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ENTREVISTA

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LEITE

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ANTÔNIO PITANGUI DE SALVO

EM DEFESA DO PRODUTOR RURAL

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IGNÁCIO COSTA

Com a missão de unir os sindicatos rurais e os produtores na defesa do agronegócio mineiro, o criador de Guzerá,

Antônio Pitangui de Salvo, acaba de assumir a presidência do Sistema FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais). Mineiro de Curvelo, é engenheiro agrônomo e atua na pecuarista de corte, apostando em sistemas sustentáveis, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e o protocolo Carne Carbono Neutro. Toninho, como é conhecido entre os selecionadores de zebu, está dando continuidade ao legado deixado pelo pai, o criador e ex-presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo. Vem atuando em entidades classistas há vários anos, sendo atualmente presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Carne Bovina do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA e do Sindicato dos Produtores Rurais de Curvelo. Nesta entrevista exclusiva à revista Pecuária Brasil, ele fala sobre os projetos que pretende desenvolver na FAEMG, as críticas contra o setor na área ambiental, comunicação voltada para a sociedade em geral, eleições presidenciais, mercado pecuário e expectativas para 2022.

Revista Pecuária Brasil – Quais serão os principais pontos da sua atuação à frente do Sistema FAEMG até 2025?

Antônio Pitangui de Salvo – O carro-chefe da gestão será buscar uma aproximação maior com os Sindicatos Rurais de todo o estado de Minas Gerais para poder dar legitimidade às ações que faremos. Será menos BH e mais interior para que os sindicatos tenham maior representatividade. Outro ponto é que precisamos melhorar a comunicação com os produtores para que todos saibam o que a FAEMG está fazendo pelo setor. A entidade trabalha muito bem, mas não adianta fazer uma série de ações importantes e ficar com isso “guardado dentro de casa”. Também trabalharemos para dar suporte aos três principais segmentos do agro em Minas, que são Leite, Café e Carne, e que hoje vivem um momento delicado.

Revista Pecuária Brasil – Como avalia o atual cenário agropecuário, que sofre com aumento no preço dos insumos, queda no preço do leite e nas exportações de carne?

Antônio Pitangui de Salvo – Se nós conquistamos um grande número de novos mercados para exportar a carne brasileira, há sempre o risco de, em algum momento, eles diminuírem as compras por algum motivo. Isso faz parte do negócio mundial. O que ocorreu com a China foi uma situação momentânea que em breve estará resolvida. É importante entender que, atualmente, não existe outro país no mundo com capacidade de fornecer proteína animal no volume que o Brasil tem feito. O que precisamos é ter um diálogo melhor dentro da cadeia produtiva, para que os produtores saibam claramente os reais motivos dos embargos. No caso da China, certamente não foi só um caso de vaca louca atípico que fez isso, foi algo a mais. Então, precisamos ter informação fidedigna, uma comunicação melhor com a indústria e com as demais entidades do setor.

Revista Pecuária Brasil – O leite e o café também sofrem com essa falta de diálogo dentro das cadeias produtivas?

Antônio Pitangui de Salvo – Sim. Não é possível que, em pleno Século 21, ainda tenhamos um diálogo tão ruim. Precisamos melhorar esse convívio, pois a cadeia sendo forte todos saem ganhando. Além disso, é preciso ter um planejamento dentro da cadeia que permita ter uma melhor tomada de decisão por parte dos produtores. A indústria é um cliente do produtor e o produtor é um cliente da indústria, ou seja, se tivermos um diálogo de mão dupla, poderemos entender que tipo de produto o mercado precisa naquele momento, a quantidade demandada, dentre outros fatores importantes dentro do

sistema de produção. No caso do leite, foi criado o Conseleite-MG há alguns anos com a proposta de buscar soluções conjuntas, pelos produtores rurais e indústrias, para problemas comuns do setor lácteo mineiro.

Revista Pecuária Brasil – Falando ainda sobre a comunicação no agro, o setor tem sido apontando dentro e fora do país como causador de problemas ambientais, como ficou bem claro na Conferência do Clima, a COP 26.

Antônio Pitangui de Salvo – Evidentemente que essas ações são interesses comerciais, recobertas por questões ambientais. A Europa está no limite de sua produção, sem novas terras para expandir, não tem sucessão porque não tem jovens no campo. Já o Brasil é uma potência agrícola, tanto na produção de grão quanto de carne vermelha, e está incomodando profundamente os europeus. Não podemos aceitar mais o argumento de que estamos bientalmente correta, que está ajudando a garantir alimento para o mundo e a gerar renda não só para o produtor, mas para todos os profissionais que atuam no campo.

crescendo às custas de destruir floresta, pois isso é uma mentira. As pessoas precisam compreender que as emissões de metano do agro brasileiro são pequenas quando comparado às grandes potências, e ainda temos 66% do nosso território preservado. Na verdade, temos é que receber por essa preservação. Nossas entidades precisam trabalhar firmemente para defender o nosso produtor lá fora, e defender falando a verdade, mostrando que desenvolvemos uma produção sustentável, am-

Revista Pecuária Brasil – Como pecuarista, o senhor adotou práticas sustentáveis em sua propriedade?

Antônio Pitangui de Salvo – Sim, contamos com uma unidade de referência tecnológica da Embrapa dentro da fazenda e participamos do projeto Carne Carbono Neutro. Adotamos o

sistema de ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta) que permite o sequestro do carbono e os resultados têm mostrado que é possível produzir carne de forma sustentável. São projetos excelentes que precisam ser mais bem divulgados para que a pessoas compreendam também que temos condições de fazer em um mesmo hectare duas safras de grãos, uma safra de pecuária e ainda, em linhas, produzir madeira para várias finalidades.

Revista Pecuária Brasil – 2021 está encerrando. Foi um ano bom para a pecuária?

Antônio Pitangui de Salvo – Com certeza. Os produtores rurais brasileiros foram muito bem. Tirando esse incidente com a exportação de carne para a China e do aumento do custo de produção impulsionado pela alta do dólar, as margens de lucro ainda continuam boas para quem tem um sistema de produção eficiente. Agora, mais que nunca, é o momento de trabalharmos com uma gestão profissional nas propriedades para não sermos tão afetados por esse custo maior. Não tem mais lugar para amador na pecuária. Gestão, tecnologia e inovação são os principais pontos a seguir. Com genética de qualidade, melhoria das pastagens, boa nutrição, treinamento da mão de obra, tanto a pecuária de corte quanto a de leite conseguirão crescer. O Senar tem trabalhado muito para auxiliar o produtor no campo, levando capacitação e tecnologias. Acredito que vamos continuar batendo recordes de produção em 2022.

Revista Pecuária Brasil – Em 2022, teremos eleições. Quais serão as principais reivindicações do setor para os candidatos à Presidência da República e a Governador?

Antônio Pitangui de Salvo – Queremos ser completamente inseridos dentro do sistema e das tomadas de decisão, ou seja, receber a devida importância que o agronegócio merece, com um Ministério da Agricultura ainda mais forte. Outros pontos importantes são a melhoria das estradas, fazer a tecnologia de 5G chegar ao campo, respeito à propriedade privada. Essas seriam reivindicações gerais, mas sabemos que cada região tem suas demandas. Por isso, não podemos cobrar só da esfera federal, precisamos reivindicar melhorias junto a nossos governantes estaduais e municipais.

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