Neolatina v.3 n°.24 (2017)

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Philos

PORTUGUÊS CATALÀ ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO ROMÂNĂ REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA 24 dezembro 2017 · REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA 24 diciembre 2017

FERNANDO DE AZEVEDO ALVES BRITO VINÍCIUS CÉSAR ALVES CANDEIRA JOSUÉ SOUSA IUNES ALVES JESSYCA SANTIAGO ILDA PINTO RAMON CARLOS LUIZZA MILCZANOWSKI LETÍCIA CANEDO GILBERTO CLEMENTINO NETO GRASIELA FRAGOSO GUSTAVO SOUZA JOSÉ HENRIQUE ZAMAI LEANDRO JARDIM EDUARD TRASTE

NEOLATINA


Philos

PORTUGUÊS CATALÀ ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO ROMÂNĂ REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA 24 dezembro 2017 · REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA 24 diciembre 2017

FERNANDO DE AZEVEDO ALVES BRITO VINÍCIUS CÉSAR ALVES CANDEIRA JOSUÉ SOUSA IUNES ALVES JESSYCA SANTIAGO ILDA PINTO RAMON CARLOS LUIZZA MILCZANOWSKI LETÍCIA CANEDO GILBERTO CLEMENTINO NETO GRASIELA FRAGOSO GUSTAVO SOUZA JOSÉ HENRIQUE ZAMAI LEANDRO JARDIM EDUARD TRASTE

NEOLATINA


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EXPEDIENTE

REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA

Souza Pereira

EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE

Sylvia de Montarroyos

COMITÊ EDITORIAL | COMITÉ EDITORIAL

Lucrecia Welter

REVISÃO DE TEXTOS | SUPERVISIÓN DE TEXTOS

Maus Hábitos

DESENHO E DIAGRAMAÇÃO | DISEGÑO Y DIAGRAMACIÓN

SOBRE A OBRA DESTA EDIÇÃO | SOBRE LA OBRA DE ESTA EDICIÓN

Publicado originalmente em novembro de 2017 com o título Philos, Revista de literatura da União latina. Os textos desta edição são copyright © de seus respectivos autores. As opiniões expressas e o conteúdo dos textos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Todos os esforços foram realizados para a obtenção das autorizações dos autores das citações ou fotografias reproduzidas nesta revista. Entretanto, não foi possível obter informações que levassem a encontrar alguns titulares. Mas os direitos lhes foram reservados. Philos, Revista de Literatura da União Latina é registrada sob o número SNIIC AG-20883 no Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais com Certificado de Reserva outorgado pelo Instituto Nacional de Direitos do Autor sob o registro: 10-2015-032213473700-121. ISSN em trâmite. Revista Philos © 2017 Todos os direitos reservados. | Publicado originalmente em noviembre de 2017 con el título Philos, Revista de literatura de la Unión latina. Los textos de esta edición son copyright © de sus respectivos autores. Todos los esfuerzos fueron hechos para la obtención de las autorizaciones de los autores de las citaciones o fotografías reproducidas en esta revista. Sin embargo, no fue posible obtener informaciones que llevaran a encontrar algunos titulares. Pero los derechos les fueron reservados. Philos, Revista de Literatura de la Unión Latina es registrada bajo el número SNIIC AG-20883 en el Sistema Nacional de Informaciones e Indicadores Culturales con Certificado de Reserva otorgado por el Instituto Nacional de Derechos del Autor bajo el registro: 10-2015-032213473700121. ISSN en trámite. Revista Philos © 2017 Todos los derechos reservados.

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Philos, Revista Philos Revista de de Literatura Literatura da da União União Latina Latina | | Revista Revista de de Literatura Literatura de de lala Unión Unión Latina. Latina.


