazer de vítima. O povo preto está nas condições que está por responsabilidade própria. O que nos impede de nos unir, de deixarmos os problemas individuais de lado para resolvermos o problema da nossa raça primeiro? É fácil terceirizar as responsabilidades, quando as consequências do INDIVIDUALISMO e do EGOÍSMO são pagos por outras pessoas da nossa raça. É fácil dizer “ain, mas o branco que ensinou a gente a ser assim… a culpa é da colonização… estou em processo de melhorar meu comportamento, preciso de tempo pra aprender, a culpa não é minha...”. SUA RAÇA DE IMBECIS! O branco ensinou a gente a pensar individualmente, mas eles NUNCA deixaram de buscar sua autonomia e seu poder POR QUALQUER MEIO NECESSÁRIO! Literalmente, eles te ensinaram o comportamento mais lixo da raça deles justamente pra você trabalhar pra supremacia branca sem nem pensar a respeito! É o objetivo deles, um monte de negresco chorão se fazendo de vítima enquanto os brancos matam os pretos que tão na margem!

você arruma desculpas idiotas para não sair do lugar? Isso é postura de COVARDE! O problema do povo preto é a COVARDIA! E essa covardia só existe na cabeça de quem JÁ ACEITOU O COMPORTAMENTO DO BRANCO COMO O MELHOR!!! A gente mede o querer das pessoas pelos sacrifícios que elas fazem, a gente mede o proceder de uma pessoa pelas ATITUDES que ela toma. Doutor afrocentrado falando mentira afrocentrada enquanto se comporta igual branco a gente já tem desde antes do próprio Garvey pisar nesse mundo.


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EU DEIXEI DE SEGUIR A S CHORONA S

V

ocês sabem quem são as choronas?

REVISTA ÒKÒTÓ

Exemplificando: elas fazem textões, poesias, live ou falação, falando de uma realidade que talvez nunca viveram, ou se viveram, estão longe disso há tempos. Vão desde a solidão da mulher negra, até as mazelas do racismo... As choronas usam o racismo como mecanismo de projeção, “lugar de fala” ou visibilidade. Eu chamaria de outra coisa, mas aqui só de choronas mesmo! Essa categoria de mulher deveria deixar de ser considerada, assim como as tais “pretas patrícias” e as “feministas negras”, que estão cada dia mais sumidas.

Thabata Bernardes

Falam tanto em sororidade, cura e blá blá blá e ficam instrumentalizando a dor de outras pessoas como se fossem suas. Toda a nossa bolha já passou desse lugar de dor, de privação e tudo o mais, aqui ninguém tá na trincheira sofrendo diretamente o racismo.

Se você não está nesse lugar, toma vergonha e fala da sua realidade! Fala de como é bom poder ir e vir, (mesmo com a pandemia aí na nossa porta). Fala de como é bom poder respirar tranquilamente aí na sua casa, fala de como é bom comer seus bagulhos, beber suas paradas e desfrutar de uma vida com menos privações. Essa narrativa é importante também, acredite, nós gostamos de ver pretos felizes! Saber que tem pretos que estão saudáveis é bacana, saber que apesar de tudo nós estamos seguindo é motivo para comemorar também gente! Eu me lembro de um evento aberto do Kilûmbu Òkòtó , onde foi falado sobre como deveríamos reprogramar a nossa imagem. A sociedade branca sempre nos mostra em situações de vulnerabilidade, repetidamente, exaustivamente, nossa mente é trabalhada para nos colocar nesse lugar de subserviência, passividade e pequenez. E o papo que foi dado foi sobre mudar essa realidade a partir de nós mesmos. Se começarmos a projetar pessoas pretas revidando a violência, respondendo

