Philos PORTUGUÊS CATALÀ ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO ROMÂNĂ REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA 18 julho 2017 · REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA 18 julio 2017
RITA AMARAL ANNIE DE CARVALHO ANTÔNIO HENRIQUE JESSYCA SANTIAGO CRISTINA GARCIA LOPES ALVES LUCRECIA WELTER RAFAELLA RÍMOLI LE MELO ALEXANDRE MANOEL FONSECA HELENA BARBAGELATA
NEOLATINA
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RITA AMARAL ANNIE DE CARVALHO ANTÔNIO HENRIQUE JESSYCA SANTIAGO CRISTINA GARCIA LOPES ALVES LUCRECIA WELTER RAFAELLA RÍMOLI LE MELO ALEXANDRE MANOEL FONSECA HELENA BARBAGELATA
NEOLATINA
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EXPEDIENTE
REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA
Souza Pereira
EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE
Sylvia de Montarroyos
COMITÊ EDITORIAL | COMITÉ EDITORIAL
Lucrecia Welter
REVISÃO DE TEXTOS | SUPERVISIÓN DE TEXTOS
Maus Hábitos
DESENHO E DIAGRAMAÇÃO | DISEGÑO Y DIAGRAMACIÓN
SOBRE A OBRA DESTA EDIÇÃO | SOBRE LA OBRA DE ESTA EDICIÓN
Publicado originalmente em julho de 2017 com o título Philos, Revista de literatura da União latina. Os textos desta edição são copyright © de seus respectivos autores. As opiniões expressas e o conteúdo dos textos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Todos os esforços foram realizados para a obtenção das autorizações dos autores das citações ou fotografias reproduzidas nesta revista. Entretanto, não foi possível obter informações que levassem a encontrar alguns titulares. Mas os direitos lhes foram reservados. Philos, Revista de Literatura da União Latina é registrada sob o número SNIIC AG-20883 no Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais com Certificado de Reserva outorgado pelo Instituto Nacional de Direitos do Autor sob o registro: 10-2015-032213473700-121. ISSN em trâmite. Revista Philos © 2017 Todos os direitos reservados. | Publicado originalmente en julio de 2017 con el título Philos, Revista de literatura de la Unión latina. Los textos de esta edición son copyright © de sus respectivos autores. Todos los esfuerzos fueron hechos para la obtención de las autorizaciones de los autores de las citaciones o fotografías reproducidas en esta revista. Sin embargo, no fue posible obtener informaciones que llevaran a encontrar algunos titulares. Pero los derechos les fueron reservados. Philos, Revista de Literatura de la Unión Latina es registrada bajo el número SNIIC AG-20883 en el Sistema Nacional de Informaciones e Indicadores Culturales con Certificado de Reserva otorgado por el Instituto Nacional de Derechos del Autor bajo el registro: 10-2015-032213473700-121. ISSN en trámite. Revista Philos © 2017 Todos los derechos reservados.
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Philos, Revista Philos Revista de de Literatura Literatura da da União União Latina Latina || Revista Revista de de Literatura Literatura de de la la Unión Unión Latina. Latina.
EDITORIAL
REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA Julho foi um mês importante para nossa revista. Lançamos o primeiro volume impresso da Philos em dois cadernos, o nosso trabalho de democratização das línguas e espaços linguísticos assumiu formas diferentes dos bytes e assumiu o formato impresso em dois cadernos incríveis. Esse mês também realizamos a cobertura da 15° Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2017. Ao longo da última semana nosso correspondente, o escritor e colaborador da Philos, Thassio Ferreira, realizou uma série de entrevistas com grandes nomes da literatura nacional. O projeto Philos na Flip contou com a participação da escritora Conceição Evaristo e dos escritores Jacques Fux e Roy Frankel. Essa edição nos provoca a pensar sobre o universo conceitual que criamos até aqui: A Philos como espaço de convívio e de reflexão. As artes visuais que ilustram esta edição são trabalhos experimentais de nossos colunistas da Imagerie - Casa de imagens. Magda Fernandes e José Domingos apresentam 26 composições fotográficas inéditas para a Revista Philos #18. Nas palavras dos criadores: "Apesar de ser inédito, este trabalho nasce como um prolongamento de projetos que temos vindo a desenvolver e que giram à volta de dois eixos que atravessam todo o nosso discurso criativo - a memória e a manipulação da matéria. Deste modo, o que fizemos foi uma tentativa de os entrecruzar - concretizando o abstrato e tornando abstrato o tangível. A ponte entre as duas ideias-chave é feita por uma espécie de arqueologia digital, que nos permitiu olhar para a matéria de um novo ponto de vista, aproximando-nos das suas “células”, descobrindo poéticas difíceis de ler a “olho nu”, olhando simultaneamente para a frente e para o verso, misturando o que era díspar, para encontrar novos significados." Desejamos uma ótima leitura,
Souza Pereira
EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE
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Philos Revista de Literatura da União Latina | Revista de Literatura de la Unión Latina.