EDITORIAL

REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA

O Natal é um dia especial de comemoração, reflexão e partilha para muitas pessoas do mundo todo. E não poderia ser diferente para a Revista Philos: É neste dia 25 de dezembro que completamos dois anos de existência. O ano editorial de 2017 foi um ano de muitos aprendizados, trocas e conquistas coletivas para todos nós. Lançamos a nossa primeira edição impressa com textos de nossos autores e colaboradores da Iberoamérica. Participamos de grandes eventos literários como a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty e Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Realizamos, em parceria com a Academia de Letras de Toledo - ALT, o 1º Concurso de Haicai de Toledo - Kenzo Takemori. Fomos acolhidos por grandes e importantes redes de comunicação do país e, acima de tudo, acolhidos e reconhecidos pelo nosso povo, pela nossa gente, sob os olhares atentos de cada leitor. Apresentamos, nesta edição, as obras da artista visual Rosa Alamo, que, em suas pinceladas coloridas e delicadas, sintetiza tudo o que gostaríamos de expressar para cada um de vocês: a alegria em democratizar a literatura, as artes e o conhecimento. Um dos momentos mais importantes para a Philos consistiu nas trocas de olhares, de saberes, de experiências, de conhecimento e de amor ao longo da Latinité Tournée. Agradecemos imensamente a caminhada coletiva ao longo deste ano. Não existiria Philos sem a participação ativa de cada leitor, de cada colaborador, de cada colunista, editor associado, revisor, curador, crítico... Tudo é partilha, tudo é conquista mútua, são sonhos sonhados na coletividade. Finalizar um ano editorial como este é inspirador. Continuem conosco! Vamos juntos construir os caminhos de nossa latinidade, de nosso reconhecimento, de nossa história! Somos Philos, somos Amor; temos uma raiz e vozes diversas. A todos vocês, nosso muito obrigado! Desejamos uma ótima leitura, Souza Pereira

EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE

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EDITORIAL

REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA La Navidad es un día especial de conmemoración, reflexión y reparto para muchas personas del mundo todo. Y no podría ser diferente para la Revista Philos: Es este día 25 de diciembre que completamos dos años de existencia. El año editorial de 2017 fue un año de muchos aprendizados, cambios y conquistas colectivas para nosotros. Lanzamos nuestra primera edición impresa con textos de nuestros autores y colaboradores de Iberoamérica. Participamos de grandes eventos literarios como la Flip - Fiesta Literaria Internacional de Paraty y la Bienal Internacional del Libro de Pernambuco. Realizamos, en asociación con la Academia de Letras de Toledo - ALT, lo 1º Concurso de Haicai de Toledo - Kenzo Takemori. Fuimos acogidos por grandes e importantes redes comunicacionales del país y, por encima de todo, acogidos y reconocidos por nuestro pueblo, por nuestra gente, bajo mirarlos atentos de cada lector. Presentamos, en esta edición, las obras de la artista visual Rosa Alamo, que, en sus pinceladas coloreadas y delicadas, sintetiza todo lo que nos gustaría expresar para cada uno de vosotros: la alegría en democratizar la literatura, los artes y el conocimiento. Uno de los momentos más importantes para la Philos consistió en los cambios de saberes, de experiencias, de conocimiento y de amor al largo de la Latinité Tournée. Agradecemos inmensamente a caminada colectiva al largo de este año. No existiría Philos sin la participación activa de cada lector, de cada colaborador, de cada columnista, editor asociado, revisor, curador, crítico... Todo es reparto, todo es conquista mutua, son sueños soñados en la coletividad. Concluir un año editorial como este es inspirador. ¡Continuad con nosotros! Vamos juntos construir los caminos de nuestra latinidade, de nuestro reconocimiento, de nuestra historia. Somos Philos, somos Amor; tenemos una raíz y voces diversas. A todos vosotros, muchas gracias. Deseamos una óptima lectura, Souza Pereira

EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE

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SUMÁRIO | SUMARIO DOSSIÊ | EXPERIMENTAIS | HAICAI DOSSIER | EXPERIMENTALES | HAIKU

7 Três poemas, por FERNANDO DE

AZEVEDO ALVES BRITO

8 Valente sim,

12 Bilhete para

M.P.G, por

VINÍCIUS CÉSAR

19 Há algo

errado,

por LETÍCIA CANEDO

por JESSYCA SANTIAGO

13 Poemas,

por

21 Os que

correm,

por GILBERTO CLEMENTINO NETO

EDUARD TRASTE

9 Tardia e calma,

por ALVES CANDEIRA

16 Hiato,

22 A dura tarefa por RAMON CARLOS

10 Sem título,

por JOSUÉ SOUSA

11 Sem título,

por IUNES ALVES

17 Gente grande, por LUIZZA MILCZANOWSKI

18 Será sonho,

de sustentar um talvez por GRASIELA FRAGOSO

23 As flores

vibram,

por GUSTAVO SOUZA

24 Anos 10,

por JOSÉ HENRIQUE ZAMAI

por ILDA PINTO

25 Um lugar,

por LEANDRO JARDIM

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MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

TRÊS POEMAS por

Fernando de Azevedo Alves Brito1

Eterna Indagação Haikai ou poesia-pílula? Não tema! Se a alma lhe dita, tudo é poema. Intangibilidade Na solidão, toda multidão é intangível. Abstração Folhas balançam Nos galhos das árvores, meus pensamentos.