Da mesma forma, precisamos aí reprogramar essa imagem, sei lá se isso pega pra todo mundo. Algumas pessoas só precisam devolver a muleta porque não precisam mais delas. Mas sim, parar de chorar por coisas que você não vive é importante. Refaz essa imagem amada! Sorrir, desfrutar do pouco que pode, viver sem ter que sofrer todos os dias é uma coisa ótima! O meu Kilûmbu trabalha para que nós possamos viver para além dos brancos e dos racistas. Viver em plenitude, sem interferência... Pensa nisso aí, fica aí o convite! Esse negócio de estar numa condição melhor e ainda assim precisar chorar é feio, parece que a pessoa sente vergonha, e aí precisa fingir um sentimento, ser generoso com quem não tá nas mesmas condições. Mas tenho uma notícia pra você, esse comportamento é de quem vocês já sabem quem. O povo lá da esquerda que é bom nisso, tão nadando no dinheiro, tão garantidos nas heranças dos pais, mas saem por aí maltrapilhos em solidariedade a quem não tem. Quem nunca viu um cosplay de pobre que atire a primeira gargalhada! Esse negócio de usar a imagem e a dor do outro é coisa deles, e já estamos cansados dessa exploração. Se você ainda

tá nessa mentalidade, sua subjetividade precisa escurecer. Fazer cosplay de triste enquanto está no melhor que se pode estar é ser mesquinho consigo, é egoísta e afasta toda a sua ancestralidade, se você está gozando de coisas boas reverência quem te ajudou e segue. Não desperdice o seu axé choramingando! Se você está mesmo orgulhoso de onde está não faz sentido fazer menção a algo contrário. Seja honesta consigo. É falsidade, é desonestidade você usar a vida de outra pessoa para fazer o que for, foi assim que a escravização foi pensada. Usar a força do outro para realizar os próprios desejos. É assim que vejo várias e vários por aí, o pessoal explora a dor e a dificuldade do outro em benefício próprio. Isso já tem um nome, e já sabemos que não foi legal. Não é bonito. Da mesma forma, usar algo que não está sequer no seu campo de visão a fim de se beneficiar, vender uma imagem que não reflete o que você é, é anti preto, é contra axé e não tá passando batido. Se for mencionar a dor de alguém pelo menos dê o que você tem em troca a esse alguém. Do contrário, ajude a mudar a imagem que nos foi condicionada e viva a sua vida, prestigie seus refrescos sem usar o outro para redimir uma culpa que você não se importa em carregar. Não dá pra passar a vida toda chorando por algo que você não vive, acorde!

Palavras-chave: Elementares

12.MAI.21

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Esse tipo de escrita não deveria ter sequer o visto de outras pessoas. Esse pessoal fala tanto em mudar de vida, virar a chave e, no final, parecem saudosistas.

A romantização do racismo é tão zoada quanto a romantização da pobreza.

prontamente a qualquer ataque racista, logo os racistas deixarão de acreditar que podem fazer o que quiserem conosco. A reciprocidade tem que ser na medida, ou dobrada e é pocas!

EDIÇÃO 18

Choronas são mulheres pretas que já passaram da margem. Já se integraram, já ganharam espaço, dinheiro, trabalho, convivem com brancos e com pessoas pretas que também tiveram algum tipo de ascensão, e agora levam a vida com o racismo feito bola de ferro atada ao pé.

As bonitas têm coragem de falar que nós somos violentados e mortos todos os dias, mas todos esses dias essas bonitas estão no seu lugar de conforto. Longe de qualquer tipo de violência. O racismo deixou de ser um problema pessoal dessas vidas há muito tempo.


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REFLEXÃO

E

stava refletindo sobre nossos anciãos, ou seja, nossos mais velhos, nossos mestres , nossos professores da vida e fiquei pensando.

ficando velho ou inconveniente? Talvez desinformado sobre a atualidade e talvez seja esse o motivo pelo qual você não se encaixa mais nos assuntos.

Será que quando eu for mais velha, as pessoas à minha volta, as pessoas que hoje dizem me amar terão paciência pra ficar ao meu lado?

Enfim, seja qual for o motivo, temos que aprender a cuidar dos nossos anciãos, porque por mais que eles repitam a mesma história por diversas vezes, em todas as vezes você irá aprender uma coisa nova, uma lição nova que com certeza irá te ajudar em teu dia a dia.