EDITORIAL
REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA Julio fue un mes importante para nuestra revista. Lanzamos el primer volumen impreso de la Philos en dos cuadernos, nuestro trabajo de democratización de las lenguas y espacios lingüísticos asumió formas diferentes de los bytes y asumió el formato impreso en dos cuadernos increíbles. Ese mes también realizamos la cobertura de la 15° Fiesta Literaria Internacional de Paraty, la Flip 2017. Al largo de la última semana nuestro correspondiente, el escritor y colaborador de la Philos, Thassio Ferreira, realizó una serie de entrevistas con grandes nombres de la literatura nacional. El proyecto Philos en la Flip contó con la participación de la escritora Conceição Evaristo y de los escritores Jacques Fux y Roy Frankel. Esa edición nos provoca a pensar sobre el universo conceptual que creamos hasta aquí: La Philos como espacio de convivencia y de reflexión. Los artes visuales que ilustran esta edición son trabajos experimentales de nuestros columnistas de la Imagerie - Casa de imágenes. Magda Fernandes y José Domingos presentan 26 composiciones fotográficas inéditas para la Revista Philos #18. En las palabras de los creadores: "A pesar de ser inédito, este trabajo nace como una prolongación de proyectos que tenemos viniendo a desarrollar y que giran a la vuelta de dos ejes que atraviesan todo nuestro discurso creativo - la memoria y la manipulación de la materia. De este modo, lo que hicimos fue una tentativa de los entrecruzar - concretizando el abstracto y haciendo abstracto el tangible. El puente entre las dos ideas-llave es hecha por una especie de arqueología digital, que nos permitió mirar para la materia de un nuevo punto de vista, aproximándonos de sus "células", descubriendo poéticas difíciles de leer a "ojo desnudo", mirando simultáneamente para el frente y para el verso, mezclando lo que era díspar, para encontrar nuevos significados." Deseamos una óptima lectura, Souza Pereira
EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE
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SUMÁRIO | SUMARIO DOSSIÊ | EXPERIMENTAIS | HAICAI DOSSIER | EXPERIMENTALES | HAIKU
7 Poesia da vida dura,
por RITA AMARAL
8 O buriti,
Outono,
12 Ode,
por RITA AMARAL
15 Pérolas,
por JESSYCA SANTIAGO
16 Tempo, 13 Nenhum
pássaro migra aqui, por CRISTINA
GARCIA LOPES ALVES
14 Contínuo
instante,
por
LUCRECIA WELTER
por
ANTÔNIO HENRIQUE
10 Sola dura,
por JESSYCA SANTIAGO
por
ANNIE DE CARVALHO
9 Incógnita,
11 Nostalgia &
por RAFAELLA RÍMOLI
por LE MELO
17 Novela das
seis,
por ALEXANDRE MANOEL FONSECA
20 III Poesias,
por
HELENA BARBAGELATA
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MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
POESIAS DA VIDA DURA Rita Amaral por
1
He, boiada! O machado arrebenta a madeira e na aldeia se faz sexta-feira com a boiada correndo ligeira nos cantões dos meus avôs. Ehh! Que o tempo passa lesado entre cantos e jongados da gente outrora marcada pelo medo de ser açoitada. He, boiada! Carregando o novo a esperança desse nosso povo dos meus avôs sentados em toco ensinando sobre a paz! “Tombou o navio negreiro!” Gritou o caboclo guerreiro anunciando a paz a seus irmãos meus avôs e avós de tantas gerações. Viva a Liberdade! Cantemos aos ensinamentos do cativeiro sem pressa e sem medo – rio ligeiro! Caboclos e Mulatos, Mestiços e Crioulos – Eis o nosso povo!