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Fernando de Azevedo Alves Brito (Salvador, 1

Bahia, 1979). Professor EBTT de Direito do IFBA, Campus Vitória da Conquista. Autor de livros, capítulos de livros e artigos científicos no campo do Direito. Autor de contos, crônicas, poesias e haikais no campo literário.


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

VALENTE SIM por

Vinícius César1

E disse que eu gostava de palavras

que era recheado de capricho uma simples afirmação Até antes de ontem eu não entendia nem o que era capricho e com o desconhecido eu fui elogiado Disse que foi gradativamente e de repente Mas realmente eu costumo cativar mas nem sempre lembro de ser cativado E não me apego por que não gosto do termo pegar Prefiro cuidar, me doar, acariciar E assim como tatuagem, grudou em mim Se fixou, criou morada Não pestanejei e permiti, e desse modo, mesmo com a gaiola aberta, resolvi ficar aqui E eu que sempre me achei valente, fui perceber que valente era ela, não eu Valente sim, Valentim

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1

Vinícius César

(Recife, 1998). Graduando em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco. Autor de muita poesia até então desconhecida; um sonhador bastante realista. Um projeto.


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

TARDIA E CALMA por

Alves Candeira1

retido

ao rumor do escuro. no aguardo do sol que levanta zonzo sonolento de estrelas. beirando o mar descobrindo novas ondas que dissolvem mais e chegam mais cada vez mais perto de meus pés. gaivotas que bicam tropical de moreias. no desbotar dos olhos descolorir dos pelos. desmanchando o sal pelos corais, nos recifes pelo oco nos ventos do amanhã.

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1

Alves Candeira

(Belém, 1996). Apaixonado pela filosofia crítica e a força da simplicidade, procura mostrar o peso de cada palavra num conjunto de estilos literários diversificados.


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

SEM TÍTULO por

Josué Sousa1

E elas que até parecem buscar No meio do mar E em qualquer lugar, Nas trevas da noite, Na claridade do dia, No ventar da praia, Ou até mesmo No estático dos prados Mais do que profissionais E até divinas, Me fazem lembrar De outras orquestras, Em outros palcos, Que tão bem quanto elas Desviam pausadamente Ao passear de cada nota E se findavam Como no fim do horizonte, Ou do poço; Como no fim de cada pauta E se desfaziam. Grandes músicas Que me faziam Perder de vista O tempo Que não se perde Ao vê-las brilhar Lá no céu Ou em qualquer lugar.

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1

Josué Sousa

(Fortaleza, 1998). Atualmente acadêmico de enfermagem na Universidade Federal de Pelotas.


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

SEM TÍTULO

por

Iunes Alves1

não escrevo versos

sobre o que sou, e sim sobre o percurso que posso ter. nada sou enquanto não escrevo versos. embaraçada e um pouco desalinhada, assim é a minha sombra na palavra. mas tudo que é bom não é perfeito. é preciso passar por algum tipo de prisão íntima para depois descansar. meus nervos são apenas respirações abafadas, nada mais que o “mais”, e um pouco mais.

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Iunes Alves

(Rio de Janeiro, Brasil). Graduando em História, nascido na cidade do poeta romântico Casimiro de Abreu. Professor de História, mas dentro de seu coração existe um amor intransponível por literatura.


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

BILHETE PARA M.P.G por

Jessyca Santiago1 Jessyca Santiago 1

Entre nós, nada a dizer.

Tudo não dito foi encerrado, Como um velho barco naufragado Em meio à calmaria de um Oceano vasto, Como a folha que soltou do galho, O orvalho que a manhã secou. Só a memória preserva o som das horas findas, Seus gestos, os tons da flor que desbotou… Que a grama lhe seja macia aos pés E a chuva fria traga vida ao seu quintal, Que as cores do Outono anunciem um farto Período de colheita, e a cigarra uma quente Manhã de Verão. Tudo além é passado. O vento leva as horas breves, o farfalhar das folhas Leves, sustenta as asas do beija-flor…

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(Pernambuco, 1988). Mora no Rio de Janeiro, graduada em Letras pela UERJ. Trabalha como professora é tradutora e tem trabalhos publicados em revistas literárias.