Terão paciência pra repetir a mesma pergunta, a mesma história? Será que essas mesmas terão paciência para me ouvir contando a mesma história por diversas vezes e ainda irão falar que massa, sem me dizer “VOCÊ JÁ CONTOU ESSA HISTÓRIA VÁRIAS VEZES” ou “EU JÁ SEI DISSO, VOCÊ JÁ FALOU” quando apenas eu não irei me lembrar. Será que minha mente irá me ajudar a me defender? Porque hoje em dia ela já não ajuda e vivo me traindo, a menos que eu anote tudo pra não me contradizer . Aos poucos você vai percebendo que você já não é mais interessante pras pessoas que você achava que era. Você vai percebendo que suas idéias não batem mais com as pessoas a sua volta.

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Kiluanji Raoni Òkòtó

Então chega aquele momento em que você se pergunta… Será que estou

Daí você nota que quem é intolerante não são os anciãos e sim os novos que não param para ouvi-los e aprender com eles. Coisa que não ocorre quando se vive em comunidade, numa comunidade desde cedo somos ensinados a ouvir nossos mais velhos, assim como nossos mais velhos ouvem nossos mais jovens. Isso é viver em comunidade, isso é colocar sua espiritualidade em prol de sua comunidade e para a comunidade. Então devemos criar nossos erês com os princípios de nossa comunidade para que eles possam levar adiante tudo o que aprenderam e a dar valor em si mesmo e em nossos anciãos. Afinal nossa casca não ficará nova pra vida toda né mesmo, como já nos disse o Brabo Fu-Kiau. Reflitam sobre….

Palavras-chave: Visão

12.MAI.21

Você começa a sentir-se incomodando as pessoas e daí você sem perceber começa se afastar das rodinhas que antes você fazia questão de estar.

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REVISTA ÒKÒTÓ

: Izaias Oliveira


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“ALGO NECESSÁRIO; PRIVAÇÃO”

CARÊNCIA Izaias Oliveira :

A

carência, pra mim, é um dos piores sentimentos que existe, pois por carência a gente se junta até quem tá nem aí pra nós por uma simples migalha de atenção ou afeto. Não à toa pessoas carentes costumam se tornar facilmente dependentes afetivas, seres facilmente manipuláveis e manipuladoras também.

REVISTA ÒKÒTÓ

A real é que a gente não é querido e nunca fomos queridos por eles, nos dar migalhas de atenção, falso protagonismo ou alguma representatividade não passa de uma forma de alimentar nossa carência.

Kianga Ziara Òkòtó

Vê aí o pessoal que bomba nas redes sociais falando o que branco quer ouvir, é aclamado, ganha um pouquinho de afeto, que parece suprir essa carência, se acha importante, até chegar um momento que vai tá em algum lugar em que eles vão te fazer te lembrar quem você é, ou melhor, quem você é pra eles. Ataques racistas, xingamentos, etc...

Isso que a carência faz, te torna dependente e quando eles te desprezam, você fica triste, chora, se vê sozinho e na solidão. E agora? Bingo! Conseguiram te ferrar mais uma vez. Surpresa. Eles não te amam. Então tá mais que na hora de parar com essa carência e essa dependência afetiva que no fim te deixa pior do que você achava que tava no começo. E pra você não depender de quem tá nem aí pra você, deve se suprir o que falta, pois carência é falta. Falta buscar nossa espiritualidade, falta construir nossas próprias coisas, falta trocar afeto entre os nossos para que não fiquemos atrás de afetos e coisas de quem nos mata. Depender do outro, sobretudo aquele que só te oprime, bate, xinga, é mó parada, uma hora ou outra eles vão virar as costas pra você, vão te dar migalhas, te dar o básico, pra você achar que subiu, mas tu só tá caindo, caindo no conto do vigário. É igual caixa eletrônico 24 horas que fica em lugar que não funciona 24 horas, de dia funciona que é uma beleza e a gente até acha que pode contar sempre com aquilo, mas à noite quando o bagulho ta embaçado e apertado serve pra nada, te deixa na mão.

