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Da régua de orelha aos marcadores moleculares
Se somente os mais velhos se lembram das “réguas de orelha” para aferir a qualidade racial de alguns animais, os mais novos têm a oportunidade de conversar com os pioneiros do melhoramento genético no Brasil ou mesmo de visitar o Museu do Zebu, no Parque Fernando Costa, em Uberaba/MG, para observar como evoluímos no quesito melhoramento genético de bovinos.
O passado glorioso dos pampas, com animais vigorosos e rústicos evoluiu para animais fortes, precoces e com alta habilidade materna. Do Sudeste do Brasil, os bovinos subiram para o Centro-Oeste e Norte, fazendo da pecuária uma ferramenta fundamental para a colonização e desenvolvimento de muitas regiões até os dias de hoje. Mas, antes que me condenem pelo saudosismo, é importante destacar que a evolução da pecuária acontece a passos largos. O rebanho brasileiro cresce ano a ano, em oposição às áreas de pastagem que encolhem em ritmo acelerado. Nossos bovinos que eram abatidos com seis anos agora quase não completam 36 meses. Nossas vacas até bem pouco tempo atrás eram bezerras, afinal, quem na década de 90 emprenhava novilhas aos 14 meses?
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Sim, evoluímos ao ponto de substituirmos a fotografia nos catálogos de touros para uma tabela com números ininteligíveis para quem não é da área. Tomamos o lugar do touro por um botijão de sêmen e até as inúmeras matrizes deram lugar a uma grande doadora e uma porção de fêmeas receptoras. E houve quem dissesse que o homem do campo era matuto; só jamais imaginou o quanto esses matutos são sabidos!
O último passo que observei dessa “evolução matuta” foi a genômica. Uma tecnologia que permite ao pecuarista selecionar seus animais por meio de marcadores moleculares e saber se aquelas matrizes e reprodutores atenderão aos rumos estabelecidos pela seleção genética da propriedade.
Em 2014, tive a oportunidade de visitar duas fazendas na Holanda onde vi dois bezerros de pouco menos de oito meses que foram selecionados pela genômica e identificados como “touros do futuro”. Semana passada atendi um projeto no qual o produtor está fazendo a reposição do seu lote de matrizes via FIV, com todos os embriões filhos de animais com genômica comprovada, dando um salto de duas ou três gerações em uma única estação, mostrando que o que é ficção científica para alguns setores, na pecuária é ciência aplicada na lida diária.
Mas, para onde vamos neste ritmo alucinado de evolução? Será que um dia renunciaremos às pistas, ao olho do dono, ao técnico? Eu diria que não, pois é nas pistas que desfilamos o resultado de toda esta ciência. O olho do dono ganhou uma lupa e drone para análises que vão do DNA às nuvens. Já o técnico, esse sim vem se tornando a cada dia mais importante, pois é ele quem ganhou a tarefa de manter os produtores atualizados de tudo o que acontece de novo nas principais fazendas do Brasil e do mundo. Ele vai continuar sujando a botina, mas o Data Science em seus tablets se tornará tão comum quanto as varinhas para andar no meio do pasto.