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA Dossiê de Literatura Neolatina

POEMAS por

Eduard Traste1

poeta amarelo nasceu estranho e virou piada mas era bom demais pra ser apenas piada no fim das contas virou poema e morreu estranho sem rima, sem nada. -da natureza recorto um jornal afio uma faca amarro um cadarço pinto uma parede e então percebo que todos poemas de alguma maneira deveriam soar simples assim. -no frescor da doença tornou-se retardado mentol. --

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POEMAS


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sobrevida na poesia penso que estamos tão próximos da morte, e vejo que ambos, assim simplesmente não nos importamos mais ... e isso é muito bom se você não parar pra pensar na vida sem esse outro alguém, que parece assim como você não se importar com nada ou com ninguém. -epitáfio anoréxico vítimagrela -de um inferno ao outro antes eu sempre sabia quando o capiroto me espreitava. agora vivo na dúvida: é ele ou a debochada da minha vizinha outra vez de tamancos novos?

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POEMAS


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

tragédia auditiva um monte de gente falando o tempo todo sem dizer porra nenhuma. -pergunta quente “então é assim que começa o começo do fim?” - me pergunta o cigarro já em meus lábios embora que ainda apagado. como responder tal pergunta? não sei! inicialmente brocho e o cigarro pende para baixo - obviamente mas em seguida minha mente ausente se faz presente tentando não soar doente frente ao indagador cigarro quente.. em vão, eu até tento mas mais uma vez me calo e o calo, fumando -lhe até o talo.

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Eduard Traste (Florianópolis, Santa Catarina). Descobriu que não tinha salvação. Desde então vem destilando os necessários pingos de vida para seguir em frente, de seus escritos e outros tragos. Diariamente compartilha alguns de seus poemas, junto com outro camarada, no site: estrAbismo.net 1


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POEMAS

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HIATO por

Ramon Carlos1

um charme

em quarto de vidro espuma verde que circunda os jeans do xará dos diabos, no joelho incapaz variedade de prever o xamã no ponto clínico sirene na colmeia dos abutres louvo-te hiato louvo pela capacidade que me tens de purificar minha demência de persuadir minha clemência de extorquir meu saldo de observações louvo pela simples castidade que propõe impõe, em baldes de mármore suave como o título lhe traduz o silêncio que exterioriza meu sorriso em carne viva sensato, sensato, sem tato clamo a ti a impureza de um novo impacto intacto

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Ramon Carlos (Santa Catarina, 1986). Escreve no site http://www.es trAbismo.net. Sua carreira literária resume-se a dois contos publicados em uma antologia. Além de uma coleção de poemas, escreveu um romance e um livro de contos, nenhum deles publicados. 1


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POEMAS

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GENTE GRANDE por

Luizza Milczanowski1

Quando jovem não sabia nada de ser jovem

A Juventude só se surgiu em mim, essa figura ambígua, quando pude vê-la de longe O que se sabe então sobre a juventude quando se é jovem? O que se sabe então sobre a juventude quando não se é jovem? Não somos compreendidos pelos outros ou por nós E somos compreensão de tudo e de nada Temos uma coragem repleta de medo: Estamos sozinhos. Quem é jovem não sabe nada de ser juventude Quem é grande finge que soube tudo Ser gente grande é estar alheio à juventude Ser gente grande é ver a dor do outro E fingir que a dor do outro não existe Fingir que nossa própria dor não existe Estamos sozinhos. Ser gente grande é descartar o quanto estivemos perdidos O quanto ainda somos perdidos Figura Mística e bela Feia e lúgubre e dolorida Crescer é sofrimento É redescobrir uma mesma vida É enxergar quem sempre amamos – e nos decepcionar: Amamos pessoas horríveis! Ser gente grande é fingir que está tudo bem com a decepção: Somos as pessoas horríveis. Tentamos ser honestos e somos calados Porque ser gente grande é tentar nos encaixar em caixinhas Apertadas e desagradáveis E tudo que queremos é ser gente grande Para fingir que não dói estar no mundo Porque chega, estuda, trabalha e é a vida Talvez eu esteja sendo injusta: A juventude não é feia por ser dor Porque é sofrimento, mas é sofrimento sincero Talvez o que me cause dor é ser gente grande

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Luizza Milczanowski 1

(Rio de Janeiro, 1998). Mora no Rio de Janeiro, estuda Direito e escreve.