Palavras-chave: Pprt

12.MAI.21

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Tem gente que se vende por carência, pelo prazer de sentar na mesma mesa com aquele que matou sua família e ainda assim ta ali rindo porque recebeu um pouco de atenção do seu maior algoz, aí vai achar que é diferente ou que é amado porque tá ali. Ledo engano.

EDIÇÃO 18

Enquanto povo, passamos por muitas coisas ruins, alguns ou muitos de nós ainda são afetados pelo sentimento de carência. O que é uma merda pra luta toda em si. Porque por carência a gente se une até ao inimigo em busca de afeto/amor ou qualquer coisa que possa fazer a gente se sentir querido e achar que a pessoa se importa e podemos contar com a ajuda dela.

O último álbum do Djonga onde ele fala que se f*deu na mão dos brancos, eu até ri porque o mano tava fazendo de tudo pra tá lá, fazia show lotado de branko, fazia música com branko, deu entrevista no jornal de maior audiência de uma das empresas mais racistas, alcançou o que seria o “topo”, se achou amado, aí a carência ó. Mas foi só dá um passo fora da linha que já não servia mais, e catou de fazer um álbum se lamentando. Oh, coitado! Como ele mesmo canta “vai ser só mais um preto que passou a vida em branko”... e se ferrou.


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DIREITA OU ESQUERDA ? UM PAPO SOBRE AUTONOMIA.

N

É louco como ainda a maioria dos pretos estão crentes que a esquerda é o melhor caminho para vivermos em liberdade. Isso se parece muito com pensamentos que escravizados tinham em relação

aos senhores que lhes davam roupas e permitiam com que eles aos domingos dançassem e jogassem capoeira. Acreditar tanto na esquerda quanto na direita é sentir-se incapaz de escrever a sua própria história. É no fundo, sentir-se incapaz de ser protagonista da história do seu povo e utilizar suas próprias tecnologias para abrir os seus caminhos. E por isso, é mais fácil se contentar com o que já tem, com o que já está posto, o que já está oferecido. A galera parece que sofreu uma amnésia, que se você fala: “Nem direita e nem esquerda” Eles se desesperam e perguntam: Então pra onde? Estão vivendo ainda no cercadinho que delimita o canavial e a Casa Grande. Não viram que depois do cercado, e além dos morros há um Quilombo, há uma Ilha de Sentinela, onde o seu povo vive em liberdade pelos seus próprios meios.

Cristal Nyamekye Òkòtó Palavras-chave: Jeomarx Pprt

12.MAI.21

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s t r a p o t o m farao faraomoto 11 7 8 2 2 9 4 9 11 m o c . l i a m g @ al i c i f o s o t o m . o fara

inguém sabe como é a sua forma de organização social, seus rituais, crenças, e tampouco qual é a sua alimentação típica. Segundo a Índia (segundo mesmo) rs, a Ilha pertence ao seu território, entretanto, até hoje nenhuma organização governamental conseguiu se aproximar ou exercer qualquer tipo de controle. O último contato realizado pelo Governo Indiano foi em 2004 quando houve um terremoto na região, e por drone — somente por drone — o governo tentou verificar se os Sentinelas haviam sobrevivido ao desastre. E até hoje estão vivos. Ninguém entra na Ilha, e se entrar saí morto, porque o Povo Sentinela não permite quaisquer povos em seu território.


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AGONIZA, MA S NÃO MORRE

T

REVISTA ÒKÒTÓ

Palavras-chave: Samba

O contexto abordado pode ser usado também para falar de candomblé, capoeira e outras manifestações, basta ligar os pontos. O trecho de “Agoniza mas não morre” do grande Nelson Sargento diz muito sobre tudo. “Mudaram toda a sua estrutura, Te impuseram outra cultura, E você não percebeu…” Desde os reinos africanos a gente percebe que não dá pra fazer acordo com os brancoos e ainda hoje escorregamos nessa casca de banana. Se liga no custo por toda essa integração, saiu caro, a conta nem bate, e a reparação tem que ser feita pra ontem e olha o tempo... costumo dizer que o que demorou 500 anos para se instaurar, demora mais 500 para ser desfeito. Então, o primeiro passo tem que ser dado. Não se constrói de um dia pro outro, mas só de fechar a porta pra não ter interferência já é um avanço. Uns estudiosos vão chamar de racismo reverso, eu digo que é se portar como guardião da nossa tradição.