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1
Rita Amaral
(Rio de Janeiro, 1990). Historiadora, escrevendo versos e prosas ao vento.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
O BURITI por
Annie de Carvalho1
Um Buriti embalava-se em meus sonhos, trazia os ventos da rosa dos ventos depois ia pôr-se com o sol do solstício de verão. Annie de Carvalho 1
O Buriti vinha sombrear meus anseios e seu fruto salivava a minha boca. Sou fruto do ventre da árvore gigante. Venho da raiz desassossegada, da planta que sombreia o mundo E se transforma em revoada... Buriti fazedor das fantasias tuas mãos nativas libertam e tatuam epifanias... Buriti tatuador da poesia! Cria horizontes escarlates com as tintas dos paradigmas. Sou tua nova semente; fecunda-me com a mente... toda a substância dos teus enigmas.
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(Macapá, Amapá). Geógrafa. Ganhou o Prêmio- CNPqUNIFAPartigo2009, foi contemplada no Prêmio Sarau Brasil 2016, premiada no II Concurso Literário Pena & Pergaminho 2016-contos. Tem participação em diversas coletâneas regionais e nacionais. Também é declamadora.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
INCÓGNITA por
Antônio Henrique1
Termos geométricos, sistemas lineares, Valor desconhecido (desconhecido a princípio) X, y, z. Qual o seu valor? Diga-me! Equações do primeiro e segundo grau; Fórmula de Báskara, Por favor, me diga quem é você? Por favor, me diga o porquê de me importar com você? Regra de três simples e composta Sinto que minha felicidade é Diretamente proporcional a tua E inversamente a tua tristeza. Por favor, me tire essa angústia! Por favor, me diga seu valor! Ajude-me! Imploro-lhe!... Mas sei, tenho que descobrir. Mais, menos, multiplicar e dividir, Essa é a ordem? Estou confuso! Ajude-me a saber quem é você! Ajude-me ó doce incógnita, a saber, Quem é você e quem sou eu! Pois já não sei mais o meu nível de amor por você... Só sei que isso é uma incógnita!
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Antônio Henrique 1
(Itapipoca, Ceará, 1999). Estudante, amante da música, da liberdade e dos estudos. Gosta de escrever poesias livres que expressam o que sente, sonha em ser médico e com um futuro melhor para a sociedade.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
SOLA DURA por
Rita Amaral1
É, eita barro danado! Queimava a crosta fina da labuta que em meu pé se formava. O que eu podia fazer? Descalço, a vida era mais nua, escuta filho, não tem essa de meu bem-querer, não! Por quê? Eita trem desavisado, chega aqui, vou te dizer! O tempo não amansa o barro da estrada da vida que em minha sola se petrifica. Não acredita? Ô criança! O vento, esse sim é traiçoeiro, joga na sua cara a poeira desgarrada, te fazendo engolir a seco aquela sua pisada fraca, mais arrastada. Te digo logo, sem pausada. Se vai dar o primeiro passo nessa longa jornada, não vai de manso não, senão vira risada no conto da caboclada que só espera o tropeção. Vai firme, eita, criança! O barro não mata e nem entorta, não adoece e nem afunda. Amacia o pé dessa gente toda que rindo morre, com a sola dura …
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1
Rita Amaral
(Rio de Janeiro, 1990). Historiadora, escrevendo versos e prosas ao vento.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
NOSTALGIA & OUTONO Jessyca Santiago por
1
manhã chuvosa café ao leite com pão lembram minha vó. * folhas vermelhas colorem o caminho do viajante.