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SERÁ SONHO! por

Ilda Pinto1

Tive um sonho uma dessas noites, Sonho.

De que o ano terminava e um novo ano começava. E não entendi muito bem, pois os dozes meses corriam altaneiros. Realmente não entendi, mas acho que me queria falar de um novo ano, que estava prestes a começar. O mundo tinha preparado durante semanas grandes eventos. Tinha decorado salas enormes para révellon e menus gigantescos e afrodisíacos. As gentes tinham comprado roupas novas e brilhantes. Tinham feito muitíssimas compras e presentes, e criado débitos estonteantes. Havia salas parecidas a embrulhos de papel lindo com laços dourados e prateados. Tudo era fantástico. A comida era tanta que criava a ilusão de uma mesa sem fim. Sim, era assim mesmo, Sonho, tudo era gigante e brilhante. Tudo era decorado e as pessoas também. Os corredores estavam cheios de luxúria cintilante. Pareceu-me que as pessoas estavam risonhas. Pelo que eu vi, pareciam brindes de alegria. Parecia ... Os olhares cruzavam-se e davam apertos de mão. Também havia beijos amorosos e calorosos. Parecia... Pareceu-me, exprimirem desejos de Paz e Amor. Estavam todos animados com um Feliz Velho Novo Ano. Não havia lembrança do mundo fora dali, naquela celebração. Não conheciam os desertos frios das guerras e das fraquezas dos mais simples. Tudo me parecia estranho, porque fora, bem perto da grande cidade brilhante, havia uma rua escura e pés descalços. Havia rostos rasgados de choro. Havia peitos que cintilavam em drogas e dores. Havia mulheres, homens e crianças que tinham as mais estranhas das dores. Naquela sala nasciam novos projetos, brindes e abraços de esperança. Parecia... Do outro lado da rua, escura, não sabiam, o que o futuro traz, ou qual seria o amanhã de bonança. Naquela sala, apenas estavam desejando um novo ano repleto de alegria , AMOR E PAZ. Tive um estranho sentimento, Sonho. Se o sonho não fosse sonho, eu teria fugido de vergonha.

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Ilda Pinto

(Portugal, 1961). Autora, literária e artista plástica de técnicas mistas de colagem sobreposta. Vencedora do 3° lugar do prémio Literacidade 2014 ProsaCrónicas, Prémio Clarice Lispector de Literatura, 2015Contos pela Editora Comunicação e 3° lugar no Prémio Castro Alves de Poesia.


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HÁ ALGO ERRADO por

Leticia Canedo1

Há algo errado,

Descentralizaram os grandes centros para becos sem saída Onde os muros altos falam por nós Por si. Há algo errado, São seus brasões que causam atrito sobre o solo de concreto, E que o vetam com as suas marchas magnificentes e justas que gritam E gritam Preces. Todas, todas tementes à arrogância umas das outras E a nada mais. Preces temerárias que perseguem a integridade umas das outras. Há algo errado, Quem sabe exista algo de verdadeiro que possa ser ofertado a um deus envergonhado como prêmio de consolação à essa existência tardia? Há algo errado, Heráldicos olham a olho nu corpos queimados nus E gozam, E em seguida, Cospem uns nos outros Numa espécie de ofensiva de redenção. Há algo errado, Continuará sendo fácil mudar o mundo enquanto houver esperança, Desde que esperança permaneça A mesma E não deixe que matem a grande rainha Memória. Há algo errado, A memória é a única que fará parte do arrebatamento Porque nós não somos capazes de lidar com os nossos próprios erros, Nem de consertá-los, E nós não queremos perdão, Queremos mais razão para deter o avanço de sentimento. Há algo errado, A fome liberta as misérias humanas e ainda causa estranhamento. Há algo errado, Não existem extremos a serem alcançados. 19

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Tudo não passa de uma grande cadeia fechada de falhas cíclicas Que se auto flagelam e a tudo que se aproxima, Tornando tudo inalcançável. Há algo errado, A morte não passa de destino, E a perda de memória também. Há algo certo, Rirão da esperança, ‘’Ela não fazia nada direito’’ Chorarão pela morte da memória, ‘’Ela foi o resto de humanidade que nos sobrou mesmo que evitássemos consultá-la nos momentos mais urgentes’’ Marcharão, erguendo o outro brasão, A cabeça, E a sua definitiva certeza: Há algo errado, mas Vencemos.