A

s questões expostas sobre algumas dessas últimas saídas do Òkòtó não têm nada de diferente do que acontece nas relações sociais cotidianas. A galera que não concorda tá pintando um monstro como se isso fosse algo extraordinariamente absurdo. E muitos dos que concordam estão achando que é algo espetacularmente revolucionário. Se a gente colocar na perspectiva da bolha da militância, vai parecer sim espetacular. Porque essa militância, de forma geral, prefere se manter no erro a se posicionar de forma a manter a ordem natural das relações sociais. Imagina que você comece a namorar uma pessoa. Você ingressa na família da pessoa e passa a conviver com aquelas pessoas. Como um bom companheiro(a), estabelece vínculos e afetos. Mas vai lá e dá uma bela de uma sacaneada no seu par ou desrespeita um mais velho da família de forma que essas atitudes façam com que a relação termine. Como você acha que vai sair da casa? Como você espera que aquela comunidade o trate? De que forma você acha que aquele grupo social vai se referir a você com outras pessoas? A mesma coisa em uma empresa. Por mais competente funcionário que você seja, se você fizer uma merda que te custe demissão,

o que as pessoas ali vão falar de você? Você vai conseguir que alguém daquela empresa te faça uma carta de recomendação? Pois bem, as mesmas coisas vão precisar ser aplicadas dentro das organizações pretas que zelam pelo nosso povo e que buscam nosso crescimento. Assim como por uma questão de proteção, as pessoas alertam uma às outras sobre a índole de uma pessoa ou uma empresa se nega a recomendar um profissional que agiu de forma danosa, os coletivos precisam colocar as cartas na mesa sobre a conduta das pessoas que agiram de forma descompromissada com nossa comunidade. O que está acontecendo aqui. O que está sendo dito e o que está sendo exposto, não é apenas sobre o Òkòtó e muito menos sobre as pessoas citadas. É sobre a comunidade. É um alerta sobre quem se deve abraçar. As pessoas mudam, evoluem, melhoram (as vezes). Mas a gente tem que agir da mesma forma como se age no mercado de crédito. Seus precedentes serão anotados e serão sempre relevantes nas análises futuras. De acordo com seu histórico, algum crédito pode até ser fornecido, mas por cautela, vai ser dado apenas aquele montante cuja garantia de retorno esteja minimamente evidenciada.

Bàbálóore Omowale Apókan . . Palavras-chave: Pprt Tretas

12.MAI.21

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Akinwunmi Bandele

O samba e o carnaval, por exemplo, com toda a essência e simplicidade das manifestações africanas, assim que houve interferência do estado com a desculpa de que iriam “organizar” começaram a instituir o local onde deveria ocorrer, cobrar ingressos e foi ficando pior e perdendo o controle quando as escolas tiveram que atender as demandas dos investimentos dos que patrocinam. As escolas saíram do terreiro pra quadra e consequentemente saíram do morro. Os grandes sambistas se tornam menos que qualquer um, as rainhas de bateria são mulheres brancas famosas que não sabem nadica sobre samba ou sambar e são facilmente substituíveis por qualquer outra passista que é cria da escola e da comunidade, e isso vale pros mestres

de bateria. A festa que quem faz é a comunidade, mas quem ganha é a gringa e a elite branca brasileira. Quem estoura champagne de camarote e ganha com os ingressos da maior festa do país não é o preto que deu o seu melhor em treinos exaustivos na quadra e na avenida, não recebem nada em troca, no fim é só o amor pelo samba mesmo.