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Jessyca Santiago 1
(Recife, 1990). Graduada em Letras Inglês pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, trabalha como professora.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
ODE por
Jessyca Santiago1
Bem-te-vi que canta o alvorecer Ensina-me também a cantar assim! Ninando a lua, adormecer O céu azul tornar carmesim Aquele orvalho azul cristal Aquele sol amarelo-ouro Brilham luz no meu quintal Partilham todo teu tesouro Bem te vi que canta o amanhecer Ensina-me também a passar assim! Voar entre nuvens ao entardecer Florescer sementes de jasmim Aquela lua pérola branca Em cetim anil céu repousa Bordada em puro verso tanka Preenche o tom de toda cousa Bem te vi que canta o anoitecer Ensina-me também contemplar assim! O firmamento distante escurecer Dormir sob o céu de estrelas sem fim. E canta comigo e o vento, Dança comigo e com as folhas que caem, Floresce comigo em estações. Guarda e leva! Contigo leva esses Sonhos meus! Tão pequenos pr’o mundo…
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Jessyca Santiago 1
(Recife, 1990). Graduada em Letras Inglês pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, trabalha como professora.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
NENHUM PÁSSARO MIGRA AQUI por
Cristina Garcia Lopes Alves1
Nenhum pássaro migra aqui. O frio não bastou para a fuga nem a invenção de outro alimento. Tudo é ainda o mesmo tudo é ainda preso a essa pequena baía que chamam de enseada e que cercaram de pedras pontiagudas onde se depositam peixes mortos. Todas as tardes uma pequena fração de calor faz o galo ensaiar seu voo curto à margem de qualquer umidade. Também eu encurto distâncias presa que sou à teia baleia em pote de vidro. Renuncio às migrações, às estações de fuga ao ensaio da transparência. Quero a mesma invisibilidade dos peixes mortos.
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Cristina Garcia Lopes Alves 1
(Leopoldina, 1965). Professora do curso de Nutrição da Universidade Federal de Alfenas, MG. Tem um livro publicado "O Continente e outros poemas", além de poemas e contos publicados em revistas literárias impressas e digitais.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
CONTÍNUO INSTANTE por
Rafaella Rímoli1
Quando há dias e noites e o infinito paira nos detalhes, contínuo é o estado único das coisas. Agora, ante, instante. Sempre a volta dos peixes para a nascente, os homens para o útero, os filmes para o início, as letras para o lápis. Sempre a ida dos peixes para a foz, os homens para o suspiro, os filmes para o fim, as letras para o outro. A grandeza de todas as coisas é olhar por uma lupa e afinar o sorriso.
Rafaella Rímoli (Brasil, 1
1988). Poeta vencedora dos prêmios: Literário Paulo Freire (2012), ‘Escritores in Progress’ (2012) e Literário Darcy Ribeiro (2014). Autora do livro O haver flor (Editora Coruja, 2013). Escritora e ilustradora da página virtual
Contínuo Instante (livro em constante composição).
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MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
PÉROLAS por
Lucrecia Welter1
Cenário de vida pulsante Preenchida, resolvida No pulsar do coração da mata No delírio perene Da gema da planta Transgredida e santa. Cobrança insaciada do animal no cio Em atilhos de arrepios No luze-luze dos espasmos De repetidos orgasmos Contentando o corpo inteiro Do beija-flor ligeiro. Esmeraldas cravadas, lapidadas No olhar mágico da águia Poderosa Que voa geniosa No rastro da presa fácil. Poros acasalando à superfície Pérolas no coral Moluscos bivalves Margaritas clintonitas Contas feitas... alinhadas num colar. Gotículas redondas Na camarinha das iaôs Na torre ameada do castelo Em doce anelo Incandescentes. Eu, bichinho do mato, Pérola do mais puro oriente Vejo contente A satisfação dos inocentes...
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Lucrecia Welter (Paraná, 1953). Escritora multipremiada e presidente da Academia de Letras de Toledo, Paraná. É Revisora de textos da Revista Philos e Curadora de Literatura lusófona da mesma Revista. Tem diversos livros lançados e publicações em coletâneas poéticas. 1
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
TEMPO por
Le Melo1
Vi o tempo passando Faceiro E passou novamente Companheiro E tornou a passar Ligeiro E passa daqui Passa de lá Acabou passando Hoje ainda passa... Pausado Controlado Até não mais passar Findado!
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Le Melo
(Osaco, São Paulo, 1967). Poetisa com publicações para o público adulto e infantil. Participação em coletâneas e publicação na Revista Philos por duas vezes.