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Leticia Canedo (São Paulo, 1996). Escreve como forma de protesto contra si mesma. 1


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OS QUE CORREM por

Gilberto Clementino Neto1

Os que correm

então acreditavam na submersão da atmosfera por tufões baldios e arrancavam fora manadas de gigantes, totalmente conscientes da inutilidade da esperança de ver brotar das pedras sonhos os que correm então falsificavam gorjeios esperando impacientes por multidões de fugitivos acossados que acreditassem nas penitências, pai, nas penitências!, guardadas apenas para os aviltamentos confessados aos gritos os que correm não tinham credo nenhum, e viam grosseiros erros estéticos no pecado original; torcendo os narizes, não viram a palavra filho, casada com a palavra mãe, furar os olhos os que correm pararam somente quando choveu fora do poema.

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Gilberto Clementino Neto (Olinda, 1988). Poeta. 1


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A DURA TAREFA DE SUSTENTAR UM TALVEZ Grasiela Fragoso por

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Eu amo com as urgências dos temporais, dos vendavais, das ruas engarrafadas. Que alagam, que modificam a paisagem... Que trazem o olor da terra umedecida, encharcada, embebecida. Tenho pressa. Não se dilua na água escorrida, evaporada na impessoalidade do dia a dia. O que mais precisas? Precisos são os afetos, imprecisas, as palavras. Não te demores. Cumpra apenas o tempo do talvez. Esse tempo afeto que pendula, que faz gangorrear a decisão. Discorre, corre, difere, confere, tempo in-pulso. Gesto que ensaia o passo, que abre a porta e encerra o mistério.

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Grasiela Fragoso (Niterói, Rio de Janeiro, 1981) Poeta. Autora do blog www.finatemp era.wordpress.c om. Tem poemas e contos publicados em coletâneas e revistas. Prepara seu primeiro livro de poesias. 1


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POEMAS

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AS FLORES VIBRAM (APENAS LUZ) por

Gustavo Souza1

Tão pura e delicada! Em brisa ao canteiro de flores. E a observo com tanto fulgor, em movimento sutil ao sol que fulge o alvorecer (do pomar...). Tão leve e frágil aos horrores humanos que a destrói! (Nos descaminhos). Destrói a essência, que se ausenta ao ímpio homem em seu (dia-a-dia). Ao tocá-la com amor, percebo a dor... O silêncio, ou o canto dos pássaros? Qual deseja? Desejo tocar, sentir e, se possível, ouvir a brisa forte do (amor). Em fluído puro, tento absolver uma luz a caminho do meu ser. (que tento acender...). É apenas uma flor, tão límpida exposta ao sol...

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Gustavo Souza (Piranhas, Alagoas, 1992). Graduado em História pela Universidade Federal de Alagoas de Delmiro Gouveia, Campus Sertão, e tendo publicado em revistas e antologias brasileiras diversas poesias, poemas e prosas. 1


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ANOS 10 por

José Henrique Zamai1

Vivemos no presente, construindo um futuro Que ninguém sabe se virá Destruímos o agora, para construir o amanhã Como quem acredita construir uma ponte Sustentada no nada Que deixamos para trás

As luzes nunca se apagam e Sem sono nos obrigamos a dormir Forçando o descanso com as pílulas Até que, sonolentos, nos obrigamos a acordar E precisamos de outras tantas, as pílulas, para acordar Levantamos. Tomamos nosso café descafeinado E nosso leite, sem lactose. Tentamos adoçar tudo Com um açúcar que não tem glicose (É outra coisa, que deixa um ranço Como que a imitação que quer ser a coisa real Mas falha. E ainda assim fingimo-nos contentes) Fechamos a janela que dá para o mundo (Este barulhento, sujo e violento lugar!) E ligamos nossas telas para saber do mesmo mundo E provar, em doses virtuais, o mesmo barulho A mesma sujeira e a mesma violência Através do noticiário matinal, com as notícias velhas Aguardando o jornal noturno para as notícias novas Criamos escolas para desaprender nossa natureza E aprender o funcionamento de engrenagens Afinal, é o que seremos, uma engrenagem dispensável De um sistema maior (tão maior!) que não compreendemos Criando cifras, que respondem positiva ou negativamente Àquilo que os homens de terno decidem Alheios às vidas que alteram com o rabiscar de suas canetas Veneramos os economistas, que dizem que tudo vai melhorar (ou vai piorar, segurem suas calças!) 24