EDIÇÃO 18

oda manifestação cultural africana que recebe título-colônia (afrobrasileiro), pode crer que ela perdeu sua identidade. Eu diria que é como negociar a paz, mas negociar é quando ambos os lados entram em um acordo que seja benéfico para ambos, então não é negócio, é pedido de trégua, porque foi o inimigo quem impôs os custos pro fim da guerra. Se fizermos a analogia com o caso das manifestações diaspóricas brasileiras a gente vai perceber que o custo do “abrasileiramento” e abrir os nossos portões para a entrada de yurugu pra tornar tudo limpinho e supervisionar o que é nosso não deu certo, pra eles tudo é comércio.

CARTA NA MESA


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REVISTA ÒKÒTÓ

VAMOS DESCOBRIR UMA HISTÓRIA PRETA ?

T

odos nós temos que ter cuidado, e muito, com as pessoas com quem convivemos. Não podemos e, se tivermos um pouquinho de amor próprio e auto cuidado, não iremos ser amiguinhos de todo mundo e agradar todo mundo e isso nem é possível. Enfim, temos que ter cuidado com o nosso convívio.

Saulo Ricardo

E isso pode acontecer com qualquer um de nós, mas quando estamos falando de pessoas pretas isso é muito mais pesado. Uma mulher preta, que se auto intitula consciente e mulherista não deveria se comportar como uma capitã do mato. Mas foi o que uma sonsa, camponesa, indefesa e incompreendida fez: conseguiu se fazer de vítima, convenceu a muitos de que estava certa e hoje vende cursos ensinando a história preta mas os homens a

O causo foi: numa situação em que ela se dispôs a estar, mas como é sonsa, acabou acusando um homem negro casado de assédio. Numa outra situação em que quis estar por 2 vezes disse que nada fez, que não beijou e que, novamente foi assediada por outro homem casado. Numa outra situação, por se comportar de forma desrespeitosa numa festa cheia de gente preta, um homem disse que ela merecia apanhar e ela, alterando os fatos, disse que ele queria agredi-la. Um ano após esse ocorrido e ter sido exposta e fingir demência, ela entrou para o Òkótó. Agora se sentindo protegida por estar nesse bonde lindo e debochado,

soltava indiretas para todo lado em seus posts sobre os casos acima e que ninguém tinha coragem de se meter com ela pois era a braba e sempre esteve certa, só que não. Nestes posts também era nítido como ela se fazia de pobre camponesa que ninguém quer, ou que não quer ninguém pois todos eram malucos, e uma menina inocente que não pode ser responsabilizada pelo que faz, sente ou pensa bem no estilo sinhá. Atacada por ser incompreendida e se eu não to afim, ou não quiser assumir meus B.O.’s, é assédio e se eu estiver é porque mereço pois sou linda.

Tomem cuidado com quem consideram exemplo e com quem aprendem algo, pois poderão ser a próxima pessoa a dissimular, fingir, atacar a imagem de outras pessoas e sair como uma pobre camponesa do interior. Cuidado com mulheres pretas fazendo a Nájila, pois nem todo preto tem o dinheiro e a influência pra se defender e fazer o Neymar para driblar essas capitãs empoderadas que por nada podem ser responsabilizadas por não terem poder de escolha, mas continuam escolhendo.

Como confiar numa mulher negra com esse comportamento dissimulado? Em apenas 3 dias ela tentou arranhar a imagem de 3 homens negros e sair ilesa, pura e imaculada e um ano depois não houve um pedido de desculpas (feminista negra, é você?).

Há certos conhecimentos teóricos que apenas reforçam aos outros nossa falta de vontade em ser alguém melhor na prática e que evidenciam que não somos e não falamos o que dizemos. Descobrir a história preta com uma pessoa que não a pratica, pega nem bem...

Como descobrir a história preta através de uma cosplay de sinhá?

Falar de matriarcado africano com cosplay de sinhá? Vocês têm coragem. Melhorem!

Palavras-chave: Pprt Tretas

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Eu não tomei esse cuidado e fui levado a acreditar na versão de uma mulher sem ouvir os outros lados.

quem ela acusou de assédio e de tentativa de agressão não receberam um pedido de desculpas e nem a mulher que a acompanhava pelas redes e a admirava nas redes recebeu um pedido desculpas após ela ter pegado o marido dela duas vezes.

: Izaias Oliveira



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