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA Dossiê de Literatura Neolatina
NOVELA DAS SEIS por
Alexandre Manoel Fonseca1
Parte I Estrangeiro (canção para amigo)
Enquanto tu me beijas, Faz noite estrelada no Japão. Um Panda vê o aro lunar, delicado mistério. Tua pele branca, pele de origami. Papel amassado, dobrado no formato de um Dragão sem fogo. Mesmo com tanto zelo, amigo meu, Tu quebras a porcelana mais delicada Na esperança tola de proteção. Enquanto tu me tocas, Faz frio na América. E tu dobras meu coração e o transformas numa garça sem asas. A quem eu pertenço? Ao meu sortilégio sem sorte. Coração amassado. Tu és uma peça quebrada tentando achar outra peça quebrada Para formares uma peça inteira. Vaso chinês, porcelana sagrada. Faz noite estrelada no Japão Dentro do escuro do meu corpo. Frio na América, Enquanto tu vais embora.
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POEMAS
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA Dossiê de Literatura Neolatina
E tuas vigas de mármore São vigas de papel, de tão frágeis. Parte II Monte de Vênus Obrigado por tudo, querido amigo! Pelo verão e tuas micro-ondas cintilantes Que batem e voltam na lagoa de líquens. E as espumas brancas, gozo de Vênus Lembram-me tua pele branca e gozada. Pele de mármore e pérola opaca. Parte III Todas as pessoas do mundo Todas as pessoas do mundo, até mesmo as do Japão, Correm no silêncio escuro e doce da madrugada, E todos têm blusas floridas e cabelos longos. Todos têm cheiro de rosas amassadas e pérolas brancas. Todos têm orelhas com brincos de esmeraldas. Mas nenhum deles, inclusive as do Japão, tem a ti. Tu que encarnas o Cântico dos Cânticos, Perguntando aos guardas da noite silenciosa Onde eu estaria. Mas perguntas de boca fechada, Com a vergonha de ser silenciado. Parte IV Todos os amantes Para aqueles que amam em silêncio, feito espiões, feito dragões silenciados; Para aqueles que amam sem pudor: Com eles, estará sempre meu coração. Para vocês que amam sem medo, sem receio, Que florescem quando faz lua cheia, E nesse desabrochar surge a esperança Dos carnavais eternos e cheios de brilho.
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POEMAS
MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA
POEMAS
Dossiê de Literatura Neolatina
Para ti, que gostas com medo: O mundo não te perdoa, não te quer. Deixa de medo, bota o corpo pela janela: Vem que o mundo te espera! Parte V ou Final R. ou Trópico de Câncer Motores dos carros, numa explosão controlada, revelam tua vontade, teu despir. Os motores guardam o calor de pequenas e grandes explosões, controladas por uma carcaça de ferro. São oito os tipos de motores, Mas tu és apenas Um. E esses motores da cidade, roncando, implorando, Falam por ti, enquanto tu te calas e desabas.
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Alexandre Manoel Fonseca 1
(Minas Gerais, Brasil, 1993). Jornalista e mestre em Literatura brasileira.