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POEMAS


MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA Dossiê de Literatura Neolatina

E a economia, ela mesma criada, fictícia, irrelevante Reage bem a uma bomba que mata pessoas (E aguardamos essa constatação, como quem está doente E recebe a notícia do médico, de que tudo vai melhorar) Até que um dia ela vai mal (ai de nós!), E, cansados, algum de nós ousará dizer, antes do ostracismo: "Mas o que será do dinheiro quando não sobrar quem gastá-lo?" E procurando o lugar das mudanças (é preciso mudar tudo, para ontem) Socorremo-nos às políticas e às demandas Mas nossa política vai mal, muito mal E nossos juízes, piores ainda Porque já não acreditamos que as soluções sejam humanas Nem que os homens sejam capazes de mudar E nos confortamos em nosso lamaçal Queremos ser ouvidos, sem ouvir E falar, sem escutar Concluímos sem entender (sem sequer começar a compreender) E as palavras - essas que se escrevem - já perderam seu poder (Seu poder de representar. Sua autoridade, A depender de quem a diga, persiste, tenebrosa) E tudo pode ser tudo: pessoas podem ser coisas E coisas podem ter condição de pessoas (Sempre as coisas se adiantando Ou será que são os homens se atrasando?) Criamos as mais finas teorias, as mais adiantadas técnicas As mais avançadas tecnologias e as mais afiadas mentiras Para justificar os retrocessos e dizer, a quem vier, Que estamos seguindo adiante ... Rumo ao Progresso! (Sempre o Progresso ... em maiúscula...) Ainda que os sacrifícios (bem se sabe) Sejam feito a carne, sangue e sentimentos Porque, em tese (em tese!) não se sintam no papel Ai de nós! O homem já caduca de humanidade 25

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MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA

POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

E a humanidade está farta de homens Homens cada vez mais vazios Em um planeta cada vez mais cheio.

José Henrique Zamai (Divinolândia, 1991). Advogado e escritor. 1

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POEMAS

Dossiê de Literatura Neolatina

UM LUGAR por

Leandro Jardim1

Leandro Jardim (Inglaterra, 1979). Formado em comunicação e pós-graduado em engenharia de produção. Professor na área de gestão, atualmente é mestrando em administração pela PUC-Rio. Publicou os livros A angústia da relevância (Romance, 2016), Peomas (poesia, 2014) e Rubores (contos, 2012) pela Editora Oito e Meio; além de outros dois de poesia: Os poemas que não gostamos de nossos poetas preferidos (Orpheu, 2010) e Todas as vozes cantam (7Letras, 2008). 1

Aquela construção que ali existia

Erguida sobre pilares de alguma profundidade E sob ultrapassadas ideias de mundo Como em suas portas e janelas ultrapassava Este mesmo vento de balançar cabelos Bagunçar as coisas Ali onde agora o sol estala ruidoso E o mato irrompe o que restou de concreto Essas portas e janelas e retratos de toda sorte Saídas e entradas que davam e dão Para o que pode ser considerado sim um lugar Um lugar Entre o que implodiu e o que se erguerá Um lugar ainda que lembrança ou potência vaga Um lugar ainda que ínfima demarcação Um lugar que agora habilita o vazio e o tempo E os habita O vazio e tempo De um lugar serão sempre um lugar O vazio e o tempo Estes prédios uma vez modernos Desta vez antigos Desta vez perdidos Estes grandes casarios, vá lá Esta outrora Que ainda ostenta um querer imponência Ali, bem ali Onde houve vida e parede circunscrita Parede que algum romântico quisera memorável Porque carcomida Quando ele mesmo o romântico De não a olhar demorado já a esqueceu E que pela circunstância independente De ser ou não poeta Ser ou não fotografia, é ruína Ruína E ilumina porque é breu Logo ali 24

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