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III POESIAS por
Helena Barbagelata1
I. Teofania
A faixa plúmbea e morosa do mar, levantada nas costas solares de Apolo, desempoeirando os primeiros dilúculos do ano, frestando luzidios pelos portões de Janus, arrastando as multidões solavancadas de romagens, as avenidas fartas; [vêm do norte, do sul, desenfardando malas e pesares sobre a mesa da ceia, com os vinhos ainda ebulindo a memória de algum hálito ameno, o verão; O coração das romãs interciso, e o sangue repartido sobre a rima das bocas; cessaram as mareias em redemoinho, zurzindo as noites como um mostrengo de algas verdes, turbando a córnea luminosa dos faros, turvando os espelhos; [mergulham na preia-mar com a cruz soçobrando, no exorcismo dos mares, não há quem a erga, devorada pela necrópole dos séculos; só neste mês, duzentos, só nesta hora, embrulhados no sono das águas, ninguém quererá saber, as águas de Noé;
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MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA Dossiê de Literatura Neolatina
Presbíteros prenhes de todos os vícios no bojo viscoso, transudam manjericão sobre as crianças que vão plangendo anamnéticas, João, Joana, [qual o nome do homem na escadaria da capela, a esmiuçar com toda a cólera dos incisivos famulentos um naco salobro, furtado aos cães; a lamber as gotas baptismais de uma lasca de cerveja, beatamente como se sorvera todo o rio Jordão, Épide, Kýrie, épide… II. Crux Evira, evira, evira… Um jardim de antenas, enramados de postos eléctricos, mortos, um nebrume acarvoado junto ao esqueleto devoluto da estação militar, um necrotáfio, oiço o rasar das asas mortais, mais percucientes que a lâmina das parcas, assim também se esquartejou a morada dos deuses, onde está a cariátide perdida – sequestrada; de frente o mar, preenche todos os espaços, uma luz insolente; leva, leva, leva... os barcos seguem, nunca param, rumo à tapeação das ilhas, paquetes
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MOSTRA DE POESIA LUSÓFONA Dossiê de Literatura Neolatina
lustrados com a moeda estrangeira, ou os cargueiros saburrosos das baías de fáliro, traineiras a regurgitar cebos e moluscos [e banham-se ali, por entre chapas de metal, famílias alodoadas em redes de arrasto - o nosso barquinho de retalhos, que é mil vezes emendado, estamos sempre a remendá-lo, mas tem sempre buracos;
Perderam, até o porto emugrecido, para os generais vacacionistas, que resta; plainos baldos até aos pés de uma oliveira, crescida a golpes, - basta uma oliveira, uma vide e um barco, para nos erguermos de novo; os braços atravessados como uma cruz, a que perdera Ptolomeu, no silêncio abotoado e absorto da noite, e encontrou mais tarde João, com o pé empinado sobre o meridiano; abraçados, como uma cruz, aqueles amantes sem nome, na aresta íngreme onde finda o Imittos e se arredonda a abóbada, e se derrubam os murados, e se inventam, nas cavidades misteriosas dos olhos, novos os céusnovas estrelas inventemos
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III. Spinalonga Retinam as sinetas, retinam uma debandada, terá chegado o circo, das tendas sáfaras e infecundas, do golfo de Elounda, como se recortada das cissuras subterrâneas do mar, é uma cratera, uma marcha de crateras humanas – vêm aí os, os enfermos, estigmas em todas as vogais – e depois deixaram de vir, habitantes de um satélite morfético e forâneo, uma acidalia planitia, a terra erodida pelo sal, como um braseiro de escamas; as escamas, dos gomos do pessegueiro, não passará os rigores deste inverno, e no entanto – corria por aqui um rio, um rorejar de mil lágrimas, queriam irrigar os caroços das buganvílias; as crateras, as crateras argilosas dos rostos, anidavam calotas de tristeza, não dará flores esta primavera, mas amámos e no outono, os frutos, caíram redondos, sumosos; Retinam as sinetas, retinam, desde o largo de Creta, os barcos arrepiados fazem a acostagem desde as águas, sem pisar o soalho quente, vão bordeando remotamente as centenas – milhares, de cavernames, que se amassam em precipício nas enseadas, cravando as órbitas nos curiosos do horror, uma ilha – uma jaula orbicular, as órbitas cavadas, mas com círios lá dentro, a alumiar
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os estereoscópios improvisados, os cinemas; nas azoteias abandonadas dos muçulmanos, escutam-se modinhas de barbeiro, riem-se esponsais das janelas gretadas, as úlceras não nos abocanham o brio, ainda somos homens, o brio dos sudários brancos, drapejando ao sol, ensaboados; e uma capela exígua caiada de pequenas fés, um ponto sobre uma acidalia planitia e há crianças de rostos luminosos, salubres como a água do mar, vivem morrem, ninguém as toca
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Helena Barbagelata (Lisboa, Portugal, 1991). Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa e Pós-graduada em Línguas, Literaturas e Culturas. Vencedora do “Prémio Poesia e Ficção” (Edição de 2012), com a obra “O Mar de Todos os Deuses”. Publicou a obra Soliloquia (Apenas-Livros, 2013). 1
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